Sabe-se com certeza que os esquis surgiram na Escandinávia, inventados por povos indígenas para ajudar na locomoção e na caça. Pinturas encontradas na Noruega, datadas de 5.000 a.C., já representavam homens usando esquis nos pés. O esqui mais antigo de que se tem notícia foi encontrado na Suécia, e data de por volta de 4.500 a.C.. Até mesmo as sagas, as grandes epopeias dos países escandinavos da antiguidade, tinham personagens que esquiavam. O nome "esqui" teria vindo da palavra norueguesa skio, que significa "pedaço de madeira".
O uso dos esquis para o esporte é atribuído ao norueguês Sondre Norheim, nascido em Telemark, distrito da cidade de Morgedal. Norheim teria inventado, por volta de 1850, o desenho do esqui e dos bastões modernos, enquanto os artesãos de Telemark teriam refinado o modelo até chegar próximo aos que usamos hoje. Em um encontro de esquiadores em 1868, Norheim introduziu muitas das técnicas que são usadas no esporte até hoje, e ele e seus colegas teriam sido os responsáveis por espalhar o novo esporte pela Europa.
Assim como todos os esportes, o esqui tinha vários conjuntos de regras diferentes, até ser fundado um órgão regulador para o esporte, a Federação Internacional de Esqui (FIS), durante as Olimpíadas de Inverno de Chamonix, França, em 1924. Originalmente fundada por 14 países, hoje a FIS conta com 109 membros, dentre eles o Brasil, que, embora não tenha neve suficiente para se esquiar, tem diversos atletas competindo internacionalmente neste esporte.
Ao todo, a FIS regula quatro categorias do esqui e mais o snowboarding, do qual eu não vou falar aqui porque esse é um post sobre esqui, e não sobre snowboarding. Eu vou começar pela que eu acho mais complicada, que é o esqui nórdico. Como o nome sugere, o esqui nórdico surgiu nos países nórdicos (Noruega, Suécia, Finlândia e outros lá de cima), praticado por Norheim e seus amigos. A principal característica do esqui nórdico é que as botas dos esquiadores são presas aos esquis apenas pela parte da frente, com o calcanhar ficando solto.
O esqui nórdico é subdividido em três disciplinas. A primeira é o esqui cross-country, o que há de mais parecido com uma corrida de esquis. No esqui cross-country, os atletas esquiam através de um percurso determinado pela organização do torneio, sendo que quem completá-lo no menor tempo é o vencedor. Os esquis são compridos e finos, com por volta de 2 metros de comprimento e 5 cm de largura. Quase todos os esquis feitos para esse esporte são de madeira, embora a maioria seja revestida de fibra de vidro e alguns tenham um núcleo de espuma. Os bastões, feitos de materiais leves como fibra de vidro, alumínio, grafite ou fibra de carbono, devem ter altura proporcional à altura do atleta, mas suficiente para que ele consiga tomar impulso sem ter de se inclinar muito. Dependendo da prova, o esquiador pode usar uma de duas técnicas, conhecidas como livre e clássica.
Na técnica clássica, o esquiador só pode usar dois tipos de movimentos. No chamado "movimento cruzado", uma das pernas permanece firme no chão enquanto o esquiador move a outra para a frente, dando impulso com o bastão do mesmo lado da perna fixa - ou seja, se a perna esquerda está indo para a frente, ele toma impulso com o bastão direito. A seguir, a perna que se moveu se firma, e a outra se move, com o bastão do outro lado dando impulso. Por isso o movimento se chama cruzado, pois a perna de um lado sempre se move junto com o braço do outro. No chamado "double poling", o esquiador põe os esquis em paralelo, e toma impulso com os dois bastões simultaneamente. O "double poling" demanda mais esforço, e só é normalmente usado quando o esquiador precisa subir um aclive ou ganhar velocidade. Na técnica livre, além desses dois movimentos, o esquiador ainda pode usar um movimento parecido com o da patinação, no qual as pernas são impulsionadas alternadamente para a frente e o esquiador desliza sobre cada esqui por alguns instantes, tomando impulso com os dois braços simultaneamente. Por causa desse movimento, esquiadores usando a técnica livre alcançam velocidades maiores do que os usando a técnica clássica - lembrando, porém, que a escolha da técnica depende da prova, não do esquiador.
Além dos dois tipos de técnicas, existem dois tipos de largada, a largada clássica e a largada em massa. Na largada clássica, um esquiador larga a cada 30 segundos, e o tempo da prova é contado apenas para aquele esquiador. Assim, o vencedor será o que terminar a prova com o menor tempo, e não o que cruzar a linha de chegada primeiro. Já na largada em massa, todos os esquiadores largam juntos, e o vencedor é o que cruzar a linha de chegada primeiro - evidentemente, como todos largaram juntos, ele também será o que completou o percurso em menos tempo.
Finalmente, as provas do esqui cross-country se dividem em individual, perseguição, revezamento, sprint e sprint por equipes. O individual dispensa explicações, cada um compete por si, e quem completar o percurso em menos tempo vence. Na perseguição, cada esquiador também compete por si, mas deve obrigatoriamente começar a prova usando a técnica clássica, só podendo mudar para a livre após a metade da corrida. O sprint é a prova de distância mais curta, e, por isso mesmo, os atletas têm de passar por baterias classificatórias, com apenas os seis melhores chegando à final. No sprint por equipes, cada equipe é composta de dois esquiadores, e o primeiro dá três voltas na pista antes de tocar a mão de seu companheiro, que espera em uma área de 30 metros específica para a troca, e dará mais três voltas para completar a prova, sendo vencedora a equipe cujo segundo esquiador cruzar a linha de chegada primeiro. Finalmente, na prova de revezamento, cada equipe é composta por quatro esquiadores; os dois primeiros devem obrigatoriamente esquiar com a técnica clássica, enquanto os dois últimos podem usar a técnica livre. Cada esquiador dá uma volta na pista, e então toca em seu companheiro, que estará dentro da área de troca de 30 metros. A primeira equipe cujo último esquiador cruzar a linha de chegada é a vencedora.
O esqui cross-country faz parte das Olimpíadas de Inverno desde sua primeira edição, em Chamonix, 1924. Atualmente, fazem parte do programa olímpico doze provas, seis masculinas e seis femininas. As masculinas são os 15 km livre (única prova com largada clássica), 30 km perseguição, 50 km clássico, 1,4 km sprint clássico, sprint por equipes livre, e revezamento 4 x 10 km. As provas femininas são os 10 km livre (também única com largada clássica), 15 km perseguição, 30 km clássico, 1,2 km sprint clássico, sprint por equipes livre e revezamento 4 x 5 km. Além das Olimpíadas, o esqui cross-country também faz parte do Campeonato Mundial de Esqui Nórdico, disputado a cada dois anos desde 1925, e conta com várias provas "soltas" ao longo do ano, como as famosas Vasaloppet, disputada na Suécia; Birkebeineren, na Noruega; e Tour de Anchorage, no Alasca, Estados Unidos.
A segunda disciplina do esqui nórdico é a dos saltos com esqui, na qual o esquiador desce por uma rampa e salta tentando alcançar a maior distância possível. Simplesmente saltar mais longe, porém, não adianta, pois os esquiadores também recebem notas de juízes pelo estilo do salto - quem salta todo torto, portanto, não vence, mesmo que chegue mais longe. Os esquis usados para saltos são bem mais longos que os do cross-country, com de 2,6 a 2,75 metros de comprimento, e os atletas não usam bastões.
As provas dos saltos com esqui podem ser disputadas no que ficou conhecido como colina alta ou colina baixa. Na colina baixa, o fim da rampa está entre 80 e 100 metros do ponto onde o atleta começa sua descida, enquanto na colina alta ele fica entre 120 e 130 metros. Na colina baixa, um esquiador pode alcançar, com um salto, distâncias por volta de 110 metros, enquanto na alta ele pode chegar a mais de 145 metros. Recentemente, está se tornando popular uma variação conhecida como "voo com esqui", no qual o final da rampa fica a 185 metros do ponto onde o esquiador começa a descida, e este pode alcançar até 240 metros em um salto. As competições de saltos com esqui também podem ser individuais, onde cada atleta recebe uma nota e o de pontuação mais alta é o vencedor, ou por equipes, nas quais são somadas as notas dos quatro membros de cada equipe para se determinar a equipe vencedora.
Assim como o esqui cross-country, os saltos com esqui fazem parte das Olimpíadas de Inverno desde 1924, e são atualmente disputados nas modalidades individual colina baixa e alta, e por equipes em colina baixa. Curiosamente, nas Olimpíadas a disciplina é disputada apenas no masculino, embora em outros campeonatos, inclusive o Mundial e a Copa do Mundo, haja competições femininas. Os saltos com esqui também fazem parte do Campeonato Mundial de Esqui Nórdico, mas a competição considerada como segunda mais importante deste esporte é a Copa do Mundo de Saltos com Esqui, disputada anualmente desde 1979.
A terceira e última disciplina do esqui nórdico recebe o curioso nome de combinado nórdico. Não por acaso, já que ele é uma combinação das outras duas. Existem dois tipos de provas, a de largada clássica e a de largada em massa. Na de largada clássica, a prova dos saltos é disputada primeiro, com cada competidor tendo direito a um salto. Na prova de cross-country, que tem distância de 10 km e técnica livre, os competidores largarão na ordem do melhor para o pior salto, sendo que, para cada 15 pontos de diferença, o competidor recebe uma vantagem de um minuto - ou seja, ele larga, e só depois de um minuto larga o que fez 15 pontos a menos no salto que ele. Diferentemente de uma largada clássica "normal", esses minutos contam para o tempo dos competidores, pois será o campeão quem cruzar a linha de chegada primeiro, independente de em que posição largou. Quem for um mal saltador, portanto, deve ser um excelente corredor para conseguir recuperar a distância. As provas de largada clássica podem ser disputadas individualmente ou em equipes; na prova por equipes, chamada de revezamento, cada equipe conta com quatro esquiadores, cujas notas são somadas após os saltos. Assim como no individual, cada equipe larga um minuto atrás para cada 15 pontos de diferença. Cada um dos integrantes da equipe percorre 5 km antes de tocar no seguinte, e a equipe que cruza a linha de chegada primeiro é a vencedora.
Já na prova de largada em massa acontece o contrário, com a corrida acontecendo primeiro. Cada competidor começa a corrida com 120 pontos, e perde 15 pontos por cada minuto ou fração que cruzar a linha de chegada atrás do vencedor. Esses pontos serão somados aos pontos do salto para se determinar o vencedor da prova.
O combinado nórdico também estreou nas Olimpíadas de Inverno em 1924, e atualmente conta com três provas, a de colina baixa com largada clássica, a de colina alta com largada clássica e a do revezamento e colina alta. Assim como ocorre com os saltos, nas Olimpíadas as provas são exclusivamente masculinas, embora em outros campeonatos, como o Mundial de Esqui Nórdico, exista o combinado nórdico feminino.
A segunda categoria do esqui talvez seja a mais famosa, o esqui alpino. Originário dos Alpes, a cadeia de montanhas que corta Itália, França, Alemanha, Suíça, Áustria, Eslovênia e Liechtenstein, o esqui alpino surgiu como esporte por volta de 1880, e consiste em descer uma montanha o mais rápido possível, seguindo um determinado trajeto no percurso. Diferentemente do esqui nórdico, no esqui alpino os esquis são presos às botas dos atletas tanto na frente quanto nos calcanhares, embora as presilhas possuam um sistema de segurança que solta os esquis facilmente em caso de acidente. Os esquis do esqui alpino são semelhantes aos do esqui cross-country, mas os bastões são mais curtos, até porque são menos usados.
O esqui alpino se subdivide em cinco disciplinas. A mais famosa é o slalom (que significa, em norueguês, "descer a montanha"), na qual, durante a descida, o esquiador deve passar por dentro de "portais", formados por bandeirolas alternadamente azuis e vermelhas. As duas bandeirolas de um mesmo portal ficam a aproximadamente 2 metros uma da outra.
Uma prova de slalom masculina tem entre 65 e 75 portais, enquanto uma feminina tem entre 50 e 60. Para não ser desclassificado, o atleta tem de passar com os dois esquis totalmente dentro de cada portal. Para não perder muita velocidade, porém, é comum que os esquiadores "trombem" com uma das bandeirolas enquanato passam pelo portal, em um movimento conhecido como "blocking". Os portais costumam ser dispostos de modo que o atleta precise primeiro fazer um movimento para a esquerda e depois um para a direita e assim sucessivamente, descendo a montanha como se estivesse rebolando. Provas de slalom costumam ser disputadas em duas "pernas", com os tempos das duas descidas sendo somados para se determinar o vencedor.
A segunda disciplina do esqui alpino é a chamada slalom gigante, que segue as mesmas regras do slalom, mas com portais mais espaçados, o que resulta em curvas menos fechadas e velocidade final maior. Uma prova de slalom gigante masculina tem entre 56 e 70 portais, enquanto uma feminina tem entre 46 e 58. A terceira disciplina é o slalom super gigante, também conhecido como Super-G, na qual os portais são ainda mais espaçados, com curvas mais abertas, menos mudanças de direção e, logicamente, mais velocidade. Um prova de Super-G masculina tem entre 35 e 45 portais, enquanto uma feminina tem entre 30 e 40.
A prova mais veloz do esqui alpino é o downhill (que, por um acaso, significa, em inglês "descer a montanha"). No downhill, um esquiador pode alcançar velocidades de até 150 km/h, contra 96 km/h do Super-G, o mais rápido dos slaloms. O objetivo do esquiador no downhill é cumprir um traçado de aproximadamente 600 metros montanha abaixo. Esse traçado também é marcado por portais pelos quais o esquiador deve obrigatoriamente passar, mas eles são todos de bandeirolas da mesma cor - normalemnte vermelhas - e não obrigam o esquiador a fazer curva atrás de curva como no slalom. Também diferentemente do slalom, o downhill é definido por uma única descida, sendo vencedor quem a fizer no menor tempo.
Finalmente, a quinta e última disciplina do esqui alpino é o super combinado, que, como vocês devem estar imaginando, é uma combinação de downhill e slalom. Primeiro os esquiadores devem descer uma pista de downhill menor que a da prova completa, com entre 300 e 400 metros; depois todos participam de uma prova de slalom, e os tempos são somados para se determinar o vencedor. Esta configuração é recente, e a tradicional, ainda utilizada em alguns torneios, previa uma descida de downhill completa e duas de slalom, ou até mesmo a soma dos tempos individuais das provas principais de downhill e slalom ao invés de se disputar uma nova prova de combinado. Outra variação recente do combinado prevê uma descida de slalom primeiro, seguida de uma de Super-G.
O esqui alpino estreou nas Olimpíadas de Inverno apenas em Garmisch-Partenkirchen, 1936. Atualmente, todas as suas cinco disciplinas fazem parte do programa, nas modalidades masculina e feminina. Além das Olimpíadas, as competições mais importantes desse esporte são o Campeonato Mundial de Esqui Alpino, disputado a cada dois anos desde 1931, e a Copa do Mundo de Esqui Alpino, disputada anualmente desde 1967.
A terceira categoria do esqui é conhecida como esqui estilo livre. Inventada nos Estados Unidos na década de 1960, pode-se dizer que esta é a categoria mais "radical" do esqui, já que suas provas se assemelham às provas de esportes como skate e snowboarding. Para não atrapalhar as manobras dos esquiadores, os esquis dessa categoria, conhecidos como "twin-tip", são mais curtos, com por volta de 1,8 m de comprimento, e simétricos, com uma ponta curvada de cada lado - o que permite, inclusive, que se esquie de costas, algo impossível com um esqui tradicional.
O esqui estilo livre se subdivide em cinco disciplinas bem diferentes entre si. A primeira é conhecida como aerials. Nela, o esquiador desce uma rampa íngreme de 2 a 4 metros de comprimento, que o lança a aproximadamente 6 metros de altura, em uma queda de 20 metros até tocar o chão novamente em uma área de pouso de 30 metros de comprimento e entre 34 e 39 graus de inclinação. Enquanto está caindo, o esquiador deve realizar manobras, como giros e piruetas, que valem pontos atribuídos por juízes. Esses pontos são somados a pontos conferidos pela decolagem e pela aterrissagem, que deve ser o mais suave possível, e multiplicados por um fator de dificuldade das manobras realizadas para obter a nota final do salto. No final da competição, o atleta com a maior pontuação é declarado vencedor. Dependendo da prova, cada atleta pode ter direito a dois saltos; nesse caso, as notas são somadas para se determinar a pontuação final.
A segunda disciplina do esqui estilo livre é conhecida como moguls, nome de pequenos morrinhos de neve construídos pela organização em um percurso íngreme no qual os esquiadores devem descer. Enquanto descem e desviam dos moguls, os esquiadores também devem executar manobras, pelas quais ganham pontos. O vencedor, ao final da prova, é aquele que obtém a maior pontuação, e não o que chegar ao final do percurso primeiro.
A terceira disciplina é o famoso half-pipe. Literalmente "meio-cano", o half-pipe é uma pista em formato de U, cortada diretamente na neve. Os esquiadores começam em uma das pontas mais altas da pista, e descem a toda velocidade, sendo impulsionados para o ar quando chegam ao outro lado. Após essa impulsão, antes de tocar a pista novamente, eles devem realizar manobras, que contarão pontos. Cada competidor tem direito a um determinado número de manobras, normalmente entre 4 e 6, antes de sair da pista e receber sua nota. Dependendo da prova, cada competidor pode também ter direito a duas descidas, após as quais as notas são somadas. Ao final, o atleta com a maior pontuação é declarado vencedor.
A quarta disciplina é a chamada slopestyle, uma espécie de "esqui com obstáculos". A diferença, no caso, é que, ao invés de desviar dos obstáculos, o esquiador tem que fazer manobras que os utilizem, ganhando uma nota dos jurados por cada manobra. Inspirados nos esportes radicais, os obstáculos incluem "corrimãos" para esquiar em cima; "barreiras" - que normalmente são temáticas e podem ser qualquer coisa, como bonecos, portões, castelinhos etc. - por sobre as quais o esquiador deve pular; e rampas, nas quais o esquiador ganha pontos não somente pelo estilo do salto mas também pela altura alcançada. Normalmente, uma pista de slopestyle possui dois ou três "caminhos" com diferentes obstáculos, sendo um dos caminhos mais fácil e outro mais difícil. Depois que todos os esquiadores tenham descido, aquele que tiver obtido a maior nota será o vencedor.
A única disciplina do esqui estilo livre que não depende de notas dos juízes é também a mais recente, batizada de skicross. Nela, os esquiadores devem descer um percurso semelhante a uma pista de BMX, com curvas em ângulo inclinado e rampas que os levam a grandes saltos. O skicross é uma prova de velocidade, o que significa que o esquiador que completar o percurso no menor tempo será o vencedor. Curiosamente, em uma competição de skicross primeiro cada esquiador desce a pista sozinho, com os 16 ou 32 melhores tempos, dependendo do evento, se classificando para a etapa seguinte; a partir daí, porém, os esquiadores passam a descer em grupos de quatro, com os dois piores de cada bateria sendo eliminados até que só restem os quatro que disputarão a final, sendo o vencedor aquele que cruzar a linha de chegada primeiro.
Até 2000, o esqui estilo livre tinha uma sexta disciplina, chamada acroski ou ski ballet, na qual os esquiadores executavam uma série de movimentos obrigatórios e opcionais durante 90 minutos ao som de música, recebendo notas pela apresentação. Essa disciplina chegou a fazer parte, como esporte de demonstração, das Olimpíadas de Inverno de 1988 e 1992, mas hoje não é mais regulada pela FIS, que não a inclui em nenhum de seus campeonatos.
O esqui estilo livre estreou nas Olimpíadas de Inverno, como esporte de demonstração, em Calgary, 1988, passando a fazer parte do programa olímpico na edição seguinte, em Albertville, 1992. Atualmente, fazem parte do programa os aerials, moguls e o skicross, tanto no masculino quanto no feminino. Além das Olimpíadas, essas três disciplias e mais o half-pipe e o slopestyle fazem parte do programa do Campeonato Mundial de Esqui Estilo Livre, realizado desde 1986, atualmente a cada dois anos, sempre nos anos ímpares. Os moguls também possuem um Circuito Mundial de provas disputadas anualmente.
A quarta e última categoria do esqui não tem um nome formal, e é referenciada no site da FIS simplesmente como "other". Como ela é composta de disciplinas, digamos, pouco usuais, acabou ganhando o apelido de esqui extremo. O esqui extremo é dividido em quatro disciplinas, sendo que, curiosamente, apenas duas envolvem neve.
A primeira dessas disciplinas é conhecida como telemark, devido a uma manobra conhecida como "Telemark turn", inventada pelo próprio Sondre Norheim, e batizada em homenagem à sua cidade natal. Com a popularização do esqui alpino, essa manobra, originalmente usada para descer montanhas no esqui cross-country, foi caindo em desuso - já que ela requer os calcanhares livres para que o esquiador se ajoelhe sobre o esqui, e no esqui alpino os calcanhares são presos, o que impossibilita o ajoelhamento - até que, em 1970, no Colorado, Estados Unidos, alguns entusiastas do esqui nórdico decidiram ressucitá-la, essencialmente criando uma mistura do esqui nórdico com o alpino: no telemark, o esquiador, equipado com esquis do tipo nórdico, desce uma montanha como em uma prova de downhill do esqui alpino, executando a "Telemark turn" para fazer as curvas. A manobra consiste em esticar uma das pernas para a frente, se ajoelhando no esqui com a outra perna, e jogando o peso do corpo para a perna esticada, o que faz com que o esquiador faça a curva para o lado da perna ajoelhada.
Tradicionalmente, o telemark é disputado em quatro tipos de provas: o slalom gigante é semelhante ao do esqui alpino, mas com as curvas feitas usando a "Telemark turn", e um salto no meio do percurso pelo qual os competidores ganham pontos por estilo e distância, como na competição dos saltos com esqui. O Telemark Classic envolve uma descida em Super-G, um salto, uma descida em slalom gigante, uma curva de 360o conhecida como reipelókke, e uma subida de 200 m em cross-country estilo clássico, sendo vencedor quem completar o percurso em menos tempo, e penalidades de até 7 segundos somados ao tempo final do competidor por falha na execução do salto. No Telemark Sprint, os competidores descem um percurso de slalom gigante, fazem a reipelókke e sobem 200 m em cross-country estilo livre. Finalmente, o telemark de montanha é disputado em um percurso "selvagem" - ou seja, sem qualquer preparação prévia da organização além de portais para marcar o percurso - com trechos de descida onde deve ser usada a "Telemark turn", reipelókkes e trechos de cross-country, sendo vencedor o esquiador que cruzar a linha de chegada primeiro.
O telemark não faz parte do programa olímpico nem possui campeonato mundial; anualmente, porém, são realizados nos Estados Unidos e Europa os Telemark Festivals, nos quais os profissionais disputam várias provas enquanto os amadores se divertem e os iniciantes aprendem mais sobre o esporte. Além dos Telemark Festivals, todos os anos são disputadas provas tradicionais, como o U.S. Extreme Freeskiing Telemark Championships, em Crested Butte, Colorado, e a Sun Valley Tele Series, uma espécie de circuito norte-americano de telemark, realizado desde 1981.
A outra disciplina com neve do esqui extremo é o esqui em velocidade, no qual o objetivo não é cruzar a linha de chegada no menor tempo, mas obter a maior velocidade média possível durante a descida. Para isso, os esquiadores usam esquis especiais, de 2,4 m de comprimento e 10 cm de largura, bastões de 1 m de comprimento e formato aerodinâmico quando juntos ao corpo, capacetes aerodinâmicos e roupas com proteções especiais nas pernas e costas em caso de acidente. Um por vez, os equiadores descem uma rampa de 1 Km de comprimento, e o tempo da descida é usado para calcular a velocidade média, sendo vencedor o que obtiver a maior. O recorde mundial atual é de 251,4 km/h no masculino e 242,59 km/h no feminino, o que transforma este no segundo esporte não-motorizado mais veloz do mundo, só perdendo para o paraquedismo.
O esqui em velocidade foi esporte de demonstração nas Olimpíadas de Inverno de Albertville, 1992. Como não é fácil construir uma rampa reta de 1 Km em uma montanha, e normalmente elas são feitas em altas altitudes, para minimizar a resistência do ar, é pouco provável que ele um dia entre para o programa olímpico - para Albertville, por exemplo, foi usada a pista de Les Arcs, a 60 Km da cidade-sede. A competição mais importante do esqui em velocidade é a Copa do Mundo, disputada anualmente desde 2000, mas todos os anos são disputadas competições isoladas nas por volta de 30 pistas da modalidade existentes no planeta.
Além dessas duas disciplinas, ainda existem, como eu mencionei, duas disciplinas que não requerem neve para serem disputadas. A primeira é o esqui sobre grama, inventado na Alemanha em 1966 como treinamento para o esqui alpino. Evidentemente, os esquis para grama são adaptados, e possuem uma esteira, tipo daquelas encontradas em tanques, sob cada esqui, que é bem curtinho, com entre 70 cm e um metro de comprimento. Os esquiadores também usam bastões para ganhar impulso, e mais equipamentos de segurança obrigatórios, como caneleiras, joelheiras, cotoveleiras e capacete. Assim como no esqui alpino, o objetivo no esqui sobre grama é descer uma montanha, embora seja uma montanha sem neve, e a trilha seja mais ou menos sem curvas, como em uma competição de downhill. A competição mais importante do esqui sobre grama é a Copa do Mundo, disputada anualmente desde 1999, e que é, na verdade, um circuito mundial, com etapas em diversos países do mundo cujos pontos são somados para se determinar o campeão.
Finalmente, temos o rollerski, que também foi inventado como treinamento, mas para o esqui cross-country. Os esquis do rollerski têm o mesmo tamanho dos do esqui sobre grama, mas, ao invés de esteiras embaixo, têm rodinhas, uma na frente e uma atrás. As primeiras competições de rollerski começaram na década de 1970 - e na época usavam esquis com uma rodinha na frente e duas atrás, depois substituídos pelo modelo atual, que permite maior mobilidade e velocidade - mas sabe-se que esquis com rodinhas já eram usados na Europa para treinamento desde a década de 1930. Assim como no esqui sobre grama, os esquiadores usam alguns itens de segurança, como joelheiras, caneleiras e cotoveleiras, embora pelas regras só sejam obrigatórios o capacete e óculos protetores.
Assim como o esqui cross-country, o rollerski pode ser disputado em uma grande variedade de formatos, usando as técnicas clássica ou livre. Como as rodinhas permitem velocidades superiores às do cross-country, com os melhores esquiadores atingindo mais de 50 km/h, provas de velocidade - em distâncias curtas, em oposição às de resistência, nas distâncias longas comuns do cross-country - também são disputadas, sendo a mais veloz a do sprint de 200 metros. A competição mais importante do rollerski é a Copa do Mundo, também composta de várias etapas ao redor do planeta, e disputada anualmente desde 1993 no masculino e de 2000 no feminino.
E aqui eu termino esse post, impressionado como uma coisa simples como um esqui conseguiu dar origem a tantas modalidades diferentes.
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