terça-feira, 23 de setembro de 2008

Escrito por em 23.9.08 com 4 comentários

O Elo Perdido

À exceção de esportes e noticiários, eu tenho visto muito pouca televisão; por isso, sou incapaz de dizer como anda a programação de séries na TV aberta. Mas sempre tive a impressão de que, graças ao advento da TV paga, o número de seriados exibido nos canais abertos diminuiu bastante, talvez exceto no SBT, onde eu ainda costumo encontrar aquelas séries da Warner quando estou zapeando. Quando eu era pequeno, porém, talvez por não existir TV por assinatura, os canais "abertos" - que na época eram os únicos que existiam - exibiam um número considerável de séries. Praticamente toda a manhã de domingo da Globo era dedicada a séries e desenhos, e ainda tínhamos a Sessão Aventura, exibida no horário no qual atualmente temos Malhação, e que a cada dia da semana exibia uma série diferente. O SBT (ou TVS, como era conhecido na época) também exibia várias séries de sucesso, embora eu seja incapaz de lembrar o horário, na verdade porque eu quase nunca assistia às séries do SBT. Por mais que meus colegas de escola discorressem sobre as maravilhas do Super-Herói Americano ou do Esquadrão Classe A, eu nunca me interessei de acompanhá-las. Na minha cabeça, o SBT era um canal de desenhos - e praticamente os exibia o dia inteiro, em uns quatro programas infantis seguidos - enquanto séries caíam melhor na Globo.

Mas toda regra tem uma exceção. Havia um único seriado do SBT do qual eu não perdia um único episódio, e fazia questão de estar na frente da TV toda semana para assisti-lo: O Elo Perdido. Pelo que eu me lembro, ele ia ao ar às terças-feiras à noite (não me perguntem o por quê de eu lembrar que era terça-feira, que eu não sei), e eu sempre convencia minha mãe e minha irmã a assistirem comigo. O motivo pelo qual eu gostava tanto deste seriado era bem simples: eu era fissurado em dinossauros, e cada episódio tinha vários deles, ainda que em stop motion. Curiosamente, quando pessoas da minha idade se referem a este seriado, costumam chamá-lo de "tosco", "horroroso", e outros nomes menos publicáveis. Mas para mim, talvez por valor afetivo, será sempre um seriado muito divertido - e imagino que para outras pessoas também, já que suas três temporadas foram lançadas em DVD.

O Elo Perdido, cujo nome original era Land of the Lost (algo como "a terra do que se perdeu") foi criado na década de 1970 por Sid e Marty Krofft, dois famosíssimos produtores de seriados infantis da época, também criadores da série H. R. Pufnstuf (que aqui no Brasil se chamava A Flauta Mágica), um grande sucesso do final da década de 1960. Acreditando que programas para crianças poderiam ser interessantes também para adultos, e que poderiam ser educativos ao invés de apenas divertidos, eles decidiram investir em um novo seriado, cujos episódios tivessem enredos complexos, mitologia comparável aos seriados de ficção científica para adultos, e efeitos especiais dos mais modernos possíveis. Eles ofereceram a idéia para a NBC, que havia televisionado H. R. Pufnstuf, e acreditou que esta nova série poderia ser um grande sucesso. Assim, em 7 de setembro de 1974, estrearia neste canal a primeira temporada de O Elo Perdido, que ao todo teria 17 episódios de 22 minutos cada.

Holly, Will e RickO seriado acompanhava as aventuras de uma família norte-americana da década de 1970, o pai viúvo Rick Marshall (Spencer Milligan) e seus filhos Will (Wesley Eure), de 18 anos, e Holly (Kathy Coleman), de 12 anos. Um dia, descendo em um rio enquanto acampavam, os três foram pegos por um portal dimensional, e levados a uma estranha terra na qual viviam dinossauros, um povo humanóide e amigável conhecido como Pakuni, e um reptiliano e menos amigável chamado Sleestak. Após evitarem se tornar comida de tiranossauro, eles fazem amizade com um Pakuni, Cha-Ka (Philip Paley) e passam a procurar uma forma de voltar para casa, enquanto exploram a estranha terra onde se perderam.

Apesar de conter dinossauros e povos primitivos, a terra onde a família Marshall foi parar não é a Terra Pré-Histórica, mas outra dimensão. Curiosamente, enquanto exploram o local eles encontram aparelhos tecnologicamente avançados, deixados por alguma civilização há muito perdida. Eles acabam descobrindo que um dia o local foi habitado pelos Altrusianos, que tinham uma civilização altamente avançada, embora nunca tenha ficado bem claro se e como ela foi destruída. Foram os Altrusianos que inventaram os portais dimensionais, como o que capturou a família Marshall por engano, e muitos deles ainda se ativam de vez em quando, trazendo novos visitantes para o local. Dois dos principais inventos dos Altrusianos com os quais os Marshall entram em contato são os Pylons, espécies de obeliscos metálicos maiores por dentro do que por fora, e as Mesas de Pedra, onde cristais coloridos são arrumados para se criar diversos efeitos, inclusive abrir portais dimensionais. Os Marshall também acabam fazendo contato com um Altrusiano sobrevivente, Enik (Walker Edmiston), que tenta ajudá-los a abrir um portal que os leve de volta para casa.

Durando até 28 de dezembro de 1974, a primeira temporada de O Elo Perdido foi um imenso sucesso. Com efeitos especiais jamais vistos em um programa infantil, e roteiros escritos por gente que entendia de ficção científica - dentre eles D.C. Fontana, Walter Koenig e David Gerrold, da Série Clássica de Star Trek - o programa fazia verdadeiros milagres com seu orçamento limitado, graças a um misto de intensa criatividade - os produtores tinham apenas alguns cenários básicos, que rearrumavam em posições diferentes para criar novos templos, novas cavernas e novas partes da floresta - e zelo com a ambientação - a lingüista Victoria Fromkin foi contratada para criar o dialeto dos Pakuni, inspirado em línguas da África Ocidental, e que seria apresentado aos espectadores de forma gradual, para que todos se acostumassem com ele. Miniaturas também eram amplamente utilizadas, como maquetes de alguns templos e construções, bonecos dos dinossauros que depois seriam animados em stop motion, e fantoches das cabeças dos dinossauros, para que estes parecessem mais realísticos quando aparecessem de perto. Algumas inconsistências - os dinossauros não tinham "garganta", por exemplo, tendo a parte de trás da boca totalmente fechada, já que eram fantoches - eram conhecidas da produção mas ignoradas, em parte por se tratar de um programa infantil, já que crianças normalmente não reparavam nessas coisas.

O seriado foi eleito o melhor programa infantil da década de 1970, e um dos melhores seriados de ficção científica da época, o que lhe garantiu uma segunda temporada com orçamento um pouco maior. Como nem tudo é perfeito, porém, a NBC recebeu várias cartas de pais preocupados com o clima dos episódios, bem mais sério e com mais suspense que os seriados infantis de até então - algumas mães até alegavam que seus filhos estavam tendo pesadelos com os Sleestak - e pediu para que algumas mudanças fossem feitas. Assim, para a segunda temporada, que foi ao ar de 6 de setembro a 29 de novembro de 1975, com mais 13 episódios de 22 minutos cada, o clima seria amenizado, com mais humor nos episódios e roteiros de mais fácil compreensão.

A premissa da série, apesar disso, continuava a mesma: com a ajuda de Cha-Ka e Enik, os Marshall tentavam voltar para casa enquanto interagiam com dinossauros, combatiam os Sleestak, e encontravam um ou outro infeliz também levado para lá através de um portal dimensional. Apesar do orçamento melhor, os efeitos especiais da segunda temporada são considerados inferiores aos da primeira, e curiosamente - já que aparentemente era isso que o público queria - a mudança no clima dos roteiros fez com que a audiência caísse. Sid e Marty Krofft ainda conseguiram garantir a produção de uma terceira temporada, mas Spencer Milligan não aceitou renovar o contrato, então eles decidiram que Rick Marshall acabou encontrando um portal que o levou para casa, mas infelizmente não conseguiu levar seus filhos com ele. Para que as crianças não ficassem sozinhas, nesta terceira temporada, que estrearia em 11 de setembro e duraria até 4 de dezembro de 1976, com mais 13 episódios de 22 minutos, seria introduzido um novo personagem, o Tio Jack (Ron Harper), irmão de Rick, que acaba indo parar na terra perdida enquanto procurava o irmão e os sobrinhos.

os SleestakA terceira temporada teve várias decisões equivocadas: primeiro, os Marshall se mudaram de sua casa construída por eles mesmos para um templo que já estava lá quando eles chegaram, algo que despertou a ira de alguns fãs por desconsiderar o trabalho duro da família- curiosamente, até hoje há quem diga que esta mudança foi motivada por um incêndio no estúdio que destruiu o cenário da casa, mas este incêndio, embora tenha realmente acontecido no estúdio onde a terceira temporada foi gravada, ocorreu antes mesmo das filmagens da primeira temporada começarem, e ainda por cima a primeira e a segunda temporadas foram filmadas em outro estúdio diferente; depois, Enik mudou de personalidade, se tornando egoísta e desobediente; finalmente, e pior de tudo, os Pakuni e os Sleestak passarm a falar inglês a pedido da NBC, que achava que as crianças se interessariam mais pelo programa se soubessem o que aqueles personagens estavam falando, mas destruiu parte da premissa de se criar uma mitologia complexa para a série. Todas estas mudanças fizeram com que os roteiros fossem diminuindo de qualidade, e a audiência despencando. Desnecessário dizer, a terceira temporada foi a última, sendo o seriado cancelado sem que nunca Jack, Will e Holly voltassem para casa.

Algum tempo após seu cancelamento, porém, a série se tornou um cult, tendo boa audiência em suas reprises e quando foi televisionada em syndication em diversos canais dos Estados Unidos. A popularidade da série motivou Sid e Marty Krofft a tentar mais uma vez, mas apenas em 1991 eles obtiveram luz verde, desta vez do canal ABC, para fazer um remake da série.

O novo Land of the Lost, que eu saiba, jamais foi exibido no Brasil (ou pelo menos eu nunca vi em lugar nenhum). Basicamente, se trata da mesma coisa do seriado original, mas com algumas diferenças: uma família norte-americana da década de 1980, composta pelo pai viúvo Tom Porter (Timothy Bottoms), seu filho Kevin (Robert Gavin) e sua filha Annie (Jenny Drugan), passa por um portal dimensional enquanto viaja pelo interior dos Estados Unidos com seu jipe, e vai parar em uma estranha terra pontuada por ruínas de uma antiga civilização, onde convivem dinossauros, o povo humanóide Pakuni, o povo reptiliano Sleestak, e alguns outros "habitantes" trazidos de diferentes lugares por portais dimensionais semelhantes ao que pegou a família Porter.

Desta vez, os Porter fazem três amigos: o Pakuni Stink (Bobby Porter), o bebê-dinossauro Tasha (Ed Gale, voz de Danny Mann), e Christa (Shannon Day), também vinda do século XX, que chegou ao local ainda bebê acompanhada de seus pais, mas se perdeu deles quando tentavam atravessar o oceano em uma jangada atrás de um portal que pudesse levá-los para casa. Criada por Stink, Christa se tornou uma espécie de mulher-das-cavernas, e não se lembra de mais praticamente nada de sua antiga vida. Além dos Sleestak, os principais vilões da série são o tiranossauro Scarface e um cibogue trazido de um futuro distante por um portal dimensional.

um Pylon e um dinossauroEsta nova encarnação do Elo Perdido teve duas temporadas de 13 episódios de 22 minutos cada, a primeira televisionada entre 7 de setembro e 7 de dezembro de 1991, a segunda entre 12 de setembro e 5 de dezembro de 1992. Na segunda temporada foram introduzidos três novos personagens recorrentes, a feiticeira Keela (Adilah Barnes); o homem-peixe Namaki (Tom Allard), amigo de Christa; e Sir Balen (de quem eu não achei o nome do ator em lugar algum), que alega ser um cavaleiro da corte do Rei Arthur, acha que Scarface é um dragão, e quer matá-lo.

Apesar de ter efeitos especiais um pouco melhores, a nova versão do Elo Perdido não fez muito sucesso, nem caiu nas graças dos fãs antigos. Talvez a maior prova de que a série original continua cult e a nova foi esquecida é o fato de que as três temporadas da série original foram lançadas em DVD tanto nos Estados Unidos quanto aqui, e as duas da série nova ainda não foram lançadas nem lá.

A vontade de atualizar O Elo Perdido porém, não morreu: em 1995, a Disney comprou os direitos da série, pensando em fazer um filme para o cinema com seu enredo. O projeto nunca foi para a frente, mas em 2002 a Sony comprou da Disney os direitos, e começou a procurar por um roteiro. Em 2005 a Universal fez uma proposta à Sony, comprou os direitos dela, e contratou o diretor Adam McKay e o ator Will Ferrell para trabalhar no filme. McKay acabou sendo substituído por Brad Silberling, e em Março deste ano as filmagens finalmente começaram, com orçamento previsto de 100 milhões de dólares. Embora a premissa do filme seja a mesma da série, os produtores optaram por deixar a "família" de fora: no filme, um paleontólogo fracassado, interpretado por Ferrell, acaba passando por um portal dimensional em companhia de sua assistente e de um guia turístico; os três vão então parar em uma estranha terra com ruínas de uma antiga civilização perdida, habitada por dinossauros, pelo povo humanóide Pakuni, e pelos reptilianos Sleestak. A presença de Ferrell no filme é um indicativo de que o tom será bem mais para a comédia que o do seriado original.

A princípio, eu não tenho nada contra um filme de O Elo Perdido - e nem contra Ferrell; existem outros comediantes muito mais sem graça por aí - mas, no meu coração, Elo Perdido que é Elo Perdido é o que tem Sleestaks vestidos com roupas de borracha e dinossauros em stop motion. De preferência cuspindo fogo.

Em tempo: graças às maravilhas da TV paga e dos DVDs, já consegui, com muito atraso, assistir a vários episódios do Esquadrão Classe A, e confesso que realmente achei bastante divertido. O Super-Herói Americano, infelizmente, me continua desconhecido.

4 comentários:

  1. em meados de 2000, a rede globo exibiu a segunda versão do sewriado o elo perdido com os porter. a respeito da série original, não lembro se o tyranossauro tinha o mesmo nome do que tinha na segunda versão, Scarface ou se tinha o nome do que está no filme, Marrento. alguem sab me dizer o nome?

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  2. Nas legendas dos DVDs da série original, o tiranossauro se chama Grumpy, embora eu tenha quase certeza de que no dublado (só assisti legendado) ele se chamava Zangado.

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    1. Sim, o nome dele era zangado. E tinha também outro dinossauro recorrente: Alice

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  3. Obrigada pelas informações! Eu nasci em 1972, então tinha 5 anos e me muito desse seriado...

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