domingo, 30 de novembro de 2003

Escrito por em 30.11.03 com 0 comentários

The Cardigans



Na categoria Música, ninguém supera Tori Amos no topo da minha lista, e eu acho que todos já sabem disso. Em segundo lugar, porém, é uma briga de foice no escuro, com ligeira vantagem para os Smiths. O pior é que são um monte de bandas que não têm nada a ver umas com as outras em termos de estilo musical. Eu já falei aqui dos Smiths (rock anos 80) e do Garbage (alternativo barulhento). Hoje vou falar de outra das minhas bandas preferidas, desta vez uma mais lo-fi: os suecos do Cardigans.

Assim como o Hatful of Hollow dos Smiths e o G do Garbage, meu Life dos Cardigans está abrindo buraco. E também foi comprado meio sem querer. Como metade da população do planeta, eu também conheci os Cardigans com a grudenta Lovefool, que foi trilha do horroroso filme Romeu + Julieta, aquele com o Leonardo di Caprio e a Claire Danes, e que fui praticamente obrigado a assistir por minha ex-namorada, e deve ter sido meu pior dia no cinema em toda a minha vida. Qualquer dia eu conto essa história, mas, para dar uma prévia, basta dizer que o ar-condicionado do cinema estava quebrado, e uma turma inteira de oitava série se sentou na fileira atrás da minha, aparentemente não muito interessados em ver o filme, que, aliás, não ajudava muito. Pelo menos tinha a Claire Danes. E tinha Garbage na trilha sonora.

Pois bem, voltando à vaca fria, um dia eu achei um CD da trilha do Romeu + Julieta em promoção por R$ 9,90. Como tinha uma música do Garbage inédita, e mais a Lovefool, que andava tocando nas rádios, resolvi comprar. Eu achava Lovefool meio chata, mas a voz da vocalista (que depois eu descobri chamar-se Nina Persson) era muito agradável. Dias depois, na mesma loja, estava vendendo o First Band on the Moon, que eu imaginava ser o primeiro CD dos Cardigans, também por R$ 9,90. Comprei também, para ver se as outras músicas eram mais legais. É um disco non-stop, meio dance, não gostei muito. Mais alguns dias depois, na mesma loja, estava vendendo outro CD dos Cardigans, o Life, novamente por R$ 9,90 (o que me fez refletir por quê eles não colocaram todos a R$ 9,90 ao mesmo tempo, mas deixa pra lá). Não tinha o dinheiro na hora (pois é), mas, como sou insistente, e minha irmã iria passar pela loja naquele dia, ao chegar em casa, dei o dinheiro para que ela comprasse pra mim. Aí sim eu descobri um CD muito agradável. E uma banda muito legal.

O Life é o segundo CD dos Cardigans, mas o primeiro não é o First Band on the Moon (que é o terceiro). O primeiro se chama Emmerdale, e, apesar de ser cantado em inglês, só havia sido lançado na Suécia. Os dois primeiros CDs, Emmerdale e Life, são totalmente lo-fi, com guitarra, baixo, piano e bateria acústicos, e a voz superafinada da Nina Persson dando um charme todo especial. No terceiro CD eles resolveram se aventurar pelo dance e pelos equipamentos digitais, e o estilo de música ficou um pouco diferente. O quarto CD, Gran Turismo, consegue outra proeza: é um disco de rock-pop eletrônico, totalmente diferente dos outros três. Este ano saiu o quinto CD, Long Gone Before Daylight, ao que tudo parece, eles cansaram de inventar e voltaram pro lo-fi. Melhor assim, eu gosto mais.

Desnecessário dizer, eu tenho todos (não, eu não importei um Emmerdale da Suécia, ele foi relançado depois que a banda alcançou a fama). O que eu gosto mais, sem dúvida, é a voz da Nina Persson, e esse é um dos motivos pelos quais eu gosto mais quando eles fazem lo-fi: a voz aparece mais.

Pois bem, como de costume, vamos a uma biografia:

Os Cardigans foram formados na pequena cidade de Jönköping, Suécia, no ano de 1992, pelos amigos Peter Svensson (guitarra), Magnus Sveningsson (baixo) e Mattias Alfheim (bateria), que, acreditem ou não, tocavam heavy metal antes de decidir criar o grupo. Mais tarde, Mattias deixou a banda, sendo substituído por Bengt Lagerberg. Ainda no mesmo ano, dois novos membros, Lars Olof Johansson (piano) e Nina Persson (vocais) passaram a inegrar a banda, que permanece com esta formação até hoje. A idéia era formar um grupo pop, influenciado por bandas britânicas da década de 80, como o Young Marble Giants e o Everything but the Girl. Através de seus contatos com o produtor Tore Johansson, Peter e Magnus conseguiram um contrato com a Stockholm Records, e, em 1994, os Cardigans lançaram seu primeiro CD, Emmerdale.

Como eu já disse, este álbum só foi lançado na Suécia, e foi eleito o melhor disco do ano da Suécia pela revista Slitz, respeitada revista de música local. Tal fama levou ao lançamento do segundo álbum, Life, apenas um ano depois, em 1995. Executivos da americana Mint Fresh Records ouviram o CD, e decidiram apostar no trabalho dos Cardigans, lançando-o também na América. Além disso, os Cardigans conseguiram um contrato para abrir shows do Blur no Reino Unido. O sucesso foi tanto que o álbum foi lançado mundialmente pela Mercury Records, vendeu 1,5 milhão de cópias no mundo todo, e transformou os Cardigans em uma das bandas mais populares do Japão.

Entusiasmados com sua popularidade mundial, os Cardigans decidiram incrementar um pouco sua música, com guitarras mais pesadas e um ritmo mais rápido. O resultado foi First Band on the Moon, o terceiro álbum, de 1996, lançado simultaneamente na Europa, América do Norte e Japão. Este álbum vendeu mais de um milhão de cópias só nos EUA, e quase 10 milhões no mundo todo, além de contribuir para que a música Lovefool fosse parar na trilha do Romeu + Julieta, o que ajudou ainda mais a alavancar a popularidade do grupo, levando-o até países onde não era conhecido (alguém aí falou Brasil?).

Lovefool, porém, foi uma faca de dois gumes. Apesar de elevar a popularidade da banda a níveis jamais sonhados lá em Jönköping, fez muitos "fãs" ficassem achando que Cardigans era só isso, já que os álbuns anteriores eram praticamente desconhecidos. Os Cardigans chegaram até mesmo a serem considerados os sucessores do ABBA, o que irritou a banda, que não queria ficar conhecida como "banda de uma música só". O relançamento mundial de Life, no final de 1996, fez parte de uma estratégia para que mais pessoas conhecessem o trabalho anterior e a versatilidade da banda.

Percebendo que a fama poderia ser perigosa, os Cardigans deram um tempo antes de lançar seu quarto CD, Gran Turismo, de 1998, que recebeu este nome em homenagem ao jogo de videogame preferido da banda. Neste CD eles tentaram fazer um rock-pop diferente do dance presente no álbum anterior. Durante as gravações, o estúdio onde gravavam foi assltado, e levaram todo o equipamento digital. O resultado é que parte das músicas possui bateria eletrônica e teclado digital, e parte possui bateria comum e piano. O álbum não foi tão bem sucedido quanto o anterior, mas mesmo assim a música My Favourite Game se tornou sucesso mundial, alcançando a posição 14 na parada britânica. Erase/Rewind também foi bem-sucedida, entrando parar o Top 10 britânico, na décima posição. Para aproveitar a fama, o álbum Emmerdale foi relançado mundialmente em 1999.

Depois disso, a banda decidiu dar um tempo. Nina Persson trabalhou em um projeto paralelo chamado A Camp, com vários amigos, incluindo Mark Linkous do Sparklehorse, e voltou com os cabelos pretos para gravar o quinto CD dos Cardigans, Long Gone Before Daylight, de 2003. Este disco possui as letras mais melancólicas que os Cardigans já escreveram, e retorna parcialmente ao estilo lo-fi dos dois primeiros álbuns, embora possua mais guitarras. Apesar da aparente tristeza do álbum (frquentemente perguntam a Nina Persson se ela está triste com alguma coisa) ele está vendendo bem no Reino Unido, Suécia e Japão, e bem cotado entre as revistas especializadas. Como sempre, temos alguns "fãs" insatisfeitos, que preferiam o estilo dos dois álbuns intermediários, e alguns críticos reclamando que a banda está se tornando muito comercial. De minha parte, achei o Long Gone Before Daylight muito bom, e espero que eles decidam fazer lo-fi pra sempre.
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domingo, 23 de novembro de 2003

Escrito por em 23.11.03 com 0 comentários

O Silmarillion

O Retorno do Rei está chegando aos cinemas, daqui pouco mais de um mês. Finalmente, todos os fãs recentes de Tolkien, que não tiveram a oportunidade de ler O Senhor dos Anéis e estão conhecendo a história através do cinema, saberão como chega ao fim a saga do Portador do Anel. Para os que gostaram (ou gostarem, já que não viram ainda) e também para os que já são fãs do estilo, recomendo outro livro fantástico (em todos os sentidos) de J.R.R. Tolkien: O Silmarillion.

Na verdade, Tolkien nunca chegou a publicar este livro, composto de vários textos escritos durante sua vida, reunidos em um único volume, em uma ordem capaz de formar uma história, por seu filho, Christopher Tolkien. Apesar do que possa parecer, não é um monte de textos soltos, pois Tolkien (o pai) realmente tinha a intenção de escrever um livro, chamado "O Livro dos Contos Perdidos", que explicaria a origem do mundo dentro do qual O Hobbit e O Senhor dos Anéis iriam se encaixar. Infelizmente, ele faleceu antes de concluir seu trabalho.

Mas, graças aos esforços de seu filho, hoje podemos saber como foi criada a Terra-Média, como surgiram os elfos, como foram criados os anões, como os humanos se encaixam neste cenário, e por que os elfos deixaram nossa terra para ir viver em Valinor. É um livro espetacular, embora de leitura um tanto difícil, por ser muito descritivo, e utilizar um linguajar longe do coloquial. Mas é só ler com paciência que estes problemas são superados, restando uma história empolgante e emocionante.

O Silmarillion é dividido em 5 partes. Na primeira, Ainulindalë, é contado como Eru Ilúvatar, através de sua música, criou os Valar, os Poderes do Mundo, e, cantando em conjunto com eles, acabou por criar a própria Terra-Média.

A segunda parte, Valaquenta, conta como os Valar se estabeleceram na Terra-Média, e iniciaram sua guerra contra Melkor, o Valar renegado.

Na terceira parte, Quenta Silmarillion, ficamos finalmente sabendo a origem dos elfos, anões, homens e orcs, seu relacionamento com os Valar, e como e por quê eles decidiram povoar o mundo. O nome do livro vem das Silmarils, jóias de extraordinária beleza, criadas pelos elfos e cobiçadas por Melkor. Esta é a maior e melhor parte do livro, recheada de aventura e romance.

A quarta parte, Akallabêth, conta a história, ascensão e queda de Númenor, o reino dos humanos, após os elfos, descontentes, decidirem deixar nosso mundo para viver em Valinor, o reino dos Valar. Aqui ficamos sabendo como Sauron conseguiu chegar ao poder após a derrota de seu mestre Melkor, e também seu estratagema para criar os Anéis do Poder, que culmina na quinta e última parte do livro, Dos Anéis de Poder e da Terceira Era, que conta com a participação de vários personagens já conhecidos de O Senhor dos Anéis (antes desta história, porém), como Mithrandir (Gandalf) e Elrond.

Além de todas estas histórias, O Silmarillion ainda traz as árvores genealógicas das quatro "famílias" mais importantes dos elfos; notas sobre a pronúncia dos nomes e palavras em élfico; um apêndice sobre os elementos nos nomes nos idiomas élficos; mapas; e um glossário de 50 páginas, com todos os personagens, lugares e artefatos da história.

Enfim, mais do que um excelente livro de fantasia, O Silmarillion é um manual sobre a Terra-Média e a mitologia Tolkeniana, indispensável não somente para os fãs do autor, mas também para os fãs do gênero. Não por acaso, é um de meus livros preferidos.
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domingo, 16 de novembro de 2003

Escrito por em 16.11.03 com 0 comentários

Matrix Revolutions



ALERTA DE SPOILER: Se você pretende ver Matrix Revolutions, não leia o post abaixo. Eu sei que isso não está muito de acordo com os outros posts daqui, que normalmente recomendam coisas às pessoas, mas é por uma boa causa.

Parece que o mundo de Matrix ruiu. Tudo graças à sua malfadada conclusão, Matrix Revolutions. Por todo o Planeta, o filme está sendo bombardeado, não somente por parte dos críticos, mas também pelos fãs. Eu, nadando contra a maré, devo confessar que não achei o filme tão ruim assim, mas entendo a decepção do pessoal (afinal, mesmo não tendo achado o filme tão ruim assim, também fiquei um pouco decepcionado). Creio que este problema se deva a um caso de gigantismo: Tal qual as máquinas que acabaram por dominar a humanidade, o filme despretensioso dos Irmãos Wachowsky (ou seja lá como se escreve) também ganhou proporções incontroláveis, e acabou por deixar seus criadores sem saber como iriam amarrar as pontas daquela zona toda.

Não me levem a mal, Matrix, o original, disputa com Blade Runner o título de "Filme de Ficção Científica Preferido do Guil de Todos os Tempos". Quando fui assisti-lo, não fazia a menor idéia do que se tratava (por alguma razão sobrenatural, nem sinopse eu tinha conseguido ler), e só comecei a entender que bagunça era aquela que estava acontecendo junto com o Neo: Quando o Morpheus o levou para aquele "simulador de Matrix" e explicou que os humanos nada mais eram do que pilhas para as máquinas. Creio que isso só contribuiu para o meu deslumbramento, e que, se eu já soubesse a história do filme antes de assisti-lo (o que, hoje em dia, é bem comum, graças a trailers que mostram o que não devem e resenhas de críticos que falam demais), não teria gostado tanto. Pouco me importa saber porquê o Neo não simplesmente virou um agente para capturar o Morpheus, como eles sabem que estão em 2199, que seres humanos não geram energia suficiente para servir de pilhas ou que os óculos deles de vez em quando refletem as câmeras. Matrix foi um filme inovador, que trouxe uma premissa inédita na ficção científica, efeitos especiais que foram copiados por vários outros filmes (e, vocês sabem, ninguém copia o que é ruim) e tinha um ritmo redondinho do início até o fim. Aliás, a única coisa que eu não gostei foi do "fim", mas depois eu falo disso.

Mas aí o filme fez sucesso, os olhos dos executivos cresceram, e os Irmãos Wachowsky ganharam carta branca (e milhões de dólares) para fazer não somente continuações, mas também os tais dos Animatrix, o jogo de videogame... Enfim, estava criada uma franquia.

Para falar a verdade, eu nem gostei tanto assim de Matrix Reloaded. Quer dizer, eu achei um ótimo filme, mas como filme isolado, sem levar o Matrix original em consideração. Talvez porque todos os "humanos livres" que nós vimos no Matrix foram os tripulantes da Nabucodonosor, ver aquele monte de gente livre agindo dentro da Matrix foi meio esquisito pra mim. Além disso, a primeira metade do filme é bem fraquinha, e ele só começa a pegar ritmo quando surgem as discussões filosóficas. Aí o filme "acaba sem final" e deixa todo mundo esperando pelo Revolutions. E é por isso que todo mundo se decepciona.

O jornal disse que era ruim. A internet disse que era ruim. As revistas disseram que era ruim. No dia em que eu fui ao cinema, encontrei um cara na locadora que disse pra eu não ir que o filme era muito ruim. É claro que eu fiquei muito curioso pra conferir por que esse filme era tão ruim assim. Como eu disse para o Nachsieben, eu não fiquei tão satisfeito quanto achava que ficaria, mas também não fiquei tão decepcionado quanto achava que ficaria.

A cena de luta final entre Neo e o (Ex-)Agente Smith foi meio fraca. Parecia Dragon Ball. Também tem gente reclamando que o Neo e a Trinity morrem no final. Dessa parte eu até gostei. Melhor do que ficar tentando explicar como eles voltaram para Zion depois daquela confusão toda. E, além do mais, morrer para salvar a humanidade, apesar de cliché, ainda é um recurso legal.

Também já ouvi reclamações de que as máquinas (e a Matrix, por tabela) não foram destruídas no final. Acho que eu não gostaria de um final "Independence Day", onde as máquinas e a Matrix fossem destruídas e o mundo ficasse só com humanos. Aí, sim, teria sido um senhor chavão. Só achei meio bobo o negócio de que a Oráculo é contra o Arquiteto. Ambos são programas, e colocá-los como antagonistas os torna muito humanos para o meu gosto.

Na verdade, Matrix Revolutions só tem um demérito: Ele não explica o que a gente queria saber depois de ter assistido o Reloaded. Aliás, ele até explica, mas de forma xexelenta. O problema é que isso não é um "defeitinho', é um problema de dimensões ituanas, já que 99% dos que foram ao cinema queriam exatamente saber esta explicação. Eu fui ao cinema pronto para descobrir que o "mundo real" na verdade não era o mundo real, e acabei descobrindo que "o poder do Predestinado se estende ao outro mundo". Fala sério.

Talvez o problema tenha sido o momento no qual nós descobrimos isso: Na primeira meia hora de filme. Talvez se tivessem dado esta explicação nos últimos dez minutos, ficaríamos igualmente decepcionados, mas teríamos visto o filme com outros olhos, com mais expectativa quanto à "explicação" de como Neo queima Sentinelas com o poder da mente, e consegue enxergar Bane/Smith mesmo sem vê-lo.

Para falar a verdade, essa explicação porca foi a única coisa que me desagradou no filme. Se você considerar que ela "estraga os três filmes como um todo", como eu li no Imdb, é um direito que lhe assiste. Eu só acho que, defeito por defeito, o "filme um" tem um bem maior, e parece que ninguém repara. Ou será que alguém acha muito lógico o Neo tomar um tiro e depois ressucitar com poderes de Predestinado após um beijo da Trinity? Depois dessa, explodir Sentinelas com o poder da mente é o de menos.

É preciso deixar claro que, ao contrário de muita gente que está reclamando por aí, eu nunca quis descobrir o Terceiro Segredo de Fátima assistindo o Reloaded e o Revolutions. São filmes de ficção científica, ora bolas! Eu fui pra ver gente voando e coisas explodindo! Ainda assim, não se pode negar que muitas das questões levantadas pelos dois primeiros filmes nos fizeram pensar, e criaram grande expectativa sobre qual seria a "explicação oficial" para elas. Minha decepção é no sentido de que, recebida a explicação oficial, ficou um gosto de guarda-chuva na boca.

Por que o mundo não explodiu, já que o Predestinado não retornou à Fonte? Onde fica aquele lugar "entre o mundo real e a Matrix"? Como o Predestinado pode ter poderes paranormais se ele (ou pelo menos sua imagem na Matrix) foi criado pelo Arquiteto? Nunca saberemos.

Infelizmente, isto é uma coisa que acontece nas melhores famílias. O cinema está cheio de exemplos de trilogias iguaizinhas a Matrix: um primeiro filme fechado, com início, meio e fim; um segundo filme muito empolgante, que deixa a gente ansioso pelo terceiro; e um terceiro fraco, que não atende às expectativas criadas pelo segundo. Querem dois exemplos "intocáveis"? Star Wars (ou alguém aí acha que O Retorno de Jedi é o melhor da série?) e De Volta para o Futuro (onde, ainda por cima, o "filme três" se passa no Velho Oeste; mais americano, impossível). Não é preciso "ignorar os outros dois e ficar só com o primeiro", como eu já vi um sujeito falando (talvez se ele estivesse se referindo ao Highlander eu lhe desse razão...) para achar qualidades nas três partes. O problema é que todo mundo só presta atenção nos defeitos.

Enfim, como todo filme-pipoca, Matrix Reloaded e Matrix Revolutions têm coisas boas e coisas ruins. O Matrix original também, mas o deslumbre da novidade acaba por diminuir as coisas ruins, que são maximizadas nos outros dois pela expectativa do desfecho. Sinceramente, acho que ainda não é o caso de obrigarmos os Irmãos Wachowsky a fazer um novo Matrix 3. Vai passar.
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domingo, 9 de novembro de 2003

Escrito por em 9.11.03 com 0 comentários

H.R. Giger

Dia 31/10, reestreou nos cinemas dos EUA o filme Alien, de Ridley Scott, com algumas cenas inéditas, em comemoração antecipada aos 25 anos do filme. Aqui no Brasil, a previsão de lançamento é 16 de janeiro do ano que vem. Apesar da atitude "caça-níqueis" (oh, vamos pagar R$ 10 para rever um filme que já vimos 100 vezes, só que com 15 minutos inéditos!!!), é uma boa oportunidade para ver na tela grande um dos maiores clássicos da ficção científica e do terror da história do cinema. Aliás, o primeiro filme a juntar estes dois gêneros, e de forma espetacular, se me permitem ressaltar. Sim, Alien é um dos meus filmes preferidos, e ninguém pode negar que 90% do sucesso do filme se deve ao "monstro" (que não tem nome; "alien" não é um nome, mas sim uma designação). Parte da estratégia de marketing no lançamento original do filme, em 1979, envolveu sigilo total sobre a aparência da criatura, para que os espectadores só descobrissem o que ameaçava os tripulantes da Nostromo quando já estivessem vendo o filme. O que pouca gente sabe, é que o responsável pela criação do "alien" não foi Ridley Scott, mas sim o artista suíço H. R. Giger, tema deste post.

BiomecanóideGiger, além de ilustrador, é pintor, escultor e arquiteto. Seus trabalhos envolvem um tipo de "fantasia macabra", mesclando a já famosa arte de fantasia (como a da revista Heavy Metal, por exemplo) com elementos de terror, formas alienígenas, e seres híbridos de homem e máquina. Sua mais famosa criação são os Biomecanóides, seres compostos de biologia e tecnologia mescladas, e que serviram de inspiração não só para o "alien do Alien", mas também para a híbrida Syl, do filme "A Experiência". Biomecanóides ou não, as criaturas de sua arte costumam ter tons metálicos, características reptilianas, ossos expostos e feições humanas, o que só as torna mais perturbadoras.

Sua fixação pelo tema começou aos 5 anos, quando seu pai, um cientista, levou para casa um crânio humano. Ao invés de ficar assustado, Giger achou superinteressante a idéia de possui um crânio que já havia pertencido a outra pessoa. Sua explicação para seus perturbadores trabalhos não é menos interessante: sua imaginação o incomoda, e ele precisa exorcizá-la transferindo-a para uma tela. Eu, hein!

Ao contrário de outros ídolos meus, Giger ainda está vivo. Ele possui até um site oficial, que já diz a que veio logo na página de abertura (cuidado se você não gosta de biomecanóides), e bilingüe, inglês e alemão. Outro site interessante para bisbilhotar suas obras de arte (talvez até melhor que o oficial) é o H. R. Giger's Official US Site, que, ao contrário do que possa parecer, não é "outro site oficial", mas sim uma espécie de "loja oficial", onde se pode comprar posters, esculturas etc.



Giger é um grande artista, pois consegue traduzir em sua arte três estilos consagrados da literatura e do cinema (como diz aquele ditado velho e surrado, uma imagem vale mais que mil palavras). Se você é fã de fantasia, ficção científica e horror psicológico (eu adoro os três, obrigado), certamente vai gostar da arte de H. R. Giger.

E, se você sempre quis saber quem é o culpado por "aquele bicho do Alien ser tão feio", agora já tem a resposta. Pode parar de culpar o Ridley Scott.
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domingo, 2 de novembro de 2003

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Baralho (I)

Como eu já disse no meu post sobre a Thanos Cardgames, gosto muito de jogos de baralho. Por causa disso, acabei baixando uns jogos esquisitos que eles tinham lá, como um chamado Zsirosas. Desta forma, descobri que não existe só esse tipo de baralho que estamos acostumados a usar. Quer dizer, eu também conhecia o baralho italiano, que é um pouco diferente, mas achava que ele era simplesmente uma variação do Tarô. Com minha curiosidade aguçada, decidi fuçar aqui e ali atrás de sites sobre baralhos. Achei dois bem legais, que vou indicar para vocês hoje.

Antes, vamos a um momento "Você Sabia?": Vocês sabiam que existem cinco tipos básicos de baralho ocidental?

Baralho Francês - Ás de Espadas1 - Este tradicional, que todos nós conhecemos e usamos para jogar uma biribinha, é o Baralho Francês. Os quatro naipes são Espadas, Paus, Ouros e Copas, e tem treze cartas: Ás (A), 2, 3, 4, 5, 6, 7, 8, 9, 10, Valete (J), Dama (Q) e Rei (K), além de eventuais curingas (normalmente dois ou três). Alguns países substituem o Ás pelo 1, e usam letras em seu próprio idioma para representar as figuras (por exemplo, na Alemanha, o Valete é 'B', a Dama 'D' e o Rei 'K').


Baralho Latino (Padrão Espanhol) - Sete de Espadas2 - Outro bastante difundido é o Baralho Latino, que eu conhecia como italiano. Os naipes aqui são Espadas, Bastões, Taças e Moedas. Podem tem 40, 48 ou 52 cartas, normalmente do 1 ao 7, 9 ou 10, e mais as figuras, o Valete ou Aia, o Cavaleiro (montado em um cavalo e tudo) e o Rei. No padrão espanhol, os bastões são porretes de madeira, as espadas são sempre desembainhadas, e as figuras são numeradas 10, 11 e 12, respectivamente. Além disso, as figuras são impressas em um único sentido da carta, ou seja, podem ficar "de cabeça para baixo". Este padrão também é utilizado no sul da Itália, e em alguns países da América Latina. No padrão italiano, utilizado no norte da Itália, as espadas podem estar dentro de bainhas, os bastões são bastões cerimoniais, as figuras não são numeradas, e são impressas nos dois sentidos, como no baralho francês, para nunca ficarem de cabeça para baixo.

Baralho Alemão - Nove de Folhas3 - Menos conhecido por aqui é o Baralho Alemão. Os quatro naipes são, acreditem ou não, Castanhas, Sinos, Folhas e Corações, e são apenas 32 cartas: 7, 8, 9, e 10, mais quatro figuras: o Obermann e o Untermann, espécies de valetes, conhecidos internacionalmente como Over e Under, o Rei, e o Ás ou Deuce, dependendo do padrão. Em qualquer caso, só o 7, 8, 9 e 10 são numerados. Os dois padrões mais famosos são o "de Salzburgo", que, por incrível que pareça, não foi inventado em Salzburgo nem é utilizado por lá, no qual as figuras são impressas num único sentido, e a carta mais alta é o Deuce, representado por duas figuras do naipe; e o "Padrão Guilherme Tell", assim chamado porque todas as figuras são personagens da lenda de Guilherme Tell, com figuras impressas nos dois sentidos da carta, os quatro Reis montados a cavalo, e onde a carta mais alta é o Ás, representado por um personagem, e não por uma figura do naipe, como era de se esperar. Em nenhuma das versões as figuras possuem letras de identificação (tipo O, U e K), mas o naipe do Under é na parte de baixo da carta para diferenciá-lo do Over. Curiosidade: No Padrão Guilherme Tell, os ases de Sinos e de Corações são mulheres - as únicas de todo o baralho. O Padrão de Salzburgo não tem uma mulherzinha sequer.

Baralho Suíço - Rei de Escudos4 - Mais estranho ainda é o Baralho Suíço, provavelmente uma adaptação do alemão, utilizado apenas am algumas cidades da Suíça, e para jogar um único jogo, chamado Jass. São 36 cartas. As numeradas vão do 6 ao 9. As demais são o Over, o Under, o Rei, o Sau, representado por duas figuras do naipe, e o Banner, representado por uma bandeira com o naipe. Os naipes são Castanhas, Sinos, Flores e Escudos. Algumas lojas suíças vendem uma versão de 48 cartas, que inclui o 3, 4 e 5 que talvez fosse utilizada para outros jogos além do Jass.

Tarô (Padrão Francês) - Trunfo 215 - Finalmente, temos o Baralho de Tarô, que, ao contrário do que muitos pensam, foi inventado para jogar baralho, e depois os ocultistas começaram a utilizá-lo para ler o futuro, e não o contrário. Os dois tipos mais difundidos são o Tarô Italiano, mais conhecido como "Tarô de Marselha" (Marselha fica na França, mas foi lá que este Tarô se popularizou, daí o nome), o mais utilizado para ler o futuro; e o Tarô Francês, o mais utilizado para jogar, pois tem as cartas menores. Baralhos de Tarô normalmente têm 78 cartas, do 1 ao 10, mais o Valete, Cavaleiro, Dama e Rei de cada naipe, mais 21 trunfos fixos, numerados de 1 a 21, que não pertencem a naipe nenhum, e mais o Louco (na verdade um problema de tradução; o original era "o Bobo", no sentido de bobo-da-côrte), que não tem naipe nem número, e em cada jogo tem uma função. Alguns subtipos regionais podem ser encontrados em vários países da Europa, com mais ou menos cartas que o tradicional. Um exemplo é o Tarô Minchiate, que tem nada menos que 40 trunfos fixos, totalizando 97 cartas!

Além disso, temos diversos tipos de baralhos orientais, como o Hanafuda japonês, o baralho circular indiano, e muitos outros que não podem ser classificados dentro de nossos padrões ocidentais.

Tudo isso eu aprendi bisbilhotando os dois sites dos quais falei no início do post. Um deles é o Andy's Playing Cards, onde, além de muitas fotos de baralhos exóticos, vocês vão encontrar a história dos jogos de cartas, seu uso e evolução, onde se usa qual baralho e por quê, como surgiram os curingas, e muitos outros fatos interessantíssimos. O segundo se chama simplesmente Card Games Web Site, e, além de uma versão resumida dos tipos de baralho e de vários jogos regionais, conta com regras de um bonucatilhão de jogos de cartas, desde os mais ridículos, como "Pegue 52" e "O Ás da Morte" até os mais complicados, como 500 e Bridge (aliás, alguém aí sabe jogar Bridge? Eu já estou quase desistindo de aprender). Uma boa pedida se você está cansado de jogar Biriba e quer arrumar uns jogos novos para mostrar aos amigos.

Ambos os sites são interessantes porque demonstram que os jogos de cartas são parte importante da cultura regional. Aqui na América, seja do Norte ou do Sul, os baralhos ficaram com imagem negativa, de uma coisa errada, proibida, de jogo de azar. Mas ninguém precisa perder todos os seus bens materiais para se divertir, e um baralho é uma diversão barata, fácil de transportar, e de variações praticamente ilimitadas. E cultural.

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