Assim, meu único post sobre uma super-heroína, nada surpreendentemente, também falou sobre a mais óbvia: a Mulher Maravilha, talvez a única verdadeira mulher de sucesso no universo dos super-heróis. Você pode até discordar dessa última afirmação, mas acredite quando eu digo que já pesquisei sobre várias outras, e nenhuma consegue ter tanto destaque quanto ela. Por exemplo, já há algum tempo que tento fazer um post sobre uma super-heroína da Marvel, mas esbarro em dois problemas: primeiro, as mais interessantes são parte de equipes - Tempestade é dos X-Men, a Viúva Negra é dos Vingadores - de forma que falar sobre sua trajetória nos quadrinhos acaba sendo falar também da trajetória da equipe, o que, nos dois exemplos citados, eu já fiz; segundo, até mesmo as que não são tão fortemente associadas a uma equipe, como Elektra ou a Mulher-Aranha, têm uma vida de publicações erráticas, com títulos próprios de curta duração e longos períodos de tempo como coadjuvantes em revistas de outros heróis.
Essa semana, porém, eu encontrei uma heroína da Marvel que eu acho que dará um bom post. Uma que está até em voga atualmente, visto que ela pode se tornar a primeira protagonista solo feminina de um filme da Marvel Studios. Seu nome é Carol Danvers. Mas, se você não é tão fã de quadrinhos, talvez a conheça como Miss Marvel ou Capitã Marvel.
Danvers foi criada no final da década de 1960 pelo roteirista Roy Thomas e pelo desenhista Gene Colan. Originalmente, porém, ela não seria uma super-heroína, e sim uma coadjuvante nas histórias do Capitão Marvel, herói que a editora havia acabado de lançar: o Capitão Marvel fez sua estreia na revista Marvel Super-Heroes número 12, de dezembro de 1967, com Danvers estreando na edição seguinte, de março de 1968. A intenção de Thomas e Colan era criar uma personagem coadjuvante feminina diferente dos padrões da época; por isso, Danvers não era jornalista, adolescente, nem indefesa, e sim uma Major da Força-Aérea dos Estados Unidos, Chefe de Segurança de uma instalação militar secreta localizada no Cabo Canaveral, sede das operações da NASA, tendo sido escolhida para a posição por ser ex-agente da CIA, faixa-preta em várias artes marciais e uma experiente piloto de jatos. Ou seja, exceto pela falta de superpoderes, não deixava nada a dever a qualquer herói da editora.
Ainda assim, havia um limite para a vanguarda na época, e Danvers logo assumiria o papel tradicionalmente reservado às mulheres nos quadrinhos: em sua base secreta, ela conheceria o Dr. Walter Lawson, identidade secreta do Capitão Marvel, e se apaixonaria por ele. Com isso, toda vez que a base era atacada pelos inimigos do Capitão, Danvers se tornava a "donzela em perigo", sequestrada por seus inimigos ou posta em situações que faziam com que ela precisasse ser salva pelo Capitão Marvel.
Thomas, evidentemente, não concordava com isso. Em sua concepção original, Danvers tinha plenas condições de um dia se tornar protagonista de sua própria revista; quando ela começou a ser apenas a mocinha apaixonada em perigo, entretanto, ele percebeu que isso não aconteceria se ela também não tivesse algum tipo de superpoder. Assim, na revista Capitain Marvel número 18, de novembro de 1969, ele começaria a estabelecer as bases para o surgimento de uma nova heroína: nessa história, o Coronel Yon-Rogg, arqui-inimigo do Capitão Marvel, descobre o interesse do herói por Danvers, e a sequestra para atraí-lo para uma armadilha. Yon-Rogg planeja derrotar o Capitão Marvel usando um dispositivo criado pela raça alienígena Kree (à qual ele mesmo e o Capitão Marvel pertencem), chamado Psyche-Magnitron, que tem o poder de transformar pensamentos em realidade. Durante o confronto, porém, o Psyche-Magnitron sobrecarrega, ficando a ponto de explodir. Para salvar Danvers, o Capitão Marvel usa seu próprio corpo como escudo, mas a radiação emitida pela explosão atinge o casal, e, aliada ao pensamento de Danvers de que queria ter poderes para poder ajudar o herói em sua luta, transfere parte dos poderes do Capitão Marvel para Danvers, transformando-a em um híbrido de humano e Kree.
Esse artifício não seria explorado de pronto, porém. Danvers ainda seria uma personagem coadjuvante nas histórias do Capitão Marvel - sem demonstrar quaisquer poderes - até o final da década de 1970, quando o roteirista Gerry Conway, então editor-chefe da Marvel, decidiria que era hora de criar um título protagonizado por uma super-heroína forte e independente, para aproveitar a popularidade crescente do feminismo. Conway planejava criar uma nova personagem, que se tornaria a mais poderosa super-heroína Marvel, capaz de enfrentar de igual para igual qualquer vilão da editora, fosse usando sua força, fosse usando sua inteligência. Entretanto, ao perceber que já tinha uma pronta - afinal, Danvers já era uma mulher forte, independente e à frente de seu tempo lá quando foi criada em 1968, e já tinha até mesmo uma história de origem jamais explorada - ele optaria por, ao invés de criar uma nova, promover Danvers de coadjuvante a protagonista, e dar a ela sua própria revista.
Como Danvers era associada ao Capitão Marvel, Conway decidiria dar a ela o codinome de Miss Marvel - "miss", abreviado "ms.", e que significa "senhorita", era uma palavra fortemente ligada ao movimento feminista da época, pois é usada para se referir a uma mulher solteira - e fazer de seu uniforme uma variação do uniforme do Capitão Marvel, com as mesmas cores e um emblema parecido. Como Miss Marvel, Danvers tinha superforça, era praticamente invulnerável, resistente à maioria dos venenos e toxinas, era capaz de voar, e ainda possuía uma espécie de sexto sentido, que a alertava quanto a perigos imediatos, como o sentido de aranha do Homem-Aranha.
A estreia da nova personagem se daria na revista Ms. Marvel número 1, lançada em janeiro de 1977, e suas histórias realmente seriam feministas e progressistas - quando não estava combatendo o crime, Danvers lutava pela igualdade salarial e de tratamento entre homens e mulheres no trabalho, por exemplo. Como nem tudo é perfeito, porém, o primeiro uniforme da Miss Marvel a deixava com a barriga e as pernas de fora, mesmo sendo o do Capitão Marvel, no qual fora inspirado, inteiro.
Conway seria o responsável pelos roteiros das duas primeiras edições de Ms. Marvel, com a arte ficando a cargo de John Buscema; a partir da terceira edição, porém, os roteiros seriam assumidos por Chris Claremont, que escreveria histórias bastante elogiadas pela crítica para a personagem. Seu uniforme ainda incomodava as feministas, entretanto, e, quando Dave Cockrum assumiu os desenhos, na edição 20, ele decidiria mudá-lo, criando o uniforme icônico da personagem: um maiô azul-escuro com um raio amarelo, botas e luvas longas, máscara domino (aquela que cobre apenas os olhos) e uma faixa vermelha amarrada na cintura.
Infelizmente, as histórias de Miss Marvel podiam ser um sucesso de crítica, mas não cativaram o público, com a revista tendo vendas baixas desde a primeira edição. Isso faria com que ela fosse cancelada em abril de 1979, após apenas 23 edições, e no meio de uma saga - que acabaria sendo concluída somente em 1992, na segunda versão da revista Marvel Super-Heroes, em suas edições 10 e 11.
Mesmo com o cancelamento da revista, porém, a Marvel ainda queria investir na personagem, e decidiu colocá-la como membro dos Vingadores. Assim, ao longo de 1979 e 1980, ela apareceria não somente na revista Avengers como parte da equipe, mas também faria participações especiais nas revistas Defenders, The Amazing Spider-Man, The Thing e Iron Man, lutando ao lado de seus protagonistas. O roteirista David Michelinie, porém, tomaria uma decisão controversa: na edição 199 de Avengers, publicada em setembro de 1980, Miss Marvel aparececeria grávida, e sem saber quem seria o pai de sua criança. Mais que isso, na edição seguinte, a 200, toda a gestação aconteceria em apenas três dias ao invés de nove meses, e, pouco depois de nascida, a criança já estaria um adulto, chamado Marcus, capaz de falar e construir máquinas complexas. Pior que isso, após o mistério se resolver, na própria edição 200, Miss Marvel ficaria presa no Limbo - não no sentido figurado, de os roteiristas pararem de usá-la, mas no literal, com a personagem sendo aprisionada em uma dimensão paralela chamada Limbo. Seja como for, o efeito foi o mesmo: Miss Marvel passaria um longo tempo sem aparecer em qualquer revista da Marvel.
Miss Marvel ficaria no Limbo por pouco menos de um ano, e sairia de lá pelas mãos de um dos principais críticos da história de Michelinie, Chris Claremont, que praticamente pegaria a personagem para si: na revista Avengers Annual 10, de agosto de 1981, Miss Marvel consegue escapar do Limbo usando tecnologia criada pelo vilão Immortus, mas é atacada pela mutante Vampira, que, na época, não era membro dos X-Men, e sim uma vilã, e fazia sua estreia exatamente nessa revista. Vampira, para quem não sabe, tem o poder de "roubar" temporariamente os poderes de outros mutantes através do contato físico - ao tocar em outro mutante, ela passa a ter os mesmos poderes que ele por um breve período de tempo, durante o qual o outro mutante fica enfraquecido e incapaz de agir. Como Miss Marvel é tecnicamente uma mutante, mas não do mesmo tipo que Vampira, ao tocá-la, Vampira absorveria seus poderes permanentemente, se tornando invulnerável, superforte e capaz de voar. Miss Marvel, por outro lado, perderia seus poderes, e ainda ficaria com amnésia.
Após esse evento traumático, Miss Marvel voltaria a ser apenas Carol Danvers, e se tornaria personagem coadjuvante dos X-Men, aparecendo regularmente na revista The Uncanny X-Men - da qual, na época, Claremont era responsável pelos roteiros - começando pela edição 150, de outubro de 1981. Após o Professor X restaurar suas memórias, ela se tornaria piloto do jato dos X-Men e uma espécie de oficial de inteligência da equipe. Durante uma de suas aventuras acompanhando os X-Men, ela seria capturada pela raça alienígena conhecida como Ninhada, que, percebendo que ela é um híbrido de humano e Kree, decide fazer experimentos genéticos em seu corpo. Um desses experimentos acaba liberando todo o potencial dos genes Kree, transformando Danvers em um ser feito de energia estelar e capaz de controlar o poder de uma estrela. Ao receber esses novos poderes, ela decide se tornar mais uma vez uma super-heroína, e adota para si o codinome de Binária.
Como Binária, Danvers podia acessar a energia de um corpo celeste (fictício) chamado "buraco branco", o que dava a ela controle total sobre as energias estelares, sendo capaz de manipulá-las para viajar à velocidade da luz ou para controlar o calor, a gravidade e o espectro eletromagnético. Além disso, como ela era feita de energia estelar, podia sobreviver no vácuo do espaço. Binária faria sua estreia em The Uncanny X-Men 164, de dezembro de 1982, mas, ao invés de se unir aos X-Men, ela optaria por viajar pelo espaço junto com os Piratas Espaciais, o que fez com que suas aparições nas histórias diminuísse; ainda assim, ao longo da década de 1980, ela viveria aventuras junto aos X-Men, aos Novos Mutantes, à equipe de mutantes britânica Excalibur, e até estrelaria uma história solo, na revista Marvel Fanfare 24, de janeiro de 1986.
Danvers voltaria a se encontrar com os Vingadores na saga Operação Tempestade Galáctica, que se desenrolou pelas edições das revistas Avengers, Avengers West Coast, Captain America, Iron Man, The Mighty Thor, Quasar e Wonder Man publicadas em março, abril e maio de 1992. Em uma referência à Operação Tempestade no Deserto, durante a qual os Estados Unidos intervieram na invasão do Kuwait pelo Iraque em 1991, os Vingadores decidem intervir em uma guerra entre os Kree e o Império Shi'ar, com a participação de vários personagens cósmicos da Marvel, dentre eles, Binária.
Já no final da saga, na revista Quasar 34, de maio de 1992, os Kree tentam explodir o Sol, e Binária faz um esforço supremo para impedi-los, exaurindo seus poderes. Para preservar o que restou deles, ela decidiria voltar para a Terra, e passaria a fazer várias participações na revista Avengers. Após algum tempo, ela perderia sua ligação com a energia do buraco branco, e reverteria à sua forma humana, mas voltando a ter todos os poderes que tinha quando era Miss Marvel, mais a capacidade de sobreviver no vácuo do espaço e de absorver energia solar e liberá-la na forma de um raio fotônico. Ela, então, decidiria se unir mais uma vez aos Vingadores, adotando o codinome de Warbird - pois Sharon Ventura, que ganhou superforça e invulnerabilidade ao ser exposta a raios cósmicos, e anteriormente era conhecida como Mulher-Coisa, já havia decidido adotar para si, na época, o codinome Miss Marvel. Warbird faria sua estreia na revista Avengers número 4, de maio de 1998 (a numeração da revista seria reiniciada do 1 após os eventos da saga Heróis Renascem, de 1996).
Parecia, entretanto, que Danvers estava condenada a jamais ter uma vida normal: durante seu tempo como Warbird, ela se tornaria alcóolatra, sucumbindo ao peso de ter perdido primeiro suas memórias, depois seus poderes cósmicos. Durante a saga Viva Kree ou Morra, de agosto de 1998, os Vingadores descobrem sobre seu alcoolismo, e, incapazes de fazê-la compreender que precisam dela sóbria, decidem desligá-la da equipe.
Danvers seria salva do alcoolismo por Tony Stark, ele mesmo um ex-alcóolatra. Curada, ela primeiro se tornaria membro da SHIELD - passando a usar um uniforme negro ao estilo militar que seria mais associado ao codinome Warbird que o uniforme tradicional de Miss Marvel que ela usou durante o curto tempo em que fez parte dos Vingadores pela segunda vez - e depois passaria a trabalhar com o governo norte-americano, sendo selecionada para atuar como oficial de condicional da equipe de supervilões a serviço do governo conhecida como Thunderbolts. Nessa época, além de participações nas revistas Avengers e Thunderbolts, ela ainda participaria de histórias na Iron Man e na Wolverine.
Danvers voltaria a ser Miss Marvel em 2006, após os eventos da saga Dinastia M, de 2005. Nessa saga, a Feiticeira Escarlate usa seus poderes para alterar a realidade, fazendo com que todos os heróis tenham tudo o que sempre sonharam - Peter Parker é casado com Gwen Stacy, e o Capitão América não ficou congelado e envelheceu normalmente, por exemplo. Nessa realidade, Danvers é uma heroína-celebridade, adorada pelo público e extremamente segura em relação a sua personalidade e a seus poderes.
Quando a realidade "normal" é restaurada, Danvers, uma das poucas capazes de se lembrar da realidade alternativa, se dá conta de que só depende dela mesma para ser uma heroína bem-sucedida e respeitada. Ela decide, então, retornar ao antigo uniforme e ao antigo nome de Miss Marvel, e a aceitar o convite do Capitão América para fazer parte da equipe dos Novos Vingadores. Nessa época, ela seria protagonista de duas revistas, New Avengers, a partir da edição 15, de março de 2006, e a segunda versão da revista Ms. Marvel, lançada em maio do mesmo ano. Essa segunda versão seria bem melhor sucedida que a primeira, durando 50 edições até abril de 2010, quando seria descontinuada não por baixas vendas, mas como parte de um planejamento a longo prazo da Marvel.
Antes disso, Miss Marvel teria papel fundamental na saga Guerra Civil, que durou de julho de 2006 a janeiro de 2007, se tornando uma das principais defensoras da Lei do Registro de Super-Heróis ao lado do Homem de Ferro e contra os rebeldes liderados pelo Capitão América - o que faria com que ela deixasse os Novos Vingadores e se tornasse uma das líderes, ao lado da Mulher-Aranha, dos Poderosos Vingadores, protagonizando a revista The Mighty Avengers a partir do número 1, de maio de 2007. Ela retornaria aos Novos Vingadores na edição 48 de New Avengers, de outubro de 2008, após os eventos da saga Invasão Secreta, durante a qual Skrulls assumiram a forma de vários heróis Marvel e tentaram causar o colapso da sociedade.
No final da década de 2000, Danvers já era a principal heroína da Marvel, tendo papel fundamental em todas as principais sagas e arcos de história, e sendo uma das principais responsáveis pela derrota dos Vingadores Sombrios, uma equipe de supervilões liderada por Norman Osborn - também conhecido como Duende Verde - e que procurava emular os Vingadores originais, tendo, inclusive, a vilã Rocha Lunar como uma versão distorcida da Miss Marvel, usando o uniforme original azul e vermelho da heroína, e que seria derrotada por Danvers após uma batalha épica.
Após os eventos da saga Avengers vs. X-Men, na qual a entidade Fênix retorna e os Vingadores tentam detê-la, o Capitão América sugeriria a Danvers que ela passasse a adotar o codinome Capitã Marvel - como detalhe, vale citar que, em inglês, patentes militares não possuem masculino e feminino, então seu codinome seria Captain Marvel, justamente como o do Capitão Marvel pelo qual ela fora apaixonada. Com o novo codinome e um novo uniforme, ela seria a protagonista da nova revista Captain Marvel, escrita por Kelly Sue DeConnick e desenhada por David Lopez, que estrearia em setembro de 2012. Curiosamente, essa revista teria vida curta, durando apenas 17 edições e sendo cancelada em janeiro de 2014, mas seria relançada com a numeração recomeçando do 1 em maio de 2014 como parte do selo Marvel NOW!, sendo publicada até hoje - e já contando com 15 edições.
Como Capitã Marvel, Danvers também continuaria a ser membro dos Vingadores, nas revistas Avengers e Avengers Assemble, sendo que, nas edições 16 e 17 dessa última, publicadas em agosto e setembro de 2013, ela confrontaria Yon-Rogg. Após essa batalha, ela deixaria os Vingadores, e, em julho de 2014, se uniria aos Guardiões da Galáxia, voltando a viajar pelo espaço e a viver aventuras junto a personagens cósmicos.
Hoje, Danvers é a principal aposta feminina da Marvel - traçando um paralelo, é como se a editora planejasse transformá-la em sua Mulher Maravilha - tanto que já foi escolhida para protagonizar o primeiro filme do estúdio centrado em uma figura feminina, previsto para estrear em 2018. Ainda não foi escolhida qual atriz a interpretaria, mas, levando-se em conta o histórico da personagem, pode-se argumentar que é uma grande responsabilidade.
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