Quando se fala em "luta greco-romana", a primeira impressão que temos é a de que essa foi uma luta inventada na antiga Grécia, sendo depois aperfeiçoada pelos romanos na época em que aquele país foi invadido por Roma - talvez semelhante à forma como os deuses gregos acabaram recebendo nomes romanos, os romanos tenham pegado a luta dos gregos e adaptado para seus próprios propósitos, criando, então, uma "luta greco-romana". Nada, entretanto, poderia estar mais longe da verdade. A luta greco-romana é bastante recente, tendo sido inventada no século XIX, e por uma única pessoa, o soldado francês Jean Exbrayat, que fazia parte do exército de Napoleão.
Em seu tempo vago, Exbrayat criou um novo estilo de luta, que, após dar baixa do exército, passou a apresentar em feiras e convenções. Ele não chamou esse estilo de "luta greco-romana", mas de "luta de mão espalmada", para diferenciá-lo de outros estilos de luta nos quais é permitido atingir o oponente com golpes, que normalmente são feitos com a mão fechada, por isso o "espalmada". Como esse é um nome um tanto ridículo, o que pegou acabou sendo outro, "luta francesa". Apesar de Exbrayat ser francês, porém, a luta não era tão popular assim na França, de forma que muitos lutadores não gostavam de usar esse nome, dentre eles o italiano Basilio Bartoletti. Em 1848, se aproveitando de uma tendência que havia surgido no mundo esportivo de "resgate dos valores da antiguidade", Bartoletti passaria a se referir ao estilo de luta que praticava como "luta greco-romana". O nome acabou pegando, e é usado desde então, juntamente com estilo clássico, termo cunhado pelos jornais da época, que achavam que "greco-romano" era um termo muito complicado para se tornar popular.
Já a luta livre não tem nada a ver com fortões fantasiados batendo nos outros com cadeiras dentro de um ringue. As origens da luta livre olímpica podem ser traçadas até o século XIX, na Grã-Bretanha, quando três estilos de luta eram bastante populares durante festas e festivais: o da Inglaterra, no qual os lutadores começavam separados e o objetivo era fazer o oponente tocar com um dos ombros no chão; o da Escócia, no qual os lutadores começavam abraçados e o objetivo era derrubar o oponente no chão; e o da Irlanda, no qual os lutadores começavam com as mãos nos ombros um do outro e o objetivo era fazer com que o oponente tocasse com as costas no chão. Devido à popularidade desses três estilos nas ilhas britânicas, a luta greco-romana jamais se tornou verdadeiramente popular por lá, mas, em compensação, devido à popularidade da luta greco-romana no restante da Europa, os estilos britânicos jamais se popularizariam fora de seus países de origem.
Imigrantes irlandeses, entretanto, levariam os estilos britânicos para os Estados Unidos, onde a luta greco-romana também era praticada. Em pouco tempo, as regras da luta greco-romana começaram a contaminá-los, dando origem ao hoje chamado estilo livre. Em essência, o estilo clássico e o estilo livre são a mesma luta, apenas com poucas diferenças, sendo a fundamental a de que, na luta-greco-romana, é proibido agarrar o oponente abaixo da cintura, enquanto na luta livre é permitido agarrar qualquer parte do corpo - por isso o termo "livre".
A primeira aparição da luta greco-romana nas Olimpíadas se daria logo na primeiríssima edição, em 1896, em Atenas, Grécia. Era sabido que as Olimpíadas "originais" da antiguidade tinham torneios de luta, então era óbvio que o Barão de Coubertin, idealizador dos Jogos da Era Moderna, fosse querer um evento de luta em suas Olimpíadas, e a greco-romana era a que mais se aproximava em estilo das lutas da antiguidade. Assim como nas Olimpíadas da antiguidade, o evento de 1896 não contou com categorias de peso, com todos os lutadores competindo juntos em um só evento.
A luta greco-romana passava, porém, por uma crise de popularidade no final do século XIX e início do seculo XX, o que a levou a ficar de fora do programa olímpico da segunda edição do evento, em Paris, 1900. Na terceira edição, em 1904, as Olimpíadas seriam realizadas nos Estados Unidos, na cidade de St. Louis, e a luta voltaria a fazer parte do programa; dessa vez, entretanto, não seria a luta greco-romana, e sim a luta livre, que era muito mais popular naquele país - todos os 42 competidores do torneio, aliás, eram dos Estados Unidos, incluindo dois noruegueses naturalizados. Em 1904, pela primeira vez, foram usadas as categorias de peso, com um total de sete eventos sendo disputados, todos masculinos.
Em 1908, na quarta edição das Olimpíadas, disputada em Londres, Grã-Bretanha, finalmente, tanto a luta greco-romana quanto a luta livre fariam parte do programa, mas não como esportes separados, e sim ambas identificadas como "luta", já usando a nomenclatura que persiste até hoje; também em 1908, a luta greco-romana contaria pela primeira vez com categorias de peso, com um total de nove eventos em disputa, sendo cinco de luta livre e quatro de luta greco-romana - todos, mais uma vez, masculinos. As mulheres só começariam a disputar os eventos de luta quase cem anos depois, em 2004, quando as Olimpíadas seriam mais uma vez disputadas em Atenas e contariam com quatro eventos de luta livre feminina; até hoje, em torneios internacionais oficiais, as mulheres disputam apenas a luta livre, sendo a luta greco-romana exclusivamente masculina.
No início, a luta olímpica era regulada por federações nacionais, cada uma com regras levemente diferentes das outras. Isso levava a muitas discussões em cada torneio internacional, principalmente porque algumas federações permitiam golpes mais violentos que outras, que acabavam contundindo os atletas que não estavam acostumados com eles, e porque parecia que nenhuma conseguia chegar a um consenso sobre como evitar que uma luta terminasse empatada, com muitas lutas durando entre duas e três horas. Após as Olimpíadas de 1912, disputadas em Estocolmo, Suécia, na qual a luta livre ficou de fora por não ser popular naquele país, e a final da categoria meio-pesados da luta greco-romana durou nada menos que nove horas, terminando empatada e conferindo uma medalha de prata a cada competidor, sem que houvesse um campeão olímpico naquela categoria, representantes dos Estados Unidos e dos principais países europeus decidiram se reunir para fundar a Federação Internacional de Lutas Associadas (FILA, na sigla em francês) - que, por causa da Primeira Guerra Mundial, só seria efetivamente fundada em 1921, com as Olimpíadas de 1920, em Antuérpia, ainda sendo disputadas com as regras do país anfitrião, no caso, a Bélgica.
Em setembro de 2014, seguindo uma tendência mundial, a FILA mudaria de nome para United World Wrestling (UWW). Hoje, a UWW conta com 176 membros, dentre eles o Brasil, e regula um total de sete esportes: a luta olímpica (que inclui a luta greco-romana e a luta livre), a luta de solo, o pancrácio, o alysh, o kuresi e o pahlavani, além de uma modalidade de luta livre com regras levemente diferentes, chamada luta de praia (porque é, evidentemente, disputada na praia, ou em quadras de areia especialmente preparadas para este fim), e que ela considera como um esporte separado. Para os efeitos deste post, o que nos interessa é a luta greco-romana e a luta livre, já que os outros esportes da UWW têm regras bastante diferentes, e ficaria confuso falar sobre todos aqui. A partir de agora, portanto, toda vez que eu falar em "luta olímpica", estarei me referindo a fatos comuns tanto à luta greco-romana quanto à luta livre, só usando seus nomes em separado quando for falar de alguma peculiaridade de apenas uma delas.
A luta olímpica é disputada em uma área conhecida como mat, feita de materiais sintéticos, devendo ser ao mesmo tempo macio para evitar contusões, suave para evitar arranhões e queimaduras caso partes do corpo dos lutadores se arrastem nele, mas aderente para facilitar o apoio dos pés dos lutadores. A área efetiva de luta é um círculo de 9 m de diâmetro, demarcado por uma linha de cor laranja de 1 m de espessura. Ao redor desse círculo, deve haver uma "área de segurança", de 1,5 m, o que faz com que o mat, se for quadrado, tenha 12 m de lado. No centro exato do círculo, há um outro círculo, menor, de 1 m de diâmetro, que pode ser de qualquer cor, ou até possuir um desenho. O mat pode ser elevado (nas Olimpíadas, inclusive, isso é obrigatório), devendo ter, no máximo, 1,1 m de altura se o for. Mats elevados não são quadrados, mas octogonais, com 4,95 m de lado, e com cada um de seus lados se ligando ao chão por uma rampa de 45 graus.
O uniforme da luta olímpica se chama singlet, e é uma peça única, parecida com uma camiseta sem mangas presa a uma bermuda que vai até os joelhos, feita de materiais como lycra, nylon e spandex, para ficar bastante justo no corpo e impedir que o lutador se agarre ao singlet ao invés de ao corpo do oponente. O singlet masculino é bem cavado na parte de cima, deixando quase todo o tórax à mostra, mas o feminino é bem mais modesto, com as aberturas para o pescoço e os braços tendo diâmetro bem menor. A UWW não proíbe o uso de roupa de baixo sob o singlet - inclusive, é permitido que mulheres usem top para maior conforto e proteção dos seios - mas há um boato de que os lutadores preferem lutar sem cueca ou calcinha, talvez para não marcar e ficar feio na TV, já que eu não consigo imaginar nenhum motivo técnico. Tradicionalmente, em todos os torneios de luta olímpica, um dos competidores usa um singlet vermelho, enquanto o outro usa um azul; desde 2014, porém, a UWW vem permitindo singlets de outras cores (como verde ou amarelo), mas, caso um dos lutadores use um que não seja vermelho ou azul, esse deverá ter detalhes na cor oposta à do oponente (por exemplo, se um lutador for enfrentar um oponente de vermelho, e quiser usar amarelo, deverá usar um singlet amarelo com detalhes em azul, e, para todos os efeitos, será o "lutador de azul").
Além do singlet, os lutadores devem usar sapatilhas especiais sem cadarços e com solas de borracha, para permitir maior aderência na hora de executar os movimentos e proteger os dedos dos pés. Cada lutador também deve ter consigo em todos os momentos, guardado dentro do singlet, um lenço limpo, que pode ser trocado no intervalo da luta; o intuito é usá-lo para limpar o suor ou estancar um eventual sangramento sem a necessidade de se sair da área de luta. Finalmente, alguns torneios (mas não as Olimpíadas ou o Mundial) permitem o uso de protetores de orelhas semelhantes a um fone de ouvido, para evitar lesões caso as orelhas sejam arrastadas no mat.
Assim como outras lutas desportivas, a luta olímpica divide seus praticantes em categorias de peso, para que as lutas sejam mais justas. Atualmente, a UWW usa seis categorias de peso, embora elas sejam diferentes para a luta greco-romana, para a luta livre masculina e para a luta livre feminina. Para a luta greco-romana as categorias de peso são até 59 kg, até 66 kg, até 75 kg, até 85 kg, até 98 kg e até 130 kg. Na luta livre masculina as categorias são até 57 kg, até 65 kg, até 74 kg, até 86 kg, até 97 kg e até 125 kg. E na luta livre feminina as categorias são até 48 kg, até 53 kg, até 58 kg, até 63 kg, até 69 kg e até 75 kg. Para assegurar maior justiça, a UWW formou um comitê para aumentar o número de categorias de peso em cada modalidade para dez, com as novas categorias entrando em vigor em 2018.
Todos os torneios de luta olímpica são disputados em sistema de mata-mata, com os lutadores sendo emparelhados dois a dois, os vencedores avançando e os perdedores sendo eliminados; dependendo do número de lutadores em um torneio, os mais bem ranqueados podem começar direto na segunda ou na terceira rodada. Quando sobram apenas dois lutadores - os que farão a final - todos aqueles que anteriormente perderam para esses dois têm direito a uma repescagem, que valerá duas medalhas de bronze - uma disputada pelos que perderam para o Finalista A, a outra disputada pelos que perderam para o Finalista B. Na final, evidentemente, quem ganha leva a medalha de ouro e quem perde leva a medalha de prata. No caso do Mundial, o campeão também leva o Cinturão da UWW, que manterá até a edição seguinte.
A luta olímpica é oficiada por três árbitros; um deles é o árbitro principal, que acompanha a luta de dentro do mat, e usa um apito para alertar os lutadores do início e reinício da luta, bem como de quaisquer interrupções. O árbitro principal avalia se os golpes sendo usados estão de acordo com as regras da luta olímpica, confere os pontos e determina as punições. Antes de uma luta começar, o árbitro principal também deve examinar os lutadores, para vez se eles não estão suados em demasia ou besuntados com qualquer substância que possa lhes dar vantagem na luta, bem como se não têm nenhum ferimento sério, se estão com as unhas bem cortadas, ou se estão usando acessórios que possam resultar em lesões, como anéis. Já o segundo árbitro fica sentado ao lado do mat, é responsável por anotar o placar, e pode auxiliar o árbitro principal caso este tenha alguma dúvida ou deixe passar algum detalhe. O terceiro é o árbitro de mesa, que controla o tempo da luta, supervisiona se os outros dois árbitros estão fazendo seu trabalho corretamente, e é o único que pode declarar vitória por superioridade técnica.
A luta tem duração de dois tempos de três minutos cada, com um intervalo de 30 segundos entre eles. O vencedor será o lutador que, ao final do tempo regulamentar, tiver acumulado mais pontos. Caso um lutador obtenha, a qualquer momento, 8 pontos a mais que seu adversário, no caso da luta greco-romana, ou 10 pontos a mais, no caso de luta livre, a luta é interrompida imediatamente, e esse lutador é declarado vencedor por superioridade técnica. O árbitro principal pode interromper a luta por vários motivos (como, por exemplo, se um dos lutadores sair da área de luta válida); nesse caso, o relógio para, e recomeça a contar quando a luta é reiniciada. Caso um dos lutadores se lesione ou esteja sangrando em demasia, o árbitro principal pode determinar um atendimento médico; caso esse lutador não tenha condições de retornar após um tempo máximo de um minuto e meio, ele é desclassificado, e a vitória é conferida ao oponente.
Assim como no boxe, cada lutador possui um "canto", um espaço na área de segurança do mat pintada de azul ou vermelho; os lutadores devem permanecer em seu canto antes do início e se dirigir para lá ao final de cada tempo. Os treinadores podem assistir à luta de seu canto, mas não podem gritar instruções para os lutadores ou interferir de qualquer forma, exceto no caso de um desafio: uma vez por luta, cada treinador tem o direito de contestar uma das decisões do árbitro principal, e, se o fizer, o lance será exibido em replay para que os três árbitros avaliem quem está com a razão; se ficar comprovado que o treinador está com a razão, ele continua com o direito de desafiar durante aquela luta, e as medidas cabíveis são tomadas (como, por exemplo, conferir pontos que o árbitro não havia conferido), mas, caso fique provado que o árbitro estava certo, aquele treinador não pode mais desafiar durante aquela luta, e o oponente ganha 1 ponto.
Como ocorre em outras lutas desportivas, na luta olímpica os lutadores só pontuam caso usem movimentos válidos, que são aqueles determinados como tal pela UWW. Todos os movimentos válidos da luta olímpica consistem em agarrar o oponente e então tentar derrubá-lo ou arremessá-lo, sem nenhum golpe que atinja diretamente o oponente, como socos ou chutes. A luta greco-romana e a luta livre possuem os mesmos movimentos válidos, mas, como já foi dito, na luta greco-romana é proibido agarrar o oponente pelas coxas, pernas ou pés, então pontuar na luta greco-romana é mais difícil (e, por isso, a vitória por superioridade técnica ocorre com uma diferença menor de pontos). Caso o árbitro determine que um movimento foi válido, foi realizado com explosão e amplitude adequados, e deixou o oponente em risco (de sofrer pontos), ele confere uma pontuação adequada para o tipo de movimento utilizado.
O movimento mais buscado pelos lutadores é o takedown, ou derrubada, que consiste em levantar o oponente e jogá-lo no chão em seguida, e pode valer de 2 a 5 pontos. Caso o lutador consiga uma grande amplitude, ou seja, as pernas do oponente fiquem mais altas que sua cabeça, e, ao cair no chão, o oponente fique deitado de costas, com o lutador impedindo os movimentos de pelo menos três de seus membros (sendo membros válidos os dois braços, as duas pernas e a cabeça), o lutador ganha 5 pontos. Caso o movimento tenha grande amplitude mas apenas um ou dois membros do oponente sejam dominados, ou caso o oponente caia no chão de lado, a derrubada vale 4 pontos. Finalmente, caso o movimento não tenha grande amplitude (ou seja, caso os pés do oponente fiquem na mesma altura ou mais baixos que sua cabeça enquanto ele está sendo erguido), ou caso ele caia no chão de bruços, a derrubada vale apenas 2 pontos.
A segunda forma mais buscada de pontuação é a exposição: toda vez que um lutador fica deitado de costas no chão, seja em decorrência de ser derrubado pelo oponente ou por ter caído sozinho, o oponente recebe 2 pontos; caso ele consiga segurar o oponente com as costas no chão durante cinco segundos, ganha um ponto extra. Os pontos por exposição não são conferidos no caso de uma derrubada de cinco pontos, mas podem ser conferidos caso o lutador consiga uma derrubada de menos pontos e depois role o oponente para que ele fique de costas no chão. Também é possível que um lutador caia de costas sozinho, em decorrência de um golpe mal-executado ou de uma técnica de sacrifício (para colocar o oponente em outra posição e ganhar mais pontos, por exemplo); nesse caso, os pontos por exposição são conferidos normalmente, o que torna possível ambos os lutadores pontuarem em um único golpe - um por derrubada e o outro por exposição, por exemplo. Caso um lutador esteja sendo dominado pelo outro no solo, mas consiga reverter a situação e passar a tentar dominá-lo, ele também ganha um ponto, por reversão.
Lutadores também ganham pontos quando seus oponentes cometem faltas; dependendo da gravidade da falta, ela pode render 1 ou 2 pontos ao oponente (usar um golpe inválido é uma punição de 1 ponto, mas socar ou chutar o oponente deliberadamente é uma punição de 2 pontos, por exemplo); punições não podem ser desafiadas pelos treinadores, exceto no caso de golpe inválido. Para evitar que um lutador que está ganhando a luta tente segurar o resultado no final, nos últimos 30 segundos de luta, caso os três árbitros concordem que um dos lutadores está evitando a luta propositalmente, eles podem conferir 2 pontos ao oponente; diferentemente das punições, essa decisão pode ser desafiada pelos treinadores.
Pisar fora da área de luta, voluntariamente ou não, também rende 1 ponto ao oponente. Um movimento que comece dentro da área de luta mas termine fora dela é válido, exceto no caso de uma queda. A queda é o equivalente ao nocaute na luta olímpica, e ocorre toda vez que um lutador consegue fazer com que ambos os ombros do adversário fiquem em contato com o solo simultaneamente por pelo menos meio segundo. Uma queda interrompe a luta imediatamente, e, se tiver sido válida, confere a vitória ao lutador que a conseguiu, independentemente da pontuação que o adversário tinha no momento. A vitória por queda só pode ser conferida se pelo menos dois dos três árbitros concordarem que a queda foi válida.
Para terminar, um lutador pode ganhar pontos devido à passividade do oponente. As regras da luta olímpica exigem que ambos os lutadores tentem pontuar a todos os momentos; um lutador que fique só esperando para ver o que o adversário vai fazer, ou que ativamente evite a luta, andando para trás ou de lado sem tomar a iniciativa, é punido por passividade, sendo que, nesse caso, as regras são diferentes para a luta greco-romana e para a luta livre. Na luta greco-romana, da primeira vez (e somente da primeira vez em cada luta) que o árbitro principal notar que um lutador está sendo passivo, ele avisa "atenção azul" ou "atenção vermelho", de acordo com a cor do singlet do lutador passivo. Caso ele note que a passividade continua, ele dá um aviso de passividade ao lutador passivo. Cada dois avisos de passividade resultam em um ponto para o oponente. Tudo isso é feito sem interromper a luta, apenas com avisos verbais do árbitro principal.
Já na luta livre, da primeira vez que o árbitro principal nota que um lutador está sendo passivo, ele dá o aviso de atenção, mas, da segunda vez em diante, o árbitro sinaliza o início de um período de 30 segundos. Se, durante este período, qualquer um dos lutadores pontuar, o período é imediatamente encerrado e nada mais acontece; caso os 30 segundos passem sem que nenhum dos dois pontue, lutador que não recebeu o aviso de passividade ganha 1 ponto. Na luta livre, caso a luta chegue aos dois minutos do primeiro tempo (ou seja, faltando um minuto para o primeiro tempo acabar) sem que nenhum dos dois lutadores tenha pontuado (ou seja, zero a zero), o árbitro principal deve obrigatoriamente escolher um dos lutadores como "mais passivo" e iniciar o período de 30 segundos (exceto no caso de um dos dois lutadores iniciar uma ação faltando poucos segundos para os dois minutos, caso no qual o árbitro pode esperar essa ação se concluir para ver se alguém vai pontuar antes de iniciar o período de 30 segundos). Da mesma forma, se alguém pontuar nesses 30 segundos, nada acontece, mas, caso nenhum dos dois pontue, o "menos passivo" ganha um ponto. A escolha do "mais passivo" não pode ser desafiada pelos treinadores, e normalmente resulta em muita discussão.
Até o final de 2016, a passividade, tanto na luta greco-romana quanto na luta livre, era resolvida com uma posição chamada par terre (na greco-romana, toda vez que havia passividade o lutador passivo devia ficar em par terre; na luta livre, quando havia passividade, o "não-passivo" ganhava automaticamente um ponto, com a par terre só sendo usada no caso de dois minutos sem pontuação). Na posição de par terre, o lutador passivo deve ficar de quatro sobre o círculo central, com suas mãos e joelhos afastados no mínimo 20 cm um do outro e suas coxas formando um ângulo de noventa graus com o solo, enquanto o ativo se coloca sobre ele, olhando para a mesma direção e com as mãos em seus ombros, podendo estar de pé (com as solas dos pés tocando o mat) ou de joelhos. Após um comando do árbitro, o ativo deve passar os dois braços pela cintura do passivo e tentar derrubá-lo; o passivo pode usar apenas uma das mãos de cada vez para tentar uma reversão, mas, na maior parte do tempo, apenas evita ser derrubado. O ativo tem 30 segundos para derrubar o passivo; caso consiga, ganha 1 ponto, caso não, é o passivo que ganha 1 ponto.
A par terre sempre foi alvo de muitas críticas, acreditem ou não, não por critérios técnicos, mas por associação do esporte com a homossexualidade, pois, segundo pessoas preconceituosas, a posição de par terre lembra um casal homossexual em coito (e, provavelmente, termos como ativo e passivo não ajudavam a melhorar a situação). Evidentemente, a UWW não assumiu (ops, trocadilho não-intencional) que o motivo para o fim do uso da par terre para passividade teve a ver com evitar que as pessoas achassem que os lutadores eram gays, alegando que o novo sistema dá mais dinamismo e emoção - no que ela está certa, já que a luta não é interrompida e o passivo não tem a chance de marcar pontos. A par terre, entretanto, ainda faz parte das regras, e atualmente o árbitro principal pode determinar que os lutadores a assumam toda vez que ambos caem e a luta se desenrola no chão sem resultado claro, com o derrubado ficando por baixo.
Caso uma luta termine empatada, são usados os seguintes critérios de desempate: primeiro, são analisadas as punições, com o lutador que teve menos punições de 2 pontos, então o que teve menos punições de 1 ponto, e então o que teve menos advertências do árbitro principal (incluindo advertências por passividade) sendo declarado o vencedor; segundo, é declarado vencedor aquele que conseguiu as pontuações mais valiosas (uma derrubada de 5 pontos vale mais que duas derrubadas de 2 pontos e uma reversão, por exemplo); terceiro, é declarado vencedor aquele que pontuou por último.
Depois das Olimpíadas, o torneio de maior renome da luta olímpica é o Campeonato Mundial. O Mundial mais antigo é o Campeonato Mundial de Luta Greco-Romana, cuja primeira edição foi o torneio das Olimpíadas de 1896. A segunda edição seria disputada em 1898, a terceira em 1904, e, desde então, o Mundial é disputado anualmente, apesar de algumas interrupções (como entre 1914 e 1919, por causa da Primeira Guerra Mundial, e entre 1937 e 1947, por causa da Segunda). Já o Campeonato Mundial de Luta Livre é disputado anualmente desde 1951 no masculino e desde 1987 no feminino; até 2003, as sedes dos Mundiais de Luta Greco-Romana, de Luta Livre masculino e de Luta Livre feminino eram diferentes, mas, a partir da edição de 2005, todos os três passariam a ser disputados simultaneamente na mesma sede, sob o nome de World Wrestling Championship (o "Campeonato Mundial de Luta"). Tanto no caso do Mundial de Luta Greco-Romana quanto do Mundial de Luta Livre, em ano de Olimpíadas o torneio olímpico conta como Mundial daquele ano (por isso não houve Mundial em 2004); por causa disso, apesar de o Mundial de Luta Livre masculino só ter começado a ser disputado em 1951, a UWW reconhece os campeões olímpicos dos torneios entre 1904 e 1948 como campeões mundiais.
Além dos campeões individuais em cada evento, o Campeonato Mundial de Luta premia, desde 1950, o campeão por equipes, usando um sistema de pontuação simples: cada país tem o direito de escolher (se houver mais de um) um de seus lutadores em cada categoria de peso de cada modalidade; esse lutador receberá uma pontuação dependendo de sua colocação final no torneio, com pontos sendo conferidos aos dez primeiros de cada evento, em ordem reversa (o campeão ganha 10 pontos, o vice-campeão ganha 9, o terceiro lugar ganha 8, e assim sucessivamente até o décimo colocado, que ganha 1 ponto). Ao fim do torneio, os pontos de todos os lutadores de um mesmo país são somados para se obter a pontuação daquele país, e o país com maior pontuação é declarado o campeão, sendo escolhidos três campeões por esse sistema, um da luta greco-romana, um da luta livre masculina e um da luta livre feminina (extra-oficialmente, também é determinado o "campeão geral", mas esse não é reconhecido pela UWW nem ganha nenhum prêmio extra).
Desde 2004, a UWW (na época FILA) também regula a luta de praia, que tem as mesmas regras da luta livre, com as seguintes diferenças: a luta é sempre disputada de pé, com o árbitro a interrompendo toda vez que os lutadores vão para o chão (e não há par terre); o uniforme, para os homens, é uma bermuda justa, e, para as mulheres, um maiô ou uma roupa de banho de duas peças semelhante à do vôlei de praia, com os lutadores sempre competindo descalços; a área de luta é um círculo de 7 m de diâmetro, demarcado por uma faixa rígida de 10 cm de espessura sobre a areia; a luta dura apenas 3 minutos; as únicas formas de pontuar são encostando qualquer parte do oponente no solo exceto os pés e as mãos (1 ponto), fazer com que o oponente saia da área de luta (1 ponto), derrubar o oponente de costas no chão (2 pontos) e o oponente receber uma punição (1 ou 2 pontos); não há queda; a luta é oficiada apenas por dois árbitros, com o segundo acumulando as funções de segundo árbitro e árbitro de mesa; não há desafio; e são apenas quatro categorias de peso no masculino (até 70 kg, até 80 kg, até 90 kg e acima de 90 kg) e três no feminino (até 60 kg, até 70 kg e acima de 70 kg). O principal campeonato da luta de praia é o Campeonato Mundial de Luta de Praia, disputado anualmente desde 2006, com as edições de 2007 e 2008 tendo sido disputadas como parte do Campeonato Mundial de Luta.
Os Estados Unidos são hoje o país onde a luta olímpica é mais popular; lá, além de torneios adultos de luta greco-romana e luta livre, são disputados concorridos campeonatos universitários de luta livre, com a modalidade estando dentre os esportes regulados pela NCAA, a associação que cuida dos esportes universitários norte-americanos. A luta universitária, porém, possui algumas regras diferentes da luta livre olímpica, e, por causa disso, ela é considerada uma modalidade diferente, conhecida como collegiate wrestling ou folkstyle wrestling (algo como "luta ao estilo do povo"). Essas regras foram adaptadas das de estilos populares nos Estados Unidos antes da popularização da luta livre olímpica (por isso o nome folkstyle), e as principais são as seguintes: qualquer derrubada vale 2 pontos, a reversão vale 2 pontos, não se confere pontos por exposição nem por pisar fora da área de luta, a superioridade técnica só é declarada com uma diferença de 15 pontos, a queda só é declarada quando os ombros do oponente tocam o chão por mais de dois segundos, o lutador que está por baixo na par terre pode usar as duas mãos para tentar uma reversão, e, a não ser quando está tentando uma queda ou uma derrubada, o lutador não pode entrelaçar os dedos para maior firmeza, recebendo uma punição se o fizer.
O Japão também possui um disputado campeonato universitário de luta livre, no qual, surpreendentemente, a luta feminina é mais popular que a masculina. Na Ásia, a luta olímpica também é bastante popular no Irã, na China e na Coreia do Sul. Na época da União Soviética, a luta olímpica também era um dos principais esportes promovidos pelo governo, de forma que, hoje, ela ainda é bastante popular nos países que a compunham (como Ucrânia, Azerbaijão, Geórgia e a Rússia, hoje considerada o país mais forte da luta olímpica) e naqueles onde a União Soviética possuía influência (como Cuba, Bulgária e Hungria).
Em outros lugares do mundo, contudo, a luta olímpica vem perdendo popularidade ano após ano, sendo até vista como um esporte ultrapassado e menos atraente que as artes marciais orientais. Essa crise de popularidade pode fazer, inclusive, com que a luta olímpica saia do programa olímpico - o que, na opinião de muitos, seria um completo absurdo, mas já quase aconteceu: em uma reunião em 2013, o COI votou por retirar a luta olímpica do programa das Olimpíadas de 2020; devido à pressão popular, ele recuou e a manteve no programa, mas como um "esporte adicional". O que isso significa para o futuro do esporte nas Olimpíadas - como, por exemplo, se sua permanência será avaliada após o evento, como a dos cinco esportes extras recentemente incluídos (beisebol/softbol, escalada, surf, skate e caratê) - e para seu futuro como um todo, é motivo de grande preocupação para os praticantes da luta olímpica e para aqueles que sabem que a saída das Olimpíadas pode ser um golpe fatal para o desaparecimento do esporte.
Como parece ter sido o caso da luta paralímpica, que fez parte do programa de duas Paralimpíadas, em 1980 e 1984. Regulada pelo próprio Comitê Paralímpico Internacional, a luta paralímpica seguia as mesmas regras da luta livre, mas adaptada para ser disputada por cadeirantes, biamputados e outros atletas incapazes de usar as pernas. Devido ao baixíssimo número de praticantes, a luta paralímpica foi removida do programa das Paralimpíadas de 1988, e hoje só é disputada de forma amadora ou em competições locais (a maior parte delas realizadas nos Estados Unidos, que ganharam 15 das 19 medalhas de ouro disputadas em 1980 e 1984, ficando as outras quatro com o Canadá), sem uma federação internacional que a regule ou torneios internacionais.
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