Thor não é um super-herói qualquer: antes de entrar para o time da Marvel, ele já era bem conhecido, já que é, também, o deus nórdico dos trovões, raios, tempestades, da força e da cura, protetor da raça humana e dos carvalhos. Assim como os gregos e os egípcios, os povos nórdicos da antiguidade (equivalentes aos dinamarqueses, suecos, noruegueses, faroeses e islandeses de hoje) também possuíam seu próprio panteão de deuses, que usavam para explicar os fenômenos da natureza e contar histórias sobre a criação do mundo e a aurora da humanidade - embora, pela descrição das funções de Thor, parece que lá os deuses costumavam acumular funções.
A ideia de usar um deus da antiguidade como super-herói veio - adivinhem - de Stan Lee, na época editor da Marvel Comics. Segundo Lee, logo após criar o Hulk, ele ficou com uma pergunta na cabeça: como fazer alguém mais forte do que a pessoa mais forte do mundo? Alguns dias depois, veio à sua mente a resposta: simples, não faça uma pessoa, mas um deus.
Stan Lee pensou em lançar Hércules como herói, mas, em sua opinião, o público já estava bem familiarizado com a mitologia greco-romana, o que poderia fazer com que o interesse no personagem fosse baixo. Seria bem mais divertido usar um personagem das lendas nórdicas, bem menos conhecidas do grande público, e que, devido à imagem comum que se tem dos nórdicos - vikings de longos cabelos e barbas, usando machados e martelos como arma, chapéus com chifres e asas, navegando em grandes navios, bebendo e lutando grandes batalhas - cairiam como uma luva na revista Journey into Mystery, que precisava de um novo personagem para alavancar suas vendas.
Após alguma pesquisa, Lee decidiria usar Thor, criando para ele uma história capaz de explicar por que um deus nórdico da antiguidade decidiu viver aventuras entre os mortais da década de 1960. Como tinha compromissos que impossibilitavam que ele mesmo assumisse os roteiros, ele delegou essa tarefa a seu irmão, Larry Lieber, chamando para desenhar as aventuras do deus do trovão seu parceiro habitual Jack Kirby. Tudo acertado, Thor faria sua estreia na Journey into Mystery número 83, em agosto de 1962.
No Universo Marvel, Thor é um deus arruaceiro e irresponsável, o que faz com que seu pai, Odin, decida puni-lo. Apagando sua memória e removendo seus poderes divinos, Odin o envia à Terra no corpo do estudante de medicina manco Donald Blake, para que Thor aprenda a ser humilde e a respeitar os outros. Somente após aprender sua lição é que ele poderá reencontrar Mjölnir, o martelo sagrado que Thor usa como arma, com o qual recuperará sua memória e poderes.
O reencontro ocorre logo após Blake se formar em medicina, durante uma viagem para a Noruega, durante a qual ele presencia uma invasão alienígena. Buscando abrigo em uma caverna próxima, Blake encontra o Mjölnir, e, ao tocá-lo, se transforma mais uma vez em Thor, usando seus poderes para derrotar os invasores. Após a batalha, tendo aprendido sua missão, Thor decide permanecer na Terra, vivendo como Donald Blake e cuidando dos doentes ao lado de sua enfermeira - e, posteriormente, interesse amoroso - Jane Foster, e usando seus poderes divinos para proteger a humanidade sempre que necessário.
Mas nem tudo será fácil na vida de Thor: sua presença em meio aos humanos acabaria chamando a atenção de seu meio-irmão, o invejoso Loki, deus das ilusões, trapaças e mentiras (sério, por que alguém precisaria de um deus para ilusões, trapaças e mentiras?), que pensava que Thor jamais retornaria a seu status divino, e pretende eliminá-lo para confirmar esse pensamento. Loki passa a vir repetidas vezes à Terra para enfrentar o irmão, e se torna diretamente responsável pela origem de vários dos vilões enfrentados pelo deus do trovão, como o Homem-Absorvente (talvez a pior tradução de nome de personagem em quadrinhos da história da humanidade) e o Destruidor. O ódio de Loki, aliás, seria responsável pela formação dos Vingadores, já que foi se plano de colocar o Hulk contra Thor que resultou na reunião dos heróis.
Ao contrário do que se imagina, Thor não é imortal, mas, como todos os asgardianos, ele é imensamente resistente a dano físico, imune a doenças terrenas e muito longevo - já está vivo há milhares de anos. Thor também possui enorme força física e sentidos aguçados, mas essas são características suas, não de seu povo. Com sua arma, o martelo Mjölnir, ele pode conjurar raios, chuva, vento e neve, realizar proezas como rebater balas atiradas contra ele e erguer objetos muito maiores que sua força permitiria, e até mesmo voar, girando o martelo e "arremessando-o" sem soltar o cabo, usando a inércia como impulso. Assim como o escudo do Capitão América, o martelo de Thor é bumerangue, retornando para a sua mão quando arremessado, e pode ser "chamado" de longas distâncias, saindo de onde estiver e voltando até sua mão. Somente os merecedores podem usar o Mjölnir; os demais, se tentarem erguê-lo, descobrirão que ele parece preso à superfície onde está, sendo irremovível - até mesmo o Hulk já tentou erguê-lo e falhou. Além de no uso do martelo, Thor é treinado no manejo da espada, do machado de combate e da maça, e é um grande combatente corpo a corpo.
Thor fez um imenso sucesso, o que motivou Stan Lee a investir cada vez mais na mitologia nórdica, criando a seção Tales of Asgard ("histórias de Asgard"), cinco páginas dedicadas a aventuras vividas em Asgard, o local onde vivem os deuses nórdicos, que estrearia na Journey into Mystery 97, de outubro de 1963. A seção seria bem aceita, o que faria com que o próprio Thor passasse a também viver aventuras em Asgard, nas quais enfrentaria não somente Loki, mas também o demônio Surtur, o gigante Skagg, e se colocaria contra seu próprio pai, Odin, ao enfrentá-lo em nome de seu amor pela Terra e por Jane Foster. Jane, aliás, frequentemente se via no meio de encrenca, já que Thor tinha duas outras pretendentes: a deusa da fertilidade Sif, com quem Odin desejava que ele se casasse, e a feiticeira Encantor, apaixonada pelo deus do trovão e disposta a fazer qualquer coisa para se casar com ele.
O sucesso de Thor era tão grande que a própria Journey into Mystery mudaria de nome - mas manteria a numeração - passando, na edição 126, de março de 1966, a se chamar The Mighty Thor ("o poderoso Thor"; não sei se vocês já repararam, mas todos os principais heróis Marvel têm um adjetivo antes de seu nome no título de suas revistas), trazendo, desde então, apenas aventuras do deus do trovão. Logo na primeira revista com seu nome na capa, Stan Lee expandiria seu foco na mitologia, introduzindo Hércules e um monte de outros personagens greco-romanos - primeiro Thor e Hércules se enfrentam, depois se tornam amigos, e Thor tem de salvar Hércules das garras de Plutão, que planeja derrotá-lo e dominar o Olimpo. Mesmo quando não vivia aventuras mitológicas, as histórias de Thor eram cada vez mais grandiosas, com o deus do trovão enfrentando oponentes como Ego, o Planeta Vivo, e o Alto Evolucionário, que buscava criar a forma de vida perfeita.
Logo no início da década de 1970, Kirby deixaria a revista, sendo substituído primeiro por Neal Adams e logo depois por John Buscema, que a desenharia praticamente até o final da década, quando foi substituído por Keith Pollard. Lee também deixaria os roteiros logo depois da saída de Kirby, deixando-os a cargo de Gerry Conway, Len Wein e Roy Thomas. Nessa época, Thor praticamente não vinha à Terra, vivendo todas as suas aventuras em Asgard, inclusive a maior de todas, quando ajudou Odin e derrotar os Celestiais e evitar a morte de todos os deuses nórdicos. Thor, porém, continuava membro dos Vingadores, e, na revista do grupo, os ajudaria a enfrentar grandes vilões como Graviton, Ultron, Conde Nefária e Korvac.
No início da década de 1980, Thor sofreria uma brusca queda de popularidade, mas se recuperaria com a chegada de Walt Simonson, que assumiria tanto os roteiros quanto os desenhos na edição 337, de novembro de 1983. A "Era Simonson", que duraria até a edição 367, de maio de 1986 - embora Simonson ainda seguisse como roteirista eventual até meados de 1987 - é considerada a Era de Ouro do personagem, com grandes histórias clássicas vividas na Terra, nas quais enfrentaria os arautos de Galactus, o demônio Mefisto, o dragão Fafnir, e até mesmo Drácula; e viveria uma saga para limpar seu nome após ser injustamente acusado de traição por seu irmão Tyr, o deus da guerra. Simonson também criaria um dos personagens coadjuvantes mais famosos da revista, o alienígena Bill Raio Beta, de aparência monstruosa mas coração bondoso, que, após provar ser digno de usar o Mjölnir, é recompensado por Odin com poderes semelhantes aos de Thor, e ajuda os asgardianos em uma grande batalha contra um exército de demônios liderado por Surtur. Sob a batuta de Simonson, Thor também enfrentaria um de seus inimigos mais famosos, Malekith, o Maldito, líder dos elfos negros de Svartalfheim, que acabaria traído por seu principal general, Kurse.
Após a saída de Simonson, Tom DeFalco e Ron Frenz assumiriam a revista, tomando uma das decisões mais controversas da história do personagem: amaldiçoado por Hela, deusa da morte e governante do mundo dos mortos, Thor vê seus ossos se tornarem frágeis e incapazes de se curar se quebrados, e passa a ter de usar uma armadura para evitar que isso aconteça. Mais controversamente ainda, Thor e Loki se tornariam aliados, com o deus da trapaça salvando a vida do deus do trovão após enviar o Homem-Absorvente para matá-lo, e os dois irmãos lutando juntos contra os Gigantes do Gelo de Jotunheim em uma batalha que culminou com Thor enfrentando a serpente gigante Jormungand - pelo menos, após Thor vencer, Loki obriga Hela a remover a maldição, retornando seus ossos ao estado normal.
No início da década de 1990 a relação entre os irmãos azedaria de vez, e Thor mataria Loki, sendo banido por Heimdall, deus do conhecimento, que tudo vê e de tudo sabe, como castigo. Para que a Terra não fique sem um protetor, Heimdall escolhe Eric Masterson, um personagem coadjuvante criado por DeFalco em 1988, para receber os poderes do deus do trovão, transformando-o em Thunderstrike, novo protagonista da revista até Odin perdoar Thor e ele retornar. Thunderstrike continuaria com seus poderes até um arco de história no qual ele enfrenta o deus egípcio Set e se sacrifica para destruí-lo.
Em 1996, Thor seria um dos heróis Marvel escolhidos para o projeto Heróis Renascem, no qual alguns heróis seriam removidos da cronologia normal do Universo Marvel e teriam suas origens recontadas "na época atual" por dois dos mais famosos artistas dos quadrinhos da época, Jim Lee e Rob Liefeld. Mas, diferentemente do Capitão América e do Homem de Ferro, outros dois selecionados, Thor não teria uma revista própria, vivendo suas aventuras apenas como parte dos Vingadores, na revista do grupo. O projeto não faria muito sucesso, e duraria apenas um ano; durante esse período, a revista The Mighty Thor, começando com a edição 503, voltaria a se chamar Journey into Mystery, e traria histórias do Mestre do Kung Fu, da Viúva Negra e do detetive sobrenatural Hannibal King. A revista continuaria sendo publicada mesmo após o fim do Heróis Renascem, só sendo cancelada na edição 521, em junho de 1998.
O Heróis Renascem terminaria em novembro de 1997, mas Thor só voltaria a ter sua própria revista, chamada simplesmente Thor, em julho de 1998, mês seguinte ao do cancelamento de Journey into Mystery. Essa nova revista, inicialmente, não seguiria a numeração original, recomeçando do número 1; na edição 36, entretanto, a Marvel decidiria retomar a numeração original, mas sem interromper a nova, o que fez com que cada revista, a partir de então, tivesse dois números - o número da 36, por exemplo, era 36/538.
Nessa nova fase, a revista teve como roteiristas Dan Jurgens e Michael Avon Oeming, e como desenhistas John Romita Jr, Erik Larsen, Andy Kubert, Stuart Immonen, Joe Bennett, Paco Medina, Scot Eaton e Tom Raney. A nova história começa com a morte de Odin em uma batalha contra Surtur e a coroação de Thor como novo governante de Asgard. Ele aparentemente enlouqueceu com o poder, pois ordenou os demais deuses a perseguir e destruir qualquer um que se opusesse a eles, inclusive o governo dos Estados Unidos e os Vingadores. Thor se casou com Encantor e teve um filho, Magni, que o mostrou o quanto ele estava errado. Sufocado pela culpa, Thor desfez tudo com uma viagem no tempo, o que conseguiu usando o Mjölnir para viajar mais rápido que a luz. Após essa confusão, Thor descobriu que, assim como ele estava vivendo no corpo de Donald Blake quando Odin o enviou para a Terra da primeira vez, outros deuses asgardianos também viviam nos corpos de mortais, e decidiu encontrá-los e despertá-los.
Alguém na Marvel deve ter decidido que essa história já estava confusa demais, pois, em setembro de 2007, resetaram a revista, recomeçando do número 1, com roteiro de J. Michael Straczynski e arte de Olivier Coipel. Reassumindo sua identidade secreta de Donald Blake e retomando seu lugar junto aos Vingadores, Thor conseguiria restaurar os demais asgardianos, descobriria que um clone seu foi criado durante os eventos da saga Guerra Civil, e participaria da saga Invasão Skrull, no qual os alienígenas planejavam assumir a forma de pessoas importantes de nosso planeta para dominá-lo.
Assim como fizeram com o Capitão América, na revista que corresponderia ao número 600 caso a numeração não tivesse sido reiniciada a Marvel decidiu retomar a numeração original, o que fez com que, depois do número 12, viesse o número 600, lançado em abril de 2009. Straczynski seria substituído por Kieron Gillen e Matt Fraction, e Coipel por Billy Tan, Marko Djurdjevic, Doug Braithwaite e Pasqual Ferry. Nessa nova fase, Thor ajudou a refundar os Vingadores, resgatou Hércules de um universo pararelo, impediu que uma força cósmica destruísse os Nove Mundos, morreu, foi substituído pelo vilão Ulik, voltou, derrotou Ulik e liderou os Vingadores em uma batalha contra a Fênix. Atualmente, ele faz parte dos Uncanny Avengers, junto com Capitão América, Feiticeira Escarlate, Destrutor, Vampira e Wolverine.
Além de nos quadrinhos, Thor já apareceu em diversas outras mídias, como desenhos animados, filmes e jogos de videogame, começando por aquele desenho nada animado da década de 1960, passando pelo filme O Retorno do Incrível Hulk, pelos desenhos Marvel da década de 1990 - quando fez participações especiais nos desenhos do Quarteto Fantástico e do Hulk - e pelo game Marvel vs. Capcom 3, primeiro da série no qual é um personagem selecionável pelo jogador.
Em 2011, como parte da série de filmes produzida pela Marvel que culminaria com o filme dos Vingadores, foi produzido um filme do Thor, que trouxe Chris Hemsworth como o deus do trovão, Natalie Portman como Jane Foster, Tom Hiddleston como Loki e Anthony Hopkins como Odin. O filme conta a origem clássica do personagem, com Thor sendo banido por Odin para a Terra por ser arruaceiro e irresponsável, e tendo de provar seu valor para poder retomar seus poderes divinos. As principais diferenças são que ele não perde sua memória, não assume a identidade de Donald Blake - bem, quase - e Jane não é enfermeira, mas uma cientista que pesquisa a vida fora da Terra, e vê na existência de Asgard a resposta para muitas de suas perguntas. Loki, por outro lado, aproveita a ausência do irmão para tentar destronar o pai. Vale citar que o filme é dirigido por Kenneth Branagh, o que deixou alguns fãs apreensivos quanto ao resultado final.
Thor, evidentemente, também participa do filme dos Vingadores, lançado esse ano, assim como Loki, vilão responsável por unir a equipe, como nos quadrinhos. O sucesso de ambos os filmes já levou a Marvel a começar a produzir uma continuação, Thor: The Dark World, dirigida por Alan Taylor e com estreia prevista para novembro do ano que vem. Nesse novo filme, Thor enfrentará Malekith, interpretado por Christopher Eccleston, e seus elfos negros. Dizem os rumores que Encantor também estará no filme, seduzindo Thor para que ele abandone Jane.
Mas quem eu queria mesmo ver em um filme do Thor era o Bill Raio Beta.
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