Evidentemente, o sistema métrico não existe desde sempre. Até porque, lá na pré-história, o homem não teria muitos usos para ele - a ele não interessava quanto pesava um mamute, ou a quantos quilômetros o lago ficava de sua caverna. Um dia, porém, o homem passou a se agrupar em cidades, criar civilizações, e estas questões até então abstratas passaram a ter um significado prático em sua vida, principalmente as distâncias que se precisaria cobrir ao se viajar de um povoado para o outro. Ainda assim, a maior parte das medições dessas distâncias era feita simplesmente pelo tempo, pois esse era o método mais prático - tanto que até hoje temos a mania de dizer que tal lugar fica há tantos minutos de distância de onde estamos.
Quanto mais as pessoas se relacionavam, porém, mais necessidade sentiam de um sistema que as dissesse o quanto as coisas mediam ou pesavam. Os povos da antiguidade, como os egípcios e babilônios, usavam modelos com os quais comparavam os objetos que queriam medir, e obtinham um valor aproximado, muito semelhante ao que fazemos com as réguas e balanças de hoje em dia - nas feiras livres, por exemplo, ainda é comum ver balanças de antigamente, nas quais o objeto a ser pesado é colocado em um dos pratos e pequenos cilindros são colocados no outro até que ambos os pratos fiquem equilibrados, bastando somar o peso total dos cilindros para se obter o peso aproximado do objeto.
Esse sistema funcionou aparentemente muito bem até a Idade Média; isso porque o Egito ou Roma, por exemplo, tinham um governo central, capaz de dizer a todo o Império qual era seu modelo de medidas, mas as cidades da Idade Média, por outro lado, eram praticamente independentes umas das outras - e, sem ninguém para unificar o sistema, cada uma desenvolveu o seu próprio. Com o surgimento do comércio, provavelmente onde as medições eram mais importantes, as guildas de comerciantes tomaram para si a responsabilidade de instituir os modelos, mas, como cada cidade tinha sua própria guilda, cada uma delas acabou ficando com um modelo diferente. Isso, evidentemente, trazia entraves ao comércio, já que, ao chegar em uma nova cidade, o comerciante descobria que ninguém lá conhecia as unidades de medidas que ele estava acostumado a usar, sendo necessário pagar um "conversor", uma pessoa habituada a lidar com as diferentes unidades existentes e converter as medidas de uma para a outra.
Para vocês terem uma ideia do tamanho da encrenca, existia uma medida de comprimento chamada ell, plural elle. Na Germânia, um ell correspondia ao que hoje seriam 40,2 cm; na Holanda, o mesmo ell correspondia a 70 cm; e, em Edimburgo, o mesmíssimo ell tinha 94,5 cm. Ou seja, se existissem redes sociais na época, e um edimburguês escrevesse em seu perfil que tinha 2 elle de altura, os germânicos achariam que se trata de um anão. E a bagunça não ocorria só de um país para o outro: uma pesquisa feita em 1838 na Suíça descobriu que existiam 68 variações do ell ainda em uso somente dentro das fronteiras daquele país - e isso porque a Idade Média já havia acabado há um bom tempo, e a Suíça é um dos menores países da Europa. Como nem sempre um conversor da medida que você usava para a que você precisava estava disponível, era opinião geral de quem lidava com o assunto que, em pouco tempo, o comércio ficaria impraticável. Vários governos, então, começariam a realizar estudos visando unificar os pesos e medidas de toda a Europa.
A primeira tentativa de um governo em fazer todo o seu povo adotar o mesmo sistema de medidas foi feita pela Escócia, que, em 1641, publicou uma lei obrigando todo o país a seguir o sistema de Edimburgo (aquele no qual um ell valia 94,5 cm). Essa tentativa acabou não dando muito certo, primeiro porque apenas os escoceses eram teoricamente obrigados a usar o sistema de Edimburgo, com os estrangeiros continuando a usar seus próprios quando comercializavam com eles; segundo porque, na prática, cada cidade continuou usando seus próprios sistemas, sendo a fiscalização difícil e a punição mais ainda. Em menos de cinco anos, a lei caiu e tudo continuou como antes.
O primeiro a propor um sistema de pesos e medidas semelhante ao sistema métrico existente hoje seria o inglês John Wilkins, primeiro-secretário da Real Sociedade de Londres, que, em 1668, publicaria An Essay towards a Real Character and a Philosophical Language (algo como "ensaio sobre o caráter real e a linguagem filosófica"), documento no qual defendia o uso de um sistema no qual as unidades usadas para medir comprimento, área, volume e massa fossem relacionadas entre si e baseadas em princípios naturais capazes de serem reproduzidos por qualquer pessoa, e não em modelos determinados pelo governo. Wilkins, inclusive, proporia, nesse ensaio, o tamanho de um pêndulo com frequência de um segundo como medida oficial de comprimento - ao contrário do tamanho do pé do Rei, como era na época em sua Inglaterra natal.
Dois anos depois, em 1670, o padre e cientista francês Gabriel Mouton publicaria um trabalho semelhante, no qual proporia a adoção de um sistema decimal de medidas de comprimento que teria por base a circunferência da Terra - sendo a unidade básica desse sistema, chamada millare, equivalente a um minuto de um arco de um meridiano do planeta. Mouton usaria como base de seu trabalho um estudo publicado em 1585 pelo matemático holandês Simon Stevin, sobre a importância dos sistemas decimais, que terminava com a "profecia" de que, em breve, seriam introduzidos sistemas monetários e de pesos e medidas com base decimal, por serem mais instintivos e mais fáceis de utilizar que os existentes na época - Mouton, de fato, propunha que o millare tivesse unidades múltiplas e submúltiplas sempre em fatores de dez, para facilitar medições de coisas muito pequenas ou muito grandes.
O trabalho de Mouton faria sucesso dentre os acadêmicos, e a adoção de seu sistema seria defendida pelos astrônomos Jean Picard e Christiaan Huygens, além de ser debatida na Real Sociedade de Londres em 1673, mesmo ano no qual o filósofo alemão Gottfried Leibniz publicaria um trabalho propondo um sistema semelhante ao de Mouton. A ideia de um sistema de medidas decimal e unificado começava a ganhar força, e os governos da Espanha e da Rússia chegaram a entrar em contato com a Real Sociedade se dizendo interessados em adotar um desse tipo para unificar os muitos sistemas existentes em cada um desses países. Mas ainda demoraria mais de um século para que um sistema de medidas decimal unificado fosse efetivamente adotado por algum país - ninguém sabe ao certo o motivo, mas as duas teorias mais aceitas são as de que um sistema desse tipo seria "científico demais", o que levaria os governos a achar que seus povos não se interessariam em adotá-lo; ou que interesses velados por parte de grandes comerciantes, que desejavam manter os sistemas que já usavam, teriam sabotado sua adoção.
O primeiro país a adotar um sistema de medidas decimal unificado para todo seu território, abolindo os demais lá existentes até então, seria o da França, dois anos após a Revolução Francesa, em 1791. Durante a Revolução, um grupo de pensadores liderados pelo Marquês de Condorcet, e que incluía Antoine Lavoisier, Pierre-Simon Laplace, Adrien-Marie Legendre e Jean-Charles de Borda, estabeleceu um Comitê de Pesos e Medidas, que, logo após a proclamação da República, apresentou ao chefe do governo de então, a Assembleia Nacional Constituinte, um projeto para a unificação do sistema de pesos e medidas da França, baseado nos princípios da lógica e da observação dos fenômenos naturais. Curiosamente, Laplace sugeriu que esse sistema fosse duodecimal, ou seja, que as unidades múltiplas e submúltiplas usassem fatores de 12 ao invés de 10, mas a própria Assembleia Constituinte achou que um sistema decimal serial mais intuitivo.
A lei que instituiria o novo sistema de medidas da França seria publicada em 1795, e traria um total de cinco unidades oficiais: o metro, usado para medir comprimento; o grama, usado para medir massa; o are, usado para medir área; o estere, usado para medir o volume de objetos sólidos empilhados; e o litro, usado para medir o volume de líquidos. O nome "metro" seria sugerido por Auguste-Savinien Leblond, que o criaria a partir da palavra grega métron, que significa "medir"; ele logo se tornaria o nome mais popular dentre todas as unidades, tanto que acabaria dando nome ao próprio sistema, até hoje conhecido como sistema métrico.
Originalmente, um metro era a distância da linha do Equador até o Polo Norte dividida por dez milhões; como isso não era lá muito fácil de ser medido na prática, foi produzida uma barra composta de uma liga de platina e irídio, que, a zero graus Celsius, possui exatamente um metro de comprimento. Essa barra existe até hoje, está guardada no Arquivo Nacional da França, e é conhecida como mètre des Archives; ela não é mais, entretanto, a "medida oficial" de um metro, já que, em 1983, quando ficou comprovado que a velocidade da luz no vácuo é constante, decidiu-se determinar que um metro é equivalente à distância percorrida pela luz no vácuo em 1/299.792.458 segundos - uma experiência que pode ser reproduzida em qualquer laboratório equipado para tanto, e que liga a unidade de medida a um fenômeno natural, não a um modelo, o que era um dos propósitos originais dos que queriam criar um sistema unificado.
Da mesma forma que existe um mètre des Archives, existe um kilogramme des Archives (cujo apelido carinhoso é le grand kilo), um cilindro também feito de uma liga de platina e irídio, que pesa exatamente um quilograma. O grama ("a grama" é uma planta, o nome da unidade de medida é masculino) era a única unidade do sistema métrico que era definido através de uma de suas unidades múltiplas, sendo um quilograma o peso de um litro de água à temperatura de zero graus Celsius e um grama equivalente a um milésimo disso, por isso o modelo dos Arquivos é de um quilograma, e não de um grama. Atualmente, um grama é o peso de um centímetro cúbico de água à temperatura de quatro graus Celsius positivos - a temperatura na qual a água alcança sua maior densidade, e, portanto, seu maior peso, conforme descoberto pelo químico francês Louis Lefèvre-Gineau e pelo naturalista italiano Giovanni Fabbroni em 1799. Caso alguém esteja curioso, um litro era igual à quantidade de água à temperatura ambiente que coubesse em um reservatório de 10 cm de altura, 10 cm de largura e 10 cm de comprimento - ou seja, um litro é igual a um decímetro cúbico. Já um estere era a quantidade de lenha que podia ser empilhada em um reservatório de um metro de altura por um metro de largura por um metro de comprimento (sendo igual a um metro cúbico), e um are era equivalente a cem metros quadrados, ou seja, um terreno quadrado de 10 metros de lado.
Conforme já foi dito, cada unidade básica do sistema métrico possuía várias unidades múltiplas e submúltiplas, sempre obtidas em fatores de dez - se você quisesse aumentar, multiplicava a unidade por 10, depois por 100, depois por 1000; para diminuir, dividia por 10, então por 100, então por 1000. Originalmente, foi determinado que os multiplicadores positivos (usados para aumentar) receberiam prefixos gregos, enquanto os negativos (usados para diminuir) receberiam prefixos latinos; assim, dez metros são chamados de um decâmetro, cem metros são um hectômetro, e mil metros são um quilômetro (sendo deca a palavra grega para "dez", hecto para "cem", e kilo para "mil"), enquanto um décimo de um metro é um decímetro, um centésimo é um centímetro, e um milésimo é um milímetro (pois deci, centi e mili são prefixos latinos para dez, cem e mil, respectivamente). A lista original das unidades múltiplas e submúltiplas começava no mili e terminava no miria, que era o equivalente a dez mil, hoje não mais usado - um miriâmetro era equivalente, portanto, a dez mil metros, ou dez quilômetros.
Com o passar do tempo e a internacionalização do sistema métrico, novas unidades seriam adicionadas e outras seriam abandonadas - ninguém mais usa o estere, por exemplo. Em 20 de maio de 1875 seria assinado, por 17 países, a Convenção do Metro, que criaria três órgãos responsáveis por regular o sistema métrico internacionalmente, tirando essa atribuição do governo francês: a Conferência Geral de Pesos e Medidas (CGPM), que conta com delegados de todos os países-membros, e é a autoridade final em todos os assuntos envolvendo o sistema métrico; o Comitê Internacional de Pesos e Medidas (CIPM), que conta com cientistas responsáveis por preparar e executar as instruções do CGPM; e o Escritório Internacional de Pesos e Medidas (BIPM, todas as três siglas são dos nomes dos órgãos em francês), um laboratório permanente supervisionado pelo CIPM, responsável pela parte científica do sistema métrico - como garantir a maior precisão possível das unidades de medidas; foi o BIPM, por exemplo, que relacionou o comprimento oficial do metro à velocidade da luz.
Em 1948, durante um de seus congressos, o CGPM propôs uma extensiva revisão e simplificação da definição de todas as suas unidades, símbolos e terminologias, que começou efetivamente em 1954. Ao final desse processo, em 1960, o CGPM decidiria adotar, para seu sistema, o nome oficial de Sistema Internacional de Unidades, com a sigla SI - usada em todos os idiomas do mundo, não importa como se traduza "Sistema Internacional" para eles. O nome "sistema métrico" não é incorreto (e eu vou continuar usando nesse post), mas já não é mais aceito em trabalhos acadêmicos ou, por exemplo, livros escolares, devendo ser usado Sistema Internacional de Unidades, Sistema Internacional ou SI.
Atualmente, o SI conta com 29 unidades, sendo sete consideradas as unidades base, e as outras 22 sendo as unidades derivadas - pois podem ser obtidas através de fórmulas que envolvem as unidades básicas. As unidades básicas são o metro (m), usado para medir comprimento; o quilograma (kg), usado para medir massa; o segundo (s), usado para medir tempo; o ampere (A), usado para medir corrente elétrica; o kelvin (K), usado para medir temperatura termodinâmica; o mol (mol), usado para medir substância; e o candela (cd), usado para medir luminosidade. É interessante registrar que a unidade base do SI para medição de massa é o quilograma, e não o grama, embora os múltiplos e submúltiplos ainda sejam em relação ao grama; e que o termo correto para a medição é massa, e não peso, sendo o peso obtido através da força da gravidade agindo sobre a massa; um corpo tem a mesma massa na Terra e na Lua, mas pesos diferentes, pois a gravidade da Lua é menor.
As unidades derivadas são o radiano (rad), para a medição de ângulos; o esferorradiano (sr), para medição de ângulos sólidos; o hertz (Hz), para frequência; o newton (N), para força; o pascal (Pa), para pressão; o joule (J), para energia; o watt (W), para potência; o coulomb (C), para carga elétrica; o volt (V), para voltagem; o farad (F), para capacitância; o ohm (Ω) para resistência elétrica; o siemens (S), para condução elétrica; o weber (Wb), para fluxo magnético; o tesla (T), para densidade de fluxo magnético; o henry (H), para indutância; o lumen (lm), para fluxo luminoso; os graus Celsius (°C) para temperatura relativa; o lux (lx), para iluminação; o becquerel (Bq), para radioatividade; o gray (Gy), para dose absorvida de radiação ionizante; o sievert (Sv), para dose relativa de radiação ionizante; e o katal (kat), para atividade catalítica. É importante registrar que o SI não possui unidades para medição de área (devendo ser usados os metros ao quadrado, ou m², seus múltiplos e submúltiplos), volume (devendo ser usados os metros ao cubo, ou m³, seus múltiplos e submúltiplos) ou velocidade (devendo ser usados os metros por segundo, ou m/s, seus múltiplos e submúltiplos).
Atualmente, o SI reconhece dez múltiplos e dez submúltiplos, que podem ser aplicados a qualquer uma de suas unidades base ou derivadas, cada um com um prefixo próprio, que deve ser adicionado logo antes do nome da unidade, e uma "abreviação de prefixo" própria, que deve ser adicionada antes da abreviação da unidade - criando siglas como kV, MHz, mA ou μΩ. Os múltiplos são deca (da), para x10; hecta (h), para x100; quilo (k), para x1.000; mega (M), para x1.000.000; giga (G), para x1.000.000.000; tera (T), para x1.000.000.000.000; peta (P), para x1.000.000.000.000.000; exa (E), para x1.000.000.000.000.000.000; zeta (Z), para x1.000.000.000.000.000.000.000; e iota (Y), para x1.000.000.000.000.000.000.000.000. Os submúltiplos são deci (d), para x0,1; centi (c), para x0,01; mili (m), para x0,001; micro (μ), para x0,000001; nano (n), para x0,000000001; pico (p), para x0,000000000001; fento (f), para x0,000000000000001; ato (a), para x0,000000000000000001; zepto (z), para x0,000000000000000000001; e iocto (y), para x0,000000000000000000000001. É interessante registrar que os submúltiplos mais recentes não seguem a regra de nomes gregos para múltiplos e latinos para submúltiplos, sendo mikro, nano e yokto palavras gregas, pico uma palavra espanhola, e femto e atto palavras dinamarquesas.
O SI também permite o uso de algumas unidades que não pertencem ao SI; por exemplo, como eu já disse, o SI não possui uma unidade própria para medição de volume, devendo ser usados os metros cúbicos, mas ele permite que seja usada uma unidade que não é do SI, o litro, como se ela fosse do SI. Estas unidades se dividem em quatro grupos: as unidades reconhecidas pelo SI, as unidades aceitas pelo SI, as unidades experimentais, e as unidades associadas ao sistema CGS - que foi um sistema de pesos e medidas baseado no centímetro, no grama e no segundo (daí o nome CGS), criado em 1860 e que chegou a ter alguma popularidade no Reino Unido no final do século XIX. Cada um desses grupos possui "regras" próprias para que suas unidades sejam usadas em documentos e em trabalhos acadêmicos em países que adotam o SI como sistema oficial.
No primeiro grupo, o das unidades reconhecidas pelo SI, estão unidades cujo uso é consistente ao longo da história. Estas unidades tiveram sua importância científica reconhecida pelo CGPM em 1879, e podem ser usadas normalmente, como se fossem unidades do SI, inclusive aplicando-se a elas os múltiplos e submúltiplos do SI. Neste grupo estão o litro (l), usado para medir volume; o are (a), usado para medir área (embora não seja tão popular quanto seu múltiplo hectare, ou ha, que equivale a 100 ares, ou 10.000 m²); o bel (B), usado para medir diferença de nível (sendo seu submúltiplo decibel, ou dB, muito usado para medir a altura do volume de um som, ou seja, a diferença de nível entre aquele som e os demais); a tonelada (t), usada para medir massa, e que equivale a 1.000 kg; o curie (Ci), usado para medir radioatividade; a unidade astronômica (au), usada para medir distâncias no espaço, e que equivale à distância entre a Terra e o Sol (149.597.870.700 m); o ano-luz (ly), que, apesar do nome, é uma medida não de tempo, mas de comprimento, que equivale à distância que a luz percorre no vácuo em um ano (cerca de 9.000.000.000.000.000 m); os graus (°), minutos (') e segundos ('') usados para medir ângulos; e as medidas de tempo minuto (min), hora (h), dia (dd), semana (ss), mês (mm), ano (yy), década (dec.), século (sec.) e milênio (mil.). Pois é, de acordo com o SI, o certo seria medir o tempo em quilossegundos, megassegundos etc. - ainda bem que eles permitem o uso desses mais normais.
No segundo grupo, o das unidades aceitas pelo SI, estão unidades que são de uso geral, mas que o CGPM planeja extinguir. O uso dessas unidades é permitido, porém desencorajado; elas não podem ser usadas em documentos oficiais, e, toda vez que são citadas em trabalhos acadêmicos, devem ser seguidas, entre parênteses, de uma explicação sobre como elas seriam expressas em unidades do SI. Também não é permitido o uso de múltiplos e submúltiplos do SI aplicados a elas. Essas unidades incluem a milha náutica (nmi), que mede distâncias no mar e é equivalente a 1.852 m; o nó (kn), que mede velocidade e equivale a uma milha náutica por hora; o bar (bar), que mede pressão atmosférica e equivale a 100.000 Pa; o milímetro de mercúrio (mmHg), que mede pressão, e equivale a 133,322387415 Pa; o barn (b), usado na física nuclear para medir seções de átomos, e que equivale a 100 fm²; o neper (Np), usado para medir ganho e perda de sinais eletrônicos, e equivale a 8,685889638 dB; e o angstrom (Å), usado para medir distâncias microscópicas, e que equivale a 1 nm.
No terceiro grupo, das unidades experimentais, temos unidades que podem ser usadas normalmente como se fossem do SI (assim como as do primeiro grupo), mas que ainda não possuem comprovação, ou seja, são puramente teóricas, e, por causa disso, seu uso é permitido apenas em situações específicas. Apenas duas unidades fazem parte atualmente desse grupo: o elétron-volt (eV), que seria a quantidade de energia adquirida por um elétron ao passar através de um campo de 1 V, usado na física para medir energia; e o dalton (Da), que mede a massa de um átomo, e seria equivalente a 1/12 da massa de um átomo neutro de carbono-12 em repouso.
Finalmente, temos o grupo das unidades associadas ao sistema CGS. O CGPM reconhece que, em certas situações, não é possível usar uma unidade do SI para medir algo que uma unidade CGS mede, mas, mesmo assim, desencoraja seu uso, exceto em campos específicos como a geofísica. Essas unidades são o erg (erg), que mede energia; o dina (dyn), que mede força; o poise (P), que mede viscosidade; o stokes (St), que mede viscosidade cinética; o stilb (sb), que mede luminância; o phot (ph), que mede fluxo luminoso; o gal (Gal), que mede aceleração gravimétrica; o maxwell (Mx), que mede fluxo eletromagnético; o gauss (Gs), que mede fluxo de densidade magnética; e o oersted (Oe), que mede a força de um campo magnético.
Unidades que não pertençam a nenhum dos quatro grupos têm seu uso proibido pelo CGPM, e países que ainda as usam são considerados de metrificação incompleta. Em alguns casos, porém, o CGPM faz vista grossa - normalmente quando a unidade é usada apenas para algo muito específico, e nunca em documentos oficiais. No Brasil, por exemplo, pelo menos três unidades que não fazem parte do SI ainda são usadas no dia a dia, e, mesmo assim, o país é considerado de metrificação completa. A primeira delas é a polegada, equivalente a 2,54 cm, e que ainda é usada aqui na indústria e no comércio para estipular a medida de telas de aparelhos de televisão (no caso, a medida é a da diagonal da tela) e o diâmetro de canos e tubos usados na construção civil.
Outro exemplo é o quilate (K), que mede a pureza do ouro, usando uma escala de 24 partes, na qual o número de quilates é o número de partes de ouro em uma determinada liga. Uma peça em ouro 18K, portanto, tem 18 partes de ouro e 6 partes de outros metais (normalmente 3 partes de prata e 3 de cobre), para um total de 24 partes - o que significa que uma peça em ouro 18K é composta 75% de ouro. Uma peça em ouro 24K, em teoria, seria 100% ouro, mas, como pureza total é impossível, é aceito que peças com no mínimo 99,95% de ouro sejam consideradas 24K. O mínimo para que uma peça seja considerada "de ouro" é 8K, o que equivale a 33,33% (ou seja, um terço) de ouro. Desde a década de 1950, o quilate vem sendo gradativamente substituído no mundo inteiro por uma escala decimal de pureza, que vai de 333 (o equivalente a 8K) até 999 (o equivalente a 24K), ou até um pouco mais: a liga de ouro de maior pureza já obtida foi confeccionada pela Casa da Moeda da Austrália em 1957, e considerada de pureza 999,999; atualmente, a liga de maior pureza confeccionada é de 999,99, pela Casa da Moeda do Canadá; e barras de ouro nos Estados Unidos são consideradas de pureza 999,9. A pureza mínima para que uma barra de ouro possa ser negociada no mercado internacional é de 995 - o que equivaleria aos 99,95% mínimos para uma peça ser considerada de 24K. A escala decimal de pureza não possui uma unidade (uma peça de ouro 18K, por exemplo, na escala decimal de pureza tem simplesmente "pureza 750"), e, além de para ouro, também é usada para medir a pureza da prata e da platina.
Finalmente, temos a arroba, cujo nome só é de conhecimento de grande parte da população brasileira porque seu símbolo é o @, onipresente em emails e em algumas redes sociais - porque, em inglês, esse símbolo se chama at, que significa "em", "no" ou "na", então fulano@site.com é o endereço do fulano no site.com. A arroba era uma unidade de medição de massa largamente usada em Portugal e na Espanha antes da metrificação; em Portugal (e em suas colônias), ela equivalia a 32 libras portuguesas, ou 14,7 kg, enquanto na Espanha (e em suas colônias), ela equivalia a 25 libras espanholas, ou 11,5 kg. O nome arroba vem do árabe ar-rub, e sua medida original era a quantidade de peso que uma mula aguentava carregar. Atualmente, tanto em Portugal quanto no Brasil, uma arroba equivale a 15 kg, e, em cada um desses dois países, ela só é usada para medir uma única coisa: em Portugal, cortiça, no Brasil, cabeças de gado.
Conforme determinado pela lei de 1795, o sistema métrico passaria a ser o único oficial em toda a França em 10 de dezembro de 1799, se tornando obrigatório em 4 de novembro de 1800; na prática, porém, alguns sistemas regionais resistiram, e a França só se tornou totalmente metrificada (o nome que se dá quando um país usa majoritariamente o sistema métrico) no século XX - e, assim, mesmo, ainda hoje se podem encontrar medições em unidades tradicionais em algumas regiões do país. Mas o que importava, nesse caso, era que, diferentemente de outras tentativas do passado, o sistema métrico estava dando certo, com cada vez mais pessoas passando a utilizá-lo após sua criação. Isso levaria o governo da França a conversar com vários de seus aliados, para tentar convencê-los a também adotá-lo, o que facilitaria o comércio internacional.
Curiosamente, um dos maiores entusiastas do sistema métrico era Thomas Jefferson, o terceiro Presidente dos Estados Unidos, que aprenderia sobre o sistema de medidas decimal quando morou na França, entre 1784 e 1789, para negociar tratados entre os Estados Unidos e aquele país. Em 1790, quando era Secretário de Estado de George Washington, ele apresentaria ao Congresso uma proposta para que um sistema decimal fosse adotado também pelos Estados Unidos, mas mantendo os nomes das unidades tradicionais de lá (um pé, por exemplo, passaria a ser equivalente a 10 polegadas, e uma milha a 10.000 pés, enquanto hoje um pé equivale a 12 polegadas, e uma milha a 5.280 pés), que seria votada pelo Congresso, mas não seria aprovada. Ao assumir a presidência, ele apresentaria uma nova proposta, para que os Estados Unidos passassem a usar o sistema métrico, mais uma vez rejeitada pelo Congresso.
O primeiro país a adotar o sistema métrico como oficial (depois da França, evidentemente) foi Portugal, em 1814; todas as colônias portuguesas, incluindo o Brasil (que só se tornaria independente em 1822) também passariam, por tabela, a usar o mesmo sistema, embora, no Brasil, o sistema métrico só fosse se tornar oficial após a publicação de uma lei em 1862. Em 1817, o Reino da Holanda passaria a usar um sistema adaptado, usando os nomes das unidades tradicionais holandesas para as unidades do sistema métrico - 1 cm, por exemplo, era 1 duim, e 100 g eram 1 ons - o que também foi feito pela Bélgica no ano seguinte, e pela Alemanha - onde 500 g eram um zollpfund - em 1852; Holanda e Bélgica chegariam à conclusão de que o sistema métrico seria bem aceito pela população e passariam a adotá-lo oficialmente em 1820, enquanto a Alemanha só o adotaria oficialmente em 1872. A Espanha passaria a adotá-lo em 1852, com a recomendação de que suas colônias também o usassem; até hoje, entretanto, Bolívia, Chile, Peru e Filipinas ainda usam no dia a dia algumas de suas medidas tradicionais, sendo considerados países de metrificação incompleta.
A Itália adotaria o sistema métrico em 1861, o Império Austro-Húngaro em 1871, e o Império Otomano em 1875. A Grécia seguiria usando suas unidades tradicionais até 1959, e a Rússia começaria seu processo de metrificação em 1918, mas o sistema métrico só se tornaria obrigatório na época da União Soviética, em 1924. A primeira ex-colônia britânica a aderir ao sistema métrico seria a Índia, em 1954, seguida da Nova Zelândia em 1969, da Austrália em 1970 e da África do Sul em 1971. O Japão começaria sua metrificação em 1885, mas até hoje é considerado um país de metrificação incompleta - até 1969, apenas 20% da população usava o sistema métrico, com o restante usando unidades tradicionais ou as dos Estados Unidos, que tinham muita influência por lá no final do século XIX e início do XX. Outros países considerados de metrificação incompleta são Tailândia (que começou o processo em 1923), China (1925), Indonésia (1946), Malásia (1972), Canadá (1973), Sri Lanka (1976) e Jamaica (1998). O Reino Unido se rendeu ao sistema métrico, abandonando suas Unidades Imperiais, em 1965, mas também é considerado um país de metrificação incompleta, com muitas das antigas unidades ainda estando presentes até em documentos oficiais.
Falando em Unidades Imperiais, o chamado Sistema de Unidades Imperial, criado em 1845, foi uma espécie de resposta da Inglaterra ao sistema métrico francês. Originalmente, a Inglaterra usava um conjunto de unidades curiosíssimo, cujas medidas dependiam do governante em questão - um pé, por exemplo, correspondia ao comprimento do pé do Rei, de forma que, quando mudava o Rei, mudava a medida oficial do pé. Vendo o sucesso do sistema métrico, mas não querendo adotá-lo (alguns dizem que, por causa da rivalidade entre Inglaterra e França, a Inglaterra adotar um sistema inventado pela França seria equivalente ao Brasil adotar um sistema inventado pela Argentina), a Coroa Britânica decidiria padronizar as unidades, de forma que um pé teria sempre a mesma medida, não importando quem fosse o Rei. Como já foi dito, algumas das Unidades Imperiais estão presentes até hoje, sendo especialmente popular a pint, que equivale a 568 ml, e é o "tamanho padrão" de uma caneca de cerveja nos bares ingleses.
Os Estados Unidos, ao contrário do que muita gente pensa, não usam as Unidades Imperiais, e sim um conjunto próprio. Isso porque, em 1845, quando o Sistema de Unidades Imperial foi criado, os Estados Unidos já não tinham mais nada a ver com a Inglaterra, sendo independentes há mais de 50 anos. Desde a independência, é usado por lá um sistema conhecido como costumary units (as "unidades costumeiras"), baseado nas unidades usadas na Inglaterra na época da colonização da América, mas adaptadas às necessidades do povo norte-americano. Como os Estados Unidos são talvez o país mais influente do planeta, o fato de eles usarem um sistema de medidas diferente de todo mundo costuma causar alguns problemas; ao longo dos anos, diversas tentativas já foram feitas para que eles passassem a adotar o sistema métrico, começando pelas já citadas feitas por Thomas Jefferson, e passando por um abaixo-assinado que contou com mais de dez milhões de assinaturas encaminhado ao congresso em 1927, e rechaçado pelas indústrias, que temiam aumento de custos se tivessem que converter todos os seus equipamentos.
Em 1975, com as relações internacionais cada vez mais crescendo em importância, os Estados Unidos aceitaram um meio-termo: ao invés de adotar o sistema métrico, eles passaram a permitir seu uso em conjunto com as costumary units. Esse compromisso seria reiterado em 1988, com a edição de uma lei que diz que o sistema métrico é o "sistema de unidades de pesos e medidas preferencial para o comércio interno e internacional dos Estados Unidos". Nos termos dessa lei, todos os documentos oficiais dos Estados Unidos devem usar o sistema métrico, com as costumary units sendo usadas apenas naqueles destinados à população em geral; não há, porém, uma exigência de que a sociedade norte-americana use o sistema métrico, por isso não se considera que os Estados Unidos entraram em processo de metrificação. Hoje, nos Estados Unidos, o sistema métrico é usado majoritariamente no comércio internacional e de forma acadêmica - em livros de ciências exatas, por exemplo - com a população em geral, bem como indicações destinadas a ela - como embalagens de produtos e placas de trânsito - ainda usando as costumary units - embora, com o comércio internacional, a maioria das embalagens de produtos como comida, produtos de limpeza e produtos de beleza já tragam as medidas tanto nas costumary units quanto no sistema métrico.
Eu não consigo imaginar por que os norte-americanos preferem usar as costumary units em seu dia a dia ao invés do sistema métrico. Além de nomes bizarros, elas possuem correlações mais bizarras ainda. Assim como eu fiz no post do Almanaque BLOGuil, vou citar aqui algumas das costumary units atualmente em uso, só para vocês terem pena das crianças que têm de aprendê-las na escola.
Em se tratando de comprimento, a menor medida é uma polegada (inch, abreviado in ou "), que, originalmente, era o tamanho do polegar do Rei da Inglaterra. Hoje, corresponde a 2,54 cm. Como não dá para dividir o mundo em partes iguais de 2,54 cm, também são usadas frações de polegadas, tipo meia polegada ou um quarto de polegada - 20 cm, por exemplo, são 7 7/8 in, ou seja, sete polegadas e sete oitavos. Felizmente, desde a década de 1970 também são usadas as "polegadas decimais", nas quais 20 cm é igual a 7,874 in.
Em seguida, temos um pé (foot, abreviado ft ou '), que originalmente era o tamanho do pé do Rei, mas hoje vale 12 polegadas, ou 30,48 cm. Uma das coisas mais curiosas em relação a isso é que, nos Estados Unidos, a altura das pessoas é medida em pés - eu tenho 1,80 m de altura, então lá eu tenho 5'11" (cinco pés e onze polegadas, que, a rigor, seriam 1,8034 m). O problema é que 5'10" são 1,778 m, ou seja, serve tanto para quem tem 1,77 m quanto para quem tem 1,78 m, mas quem tem 1,79 m ou vai ter de mentir para menos ou para mais - assim como quem tem 1,81 m, já que 5'12" já são 1,8288. Aliás, como um pé são 12 polegadas, 5'12" é exatamente a mesma coisa que 6', mas, em se tratando de altura, o padrão é usar o 12", para que todo mundo tenha uma medida em pés e uma em polegadas (para que não seja necessário usar, por exemplo, 6'0").
Quem acompanha futebol americano já deve estar familiarizado com a jarda (yard, yd), que, originalmente, era a distância entre o nariz e o polegar do Rei, com seu braço esticado perpendicular ao corpo. Hoje, uma jarda equivale a 3 pés, ou 91,44 cm. Da mesma forma, quem acompanha Fórmula Indy (ou Nascar) deve conhecer a milha (mile, mi), que tem esse nome porque originalmente era a distância de mil passos (do Rei, provavelmente). Hoje, uma milha equivale a 1.760 jardas, ou 1.609,344 m. Outras medidas de comprimento ainda usadas são a braça (fathom, fth), que originalmente era a envergadura do Rei, sendo hoje 6 pés ou 1,82 m, e somente utilizada para medir profundidade; e o furlong (fur), originalmente a medida que um boi conseguia arar um campo em linha reta sem descanso, hoje equivalente a 220 jardas ou 201,168 m, ainda muito usado nas corridas de cavalo.
Assim como o metro, seus múltiplos e submúltiplos, polegadas, pés, jardas e milhas podem ser elevados ao quadrado para medir área (com a sigla sq, de square, "quadrado", sendo adicionada antes e separada da sigla da medida, como, por exemplo, "sq ft" para pés ao quadrado) ao cubo para medir volume (da mesma forma, com a sigla cu, de cubic, adicionada antes e separada da sigla da medida, como em "cu in" para polegadas cúbicas) ou divididos por unidades de tempo para calcular velocidade (com a velocidade dos carros norte-americanos sendo medida, por exemplo, em milhas por hora, ou mph).
As medidas de massa começam pelo grão (grain, gr), originalmente o peso médio de um grão de cevada, hoje 64,8 mg. Um dracma (dram, dr), originalmente, era o peso de um punhado de grãos; hoje 27,3 grãos ou 1,772 g. Uma onça (ounce, oz), cujo nome vem do latim uncia, que significa décima-segunda parte, por ser 1/12 de uma libra, pesa 16 dracmas ou 28,349523125 g (pois é). Uma libra (pound, lb) equivale a 12 onças ou 453,5 g, e seu nome vem do verbo "pesar" em latim (libra), sendo o nome em inglês pound uma corruptela do latim pondus ("peso") - vale citar como curiosidade que o sanduíche quarterão, em inglês, se chama quarterpound, e tem esse nome porque seu hambúrguer pesa 114 g, o que equivale aproximadamente a um quarto de uma libra. Um quintal (hundredweight, cwt) equivale a 100 libras ou 45,359 kg, e seu nome vem do árabe qintas, que significa "composto por cem". Finalmente, temos a tonelada (tonne, ton), que originalmente era o peso do maior tonel de vinho existente, hoje equivale a 20 quintais ou 907,2 kg, e que não é a mesma tonelada que nós usamos, que, como já foi dito, é abreviada t e corresponde a 1.000 kg.
As medidas de volume incluem a xícara (cup), que, evidentemente, era a quantidade de água que cabia em uma xícara, e hoje equivale a 236,5 ml; o pinto (pint, pt), que equivale a 2 xícaras ou 473 ml, cujo nome vem do latim pincta, que significa "pintado", pois os recipientes romanos eram marcados com pequenos traços que denominava a menor fração do que estava guardado ali dentro, ficando essa fração conhecida como pincta, e que não é equivalente a um pint das Unidades Imperiais, apesar de o nome em inglês ser o mesmo; o quarto (quart, qt), que equivale a 2 pintos ou 946 ml, e tem esse nome porque equivale a um quarto de um galão; e o galão (gallon, gal), equivalente a 4 quartos ou 3,78 l, e originalmente era a quantidade de líquido que cabia em um galão de vinho - e que não é o mesmo galão usado no Brasil para latas de tinta, e que equivale a 3,6 l. Existem também as unidades dracma fluida (fluid dram, fl dr, 3,697 ml) e onça fluida (fluid ounce, fl oz, 29,5 ml), que originalmente representavam a quantidade de água que cabia em recipientes desenhados para acomodar uma dracma e uma onça de sementes, respectivamente. Bebidas industrializadas nos Estados Unidos são vendidas em onças fluidas, com uma lata de refrigerante que no Brasil tem 350 ml lá tendo 11,84 fl oz.
Para medir área temos o acre, originalmente a quantidade de terra que podia ser arada por um homem e um único boi ao longo de um dia inteiro, hoje equivalente a 43.560 sq ft, ou 4.046 m²; para medir pressão temos o psi, que equivale a uma libra por polegada quadrada (psi, inclusive, significa exatamente isso em inglês, pounds per square inch); e, para medir temperatura relativa, os norte-americanos usam a escala Fahrenheit (°F), que originalmente tinha como 0 °F a temperatura de uma solução salina composta de partes iguais de sal e gelo, e como 100 °F a temperatura do corpo humano - hoje, a temperatura padrão do corpo humano é de 96 °F. A escala Celsius foi escolhida pelo SI por ser mais, digamos, científica, já que 0 °C é a temperatura na qual a água congela, e 100 °C é a temperatura na qual a água evapora. Para converter de Celsius para Fahrenheit, diminuímos 32 do valor em °F e multiplicamos o resultado por 1,8; para converter de Fahrenheit para Celsius, multiplicamos o valor em °C por 1,8 e somamos 32 ao resultado.
Vale citar que os Estados Unidos não são o único país a não ter ainda iniciado seu processo de metrificação - mas o grupo é bem reduzido, contando apenas com três membros. Os outros dois são a Libéria, país na costa da África que possui fortes relações com os Estados Unidos, pois a maior parte dos ex-escravos norte-americanos que decidiriam retornar ao continente africano se estabeleceria lá, e que, nada surpreendentemente, usa as costumary units; e Myanmar, que ainda usa um sistema próprio de unidades tradicionais. Ao contrário dos Estados Unidos, a Libéria jamais fez nenhum esforço governamental para adoção do sistema métrico, embora, em relações internacionais, as unidades do sistema métrico sejam usadas em conjunto com as costumary units. Já Myanmar anunciou, em 2011, que começaria seu processo de metrificação, o que não ocorreu até hoje. Em 2013, eles firmaram um acordo com o Instituto Nacional de Metrologia da Alemanha para que esse processo começasse, mas, até agora, não há data oficial para o início; naquele mesmo ano, porém, o governo publicou uma lei semelhante à dos Estados Unidos, determinando o sistema métrico como "preferencial" - embora, na prática, seu uso ainda seja muitíssimo reduzido.
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