segunda-feira, 19 de dezembro de 2016

Escrito por em 19.12.16 com 0 comentários

Fringe

Eu já falei aqui que eu odeio J.J. Abrams. Na minha opinião, ele toma certas decisões, carinhosamente apelidadas por mim de "abramsices", que a maioria do público e da crítica simplesmente ignora só para poder continuar dizendo que ele é um gênio. Dentre as abramsices clássicas estão, por exemplo, criar uma série que tem um mistério mas se esquecer de definir qual é, tendo que inventar qualquer um no último episódio só para não passar vergonha (ex: Lost); criar um cliffhanger para o final de uma temporada, mas só decidir qual é a segunda metade dele na hora de começar a filmar a temporada seguinte (ex: Alias); e fazer algo gigantescamente dramático e até meio absurdo só por fazer, como se estivesse dizendo "eu sou J.J. Abrams e posso fazer o que quiser" (ex: criar uma arma que apaga um sol cada vez que faz um disparo). Sinceramente, eu não sei como é que as pessoas não percebem esses detalhes, ou como é que elas não se incomodam com eles caso percebam. Pra mim, dizer que o J.J. Abrams é um gênio é mais ou menos como dizer que o Rob Liefeld é um grande desenhista.

Azedume à parte, entretanto, até eu tenho que reconhecer que ele tem um certo valor - afinal, ninguém consegue fazer tanto sucesso apenas contando com a boa vontade do público e da crítica (exceto o Rob Liefeld, mas deixa isso pra lá). E esse reconhecimento está no fato de que, embora eu odeie o J.J. Abrams, eu não odeio tudo o que ele faz. Eu gostei, por exemplo, de Alias e de O Despertar da Força. E estou gostando, bastante, de Fringe.

Eu não assisti Fringe na época em que passou na TV, porque J.J. Abrams. Mas alguns amigos meus que eram fãs da série acabaram me convencendo a assistir, e, como eu já disse uma vez aqui, posso ter mil defeitos nessa vida, mas não sou preconceituoso: quando alguém me indica um filme/livro/série/música, mesmo que seja do J.J. Abrams ou desenhado pelo Rob Liefeld, eu não digo "dessa água não beberei" antes de conferir se ela tem mesmo gosto ruim. E, às vezes, eu acabo descobrindo que o gosto, na verdade, é bom. Ainda não assisti a todos os episódios (e cheguei a considerar só escrever esse post depois de fazê-lo, mas mudei de ideia porque acho que não vou conseguir tão cedo), mas confesso que o que vi de Fringe até agora me agradou bastante - ou pelo menos o suficiente para me motivar a escrever um post sobre a série. Diante disso, abram suas mentes, pois hoje é dia de Fringe no átomo!


Fringe foi uma co-criação de J.J. Abrams com os roteiristas Roberto Orci e Alex Kurtzman, que ele conheceu em 2008, enquanto dirigia o reboot de Star Trek. Nos intervalos das gravações do filme, eles costumavam conversar sobre a criação de uma nova série de TV no estilo de Arquivo X, mas com menos elementos alienígenas e mais da chamada "ciência marginal" (fringe science, em inglês), o estudo de elementos científicos considerados fantasiosos, como telecinese, trans-humanismo, universos paralelos e linhas do tempo alternativas - basicamente, qualquer coisa que seja altamente especulativa e impossível de ser provada na época atual, embora não seja impossível que algum objeto de estudo da ciência marginal venha a ser amplamente aceito pela comunidade científica no futuro (o que já aconteceu, por exemplo, com o heliocentrismo e a teoria do Big Bang).

Abrams sugeriria usar como influências não só Arquivo X, mas o filme Viagens Alucinantes, de 1980 e dirigido por Ken Russell, os filmes de David Cronenberg, os livros de Michael Crichton e a série Além da Imaginação; enquanto Orci sugeriria que a série utilizasse o estilo procedural, normalmente usado em séries policiais, no qual um mistério é introduzido, investigado e solucionado no mesmo episódio - com o principal argumento de Orci para este estilo sendo o de que seis das dez mais assistidas séries da TV norte-americana na época o usavam. Sendo uma série procedural, tornou-se óbvio que ela também seria policial (afinal, quase todas as séries procedural são policiais ou médicas), e, talvez para manter o estilo Arquivo X, ficaria definido que seus protagonistas seriam agentes do FBI.

Kurtzman sugeriria que o mistério de cada episódio fosse solucionado de forma pouco ortodoxa, e que o foco da narrativa fosse nos procedimentos bizarros adotados pela equipe para chegar a essa solução, ao invés de nos elementos do mistério em si - afinal, já haviam tantas séries procedural no ar que, por mais curiosos que fossem os mistérios, caso o foco fosse neles, seria difícil fazer os episódios de um jeito que o público não tivesse a sensação de já ter visto aquilo antes. Enquanto debatiam sobre a melhor forma de investir nesse foco, o trio chegaria à ideia que separaria Fringe de seus pares: apenas um dos três protagonistas seria um agente do FBI, sendo os outros um cientista maluco e seu filho com quem não se relaciona há um longo tempo, e que atuam apenas como consultores. Essa fórmula tornaria possível não só uma maior gama de histórias diferentes, centradas nas relações dos personagens enquanto uma família, como também um contraste com as demais séries procedural.

Após definir os conceitos básicos da série, Abrams procuraria a Warner Bros. e a Fox, com quem já havia trabalhado, e as ofereceria seu novo projeto - atuando a Warner como produtora, e a Fox como o canal que exibiria a série. Como os trabalhos anteriores de Abrams para suas empresas haviam sido grandes sucessos, tanto os executivos da Warner quanto os da Fox ficariam animadíssimos em voltar a trabalhar com ele, e aceitariam sua proposta. A Fox selecionaria Jeff Pinkner, que já havia trabalhado com Abrams em Alias e Lost, para ser o produtor executivo da série, e daria a luz verde para a produção de um piloto já em 2008.

Verdade seja dita, Abrams procuraria aprender com os erros do passado para fazer de Fringe uma série melhor: tanto Alias quanto Lost eram extremamente serializados - um episódio era continuação do outro - o que frequentemente levava a reclamações dos espectadores eventuais, que não acompanhavam a série mas eventualmente decidiam assistir a um episódio em separado, e que acabavam não entendendo nada. Para que isso não acontecesse mais uma vez, Abrams, Orci e Kurtzman tentariam fazer de Fringe uma série complexa no todo, mas simples em suas partes, com cada episódio sendo perfeitamente compreensível se assistido sozinho, mas fazendo parte de uma história completa caso todos fossem assistidos em sequência. Infelizmente, isso se mostrou bem mais difícil de se fazer na prática que na teoria, e acabou só sendo mantido até meados da segunda temporada, com Fringe também se tornaria serializado depois disso: embora ainda tivesse episódios eventuais no estilo "monstro da semana", assistir aos episódios em sequência se mostraria fundamental para que se compreendesse o que raios estava acontecendo.

Da mesma forma, talvez para evitar abramsices, Abrams, Orci e Kurtzman definiriam os pontos cruciais da história, até mesmo seu final, antes mesmo de começar a filmar seu piloto. Todos os pontos de maior destaque da história já estavam claramente definidos, bastando escolher em que momento eles seriam apresentados aos espectadores. O trio teve de ter muito cuidado para que esses pontos não vazassem não apenas ao público, mas também aos produtores, pois Abrams temia que muitas de suas ideias fossem esquisitas, curiosas, ou até inovadoras demais, o que poderia fazer com que a Warner decidisse interferir na história - quanto à Fox, ele estava mais tranquilo, pois sabia que os executivos do canal tinham a mente mais aberta em relação ao tipo de série que aceitavam pôr no ar. Saber dos elementos-chave do enredo de antemão também possibilitaria a inserção em alguns episódios de eventos que só viriam a se resolver plenamente mais à frente, tornando o universo de Fringe mais coeso.

O piloto de Fringe, com duas horas de duração, seria filmado em Toronto, no Canadá, e custaria 10 milhões de dólares; após a Fox aceitá-lo, o restante da primeira temporada seria filmado em Nova Iorque, o que demandou alguns malabarismos da equipe de produção para reproduzir em estúdio alguns locais que usaram locações no piloto - como o laboratório do Dr. Bishop, montado no porão de uma igreja para o piloto, e reproduzido em estúdio para o restante da série. Assim como os temas dos episódios, alguns problemas enfrentados pela equipe de produção seriam, digamos, pouco ortodoxos - como uma vaca presente no laboratório, que teve de ser substituída para o restante da série, já que as leis dos Estados Unidos não permitiriam que ela fosse "importada". Com 20 episódios, o primeiro deles sendo o piloto, a primeira temporada estrearia em 9 de setembro de 2008, sendo um grande sucesso de público, com média de 10 milhões de espectadores por episódio, mas um sucesso moderado de crítica, que, apesar de elogiar alguns de seus elementos, reclamou de "falta de originalidade", frequentemente comparando-a com Arquivo X.

A primeira temporada acompanha a agente do FBI Olivia Dunham (Anna Torv), acompanhada pelo cientista Dr. Walter Bishop (John Noble, o Denethor de O Senhor dos Anéis) e pelo filho de Bishop, Peter (Joshua Jackson, de Dawson's Creek). Tendo trabalhado na década de 1970 para o Governo dos Estados Unidos em vários projetos secretos envolvendo drogas e tecnologias experimentais testadas em cobaias humanas, Bishop passou os últimos 17 anos internado em uma instituição psiquiátrica, após sofrer um colapso nervoso que deixou sequelas em seu raciocínio e sua memória, e praticamente não tem laços com Peter, que ganha a vida aplicando pequenos golpes e tentando obter vantagem sobre os incautos. Já Olivia é apenas uma agente do FBI comum, até seu parceiro e namorado, o agente John Scott (Mark Valley), ser exposto, durante uma investigação conduzida por seu chefe, o agente Charlie Francis (Kirk Acevedo), a um composto químico que começa a cristalizar seu corpo, quando o chefe da (fictícia) Divisão Fronteiras (Fringe Division, em inglês) do FBI, Coronel Phillip Broyles (Lance Reddick), requisita que ela passe a fazer parte de uma equipe que investiga a origem desses compostos químicos, relacionada a diversos elementos da ciência marginal.

Olivia passa a trabalhar com os Bishop quando descobre que Walter, na década de 1970, trabalhou com compostos parecidos, e que sua pesquisa pode resultar na cura de Scott. Ela então chantageia Peter para que ele assuma a responsabilidade de cuidar do pai, liberando-o do manicômio, e requisita a Broyles que ele volte a ter acesso a seu antigo laboratório na Universidade de Harvard. Durante as investigações, Olivia passa a ter contato também com Nina Sharp (Blair Brown), presidente da Massive Dynamics, empresa de tecnologia de ponta fundada pelo parceiro de Walter em seus experimentos secretos, o Dr. William Bell (Leonard Nimoy, também conhecido como Sr. Spock). Completa o elenco principal a agente Astrid Farnsworth (Jasika Nicole), especialista em linguística do FBI e nova parceira de Olivia enquanto Scott está incapacitado, e que acaba se tornando amiga e cuidadora de Walter.

Após solucionar o caso da cristalização de Scott, os Bishop recebem uma autorização de Broyles para continuar trabalhando como colaboradores do FBI, auxiliando Olivia, permanentemente integrada à Divisão Fronteiras, em suas investigações. O trio passa, então, a investigar casos que tenham a ver com um evento chamado pelo FBI de "O Padrão" - a maioria deles relacionados às experiências que Walter e Bell realizavam enquanto trabalhavam para o governo. O principal vilão da primeira temporada é David Robert Jones (Jared Harris), líder de uma organização conhecida como ZFT (do alemão Zerstörung durch Fortschritte der Technologie, "destruição através do avanço tecnológico"), que acredita que nosso mundo está em guerra contra um Universo Paralelo, e pretende fazer uso da tecnologia da Massive Dynamic e dos experimentos de Walter para vencê-la.

Uma curiosidade da série eram imagens que apareciam toda vez que o episódio ia e voltava de um comercial, mais um imediatamente antes dos créditos, e que ficaram conhecidos dentre os fãs como glifos. Eram, ao todo, oito imagens (um sapo com a letra grega phi em meio às suas manchas, uma folha de árvore, uma borboleta com esqueleto, a impressão de uma mão espalmada com seis dedos, um cavalo marinho, uma margarida com uma pétala mais escura que as outras, a metade de uma maçã cujas sementes se pareciam com fetos, e uma fumaça que formava algo parecido com um rosto humano), e sempre diferentes de acordo com o episódio ou o bloco comercial (por volta de cinco diferentes apareciam a cada episódio). A ordem, aparentemente, era aleatória, mas alguns espectadores começaram a notar que, junto à figura, havia um pontinho amarelo em diferentes posições, e imaginaram que poderia se tratar de um código. De fato, Julian Sanchez, um dos editores do site Ars Technica, que trazia informações e notícias sobre tecnologia, conseguiu decifrar o código em 2009, descobrindo que existiam 26 combinações diferentes das figuras com os pontinhos, cada uma correspondendo a uma das letras do nosso alfabeto, de forma que os glifos formavam palavras que tinham a ver com cada episódio, muitas vezes uma dica de como o mistério seria solucionado - por exemplo, no sexto episódio da primeira temporada, A Cura, os glifos formam a palavra cells, "células" em inglês.

A produção da primeira temporada também contou com uma curiosidade: a Fox encomendou 22 episódios, mas apenas 20 datas estavam disponíveis para sua exibição; como o piloto teve duas horas, ele acabou dividido em dois para as reprises, levando o número total de episódios da temporada para 21. A Warner, entretanto, chegou a filmar o 22o episódio, que não seria exibido junto com a primeira temporada por causa da já citada falta de data; como ele já estava pronto, porém, a Fox decidiria exibi-lo junto à segunda temporada. Esse episódio, chamado Revelado, cronologicamente se situa entre o 19o e o 20o episódios da primeira temporada, mas foi exibido após o 10o da segunda, o que causou sérios problemas de continuidade. Revelado também foi massacrado pela crítica, com alguns críticos publicando que teria sido melhor se ele jamais tivesse sido exibido.

Outra curiosidade foi que a Fox decidiu incluir Fringe em seu projeto Remote Free, no qual cada episódio tinha seis minutos a mais que os das demais séries da emissora, e, consequentemente, menos comerciais - além disso, quando ocorria o intervalo, um cronômetro em contagem regressiva dizia em quanto tempo o seriado voltaria ao ar. O nome do projeto, portanto, era uma referência ao fato de que os espectadores não iriam mudar de canal enquanto estivessem assistindo Fringe. Estudos provaram, porém, que a audiência das séries do Remote Free não eram substancialmente mais altas que as dos demais sucessos da emissora, e o projeto acabaria cancelado em 2010.

A segunda temporada, que, com a adição de Revelado, teve 23 episódios, estrearia em 17 de setembro de 2009. Por decisão da Fox, embora os episódios da primeira temporada tivessem ido ao ar às terças-feiras, os da segunda foram ao ar às quintas-feiras. Talvez pela mudança de dia, talvez pela série já não ser novidade, a segunda temporada teve audiência bem mais baixa que a primeira, com média de 6 milhões de espectadores.

A produção mudaria novamente de cidade para a segunda temporada, saindo de Nova Iorque e indo filmar em Vancouver, retornando ao Canadá por motivos financeiros - Vancouver oferece subsídios e isenções fiscais para programas de TV que sejam filmados lá, e por isso muitas séries norte-americanas acabam, na verdade, sendo filmadas na cidade canadense. A segunda temporada também ganharia um co-produtor executivo, J.H. Wyman, com quem Pinkner dividiria algumas de suas funções.

A segunda temporada marcou o aparecimento de vez do Universo Paralelo na série, com vários episódios fazendo menção a ele ou até mesmo com cenas passadas lá. Um dos personagens mais misteriosos da primeira temporada, o Observador (Michael Cerveris), também ganhou mais destaque, com alguns de seus propósitos sendo revelados - mas muitos ainda ficando obscuros. A segunda temporada também marcaria a estreia na série do cientista-chefe da Massive Dynamics, Brandon Fayette (Ryan MacDonald); do misterioso Sam Weiss (Kevin Corrigan), que ajuda na reabilitação de Olivia após ela sofrer um trauma que a deixa com sequelas nas mãos e incapaz de usar sua arma, passando a ser uma espécie de seu conselheiro depois disso; de Frank Stanton (Philip Winchester), namorado de Olivia no Universo Paralelo; e de Lincoln Lee (Seth Gabel), parceiro de Olivia e Charlie na Divisão Fronteiras do Universo Paralelo.

O Universo Paralelo, como vocês devem estar imaginando, é povoado por versões alternativas do universo principal da série, tendo sua própria Divisão Fronteiras, comandada por um Broyles alternativo e contando com uma Olivia, um Charlie e uma Astrid alternativos, e lá Walter nunca teve o colapso nervoso, chegando a se tornar Secretário de Estado. Acreditem ou não, o ZFT não estava exagerando: eles estão em guerra contra o "lado de cá", mas isso foi causado por uma ação inconsequente de Walter, que, ao abrir um portal para o "lado de lá" e interferir em eventos de sua história, acabou causando o aparecimento de vórtices que vêm destruindo o Universo Paralelo. Segundo as pesquisas de Walternado (apelido dado por Walter para sua contraparte do lado de lá, menos inspirado que o que ele dá para a Olivia de lá, Falsolívia), a única forma de deter esses vórtices e impedir a total destruição do Universo Paralelo é destruindo o universo do qual Walter faz parte - o "nosso".

Não são só os personagens da série que têm versões alternativas no Universo Paralelo, com vários pequenos detalhes sendo diferentes - o Presidente John Kennedy nunca morreu e agora é secretário da ONU, o World Trade Center não foi derrubado nos ataques terroristas de 11 de setembro de 2001, dentre outros. A tecnologia do lado de lá também é bem mais avançada, embora não seja explicado o porquê - a teoria mais aceita é a de que Walternado, sendo um cientista brilhante ligado ao governo, impulsionou o avanço tecnológico com suas pesquisas, enquanto Walter, trancafiado em um sanatório, não pôde fazer o mesmo. A tecnologia do Universo Paralelo deu origem, por exemplo, aos Metamorfos, humanos artificiais capazes de assumir qualquer aparência, enviados para o lado de cá para atuar como soldados na guerra entre os universos, se infiltrando e sabotando nossa sociedade. A segunda temporada, portanto, lida principalmente com os ataques dos Metamorfos, liderados por Thomas Newton (Sebastian Roché), enquanto Walter e Peter exploram suas relações com o Universo Paralelo e, com a ajuda de Olivia, tentam impedir a destruição do nosso.

A partir da segunda temporada, Abrams, Orci e Kurtzman também começaram a brincar com a abertura da série. Originalmente em tons de azul, sempre que um episódio se passava no Universo Paralelo ela seria em tons de vermelho (o que levou alguns fãs a apelidar os universos de "universo azul" e "universo vermelho"); além disso, em um episódio que tinha um flashback para a década de 1980, a abertura foi toda refeita como se a série tivesse sido criada naquela década, com efeitos de computação gráfica da época. A brincadeira continuaria nas temporadas seguintes, com, por exemplo, uma abertura escura e sombria sendo usada para um episódio da terceira temporada ambientado em um futuro distópico.

Originalmente, apenas algumas cenas de alguns episódios seriam ambientadas no Universo Paralelo, mas, na terceira temporada, Abrams, Orci e Kurtzman decidiram experimentar ambientar episódios inteiros do lado de lá, inclusive episódios fechados no estilo "monstro da semana". O principal arco de história da terceira temporada, que teve 22 episódios e estreou em 23 de setembro de 2010, envolvia uma estranha máquina supostamente construída por uma civilização antiquíssima, que por algum motivo só podia ser acionada por Peter, e que, se o fosse, destruiria um dos universos - desnecessário dizer, Walternado busca acionar essa máquina a qualquer custo, enquanto, do lado de cá, a Massive Dynamic, sob protestos de Walter, tenta aprender mais sobre ela para saber como contra-atacar caso necessário. A temporada termina com um evento que muda o passado, criando uma linha temporal alternativa.

Assim como a segunda temporada, a terceira começou com seus episódios sendo exibidos às quintas-feiras, mas, no início de 2011, com a Fox querendo dar mais destaque a American Idol, Fringe passou para as noites de sexta-feira - horário conhecido como "horário da morte", pois só são colocadas às sextas à noite séries que estão próximas do cancelamento, com poucas que assumem esse horário conseguindo fazer sucesso, estando dentre as poucas exceções Arquivo X. Muitos fãs se preocuparam achando que isso significava que a terceira temporada seria a última, e os atores reclamaram que estavam sofrendo uma injustiça diante dos bons números de audiência da série (a terceira temporada, assim como a segunda, teve média de 6 milhões de espectadores por episódio). O presidente da Fox, Kevin Reilly, logo tratou de declarar que a mudança foi puramente estratégica, sem ter nada a ver com audiência ou cancelamento, e que não estava preocupado de a audiência cair, pois, segundo ele, a maior parte dos fãs de Fringe gravava a série para assistir depois; Jackson rebateu esse comentário dizendo que o problema, se isso fosse verdade, não era que pouca gente estava assistindo Fringe, e sim que pouca gente estava assistindo no horário em que a série estava sendo exibida, sendo isso o que realmente importava para a emissora. Wyman e Pinkner - que chegou a declarar que ainda havia material para que a série chegasse à oitava temporada - se mostraram animados com a mudança, dizendo que havia um novo território para ser explorado, e acreditando que Fringe poderia repetir o feito de Arquivo X; Abrams, porém, se mostrou preocupado, dizendo que não gostaria de ficar sob pressão para fechar todas as pontas do enredo rapidamente caso a Fox decidisse cancelar a série na terceira temporada.

O cancelamento não ocorreu, porém, e Fringe teve uma quarta temporada, de mais 22 episódios, que estreou em 23 de setembro de 2011. A quarta temporada é ambientada na linha do tempo alternativa, na qual o Universo Paralelo não está ameaçado de extinção. Apenas Peter sabe que as coisas não estão como deveriam ser, e luta para convencer Olivia de que algo está errado e que eles devem devolver a história a seu rumo certo; Bell e Jones, por outro lado, têm conhecimento da existência do Universo Paralelo, e planejam destruir ambos para dar origem a um terceiro universo sob o controle de Bell.

A quarta temporada teve a pior audiência da série, com média de 4,22 milhões de espectadores. Diante disso, e apesar das negativas da Fox, começaram a surgir as notícias do cancelamento, para as quais Abrams começou a se preparar. Após muita negociação, a Fox acabaria não cancelando a série na quarta temporada, mas, como era padrão na emissora, encomendou uma quinta temporada com menos episódios, apenas para que a história pudesse se resolver satisfatoriamente.

Assim, a quinta temporada teve apenas 13 episódios, o primeiro indo ao ar 28 de setembro de 2012, e o último (de um total exato de 100) em 18 de janeiro de 2013. Após as tentativas de corrigir a linha do tempo darem errado, a quinta temporada é ambientada em um futuro sombrio, dominado pelos Observadores, no qual Olivia, Peter e Walter, com a ajuda de Etta (Georgina Haig), uma das poucas pessoas que sabem que nada está do jeito que deveria ser, tentam retornar ao passado para corrigir essa bagunça toda. A quinta temporada teria audiência ligeiramente mais alta que a quarta, com média de 4,27 milhões de espectadores, mas, como foi pensada para encerrar a série, talvez nem mesmo uma audiência fenomenal pudesse garantir uma sexta.

Além da série de TV, Fringe teve uma série em quadrinhos, publicada pela DC através do selo Wildstorms, que começou com uma minissérie chamada simplesmente Fringe, em seis edições, a primeira lançada em agosto de 2008, as demais entre janeiro e maio de 2009, ambientada antes dos eventos da série, e terminando exatamente onde começa o piloto. A ela se seguiu outra minissérie em seis edições, Tales from the Fringe, publicada entre junho e novembro de 2010, com cada edição contendo uma história completa ao estilo "monstro da semana". Finalmente, em setembro de 2011, estrearia a série Beyond the Fringe, que trazia o próprio Joshua Jackson como roteirista. Inicialmente proposta como uma série regular (sem número máximo de edições), Beyond the Fringe acabaria tendo apenas 12 edições publicadas, a última em maio de 2012. Curiosamente, as edições ímpares traziam histórias em várias partes, como uma que envolvia Peter e a máquina capaz de destruir um dos universos (publicada nas edições 1, 3 e 5), enquanto as edições pares traziam histórias fechadas, com começo, meio e fim, no estilo E Se...? (como "e se Astrid fosse uma espiã?" ou "e se Olivia e Peter fossem criminosos ao invés de agentes do FBI?"); a primeira dessas histórias tinha um título que começava com "What if" ("e se"), mas, devido a um processo movido pela Marvel (que já teve duas séries mensais chamadas What If...?, que traziam histórias ambientadas em universos paralelos nos quais, por exemplo, o Dr. Destino era um herói, ou o Tio Ben não havia morrido), as demais passaram a trazer títulos que começavam com "Imagine if". Além dessas três séries em quadrinhos, Fringe também teria três romances, escritos por Christa Faust e publicados em 2013, cada um centrado no passado de um dos três protagonistas da série: o primeiro mostrando Walter quando ele ainda trabalhava para o governo, o segundo ambientado na infância de Olivia, e o terceiro acompanhando Peter tentando se livrar de uma encrenca momentos antes de ser encontrado por Olivia conforme mostrado no piloto.

Apesar de a quinta temporada ter sido pensada para encerrar a série definitivamente, em 2012 John Noble mencionou em uma entrevista que Abrams estaria negociando com a Warner a produção de um filme de Fringe. Nada mais foi dito sobre o assunto até hoje, de forma que, ou ele se enganou, ou essas negociações foram bastante malsucedidas, ou estão sendo mantidas em segredo. Em se tratando de Fringe, tudo é possível.

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