domingo, 17 de maio de 2020

Escrito por em 17.5.20 com 0 comentários

Renascer

Já falei aqui duas vezes que, até uns dez anos atrás, eu era noveleiro. Nunca tinha tido vontade, porém, de escrever sobre novelas aqui no átomo. Uma vez que a porteira se abriu com Que Rei Sou Eu?, entretanto, logo me vi pensando em quais teriam sido minhas novelas preferidas, com o propósito de avaliar quais eu gostaria de escrever posts sobre. Já pensei em algumas, e, no momento, a que eu estou com mais vontade de abordar é Renascer.

Renascer foi uma novela das oito, exibida quando eu tinha 15 anos - estreou uma semana antes do meu aniversário de 15 anos, pra falar a verdade. Eu poderia dizer "não perdi um capítulo", mas a verdade é que a gente sempre perde alguns, principalmente os de sábado, principalmente quando a gente tem 15 anos. De qualquer forma, foi uma novela que eu gostei tanto, e acompanhei com tanto interesse, que até hoje me lembro de quase tudo - de fato, ao comentar com a minha esposa que iria escrever esse post, enquanto eu dizia pra ela algumas das coisas da trama das quais eu me lembro, ela me interrompeu e perguntou "você se lembra mesmo de tudo isso ou leu agora pra escrever o post?".

Como eu não me lembro de absolutamente tudo, tive de fazer uma certa pesquisa para completar o post - e também para encontrar algumas curiosidades. Como sempre, isso foi bom porque me fez relembrar tantas histórias maravilhosas que essa novela me proporcionou, algumas das quais eu compartilharei agora com vocês. Hoje é dia de Renascer no átomo!

Renascer teve uma primeira fase, de apenas quatro capítulos, que acabaria extremamente comentada, pois o diretor da novela, Luiz Fernando Carvalho, decidiria fazê-la em estilo cinematográfico, com fotografia de Walter Carvalho (que não é seu parente, é apenas coincidência) e efeitos especiais de Bob Clark, contando com cenas grandiosas, grandes planos abertos, muita fantasia e teatralidade, contrastando com a segunda fase, que, mesmo podendo ser considerada uma superprodução para os padrões da época, era mais semelhante às novelas que a Globo costumava exibir no horário. A química entre os protagonistas da primeira fase, Leonardo Vieira e Patrícia França, também surpreenderia e se tornaria uma das maiores marcas da novela, ao ponto de a emissora apostar em ambos como par romântico na novela Sonho Meu, exibida na faixa das seis naquele mesmo ano. Outro ponto marcante da primeira fase foi a atuação de Fernanda Montenegro como Jacutinga, cafetina de um bordel onde os protagonistas se conhecem. De fato, a primeira fase faria um sucesso tão grande que daria origem a um boato, de que ela teria sido encurtada para apenas quatro capítulos pois a Globo temia que tivesse de prolongá-la indefinidamente a pedido do público caso ela durasse mais; na verdade, os quatro capítulos já estavam previstos na sinopse original, e todo o elenco da primeira fase encerrou suas participações bem antes de a novela ir ao ar.

Na primeira fase, José Inocêncio (Leonardo Vieira), rapaz pobre de origem humilde, chega às roças de cacau da cidade de Ilhéus, na Bahia, e crava seu facão ao pé de um jequitibá, que passa a ser a árvore mística que regerá sua vida, prometendo que se esforçará até conseguir realizar todos os seus sonhos, e que não morrerá até que todos os seus objetivos estejam cumpridos. Ele passa a trabalhar em uma fazenda de cacau, onde conhece seus dois melhores amigos, Deocleciano (Leonardo Brício) e Jupará (Gésio Amadeu), cujo apelido é o nome de bichinhos silvestres que saem à noite para comer as amêndoas de cacau. Ao conseguir comprar suas primeiras terras, ele faz também um inimigo, o Coronel Belarmino (José Wilker), que não se conforma por um recém-chegado estar subindo na vida desse jeito, e tem o desejo de ser o dono de todas as terras da região.

Enquanto trabalha arduamente para cumprir sua promessa, José Inocêncio conhece e se apaixona por Maria Santa (Patrícia França), filha de Venâncio (Cacá Carvalho), homem rígido e rústico que se veste de boi na festa do Boi Bumbá (sendo, portanto, chamado por José Inocêncio e seus amigos de Pai Boi), e Quitéria (Ana Lúcia Torre), mulher totalmente submissa ao marido, que vive um casamento infeliz. A irmã mais velha de Maria Santa engravidou do namorado e foi expulsa de casa, então ela seria criada praticamente enclausurada, sem saber nada das coisas da vida; ao ser beijada por José Inocêncio, passa a acreditar que também está grávida, o que leva seu pai ao desgosto e à decisão de mudar de cidade, abandonando-a no bordel de Jacutinga (Fernanda Montenegro). Após a partida dos pais de Maria Santa, José Inocêncio a descobre no bordel e decide se casar com ela - ali mesmo, precisando convencer o Padre Santo (Jofre Soares), que acabaria vindo a se tornar um grande amigo seu, a realizar a cerimônia. Logo depois, Deocleciano e Jupará também se casam com duas moças do bordel, Morena (Cyria Coentro) e Flor (Rita Santana).

José Inocêncio e Maria Santa vivem uma vida apaixonada e de felicidade plena, até que ela engravida de seu quarto filho. Com uma gravidez complicada, Maria Santa acaba morrendo no parto, e José Inocêncio decide rejeitar a criança, a quem considera culpada, entregando-a para Deocleciano criar, já que Morena, que sempre sonhou ser mãe, não pode ter filhos. José Inocêncio, então, se torna uma pessoa amargurada, que só pensa no trabalho, em aumentar suas terras e começar sua própria produção de cacau. A primeira fase termina quando o Coronel Belarmino é morto em uma misteriosa emboscada; obviamente, todos suspeitam, mas ninguém consegue provar, de José Inocêncio, que compra as terras de seu rival e começa a construir seu império.

Na segunda fase, José Inocêncio (Antônio Fagundes) é o homem mais rico da região, um dos maiores produtores de cacau do Brasil, adorado por seus empregados, considerado extremamente justo, e famoso por suas histórias - sendo a mais popular a do dia em que ele foi atacado por jagunços que arrancaram toda a sua pele, que teve se ser costurada com agulha e linha pelo Turco Rachid (Luiz Carlos Arutin), caixeiro viajante que vive na região. Apesar de todo o seu sucesso, José Inocêncio tem duas grandes infelicidades na vida: o fato de jamais ter conseguido viver um novo amor após a morte de Maria Santa, e o de que não consegue se relacionar direito com nenhum de seus quatro filhos - os três mais velhos, todos com formação universitária e morando na cidade grande, são extremamente mimados e acostumados a receber tudo de bandeja devido ao dinheiro do pai, enquanto o caçula continua sendo rejeitado, pois José Inocêncio não consegue evitar se lembrar de Maria Santa quando o vê.

Esse pobre filho mais novo se chama João Pedro (Marcos Palmeira). Criado por Deocleciano (Roberto Bonfim) e Morena (Regina Dourado), foi o único que ficou na fazenda e trabalha na produção de cacau, sendo também o mais parecido com o pai, se não fisicamente, em termos de temperamento e personalidade. Apesar da rejeição, não é um homem amargurado, idolatra o pai, e vive tentando fazê-lo se reconciliar com seu passado. Seu melhor amigo é Zinho Jupará (Cosme dos Santos), filho mais novo de Jupará e único que ficou na fazenda depois da morte do pai, quando Flor decidiu pegar todos os demais e mudar de cidade.

Dos outros três filhos de José Inocêncio, o mais velho se chama José Augusto (Marco Ricca) e é médico, mas fez a faculdade apenas para agradar ao pai, não levando jeito nenhum para a coisa e sendo sustentado pelo dinheiro do cacau. É muito simpático e querido por todos, mas também muito mentiroso, e tem o sonho de morar fora do Brasil, mas não consegue se decidir entre Miami e Lisboa. O segundo se chama José Bento (Tarcísio Filho) e é advogado, mora no Rio de Janeiro, vive com uma colega de faculdade, Valquíria (Cláudia Lira), mas sem ser casado e sem amor, e é ambicioso e apegado aos bens materiais. O menos problemático dos três é José Venâncio (Taumaturgo Ferreira), engenheiro que mora em São Paulo e é o único que consegue se sustentar com o próprio salário, sem depender do dinheiro do pai, mas que vive um casamento infeliz com Eliana (Patrícia Pillar), mulher oportunista e extremamente ambiciosa, que quer sempre mais do que o marido pode lhe dar, e não entende por que ele não se aproveita do dinheiro do cacau como os irmãos.

O sonho de José Venâncio é ser pai, mas Eliana não aceita porque tem medo de estragar o próprio corpo. Ele acaba, então, se apaixonando pela belíssima Buba (Maria Luísa Mendonça), que se tornaria um dos personagens mais famosos da novela. Buba nasceu hermafrodita, sendo registrada com o nome de Alcides (deveria ser Alcebíades, o que justificaria o apelido Buba, mas um erro no texto do roteiro acabou trocando o nome; apesar de ela falar claramente Alcides em todas as cenas - fato do qual eu me lembro claramente porque eu tenho um tio chamado Alcides - muitas fontes hoje creditam o personagem como Alcebíades) e criada como um menino (porque tinha órgãos sexuais masculinos aparentes) até chegar na adolescência, quando desenvolveu corpo feminino. A princípio, José Venâncio ficou chocado com a revelação, mas depois decidiu que a amava e isso não importava; Buba não podia engravidar, mas, sabendo do sonho de seu amado, decidiu adotar uma criança, levando para casa a menina de rua adolescente Teca (Paloma Duarte), que estava grávida de um namorado que morreu, planejando criar o filho como se fosse seu depois que ele nascesse. No meio da novela, Taumaturgo Ferreira brigou com a Globo e quis sair, e José Venâncio acabou morto em uma tocaia planejada para matar José Inocêncio; para que Buba não ficasse sem par romântico (e a história da gravidez de Teca pudesse continuar), ela começaria um relacionamento (que muitos consideraram forçado) com José Augusto.

Pois bem, a história começa quando João Pedro conhece Mariana (Adriana Esteves), e a leva para trabalhar na fazenda do pai. Mariana atenta José Inocêncio até ele se apaixonar por ela e decidir se casar, pois sente por ela o que nunca havia sentido por ninguém desde a morte de Maria Santa - o que aumenta ainda mais o abismo entre pai e filho, já que João Pedro também é apaixonado por ela. Como Mariana é tipo uns trinta anos mais nova que José Inocêncio, os três filhos mais velhos são terminantemente contra o casamento, acreditando se tratar de uma aproveitadora, e viajam todos os três, mais Valquíria, Eliana, e, posteriormente, Buba e Teca, para a fazenda, onde, liderados por José Bento (que teve a ideia), exigem que as terras do pai sejam divididas e entregues a eles antes do casamento, para que a moça não tenha direito a nada. Na verdade, Mariana não é uma aproveitadora, e sim neta do Coronel Belarmino, e se aproxima de José Inocêncio (a quem chama de Painho) por vingança, considerando-o culpado pela morte de seu avô e planejando fazer com que ele perca tudo o que conquistou; após o casamento, porém, ela se apaixona verdadeiramente, e acaba desistindo de seus planos.

Na segunda fase, o principal inimigo de José Inocêncio é outro vizinho, o Coronel Teodoro (Herson Capri), que tem inveja de seu sucesso e vive conspirando para prejudicar sua produção e roubar parte de sua colheita. Teodoro é casado com Yolanda, a quem chama de Dona Patroa (Eliane Giardini), mas a trai sempre que tem oportunidade, com muitas das mulheres da fazenda e da cidade; depois que José Venâncio larga Eliana para se casar com Buba, Teodoro larga Yolanda para se casar com Eliana, que vira sua aliada nas maquinações contra José Inocêncio. Teodoro e Yolanda têm uma filha, Sandra (Luciana Braga), que se apaixona por João Pedro - aumentando, mais ainda, o abismo entre pai e filho quando consegue conquistá-lo e os dois decidem se casar.

Outro personagem de extremo sucesso da novela foi Sebastião (Osmar Prado), que, no início da trama, vivia com sua esposa, Joaninha (Teresa Seiblitz), no manguezal, onde catavam caranguejos para sobreviver. Ao saber da trajetória de José Inocêncio, Sebastião decide que será como ele, mas, ingênuo, acredita que o sucesso do fazendeiro advém do fato de que ele tem um caramunhão (espécie de gênio ou demônio) preso dentro de uma garrafa, seguindo um ritual que faz com que a criatura realize todos os seus desejos. De acordo com a lenda, o caramunhão nasceria de um ovo de uma galinha especialmente preparada; para fazer o preparo, Sebastião passa a andar com a galinha pra cima e pra baixo noite e dia, passando a ser conhecido como Tião Galinha, e sua devoção ao ritual acaba destruindo sua vida, sua sanidade e seu relacionamento com sua esposa.

Para piorar a situação, Padre Santo, que peregrina pelas fazendas da região para levar a palavra de Deus, mas já está idoso, recebe um ajudante, o Padre Lívio (Jackson Antunes), que, além de cuidar da paróquia, tenta esclarecer o povo, falando sobre temas como corrupção e reforma agrária, que desagradam os coronéis locais. Padre Lívio consegue um emprego para Tião Galinha na fazenda de Teodoro, mas acaba se apaixonando por Joaninha, o que faz com que ele passe a contestar sua fé e seu merecimento.

Outros personagens que merecem ser citados são Inácia (Solange Couto na primeira fase, Chica Xavier na segunda), empregada que cuida de José Inocêncio e de sua casa desde que ele começou a subir na vida, trata o patrão como se fosse seu próprio filho, ajudou a criar as quatro crianças, é extremamente supersticiosa e costuma ter visões do que vai acontecer com eles; Damião (Jackson Antunes), jagunço contratado para matar José Inocêncio, que se infiltra em seu pessoal, mas depois de conhecê-lo melhor, passa a respeitá-lo e decide trabalhar para ele; Norberto (Nelson Xavier), dono da vendinha local, onde os personagens se encontram para fazer compras, tomar uns gorós e fofocar sobre a vida alheia; Ritinha (Isabel Fillardis), moça que trabalha na casa de José Inocêncio, que tem um caso com José Bento, mas acaba se apaixonando e se casando com Damião; Egberto (José de Abreu), detetive particular contratado por Eliana para descobrir o caso de José Venâncio com Buba; os meninos de rua Neno (Cassiano Carneiro) e Pitoco (Oberdan Junior), amigos de Teca; e a Professorinha Lu (Leila Lopes), responsável pela escola onde estudam os filhos dos empregados das fazendas. Grande Otelo faz uma participação como o Seu Francisco, e Cecil Thiré como o Delegado Olavo, que investiga a morte de José Venâncio. Kadu Moliterno faz uma participação na primeira fase como Rafael.

De autoria de Benedito Ruy Barbosa, com colaboração de Edmara Barbosa e Edilene Barbosa (suas filhas), e direção de Luiz Fernando Carvalho, Emílio di Biasi e Mauro Mendonça Filho, Renascer teve 213 capítulos, exibidos entre 8 de março e 14 de novembro de 1993. O último capítulo teve uma diferença importante em relação ao que era feito com outras novelas da emissora: com 80 minutos de duração (o que, por si só, já era diferente do usual), ele teve de ser dividido em dois, com metade sendo exibida na sexta-feira e metade no sábado, ao invés do que ocorria tradicionalmente, ou seja, o último capítulo sendo exibido na sexta-feira e reprisado no sábado. O motivo da divisão não foi o tamanho do capítulo, porém, e sim o fato de que, na sexta-feira, ocorreria uma rodada decisiva do Campeonato Brasileiro, na qual times como Flamengo e São Paulo disputariam a classificação à próxima fase; como a Globo tinha os direitos de transmissão, imaginava que conseguiria boa audiência devido à importância dos jogos, e estes começariam às 21h30min, acabaria sendo tomada a decisão de dividir o capítulo em dois. Muita gente acha que, por causa disso, não houve a tradicional reprise, mas, na verdade, o último capítulo de Renascer seria reprisado, na íntegra (ou seja, as duas partes seguidas), no domingo, logo após o Fantástico.

Renascer seria reprisada no Vale a Pena Ver de Novo, em versão condensada, com 145 capítulos, entre 14 de agosto de 1995 e 1 de março de 1996; a estreia da reprise menos de dois anos após o término da novela seria um sinal de seu enorme sucesso, e atenderia a vários pedidos que a Globo receberia praticamente desde que o último capítulo foi exibido. A novela também seria reprisada, dessa vez na íntegra, no Canal Viva, entre 7 de novembro de 2012 e 5 de setembro de 2013.

A abertura, criada mais uma vez por Hans Donner, com colaboração do arquiteto Flávio Papi, mostrava um imenso jequitibá que se transformava em um moderno edifício e uma fazenda de cacau cujo chão se abria para revelar uma cidade, fazendo uso de maquetes, computação gráfica e filmagens em chroma key. A música da abertura, Confins, composta por Aldir Blanc, Vítor Martins e Ivan Lins, seria gravada pela banda de percussão Batacotô, com Ivan Lins nos vocais. Falando em músicas, como costumava ocorrer com novelas de temática rural, Renascer não teve trilha sonora internacional, e sim duas trilhas sonoras nacionais, com a segunda sendo utilizada do meio da novela em diante. As trilhas contavam com nomes gigantes da música brasileira, como Roberto Carlos, Caetano Veloso, Gilberto Gil, Maria Bethânia, Agnaldo Rayol, Guilherme Arantes, Fagner, Ney Matogrosso, Elba Ramalho, Moraes Moreira, Alceu Valença, Nana Caymmi, Tim Maia, e as bandas Roupa Nova e 14 Bis. Duas das músicas de maior sucesso foram Ai Que Saudade de Ocê, de Fábio Jr., e Mentiras, de Adriana Calcanhoto.

Renascer seria a primeira novela de Benedito Ruy Barbosa na faixa das oito na Globo. Ele começaria a trabalhar na história no início dos anos 1970, logo após escrever a novela das seis Meu Pedacinho de Chão, que foi ao ar em 1971. Na época, Barbosa chegou a viajar pelo sertão da Bahia para recolher histórias - dentre elas, a lenda do caramunhão trancado na garrafa, que ele usaria em outra de suas novelas, Paraíso, de 1982 - e fazer anotações sobre a trama, mas que acabariam engavetadas por vinte anos, pois ele não se sentia pronto para escrever a história completa. No final dos anos 1980, Barbosa seria contratado pela Rede Manchete, que planejava criar também uma faixa de novelas das oito, e escreveria Pantanal, exibida em 1990, que se tornaria um dos maiores sucessos da televisão brasileira; seria justamente o sucesso de Pantanal que levaria a Globo a convidar o autor a retornar e lhe oferecer a faixa das oito.

O personagem Damião, um matador de aluguel, seria inspirado em uma pessoa real que Barbosa conheceria durante sua jornada pela Bahia, um ex-matador conhecido apenas como Seu Visita. Já Tião Galinha seria usado como um retrato do povo brasileiro subjugado pelo poder econômico - na época, a economia do país ainda era uma bagunça, e a maior parte dos trabalhadores mais simples sofria com intermináveis planos econômicos e mudanças de moeda, parecendo que a única forma de se livrar da pobreza e ascender na vida seria mesmo através de mágica. Tião se tornaria um dos personagens mais queridos da novela, mas teria um final trágico, deixando uma mensagem a favor da melhor distribuição de renda em suas últimas palavras: "quem trabalha e mata a fome não come o pão de ninguém, quem ganha mais do que come sempre toma o pão de alguém".

Na primeira fase, um dos personagens mais populares seria o Coronel Belarmino, graças a seu bordão "é justo, é muito justo, é justíssimo". Esse bordão, curiosamente, seria criado pelo seu intérprete, o ator José Wilker, em um improviso: durante a gravação de uma cena longa e bastante trabalhosa, Wilker se esqueceria de uma de suas falas, e, para não ficar calado e arriscar ter de repetir a cena, falou essas palavras enquanto tentava se lembrar. Ele acabou se lembrando e a cena continuou, e o diretor de fotografia Walter Carvalho gostou tanto do bordão que convenceu Barbosa a transformá-lo em uma das marcas do personagem.

Renascer seria a estreia de vários atores que depois entrariam para o primeiro time da Globo, como Jackson Antunes, Maria Luisa Mendonça, Marco Ricca, Paloma Duarte e Isabel Fillardis. Seria eleita a melhor novela do ano de 1993 pela Associação Paulista de Críticos de Arte, que ainda premiaria Antônio Fagundes como melhor ator, Osmar Prado como melhor ator coadjuvante, Regina Dourado como melhor atriz e Jackson Antunes como revelação do ano.

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