O primeiro Contra lançado para um videogame não-Nintendo foi Contra: Hard Corps, lançado em 1994 para Sega Genesis, conhecido aqui no Brasil como Mega Drive. Ao invés de dar aos usuários da Sega "mais do mesmo", com Bill e Lance enfrentando alienígenas, a Konami optou por manter apenas o estilo de jogo e o cenário, e inovar em todo o resto: Hard Corps se passa cinco anos após os eventos de Contra 3 (ou seja, no ano 2641), quando a ameaça alienígena foi totalmente rechaçada, e a humanidade lentamente começa a reconstruir sua civilização. Para manter a paz e a ordem nestes tempos tão difíceis, é criada uma unidade especial do Exército, conhecida, adivinhem, como Hard Corps.
Fora um eventual meliante ou outro para deter, os Hard Corps não têm muito trabalho, até que um dia o sistema de segurança da cidade falha, e robôs descontrolados saem destruindo tudo. Na verdade isto foi apenas uma distração criada pelo Coronel Bahamut, um herói da guerra contra os alienígenas, que aparentemente enlouqueceu e planeja dominar o mundo, se utilizando do poder de uma célula alienígena confinada no centro de defesa da cidade. Uma corajosa equipe de quatro Hard Corps descobre os planos do Coronel, e parte para detê-lo.
Como era de se esperar, no início do jogo você pode escolher um dos quatro membros desta equipe, o que já é uma enorme inovação em termos de Contra, pois até então o jogador 1 só podia jogar com Bill, e o jogador 2 com Lance. Para completar a novidade, a equipe não é composta de quatro soldados idênticos com cabelos e roupas diferentes, mas de um homem (Ray Poward), uma mulher (Sheena Etranzi), um lobisomem (Brad Fang) e um robô (Modelo de Combate CX-1-DA300, apelidado "Browny"). Cada um possui quatro armas diferentes, que podem ser trocadas recolhendo seus símbolos dos tradicionais balões, e algumas características distintas, como maior ou menor velocidade ou alcance do pulo (Browny, aliás, possui um pulo duplo), mas nenhuma destas peculiaridades influencia na dificuldade do jogo, sendo a escolha do personagem uma questão puramente pessoal.
Falando em dificuldade, Contra: Hard Corps é um jogo dificílimo, tão ou mais difícil que Contra 3. Na versão original japonesa o jogador pode ser atingido três vezes antes de morrer, mas nas versões americana e européia é "bateu-morreu" como nos Contra anteriores. O jogo é composto de dez fases com poucos inimigos que morrem com um só tiro, mas muitos sub-chefes que dão um trabalho danado. Outra inovação do jogo é a presença de caminhos alternativos nas fases, que inclusive alteram o final de acordo com o caminho seguido pelo jogador - ao todo existem quatro finais diferentes, mais um final secreto, somente obtido se o jogador encontrar e passar por uma fase secreta.
Contra: Hard Corps foi o último jogo da série a ser lançado na Europa com o nome de Probotector, mas a Konami decidiu fechar com chave de ouro: substituiu os quatro personagens por quatro robôs idênticos, mas de cores diferentes, de nomes CX-1, CX-2, CX-3 e CX-4; o Coronel Bahamut agora é um alienígena; um dos personagens que era um traidor dos Hard Corps agora é mau desde o início; e a célula alienígena foi substituída por uma nova fonte de combustível para robôs.
A boa notícia é que, a partir do jogo seguinte, um grande contingente de jogadores mais velhos e um relaxamento parcial das rígidas leis européias fez com que a Konami passasse a lançar o mesmo jogo, imodificado, nos Estados Unidos e Europa. A má notícia é que o jogo seguinte não foi lá essas coisas. Lançado em 1996 para Playstation e Sega Saturn, Contra: Legacy of War sequer foi desenvolvido pela Konami, mas pela softhouse húngara Appaloosa. Uma enxurrada de críticas negativas fez com que o jogo sequer fosse lançado no Japão, e tal fato acabou fazendo com que, em 2002, a Konami o retirasse da cronologia oficial de Contra.
Legacy of War foi o primeiro Contra com gráficos em 3D. Mais do que isso, o jogo vinha acompanhado de um par de óculos 3D, e uma opção no menu permitia que o jogador, ao usá-los, visse tudo em 3D. As fases, infelizmente, são mostradas de um ângulo bisonho, e os personagens são focalizados tão de perto que às vezes você é atingido sem nem saber pelo quê. Esta mesma característica faz com que inimigos aéreos sejam quase impossíveis de serem atingidos, e com que as lutas contra os chefes sejam meio claustrofóbicas, sem muito lugar para correr dos ataques inimigos. Por causa desta câmera torta e dos controles um tanto difíceis de se acostumar, Legacy of War acaba sendo um jogo bem mais difícil do que é realmente. Pelo menos você começa o jogo com nove vidas - mas, se der continue, por qualquer razão volta só com oito - e é possível gravar o progresso no Memory Card.
A história também não é lá essas coisas - de fato, parece uma cópia da história de Hard Corps: o Coronel Bassar, ditador de um pequeno país hostil (e que, por algum motivo, tem a pele verde), conseguiu roubar um embrião alienígena, e o está utilizando para criar supersoldados geneticamente modificados. Uma equipe especial, liderada por Ray Poward, é reunida para impedi-lo. Além de Ray, você pode escolher jogar com a mercenária Tasha, o robô CD-288, ou o alienígena renegado Bubba. Assim como em Hard Corps, cada um deles tem quatro armas diferentes (sendo que duas, a metralhadora e o lança-chamas, são comuns aos quatro), e algumas características melhores ou piores em relação aos outros três, mas, mais uma vez, o personagem com o qual você joga é apenas uma questão de escolha, influenciando pouco no desenrolar do jogo. Legacy of War tem ao todo 7 fases, mas sem caminhos ou finais alternativos.
Mesmo com todas as críticas desfavoráveis em relação a Legacy of War, a Appaloosa ainda conseguiu autorização da Konami para desenvovler um segundo título para Playstation, lançado em 1998 com o nome de C: The Contra Adventure. Mais uma vez foi um jogo em 3D, mais uma vez recebeu muitas críticas desfavoráveis, e mais uma vez foi removido da cronologia oficial em 2002. Na verdade o jogo foi considerado tão ruim que foi lançado apenas nos Estados Unidos.
Mas ninguém pode acusar a Appaloosa de não ter se esforçado: apenas uma das sete fases usa a câmera horrorosa do jogo anterior, sendo outras quatro vistas de trás do personagem, e mais duas no tradicional estilo de plataforma (mas com gráficos em 3D). Mas C comete um pecado mortal em termos de Contra: não tem um modo para dois jogadores. Além disso, o único personagem à disposição do jogador é Ray Poward, que tem por missão encontrar Tanya, uma soldado de elite desaparecida enquanto investigava a queda de um meteorito em um templo maia na América do Sul, e derrotar invasores alienígenas que vieram atrás do tal meteorito. Ray começa o jogo com cinco vidas, mas você não perde uma delas assim que é atingido - pela primeira vez em um Contra norte-americano, o personagem tem energia, que vai diminuindo conforme ele é atingido.
Após o fiasco da Appaloosa, talvez se esperasse que a série chegasse a seu fim. A Konami, porém, decidiu dar a ela um novo gás, e do jeito certo: chamou Nobuya Nakazato, um dos responsáveis por Contra 3 e por Hard Corps, e lhe incumbiu da missão de criar um novo Contra, com gráficos 3D mas o mais fiel possível ao original, com fases de plataforma e até trazendo de volta Bill e Lance. Para completar o revival, este jogo seria lançado para Nintendo 64, sistema da empresa onde Contra havia vivido seus melhores dias. Infelizmente, problemas envolvendo a capacidade máxima dos cartuchos do Nintendo 64 e atrasos no desenvolvimento acabaram fazendo com que este título fosse cancelado.
O que já estava pronto, porém, pôde ser muito bem aproveitado, e o resultado foi um jogo de Playstation 2 que trouxe Contra de volta aos seus melhores dias: Contra: Shattered Soldier, lançado em 2002. Com gráficos 3D mas bastante parecido com os Contra originais, Shattered Soldier traz cinco fases recheadas de inimigos, chefes enormes e muito tiroteio. A única coisa que não se manteve fiel aos Contra originais foi o sistema de armas: você já começa com uma metralhadora, um lança-chamas e um lança-granadas, e pode alternar entre elas livremente, sem ser preciso pegar armas nos balões de ferro, que nem existem nesse jogo. Cada arma possui um ataque comum ilimitado, e um ataque especial, muito mais poderoso mas de usos limitados. Assim como Hard Corps, Shattered Soldier tem vários finais diferentes, mas aqui eles não dependem de caminhos alternativos nas fases, mas de seu desempenho nelas: o jogo possui um sistema de hit rate, que computa quantos inimigos foram destruídos (sendo que destruir o mesmo mais de uma vez não conta), quantas vidas foram perdidas e quantos continues foram gastos (mas não o tempo gasto em cada fase) para ranquear o jogador e disponibilizar conteúdo secreto e finais melhores.
Shattered Soldier se passa no ano 2647 (seis anos após Hard Corps, onze após Contra 3). Cinco anos antes, um pulso eletromagnético disparado por engano matou 80% da população da Terra. O suspeito por disparar este pulso criminoso foi ninguém menos do que Bill, acusado ainda de assassinar seu ex-companheiro Lance quando este tentava impedi-lo. Por este crime, Bill foi condenado a dez mil anos de prisão criogênica. Apenas cinco anos após Bill ser congelado, porém, uma organização terrorista auto-denominada Blood Falcon, liderada por um ser com poderes sobre-humanos, ameaça destruir o que restou do planeta. Sem escolha diante de suas armas alienígenas, o Exército decide descongelar Bill e enviá-lo para a batalha, com a promessa de que seus crimes serão perdoados se ele derrotar a Blood Falcon. Para acompanhar Bill em sua missão (e também para que o jogo possa ter um modo de dois jogadores) é designada Lucia, uma ciborgue de última geração. Ao longo da batalha, Bill e Lucia descobrirão uma verdade terrível: Lance não morreu, mas foi infectado pelos alienígenas, e é ele o comandante da Blood Falcon.
Com Shattered Soldier, a Konami decidiu não só revitalizar a série, mas também arrumar a casa: foi após seu lançamento que Contra Force, Legacy of War e The Contra Adventure foram removidos da cronologia oficial, e a cronologia norte-americana foi alterada para ficar igual à japonesa, o que acabou significando que os manuais dos jogos lançados nos Estados Unidos estavam errados. O jogo foi extremamente bem recebido, e rendeu uma continuação, lançada também para Playstation 2, em 2004, com o nome de Neo Contra. Neo Contra, porém, não era tão legal quanto seu antecessor: mais uma vez Contra se aventurou pelo terreno do 3D, e, embora a câmera da Konami seja muito melhor que a da Appaloosa, e o jogo tenha mira automática desde que os inimigos estejam na mesma direção do cano da arma, os controles são um pouco esquisitos. A maior parte do jogo acontece em perspectiva isométrica - visto de cima mas de uma diagonal - mas algumas partes de algumas fases são vistas de trás do personagem, e algumas até lembram fases de plataforma. Mais uma vez o jogador começa com três armas, mas agora é possível adquirir mais delas conforme seu hit rate for aumentando. Neo Contra tem sete fases, e, diferentemente do "padrão Contra", é um jogo curto e fácil.
A história é meio esquisita: o ano é 4444 (nada menos que 1797 anos após Shattered Soldier) e a Terra foi transformada em um planeta-prisão, onde imperam criminosos e rebeldes políticos que se auto-denominam Contras. Estes rebeldes se organizam em um grupo chamado Neo Contra, que logo é considerado uma ameaça pelo famoso Exército. Para combater o Neo Contra eles chamam ninguém menos que Bill - que, a princípio, estava em sono criogênico, mas ao longo do jogo descobrimos que, na verdade, trata-se de um clone de Bill - e o enviam para a Terra na companhia do samurai Jaguar. Ambos terão a missão de derrotar o Neo Contra, mas não sem antes descobrir que seu líder é nada menos que outro clone de Bill.
Por ser em 3D, fácil demais, e ter uma história esquisita, Neo Contra não foi bem recebido pelos fãs, e surgiu até um boato de que a Konami estaria tentando trazer novos jogadores para a série ao lançá-lo. Assim, mais uma vez, a Konami decidiu retornar às origens para revitalizar a série, e, em 2007, lançou para Nintendo DS o primeiro Contra para um sistema Nintendo desde Contra 3 - mais do que isso, uma continuação direta de Contra 3: Contra 4.
Ambientado em 2638, dois anos após Contra 3 e três antes de Hard Corps, Contra 4 traz uma nova ameaça alienígena, chamada Black Viper. Para detê-la, o Exército chama seus principais soldados: Bill, Lance, Mad Dog e Scorpion. Ué, mas Mad Dog e Scorpion não eram Bill e Lance na versão americana? Pois é. Contra 4 foi desenvolvido pela empresa norte-americana WayForward sob supervisão da Konami norte-americana, então parece que eles quiseram consertar algumas incongruências causadas pela adoção da cronologia japonesa nos jogos norte-americanos. Assim, não somente Mad Dog e Scorpion são dois soldados diferentes de Bill e Lance como também o jogo Operation C, que originalmente era uma missão de Bill contra a organização terrorista Black Viper agora é oficialmente uma missão anterior de Mad Dog e Scorpion contra a ameaça alienígena Black Viper - e essa foi a razão pela qual eles agora foram convocados para ajudar Bill e Lance. Como Contra, Super C e Operation C não têm nenhum texto explicativo da história durante o jogo, sendo todo o enredo contado no manual, na minha opinião eles nem precisavam tentar consertar, podendo mudar a história para o que bem entendessem, mas enfim. E a razão pela qual temos quatro personagens disponíveis para jogadores é que, originalmente, quatro jogadores poderiam jogar simultaneamente, mas durante o desenvolvimento esta idéia foi abandonada, e a versão final do jogo só permite dois jogadores.
Contra 4 utiliza o mesmo estilo de jogo do Contra original, com nove fases, sendo seis de plataforma e três vistas de trás do personagem. Durante o jogo, também são feitas várias "homenagens" aos Contra que saíram para sistemas Nintendo, como chefes que retornam, mas redesenhados. O jogo usa o mesmo sistema de armas de Contra 3, onde o jogador pode carregar duas armas de cada vez, e, assim como na versão Arcade de Super Contra, pegar o mesmo símbolo da arma que você está carregando aumenta o poder da mesma. Falando nisso, os balões que carregam as armas voltaram, e trazem seis armas diferentes para substituir o rifle comum com o qual se começa o jogo, além de um escudo temporário e uma bomba que destrói todos os inimigos da tela. Antes de pegar uma nova arma, o jogador pode optar por "soltar" a antiga, pegando-a de novo após um tempo, ou deixando-a para o segundo jogador pegar. Apesar de toda esta nostalgia, Contra 4 faz bom uso da capacidade do DS, com ótimos gráficos e música, e o uso das duas telas - nas fases de plataforma, a ação se desenrola em ambas simultaneamente, e nas vistas de trás a tela inferior serve como mapa.
Além do jogo comum, chamado de Arcade Mode, Contra 4 traz um Challenge Mode, com dez tipos de missões diferentes. Cada uma delas traz um objetivo, como chegar ao final da fase em um tempo pré-determinado, sem atingir reféns feitos pelos alienígenas, ou até sem disparar um único tiro. Concluindo estas missões, você destrava conteúdo secreto, como uma galeria de ilustrações, material promocional e capturas de tela dos demais jogos da série; a possibilidade de jogar as versões NES de Contra e Super C; e até mesmo cinco personagens secretos, se você não estiver a fim de jogar com os quatro que o jogo oferece: Probotector, Lucia, Sheena Etranzi, Jimbo e Sully. Sim, Jimbo e Sully teoricamente eram os descendentes de Mad Dog e Scorpion em Contra 3, mas já que tudo virou uma salada mesmo, agora eles também são soldados diferentes. E Probotector é o robô conhecido como RD008 e RC011, que substituía Bill e Lance na versão européia de Contra.
Mesmo com as eventuais confusões causadas pelas "correções" na cronologia - os fãs mais radicais, por exemplo, não aceitam a inclusão de Mad Dog e Scorpion no jogo, e acham que esses nomes deveriam ser esquecidos para sempre - Contra 4 foi extremamente bem recebido pela crítica, e ganhou o prêmio de melhor jogo de ação de 2007, conferido pela IGN. Isto, aliado à boa vendagem, fez com que a Konami decidisse lançá-lo também no Japão, com o nome de Contra: Dual Spirits, previsto para o próximo dia 13 de março. Se a Konami aprendeu a lição e fará os novos Contra mais parecidos com este ou se inventará mais moda - um onde o jogador usa o remoto do Wii como rifle, talvez? - só o tempo dirá.
Contra |
||
---|---|---|
Parte 2 |
0 Comentários:
Postar um comentário