Meu segundo esporte preferido é o rugby. Comecei a assistir meio por acaso, e me apaixonei. Não por acaso, o rugby foi o segundo esporte que ganhou post aqui no átomo. Na ocasião, eu mencionei que, na verdade, existem dois esportes chamados rugby: o rugby union, mais conhecido no Brasil, que é o que eu gosto e sobre o qual eu falei, e o rugby league, que tem algumas regras diferentes, do qual eu não gosto. Eu nunca pensei em falar sobre rugby league aqui no átomo porque, bem, eu não gosto, mas, ano passado, eu tive uma ideia genial: combinar o rugby league e o futebol canadense em um único post, falando de uma vez sobre os dois. Como vocês devem ter imaginado, eu acabei não botando essa ideia em prática na época, mas, agora, resolvi que iria executá-la. Hoje, portanto, é dia não de um, mas de dois esportes no átomo!
Vamos começar pelo futebol canadense. Como eu disse aqui no post sobre futebol americano universitário, o futebol americano surgiu quando um grupo de soldados britânicos, por volta de 1860, foi enviado ao Canadá, e levou com eles as regras do rugby. O rugby logo se tornaria bastante popular nas universidades canadenses, e começaria a ter suas regras alteradas para ficar mais de acordo com o gosto da população local. Em 1864, dois alunos da Universidade de Toronto, Barlow Cumberland e Frederick Bethune, criariam um conjunto de regras que seria adotado por praticamente todas as universidades da região. De Toronto, que fica perto da fronteira, o jogo chegaria aos Estados Unidos, onde seria mais alterado ainda, dando origem ao futebol americano (quase) como o conhecemos hoje.
O principal responsável pelo futebol americano deixar de ser parecido com o rugby e passar a ser parecido com, bem, o futebol americano foi Walter Camp, aluno da Universidade de Yale, nos Estados Unidos, que, em 1880, sugeriu várias mudanças nas regras utilizadas até então. No Canadá, essas mudanças não seriam implementadas até 1903, quando John Burnisde, aluno da Universidade de Toronto, baseando-se nas regras de Camp, também fez várias sugestões para a entidade que regulava o rugby na província de Ontário, onde Toronto está localizada, a Ontario Rugby Football Union. As outras entidades que regulavam o rugby no Canadá, porém, se recusariam a adotar essas regras, alegando que elas descaracterizavam o jogo, somente se curvando a elas quando ficou bem claro que os dois esportes, o rugby e o futebol canadense, poderiam coexistir.
Mesmo após as sugestões de Burnside, porém, o futebol canadense ainda era quase idêntico ao futebol americano, exceto por três detalhes: o tamanho do campo (que, no futebol canadense, é bem maior, porque as áreas dedicadas a esportes ao ar livre no Canadá eram mais espaçosas que as dos Estados Unidos), a proibição de passes para a frente (que só passariam a ser permitidos em 1929) e o fato de que um touchdown valia cinco pontos (somente passando a valer seis, como nos Estados Unidos, em 1956). Curiosamente, todas as demais diferenças essenciais entre o futebol canadense e o futebol americano - como, por exemplo, o número de jogadores em campo ou o número de descidas para avançar dez jardas - decorrem de mudanças feitas nos Estados Unidos, e não no Canadá - a regra das três descidas, por exemplo, foi alterada para quatro descidas nos Estados Unidos em 1905, mas, no Canadá, nunca foi alterada, sendo usadas apenas três até hoje.
Como eu já expliquei as regras do futebol americano bem explicadinhas, hoje eu vou focar apenas nas diferenças entre o futebol canadense e o futebol americano, citando uma coisa ou outra quando for necessário ficar mais claro. O que eu não falar aqui, muito provavelmente é igual a no futebol americano.
Uma das principais diferenças entre o futebol canadense e o futebol americano é o tamanho do campo. Um campo de futebol canadense é enorme, com 137 m de comprimento por 59 m de largura. A área de jogo, entre as duas goal lines, tem 110 jardas (101 m), com cada jarda sendo marcada por quatro linhas curtas, cada jarda múltipla de cinco sendo marcada por uma linha que atravessa o campo no sentido da largura, e cada jarda múltipla de dez por um grande número próximo à linha lateral - como o campo tem 110 jardas, a linha do meio é marcada pela letra C, de "centro", e então, no sentido de cada end zone, as jardas múltiplas de dez são marcadas pelos números 50, 40, 30, 20 e 10; em alguns estádios, as goal lines são marcadas com a letra G. As end zones têm o dobro do comprimento das do futebol americano, 20 jardas (ou 18 metros) cada uma; curiosamente, o gol, cuja base está a 3 m de altura, e tem 5,63 m de largura, não fica posicionado no final da end zone, e sim no início, com a base do gol ficando exatamente acima da goal line - o que faz com que um chute da linha de uma jarda tenha que ser dado quase que diretamente para cima. Todos os estádios da CFL (a liga profissional do Canadá) e da U Sports (que regula os esportes universitários) possuem gols no mesmo formato dos do futebol americano, aqueles que lembram vagamente um Y, mas as regras oficiais do futebol canadense também permitem que o gol seja do mesmo formato do usado no rugby, ou seja, em forma de H. As regras oficiais também permitem que as end zones tenham entre 18 e 25 jardas de comprimento, sendo 20 a medida mais comum.
A diferença mais importante do futebol canadense para o americano é que, no futebol americano, cada time tem quatro descidas para avançar dez jardas, passando a posse de bola para o adversário no final da quarta descida se ele não conseguir; no futebol canadense, cada time tem apenas três descidas para avançar dez jardas, o que significa que um time em situação difícil tem de apelar para o punt após apenas duas jogadas. Em compensação, no futebol canadense, quando a bola é colocada na linha de scrimmage, o time que está defendendo deve ficar a uma jarda de distância do local onde foi colocada a bola, o que torna o trabalho da linha ofensiva mais fácil - no futebol americano, o time que está defendendo deve ficar à frente da linha da bola, o que faz com que eles quase encostem seus narizes nos dos jogadores da linha ofensiva. Como o time adversário está posicionado a uma jarda da bola na hora do snap, é bem mais comum que sejam tentadas conversões de terceira descida no futebol canadense do que conversões de quarta descida no futebol americano.
Um time de futebol canadense tem sempre 12 jogadores em campo - um a mais do que um time de futebol americano. Um time completo de futebol canadense tem 44 jogadores, contra 53 no futebol americano, embora na NFL apenas 45 possam ser inscritos por jogo. A CFL possui uma regra de que cada time deve ter no mínimo 21 jogadores canadenses e no máximo 20 estrangeiros (que em todos os times são quase todos americanos), mais três quarterbacks que não contam para esses valores. Os árbitros do futebol americano sinalizam as faltas com um pano amarelo, e os técnicos pedem desafio com um pano vermelho; no futebol canadense, os árbitros usam um pano laranja, e os técnicos usam um pano amarelo.
Não existe a regra do fair catch no futebol canadense, em compensação, após um punt ou kick off, nenhum jogador pode ficar a menos de cinco jardas da bola até que algum oponente a toque, ou até que ela toque o chão - o que evita a situação de que o jogador nem acabou de pegar a bola e já sofreu um tackle. No futebol canadense, se a bola tocar o chão após um punt sem que nenhum jogador do time que a está recebendo a tenha tocado, o punter pode pegá-la e avançá-la em direção à end zone, com a posse de bola retornando para o time que chutou o punt; por essa razão, alguém do time que está recebendo sempre costuma tentar pegar a bola, mesmo que ela toque o chão antes - no futebol americano, se a bola tocar no chão antes, o time que está recebendo pode ignorá-la, porque, se alguém do time que chutou tocar nela, a jogada começa do ponto onde houve o toque, e, se ela entrar na end zone, da linha de 20 jardas.
Falando nisso, no futebol americano, se um jogador recebe a bola dentro de sua própria end zone e não consegue retornar ao campo de jogo, ou se a bola sai de campo direto após um punt ou kickoff, ocorre um touchback, e o time que recebeu a bola começará jogando da linha de 20 jardas. No futebol canadense, qualquer bola que caia dentro da end zone, exceto como resultado de um field goal válido ou após ter tocado as traves do gol, é considerada viva e de quem pegar; se um jogador do time que está defendendo a pega dentro da end zone mas não consegue retornar ao campo de jogo, o time que está atacando ganha um ponto, conhecido como single ou rouge ("vermelho" em francês, porque antigamente essa jogada era sinalizada pelos árbitros com um pano vermelho), e o time que sofreu o ponto começa jogando da linha de 35 jardas ou da linha onde foi realizado o chute, no caso de um punt ou uma tentativa de field goal, como preferir. Um punt ou uma tentativa de field goal não convertida que saia de campo após ter tocado o chão dentro da end zone sem nenhum jogador ter tocado a bola também vale um single. Caso um kickoff ou uma tentativa de field goal não convertida cuja bola tocou na trave saia de campo após tocar o chão dentro da end zone sem tocar em nenhum jogador, o time que está defendendo começa jogando da linha de 25 jardas.
No futebol canadense, um time que sofreu um field goal pode escolher entre receber um kickoff, fazer um kickoff de sua linha de 35 jardas, ou começar jogando de sua linha de 35 jardas sem o oponente fazer kickoff. Já o time que marca um safety pode escolher entre fazer um kickoff de sua linha de 35 jardas, fazer um kickoff de sua linha de 25 jardas, ou começar jogando de sua linha de 35 jardas. No futebol americano, o time que marca pontos sempre faz o kickoff, exceto no caso de um safety, quando quem faz o kickoff é o time que sofreu os pontos. No futebol canadense, após um touchdown, a conversão com chute é feita da linha de 25 jardas, e a com jogada da linha de 3 jardas - no futebol americano, o chute é feito da linha de 15 jardas, e a jogada da linha de 2 jardas; o chute no canadense é de mais longe porque o gol é mais próximo, na prática dá uma jarda a menos para os canadenses, e não dez a mais. No futebol canadense, para um chute de field goal ou conversão, o kicker pode pedir que o holder coloque a bola apoiada sobre um tee, como no rugby; no futebol americano, exceto a nível escolar, todos os chutes devem ser feitos com o holder segurando a bola.
No futebol americano, apenas um jogador do time que está atacando pode se mover antes do snap, e, mesmo assim, desde que não seja um jogador da linha ofensiva, e desde que ele não se mova na direção da linha de scrimmage. No futebol canadense, qualquer jogador que não esteja na linha ofensiva pode se mover em qualquer direção, inclusive lateralmente ao longo da linha de scrimmage, desde que não ultrapasse a linha de scrimmage - o que é feito para confundir a defesa. Um jogador que comece a se mover na direção da linha de scrimmage antes do snap costuma conseguir percorrer uma distância muito maior do que os que começam a jogada parados, permitindo que no futebol canadense sejam feitos passes muito mais longos. Como o gol do futebol canadense fica praticamente dentro do campo, um passe no qual a bola toque no gol é considerado incompleto, como se a bola tivesse saído.
No futebol americano, cada time tem 40 segundos para definir sua jogada antes do snap; no futebol canadense, esse tempo é de apenas 20 segundos. No futebol canadense, cada time tem direito a dois pedidos de tempo a cada metade do jogo, mas não pode usar ambos nos últimos três minutos de cada metade; o jogo para automaticamente quando chega a esses três minutos, para o three minute warning, e, dentro desses três minutos, toda vez que a bola para, o relógio também para. A penalidade no futebol canadense por deixar esgotar os 20 segundos nos três minutos finais de cada metade é a perda de uma descida, ou de 10 jardas caso seja a terceira - e, se o árbitro considerar que a demora está ocorrendo de propósito, pode penalizar o time dando a posse de bola para o adversário, mesmo que seja a primeira descida. No restante do jogo, a penalidade é a mesma do futebol americano: 5 jardas.
Mas a diferença mais curiosa do futebol canadense para o americano é que, assim como no rugby, no futebol canadense é permitido avançar a bola para a frente com um chute, desde que só seja dado um chute por posse de bola. Normalmente esse chute é usado para tirar a bola da end zone e evitar um single ou safety, mas, em um momento de desespero, pode ser usado para passar a bola para um jogador que esteja mais à frente no campo.
O único lugar do planeta onde o futebol canadense é jogado é no Canadá. No resto do mundo, por influência dos Estados Unidos, exercida através do cinema e televisão, só é jogado mesmo o futebol americano - no Canadá também é jogado o futebol americano, mas apenas em ligas amadoras, enquanto o futebol canadense é jogado a nível amador (incluindo escolar e universitário), semiprofissional e profissional. A única liga profissional de futebol canadense no mundo se chama CFL (de Canadian Football League), e, atualmente, conta com nove times, que representam as cidades de Ottawa, Montreal, Toronto, Winnipeg, Vancouver, Calgary, Edmonton, Regina e Hamilton, e contam com nomes criativos como Hamilton Tiger-Cats, Montreal Alouettes e Saskatchewan Roughriders - Saskatchewan é o nome da província onde se localiza a cidade de Regina; outro time que não traz o nome da cidade é o BC Lions, sendo BC a sigla de British Columbia, província onde está localizada a cidade de Vancouver. Como o Canadá é muito frio, sendo impossível disputar esportes ao ar livre no inverno, a temporada da CFL começa em junho, com os playoffs sendo disputados em novembro.
Como a CFL só tem nove times, eles são divididos em duas Divisões, a Oeste, com cinco times, e a Leste, com quatro. A temporada regular dura 21 semanas, com cada time fazendo 18 jogos e folgando em três semanas - um time folga a cada semana, exceto em três delas, quando três times folgam em cada. Cada time joga duas vezes contra cada um dos outros oito times, uma em casa e uma fora; os outros dois jogos, um em casa e um fora, são contra dois times de sua própria Divisão, escolhidos através de uma fórmula, que mudam todo ano. Se classificam para os playoffs os três melhores times de cada Divisão, sendo que o quarto melhor time de uma Divisão pode "roubar" a vaga do terceiro da outra, caso seu desempenho tenha sido melhor - em 2019, por exemplo, se classificaram quatro times da Divisão Oeste a apenas dois da Leste. A primeira rodada dos playoffs tem sempre o segundo e o terceiro colocados de cada Divisão se enfrentando, com o vencedor desse jogo enfrentando o primeiro na Final de Divisão, e os campeões de Divisão se enfrentando na final - por causa da regra de "roubar", é possível, embora raro, que ambos os times na final sejam da mesma Divisão.
A final da CFL se chama Grey Cup, e é disputada desde 1909, sendo que em 2020 será disputada sua 108a edição - não houve Grey Cup entre 1916 e 1919 por conta da Primeira Guerra Mundial. Assim como ocorre com o Super Bowl, a Grey Cup é disputada em um estádio selecionado antecipadamente, mas, como o número de times na CFL é bem menor, não é raro um time jogar a Grey Cup em casa - algo que jamais aconteceu no Super Bowl. A Grey Cup foi criada antes mesmo da fundação da CFL (o que só ocorreu em 1958), leva seu nome em homenagem a seu criador, Albert Grey, governador-geral do Canadá entre 1904 e 1911, e, originalmente, era entregue ao melhor time amador do Canadá, decidido em um torneio que contava com a participação apenas de times amadores e universitários, com os profissionais somente começando a participar em 1936. Os times amadores e universitários puderam continuar competindo pela Grey Cup até 1954, com o troféu passando a ser disputado exclusivamente por times profissionais no ano seguinte. O maior campeão da Grey Cup é o Toronto Argonauts, que já a conquistou 17 vezes, seguido do Edmonton Eskimos, com 14, e do Winnipeg Blue Bombers, com 10. Todos os times atualmente em atividade na CFL já conquistaram a Grey Cup pelo menos uma vez, com o mais recente tendo sido o Ottawa Redblacks em 2016 - já que até agora eu falei o nome de oito dos nove times, acho que vale citar que o nono é o Calgary Stampeders. A Grey Cup é o evento esportivo mais assistido do Canadá, com sua audiência chegando a alcançar 40% dos televisores ligados no país.
Desde sua fundação - quando já contava com nove times, embora não fossem os mesmos de hoje - a CFL luta para se expandir e criar mais times, o que esbarra no fato de que, mesmo no Canadá, o futebol canadense não é tão popular dentre os atletas - muitos dos universitários que se destacam no futebol canadense acabam preferindo tentar uma vaga na NFL, já que as regras não são tão diferentes assim, ficando os times da CFL apenas com jogadores de menor prestígio, incluindo universitários dos Estados Unidos que não conseguiram vaga na NFL após se formar e ex-jogadores da NFL que ainda se consideram muito jovens para se aposentar. A tentativa mais ousada de expansão ocorreria em 1993, quando um time baseado em uma cidade dos Estados Unidos, o Sacramento Gold Miners, da Califórnia, foi adicionado ao campeonato. No ano seguinte, três novos times dos Estados Unidos fizeram sua estreia, e, em 1995, embora dois desses anteriores tenham desistido, três novos estrearam, com a CFL chegando ao recorde de 13 times - o campeão de 1995, inclusive, foi um time dos Estados Unidos, os Baltimore Stallions, na única vez em que a Grey Cup não foi para um time canadense. Em 1996, porém, com quatro dos cinco times dos Estados Unidos na CFL passando por dificuldades financeiras, e a cidade de Baltimore ganhando seu próprio time da NFL - o Baltimore Ravens - nenhum time dos Estados Unidos se inscreveu, o que fez com que a CFL voltasse a ter somente times canadenses; desde então, todas as tentativas de expansão têm sido feitas em cidades do Canadá, embora o número de times jamais tenha passado de nove.
O futebol canadense universitário segue mais ou menos os mesmos moldes do futebol americano universitário, existindo uma organização, chamada U Sports (que, até 2016, tinha dois nomes, Canadian Interuniversity Sport, ou CIS, em inglês, e Sport Interuniversitaire Canadien, ou SIC, em francês, decidindo se chamar U Sports em ambos os idiomas para facilitar), que regula o esporte universitário em todo o país, e organiza os campeonatos de doze modalidades esportivas, incluindo o futebol canadense. A principal diferença do campeonato de futebol canadense da U Sports para o de futebol americano da NCAA, dos Estados Unidos, é que o canadense conta apenas com uma divisão, já que apenas 27 universidades contam com o futebol canadense em seu programa esportivo - das quais a mais criativa é a Saint Francis Xavier University, cujo apelido do time é "The X-Men".
De maneira parecida com o que ocorre na NCAA, os 27 times são divididos em quatro conferências, usando critérios geográficos: Canada West Universities Athletic Association (CW, para universidades das províncias de British Columbia, Alberta, Saskatchewan e Manitoba, todas localizadas no oeste), Atlantic University Sport (AUS, para universidades das províncias de Newfoundland e Labrador, Nova Brunswick, Prince Edward Island e Nova Scotia, todas localizadas na costa do Atlântico), Ontario University Athletics (OUA, para as universidades da província de Ontário) e Réseau du sport étudiant du Québec (RSEQ, para universidades da província de Québec). Durante a temporada regular, cada time faz oito jogos, todos contra oponentes de sua própria conferência (na AUS e na RSEQ, que contam com cinco times cada, cada um faz um em casa e um fora contra cada oponente; na CW, que conta com seis times, e na OUA, que conta com 11, são usadas fórmulas para se determinar quais times cada um dos outros não enfrenta a cada ano); a fase seguinte são os playoffs de conferência, com cada uma tendo sua própria fórmula (na CW e na RSEQ se classificam os quatro primeiros, com o primeiro enfrentando o quarto e o segundo enfrentando o terceiro nas semifinais; na AUS se classificam os três primeiros, com o segundo enfrentando o terceiro na semifinal, e o vencedor enfrentando o primeiro na final; e na OUA é usado um sistema parecido com o da CFL, com os seis primeiros se classificando, o primeiro e o segundo estreando nas semifinais e os demais nas quartas de final) com cada campeão de conferência ganhando seu próprio troféu (Hardy Trophy para a CW, Jewett Trophy para a AUS, Yates Cup para a OUA, e Coupe Dunsmore para a RSEQ). Os playoffs de conferência são disputados em jogo único, sempre na casa do time melhor ranqueado.
Os quatro campeões de conferência, então, se classificam para as semifinais nacionais, também disputadas em jogo único. Uma das semifinais se chama Uteck Bowl, e é sempre disputada no estádio mais a leste dentre os dos dois participantes; a outra se chama Mitchell Bowl, e é disputada sempre no estádio mais a oeste - sendo esse curioso critério também usado para definir os participantes de cada Bowl, com as duas universidades localizadas mais a oeste disputando o Mitchell e as duas mais a leste o Uteck. Os vencedores das semifinais nacionais se enfrentam na Vanier Cup (ou Coupe Vanier), a grande final do futebol canadense universitário, disputada desde 1965. O maior vencedor da Vanier Cup é a Université Laval, com 10 títulos, seguida da Universidade do Oeste em London, com 7, e da Universidade de Calgary, atual campeã, com 5. Somente nove dos 27 times que hoje disputam o campeonato jamais foram campeões, sendo que seis deles sequer chegaram à Vanier Cup. Até 2003, a Vanier Cup era sempre disputada em Toronto, numa homenagem por ter sido nessa cidade que foi criado o futebol canadense, mas, a partir daquele ano, a sede passou a ser escolhida com um ano de antecedência, e, desde 2015, cada estádio é escolhido para sediar duas edições seguidas, com as escolhas ocorrendo sempre nos anos ímpares. A Vanier Cup foi criada para que os times universitários também pudessem disputar um troféu nacional, já que em 1954 eles seriam proibidos de disputar a Grey Cup; entre 1955 e 1964, somente os troféus das Conferências foram disputados pelos times universitários.
Vamos passar agora para o rugby league, cuja história começa em 1895, quando o órgão que controlava o rugby na Inglaterra se chamava Rugby Football Union (RFU). Naquele ano, a RFU publicou uma regra segundo a qual todos os times tinham de ser exclusivamente amadores, sendo proibido qualquer tipo de pagamento feito aos jogadores pelos clubes - além disso, os clubes ficariam proibidos de vender ingressos para as partidas, devendo a entrada ser gratuita para todas elas. 22 clubes sediados no norte do país não concordaram com essas regras, porque a maioria de seus jogadores vinham das classes mais humildes, trabalhando em minhas de carvão, moinhos e outros empregos que pagavam muito pouco, usando o rugby como complementação de renda - a maioria deles, inclusive, não teria como viajar para enfrentar os clubes do sul se tivesse que pagar a passagem de seu próprio bolso, o que passaria a ser o caso de acordo com a determinação da RFU. Esses 22 clubes, então, decidiriam se desfiliar da RFU e fundar sua própria federação, que chamariam de Northern Rugby Football Union (NRFU). Logo eles descobriram que outros clubes de todo o país também estavam insatisfeitos com a RFU, por um motivo ou outro, e decidiram aceitar qualquer clube que se desfiliasse da RFU para se filiar a eles. Em 1910, quinze anos após sua criação, a NRFU já contaria com mais de 200 clubes filiados.
Aproveitando que eles já não tinham mais nada a ver com a RFU, os clubes da NRFU decidiriam alterar as regras para que elas ficassem mais ao gosto dos jogadores e espectadores - abolindo a jogada de lateral na qual é permitido erguer um jogador do chão e diminuindo o número de jogadores de cada time em campo para 13, por exemplo. Em 1901, para evitar confusões entre seu nome e o da rival, a NRFU decidiria mudar seu nome para Northern Rugby League, ou NRL. Animados com o sucesso da NRL, clubes de rugby da cidade de Sydney, na Austrália também decidiriam criar uma nova federação, a New South Wales Rugby Football League, que jogaria pelas regras da NRL. Em 1922, a NRL, já com clubes em toda a Inglaterra, decidiria mudar novamente seu nome, para Rugby Football League, ou RFL. Na década de 1920 o rugby já era jogado com as regras da RFL em vários países da Europa, além de na Austrália e Nova Zelândia, de forma que, em 1927, as federações nacionais de Inglaterra, Escócia, Irlanda, Austrália e Nova Zelândia decidiriam se unir e fundar a primeira federação internacional a regular o rugby de acordo com as regras da RFL, a Imperial Rubgy League Board, que, em 1948, com a entrada da França, mudaria de nome para International Rubgy League Board, e, em 1998, mudaria novamente para Rugby League International Federation. No ano passado, ocorreria mais uma mudança de nome, com o órgão passando a se chamar International Ruby League (IRL).
Hoje, a IRL conta com 70 membros, sendo que 19 são considerados membros plenos (países onde o rubgy league é disputado profissionalmente), 11 são considerados membros afiliados (países onde o rugby league é disputado a nível amador ou semiprofissional) e 40 são considerados membros observadores (países onde o rugby league é disputado apenas a nível amador, e onde ainda está em seus primeiros estágios de desenvolvimento). O Brasil é membro afiliado da IRL desde 2019, tendo sido aceito como membro observador em 2015. Três curiosidades sobre a IRL: primeiro, Brasil e Chile são os únicos países da América do Sul que podem disputar competições da IRL, ambos sendo afiliados; Argentina, Uruguai e Colômbia são membros observadores. Segundo, até 1992, Inglaterra, Escócia e País de Gales competiam como Grã-Bretanha, passando a competir separadamente a partir de 1993. Terceiro, assim como no rugby union, o time da Irlanda representa toda a ilha, podendo ser convocados para ele jogadores nascidos tanto na República da Irlanda quanto na Irlanda do Norte.
Embora, a rigor, ambos os esportes, o que era regulado pela RFU e o da IRL, se chamem rugby (ou melhor, rugby football), desde a mudança de nome para NRL a IRL decidiu que, para evitar confusão, o nome oficial do esporte que segue suas regras seria rugby league, e que todas as federações nacionais deveriam se chamar leagues - regra que foi relaxada em 1998, com as federações nacionais desde então sendo obrigadas a ter rugby league, e não apenas rugby, no nome, com a brasileira, por exemplo, sendo a Confederação Brasileira de Rugby League. Por tabela, como o "outro" rugby era regulado pela Rugby Football Union, seu "apelido" passaria a ser rugby union, e suas federações nacionais passariam a ser conhecidas como unions. Hoje, embora o termo rugby union ainda seja usado quando é necessário diferenciá-lo do rugby league, a federação internacional do rugby union, que, desde 2014, se chama World Rugby, determina que seu nome oficial é apenas rugby - ou seja, um dos esportes oficialmente se chama rugby, o outro oficialmente se chama rugby league. Para evitar confusão, nesse post eu vou chamar o rugby da World Rugby de rugby union.
Assim como eu fiz com o futebol canadense, a ênfase aqui será nas regras do rugby league que são diferentes daquelas do rugby union. Se alguma coisa ficou de fora, provavelmente é igual, e basta vocês irem até o meu post sobre rugby e ler lá como é.
O campo do rugby league tem entre 112 e 122 metros de comprimento por entre 58 e 68 metros de largura; a área entre as linhas de in-goal tem 100 metros de comprimento, divididos de 10 em 10 por linhas cheias com número grandes. Assim como no futebol americano, a linha do meio do campo tem o número 50, e aí, na direção do in-goal, elas têm os números 40, 30, 20 e 10. É interessante notar que o campo do rugby league "cabe dentro" do campo de rugby union, que é ligeiramente maior, e, por isso, é comum que times de rugby league e rugby union de uma mesma cidade dividam o mesmo campo, bastando trocar as marcações quando for jogo de um ou de outro.
Um time de rugby league tem apenas 13 jogadores, dois a menos que um de rugby union; os dois jogadores "que faltam" são forwards, o que significa que um time tem seis forwards - mais fortes e pesados, que impedem o avanço adversário - e sete backs - mais leves e rápidos, que criam as jogadas e avançam com a bola - o que faz com que o jogo no rugby league seja muito mais veloz. Uma curiosidade do rugby league é que a numeração das camisas é "ao contrário" em relação ao rugby union, com os backs vestindo as camisas de 1 a 7 e os forwards as de 8 a 13. Um time de rugby league tem quatro reservas, que vestem as camisas 14 a 17. As substituições só podem ser feitas com a bola parada, e um jogador que saiu pode voltar a campo depois, mas há um máximo de oito substituições por jogo, exceto em caso de lesão, quando o jogador substituído por lesão não conta.
Os métodos de pontuação no rugby league são os mesmos do rugby union, mas os valores em pontos são diferentes: no rugby league, um try vale quatro pontos (com o chute de conversão valendo mais dois), um penalty kick convertido vale dois pontos, e um drop kick convertido vale só um ponto. Como o rugby league é muito veloz e dinâmico, com poucas faltas que resultam em penalty kicks, é comum os times marcarem mais pontos através de tries do que de chutes. Uma diferença importante é que, no rugby league, a bola pode ser colocada para fora de campo intencionalmente com as mãos, enquanto no rugby union isso só pode ser feito com chutes; além disso, no rugby league, quando a bola sai pela lateral, ela é recolocada em jogo com um scrum, com o time que não tocou por último colocando a bola em jogo. Todas as situações nas quais, no rugby union, ocorreriam em relação à linha de 22 metros, no rugby league ocorrem em relação à linha de 20 metros.
Mas a regra mais importante do rugby league é a regra das seis chances, também conhecida como regra dos seis tackles: no rugby union, o time que está atacando mantém a posse de bola até o outro time tomar a bola dele ou a bola sair de campo; já no rugby league o time que está atacando tem seis chances para marcar pontos, devendo devolver a bola para o outro time se esgotar todas as seis sem conseguir. Em outras palavras, cada vez que um jogador do time que está atacando sofre um tackle, ele perde uma chance, e, após o sexto tackle, a posse de bola passa para o time oponente. Assim como no futebol americano, após o quinto tackle o time que está atacando costuma usar o punt, um chute na direção do campo adversário, para que o oponente comece sua jogada o mais longe possível de seu in goal; também como no futebol americano, o punt é uma jogada que devolve a bola para o adversário, não podendo um time pegar uma bola que ele mesmo chutou. Normalmente o árbitro grita o número da chance que está sendo jogada, mas isso não é obrigatório - exceto quando é a quinta, quando, além de gritar, ele deve fazer um sinal com a mão espalmada sobre a cabeça, para alertar os jogadores.
Após cada tackle, a jogada continua com o play the ball: o jogador que sofreu o tackle coloca a bola no chão à frente da linha de seus pés, se levanta e a rola para trás com o pé. Apenas um jogador do próprio time que fez o play the ball pode pegar a bola, nunca os oponentes. As únicas formas de se conseguir a posse de bola antes de um time esgotar suas seis chances são interceptando a bola durante um passe ou causando um fumble, ou seja, um adversário faz com que um jogador solte a bola antes de tocar o chão quando sofre um tackle, e então um outro jogador adversário pega a bola antes do time que estava no ataque. Um passe para a frente feito durante a sexta chance não resulta em scrum, e sim em posse de bola automática para o adversário, com play the ball no local do passe. Um time que comece jogando após o oponente gastar suas seis chances conduzindo a bola (ou seja, sem punt) também começa com play the ball.
A competição mais importante do rugby league é a Copa do Mundo, disputada desde 1954 (bem antes da primeira Copa do Mundo de rugby union, disputada pela primeira vez em 1987). De início, a Copa do Mundo de Rugby League era disputada em intervalos irregulares (entre 1985 e 1992, inclusive, chegaram a fazer um experimento no qual a Copa durava quatro anos inteiros, sem sede, com jogos de ida e volta entre os participantes), mas, desde 2013, a IRL definiu que o intervalo seria de quatro anos, com a próxima estando prevista para 2021. Atualmente a Copa do Mundo é disputada por 16 times, e todos os membros plenos e afiliados podem participar das eliminatórias - o Brasil nunca participou porque as eliminatórias para 2021 já haviam se encerrado quando ele foi aceito como membro afiliado. Das 15 edições da Copa do Mundo já realizadas, a Nova Zelândia ganhou uma, a Grã-Bretanha ganhou 3, e a Austrália ganhou as outras 11 - tendo também o recorde de ter chegado entre os três primeiros em todas as 15 edições, e de ter chegado a todas as finais desde 1957, só tendo ficado de fora exatamente da primeira.
O rugby league é disputado também por mulheres, com a Copa do Mundo de Rugby League Feminina sendo disputada desde 2000 - mais uma vez, de início a intervalos irregulares, mas, desde 2013, a cada quatro anos. A Nova Zelândia ganhou as três primeiras edições, mas a Austrália ganhou as duas mais recentes. Por decisão da IRL, a Copa do Mundo feminina é sempre disputada na mesma sede e usando os mesmos estádios da masculina, mas nunca ocorrendo simultaneamente - algumas edições são realizadas antes do começo da masculina, outras após seu final. Como o rugby league feminino é menos praticado que o masculino, o número de participantes também é menor: em 2021, apenas 8 times disputarão a Copa do Mundo feminina, incluindo o Brasil, que entrou como convidado - assim como todos os demais times, já que a Copa do Mundo feminina não tem eliminatórias.
Para terminar, vale dizer que, assim como o rugby union possui uma versão chamada rugby sevens - com sete jogadores de cada lado e dois tempos de sete minutos cada - o rugby league possui uma versão chamada rugby league nines. Ambas foram criadas com o mesmo propósito, fazer com que as partidas se tornassem mais curtas e pudessem ser realizadas em um intervalo menor de tempo, o que possibilitaria sua inclusão em torneios como as Olimpíadas - de fato, o rugby sevens já faz parte do programa olímpico, desde 2016. No rugby league nines, cada time possui nove jogadores e seis reservas, mas somente quatro reservas podem ser inscritos por jogo, embora as substituições sejam ilimitadas, e o jogo dura dois tempos de nove minutos cada, com 2 minutos de intervalo, para um total de 20 minutos de partida. Se um jogo terminar empatado, é jogada uma prorrogação com golden try, ou seja, quem marcar um try primeiro vence. Outra diferença importante é que são apenas cinco tackles por jogada, e não seis, e que o time que faz pontos é que recomeça o jogo, com um drop kick. O rugby league nines é mais popular a nível nacional do que o rugby sevens, com Inglaterra e Austrália, por exemplo, tendo campeonatos disputadíssimos, mas, a nível internacional, ele ainda está começando a engrenar, tanto que a Copa do Mundo de Rugby League Nines foi disputada pela primeira vez em 2019, com previsão de ser disputada a cada quatro anos; as edições masculina e feminina foram realizadas simultaneamente, com a Austrália ganhando ambas.
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