O curling, para quem não sabe ou não está ligando o nome à pessoa, é o famoso "esporte das vassourinhas", que se tornou extremamente popular justamente após as últimas Olimpíadas de Inverno - e não só no Brasil; muitos outros países que pouco haviam ouvido falar no esporte passaram a apreciá-lo após o destaque dado pela imprensa ao evento, fruto da paixão dos canadenses pelo curling, considerado por muitos o segundo esporte mais popular de lá, ficando atrás apenas do hóquei no gelo. Embora talvez um pouquinho atrasado, o átomo deixa hoje sua singela contribuição para o aumento da popularidade do curling, na forma desse post!
O jogo de curling requer três equipamentos indispensáveis, a começar pela pedra. Que é uma pedra mesmo, feita de granito, exceto por uma alça colorida na parte de cima, feita de plástico, cerâmica, fibra de vidro, fibra de carbono ou outro material semelhante. Além de para segurar a pedra, a alça serve para identificar o time, com cada time usando pedras com alças de uma determinada cor - em torneios internacionais, essas cores são sempre amarelo e vermelho, mais fáceis de serem identificadas pelo público, tanto no ginásio quanto pela televisão, mas em torneios entre clubes ou amadores podem ser usadas alças de outras cores. Tradicionalmente, as pedras de curling eram feitas de dois tipos de granito específicos, conhecidos como Blue Hone e Ailsa Craig Common Green, sendo o Blue Hone de melhor qualidade; o problema é que esses dois tipos de granito só são encontrados em um único lugar do planeta, a ilha de Ailsa Craig, na Escócia, que, em 2002, foi declarada reserva ambiental, o que fez com que a Kays of Scotland, fabricante exclusiva de pedras de curling desde 1851, ficasse proibida de continuar extraindo o granito. A Kays of Scotland ainda tem um enorme estoque da rocha - segundo eles, o suficiente para fabricar pedras de curling até 2020 - mas, com a escassez do granito e o aumento dos preços, suas pedras passaram a ser utilizadas apenas nas Olimpíadas e em campeonatos de grande importância, como o Mundial, o europeu e o canadense. Pedras de outros campeonatos, de clubes, e vendidas diretamente ao público são fabricadas pela Canada Curling Stone Corporation, que explora uma pedreira ao norte do País de Gales, de onde extrai um granito conhecido como Trefor. O Trefor não é tão bom quanto o Blue Hone, mas dá pro gasto.
Seja lá de que granito for feita, uma pedra de curling é polida até ficar parecida com um pneu, para facilitar seu deslizamento. Cada pedra deve ter circunferância máxima de 91 cm, altura mínima de 11 cm e pesar entre 17 e 20 Kg - com todas as pedras de uma mesma partida devendo ter o mesmo peso, com uma tolerância de 300 g. Com a ajuda de um parafuso, na parte de cima da pedra é afixada a alça; cada alça traz um número de 1 a 8, que é também o número da pedra, embora pedras reserva - usadas na rara ocasião em que uma pedra se quebra durante uma partida - possam não ter número. A parte de baixo da pedra, oposta à alça, é conhecida como superfície de contato, e conta com um anel polido, de entre 6,3 e 13 mm de espessura e 13 cm de diâmetro, que correrá sobre o gelo conforme a pedra se movimenta.
Mas o equipamento mais famoso do curling não são as pedras, e sim as vassourras. Originalmente feitas de palha de milho e com cabo de madeira, as vassouras modernas são de tecido, pelo de porco ou crina de cavalo, e têm cabos ocos feitos de fibra de vidro ou fibra de carbono, aos quais é normalmente acoplado um cronômetro, usado pelos jogadores para medir a velocidade de cada pedra. A principal função das vassouras é varrer o gelo pelo qual a pedra deslizará, alterando sua velocidade e trajetória. Os jogadores que manipulam as vassouras podem usar luvas especiais para esse fim, que garantem maior aderência, embora esse equipamento não seja obrigatório. Por outro lado, é obrigatório que os jogadores tenham a vassoura em mãos todo o tempo em que estiverem dentro da área de jogo, inclusive durante o lançamento das pedras; durante o lançamento, entretanto, os jogadores são autorizados a segurar, ao invés da vassoura, um apoio especial, que se parece com um cabide.
Finalmente, o terceiro equipamento indispensável são os sapatos. Sapatos de curling possuem solas especiais - e diferentes em cada um dos pés: a sola do pé de apoio na hora do lançamento da pedra é feita de uma borracha especial, antideslizante, enquanto a sola do outro pé é feita de teflon ou aço inox, justamente para que o jogador deslize sobre o gelo com ele, como se fosse um patim. Ambas as solas têm a mesma espessura, mas a do pé de apoio se prolonga até o bico do sapato, para evitar desgaste do couro - de que é feito o restante do sapato - já que o bico desliza no gelo durante o lançamento. Para andar sobre superfícies que não sejam o gelo sem estragar os sapatos, os jogadores contam com protetores de PVC, que são encaixados sob as solas.
O curling é disputado em uma pista conhecida em inglês como curling sheet (a "folha de curling"). Essa pista tem entre 45 e 46 metros de comprimento por entre 4,4 e 5 metros de largura, e é cercada por uma mureta de madeira, plástico, fibra de vidro ou outro material semelhante, de 20 cm de altura. A mureta serve para evitar que as pedras saiam da pista, mas, para todos os efeitos, uma pedra que tenha tocado a mureta é considerada "fora". A pista, assim como um rinque de patinação, é coberta por uma superfície de gelo, que pode ser natural, mas é preferencialmente criada por um compressor, usando modernas técnicas para que se mantenha no mesmo estado durante toda a partida, sem favorecer ou prejudicar um time ou outro devido a alterações no gelo. Preferencialmente, o gelo deve estar sempre a -5oC, e não deve ser totalmente liso: após uma primeira camada de gelo se formar, água é salpicada sobre ela para congelar e formar um "crespinho". Essas pequenas partículas de gelo é que são as responsáveis pelo movimento curvo da pedra, e elas é que são "varridas" para alterar a trajetória ou velocidade da mesma.
De cada lado da pista é pintado, sob o gelo, um "alvo", conhecido como casa. A "mosca" desse alvo, ou seja, seu círculo mais interior, tem 30 cm de diâmetro, e é conhecido como botão. Ao redor do botão são traçados mais três círculos concêntricos de cores diferentes, respectivamente com 1,20 m, 2,40 m e 3,65 m de diâmetro, cujos nomes vêm dos equivalentes dessas medidas em pés: círculo de 4 pés, círculo de 8 pés e círculo de 12 pés. A razão pela qual há uma casa de cada lado da pista é que, no caso de várias partidas serem realizadas no mesmo dia, pode-se alternar a direção na qual as pedras serão lançadas, evitando-se um desgaste muito grande do gelo.
O centro de cada botão é cortado, no sentido da largura da pista, por uma linha paralela à linha de fundo, conhecida como tee line (a "linha T"), e traçada a 4,9 m da linha de fundo. A 3 metros da linha de fundo, tocando o limite do círculo de 12 pés, é traçada uma outra linha, a back line, que, para todos os efeitos, delimita a pista, ou seja, pedras que passarem por ela terão ido "pra fora". Finalmente, a 11 metros da linha de fundo é traçada uma linha conhecida como hog line, com funções importantes que veremos adiante. No sentido do comprimento da pista é traçada uma única linha, a centre line, que divide a pista bem no meio. A centre line não toca as linhas de fundo; ela termina a 1,22 metros de cada uma, na imaginária hack line, onde são afixados os hacks, suporte para os pés do lançador para quando ele for lançar as pedras.
Uma partida de curling pode ser dividida em 10 ou 8 ends - partidas internacionais sempre duram 10 ends, mas partidas entre clubes e amadoras podem durar 8. Em cada end, cada equipe lança 8 pedras. O objetivo é terminar o end com suas pedras mais próximas do botão do que as pedras do adversário. Para efeitos de pontuação, os diversos círculos da casa não têm qualquer função; cada pedra sua mais próxima do botão do que a mais próxima pedra do adversário vale um ponto - ou seja, se a pedra mais próxima é sua, a segunda mais próxima também, e a terceira mais próxima é do adversário, você marca dois pontos; se a pedra mais próxima é sua, e a segunda mais próxima é do adversário, você marca um ponto. Somente pedras que não tiverem "saído da pista" e que estiverem pelo menos tocando a casa contam para a pontuação - se, ao final do end, nenhuma pedra estiver tocando a casa, mesmo que haja outras pedras na pista, elas não contarão para a pontuação. Não é preciso que uma pedra "entre" na casa para ser considerada "tocando a casa", apenas que ela toque a linha exterior do círculo de 12 pés - por causa disso, uma pedra nessa situação é apelidada de "mordedora". Caso não seja possível determinar a olho nu qual pedra está mais próxima do botão, ou determinar se uma pedra esá realmente tocando o círculo de 12 pés, entra em ação um instrumento de precisão apelidado de "compasso", cuja agulha finca no centro do botão, onde a centre line se cruza com a tee line, e cujo braço mede a real distância entre as pedras, o botão e a casa.
Da equipe que lança a última pedra se diz que ela "tem o martelo". A posse do martelo para o primeiro end é determinada por sorteio, por um "pré-end" no qual cada equipe arremessa uma única pedra e ganha o martelo quem a colocar mais próxima do botão sem valer uma pedra tocar na outra, ou comparando o número de vitórias e derrotas de cada time, com o mais bem sucedido começando com o martelo. A partir do segundo end, a posse do martelo pertencerá sempre à equipe que não pontuou no end anterior - ou seja, se a equipe A fez um ponto no primeiro end, no segundo end o martelo será da equipe B - ou à mesma equipe que já tinha o martelo caso nenhuma das duas pontue. Ter o martelo é uma vantagem tática importante - afinal, sua equipe lançará a última pedra - de forma que a equipe que tem o martelo sempre tenta fazer no mínimo dois pontos - fazer um ponto só é arriscado porque, no end seguinte, você dará o martelo para o adversário. É comum, portanto, que, quando a equipe que tem o martelo não for conseguir fazer pelo menos dois pontos, prefira fazer com que nenhuma das duas pontue, mantendo o martelo para o end seguinte. Fazer pontos sem o martelo é difícil e importante, e conhecido como "roubar" os pontos.
Além da divisão por ends, a partida de curling tem uma duração máxima em minutos: cada equipe tem 73 minutos para fazer todos os seus lançamentos de todos os ends da partida. Esse tempo começa a correr assim que a padra do adversário para de se mover, e para de correr assim que a sua pedra para de se mover. Uma equipe que estoure o tempo perde automaticamente a partida, mesmo que estivesse ganhando no placar. Se, ao final do último end regulamentar, a partida estiver empatada, são jogados ends extras até que uma das equipes pontue; nesse caso, cada equipe terá 10 minutos para lançar suas 8 pedras em cada end extra.
Existem duas formas de se registrar o placar de uma partida de curling; a mais conhecida do público - a forma utilizada pelas transmissões pela TV, por ser a mais fácil de se perceber quem está ganhando - é a apelidada basebal-style, por usar um placar parecido com o do beisebol. No baseball-style, o placar tem três colunas, uma com os números dos ends, uma com os resultados de um time, e uma com os resultados do outro; a cada end, o placar registra quantos pontos cada time fez naquele end, e uma última coluna registra o resultado total.
A outra forma de registro do placar é a club-style, usada pelos clubes porque economiza plaquinhas com números. Nesse placar, a primeira coluna é a de um time, a coluna do meio tem números de 1 a 15, e a terceira coluna é a do outro time. Nas colunas dos times são colocados não quantos pontos o time fez naquele end, mas em que end o time fez aqueles pontos - ou seja, se no primeiro end o time A fez dois pontos, uma plaquinha "1" (end) é colocada na coluna "2" (pontos) do time A; no segundo end o time B faz um ponto, então a plaquinha "2" (end) é colocada na coluna "1" (ponto) do time B; no terceiro end, o time B faz mais dois pontos, então uma plaquinha "3" (end) é colocada na coluna "3" (1 ponto do segundo end + 2 pontos do terceiro end = 3 pontos) do time B, e assim por diante. Ends em que nenhuma das duas equipes pontuem não vão para o placar. Para saber quem ganhou, é só ver quem tem uma plaquinha na coluna do número mais alto.
Um costume curioso do curling é que se espera que a equipe que esteja perdendo sem condições de virar o jogo - tipo, por muitos pontos de diferença - desista da partida, apertando as mãos dos adversários e concedendo a vitória antecipadamente. Esse costume é curioso porque, ao contrário de outros esportes, essa desistência não é considerada afronta ou falta de desportividade, mas fair play - de fato, continuar jogando mesmo sabendo que não se tem condições de ganhar é que é ofensivo no curling. Em jogos classificatórios, uma equipe pode conceder a vitória ao oponente a qualquer momento do jogo, mas em jogos eliminatórios, como play-offs e finais, somente se pode desistir depois do oitavo end, no caso de jogos de 10 ends, ou sexto, no caso de jogos de 8 ends.
Uma equipe de curling é formada por quatro jogadores "titulares", dos quais um - normalmente o mais experiente ou melhor estrategista - é o capitão (ou skip), mais um "reserva", que na verdade não pode substituir ninguém durante o jogo, apenas entrar no lugar de alguém antes de a partida começar, e um técnico, que assiste o jogo de posição privilegiada, e pode orientar os jogadores em determinados momentos da partida - cada equipe tem direito a dois pedidos de tempo de um minuto cada por jogo, mais um pedido por end extra no caso de prorrogação. Os jogadores de cada equipe não usam números no uniforme, mas são conhecidos como "primeiro", "segundo", "terceiro" e "quarto", com o quarto normalmente sendo o capitão, e o reserva conhecido como "quinto" quando não está jogando. Também é interessante registrar que o time que joga com as pedras amarelas sempre usa uniforme de cor clara, enquanto o que joga com as vermelhas usa uniforme de cor escura.
Em cada end, cada jogador lançará duas pedras, sendo que o capitão normalmente lança as duas últimas. Do time que não está lançando, o capitão e o terceiro podem ficar em qualquer posição atrás da back line que não interfiram com os adversários, o próximo lançador em qualquer lugar atrás da hack line, e o quarto jogador tem que ficar fora da pista. Do time que está lançando, o lançador se posiciona na hack line, os dois varredores depois da hog line, e o capitão atrás da back line. O capitão pode então planejar a jogada, indicando ao lançador onde ele quer que a pedra seja colocada, em quais pedras adversárias ele quer que ela bata, se for o caso, e com qual velocidade ele quer que ela venha. Quando o capitão for fazer o lançamento, o terceiro é que determina essa tática. Enquanto as pedras não estiverem em jogo, qualquer jogador pode tocar nelas com as vassouras, desde que não mudem sua posição; enquanto elas estiverem em jogo, porém, é expressamente proibido tocar nas pedras com a vassoura ou com o corpo, e o time que assim faz é penalizado.
Durante o lançamento, o lançador apoia seu pé de apoio no hack e dobra a outra perna para a frente, quase deitando no gelo, segurando a alça da pedra com uma das mãos e a vassoura com a outra. A força com a qual ele empurrará com a perna determinará o peso da pedra, que é a velocidade com a qual ela chegará ao seu destino. Um pequeno movimento do pulso antes de soltar a pedra determinará sua curva, que é o movimento de rotação que a pedra fará, viajando sem ser em linha reta. A linha do lançamento é a direção na qual a pedra irá, determinada pela posição do braço do lançador. Para que um lançamento seja considerado válido, o lançador deve soltar a pedra antes de ela passar pela hog line mais próxima do hack, e ela deve parar totalmente de se mover apenas após ultrapassar a hog line mais próxima da casa - caso o lançamento seja inválido, a pedra é removida do jogo, mas contará para o total de 8. Para determinar com maior precisão se o lançador soltou ou não a pedra antes da hog line, torneios internacionais fazem uso de um equipamento conhecido como eye of the hog (literalmente, "o olho do porco"), um sensor que acende uma luz vermelha se a mão do lançador ainda estiver em contato com a alça depois que a pedra passar pela linha.
Depois que a pedra passa pela hog line, entram em ação os dois varredores. Varrendo mais suavemente, com mais força, ou até mesmo não varrendo, eles alteram o peso, linha e curva da pedra, contribuindo para que o lançamento chegue o mais próximo possível do pretendido pelo capitão. Na hora da varreção é que ocorre a gritaria do jogo, com o capitão e o lançador gritando instruções para os varredores, e os varredores gritando de volta informações sobre o comportamento da pedra. Depois que a pedra passa pela segunda hog line, o capitão pode ajudar os dois varredores e, uma vez que uma pedra passe pela tee line, o capitão oponente também poderá varrê-la; nesse caso, o objetivo é levá-la para o mais longe possível do botão, de preferência tirando-a de jogo.
Nem toda pedra é lançada para se alcançar o botão. Algumas pedras, especialmente as primeiras de cada end, são lançadas para se fazer a guarda, ou seja, dificultar a vida dos oponentes, colocando-as em lugares que farão com que as pedras oponentes não alcancem o botão ou as suas pedras. É permitido que uma pedra bata na outra, tirando-a de jogo (o que é conhecido como takeout) ou mudando sua posição; a exceção são as quatro primeiras pedras de cada end (duas de cada equipe), que podem ser mudadas de lugar mas não tiradas de jogo. Essa regra foi estabelecida em 1991 para evitar um estilo de jogo no qual uma equipe tirava de jogo a pedra da outra durante todo o end, tentando fazer com que a pedra que pontuava fosse a única no gelo ao final, o que até era bom para os times, mas sacal para quem estava assistindo. Obrigando pelo menos quatro guardas a ficarem no lugar no início de cada end, as regras trouxeram mais emoção às partidas.
O curling é um esporte muito antigo - tanto que, como de costume, ninguém sabe ao certo quando ele foi inventado. O que se tem certeza é de que o esporte foi criado na Escócia, de onde datam as mais antigas referências a ele, em documentos da Abadia de Pasley, cuja primeira descrição de um esporte no gelo que usava pedras e vassouras data de fevereiro de 1541. Durante a drenagem de uma lagoa na cidade de Dunblane, Escócia, foram encontradas duas pedras, com as inscrições 1511 e 1551, o que pode significar que o jogo é ainda mais antigo, se esses números corresponderem aos anos nos quais elas foram usadas para jogar. O mais antigo clube de curling do mundo também é escocês, o Kilsyth Curling Club, fundado em 1716 e em operação até hoje, tendo também a honra de ter sido o primeiro clube a construir uma pista especificamente para o curling - que até então era jogado em lagoas congeladas no inverno. Além de não ter pistas próprias, no início o esporte também não tinha pedras próprias, sendo usadas quaisquer pedras redondas e lisas o suficiente que fossem encontradas, muitas vezes sem nem mesmo a alça.
A primeira menção ao nome "curling" data de 1620, em um poema de Henry Adamson. O nome do jogo seria derivado do verbo to curl, que significa "fazer curva", e o jogo teria ganhado esse nome por causa do movimento em curva que as pedras fazem quando bem lançadas e varridas. Na Escócia e em países com grande colônia escocesa, o curling também é conhecido como "o jogo barulhento" (the roaring game), por causa do barulho constante que as pedras fazem enquanto deslizam sobre o gelo.
Foram os imigrantes escoceses que levaram o curling para o resto do mundo, a partir do século XIX - até então, o jogo era conhecido praticamente apenas no Reino Unido e na Holanda, que mantinha estreitas relações com a Escócia, como pode ser visto em dois quadros do pintor Bruegel, datados de 1565, que retratam pessoas jogando curling. Hoje, o país onde o esporte é mais popular é o Canadá, que também tem o clube mais antigo das Américas, o The Royal Montreal Curling Club, fundado em 1807. O esporte chegou aos Estados Unidos em 1830, com a fundação do Orchard Lake Curling Club, próximo à cidade de Detroit, Michigan; à Suécia e à Suíça no final do século XIX; e ao Japão, China, Coreia, Austrália e Nova Zelândia no início do século XX.
Em 1965, após um enorme sucesso de público da Scotch Cup, o equivalente ao campeonato mundial de curling na época, o Royal Caledonian Curling Club da cidade escocesa de Perth, que organizava o torneio, decidiu convidar federações nacionais de curling de outros países para fundar uma federação internacional do esporte, a International Curling Federation, que de início tinha como membros apenas Escócia, Canadá, Suíça, Suécia, Noruega e Estados Unidos, mas hoje já conta com 45 membros, incluindo o Brasil - que, sim, tem uma seleção nacional de curling - tendo mudado de nome em 1991 para World Curling Federation (WCF).
O curling é disputado nas modalidades masculina, feminina e duplas mistas, sendo que, nessa última, cada equipe é composta por apenas dois membros (um homem e uma mulher), e apenas seis pedras são lançadas, com a primeira já começando em posição de guarda, um dos jogadores lançando a segunda e a última e o outro lançando as outras três - além disso, curiosamente, o mesmo jogador que lança a pedra também a varre, com o outro podendo ajudar depois que ela entrar na casa. Nas modalidades masculina e feminina, é comum que cada equipe seja conhecida pelo nome de seu capitão - tipo "Team Fredriksen" ou "Team McCormick" - embora equipes amadoras costumem se identificar por nomes bizarros inventados por eles mesmos. Também é interessante notar que, em competições internacionais, as equipes não são "seleções", no sentido de que não são escolhidos os melhores jogadores dos clubes para representar um país, mas sim a equipe inteira de um clube só - nas últimas Olimpíadas, por exemplo, a equipes campeãs foram a canadense do Saville Sports Club de Edmonton no masculino e a sueca do Härnösands Curling Klub no feminino.
O curling é esporte olímpico oficialmente apenas desde 1998, quando estreou nas modalidades masculina e feminina. Antes disso, ele já havia feito parte do programa como esporte de demonstração, apenas na modalidade masculina, em 1924 e 1932, e nas modalidades masculina e feminina em 1988 e 1992; em 2006, após uma campanha do jornal escocês The Herald, o COI decidiu considerar retroativamente a disputa de 1924 como oficial, e não de demonstração, o que fez com que a Escócia se tornasse o primeiro país a ganhar um ouro olímpico no curling (atribuído oficialmente ao Reino Unido, evidentemente). Além deles, no masculino, Suíça e Noruega já ganharam um ouro cada, e o Canadá, dois; no feminino, Canadá e Reino Unido (também com uma equipe 100% escocesa) têm um ouro cada, e a Suécia, dois.
Depois das Olimpíadas, os mais importante campeonato do curling é o Mundial, disputado desde 1959, ainda como Scotch Cup. A primeira edição organizada pela International Curling Federation foi a de 1966; a primeira realizada fora de Canadá e Escócia (que até então se alternavam como sedes) foi a de 1970, disputada em Utica, Nova Iorque; a primeira edição do Mundial feminino foi realizada em 1979; e a primeira edição do Mundial de duplas mistas foi realizada em 2008. O país mais bem sucedido na competição é o Canadá, com nada menos que 32 títulos no masculino e 15 no feminino - para demonstrar a superioridade canadense, basta dizer que, no masculino, a segunda colocação é dividida entre Escócia e Suécia, com cinco títulos cada, e no feminino a Suécia vem em segundo com sete.
Por causa dessa superioridade, e do alto nível dos jogadores canadenses, o campeonato canadense de curling é considerado o mais disputado e emocionante do planeta, inclusive sendo visto por muitos, até não-canadenses, como o terceiro em importância depois das Olimpíadas e do Mundial. O campeonato canadense masculino, oficialmente chamado Tim Hortons Brier, ou simplesmente The Brier, é disputado desde 1927; o feminino, que atende pelo curioso nome de Scotties Tournament of Hearts (não por causa da Escócia, mas do patrocinador, os lenços de papel Scotties), desde 1961; e o de duplas mistas desde 1964.
A seleção brasileira de curling, aliás, mora e treina no Canadá, onde disputa torneios como se fosse um clube. A boa notícia é que o Brasil é considerado o terceiro melhor país das Américas nesse esporte, mas a má notícia é que tanto o mundial quanto as Olimpíadas só têm duas vagas para o continente, que sempre ficam com Canadá e Estados Unidos, e batê-los é um sonho mais do que distante. Ainda não há uma pista de curling oficial no Brasil, mas construí-la não é difícil - basta lembrar que quase todo shopping tem uma pista de patinação no gelo, e que a pista de curling segue o mesmo princípio. Quem sabe com o empurrãozinho na popularidade dado pelas Olimpíadas?
o mais interessante é que o curling é novidade por aqui, mas existe a um tempão e nós, alheios ao frio, à neve e ao gelo, nem tínhamos conhecimento. Eu sempre achei curling parecido com baseball, deve ser por causa do placar. hehe ia falar outra coisa, mas esqueci no meio de post. :)
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