O sumô é um dos esportes mais antigos do Japão, com milhares de anos de idade. Segundo a lenda, ele foi criado por Nomi no Sukune, que teria vivido durante o reinado do Imperador Sukunin, que teria ocorrido entre o ano 29 a.C. e o ano 70 d.C. Sukune teria criado o sumô (nome que, em japonês, significa "atingir um ao outro") para derrotar um dos inimigos do Imperador, chamado Taima no Kehaya, em uma luta que teria ocorrido no sétimo dia do sétimo mês do sétimo ano de reinado do Imperador. Em sua homenagem, o Imperador teria criado um festival chamado sumo no sechie (o "banquete do sumô"), no qual, uma vez por ano, um lutador de cada província japonesa seria convocado a viajar até o palácio imperial e lutar em um torneio de sumô.
Durante muitos anos, entretanto, o sumô seria não um esporte, e sim parte de rituais religiosos do xintoísmo, uma das mais antigas e tradicionais religiões japonesas. Lutas de sumô eram realizadas para se prever como seria a colheita daquele ano, para trazer boa sorte aos frequentadores do templo, ou simplesmente para agradar aos kami, os espíritos divinos que guiam o xintoísmo. Até hoje o sumô mantém muitas das tradições do xintoísmo, como espalhar sal na área de luta para purificá-la antes de um torneio começar.
A prática do sumô como esporte, dissociado de festivais e de rituais religiosos, começaria no século XVI, com torneios organizados por Oda Nobunaga, um dos principais senhores feudais do Japão na época (e um dos mais famosos ainda hoje). Fã de sumô e acreditando que ele poderia contribuir para a disciplina militar, Nobunaga decretaria que aprender sumô seria obrigatório dentre seus soldados, e, para estimulá-los a praticá-lo, organizaria os tais torneios, com grandes prêmios para os vencedores. A popularidade desses torneios fariam com que o sumô saísse do exército e começasse a ser praticado pelos cidadãos japoneses, de forma que, cerca de cem anos depois, durante o Período Edo, o sumô já era uma febre, e começariam a surgir os primeiros torneios profissionais, disputados por homens que eram lutadores de sumô em tempo integral, sem dividir sua prática com qualquer outra ocupação.
Como o sumô ainda mantinha fortes ligações com o xintoísmo, os primeiros torneios profissionais seriam realizados, em 1684, no templo de Tomioka, em Tóquio, dedicado ao kami Hachiman. Conforme o número de participantes aumentava, porém, o local passaria a ser pequeno, e os torneios passariam a ser realizados no Eko-in, um templo budista bem maior, também localizado em Tóquio. Durante quase duzentos anos, o Eko-in seria o principal centro de estudos e prática do sumô, servindo como sede da Associação de Sumô de Tóquio, responsável por manter as regras do esporte, o registro de seus praticantes e por supervisionar torneios que ocorressem fora de suas dependências. Entre 1833 e 1909, o Eko-in seria tão famoso que simplesmente todos os torneios profissionais de sumô do Japão seriam realizados lá, sendo hoje esse espaço de tempo conhecido como "período do sumô Eko-in".
Paralelamente ao crescimento do sumô em Tóquio, também houve um grande crescimento e desenvolvimento do sumô em Osaka, a segunda maior cidade japonesa. Inicialmente, os lutadores de sumô de Osaka não se incomodavam de viajar até o Eko-in para participar dos torneios, mas, no início do século XX, as viagens começariam a se tornar muito caras, o que levaria à fundação da Associação de Sumô de Osaka, que realizaria torneios profissionais em Osaka, Nagoya e Fukuoka. Preocupada que a Associação de Sumô de Osaka pudesse utilizar em seus torneios regras diferentes daquelas estabelecidas pela Associação de Sumô de Tóquio, o que poderia levar ao surgimento de "dois sumôs", no início da década de 1920 representantes da Associação de Sumô de Tóquio iriam até Osaka negociar uma união das duas associações, o que acabaria ocorrendo em 1925, ano no qual seria fundada a Associação Japonesa de Sumô, hoje ligada ao Ministério da Educação, Cultura, Esporte, Ciência e Tecnologia do Japão, sediada em Tóquio, mas com escritórios em Osaka, Nagoya e Yokohama.
O Japão é, até hoje, o único país onde o sumô é praticado profissionalmente - ou seja, apenas no Japão temos lutadores profissionais competindo em torneios. E, acreditem ou não, o sumô ainda é o esporte mais popular do Japão, com seus torneios atraindo centenas de milhares de espectadores por ano e seus lutadores sendo grandes ídolos nacionais, com direito a participação em programas de TV, álbuns de figurinhas com suas fotos, sessões de autógrafos para os fãs, enfim, coisas que, aqui no Brasil, a gente só costuma ver com jogadores de futebol.
Ser um lutador de sumô, entretanto, não é nada fácil: o esporte é tão ligado à tradição que a Associação Japonesa de Sumô exige que todos os lutadores profissionais de sumô vivam apenas para o sumô. Isso significa que eles têm de morar em uma habitação coletiva chamada heya, na qual todos os aspectos de suas vidas, desde a alimentação até a forma como se vestem, é regulada e determinada pela Associação - todo lutador de sumô, por exemplo, deve ter o cabelo comprido, para poder fazer o chonmage, o coque tradicional usado pelos praticantes desse esporte, e todo lutador de sumô deve usar o chonmage e uma roupa tradicional, cujo tipo depende de seu atual posicionamento no ranking, sempre que estiver fora do heya, para que possa ser instantaneamente reconhecido como um lutador de sumô. Lutadores de sumô também são proibidos de dirigir; os mais famosos têm motoristas particulares, mas os iniciantes normalmente usam apenas transporte público. É interessante registrar, também, que, embora isso não seja uma exigência da Associação, lutadores de sumô tradicionalmente não lutam usando seus nomes verdadeiros, e sim uma espécie de apelido, chamado shikona, criado por eles mesmos (como Kisenosato ou Wakanohana, para citar dois lutadores de sumô famosos).
Existem atualmente 45 heya no Japão, cada um com capacidade para 30 lutadores (mas nem todos estando na capacidade máxima). Um lutador deve permanecer no mesmo heya do dia em que se inscreve nele até o dia de sua aposentadoria, não sendo permitido se transferir de um heya para o outro; em compensação, uma das regras da Associação diz que lutadores de um mesmo heya jamais podem se enfrentar em um mesmo torneio, a menos que seja em uma luta dos play-offs, com a preferência começando da luta pelo título (ou seja, se dois se classificarem, a tabela deverá ser feita de forma que eles só se enfrentarão na final, se três ou quatro se classificarem, de forma que só se enfrentarão na semifinal, e assim por diante). Para poder atender às necessidades dos lutadores, cada heya conta com uma equipe de nutricionistas, cabeleireiros, massagistas e outros profissionais, alguns pagos, alguns voluntários; "professores de sumô" não estão nessa lista, já que a Associação só permite que ex-lutadores de sumô treinem os atuais lutadores. Esses ex-lutadores são conhecidos como oyakata, e são funcionários da Associação, e não do heya. O "dono" de cada heya também é um oyakata, apontado pela Associação, e que deve passá-lo para outro ao chegar aos 65 anos de idade. Cada heya conta também com olheiros que viajam o Japão em busca de novos talentos, e há uma espécie de competição não-oficial entre eles para decidir qual heya tem os melhores lutadores.
Lutadores profissionais de sumô são divididos em classes através de um ranking, que leva em conta há quanto tempo ele pratica o sumô, quantas lutas ele já venceu, e outros critérios relacionados à sua vida no heya e a seu desempenho nos torneios. Ao todo, existem seis classes, cada uma com um número máximo de lutadores; se esse número for atingido, é preciso esperar um lutador ser promovido ou se aposentar para que outro possa ingressar nela. Nem todos os lutadores progridem da primeira à última classe, com alguns "empacando" no meio do caminho, e a evolução é feita sempre através de promoções, não podendo um lutador ser "rebaixado" de classe. As seis classes, da mais baixa para a mais alta, e seu número máximo de lutadores são: jonokuchi (45), jonidan (185), sandanme (200), makushita (120), juryo (28) e makuuchi (42). Popularmente, lutadores das classes juryo e makuuchi são conhecidos como sekitori, enquanto os das outras quatro são conhecidos como rikishi. O sistema de classes estabelece uma série de obrigações e privilégios, com os das classes mais baixas tendo mais obrigações e os das mais altas tendo mais privilégios: os jonokuchi, por exemplo, são os que acordam mais cedo para treinar no heya, e os rikishi devem ajudar na preparação do almoço e na limpeza; os sekitori, por outro lado, têm prioridade para tomar banho e comer, e treinam em separado.
A classe makuuchi possui sua própria hierarquia. A maioria dos makuuchi são chamados maegashira, e são ranqueados em pares, sempre um sendo o Oeste e o outro sendo o Leste (ou seja, os dois melhores são o 1 Oeste e o 1 Leste, em seguida vêm o 2 Oeste e o 2 Leste, e assim por diante); esse sistema foi herdado da época em que a Associação de Osaka (que fica no oeste do Japão) se fundiu com a de Tóquio (que fica no leste), quando eles não quiseram comparar os lutadores de uma com os da outra, e decidiram por dois rankings paralelos; hoje, a origem de um lutador em nada influencia se ele é Leste ou Oeste, e lutadores de uma mesma posição são considerados de igual ranking (ou seja, o 1 Leste e o 1 Oeste são ambos "os melhores", sem um ser considerado melhor que o outro).
Os makuuchi que são considerados melhores que os maegashira ganham os títulos de komusubi, sekiwake e ozeki, nessa ordem. Esses três títulos são conhecidos coletivamente como san'yaku (que significa, ora vejam só, "três títulos"), e, para recebê-los, um lutador tem que já ter sido campeão de pelo menos um torneio. Embora não haja número mínimo ou máximo, a cada momento existem entre 8 e 12 san'yaku em atividade; eles costumam ser os mais idolatrados pelos fãs, e possuem funções "diplomáticas" especiais - por exemplo, quando o Imperador vai assistir a uma luta de sumô, ele é acompanhado a seu local por todos os san'yaku presentes no torneio, e quando o presidente da Associação Japonesa de Sumô vai fazer um discurso, os san'yaku se sentam à mesa com ele. O título de san'yaku não é vitalício, sendo até comum um san'yaku ser "rebaixado" a maegashira de acordo com seu desempenho.
Um ozeki que obtenha especial destaque pode ascender ao título máximo do sumô, o de yokozuna (palavra que significa "corda horizontal", e vem do fato de que o Yokozuna usa uma corda amarrada na cintura para deixar claro seu status). A rigor, um Yokozuna é considerado um san'yaku, mas seu status é equivalente ao de um astro de rock - sem exageros. Assistir a um Yokozuna lutar para um fã de sumô é como assistir a uma partida de cinco sets entre Djokovic e Federer para um fã do tênis - ou talvez ainda mais emocionante. É esperado que um Yokozuna lute sempre em alto nível, tanto que ele deve encerrar a carreira imediatamente quando cair de rendimento, não sendo possível "deixar de ser Yokozuna" e continuar lutando; a pressão nesse sentido é tão grande que já ocorreu de mais de um Yokozuna fingir que se lesionou e abandonar um torneio para anunciar sua aposentadoria logo após seu final, apenas porque achou que iria perder sua próxima luta e não quis encerrar a carreira com uma derrota. Além dessa pressão no campo esportivo, para a Associação um Yokozuna é "a imagem do sumô junto ao público", e eles devem se comportar sempre com educação, garbo e elegância. Em toda a história do sumô, apenas 72 lutadores já ascenderam ao título de Yokozuna, estando quatro ainda em atividade.
Embora o Japão seja o único país onde existe sumô profissional, existem lutadores de sumô de outras nacionalidades, principalmente da Mongólia. Esses lutadores normalmente começam no sumô amador, ou até em outras lutas, como o judô e o jiu-jitsu, e decidem ir morar no Japão para praticar o sumô profissionalmente. Assim como qualquer outro lutador de sumô, os "estrangeiros" têm de morar em um heya e se submeter a toda a rotina do sumô, com uma exigência a mais: devem falar japonês perfeitamente, pois é proibido que eles se dirijam aos demais integrantes do heya em outro idioma. Mesmo com essa barreira linguística, no final do século XX houve uma verdadeira invasão estrangeira no sumô japonês, não só com uma grande quantidade de participantes nascidos fora do Japão nos torneios, mas também com um grande número de campeões não-japoneses, o que levou a uma grande quantidade de san'yaku "internacionais" - dos quatro Yokozunas em atividade, por exemplo, três são nascidos na Mongólia. Preocupada que, com isso, o sumô pudesse deixar de ser um esporte tipicamente japonês, em 2004 a Associação estabeleceu uma nova regra de que cada heya só pode ter, no máximo, um lutador nascido fora do Japão de cada vez - o que efetivamente limita o número de participantes estrangeiros nos torneios a 45.
O sumô profissional é exclusivamente masculino; não somente não existem mulheres lutadoras de sumô profissionais, como a própria presença delas na área de competição é considerada desrespeitosa, por uma questão de tradição - mulher, no sumô profissional, só nas arquibancadas. Isso algumas vezes gera saias justas, como entre 2000 e 2008, quando Osaka teve uma prefeita mulher, chamada Fusae Ohta; tradicionalmente, o prefeito da cidade onde o torneio está sendo realizado entrega o prêmio principal ao final do mesmo, mas, durante esses oito anos, Ohta foi proibida pela Associação de fazê-lo, devendo o vice-prefeito entregar o prêmio. Misoginia à parte, isso não significa que não existam japonesas lutadoras de sumô, já que o sumô amador não possui esta restrição, tendo torneios femininos e masculinos.
O sumô é disputado em um dohyo (pronuncia-se "dourriô"), um pequeno ginásio que tem o formato de um templo xintoísta, para manter a tradição. O maior dohyo do planeta fica, evidentemente, em Tóquio, se chama Ryogoku Kokugikan, e tem capacidade para 13 mil espectadores. No centro do dohyo fica a área de luta, um quadrado de 8,13 m de lado, feito de argila misturada com areia. Essa área é elevada entre 34 e 60 cm do solo, e suas laterais são inclinadas em um ângulo de 30 graus. Dentro dessa área há um círculo, feito de palha de arroz, com 4,55 m de diâmetro. No centro do círculo, distantes 1 m uma da outra e 50 cm cada do centro exato, são traçadas duas linhas brancas de 1 m de comprimento cada, atrás das quais os lutadores devem estar posicionados no início da luta. Os limites do quadrado também são demarcados com palha de arroz, que também pode estar presente em decorações nas laterais do mesmo. Todo o dohyo, aliás, é bastante decorado com faixas e flâmulas coloridas, quatro delas honrando os quatro kami dos pontos cardeais. A área de luta não é permanente, sendo construída antes de cada torneio e desmontada ao final do mesmo por profissionais chamados yobidashi.
O "uniforme" do sumô se chama mawashi, e é composto de uma faixa bem comprida (desenrolada, ela mede cerca de 9 m e pesa entre 3,6 e 5 kg), que passa pela cintura e por baixo das pernas do lutador, e é amarrada na parte de trás com um nó próprio. E só. Tradicionalmente, o mawashi usado nas lutas é feito de seda, enquanto o usado nos treinos é feito de algodão. É o próprio lutador quem escolhe a cor e a padronagem de seu mawashi, sendo ambas livres. Durante a cerimônia que precede a luta, os sekitori entram no dohyo trajando também uma espécie de avental ricamente decorado, chamado kesho-mawashi; é permitido que esse avental traga as cores, o nome ou o logotipo de um patrocinador pessoal do lutador, ou de um dos patrocinadores do torneio. Os Yokozuna também usam, durante a cerimônia, amarrada na cintura, a corda da qual tiram seu nome, que mede 10 m e pesa 20 Kg.
No início da luta, os lutadores entram no círculo batendo palmas, para espantar os maus espíritos, e pisando forte no chão, com as mãos apoiadas nos joelhos, para esmagar o mal. Ambos se posicionam atrás das linhas centrais, com as mãos fechadas, e tanto as solas dos pés quanto os nós dos dedos tocando o chão. A um comando do árbitro, eles devem se levantar, se projetar na direção do oponente, e ambos devem se tocar simultaneamente - caso o árbitro considere que o toque não foi simultâneo, pode interromper a luta e fazer com que os lutadores retornem à posição inicial. Basicamente, o objetivo do sumô é tirar o oponente de dentro do círculo - e é por isso que os lutadores de sumô costumam ser bem gordinhos, já que é mais difícil empurrá-los ou levantá-los do que se fossem magros. Não há pontuação, quem tira o oponente do círculo ganha, e pronto. Assim como em outras lutas, porém, não basta tirar o oponente do círculo de qualquer jeito, é preciso fazê-lo usando uma das técnicas próprias do sumô, conhecidas por todos os lutadores.
Na verdade, existem cinco formas de se ganhar a luta, sendo tirar o oponente do círculo a mais comum delas. Essa forma é chamada de kimarite, e consiste em usar uma técnica válida do sumô para empurrar ou erguer o oponente, o que pode ser feito segurando-o por debaixo dos braços ou pela parte do mawashi que envolve sua cintura. Se um lutador fizer com que o oponente toque no chão com qualquer parte do corpo sem ser a sola de seus pés, também vencerá a luta, por shini-tai. Se um dos lutadores usar uma técnica que não é permitida pelo sumô, ou tiver conduta anti-desportiva (como segurar o oponente pela parte do mawashi que passa por debaixo de suas pernas), ele será desclassificado, e o oponente vencerá por kinjite. Se o mawashi de um lutador se desenrolar e cair (o que deve ser muito vergonhoso) sem que o oponente o tenha soltado de propósito, ele também será desclassificado, indo a vitória para o oponente, por mawashi. Finalmente, caso um lutador não entre no círculo após o comando do árbitro, ele perde automaticamente por fusenpai; isso normalmente ocorre quando um dos lutadores se contunde, sendo a cerimônia de antes da luta realizada normalmente, mesmo com todo mundo sabendo que ele não vai aparecer. Seja qual for a forma utilizada, o árbitro encerra a luta apontando para o vencedor, dizendo em voz alta o motivo da vitória, e, em caso de kimarite, o nome da técnica utilizada pelo vencedor.
Uma luta de sumô é extremamente rápida, normalmente acabando após alguns segundos; porém, caso quatro minutos se passem sem que haja um vencedor, o árbitro deve dar um comando de mizu-iri, separar os lutadores, permitir que eles se hidratem e descansem durante um minuto, e recomecem da mesma posição onde estavam. Caso se passem mais quatro minutos sem um vencedor, é dado um novo comando de mizu-iri, mas a luta recomeça da posição inicial. Caso se passem mais quatro minutos sem uma definição, a luta termina empatada, o que é extremamente raro - a última vez em que uma luta de sumô profissional terminou empatada foi em 1974.
Os árbitros do sumô são quase tão sujeitos às normas da Associação quanto os lutadores; eles começam na carreira bem jovens, por volta de 16 anos, e se aposentam obrigatoriamente aos 65, devendo residir no heya nesse meio tempo. Chamados gyoji, eles também têm um sistema de ranqueamento, com somente os dos cargos mais altos podendo oficiar as lutas dos sekitori. Existem oito classes no ranqueamento dos gyoji, e, atualmente, apenas um deles ocupa a mais alta, a de tate-gyoji; até 2015, eram dois, mas um deles se aposentou e nenhum outro ainda foi promovido.
Durante a luta, o gyoji usa uma vestimenta tradicional de seda, semelhante a um quimono, cujo modelo e cor depende de seu atual ranqueamento. Cada gyoji também usa um chapéu feito de tecido dobrado, e carrega um leque de madeira, chamado gunbai, que aponta para os lutadores antes de dar os comandos e para o vencedor ao final da luta, e uma espada, originalmente usada para que ele cometesse suicídio caso tomasse uma decisão equivocada, mas hoje, felizmente, apenas ornamental. Além de oficiar a luta, os gyoji recomendam promoções aos lutadores, atuam na organização dos torneios, e servem como assistentes dos donos dos heya; apesar de morar no heya, eles não podem ter nenhum contato com os lutadores, o que seria considerado anti-ético. Atualmente, existem cerca de 40 gyoji no Japão, com alguns heya tendo mais de um, e alguns não tendo nenhum.
As decisões do gyoji não são absolutas, podendo ser revertidas por um painel de cinco juízes que fazem parte da Associação, e assistem à luta sentados ao redor da área de luta; quando um dos juízes do painel acredita que o gyoji errou, eles se reúnem em uma confabulação chamada mono-ii, da qual o gyoji não faz parte, mas podendo pedir a opinião de outros dois juízes, que assistem à luta em uma gravação de vídeo, com acesso a recursos como replay e câmera lenta. Ao fim da mono-ii, a decisão do gyoji pode ser mantida ou revertida. Caso o mono-ii não chegue a nenhuma conclusão, um dos juízes pode pedir para que a luta seja anulada e realizada novamente, embora isso raramente seja feito, com os juízes preferindo manter a decisão do gyoji. Caso a decisão seja revertida, não há nenhuma punição para o gyoji além da vergonha; gyoji que têm várias decisões revertidas, porém, costumam demorar mais para ser promovidos, ou até mesmo serem suspensos por algum tempo. Quando uma decisão de um tate-gyoji é revertida, é esperado que ele entregue sua carta de demissão à Associação; esse gesto, hoje, entretanto, é simbólico, com a demissão de um tate-gyoji não sendo aceita desde o século XIX.
Desde 1958, são disputados no Japão seis torneios de sumô profissional por ano, chamados honbasho, três deles no Ryogoku Kokugikan (em janeiro, maio e setembro), um em Osaka (março), um em Nagoya (julho) e um em Fukuoka (novembro). Cada um deles dura quinze dias, sempre começando e terminando em um domingo. Cada sekitori disputa 15 lutas, sendo uma por dia; cada rikishi disputa sete lutas, normalmente uma a cada dois dias. Cada dia começa com as lutas das classes mais baixas, terminando com as mais altas, de forma que os jonokuchi sempre lutam primeiro, por volta das sete da manhã, enquanto os Yokozuna sempre fecham o dia, por volta das seis da tarde. Como pode haver mais lutadores do que lutas em uma classe (por exemplo, podem existir até 185 jonidan de cada vez, mas cada um deles só fará sete lutas), os oponentes de cada lutador são determinados através de uma fórmula, que leva em conta seu atual ranqueamento dentro da classe e seu desempenho ao longo do torneio; por causa disso, as lutas do dia seguinte são definidas apenas no final de cada dia, quando uma comissão da Associação se reúne e escolhe quem vai enfrentar quem.
Por causa desse sistema, a princípio, não há play-offs: ao final do último dia, o lutador de cada classe com mais vitórias é declarado o campeão daquela classe, sendo o campeão da classe makuuchi (normalmente o Yokozuna) sendo coroado grande campeão daquele torneio, ganhando um troféu que se chama Copa do Imperador; os troféus das outras classes costumam ter nomes poéticos (como a Copa Crisântemo) ou relacionados a um patrocinador (como a Copa Coca-Cola), que mudam a cada torneio. Caso haja um empate no número de vitórias (o que é raríssimo nas classes mais altas, mas extremamente comum nas classes mais baixas, devido ao grande número de competidores), os empatados disputam lutas-desempate, da seguinte forma: caso sejam dois empatados, os dois se enfrentam, e o vencedor é o campeão; caso sejam três, eles se enfrentam até que um deles ganhe duas lutas seguidas; caso sejam quatro ou mais, são disputados play-offs. Esses desempates são sempre realizados ao longo do último dia.
Além dos honbasho, a Associação organiza anualmente "torneios de exibição", que, apesar de valerem troféus e prêmios em dinheiro, não contam para o ranking - ou seja, o desempenho neles não é considerado para a progressão de classe.
Também são disputados no Japão, anualmente, dezenas de torneios de sumô amador, organizados por outras organizações que não sejam a Associação. Obviamente, os lutadores profissionais não podem participar de torneios amadores, sendo estes destinados a estudantes do Ensino Médio, a universitários, ou a praticantes de sumô em geral que desejam ter o esporte apenas como hobby, sem a pressão da vida de lutador profissional - afinal, lutadores amadores não precisam morar no heya, usar chonmage, nem se submeter a nenhuma das regras de vestimenta, alimentação ou treinamento da Associação.
Qualquer lutador que seja especialmente bem sucedido em torneios amadores e tenha menos de 25 anos (normalmente os campeões dos torneios universitários) pode se candidatar a iniciar a vida profissional já na classe makushita, sem ter de passar pelas três primeiras; ele deverá se submeter a uma avaliação do heya, e, se aprovado, até ser promovido a juryo, será conhecido como makushita tsukedashi (algo como "que veio de fora"). Esse é o caminho adotado pelos estrangeiros que começam sua carreira no sumô amador; são exemplos de países com fortes torneios de sumô amador a já citada Mongólia, a Bulgária, os Estados Unidos e o Brasil - que tem, inclusive, um makuuchi, chamado Kaisei Ichiro (mas que nasceu Ricardo Sugano, sendo Kaisei Ichiro seu shikona).
Como já foi dito, também existem torneios amadores de sumô feminino, dentro e fora do Japão. Tirando o Japão, onde existem torneios escolares e universitários, os países mais fortes no sumô feminino são a Mongólia, a Ucrânia e a Rússia. Por uma questão de decência, no sumô feminino as mulheres usam um uniforme parecido com o da luta olímpica, feito de uma única peça, sem mangas e cobrindo as pernas até os joelhos, de material elástico e colado ao corpo, por baixo do mawashi. Os homens amadores, aliás, também usam, por baixo do mawashi, uma bermuda de tecido elástico e colada ao corpo. Lutas amadoras não são oficiadas por gyoji, mas por árbitros convencionais, treinados e pagos pelas organizações dos torneios.
Internacionalmente, o sumô amador é regulado pela Federação Internacional de Sumô (IFS), fundada em 1992 e que já conta com 84 membros, incluindo o Brasil. O sumô amador segue as mesmas regras do sumô profissional, mas com menos elementos tradicionais: não há a cerimônia que antecede as lutas, os lutadores não são divididos em classes, e o dohyo é feito de materiais sintéticos ao invés de argila e palha de arroz, por exemplo. Os torneios também seguem uma estrutura mais tradicional, com os lutadores sendo pareados dois a dois, os vencedores avançando e os perdedores sendo eliminados, ou sendo alocados em grupos, com os melhores de cada grupo passando aos play-offs.
Já que os lutadores do sumô amador não estão divididos em classes, a IFS optou por seguir o caminho das demais federações internacionais de lutas desportivas e dividi-los em categorias de peso, para que os torneios sejam mais justos. Atualmente, existem quatro categorias de peso para o masculino e quatro para o feminino; no masculino, as categorias são até 85 kg, até 115 kg, acima de 115 kg e aberta (da qual podem participar lutadores de qualquer peso); no feminino, as categorias são até 65 kg, até 80 kg, acima de 80 kg e aberta. Por causa das categorias de peso, nem todos os lutadores de sumô amadores são gordos como os profissionais, tendo a maioria um porte bastante atlético.
Além do sumô "individual", a IFS regula o sumô por equipes. As equipes são masculinas ou femininas (nunca mistas), e cada uma é formada por quatro lutadores. Em cada embate, a equipe escolherá três dos lutadores, e determinará a ordem na qual eles vão lutar, sendo o primeiro chamado de senpo, o segundo de chuken e o terceiro de taisho; a ordem é mantida em segredo, para que os oponentes não saibam de antemão quem irão enfrentar. A competição por equipes é aberta, ou seja, um lutador não precisa, necessariamente, enfrentar outro de sua mesma categoria de peso. Será vencedora do embate a equipe que vencer primeiro duas das três lutas. No demais, as regras são as mesmas do sumô individual.
O campeonato mais importante da IFS é o Campeonato Mundial de Sumô, realizado anualmente desde 1992 (embora não tenha tido Mundial em 2003, 2009, 2011 e 2013; em 2009 e 2013 foi para não coincidir com os World Games, em 2003 e 2011 eu não sei o motivo). O Mundial feminino começou a ser disputado em 2001, e, até 2008 (mais uma vez sem edição em 2003), era disputado em uma sede diferente do masculino; desde 2010, porém, o masculino e o feminino são disputados simultaneamente, na mesma sede e durante o mesmo período de tempo. Atualmente o Mundial conta com 10 provas, sendo quatro individuais masculinas, quatro individuais femininas e duas por equipes, uma masculina e uma feminina.
A IFS é reconhecida pelo Comitê Olímpico Internacional, e um de seus principais objetivos é a inclusão do sumô nas Olimpíadas. Enquanto isso não acontece, o sumô faz parte dos World Games, onde fez sua estreia, somente no masculino, em 2001, em Akita, Japão, como esporte convidado; na edição seguinte, em 2005, em Duisburgo, Alemanha, o sumô masculino e o feminino passariam a fazer parte do programa oficial. Atualmente, apenas as oito provas individuais (quatro masculinas e quatro femininas) fazem parte dos World Games.
Para terminar, falta dizer que o sumô profissional foi esporte de demonstração nas Olimpíadas de 1964, disputadas em Tóquio, como parte do programa do budô. Não houve torneio, no sentido de que não foram distribuídas medalhas, sendo disputadas apenas lutas de exibição entre rikishi.
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