segunda-feira, 1 de maio de 2017

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Taekwondo

Eu juro que, quando decidi escrever sobre judô, planejava acabar logo com os esportes do programa olímpico, fazendo um post para cada um dos que faltavam. Acabei me desviando do caminho duas vezes, mas agora retorno, com um post sobre taekwondo.

O taekwondo é uma arte marcial de origem coreana, e surgiu no fim da década de 1950. Assim como a China, a Coreia possui artes marciais antiquíssimas, com a mais antiga, o sireum, no qual o objetivo era agarrar e derrubar o oponente, datando de quatro mil anos atrás. A maioria dessas artes marciais, entretanto, cairia em desuso, e quase desapareceria, durante a ocupação japonesa da península coreana, na qual a Coreia passou a ser parte do Império Japonês, entre os anos de 1910 e 1945.

Com o fim da ocupação, vários professores de artes marciais decidiriam abrir escolas, chamadas kwan; as kwan, entretanto, não ensinavam as artes marciais coreanas tradicionais, e sim novas vertentes, "contaminadas" pelas artes marciais japonesas - já que, durante a ocupação, muitos dos professores de artes marciais moraram no Japão, incorporando técnicas que lá aprenderam a seus estilos originais. Durante as décadas de 1940 e 1950, um total de nove kwan foram abertos na cidade de Seul, capital da Coreia do Sul (que surgiria após a divisão da península, em 1948), cada uma delas ensinando uma arte marcial própria, sem relação com as outras oito. Algumas dessas artes marciais seriam adotadas pelo exército sul-coreano como parte de seu treinamento de combate corpo a corpo.

Em 1952, o exército faria uma demonstração de artes marciais na presença do Presidente da Coreia do Sul, Syngman Rhee, que, impressionado, chamaria para uma reunião os líderes das cinco kwan existentes até então, e determinaria que eles trabalhassem em conjunto para criar uma arte marcial unificada, que seria ensinada por todas. As primeiras reuniões nesse sentido ocorreriam em 1955, e, antes mesmo de se determinar quais elementos de cada arte marcial seriam usados na unificada, os líderes resolveram decidir qual seria seu nome. Eles acabariam optando por Tae Soo Do, que, em coreano, significa "caminho da mão que atinge".

Entra em cena, então, o controverso Choi Hong Hi, professor de artes marciais e general do exército. Choi era o líder da Oh Do Kwan, fundada em 1955 e uma das quatro kwan fundadas na década de 1950, mas praticava o Chung Do Kwan, estilo da escola de mesmo nome fundada por Won Kuk Lee em 1945. Ele chamava seu estilo não de Oh Do Kwan, mas de Tae Kwon Do, que significava "o caminho do punho que atinge". Aproveitando o fato de que o nome escolhido na reunião de 1955 era parecido com o seu, e o de que a forma kwon era semelhante, em pronúncia e sentido, ao quan das artes marciais chinesas, Choi começaria a defender o uso do nome Tae Kwon Do para a nova arte marcial que seria criada. Quando conseguiu, ele começou a defender que a nova arte marcial deveria ter muito mais elementos de seu Tae Kwon Do do que das artes das demais kwan - o que também acabaria conseguindo.

Além de ter criado a maior parte dos elementos presentes no taekwondo moderno, Choi também seria o primeiro a escrever um livro em inglês sobre as regras do taekwondo, publicado em 1965, e, durante as décadas de 1960 e 1970, viajaria o mundo divulgando o taekwondo e treinando professores, o que contribuiria para a expansão do taekwondo pelo planeta; por isso, ele viria a ser considerado por muitos como o "criador do taekwondo". Mas, como eu disse, Choi era uma figura controversa: em 1959, devido a acusações de conduta desonesta e antidesportiva, ele perderia todos os seus títulos de artes marciais e seria impedido pelo governo de liderar uma kwan - o que, segundo alguns, teria sido o principal motivo de ele decidir viajar pelo mundo. Por causa dessas acusações, a Federação Mundial de Taekwondo costuma omiti-lo da história do esporte, considerando o taekwondo como uma criação coletiva.

Após várias reuniões, os líderes das nove kwan decidiriam fundar a Associação Coreana de Taekwondo (KTA), que ficaria responsável pela regulação, promoção e divulgação do taekwondo em toda a Coreia do Sul - além de ter sido a responsável pela adoção oficial do nome "taekwondo", com grafia sem espaços. Como foi "expulso" logo após a criação da KTA, alguns anos depois Choi decidiria "contra-atacar" e fundar a Federação Internacional de Taekwon-Do (ITF), que seria responsável por regular, promover e divulgar o taekwondo no mundo inteiro. O taekwondo da ITF tinha algumas regras diferentes das adotadas pela KTA (por isso Choi adotaria um nome levemente diferente, "taekwon-do"), mas, mesmo assim, em nome da divulgação internacional do esporte, a KTA decidiria mostrar uma bandeira branca e se filiar à ITF em 1970. A paz, entretanto, duraria apenas três anos.

Na opinião do governo sul-coreano, como o taekwondo havia surgido dos esforços das kwan de Seul, apenas a Coreia do Sul deveria ter influência sobre como o esporte seria praticado. Mas, em outra decisão controversa, Choi declararia que o taekwon-do era "uma arte marcial coreana", e não "uma arte marcial sul-coreana", e que a Coreia do Norte também deveria ser ouvida em relação aos rumos do esporte - de fato, Choi sempre manteve boas relações com a Coreia do Norte, se mudando para lá em 1979, se tornando o primeiro presidente da Federação Norte-Coreana de Taekwon-Do, e residindo no país até o fim de sua vida, em 2002. A KTA, que tinha fortes laços com o governo da Coreia do Sul, também achava um absurdo a Coreia do Norte se meter no taekwondo, e, em 1973, se desfiliaria da ITF, fundando uma nova federação internacional, a Federação Mundial de Taekwondo (WTF).

Pouco antes da saída da KTA da ITF e da fundação da WTF, o Ministério da Cultura, Esporte e Turismo da Coreia do Sul decidiria fundar uma academia de taekwondo controlada pelo governo, chamada Kukkiwon - nome que significa algo como "escritório central". Assim como o Kodokan do judô, a Kukkiwon, hoje, é um prédio considerado o "quartel-general mundial do taekwondo", contando em seus três andares com locais próprios para sua prática e seu ensino, um museu sobre a história do esporte, um auditório, uma extensa biblioteca e uma equipe permanente de professores e atletas dedicados a aprimorar o taekwondo constantemente. A Kukkiwon foi responsável pela organização do primeiro Campeonato Mundial de Taekwondo, ainda em 1973, contando com 200 competidores de 17 países diferentes - e bem antes do primeiro Mundial da ITF, realizado em 1982 - além de ter sido instrumental para a formação da WTF: em poucos anos, graças aos esforços da Kukkiwon, quase todos os membros da ITF já a haviam trocado pela WTF, ou decidido ser membro de ambas - o Brasil pertence ao segundo caso, sendo membro tanto da WTF quanto da ITF.

Como tanto a ITF quanto a WTF existem até hoje, o taekwondo é mais uma arte marcial que possui mais de uma vertente: o taekwondo da ITF costuma ser referenciado como Taekwon-Do, enquanto o da WTF é o Taekwondo Kukkiwon, Taekwondo Olímpico (por ser o que está nas Olimpíadas), ou, simplesmente, Taekwondo WTF. Estas duas não são as únicas vertentes do taekwondo, podendo ser citadas como exemplos das demais o Taekwondo Tradicional, ou apenas Taekwon (um termo genérico usado para se referir às artes marciais originais das nove kwan), ainda ensinado hoje como parte do currículo de muitas escolas de taekwondo, principalmente na Coreia do Sul, e regulado pela União Mundial de Taekwondo Tradicional (WTTU); o Taekwondo Chang Hon, regulado pela Federação Global de Taekwondo (GTF), fundada em 1990 por um grupo de conselheiros da ITF insatisfeitos com o que eles consideraram "alterações indesculpáveis na essência do esporte"; e o Taekwondo Songahm ou Taekwondo ATA, regulado pela Federação de Taekwondo Songahm (STF) e criado por Haeng Ung Lee, professor sul-coreano que foi morar nos Estados Unidos em 1969, abriu a primeira escola de taekwondo naquele país, e foi membro fundador da Associação Americana de Taekwondo (ATA).

Assim como eu fiz nos posts sobre judô e caratê, as características e regras mencionadas nesse post serão as da federação reconhecida pelo Comitê Olímpico Internacional - ou seja, a WTF - o que significa que, daqui para a frente, toda vez que eu falar "taekwondo", estarei me referindo ao Taekwondo Kukkiwon. É importante salientar que, para efeitos de competição, diferentemente da maioria das federações internacionais de artes marciais, a WTF não se importa com qual vertente do taekwondo o lutador pratica, desde que ele seja filiado a uma federação nacional que seja membro da WTF e siga as regras da WTF durante a competição em questão - em outras palavras, um lutador norte-americano que pratica o Taekwondo ATA pode participar normalmente das Olimpíadas, desde que seja filiado à USA Taekwondo e siga as regras da WTF enquanto estiver lutando no torneio olímpico (e obtenha a classificação para ele através de torneios da WTF, evidentemente).

Um dos pilares do ensinamento do taekwondo é a chamada Teoria da Força, desenvolvida por Choi Hong Hi ainda na década de 1950, através do estudo da biomecânica e da física em relação às artes marciais chinesas. Basicamente, a Teoria da Força diz que é a velocidade do golpe que importa, e não o tamanho ou o peso do lutador; quanto mais veloz for um golpe, portanto, mais forte ele será, independentemente de se o lutador é grande, pequeno, leve, pesado, magro ou musculoso. A Teoria da Força é usada em conjunto com outra teoria desenvolvida por Choi, segundo a qual o lutador deve permanecer com os músculos relaxados durante a maior parte da luta, somente tensionando-os quando for aplicar um golpe; segundo Choi, essa prática possibilitaria a conservação da energia do lutador, permitindo que cada golpe fosse usado com a maior explosão muscular - e, por conseguinte, a maior velocidade - possível. Na década de 1970, Choi ainda desenvolveria uma terceira teoria, segundo a qual o lutador deveria mover seu centro de gravidade para cima quando em repouso e para baixo na hora de desferir um golpe, mas essa, hoje, só é adotada pela ITF, com as demais vertentes do taekwondo desconsiderando-a.

O treinamento do taekwondo envolve técnicas individuais, técnicas acompanhadas e técnicas filosóficas. As técnicas filosóficas incluem meditação, exercícios de relaxamento, e estudo de disciplinas como ética, justiça, desportividade, respeito e auto-confiança, pois o taekwondo não é considerado meramente um esporte, e sim um estilo de vida. As técnicas individuais incluem controle da respiração (a ideia é encher os pulmões no momento de executar um golpe e esvaziá-los aos poucos durante o mesmo, chegando ao fim do golpe com os pulmões vazios), exercícios aeróbicos e anaeróbicos, e as poomsae, as formas e modelos do taekwondo - equivalentes aos kata do caratê e do judô. Cada poomsae é uma sequência pré-definida e sistemática de movimentos próprios do taekwondo, executadas com o intuito não só de treinar as maneiras corretas de se efetuar os golpes, mas também para limpar a mente do lutador e torná-lo um com sua arte marcial. Atualmente, a Kukkiwon reconhece um total de 17 poomsae, sendo que oito delas são conhecidas como taegeuk, e todo lutador de taekwondo deve conhecê-las; vale citar como curiosidade que cada uma delas está associada a um dos trigramas do i ching, e possui um tema - a Taegeuk Yi Jang, por exemplo, tem como tema um lago, representado a natureza calma e fluida do artista marcial, tendo, portanto, movimentos lentos e belos, porém poderosos. As outras nove poomsae se chamam yudanja, e são destinadas apenas aos lutadores faixa-preta, que devem saber executá-las com perfeição - aos das demais faixas, elas não são nem ensinadas. Cada yudanja também possui um tema, mas não tem um trigrama associado.

O treinamento acompanhado é conhecido como kyorugi, e pode ser de três tipos: no treinamento livre, os alunos "lutam" entre si ininterruptamente durante um determinado período de tempo, visando treinar os movimentos e golpes característicos do taekwondo em uma situação de luta. Já o treinamento com pontos é mais semelhante a uma competição esportiva, sendo interrompido e reiniciado por um mediador toda vez que um dos lutadores marca um ponto; o intuito é treinar o momento correto de aplicar cada golpe, bem como as posturas de relaxamento, defesa e ataque, que podem se confundir no treinamento livre. O terceiro é o chamado 7-3-2-1, que é uma espécie de poomsae em dupla, na qual os lutadores executam apenas movimentos pré-determinados pelo professor.

A versão esportiva do taekwondo, presente, por exemplo, nas Olimpíadas, é uma forma modificada do kyorugi, voltada ao acúmulo de pontos durante um período determinado de tempo. Para que um golpe valha pontos, ele deve ser um golpe válido conforme as regras do taekwondo, e ser executado com precisão e potência - golpes considerados "fracos" ou mal-executados não rendem pontos. Apenas chutes com o peito ou a lateral do pé - nada de pisões ou pontapés - e socos com a mão fechada são considerados golpes que pontuam, e as áreas válidas de pontuação são o tronco e a cabeça do oponente - sendo que apenas chutes podem ser desferidos contra a cabeça, nunca socos. Golpes contra os ombros, pescoço, costas e membros do oponente são proibidos. Um soco contra o tronco do oponente vale um ponto; um chute comum contra o tronco vale dois pontos; um chute giratório contra o tronco ou um chute comum contra a cabeça do oponente vale três pontos; e um chute giratório contra a cabeça do oponente vale quatro pontos.

Uma luta dura três rounds de dois minutos cada, com intervalo de um minuto entre eles. Caso a luta termine empatada, é disputado um round de um minuto conhecido como golden point, durante o qual o primeiro a pontuar vence; persistindo o empate, o vencedor é escolhido por decisão dos árbitros. É possível vencer uma luta por nocaute: caso um dos lutadores caia em decorrência de um golpe aplicado na cabeça, e demore para se levantar, o árbitro pode abrir contagem; se o árbitro chegar ao 10 sem que o lutador derrubado consiga se levantar, ou caso ele consiga, mas o árbitro avalie que ele não tem condições de continuar lutando, a luta é encerrada, e a vitória é dada automaticamente ao oponente. Caso o árbitro abra contagem para um mesmo lutador três vezes durante a mesma luta, a vitória também é automaticamente do oponente. Finalmente, se um lutador, a qualquer momento, obtiver 20 pontos a mais que o outro, será considerado automaticamente o vencedor.

Uma luta de taekwondo é oficiada por quatro árbitros, sendo um árbitro central, responsável por garantir o bom andamento da luta, e três que observam a luta sentados em posições pré-definidas ao redor da área de competição, sendo responsáveis por conferir a pontuação - cada um deles segura um aparelho no qual deve pressionar um botão ao ver que o lutador conectou um golpe, sendo a pontuação conferida se dois deles pressionarem em relação ao mesmo golpe. Desde 2015, a WTF vem experimentando, em alguns torneios, o uso de sensores eletrônicos no uniforme dos lutadores, que conferem os pontos automaticamente; apenas sensores no tronco estão sendo testados, porém, com os golpes na cabeça ainda sendo conferidos pelos árbitros.

Além de determinar o início e reinício da luta - sendo a luta interrompida cada vez que um lutador marca pontos, reiniciando com ambos no centro da área de luta - o árbitro central tem a função de marcar as penalidades (chamadas gam-jeom) sofridas por cada lutador. Cada vez que um lutador sofre um gam-jeom, o oponente recebe um ponto - um único gam-jeom, porém, não é suficiente para que um lutador seja vencedor no golden point, sendo preciso que o oponente receba dois deles. Se um mesmo lutador receber 10 gam-jeom durante uma luta, é desclassificado, sendo o oponente automaticamente declarado vencedor; uma conduta especialmente grave, como machucar o oponente deliberadamente, pode resultar em desclassificação imediata, a critério do árbitro. Exemplos de gam-jeom incluem usar um golpe inválido (que não faz parte dos golpes tradicionais do taekwondo), falta de combatividade (ficar só esperando o oponente atacar ao invés de iniciar seus próprios ataques), sair da área de luta de propósito, cair de propósito para atrasar a luta, agarrar o oponente, atingir a cabeça do oponente com um soco, bloquear um golpe do oponente com a perna ou segurar a perna do oponente para evitar um chute, falso ataque (fingir que vai chutar, por exemplo, sem concluir o chute), atingir o corpo do oponente sem ser no tronco ou na cabeça, e atacar um oponente caído. Caso um lutador se machuque durante a luta, o árbitro central pode determinar tempo para atendimento médico, que não pode ultrapassar um minuto, sendo o lutador desclassificado caso não retorne à luta ao final desse tempo.

A área de competição do taekwondo não tem um nome próprio, e chamá-la de tatami é considerado incorreto pela WTF. Pelas regras da WTF, a área de luta pode ser quadrada ou octogonal, elevada ou não. Uma área de luta quadrada tem 8 m de lado, enquanto a octogonal possui 3,3 m de lado, o que faz com que o octógono se encaixe perfeitamente dentro de um círculo de 8 m de diâmetro; em ambos os casos, a área de luta é cercada por uma área de segurança com entre 10 e 12 m de lado, sendo que as cores da área de luta e da área de segurança devem ser diferentes e contrastantes - as cores mais comuns são vermelho para a área de luta e azul para a área de segurança. Tanto a área de luta quanto a de segurança são cobertas com um piso especial macio, elástico e antiderrapante. No caso de uma área de luta elevada, esta deve ter entre 60 cm e 1 m de altura, e a área de segurança deve ser inclinada, ligando o solo à área de luta em um ângulo de 30 graus. O centro da área de luta possui dois traços de 1,5 m de comprimento cada, distantes 1 m do exato centro da área cada um, sobre os quais os lutadores devem se posicionar a cada início e reinício da luta.

O uniforme do taekwondo se chama dobok, e, em competições oficiais, deve ser branco - exceto em competições de demonstração, quando pode ter qualquer cor; tradicionalmente, professores, nessas demonstrações, usam dobok preto. O dobok consiste de uma camisa de vestir pela cabeça, com gola em V, com uma tira nas laterais que pode ser amarrada atrás das costas para deixá-la mais justa; e de uma calça com elástico na cintura e um cordão que pode ser amarrado para maior firmeza. Em competições oficiais, lutadores de taekwondo devem usar um capacete acolchoado chamado homyun; um colete especial acolchoado, preso ao corpo através de tiras amarradas nas costas, chamado hogu; e protetores acolchoados para os pés, mãos, virilhas e antebraços. O homyun e o hogu são as únicas áreas de pontuação válidas, e, em competições que usem o sistema de pontuação eletrônica, os sensores são colocados no hogu. Para melhor identificação dos lutadores, um sempre usa homyun e hogu na cor azul, enquanto o outro sempre os usa na cor vermelha.

Assim como a maioria das demais artes marciais desportivas, no taekwondo os lutadores são divididos em categorias de peso, para assegurar que todos lutem em igualdade de condições. Atualmente, a WTF possui categorias distintas para as Olimpíadas e para as demais competições, com as Olimpíadas tendo menos categorias, para que o torneio olímpico seja mais curto. No masculino, as categorias de peso são até 54 Kg, até 58 Kg, até 63 Kg, até 68 Kg, até 74 Kg, até 80 Kg, até 87 Kg e mais de 87 Kg, enquanto as categorias olímpicas são até 58 Kg, até 68 Kg, até 80 Kg e mais de 80 Kg. No feminino, as categorias de peso são até 46 Kg, até 49 Kg, até 53 Kg, até 57 Kg, até 62 Kg, até 67 Kg, até 73 Kg e mais de 73 Kg, enquanto as categorias olímpicas são até 49 Kg, até 57 Kg, até 67 Kg e mais de 67 Kg.

O taekwondo também usa um sistema de ranqueamento indicado através de faixas coloridas que os lutadores usam amarradas na cintura em todos os treinamentos e competições, inspirado no sistema criado para o judô por Jigoro Kano. Esse sistema consiste de dez níveis chamados geup, contados em ordem decrescente, seguidos de outros dez níveis chamados dan, contados em ordem crescente. Do décimo geup até o nono dan, a progressão é feita através de testes, que exigem um tempo mínimo de prática, um conhecimento mínimo das técnicas do taekwondo e uma idade mínima do lutador que deseja subir no ranking; já o décimo dan só é conferido pela Kukkiwon a lutadores que tenham comprovadamente dedicado sua vida ao aprimoramento e divulgação do taekwondo, na maioria das vezes de forma póstuma. Lutadores do décimo geup usam uma faixa branca, com as outras nove, na ordem, sendo branca com as pontas amarelas, amarela, amarela com as pontas verdes, verde, verde com as pontas azuis, azul, azul com as pontas vermelhas, vermelha e vermelha com as pontas pretas; lutadores de qualquer dan usam uma faixa preta. Segunda as regras da Kukkiwon, apenas lutadores maiores de 15 anos podem receber o primeiro dan, mas é possível um lutador mais jovem fazer o teste para primeiro dan caso cumpra os demais pré-requisitos; nesse caso, se ele passar, pertencerá a um nível intermediário chamado poom, usando uma faixa metade vermelha, metade preta, e, assim que completar 15 anos, receberá o primeiro dan e a faixa preta automaticamente.

A estreia do taekwondo nas Olimpíadas se daria em 1988, em Seul, Coreia do Sul, mas como esporte de demonstração, com oito provas masculinas e oito femininas; na edição seguinte, em 1992, em Barcelona, Espanha, ele seria incluído novamente como esporte de demonstração, e novamente com 16 provas. A estreia no programa oficial dos Jogos só ocorreria em 2000, em Sydney, Austrália, após a WTF cumprir uma série de metas estabelecidas pelo COI - dentre elas, a redução do número de provas, por isso as categorias de peso olímpicas são diferentes das dos demais campeonatos. Atualmente, o taekwondo conta, nas Olimpíadas, com oito provas, sendo quatro masculinas e quatro femininas. Assim como o judô, ele confere duas medalhas de bronze em cada prova, usando o seguinte sistema: cada um dos dois lutadores que perdeu nas oitavas de final, mas cujo oponente que o derrotou chegou às semifinais e perdeu, enfrenta um dos dois lutadores que perdeu nas quartas de final, mas cujo oponente chegou à final, em uma luta de repescagem; cada um dos vencedores dessas duas lutas de repescagem enfrenta, então, um dos perdedores das semifinais em uma luta que vale uma das medalhas de bronze.

O taekwondo também já fez parte do programa dos World Games, nas quatro primeiras edições, em 1981, 1985, 1989 e 1993. A própria ideia de se criar os World Games partiu de um presidente da WTF, então nada mais natural que ele fosse um dos primeiros esportes a se beneficiar da decisão do COI de incluir nas Olimpíadas esportes que se mostrem populares e rentáveis nos World Games. De fato, enquanto fez parte dos World Games, o taekwondo foi um dos esportes mais procurados pelo público, mesmo com um domínio absoluto da Coreia do Sul, que ganhou quase todas as medalhas de ouro em disputa nessas quatro edições.

Depois das Olimpíadas, o torneio de maior importância do taekwondo é o Campeonato Mundial, disputado a cada dois anos desde 1973, contando com oito provas masculinas e oito femininas; cada uma dessas provas também confere duas medalhas de bronze, mas essas são dadas aos perdedores das semifinais, sem necessidade de repescagem ou de disputa do bronze. Desde 2013, a WTF também organiza anualmente o Grand Prix de Taekwondo, competição que conta com quatro etapas disputadas ao longo do ano em quatro sedes diferentes, que valem pontos que são somados para se determinar o campeão de cada prova ao final da última etapa.

Outro torneio de relevância organizado pela WTF é a Copa do Mundo de Taekwondo por Equipes, disputada no masculino e no feminino em 2006, 2009, 2010 e então anualmente desde 2012, e por equipes mistas anualmente desde 2016. Cada equipe é formada por seis lutadores, cujo peso somado, no masculino, deve ser menor que 442 Kg, e, no feminino, que 376 Kg. Em cada embate, somente cinco lutadores de cada equipe vão se enfrentar, em cinco lutas diferentes, mas com o total de pontos dessas lutas sendo somado - ou seja, se a primeira luta terminou 7 a 5, a segunda luta já começa com esse placar - sendo vencedora do embate a equipe que tiver somado mais pontos ao final da quinta luta. Como os placares são somados, as quatro primeiras lutas podem terminar empatadas, mas a quinta possui um "golden point infinito", que só termina quando alguém pontua ou recebe dois gam-jeom. Desnecessário dizer, no torneio de equipes mistas, homens só podem enfrentar homens e mulheres só podem enfrentar mulheres; por essa razão, cada equipe costuma ter três homens e três mulheres.

Desde 2006, a WTF também organiza o Campeonato Mundial de Poomsae, e, graças a ele, competições de poomsae são cada vez mais frequentes em torneios nacionais e internacionais - a própria WTF, aliás, planeja aumentar ainda mais sua popularidade organizando, a partir de 2017, o Mundial de Taekwondo de Praia, que terá poomsae realizados ao ar livre em uma arena montada na areia. Uma competição de poomsae ocorre em uma área quadrada de no mínimo 10 e no máximo 12 m de lado, e é julgada por um painel de sete juízes, cujas notas são somadas para se determinar a nota final de cada competidor. Não há categorias de peso, com atletas de diferentes pesos competindo juntos, e não são usados equipamentos de proteção, apenas o dobok.

As competições de poomsae se dividem em Poomsae Reconhecido e Poomsae Estilo Livre. As de Poomsae Reconhecido, por sua vez, se dividem em individual masculino, individual feminino, equipes masculinas, equipes femininas e duplas mistas (cada equipe sendo composta por três lutadores). Cada uma dessas cinco provas também se subdivide, de acordo com a idade dos lutadores: para as provas individuais, as categorias de idade são de 12 a 14 anos, de 15 a 17 anos, de 18 a 30 anos, de 31 a 40 anos, de 41 a 50 anos, de 51 a 60 anos, de 61 a 65 anos, e 66 anos ou mais; para as equipes e duplas, são de 12 a 14 anos, de 15 a 17 anos, de 18 a 30 anos, e 31 anos ou mais. Em outras palavras, uma competição de Poomsae Reconhecido pode ter até 28 provas diferentes.

Em uma competição de Poomsae Reconhecido, cada competidor deve realizar um poomsae compulsório e um poomsae de sua escolha, sendo que a lista dos compulsórios e a lista dos à escolha depende da categoria de idade. A apresentação é feita sem música, e cada poomsae deve ser apresentado no mínimo em 30 e no máximo em 90 segundos, com um intervalo de no mínimo 30 e no máximo 60 segundos entre o primeiro e o segundo poomsae da apresentação. Cada competição costuma ter mais de uma fase, e cada competidor deverá apresentar dois poomsae diferentes por fase, sem poder repetir nenhum. Atualmente, o Mundial de Poomsae é disputado em um sistema de mata-mata (os competidores são pareados dois a dois, com o vencedor de cada par avançando e o perdedor sendo eliminado), mas a WTF também permite o sistema de round robin (os competidores se dividem em grupos, com os melhores de cada grupo avançando a uma fase eliminatória, na qual é usado o sistema de mata-mata) e o de grupos eliminatórios (todos os competidores começam em um único grupo, com a metade sendo eliminada e a outra metade avançando para mais um grupo, até que só restem dois competidores, que farão a final).

No Poomsae Reconhecido, cada juiz dá uma nota de 0 a 10, com a precisão valendo 4 pontos e a apresentação valendo os outros 6. Na precisão, são julgadas a forma como o competidor realizou os movimentos e o equilíbrio que ele manteve ao mudar de um movimento para o outro; já na apresentação são avaliados três critérios, que valem dois pontos cada: velocidade e força dos movimentos, ritmo dos movimentos e expressão de energia do competidor.

Já em uma competição de Poomsae Estilo Livre, é o próprio competidor que cria seu poomsae, podendo usar qualquer elemento válido do taekwondo. A apresentação deve durar entre 60 e 70 segundos, e é feita acompanhada por música, escolhida pelo competidor. Mais uma vez, não é permitido repetir em uma fase seguinte um poomsae usado em uma fase anterior, e o Mundial é disputado em mata-mata, também sendo permitidos pela WTF o round robin e os grupos eliminatórios. Competições de Poomsae Estilo Livre se dividem em individual masculino júnior (entre 14 e 17 anos), individual masculino (18 anos ou mais), individual feminino júnior, individual feminino, duplas mistas e equipes mistas (com as equipes sendo compostas por cinco integrantes cada, sendo sempre três homens e duas mulheres ou três mulheres e dois homens).

No Poomsae Estilo Livre cada juiz também dá uma nota de 0 a 10, mas o julgamento é bem mais complexo, com a habilidade técnica valendo 6 pontos e a apresentação valendo 4 pontos. Na habilidade técnica são avaliados o nível de dificuldade das técnicas (que inclui a altura dos pulos, o número de chutes por pulo, o gradiente do giro em um chute giratório, o nível de execução de chutes consecutivos e as ações acrobáticas), a precisão dos movimentos e a aplicação prática do poomsae dentro da teoria do taekwondo; já na apresentação são avaliadas a criatividade na escolha dos movimentos, a harmonia dentre os movimentos, a escolha da música e da coreografia e a expressão de energia do competidor.

Finalmente, desde 2005 a WTF reconhece a versão paralímpica do taekwondo, chamada de para-taekwondo. Assim como em outros esportes paralímpicos, no para-taekwondo os atletas são classificados de acordo com o grau de sua deficiência, para que todos possam competir em igualdade de condições: a classe P10 é destinada aos deficientes visuais; a P20 aos deficientes intelectuais; a P30 aos que têm dificuldades motoras causadas por condições como paralisia cerebral e esclerose múltipla; a K40 aos que têm dificuldades motoras causadas por amputações ou atrofia muscular; a P50 aos cadeirantes; e a P70 aos portadores de nanismo. Dentro de cada classe, quanto mais alto o número, mais grave a deficiência - na P11, por exemplo, competem os deficientes visuais capazes de distinguir vultos, enquanto na P13 competem os deficientes visuais totais. Dependendo do número de competidores, é possível que mais de uma classe venham a competir juntas - como em uma competição de P51-53, na qual competem juntos atletas das classes P51, P52 e P53. As regras do para-taekwondo são as mesmas do taekwondo, mas com as adaptações necessárias - poomsae para cadeirantes não exigem o uso das pernas, por exemplo.

Quem prestou atenção provavelmente achou que eu cometi um erro de digitação na classe K40. Na verdade, a letra antes do número diz se o atleta está apto para competir no kyorugi (K) ou apenas no poomsae (P). Atualmente, apenas atletas da classe K40 podem competir no kyorugi, estando subdividos em quatro subclasses: a K41 é destinada aos biamputados dos braços na altura dos ombros e aos que têm dificuldades motoras em ambos os braços; a K42 aos biamputados dos braços na altura dos cotovelos, amputados de um dos braços na altura do ombro e aos que têm dificuldades motoras em um dos braços; a K43 aos biamputados das mãos; e a K44 aos amputados de uma das mãos, de um dos pés, aos que tenham dificuldades nos movimentos dos ombros e aos hemiplégicos. As categorias de peso para o kyorugi do para-taekwondo são, no masculino, até 61 Kg, até 75 Kg e acima de 75 Kg, e, no feminino, até 49 Kg, até 58 Kg e acima de 58 Kg.

A principal competição do para-taekwondo é o Campeonato Mundial, disputado em 2009, 2010, 2012, 2013, 2014 e 2015, com uma nova edição prevista para 2017, e que conta com provas de todas as classes. O para-taekwondo fará sua estreia nas Paralimpíadas na próxima edição, em 2020, em Tóquio, Japão, mas apenas com as provas de kyorugi. A quantidade de provas ainda está sendo discutida, mas, devido à baixa quantidade de praticantes, provavelmente não teremos o máximo de 24 provas - no último mundial, por exemplo, foram realizadas apenas 15 provas, e, em cinco delas, havia apenas dois lutadores inscritos em cada.

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