quarta-feira, 6 de agosto de 2008

Escrito por em 6.8.08 com 0 comentários

Críquete

Ok, eu assumo que ando meio sem imaginação. Afinal, ultimamente todos os posts aqui do átomo têm sido ou sobre cinema, ou sobre esportes. Hoje, para variar, não será exceção, pois hoje teremos um post sobre um esporte. Um esporte curioso e pouco conhecido aqui no Brasil - do jeito que eu gosto, por sinal. Hoje é dia de um post sobre críquete.

Confesso que nunca assisti a uma partida de críquete, pelo simples motivo de que, até onde eu saiba, nenhum canal jamais se interessou em transmitir uma aqui no Brasil. Meu único contato televisivo com este esporte foi através de umas duas edições que eu assisti do programa ICC Cricket World, que a ESPN costumava passar a umas 6 da manhã, não sei se ainda passa. Eu comecei a procurar me informar sobre este esporte no ano passado, de curiosidade, de tanto ouvir falar que o beisebol era parecido com, ou descendia do críquete, ou qualquer coisa nesse sentido. Acabei encontrando vários vídeos que ensinam a jogá-lo, e várias curiosidades deste esporte tão diferente. Desde que eu fiz o post sobre beisebol, tenho vontade de compartilhá-las com vocês. Como eu não resisto mesmo, hoje é o dia.

Antes de começarmos, apenas um pequeno aparte: curiosamente, muita gente que eu conheço acha que críquete é aquele esporte onde o objetivo é acertar uma bola com uma marreta e fazê-la passar por baixo de uns aros, que costuma aparecer em desenhos animados como o do Pica-Pau. Na verdade aquele esporte se chama croquê, e não tem nada a ver com críquete.

O críquete é um dos esportes mais antigos do mundo, tão antigo que ninguém sabe com certeza quando ele foi inventado. O que se sabe é que já no tempo dos normandos e saxões ele era jogado pelas crianças da região de Weald, no sudeste da Inglaterra. Como o objetivo primordial do jogo é bastante simples - acertar com um bastão uma bola arremessada - acredita-se que ele tenha sido apenas passatempo de crianças das zonas rurais até o século XVII, quando os adultos resolveram adicionar mais regras e começar a praticá-lo. O primeiro registro oficial do esporte é de 1597, em um processo onde uma escola clama propriedade sobre uma faixa de terra, e uma das testemunhas declara que as crianças da escola utilizam o local para jogar "kreckett" há mais de cinqüenta anos. A primeira referência ao críquete como um esporte de adultos é de 1611, também em um processo, onde dois homens são processados por ficarem jogando cricket aos domingos pela manhã ao invés de irem à igreja. Falando nisso, aliás, assim como ninguém sabe quando o esporte foi inventado, ninguém sabe de onde veio o nome "críquete", ou quando ele começou a ser usado. A teoria mais aceita é a de que a palavra cricket, que dá nome ao jogo em inglês, seja uma corruptela do francês criquet, que não é mais usada mas significava "bastão" - e que, curiosamente, também deu nome ao jogo de croquê.

Seja como for, a partir do momento em que o críquete passou a ser um jogo de adultos, ele foi crescendo em popularidade e ganhando novas regras - e atraindo apostadores. Por volta de 1697, as regras já eram bastante semelhantes às de hoje, mas a primeira codificação ocorreu apenas em 1744, quando surgiram as chamadas Leis do Críquete, em vigor até hoje. Por volta de 1751 começaram a surgir os primeiros clubes, e, com eles, os primeiros campeonatos. Depois disso, os colonizadores e imigrantes ingleses começaram a espalhar o esporte pelo mundo, até que, em 1844, foi disputada a primeira partida internacional da história do esporte, entre Estados Unidos e Canadá, em Nova Jérsei. A primeira partida internacional envolvendo jogadores profissionais seria disputada em 1877, entre Inglaterra e Austrália, na Austrália. A partir daí começou o que ficou conhecido como "a Era de Ouro do críquete", quando o esporte atingiu níveis de popularidade jamais vistos, e que durou até mais ou menos a Primeira Guerra Mundial.

Hoje, o críquete é considerado o mais inglês dos esportes, e é o esporte mais popular da Índia, Paquistão, Sri Lanka e das ex-colônias inglesas do Caribe, sendo considerado também o esporte nacional da Austrália - tanto que o estádio mais famoso de lá, o Melbourne Cricket Ground, também usado para futebol e rugby, e que foi o Estádio Olímpico em 1956, é um estádio de críquete. O órgão que controla o esporte internacionalmente, o ICC (International Cricket Council), foi fundado em 1909 (com o nome de Imperial Cricket Conference), pela Inglaterra, Austrália e África do Sul. Atualmente, o ICC já conta com 101 membros, incluindo o Brasil - embora eu nunca tenha ficado sabendo de nenhuma partida de críquete realizada em território nacional.

O críquete é um esporte demorado, com um placar incompreensível a quem não conhece o sistema de pontuação, mas que, na verdade, tem regras bastante simples. De fato, o objetivo não poderia ser mais simples: o time que está defendendo arremessa uma bola, e o time que está atacando tem de rebatê-la com um bastão. É claro que não é só isso, então passemos aos detalhes; como de costume, vou apenas explicar o básico, e quem quiser saber das nuances pode procurar por aí.

O críquete é um dos poucos esportes jogados em um campo oval. Este campo não possui uma dimensão padrão, mas normalmente tem entre 137 e 150 metros de diâmetro. O campo é todo gramado, exceto por uma pequena faixa de terra, um retângulo de 3 por 20 metros, localizado bem em seu centro. Este retângulo é conhecido como pitch, e é lá que a ação se desenrola.

Um time de críquete conta com 11 jogadores. Quando o time está defendendo, todos os onze estão em campo; quando o time está atacando, apenas dois deles vão para o pitch rebater, os outros esperam sua vez de jogar; a ordem dos rebatedores é escolhida pelo capitão do time, não precisa ser divulgada previamente, e normalmente traz os melhores rebatedores no início e os piores por último. Dos onze jogadores do time de defesa, um é o arremessador (bowler), o sujeito que jogará a bola na direção do rebatedor, se posicionando em uma das pontas do pitch. Outro jogador do time de defesa será o wicket keeper, e se posicionará na ponta do pitch oposta ao arremessador, normalmente agachado, atrás do wicket - do qual falaremos em breve. Os outros nove jogadores são espalhados pelo campo, em posições escolhidas pelo capitão do time, e determinadas pela estratégia da defesa. Estes jogadores terão a missão de pegar a bola caso ela seja rebatida, e podem mudar de posição a qualquer momento durante o jogo, de acordo com a conveniência do capitão. Finalmente, um dos dois jogadores do time atacando será o rebatedor (striker), e se posicionará na ponta oposta do pitch ao arremessador, na frente do wicket. O outro será conhecido como non-striker, e se posicionará atrás do arremessador.

O famoso wicket consiste de três estacas de madeira, chamadas stumps, de 71 cm de altura, fincadas firmemente no chão. O pitch tem dois wickets, um de cada lado. Sobre as estacas repousam duas pecinhas leves de madeira chamadas bails. As bails não são fixas, estando apenas apoiadas sobre os stumps, de forma que, se algo atingir os stumps, derrubará as bails. Quando isso acontece, diz-se que o wicket foi "quebrado", o que é bom para a defesa. Assim, o objetivo do arremessador no jogo é acertar o wicket, e o do rebatedor é usar o bastão para impedi-lo, jogando a bola para longe. E tentando anotar uma corrida quando consegue.

A 122 cm do final de cada lado do pitch existe uma linha branca que delimita uma área chamada crease, no centro da qual fica um wicket. Toda vez que o rebatedor consegue rebater a bola, ele e seu parceiro (o non-striker), sairão correndo, cada um em direção à crease oposta. Se ambos conseguirem alcançá-la, anotarão uma corrida, e seus papéis serão invertidos, com o non-striker rebatendo na jogada seguinte. Se acharem seguro e válido, eles podem continuar correndo, anotando mais corridas em seqüência. Neste caso, será o rebatedor para o arremesso seguinte o que terminar na ponta do pitch oposta ao arremessador. "Corridas automáticas" também são anotadas caso o rebatedor rebata a bola para fora do campo: 6 corridas se a bola não tocou o chão antes de fazê-lo, ou 4 se tocou. Estas corridas automáticas substituem as que o rebatedor e seu parceiro tiverem feito antes da bola sair.

A bola do críquete é dura e sólida, com por volta de 225 mm de circunferência, e pesando aproximadamente 160 gramas. Seu núcleo é de cortiça, enrolado com linha, e envolto em couro. A bola normalmente é vermelha para jogos diurnos, ou branca para jogos noturnos, embora outras cores, como amarelo, laranja e até rosa-choque, sejam eventualmente usadas. O bastão com o qual o rebatedor tentará rebatê-la é feito de madeira, e, diferentemente de um bastão de beisebol, é chato com uma empunhadura cilíndrica, parecendo um remo. o bastão não pode ter mais de 96,5 cm de comprimento, e a parte chata - conhecida como "lâmina" - não pode ter mais de 10,8 cm de largura. Normalmente o bastão pesa entre 1 e 1,4 Kg. Também diferentemente do beisebol, a bola não é rebatida em cima, na altura dos ombros, mas embaixo, quase paralela à perna do rebatedor, para proteger o wicket. O arremessador também não arremessa a bola parado, mas após uma pequena corrida. Também é permitido que a bola quique antes de ser rebatida. O uniforme do críquete é composto de camisas de mangas curtas ou compridas, calças compridas e um boné na cabeça; o rebatedor usa proteções nas pernas, para não se machucar se levar uma bolada, e, opcionalmente, um boné de plástico com uma grade no rosto, também para proteger de boladas; o wicket keeper também pode usar as proteções nas pernas e no rosto, e obrigatoriamente usa um par de luvas especiais, tipo luvas de goleiro, para ajudá-lo a pegar a bola em movimento.

Um jogo de críquete conta com dois árbitros, um principal, que fica atrás do arremessador, e um auxiliar, que fica ao lado do rebatedor - ambos com uma certa distância para não atrapalhar o jogo, evidentemente. Jogos especialmente importantes podem ter um terceiro árbitro, que assiste à partida pela televisão, e auxilia o árbitro principal em caso de jogadas controversas. Partidas internacionais contam ainda com um árbitro conhecido como match referee, que só interfere no jogo no caso de violação às Leis do Críquete ou ao fair play.

Uma partida de críquete não tem duração pré-determinada. Ela é dividida em quatro innings, que, por sua vez, são divididos em overs. Um over consiste de seis arremessos válidos (ou seja, nos quais o rebatedor tinha condições de rebater a bola; jogar a bola lá pra longe não vale). No final de cada over, o arremessador troca de lugar com um dos nove jogadores que estavam espalhados pelo campo, e o novo arremessador arremessará da outra ponta do pitch, o que efetivamente faz com que o striker e o non-striker também invertam seus papéis. Um mesmo jogador pode ser arremessador em quantos overs quiser, desde que não o seja em dois overs seguidos.

Um innings (também no singular) dura quantos overs forem necessários até que dez dos onze rebatedores do time atacando sejam eliminados - pois as regras exigem que o time atacando tenha sempre dois jogadores em campo. Quando um rebatedor é eliminado, outro dos que estavam esperando assume seu lugar, e o eliminado sai do jogo. Um rebatedor pode ser eliminado de nada menos que dez formas diferentes; a mais simples se chama caught ("pego"), quando o rebatedor consegue rebater a bola, mas um dos jogadores da defesa a pega antes que ela toque o chão. Um rebatedor também estará "pego" se a bola tocar sua mão enquanto ele estiver segurando o bastão. Outra forma comum de eliminação se chama bowled, e acontece quando a bola arremessada atinge o wicket, derrubando uma ou ambas as bails, mesmo que ela tenha resvalado no bastão antes de fazê-lo. Se o arremesso for válido, e a bola for parar nas mãos do wicket keeper, ele poderá usá-la para quebrar o wicket, eliminando o rebatedor em uma jogada conhecida como stumped.

Se o rebatedor conseguir rebater a bola, ela tocar o chão, e ele sair correndo em direção à crease, ainda há uma forma dele ser eliminado: se qualquer jogador do time de defesa (incluindo o arremessador e o wicket keeper) conseguir pegar a bola antes dela sair de campo, ele poderá arremessá-la na direção de um dos dois wickets. Se este wicket for quebrado antes do jogador que está correndo alcançar a crease, a corrida não será anotada, e o jogador estará eliminado, em uma jogada conhecida como run out. Curiosamente, as regras não dizem que o rebatedor precisa rebater a bola antes de tentar anotar a corrida, então na teoria um rebatedor poderia simplesmente sair correndo assim que a bola saísse da mão do arremessador, tentando ele e seu parceiro alcançar as creases antes que um wicket seja quebrado - mas, evidentemente, é uma jogada muito mais difícil.

Caso o rebatedor pare a bola com qualquer parte de seu corpo, ao invés de com o bastão, e o árbitro auxiliar julgar que ela iria quebrar o wicket se ele não o tivesse feito, ele também é eliminado, por leg before wicket (ou lbw, algo como "perna na frente do wicket"). Caso o próprio rebatedor quebre o wicket, atingindo-o com o bastão ou com parte do corpo, mesmo que seja após rebater a bola, ele também estará eliminado, por hit wicket - por este motivo, os rebatedores correm segurando seus bastões, ao invés de jogá-los longe como no beisebol. Outras formas mais ridículas de serem eliminados incluem pegar a bola com as mãos (handled the ball), obstruir um jogador de defesa que esteja tentando acertar o wicket após pegar a bola (obstructing the field), acertar a bola com o bastão duas vezes em uma única jogada (hit the ball twice), ou demorar mais de três minutos para assumir a posição ao substituir um rebatedor eliminado (timed out).

Uma vez que dez rebatedores tenham sido eliminados, termina o innings, e os times trocam de posição: os onze jogadores que estavam na defesa agora tentarão rebater, e os onze que tentaram rebater agora irão para a defesa, com um deles assumindo a função de arremessador e outro a de wicket keeper. Como o jogo completo tem quatro innings, cada time defenderá e o outro atacará em dois deles. Ao final do quarto innings, quem tiver somado mais corridas será o vencedor. O time que rebate no último innings não precisa continuar até dez de seus rebatedores serem eliminados se alcançar um número de corridas que lhe garanta a vitória antes disso, e, se no final do terceiro innings a quantidade de corridas do time que irá rebater no quarto já for maior do que a do que rebateu no terceiro, o quarto não é nem jogado. É possível - apesar de raríssimo - um jogo terminar empatado. Caso seja um jogo que não possa terminar empatado, como um jogo eliminatório, por exemplo, ele será decidido no bowl-out, uma espécie de "disputa de pênaltis": cinco jogadores de cada time arremessam a bola em direção a um wicket, sem rebatedor; o time que quebrar mais wickets vence.



O placar do críquete é curiosíssimo: são anotados o número de corridas, seguido do número de rebatedores eliminados até o momento. Assim, um time com 195 corridas e 3 eliminados tem o placar de 195/3. Os resultados finais também são curiosos: supondo que o time B, que rebateu no quarto innings, fez 192 corridas, não conseguindo alcançar o time A, que terminou o terceiro innings com 200, então o time A ganhou por 8 corridas. Se este mesmo time B alcançasse 201 corridas, quando só tinha 4 jogadores eliminados, então o time B ganhou por 6 wickets (sendo 6 a diferença entre o número de eliminados no momento, 4, e o número de eliminados necessário para o jogo terminar, 10). Finalmente, caso no final do tercerio innings o time A tinha 200 corridas, mas só no segundo innings o time B marcou 205, então o time B ganhou por um innings e cinco corridas.

A esta altura, muitos já devem estar imaginando que um jogo que exige que dez rebatedores sejam eliminados quatro vezes e termina com por volta de 200 corridas para cada lado deve demorar um pouquinho. De fato, um jogo de críquete costuma demorar muito. Mas muito mesmo. Normalmente de três a cinco dias, com seis horas de jogo por dia, com o jogo sendo interrompido quando não há mais luz natural, e continuando no dia seguinte. Como o críquete não pode ser jogado na chuva, caso chova em algum dia, o jogo vai durar um dia a mais. Evidentemente, um jogo tão comprido não é apropriado para ser transmitido pela televisão, e apenas os fãs mais ardorosos se disporiam a freqüentar um estádio cinco dias seguidos para acompanhar um jogo inteiro. Portanto, para que o críquete atraísse mais espectadores, tanto presentes quanto pela TV, o ICC decidiu torná-lo menos demorado. Mas, ao invés de mudar as regras, como a FIVB fez com o vôlei, por exemplo, ela decidiu criar novas modalidades do esporte.

Atualmente, o críquete tradicional, que dura quatro innings e cinco dias, é conhecido como Test Cricket, termo cunhado durante uma excursão do time inglês pela Austrália no final do século XIX, quando a série de partidas disputadas foi considerada um "teste de força e competência" para a equipe inglesa pela imprensa local. O Test Cricket ainda é considerado a principal modalidade do esporte, embora venha perdendo popularidade nos últimos anos. Atualmente, o Test Cricket só é jogado internacionalmente por equipes das chamadas Test Nations - Inglaterra, Austrália, África do Sul, Índias Ocidentais (uma seleção de jogadores de treze ex-colônias inglesas do Caribe), Nova Zelândia, Índia, Paquistão, Sri Lanka, Zimbábue e Bangladesh - e em um sistema de séries de jogos, no qual cada Test Nation enfrenta todas as outras ao longo de seis anos, com um ranking dizendo qual é a mais bem sucedida, e um troféu que sempre fica com a primeira do ranking (atualmente a Austrália). A única exceção é o torneio ICC Intercontinental Cup, disputado anualmente desde 2004 em sistema de todos contra todos, exclusivamente por nações sem Test Status, vencido duas vezes pela Irlanda e uma pela Escócia. Também anualmente, desde 1882, é disputada uma série de 5 jogos entre a Inglaterra e a Austrália conhecida como The Ashes, e considerada como o mais importante e tradicional evento do críquete mundial. Seja qual for o torneio, no Test Cricket ambos os times jogam de branco, e cada jogo tem uma duração máxima de cinco dias, terminando obrigatoriamente empatado se não chegar ao final no término do quinto dia.

A modalidade que é atualmente mais popular é a conhecida como Limited Overs Cricket ou One Day International, ou ainda ODI. A primeira partida ao estilo ODI, mas ainda sem este nome, foi jogada em 1962 na Inglaterra, e o primeiro torneio completo neste formato foi disputado no ano seguinte. A popularidade desta versão mais "curta" do jogo rapidamente convenceu o ICC de que este era o melhor caminho a ser seguido, e em 1971 foi criada oficialmente esta nova modalidade, que, como o próprio nome sugere, tem suas partidas resolvidas em um único dia, com duração de entre quatro e seis horas, o que estimula a transmissão pela TV e aumenta o público presente nos estádios. Graças a isso, hoje em dia todos os torneios entre clubes, e as mais populares competições internacionais, como a Copa do Mundo, são disputados no formato ODI. Diferentemente do que ocorre no Test Cricket, no ODI as equipes usam uniformes coloridos, e são possíveis jogos noturnos, com o uso de refletores. O que ainda não é possível é jogar na chuva, portanto, apesar do normal ser que o jogo termine em um dia só, se começa a chover durante uma partida ela é interrompida e concluída ou quando a chuva parar ou no dia seguinte.

Para que o ODI termine em um dia só, ele tem algumas regras diferentes do Test Cricket. Para começar, são apenas dois innings: no primeiro o time A arremessa enquanto o time B rebate, no segundo o time B arremessa enquanto o time A rebate. O jogo termina quando dez rebatedores do time B são eliminados (com o time A ganhando por x corridas), ou quando o time B ultrapassa o número de corridas do time A (com o time B ganhando por n wickets). Além disso, cada innings dura um número máximo de overs - 50 nas competições internacionais, entre 40 e 60 em competições domésticas - sendo que o innings termina após o último arremesso do último over, mesmo que os dez rebatedores ainda não tenham sido eliminados. Além disso, o campo recebe duas marcações extras: dois círculos de 27,4 m de diâmetro centrados em cada wicket, e um oval de 27,4 m de raio a partir do centro do campo. O que está dentro dos dois círculos é chamado close infield; fora dos círculos mas dentro do oval é o infield; e fora do oval é o outfield. Durante três períodos do jogo conhecidos como powerplays - em uma partida de 50 overs por innings, os powerplays são os 10 primeiros overs do innings, mas dois períodos de 5 overs consecutivos cada, escolhidos pelo capitão do time defendendo - o time defendendo só poderá ter dois de seus nove jogadores de defesa no outfield, e pelo menos dois no close infield, devendo os demais ficarem obrigatoriamente no infield. Fora dos powerplays, o time pode ter no máximo cinco jogadores no outfield, e não há mínimo para o close infield - embora normalmente os dois que lá estavam sejam mantidos. O intuito desta regra é encorajar os rebatedores a rebater para o outfield, deixando o jogo mais emocionante. Finalmente, no ODI cada jogador, além de não poder arremessar por dois overs seguidos, só pode arremessar em no máximo dez overs, o que impede que um dos times leve vantagem por ter um arremessador acima da média.

A modalidade mais recente é também a mais veloz: conhecida como Twenty20, ela foi inventada em 2003 na Inglaterra, na forma de um campeonato com as regras da ODI, mas apenas 20 overs por innings. Um jogo de Twenty20 costuma durar duas horas e meia, o que faz com que esta categoria venha crescendo em popularidade no mundo inteiro, principalmente nas competições entre clubes. Uma partida de Twenty20 só tem dois innings, de 20 overs cada, cada arremessador só pode arremessar por no máximo 4 overs, apenas dois jogadores da defesa podem ficar no outfield durante os seis primeiros overs, e depois disso até cinco jogadores podem, nunca pode haver mais de cinco jogadores de defesa atrás do rebatedor, e um time que esteja "fazendo cera" e aumentando a duração do jogo de propósito é penalizado em cinco corridas. Os torneios de clubes de Twenty20 não costumam "substituir" os torneios ODI, sendo disputados simultaneamente a estes. Além de alguns jogos "soltos", até hoje só foi realizado um torneio internacional de Twenty20, o ICC World Twenty20, disputado no ano passado na África do Sul, e vencido pela Índia. O intuito do ICC é fazer com que o campeonato seja disputado a cada dois anos, com o próximo já marcado para ano que vem na Inglaterra.

A mais importante e famosa competição do críquete mundial é a Copa do Mundo, disputada no formato ODI. A versão masculina foi disputada pela primeira vez em 1975, e é disputada a cada quatro anos desde 1999. O maior vencedor é a Austrália, que tem quatro títulos, sendo os três últimos seguidos; as Índias Ocidentais têm dois títulos, e Índia, Paquistão e Sri Lanka têm um cada. No feminino a Copa é disputada a intervalos irregulares desde 1973, mas o planejamento é de que o seja a cada quatro anos após 2005. A Austrália também é o maior vencedor, com cinco títulos; a Inglaterra tem dois títulos, e a Nova Zelândia um. Falando nisso, existe críquete feminino, disputado em todas as três modalidades, embora os torneios mais famosos, como as séries do Test Cricket, o The Ashes, o ICC Intercontinental Cup e o ICC World Twenty20 sejam todos masculinos - se bem que há planos para que o primeiro ICC World Twenty20 feminino seja disputado ano que vem.

O críquete já foi esporte olímpico, disputado apenas uma vez, na Olimpíada de 1900, com vitória da Grã-Bretanha sobre a França, únicos dois times que participaram, na modalidade Test Cricket, a única que existia. O ICC é uma entidade reconhecida pelo COI, e durante algum tempo até tentou incluir um torneio ODI no programa olímpico, mas sem sucesso. Especula-se que agora o ICC tentará incluir o Twenty20 nas Olimpíadas, mas ainda não há uma posição oficial do órgão sobre o assunto.

0 Comentários:

Postar um comentário