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domingo, 10 de fevereiro de 2019

Escrito por em 10.2.19 com 0 comentários

Patinação (III)

Em 2014, eu fiz aqui dois posts sobre patinação: o primeiro, sobre patinação no gelo, esporte regulado pela União Patinadora Internacional (ISU); o segundo, sobre a patinação que usa patins com rodinhas, regulado pela Federação Internacional de Esportes sobre Rodas (FIRS), que, em 2016, seguindo uma tendência mundial, mudaria de nome para World Skate.

Na época em que eu fiz esse segundo post, a então FIRS regulava oito esportes. Sobre dois deles, o hóquei sobre patins e o hóquei inline, eu já havia falado em um post específico sobre hóquei, mais antigo. No segundo post sobre patinação, eu falei sobre mais quatro: a patinação artística, a patinação em velocidade, a patinação downhill e a patinação inline estilo livre. Ficariam sobrando dois, o skateboarding e a patinação inline alpina, que eu optaria por não abordar por "não ter nada a ver com patins".

Acontece, porém, que eu, inadvertidamente, cometi um erro: ao pesquisar para escrever o post, eu confundi a patinação inline alpina (inline alpine skating) com outro esporte, o esqui alpino inline inline alpine skiing). A patinação inline alpina usa, sim, patins, ao contrário do esqui alpino inline, que usa um esqui modificado, com quatro rodinhas em linha. Lembro-me muito bem que fiz essa confusão porque o site da FIRS era maio bagunçado, não tinha as regras de nenhum dos esportes regulados por ela, e, quando vi as poucas fotos da patinação inline alpina, achei que se tratava do esqui alpino inline, usado como treinamento para esquiadores alpinos, sobre o qual havia tomado conhecimento quando escrevi meu post sobre esqui.

Pois bem, mês passado, eu decidi fazer um post sobre skateboarding, e acessei o site da agora World Skate, bem mais organizado, para pesquisar as regras, e acabei descobrindo não somente esse equívoco, mas também que, agora, a World Skate regula não oito, mas onze esportes, de forma que, para eu falar de todos eles, falta não um, mas quatro. Diante disso, eu acabei ficando com vontade de escrever um terceiro post sobre patinação para falar sobre eles, que, como o título lá em cima atesta, é esse aqui. Hoje, pela terceira vez, é dia de patinação no átomo!

Vamos começar logo, portanto, pela injustiçada patinação inline alpina, que visa imitar uma competição de esqui alpino, mas é disputada com patins inline e em locais sem neve (evidentemente). A patinação inline alpina surgiu na Europa nos anos 2000, como passatempo entre esquiadores que buscavam uma forma de passar o tempo e se manter em forma no verão, quando as condições para a prática do esqui alpino não eram as ideais. No início, o esporte era majoritariamente disputado por esquiadores, mas logo, como são usados patins inline do mesmo tipo vendido nas lojas, muitos jovens começaram a se interessar por praticá-lo mesmo sem nunca terem esquiado na vida, e, rapidamente, começaram a surgir as primeiras competições específicas de patinação inline alpina. A FIRS reconheceria a patinação inline alpina como esporte de patinação e começaria a regulá-la e a organizar campeonatos em 2008.

Uma competição de patinação inline alpina se parece muito com uma de esqui alpino: é montada uma pista, de preferência em uma superfície levemente inclinada, que será pontuada com "portões". Um a um, os patinadores devem passar por essa pista, desviando dos portões corretamente; depois que todos tiverem passado, aquele que tiver conseguido fazê-lo no menor tempo será o vencedor. Normalmente são duas passagens para cada competidor, sendo seu tempo final a soma dos tempos das duas; em competições internacionais da World Skate, apenas os 50 melhores da primeira passagem têm direito à segunda passagem.

A pista de patinação inline alpina deve ser obrigatoriamente pavimentada com asfalto, que deve ser o mais liso e o menos abrasivo possível; ao invés de se construir uma pista especificamente para a competição, o normal é que seja usada uma rua ou estrada que já existe, que será fechada ao trânsito enquanto o campeonato estiver ocorrendo. A largura da pista deve ser no mínimo de 5 m, mas seu comprimento varia de acordo com a prova. Os portões são varetas de plástico maleável, presas a placas de ferro de 15 kg, para que não saiam do lugar durante a competição. Os portões podem ser de duas cores, vermelhos ou azuis, sendo que os competidores devem passar à esquerda dos vermelhos e à direita dos azuis. O número de portões depende do tipo da prova, e a World Skate recomenda que as distâncias variem entre um portão e outro, para "quebrar a monotonia" da pista. Para que o competidor ganhe velocidade, no início da pista há uma rampa, cuja altura deve estar entre 60 cm e 2m, com uma grade em seu começo; quando o competidor está autorizado a começar, essa grade se abre, e seu tempo começa a contar do momento em que o primeiro de seus pés passa pela linha da grade.

Os patins usados são do tipo inline, com quatro rodas em fila; as rodas costumam ser bem grandes, para proporcionar tanto velocidade quanto capacidade de manobra. Profissionalmente, são exigidos, como equipamentos de proteção, capacete, luvas, joelheiras, caneleiras e tornozeleiras. Competidores da patinação inline alpina também usam um acessório específico para a prática desse esporte: um par de bastões, idênticos aos usados no esqui, que servem para dar impulso e ganhar velocidade durante a prova.

Existem três tipos de provas da patinação inline alpina. A mais simples é o slalom, que tem entre 30 e 60 portões, espaçados entre 3 e 8 m uns dos outros. No slalom gigante são usados entre 20 e 35 portões, espaçados entre 10 e 15 m; os portões do slalom gigante são diferentes, cada um deles consistindo de dois postes ligados por uma rede, o que faz com que o competidor tenha de se deslocar diagonalmente por uma distância maior e fazer curvas bem mais fechadas entre um portão e outro. Em ambos os casos, um competidor que "perca" um portão, ou seja, que não passe por ele pelo lado certo, ou que se choque contra a rede no caso do slalom gigante, recebe uma penalidade de 0,3 s acrescida a seu tempo final. Algumas competições somam os resultados dos competidores no slalom e no slalom gigante, ou realizam novas provas específicas, para premiá-los em um quarto tipo de prova, o combinado.

O terceiro tipo de prova eu deixei para depois porque segue regras um pouquinho diferentes. Trata-se do slalom paralelo, no qual são montadas duas pistas paralelas o mais idênticas possível. A cada passagem, dois competidores passarão juntos, um em cada pista, simultaneamente, sendo vencedor o que cruzar a linha de chegada com o menor tempo - como são aplicadas penalidades por perder portões, pode ocorrer de o que cruzou a linha de chegada primeiro não ser o que fez o menor tempo. Uma pista de slalom paralelo tem entre 20 e 25 portões, espaçados entre 6 e 10 m. Para maior justiça, cada par faz duas passagens, sendo que, na segunda, as pistas são invertidas - ou seja, se na primeira passagem o competidor A estava na pista 1, na segunda ele estará na pista 2, e o competidor B, que estava na 2, estará na 1. Caso cada uma das passagens seja vencida por um dos competidores, os tempos de cada um em ambas as passagens será somado, e o vencedor do embate será o que obteve o menor tempo final nessa soma. Os vencedores de cada embate vão avançando e os perdedores vão sendo eliminados até que só reste um, o campeão.

A principal competição da patinação inline alpina era o Campeonato Mundial, que foi realizado anualmente entre 2008 e 2016 (veja no final desse post o porquê). Outra competição de destaque é a Copa do Mundo, realizada anualmente desde 2011. As principais diferenças entre o Mundial e a Copa do Mundo eram que o Mundial era realizado em uma única sede, enquanto a Copa do Mundo possui cinco etapas, disputadas em cinco sedes diferentes ao longo do ano, com os resultados de todas elas sendo somados para se determinar o campeão ao final da quinta etapa; além disso, a Copa do Mundo só tem provas de slalom e slalom gigante, enquanto o Mundial tinha também provas de slalom paralelo e de combinado. Uma curiosidade da Copa do Mundo é que, a cada etapa, o número de competidores está limitado a 15 por país, exceto no caso do país-sede daquela etapa, que pode inscrever até 35 competidores.

Vamos passar agora para a patinação roller estilo livre, esporte que a World Skate regula desde 2015, e que é bastante diferente do "outro estilo livre", a patinação inline estilo livre, que já vimos no segundo post sobre patinação, a começar pelo fato de que, como o nome sugere, enquanto na patinação inline estilo livre os competidores usam patins inline, na roller estilo livre os competidores são livres para usar patins inline ou quads, os patins "tradicionais", nos quais há duas rodas em paralelo na frente e duas atrás, ao invés de quatro em linha - mas quase todos acabam usando os inline, por terem maior capacidade de manobra. Os patins inline usados no roller estilo livre, inclusive, são modificados, com rodas bem pequenas e agrupadas duas na frente e duas atrás, com um espaço entre a segunda e a terceira rodas, ao invés de quatro praticamente encostadas uma na outra.

A roller estilo livre é um esporte urbano, que nasceu na Califórnia, Estados Unidos, na década de 1980, quando patinadores decidiram imitar, com patins, as manobras que os skatistas faziam nas ruas e skate parks. Pelas regras da World Skate, o roller estilo livre é disputado em um skate park próprio, que combina elementos do street, como corrimãos e obstáculos, a outros mais radicais, como fossos semelhantes aos de um bowl e grandes rampas nas quais os competidores podem fazer manobras semelhantes às do vert - essas três modalidades, se você não está reconhecendo os nomes, pertencem ao skateboarding, e foram devidamente abordadas em meu post sobre esse esporte.

As regras de uma competição de roller estilo livre também são idênticas às de uma da modalidade street do skateboarding: os competidores entram no park um por um, e cada um tem 40 segundos para apresentar o maior número possível de manobras. Cada manobra é julgada por um painel de seis juízes, que confere uma nota de 0 a 100 ao competidor, levando em conta critérios como dificuldade da manobra apresentada, variedade na escolha de seções do park, fluidez entre uma manobra e outra, estética da manobra e, principalmente, perfeição na execução da manobra. As seis notas são então somadas para se determinar a nota final do skatista naquela apresentação; dependendo do etapa do campeonato, cada competidor terá direito a três ou quatro apresentações, com as notas de todas elas somadas para se determinar sua nota final naquela etapa. Campeonatos organizados pela World Skate sempre possuem três etapas: a qualificatória, da qual participam todos os inscritos; a semifinal, da qual participam os 22 melhores da qualificatória; e a final, da qual participam os oitos melhores da semifinal.

Já que estamos no assunto, após eu ter publicado meu segundo post sobre patinação (não sei ao certo quando), a World Skate passou a regular mais uma categoria da patinação inline estilo livre, aumentando o total para seis, os saltos. Uma competição de saltos é idêntica a uma competição de slide, mas, no final da zona de aceleração, há uma rampa de 60 cm de comprimento, que o competidor usará para saltar. Durante o salto, ele deverá apresentar manobras, que serão julgadas por um painel de cinco jurados. Cada competidor tem direito a quatro ou cinco saltos, com a pior das notas sendo descartada e as demais somadas para determinar sua nota final.

O esporte mais complexo - e talvez o mais interessante - que veremos hoje é o roller derby. O roller derby é disputado em uma pista semelhante a uma pista de atletismo, mas bem menor, com 35 m de extensão (a de atletismo tem 400 m), com superfície de tábua corrida, como uma quadra de basquete, e laterais ligeiramente inclinadas, com as de um velódromo - além disso, a pista não é simétrica, pois as curvas 2 e 4 têm raio maior que as 1 e 3. Próximas às curvas 1 e 4 são traçadas duas linhas, distantes 9,15 m uma da outra; a mais próxima da curva 4 é a jammer line, a mais próxima da curva 1 é a pivot line. Os competidores se movimentam na pista no sentido anti-horário.

Uma equipe de roller derby é composta de 15 integrantes, sendo que apenas 5 deles estarão na pista de cada vez. Desses cinco, um será o jammer, e será responsável por marcar os pontos para a equipe; os outros quatro serão blockers, e terão duas funções: bloquear o jammer adversário e abrir caminho para seu próprio jammer passar. O roller derby é um esporte de contato físico, então, para cumprir suas funções, os blockers podem usar contato ombro a ombro, se meter na frente do adversário para obstruir sua passagem, ou até mesmo empurrar os adversários usando seus quadris; não é permitido, porém, usar as mãos (nada de agarrar ou empurrar um adversário), pés (para fazê-lo tropeçar), cotovelos ou cabeça, interferir com um adversário (como empurrá-lo) por trás (já que ele não estará vendo a interferência e não poderá se defender), atingi-lo abaixo da linha da cintura ou acima da linha dos ombros, nem formar uma "linha impenetrável", dando as mãos ou entrelaçando os braços para impedir a passagem, por exemplo. É permitido a um blocker, entretanto, fazer com o jammer uma manobra conhecida como whip (chicote), na qual o blocker pega o jammer pela mão e o "arremessa" para a frente, aumentando sua velocidade; também é permitido ao jammer "abrir caminho" usando as mãos, desde que não empurre os adversários pelas costas nem os derrube propositalmente. E também é permitido a qualquer competidor saltar, embora isso nem sempre seja útil. Um dos blockers pode ser designado como pivot, e, sob certas circunstâncias, também poderá marcar pontos.

Para que os competidores sejam facilmente identificáveis, o capacete do jammer possui uma grande estrela em cada uma das laterais, enquanto o do pivot tem uma faixa de no mínimo 2,54 cm de largura bem no meio, que vai da testa até a nuca; os capacetes dos blockers são lisos, de uma única cor. O equipamento obrigatório para o roller derby, além do capacete, inclui munhequeiras, cotoveleiras, joelheiras e protetores bucais semelhantes aos do boxe; protetores de seios para as mulheres são opcionais. Os patins devem ser obrigatoriamente do tipo quad, sendo proibido o uso de patins inline.

Uma partida de roller derby dura dois tempos de 30 minutos cada, com um intervalo de 15 minutos entre eles. Cada um desses tempos é dividido em várias sessões chamadas jams, de no máximo 2 minutos cada, sendo que o relógio não para entre uma jam e outra, e um time pode substituir quantos competidores quiser entre uma jam e outra - por isso, é impossível fazer 15 jams em um tempo, e 14 também é bastante difícil. No início de uma jam, os dois jammers se posicionarão atrás da jammer line, e os demais competidores entre a jammer line e a pivot line. Durante a jam, todos os competidores que não sejam jammers devem ficar "juntos", em uma formação conhecida como pack; a distância máxima que um competidor pode se afastar do pack, para a frente ou para trás, é de 3 m. Após o início do jam, o primeiro jammer que conseguir passar pelo pack e cruzar a jammer line será designado como "líder", e poderá interromper a jam a qualquer momento, mesmo que os 2 minutos ainda não tenham se passado, com um sinal para o árbitro.

Após o líder ser apontado, ambos os jammers estarão liberados para marcar pontos; para isso, eles precisam ultrapassar blockers e pivots da equipe adversária, sendo que cada oponente ultrapassado vale um ponto - o máximo de pontos que um jammer pode marcar em uma volta, portanto, é quatro, o que é conhecido como grand slam. Para que um ponto seja válido, o jammer deve estar de pé, em movimento e dentro dos limites da pista quando fez a ultrapassagem. Cada jammer pode dar sucessivas voltas na pista, marcando quantos pontos conseguir, até o líder interromper a jam ou os 2 minutos se esgotarem; quando isso ocorre, se ainda há tempo disponível dentro dos 30 minutos, os times têm 30 segundos para se alinhar novamente e fazer as substituições desejadas, antes que uma nova jam comece. Se os 30 minutos se encerrarem com uma jam em andamento, ela continua sendo disputada normalmente até o fim dos 2 minutos ou até o líder interrompê-la.

Um competidor que cometa uma falta (normalmente por bloqueio ilegal ou por sair dos limites da pista deliberadamente) deve sair da pista e ficar dentro de uma espécie de cabine, chamada penalty box, durante 30 segundos. Sua equipe não poderá substituí-lo, devendo atuar com um a menos durante esse tempo. Se a jam terminar antes do tempo do jogador na penalty box, a equipe deverá alinhar com um a menos para a próxima jam, e o tempo entre uma jam e a outra não contará para os 30 segundos de penalidade. Para que o time que não fez a falta não seja prejudicado, a cada volta, sempre que um jammer ultrapassar seu primeiro adversário, ele também ganhará um ponto para cada jogador adversário na penalty box. Um jogador que saia da penalty box pode voltar à pista e se unir ao pack imediatamente, mas deve fazê-lo de forma a ficar sempre atrás do último membro do pack. Um jogador que vá para a penalty box por sete vezes durante uma mesma partida não pode mais voltar, estando expulso, mas seu time poderá substituí-lo com a jam em andamento após os 30 segundos da sétima vez.

Um jammer também está sujeito a ir para a penalty box se cometer uma falta, o que significa que, enquanto ele estiver lá, seu time não poderá pontuar - o que é conhecido como uma power jam para o outro time. Se o jammer do outro time também for penalizado enquanto ele estiver lá, existe uma regra especial, para que não fiquem os dois times patinando sem poder pontuar: assim que o jammer do Time B entra na penalty box, o jammer do Time A pode sair, e o jammer do time B só precisará ficar na penalty box durante um tempo igual ao que o do Time A ficou - ou seja, se havia se passado 10 segundos quando o jammer do time B entrou na penalty box, ele também só precisará ficar lá durante 10 segundos. Também vale citar que, enquanto o líder estiver dentro da penalty box, ninguém pode interromper uma jam.

Durante uma jam, por motivo de contusão ou estratégia, o jammer pode "passar a estrela" para o pivot: o capacete do jammer possui uma capa na qual está a estrela, e ele deve retirar essa capa e passá-la para o pivot, que a colocará sobre o seu, ficando o jammer com um capacete liso como os dos blockers. A partir de então, o pivot é que marcará os pontos, e o jammer, se permanecer na pista, passará a atuar como blocker. Passar a estrela não anula os pontos que o jammer marcou até então naquela jam, e, se houver adversários entre o jammer e o pivot quando a estrela for passada, eles não contarão como ultrapassados, ou seja, o time não pontuará pelo fato de o novo jammer estar na frente deles. Uma vez passada a estrela, ela não poderá ser "devolvida", ou seja, o pivot fica como jammer até o fim daquela jam.

Falando em contusão, um competidor que sofra uma durante a jam pode sair da pista sozinho ou com a ajuda dos árbitros, mas não poderá ser substituído até o fim da jam, com sua equipe atuando com um a menos; assim como ocorre com a penalty box, a cada volta, o jammer da outra equipe, ao ultrapassar seu primeiro adversário, também ganhará um ponto a mais para cada competidor fora da pista por contusão.

Uma partida de roller derby conta com no mínimo 3 e no máximo 7 árbitros. Um deles será o árbitro principal, ficará responsável por apontar o início e o final de cada jam, marcar faltas, determinar expulsões, e será a autoridade final em qualquer disputa. Outros dois serão os árbitros dos jammers, ficando um responsável por cada jammer, usando uma pulseira ou capa de capacete da mesma cor do time cujo jammer ele está observando, ficando responsável por anotar os pontos que aquele jammer marca, indicar qual jammer é o líder daquela jam, e validar uma interrupção de jam ou passagem de estrela daquele jammer. Os outros, chamados árbitros de pack, são opcionais (embora sejam obrigatórios em competições internacionais), e podem ser de um a quatro, tendo como função marcar faltas, verificar se o pack está formado adequadamente e auxiliar o árbitro principal em outras questões. Todos os árbitros patinam na pista junto aos competidores, e devem usar os mesmos equipamentos de proteção.

O roller derby é um esporte predominantemente feminino, embora alguns países tenham campeonatos masculinos e até mesmo de equipes mistas. Também é um esporte predominantemente amador, com pouquíssimos times e campeonatos profissionais. O principal órgão de roller derby no mundo é a WFTDA, cujo nome em inglês traduz para algo como "Associação Feminina de Derby em Pista Plana", fundada em 2004. Uma característica curiosa da WFTDA é que ela não tem atletas ou times como membros, e sim ligas: atualmente, 397 ligas são consideradas como membros plenos, e outras 48 como "membros aprendizes". Cada uma dessas ligas possui seus próprios times membros e autonomia total para organizar seus campeonatos - desde que sigam as regras da WFTDA. A rigor, a WFTDA é a federação de roller derby feminino dos Estados Unidos, mas dentre seus membros existem ligas de 27 países dos cinco continentes, incluindo o Brasil, com duas ligas de São Paulo. Como a WFTDA é exclusivamente feminina, sua equivalente masculina é MRDA, a "Associação Masculina de Roller Derby", fundada em 2007, e que conta com 60 ligas como membros, mas todas dos Estados Unidos ou Canadá.

Em 2010, a então FIRS faria um acordo com a WFTDA para se tornar a federação internacional do roller derby. Nos termos desse acordo, a FIRS poderia organizar campeonatos profissionais e semiprofissionais seguindo as regras da WFTDA, dos quais poderiam participar quaisquer membros da FIRS. Durante anos, a FIRS/World Skate atuou apenas como "parceira" da WFTDA, divulgando o roller derby e dando suporte para a organização de campeonatos em países com pouca tradição no esporte, principalmente na Europa; em 2017, a World Skate finalmente assumiu para si a regulação internacional do roller derby, publicando seu primeiro conjunto de regras (quase idênticas às da WFTDA, exceto por alguns detalhes) e organizando seu primeiro campeonato internacional. Acreditem ou não, o roller derby foi até mesmo um dos esportes que faziam parte do programa proposto pela World Skate quando ela tentou incluir a patinação nas Olimpíadas de 2020.

Todos os membros da WFTDA podem se inscrever para participar do Campeonato Internacional de Roller Derby, considerado a principal competição do esporte, que possui etapas regionais para determinar as oito melhores equipes, que participarão da fase final. O Internacional é disputado anualmente desde 2006, e a fase final é sempre disputada nos Estados Unidos. O Internacional é uma competição entre times, não entre seleções nacionais; o campeonato mais importante entre seleções é Copa do Mundo de Roller Derby, inicialmente organizado pela revista de patinação Blood & Thunder, mas desde 2018 por uma associação privada sediada no Canadá chamada Comitê da Copa do Mundo de Roller Derby. A Copa do Mundo já teve três edições até hoje, tendo sido disputada no feminino em 2011, 2014 e 2018, e no masculino em 2014, 2016 e 2018 (todas as seis edições tendo sido vencidas pelos Estados Unidos); não há, entretanto, uma próxima edição marcada ainda (embora haja planos para que ela seja realizada em 2020).

O roller derby tem sua origem em uma prática que surgiu na década de 1880 nos Estados Unidos: durante uma febre de patinação que tomou conta do país, vários empresários começaram a patrocinar corridas que duravam vários dias, e que tinham prêmios em dinheiro para os competidores. Essas corridas se tornariam famosas não devido à perícia dos competidores, e sim justamente pelo contrário: o público gostava quando eles caíam, de preferência quando quem vinha atrás tropeçava neles e caía também. De olho nisso, os patrocinadores logo começaram a colocar "agentes infiltrados" dentre os competidores, que tinham a missão de bloquear ou derrubar alguns competidores de propósito, para que a corrida ficasse mais interessante. Na década de 1920, essas corridas chegaram ao auge de sua popularidade, e eram chamadas pelos jornais da época de derbies, termo emprestado das corridas de cavalo.

Na década de 1930, o promotor de eventos Leo Seltzer decidiria investir nos derbies, e criaria um evento chamado Transcontinental Roller Derby. Ele montaria dois times de cinco patinadores cada, que percorreriam os Estados Unidos se enfrentando - um dos times seria sempre o "time da casa", com o nome da cidade na qual o Transcontinental estivesse sendo disputado, enquanto o outro seria sempre Nova Iorque ou Chicago, de acordo com a preferência do público. Seltzer experimentaria vários conjuntos de regras, até que, em 1939, criaria o mais parecido com as regras atuais, segundo o qual ganhava a corrida não o time que a completasse em menos tempo, mas sim o que ganhasse mais pontos, com cada adversário ultrapassado valendo um ponto.

O Transcontinental seria um sucesso tão grande que Seltzer conseguiria um contrato para que ele fosse exibido na televisão em 1948, numa época em que quase ninguém nos Estados Unidos tinha televisão. No ano seguinte, para capitalizar sobre o próprio sucesso, ele criaria a Liga Nacional de Roller Derby (NRDL), com seis times fixos, que se enfrentavam em casa e fora, como em um campeonato esportivo normal, com os quatro melhores se classificando para os play-offs, que seriam todos disputados no Madison Square Garden, em Nova Iorque. Em seus primeiros anos a NRDL foi um sucesso tão grande que os play offs tinham ingressos esgotados antes mesmo que os finalistas se tornassem conhecidos. Com o sucesso da NRDL, várias outras ligas de roller derby começariam a aparecer, algumas patrocinadas por canais de TV interessados em concorrer com os que transmitiam a NRDL.

No início dos anos 1960, entretanto, talvez pelo grande número de ligas em disputa, o roller derby começaria a sofrer uma queda de popularidade, com a audiência em baixa e dificuldade para lotar as arenas nas quais ocorriam as provas. Para tentar recuperar a popularidade do esporte, o então comissário da NRDL, Jerry Seltzer, filho de Leo, decidiria transformá-lo em uma espécie de "esporte de entretenimento", mais ou menos como ocorre com as lutas da WWE: os times passariam a ter uniformes coloridos, os competidores teriam nomes extravagantes, e o resultado de cada partida já era pré-estabelecido antes mesmo de ela começar; tudo o que ocorria na pista era real, mas seguia um roteiro estabelecido previamente pelos organizadores da NRDL. Isso fez com que o roller derby tivesse um pequeno surto de popularidade nos primeiros anos como entretenimento, mas que depois o interesse do público desaparecesse ainda mais rápido, com todas as ligas sendo canceladas e o esporte caindo no ostracismo em meados da década de 1970. Duas tentativas de ressuscitá-lo como entretenimento ainda seriam feitas, em 1989 e 1999, a segunda liderada por Jerry Seltzer, mas ambas sem sucesso.

A tentativa feita em 1999, entretanto, animaria um grupo de moças da cidade de Austin, no Texas, a criar sua própria liga de roller derby, para disputá-lo como esporte, no ano 2000. A liga logo se mostraria um sucesso, e várias outras começariam a surgir, primeiro em outras cidades do Texas, depois por todo o país, e então no Canadá, Austrália, Europa, e até mesmo em Dubai e no Egito. Todas elas tinham algumas coisas em comum: eram exclusivamente femininas, exclusivamente amadoras, e organizadas pelas próprias competidoras, sem nenhuma interferência de patrocinadores ou de comissariado - esse ainda é o modelo seguido, aliás, pela maioria das ligas no mundo hoje, inclusive as filiadas à WFTDA. Desde o início, as ligas também costumam seguir duas tradições da época em que o esporte era entretenimento: primeiro, os uniformes dos times são bastante coloridos, e muitas competidoras usam acessórios como luvas de renda e meias arrastão; segundo, as competidoras costumam adotar nomes extravagantes, normalmente trocadilhos com outros nomes em inglês (como Annie Mosity ou Oh Hell No Kitty). Falando nisso, os torneios também costumam ter nomes espirituosos, como Knocktoberfest ou War of the Wheels.

Em 2004, com a presença de centenas de ligas nos Estados Unidos, seria fundada a WFTDA, que visava fazer com que todas as ligas seguissem as mesmas regras, não para possibilitar partidas interliga, mas para evitar que o esporte fosse descaracterizado. Em 2006, começariam a ser disputadas as primeiras partidas internacionais, primeiro entre times dos Estados Unidos e Canadá, depois com torneios que reuniam times de vários países europeus. Em 2009, o roller derby seria tema de um filme, dirigido por Drew Barrymore e estrelando Ellen Page e Juliette Lewis, chamado Garota Fantástica - o codinome da personagem de Page, aliás, é super criativo: Babe Ruthless (algo como "menininha impiedosa"), um trocadilho com o nome do famoso jogador de beisebol norte-americano Babe Ruth. A WFTDA aproveitaria o lançamento do filme para realizar várias ações de promoção do esporte, o que contribuiria ainda mais para seu crescimento, e chamaria a atenção da FIRS, que, em 2010, a procuraria para fechar o acordo para regular o roller derby internacionalmente. Hoje, o roller derby é considerado um dos esportes mais populares dentre o público jovem feminino, e um dos que tem a maior audiência por streaming nos Estados Unidos.

O esporte mais recente regulado pela World Skate é o scooter, que não usa patins, e sim uma patinete (que, em inglês, é scooter), que, para todos os efeitos, é como se fosse um skate, exceto pelo fato de que tem um guidão com o qual sua direção é alterada, e apenas duas rodas sob a prancha na qual os pés do competidor ficam apoiados. A patinete é feita de alumínio e polímeros, a prancha tem comprimento entre 48 e 55 cm e largura entre 10 e 13 cm, o cabo no qual fica o guidão tem entre 75 e 85 cm de altura, e as rodas têm entre 100 e 125 mm de diâmetro e entre 24 e 30 mm de largura. Evidentemente, não pode ser usado um patinete elétrico, devendo ser usados os modelos impulsionados pelos pés do competidor em contato com o solo, como no caso de um skate.

As primeiras competições de scooter surgiram nos Estados Unidos na década de 1980, mas a World Skate só começou a regular esse esporte em 2018, com o primeiro campeonato internacional organizado por ela estando previsto para esse ano de 2019. O scooter é disputado em duas modalidades, a park e a street, ambas seguindo as mesmas regras das modalidades de mesmo nome do skateboarding (no caso do park, sendo disputada apenas na modalidade bowl, nada de vert).

Para terminar, assim como no segundo post sobre patinação, vamos falar sobre os Roller Games - ou melhor, sobre os World Roller Games, que acabou sendo o nome oficial do evento. Os World Roller Games eram um sonho antigo da FIRS, que planejava juntar todos os seus campeonatos mundiais em um único evento multidesportivo; em 2013, ela traçou planos para que isso ocorresse, de fato, a partir de 2017, quando todos os campeonatos mundiais de seus esportes seriam cancelados, e os World Roller Games começariam a contar como campeonato mundial de todos eles.

Felizmente, a ideia da FIRS deu certo: a primeira edição dos World Roller Games seria realizada, de fato, em 2017, na cidade de Nanjing, China, e seria um grande sucesso. A World Skate, então, decidiria que o evento seria bienal, e já marcaria as duas próximas edições: nesse ano de 2019, os World Roller Games vão acontecer em Barcelona, Espanha, e, em 2021, em Lima, no Peru. Desde 2017, nenhum Campeonato Mundial "individual" dos esportes de patinação da World Skate é mais realizado (os de skateboarding ainda são), tendo todos tido suas últimas edições em 2016, com exceção do inline estilo livre e do hóquei sobre patins, cujos mundiais eram disputados apenas nos anos ímpares, e tiveram suas últimas edições em 2015.

O programa da edição 2019 dos World Roller Games conta com nada menos que 20 provas da patinação artística (programa curto individual masculino, programa curto individual feminino, programa curto inline individual masculino, programa curto inline individual feminino, programa longo individual masculino, programa longo individual feminino, programa longo inline individual masculino, programa longo inline individual feminino, programa curto duplas mistas, programa longo duplas mistas, livre duplas mistas, livre quartetos, livre grupos de 6, livre grupos de 12, figuras masculinas, figuras femininas, dança individual masculina, dança individual feminina, dança duplas mistas e precisão), 22 da patinação em velocidade (pista 500 m sprint, pista 1.000 m sprint, pista 200m contra o relógio, pista 10.000 m eliminatória, pista 10.000 m por pontos, pista 3.000 m revezamento, estrada 100 m sprint, estrada 500 m sprint, estrada 15.000 m eliminatória, estrada 10.000 m por pontos e estrada maratona, todas no masculino e no feminino), 4 do downhill (contra o relógio e inline cross, ambas no masculino e feminino), 13 da patinação inline estilo livre (classic slalom, speed slalom contra o relógio, speed slalom eliminatório, battle slalom, slide e saltos, todas no masculino e feminino, e pair classic slalom duplas mistas), 2 da roller estilo livre (masculino e feminino), 9 da patinação inline alpina (slalom, slalom paralelo, slalom gigante e combinado, todas no masculino e feminino, e equipes mistas), 2 do hóquei sobre patins (masculino e feminino), 1 do hóquei inline (masculino), 1 do roller derby (feminino), 8 do skateboarding (street, speed run contra o relógio e speed run largada em massa, no masculino e feminino, e street luge contra o relógio e street luge largada em massa mistas) e 2 do scooter (park e street, ambos masculinos - esse será o primeiro torneio internacional de scooter organizado pela World Skate), para um total de 84 provas - mas o evento também conta com várias competições júnior, intercontinentais e de exibição (incluindo um torneio masculino de hóquei em cadeira de rodas), o que leva o número total de provas disputadas durante os World Roller Games para um redondo 150.
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segunda-feira, 22 de setembro de 2014

Escrito por em 22.9.14 com 0 comentários

Patinação (II)

Semana passada, eu fiz aqui um post sobre patinação, no qual falei sobre patinação no gelo. Como vocês devem saber, entretanto, a patinação no gelo não é a única patinação que existe, existindo também o outro tipo, que usa patins com rodinhas. Hoje, vou completar o serviço e falar sobre essa outra patinação.

Quase todos os esportes que usam patins com rodinhas são regulados pela Federação Internacional de Esportes Sobre Rodas (FIRS, na sigla em francês), que já conta com nada menos que oito esportes diferentes sob sua tutela. Sobre dois desses oito, o hóquei sobre patins e o hóquei inline, eu já falei quando fiz o post sobre hóquei; sobre outros dois, o skate e o esqui alpino inline, eu não vou falar hoje porque esse é um post sobre patinação, e eles não envolvem patinação. Sobram outros quatro, sobre os quais falarei em breve. Antes, acho que cabe uma introdução falando sobre os tipos de patins com rodinhas e o surgimento da FIRS.

Como vimos semana passada, os patins de gelo foram inventados há uns três mil anos na Finlândia, mas começaram a se tornar populares apenas no século XVII, quando jovens nobres holandeses começaram a usá-los para corridas e competições de patinação artística. Nos anos seguintes, os patins se espalhariam pela Europa, chegariam aos demais continentes, e dariam origem a toda uma gama de competições esportivas, além de, é claro, continuarem sendo usados apenas para o lazer. Os patins de gelo possuíam, porém, uma desvantagem muito séria: para que as pessoas pudessem patinar com eles, precisavam de uma superfície de gelo. Em outras palavras, nada de patinar no verão.

Mas algumas pessoas não se deixariam abater por um detalhe tão insignificante, e logo começariam a trabalhar em patins que pudessem ser usados o ano inteiro. O primeiro a patentear um modelo foi um belga, John Joseph Merlin, em 1760. A invenção de Merlin era a mais simples possível: ao invés de uma lâmina, duas rodas, semelhantes a rodas de bicicleta, no meio dos patins. Durante um breve período de tempo, a novidade conseguiu uma certa popularidade em Huy, cidade natal de Merlin, mas logo seria abandonada, porque era muito difícil fazer curvas e frear com esses patins.

Mais uma vez, vários inventores começaram a trabalhar para solucionar esses problemas. O mais bem sucedido foi um norte-americano, James Leonard Plimpton, considerado o inventor dos patins com rodinhas: em 1863, em Nova Iorque, ele patentearia um modelo inspirado no automóvel, com quatro rodinhas, duas de cada lado, e um sistema de amortecedores de borracha, que permitiam que o patinador fizesse curvas facilmente apenas inclinando o corpo para um dos lados. O modelo de Plimpton seria aperfeiçoado em 1876 por dois inventores ingleses, William Bown, que inventaria um novo modelo de rodinhas de plástico, usado até hoje em patins e skates, e Joseph Henry Hughes, que inventaria o freio, um bloco de plástico na frente dos patins, que possibilitava que o patinador interrompesse seu movimento apenas inclinando o pé para a frente. Esse modelo de patins com quatro rodinhas e um freio na frente é conhecido em inglês como quad (em referência às quatro rodas), e pode ser encontrado ainda hoje em duas versões: uma na qual as rodas e outros elementos estão presos a um suporte, que o patinador deve amarrar em seus próprios sapatos, e outro no qual eles já vêm presos a uma bota, calçada pelo patinador.

Os quads foram bastante populares no final do século XIX e início do século XX - com vários rinques de patinação surgindo por toda a Europa e Estados Unidos - mas foram ficando esquecidos a partir da década de 1930, até retornarem, com um boom, na década de 1970, graças à sua associação com o movimento disco. A partir da década de 1990, porém, eles começaram a decair em popularidade mais uma vez, agora substituídos na preferência do público por um outro modelo, conhecido como inline.

Mas os patins inline não são uma invenção recente: o primeiro a patentear um modelo foi o francês Louis Legrande, em 1849. Trabalhando sobre o modelo criado por Merlin, ele colocou quatro rodinhas em fila, ao invés de duas, para conseguir maior estabilidade. Como os quads ainda eram mais fáceis de controlar, especialmente nas curvas, os inline eram meio que marginalizados, possuindo, porém, um uso específico para o qual os quads não serviam: auxiliar no treinamento de patinadores de gelo, que, com os patins de rodinhas, podiam treinar o ano todo, mas, sendo os quads tão diferentes dos patins de gelo, não ajudavam em nada no treinamento; os inline, por outro lado, permitiam treinar o equilíbrio, a arrancada e outros fatores proporcionados pelo uso das quatro rodinhas no meio dos patins.

Visando esse público específico, diversos inventores, especialmente nos Estados Unidos, começaram a trabalhar para aperfeiçoar os patins inline. Um dos mais bem sucedidos foi Ernest Kahlert, da Califórnia, que registrou sua patente em 1953. Os patins de Kahlert usavam as mesmas rodas e sistema de amortecimento dos quads, mas com as rodas dispostas em fila como nos inline. Esse modelo, usado no treinamento não só de patinadores, mas também de jogadores de hóquei no gelo, seria aperfeiçoado ao longo dos anos, até que, em 1993, uma empresa sediada em Minnesota, chamada Rollerblade, lançaria um modelo que se tornaria extremamente popular - tão popular, aliás, que, nos Estados Unidos, "rollerblade" é praticamente sinônimo de patins inline, usando a marca por nome do produto, como fazemos com gilete, por exemplo.

Os patins da Rollerblade possuíam rodas mais finas, um sistema de amortecimento mais barato, mas igualmente eficiente, e um freio similar ao dos quads, mas localizado no calcanhar; além disso, já vinha montado em uma bota grande, colorida e de plástico, que chamava a atenção das crianças e adolescentes, fator preponderante para sua popularidade. Aos poucos, outras fabricantes foram copiando o modelo, algumas adicionando suas próprias diferenças, como três rodas ao invés de quatro, ou uma bota mais parecida com uma bota mesmo, como a dos quads. Hoje em dia, existem patins inline de uma dezena de modelos diferentes - com três, quatro, cinco ou até seis rodas; com ou sem freio; mais "duros" ou mais "soltos" etc. - mas todos já vêm presos a botas.

Durante o período de popularidade dos quads, competições de patinação artística e de patinação em velocidade usando patins com rodinhas se tornariam comuns; como a maior parte dos países nas quais elas eram disputadas também possuíam uma estrutura bastante organizada de competições de patinação no gelo, elas jamais chegariam, porém, próximas da popularidade de seus equivalentes no gelo. A própria FIRS, fundada em 1924, não seria criada com o propósito de regular a patinação com rodinhas, e sim de regular o hóquei sobre patins. Somente em 1937, por insistência de alguns membros, é que ela começaria a regular, também, a patinação em velocidade, se tornando, no ano seguinte, o órgão máximo também para a patinação artística. Contando com 100 membros dos cinco continentes, incluindo o Brasil, a FIRS tem por missão, hoje, tentar tornar a patinação com rodinhas tão popular quanto a patinação no gelo, algo que está se mostrando bem mais difícil que o esperado. A própria inclusão da patinação nas Olimpíadas, pleiteada desde 1984, é vista com reservas pelos membros do COI, que temem reduzir a popularidade das Olimpíadas de Inverno caso haja também uma patinação nas Olimpíadas de Verão - com atletas da patinação no gelo competindo também com rodinhas, por exemplo.

Pois bem, seguindo a mesma ordem do post anterior, vamos começar a exposição pela patinação artística, da qual a FIRS reconhece nada menos que nove categorias: figuras masculina, figuras feminina, livre masculina, livre feminina, dança solo masculina, dança solo feminina, duplas (mistas), dança (em duplas mistas) e precisão. Assim como a patinação no gelo, a patinação artística com rodinhas é disputada em um rinque de 60 por 30 metros, aqui muitas vezes demarcado sobre uma quadra poliesportiva. Se for o caso, o atleta não pode ultrapassar a linha demarcada durante sua apresentação, ou será declassificado. A imensa maioria dos atletas desse esporte usa patins quad, que permitem mais precisão e maior gama de movimentos; alguns, entretanto, principalmente os oriundos da patinação no gelo, preferem os inline, que devem ter três características especiais: bota de couro (como a dos quads); quatro rodinhas, com a primeira e a última sendo mais elevadas que as centrais; e freio na parte da frente, e não no calcanhar. É recomendação da FIRS que atletas que usem quads e que usem inline não participem todos da mesma prova, devendo ser disputadas provas em separado para cada tipo de patins; na prática, entretanto, muitos campeonatos têm competidores misturados, devido ao baixo número de inscrições de inline - motivado, principalmente, pelo fato de que, em competições internacionais oficiais da FIRS, todos os patinadores devem usar quads.

A categoria figuras é bem parecida com a "técnica inglesa" da patinação no gelo, com a diferença de que, aqui, as figuras são traçadas no chão, e o patinador deve completá-las seguindo uma ordem e movimentos pré-determinados. Um painel de juízes avalia a precisão com a qual o patinador segue as marcações, a elegância com que ele passa de uma figura para a outra, e a forma como ele faz as curvas, além de sua postura. Cada um desses elementos vale um número determinado de pontos, e, ao final da competição, o patinador com mais pontos é declarado vencedor. As rodas dos patins da categoria figuras costumam ser bastante duras, e têm entre 60 e 63 mm de diâmetro.

Já a categoria livre é bem semelhante a uma apresentação de patinação no gelo: ao som de música, o patinador fará duas apresentações, um programa curto de dois minutos e um programa longo de quatro minutos, nas quais demonstrará elementos como saltos e piruetas, sendo que no programa curto todos apresentam os mesmos elementos, enquanto no longo a escolha dos elementos é feita pelo patinador. A maioria dos elementos da patinação com rodinhas é bem diferente dos da patinação no gelo, pois os patins com rodinhas são mais pesados, e o apoio no freio não porporciona um salto tão "limpo" quanto o apoio na parte dentada da lâmina; em compensação, alguns movimentos, como trocar o pé que está patinando em meio a uma figura, só são possíveis com rodinhas. Um painel de juízes dará duas notas a cada patinador: uma nota técnica, que leva em conta a velocidade, o controle, a confiança e a perfeição na execução dos movimentos, e uma nota artística, que leva em conta a harmonia, graça, leveza e originalidade dos movimentos; ambas as notas são somadas, e aquele com a maior nota final é declarado vencedor. A categoria duplas é idêntica à livre, com a diferença de que os patinadores se apresentam em duplas mistas, e são incluídos elementos de levantamento e lançamento. As rodas da categoria livre têm 57 mm de diâmetro, misturando rodas bem duras e menos duras - as bem duras do lado dos patins usado para girar, as menos duras do outro.

Na categoria dança (seja solo ou em duplas), cada patinador faz três apresentações, tendo entre 3 e 4 minutos para concluir cada uma: a dança compulsória, a dança original e a dança livre. Na dança compulsória, todos os patinadores devem apresentar os mesmos elementos, sendo avaliados de acordo com a precisão na execução dos movimentos, bem como na postura e elegância com que os executou. Na dança original, o ritmo é selecionado pela organização do campeonato, mas o patinador pode escolher os elementos de sua preferência. A nota da dança original é dividida em duas partes, uma para a parte técnica (velocidade, controle, confiança e precisão) e uma para a parte artística (harmonia, graça, leveza e originalidade). Finalmente, na dança livre, cada patinador é livre para escolher seu próprio ritmo e seus próprios elementos, mas não pode usar saltos ou levantamentos, devendo a apresentação se parecer com uma apresentação de dança de salão. A nota da dança livre leva em conta a criatividade, a habilidade e a execução dos movimentos. As três notas somadas determinam quem é o vencedor. Rodas dos patins da dança são as menos duras de todas, e têm 63 mm de diâmetro.

Finalmente, a categoria precisão é bem parecida com a patinação sincronizada: nela, uma equipe de 12 patinadores, durante uma apresentação de 4 minutos, ao som de música, deve apresentar uma série de elementos obrigatórios combinados com outros de sua escolha. As equipes são mistas, e as notas levam em consideração a velocidade com que os elementos são executados, a sincronia entre os membros da equipe, a habilidade individual de cada patinador e a elegância do conjunto. A equipe com a maior nota é a vencedora. Em relação às rodas, são usadas as mesmas dos patins da categoria livre.

A competição mais importante da patinação artística é o Campeonato Mundial, disputado anualmente desde 1947 (exceto em 48, 50, 53, 54, 57, 60, 63, 64 e 69, não sei o porquê) nas categorias livre masculina, livre feminina, dança solo masculina, dança solo feminina, duplas e dança, e desde 2000 na categoria precisão; entre 1947 e 1998 também eram disputadas as categorias figuras masculinas e figuras femininas. A patinação artística não está nas Olimpíadas, mas está nos World Games desde sua primeira edição, em 1981, nas categorias livre masculina, livre feminina, duplas e dança. O Brasil tem uma medalha de ouro e duas de bronze nos World Games nesse esporte - uma de cada com Marcel Sturmer na livre masculina, em 2009 e 2013, e uma de bronze com Luciana Hyodo e Max Coelho nas duplas em 2001.

Passemos agora da patinação artística para a patinação em velocidade. Assim como ocorreu no gelo, a patinação em velocidade usando rodinhas foi a evolução de várias corridas ao ar livre, com a diferença de que essas corridas eram realizadas em estradas, no asfalto ou concreto. Mesmo após o advento das arenas fechadas, muitos competidores preferiram continuar competindo em estradas, de forma que a FIRS reconhece e regula as duas categorias, a patinação em velocidade de pista e a patinação em velocidade de estrada - mais ou menos como ocorre com o ciclismo.

Uma das principais dificuldades encontradas pela FIRS para uma padronização da patinação em velocidade é que, atualmente, existem dois tipos de pistas oficiais: embora todas sejam ovais, nos Estados Unidos é comum que as pistas, também chamadas rinques, e que têm piso de madeira coberta com plástico ou cimento coberto com plástico, tenham 100 metros de extensão, enquanto na Europa as pistas se chamam patinódromos, têm piso de asfalto ou concreto e 200 metros de extensão. Como se isso não bastasse, muitos países (como o Brasil), por não terem rinques nem patinódromos próprios, para não precisar construir um, realizam suas provas em velódromos - as pistas próprias para provas de ciclismo - que têm 250 metros de extensão, piso de madeira e curvas inclinadas. Desde o ano 2000, a FIRS faz um esforço - inclusive contribuindo financeiramente - para que o patinódromo seja adotado como arena universal da modalidade, mas alguns países, principalmente os Estados Unidos, ainda resistem a construí-los.

Atualmente, os patins usados nas competições internacionais de patinação em velocidade são os inline. No início, evidentemente, eram usados os quad, sendo que, até 1991, todos os competidores internacionais usavam esse modelo. No ano seguinte, a FIRS passou a permitir o uso de ambos os tipos, e, a partir de 1994, quando ficou provado que os inline eram mais rápidos, todos os competidores internacionais passaram a adotá-los. Ainda hoje a regra oficial da FIRS permite que se usem quads, mas ninguém o faz. Alguns países, porém, ainda organizam campeonatos separados para inlines e quads.

As rodas dos patins de velocidade são bem maiores que os da patinação artística, tendo entre 90 e 100 mm de diâmetro, e as de pista são mais duras até que as da categoria figuras, com as de estrada sendo um pouco menos duras. A FIRS permite que sejam usados patins de três, quatro ou cinco rodas, de acordo com o tamanho do pé do patinador - quem tem o pé menor usa menos rodas - sendo que as botas, hoje em dia, são feitas de fibra de carbono ou fibra de vido, moldadas ao pé do atleta para serem aerodinâmicas, e bem curtas, para permitir maior mobilidade do tornozelo. O suporte no qual as rodas são presas também é feito de fibra de carbono ou material similar, para permitir maior flexibilidade nas curvas. Um detalhe curioso quanto aos patins de velocidade é que eles não possuem freio. Além dos patins, um equipamento obrigatório é o capacete, para proteção do atleta, mas que pode ser alongado como o do ciclismo, para ajudar na aerodinâmica.

A patinação em velocidade possui sete tipos de provas diferentes. A mais simples é a chamada sprint: quem chegar primeiro após cumprir uma determinada distância é o vencedor. Na estrada, todos os patinadores largam juntos, mas, na pista, há um máximo de seis patinadores de cada vez, portanto, se houver mais que isso competindo, são disputadas eliminatórias, com os melhores avançando e os piores sendo eliminados, até que os seis melhores fazem a final. Tanto na pista quanto na estrada, as distâncias do sprint são 500 metros e 1.000 metros.

A prova contra o relógio é mais parecida com a patinação em velocidade no gelo: dois patinadores de cada vez tentam completar a distância no menor tempo possível. O vencedor será aquele que tiver o menor tempo depois que todos tiverem concluído a prova, então o objetivo não é somente vencer o adversário contra quem você está competindo, e sim estabelecer um tempo melhor que os anteriores e cujos seguintes não vão conseguir superar. Na pista, a distância da prova contra o relógio é de 300 metros, na estrada, é de 200 metros.

O terceiro tipo de prova é a eliminatória, na qual, a cada volta na pista, ou em pontos marcados previamente na estrada, o último patinador do pelotão é eliminado, devendo deixar a prova. Com isso, no final, costumam sobrar só quatro ou cinco, que disputarão efetivamente a vitória. Esse formato faz com que todos sempre tentem ficar bem juntos, e com que quedas sejam determinantes para o insucesso, já que é muito difícil para um patinador que cai se recuperar antes de ser eliminado. Na pista, a eliminatória é disputada na distância de 15.000 metros, enquanto na estrada a distância é de 20.000 metros.

Em seguida, temos a prova dos pontos. Nela, a cada volta na pista, ou em pontos marcados previamente na estrada, o primeiro, segundo e terceiro a cruzarem a linha ganharão pontos. Nem todas as voltas/marcações valem o mesmo número de pontos, com aquelas mais próximas do final da prova valendo mais, e a última (que termina na linha de chegada) valendo a maior pontuação de todas. Mesmo assim, como o vencedor é aquele que acumula mais pontos ao longo da prova, e não quem cruza a linha de chegada primeiro, é comum que um patinador seja o vencedor mesmo sendo ultrapassado na volta final. Atualmente, a prova dos pontos é exclusiva da estrada, na distância de 10.000 metros, enquanto exclusivamente na pista temos o quinto tipo de prova, a pontos + eliminatória, que combina características dos dois tipos anteriores: a cada volta, os três primeiros ganham pontos e o último é eliminado, não importando quantos pontos tinha. Essa prova também é disputada na distância de 10.000 metros.

A patinação em velocidade conta também com provas de revezamento. Uma equipe de revezamento é composta de quatro patinadores; em torneios da FIRS, as equipes são sempre exclusivamente masculinas ou femininas, mas alguns outros torneios possuem provas de revezamento misto, com equipes compostas por dois homens e duas mulheres, sendo que uma mulher sempre inicia a prova e um homem sempre a termina. Na prova de revezamento, um dos patinadores completa uma volta na pista e então toca a mão de um colega, que dará mais uma volta; quando os quatro já tiverem dado suas voltas, eles se repetem, sempre na mesma ordem. Mesmo na estrada, a prova do revezamento tem um trajeto oval, para que todos os patinadores percorram o mesmo terreno. Na pista, a distância total percorrida pelo revezamento é de 3.000 metros; na estrada, é de 5.000 metros.

Finalmente, temos a maratona, disputada exclusivamente na estrada, e na distância de uma maratona mesmo, 42,195 Km. Os patinadores largam todos juntos, e quem chegar primeiro é o vencedor. A FIRS só organiza provas de maratona, mas também existem provas, organizadas por federações nacionais, de meia-maratona (21,0975 Km) e de ultra-maratona (distâncias superiores a 42,195 Km), como a famosa NY100K, uma prova de 100 Km realizada anualmente na cidade de Nova Iorque.

Antigamente, existia também um oitavo tipo de prova, chamado criterium. Nela, os patinadores deveriam cumprir não uma determinada distância, mas um determinado tempo patinando, mais uma volta. Por exemplo, após a largada, um cronômetro marcaria 45 minutos de prova, e, após esse tempo se completar, um sino tocava para avisar que quem cruzasse a linha de chegada ainda deveria dar mais uma volta, a última. O vencedor era quem cruzasse a linha de chegada novamente após essa última volta, que, por causa do sino, era conhecida como bell lap ("volta do sino"). Provas de criterium não são organizadas pela FIRS desde 2002, mas ainda podem ser encontradas em alguns campeonatos nacionais.

O campeonato mais importante da patinação em velocidade é o Campeonato Mundial, disputado em intervalos irregulares desde 1937, e anualmente desde 1978 - algumas edições tiveram apenas provas de estrada, algumas tiveram apenas provas de pista, e algumas tiveram ambas, incluindo todas as disputadas desde 2003. Desde essa data, são disputadas no Mundial, no masculino e no feminino, 12 das 13 provas reguladas pela FIRS - apenas os 1.000 m sprint de estrada não fazem parte do programa. Em segundo lugar em importância após o Mundial vêm os World Games, dos quais a patinação em velocidade faz parte do programa desde a primeira edição, em 1981. São disputadas nos World Games apenas as provas individuais de pista (ou seja, não tem revezamento), embora as de estrada (exceto o revezamento e a maratona) tenham sido incluídas no programa de 2013 como esporte de demonstração. Falando em maratona, ela possui um campeonato só dela, a Copa do Mundo, uma série de maratonas disputadas ao longo do ano, cujos resultados valem pontos aos competidores; ao fim do ano, aquele com mais pontos é declarado campeão.

O terceiro esporte que veremos hoje é a patinação downhill. Semelhante ao esqui alpino downhill, esse esporte envolve descer, usando patins, um percurso traçado em uma superfície inclinada, lisa e com piso de asfalto ou concreto, mas não reta, com o patinador devendo fazer algumas curvas pelo caminho. Os patinadores praticamente não tomam impulso durante a prova, com toda a velocidade sendo conquistada com a força da gravidade.

O downhill é aberto para patinadores que desejem usar tanto quads quanto patins inline, sendo que, na prática, assim como na patinação em velocidade, todos os patinadores usam inline, pois esses permitem uma velocidade maior. Os inline devem ter no mínimo quatro e no máximo seis rodas, as rodas não podem ter mais de 110 mm de diâmetro, e a estrutura na qual as rodas são montadas não pode ter mais de 50 cm de comprimento. O uso de freios é opcional, mas eles devem sempre ser traseiros, e, recentemente, muitos patinadores inline vêm experimentando um modelo clap, semelhante ao da patinação em velocidade no gelo, no qual a parte de trás não é afixada à bota, que deve ter cano longo e ser bastante firme no pé do atleta. Devido às altas velocidades, todos os patinadores devem também usar capacetes fechados, ao estilo do automobilismo, joelheiras, ombreiras, proteções para as palmas das mãos, genitais e para as costas, essas no estilo do motociclismo.

O downhill possui três categorias. A mais simples é a prova contra o relógio, na qual cada patinador desce de uma vez, e aquele que fizer a descida no menor tempo vence. Normalmente, cada patinador tem direito a duas descidas, com os tempos de ambas sendo somados. A segunda categoria é o inline cross, no qual um grupo de patinadores - pelas regras da FIRS, no mínimo dois e no máximo seis - descem todos juntos, sendo o vencedor o que cruzar a linha de chegada primeiro. Se houver necessidade, são disputadas eliminatórias, com os melhores colocados de cada bateria se classificando para a seguinte e os piortes sendo eliminados, até que só sobre um último grupo do qual o vencedor da prova será o campeão do evento. A categoria mais bizarra, porém, é a chamada bob track, na qual os patinadores descem uma pista de bobsled sem o gelo, patinando no concreto. Cada patinador tem direito a duas descidas, cujos tempos são somados, e os oito melhores tempos se classificam para uma nova descida, sendo campeão o que obtiver o menor tempo nessa terceira descida.

O downhill possui três campeonatos importantes. O primeiro é o Campeonato Mundial, realizado anualmente desde 1999, e que tem provas somente contra o relógio, masculina e feminina. O segundo é a Copa do Mundo, disputada anualmente desde 2005, uma espécie de circuito mundial com seis etapas ao longo do ano - sendo que o Mundial também conta como uma etapa - e com provas masculina e feminina contra o relógio e cross. O terceiro é a Bob Track Cup, realizada desde 2012 duas vezes por ano, consistindo apenas de uma prova de bob track masculina - embora mulheres também possam participar; não há prova feminina nem medalhas em separado porque o número de mulheres praticando essa categoria ainda é baixíssimo; nas duas provas desse ano, por exemplo, nenhuma competiu, e nas duas do ano passado, somente uma, na segunda prova. Cada prova da Bob Track Cup conta como um campeonato por si só, o que faz com que existam dois campeões por ano.

Para terminar, temos a patinação inline estilo livre. Surgido nas ruas da Califórnia como mero passatempo, esse esporte foi crescendo em popularidade e atraindo cada vez mais adeptos, até que, em 2010, a FIRS decidiu regulá-lo também para padronizar as competições oficiais. No estilo livre, os patinadores se exibem em uma pista reta de 26 metros de comprimento, com pequenos cones espaçados equidistantes uns dos outros. O objetivo é patinar ziguezagueando pelos cones - passando pela direita de um, pela esquerda do seguinte, então pela direita, pela esquerda e assim vai - enquanto são realizadas manobras que envolvem saltos, piruetas, patinar de costas, agachado e outros movimentos complexos. Um painel de juízes avalia a performance de cada atleta, levando em conta elementos como a velocidade, a habilidade, a distância entre os patins e os cones e a precisão na execução das manobras. Todos esses elementos valem notas, e o patinador com a maior nota vence. Derrubar cones ou "pulá-los" - passar por dois de uma vez - resulta em perda de pontos ou até desclassificação.

Os patins do estilo livre, assim como os patins da velocidade, não têm freios e têm rodinhas bem duras. Curiosamente, as rodinhas não são todas do mesmo tamanho, com as da frente sendo menores que as de trás, e a primeira da frente sendo a menor de todas. Outra diferença em relação aos patins da velocidade é que a bota tem cano alto, bem firme no tornozelo, para permitir mais precisão nas manobras. Como o nome do esporte atesta, todos os competidores devem usar patins inline.

O estilo livre possui cinco categorias. Na chamada classic slalom, existem três linhas de cones, cada uma com cones de cores diferentes, espaçadas 2 m uma da outra: a primeira tem 20 cones a 50 cm uns dos outros, a segunda tem 20 cones espaçados 80 cm uns dos outros, a terceira tem 14 cones espaçados 1,2 m uns dos outros. Cada patinador deve se apresentar duas vezes em cada uma das três linhas, sendo as seis notas somadas. A apresentação é feita ao som de música, e cada patinador deve usar no mínimo 1 minuto e 45 segundos e no máximo 2 minutos em cada apresentação, considerando as três linhas. A categoria pair classic slalom segue as mesmíssimas regras, com a diferença de que dois patinadores se apresentam simultaneamente, e também é avaliado o sincronismo entre suas manobras.

A terceira categoria é o speed slalom, na qual existem duas linhas de 20 cones cada, espaçados a 80 cm uns dos outros. As linhas ficam a 3 m uma da outra, e têm uma barreira de entre 15 e 20 cm de altura entre elas. O objetivo aqui não é fazer manobras, e sim, patinando com um pé só - o outro deve permanecer sem tocar o chão por todo o decorrer da prova - completar a linha no menor tempo possível, sem pular nenhum cone. Competições de speed slalom podem ser contra o relógio ou eliminatórias; se forem contra o relógio, os patinadores competem dois a dois, mas vence aquele que tiver o menor tempo após todos terem se apresentado; na eliminatória, o vencedor de cada dupla vai avançando, enquanto o perdedor é eliminado, até que só sobrem dois, que farão a final. Competições internacionais costumam adotar os dois formatos, com uma primeira fase contra o relógio e os 8 ou 16 melhores tempos se classificando para uma segunda fase eliminatória.

Em seguida temos o battle slalom, no qual existem quatro linhas, espaçadas 2 metros uma da outra: as mesmas três do classic slalom, mais uma de 10 cones espaçados 80 cm uns dos outros. De forma semelhante ao speed slalom, os patinadores são divididos em grupos de três ou quatro patinadores cada. Dentro de cada grupo, os patinadores se apresentam individualmente, cada um tendo duas ou três apresentações de 30 segundos cada. As notas dos patinadores de um mesmo grupo são comparadas, e o melhor (no caso de um grupo de três) ou os dois melhores (no caso de um grupo de quatro) avançam para a fase seguinte, onde serão novamente arrumados em grupos, até que só reste um grupo final. O patinador que obtiver a maior nota neste grupo final é o vencedor.

Por fim, temos a categoria slide, a única que não usa cones. No slide, a pista tem 40 metros de comprimento, sendo que os primeiros 25 são a área de aceleração e os últimos 15 são a área de apresentação. Cada patinador tem quatro ou cinco chances, devendo, em cada uma delas, ganhar velocidade na área de aceleração e apresentar manobras, que são próprias dessa categoria e diferentes das de slalom, na de apresentação; a pior das quatro ou cinco notas é descartada. Assim como no battle slalom, os patinadores são arrumados em grupos, que podem ser de três, quatro ou cinco (apenas na primeira rodada) patinadores cada; os melhores vão avançando e os piores sendo eliminados, até que só reste um grupo, do qual o patinador com a maior nota será o vencedor.

O principal campeonato do estilo livre é o Mundial, já realizado em 2011 e 2013, e que tem uma terceira edição marcada para 2015. Todas as cinco categorias, no masculino e no feminino - exceto a pair classic slalom, disputada apenas por duplas mistas - fazem parte do programa.

Antes de terminar de vez, cabe mencionar os Roller Games. Na falta das Olimpíadas, a FIRS decidiu criar um evento multiesportivo, que substituirá os Campeonatos Mundiais dois oito esportes regulados por ela, reunindo em um único evento provas da patinação artística, patinação em velocidade, patinação downhill, patinação estilo livre, hóquei sobre patins, hóquei inline, skate, esqui alpino inline e roller derby, esporte de patinação no qual a FIRS atua como parceira da WFTDA, a federação internacional desse esporte. A primeira edição dos Roller Games está marcada para 2017, em uma cidade-sede ainda não escolhida. Também ainda não foi determinado se os Roller Games serão anuais (como a maioria dos atuais Campeonatos Mundiais), bienais ou a cada quatro anos, como as Olimpíadas.
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segunda-feira, 15 de setembro de 2014

Escrito por em 15.9.14 com 0 comentários

Patinação (I)

Eu já falei sobre esqui. Já falei sobre trenó. Hoje, vou falar sobre patinação, a única "categoria" de esportes de inverno que ainda não tinha sido contemplada aqui no átomo.

Estudiosos estimam que os primeiros patins tenham surgido na Finlândia, por volta do ano 1.000 a.C. Na época, esses "patins" eram pouco mais que pedaços de ossos afiados, amarrados nas solas dos sapatos, com a ajuda dos quais caçadores podiam deslizar sobre o gelo. Conforme os finlandeses iam estebelecendo comércio com outros povos, o conhecimento dos patins chegaria a outros países, que inventariam sua própria versão do apetrecho.

Foram os holandeses, porém, que inventaram os patins como conhecemos hoje, e somente no século XIII. Na época, artesãos holandeses começaram a produzir lâminas de aço que já vinham com um suporte para serem encaixadas no solado das botas, e permitiam que seus usuários deslizassem com mais velocidade que com os patins tradicionais de osso, pedra ou metal existentes até então, amarrados nas botas com cordas. O formato das lâminas permitia também um maior controle sobre o deslizamento, facilitando freadas e curvas, por exemplo.

Quatro séculos depois, jovens nobres que costumavam organizar competições de trenó na cidade de Haia decidiriam organizar, também, competições de patinação no gelo. Essas competições envolviam tanto provas de corrida quanto de "dança no gelo", e faziam parte de grandes festivais, nos quais a população local e visitantes de outras cidades se uniam aos competidores, patinando no gelo apenas por diversão. Logo esses festivais chegariam a outras cidades, como Amsterdam e Leiden, muitas delas passando a organizar provas próprias que se tornariam bastante famosas - como uma corrida na qual os patinadores partiam da cidade de Zaandam, patinando pelos canais congelados, passando por Amsterdam e Naardem, até a chegada na cidade de Muden, em um percurso de pouco mais de 200 Km.

Nessa época, o Rei da Inglaterra, Jaime II, foi exilado na Holanda, e conheceu a patinação e suas competições. Ao retornar para seu país de origem, ele levou com ele o novo esporte, suas regras e equipamentos, e o introduziu à nobreza local. Como na Holanda, logo começariam a surgir grandes festivais, durante os quais a população também travava contato com a patinação, e, daí, aconteceria o mais comum no Reino Unido em se tratando de esportes: começariam a surgir os primeiros clubes de patinação, sendo o primeiro o Edinburgh Skating Club, fundado em 1740. Esses clubes eram focados principalmente na patinação artística, a preferida das classes mais abastadas do Reino Unido, com as corridas ficando ainda restritas à Holanda. O surgimento dos clubes, porém, ajudou na disseminação do esporte, já que estrangeiros, após visitarem os clubes, voltavam a seus países com a ideia de criar locais para a prática da patinação por lá também.

No final do século XIX, a grande quantidade de clubes de patinação artítica e provas de corrida de patinação espalhadas pela Europa evidenciavam a necessidade da criação de um órgão capaz de unificar as regras, até para permitir competições internacionais. Assim, em 1892, foi fundada, na cidade de Scheveningen, Holanda, a União Patinadora Internacional (ISU, da sigla em inglês), uma das mais antigas federações internacionais do mundo, criada da união de 12 federações nacionais europeias. Alegando diferenças entre as regras adotadas na Europa e as usadas por eles, os Estados Unidos se recusaram a se filiar à ISU, e, em 1907, fundaram sua própria federação internacional, a ISUA, da qual os únicos membros eram eles mesmos e o Canadá. Como, em 1927, a ISU já possuía mais de 20 membros, enquanto a ISUA só tinha os Estados Unidos - o Canadá decidiu sair da ISUA e se filiar à ISU em 1911 - a ISUA decidiu encerrar suas operações, e os norte-americanos finalmente entraram para a ISU. Hoje, a ISU conta com 69 membros dos cinco continentes, incluindo o Brasil, e é responsável pela regulação de quatro esportes: a patinação artística, a patinação sincronizada, a patinação em velocidade e a patinação em velocidade em pista curta - à primeira vista, a nomenclatura faz com que se questione se é mesmo necessária a divisão da patinação em velocidade em duas (tipo "dois esportes diferentes só porque em um deles a pista é menor?"), mas, como veremos, a divisão é necessária, pois as regras são completamente diferentes.

Mas falaremos disso mais tarde, pois vamos começar pela patinação artística. Como todo esporte que se preza, a patinação precisava de regras bem definidas, para que a competição entre os vários clubes fosse possível. O primeiro a escrever um conjunto de regras para a patinação artística foi o britânico Robert Jones, que, em 1772, publicou um livro no qual descrevia as várias figuras que um patinador deveria ser capaz de realizar enquanto no gelo. O criador da patinação artística como conhecemos hoje, porém, foi um norte-americano, Jackson Haines, que, em meados do século XIX, começou a introduzir movimentos de balé e de outras danças em suas apresentações - até então, as apresentações consistiam apenas no patinador desenhando figuras, como círculos e oitos, no gelo, uma após a outra (por isso, até hoje, os movimentos da patinação artística se chamam "figuras"); Haines foi o primeiro a fazer uma apresentação "dançada" - embora sem música - com movimentos como giros e piruetas, e fluida, com um movimento levando ao outro, ao invés de o patinador parar e recomeçar após cada figura como era o tradicional. Haines também inventaria os primeiros patins nos quais as botas já vinham com a lâmina presa à sola, o que permitia uma maior gama de movimentos sem a preocupação de o suporte se soltar, e criou um novo tipo de lâmina, mais curta e mais curva que as usadas até então.

Curiosamente, entretanto, o estilo de Haines era rejeitado nos Estados Unidos, onde os juízes consideravam mais importante que os patinadores dominassem a chamada "técnica inglesa" de desenhar figuras no gelo. Em 1864, então, ele decidiria se mudar para a Europa, onde tentaria ensinar sua técnica, batizada por ele mesmo de "técnica internacional". Ele abriria uma escola de patinação em Estocolmo, Suécia, e, em 1868, seria convidado para uma apresentação para a família real da Áustria, em Viena. Essa apresentação impressionaria a plateia, que não considerava ser possível um homem se mover com tanta graça e desenvoltura sobre o gelo. Haines seria convidado a ficar na Áustria, onde fundaria a Escola de Viena, que, finalmente, faria com que sua técnica passasse a ser adotada em toda a Europa, se tornando a oficial em todas as competições de patinação artística do continente desde então. Os Estados Unidos, porém, pareciam ter alguma espécie de birra contra ele, e continuariam usando a "técnica inglesa" - mesmo após ela já nem ser mais usada na Inglaterra - até bem depois da virada do século - o primeiro campeonato usando a "técnica internacional" em solo norte-americano seria realizado apenas em 1914, em New Haven, Connecticut, e ela só se tornaria o padrão nos campeonatos do país em meados da década de 1920. Infelizmente, Haines não viveria para ver sua técnica se tornar o padrão mundial; faleceria em 1875, na Finlândia, de tuberculose. Apenas no centenário de sua morte os norte-americanos reconheceriam sua importância para a patinação artística, e o incluiriam no Hall da Fama da modalidade.

Quando de sua fundação, combinando a ideia do livro de Jones com os movimentos introduzidos por Haines, a ISU criaria seu próprio "livro oficial de figuras", que conta com vários tipos de saltos, piruetas, giros e passos. Somente as figuras presentes nas regras da ISU são consideradas válidas - e, portanto, valem pontos - durante uma competição oficial de patinação artística. O patinador deve executá-las com perfeição, leveza e graciosidade, perdendo pontos em técnica ou na parte artística se não conseguir.

Durante uma competição, cada patinador tem direito a duas apresentações, uma chamada "programa curto" (com duração de dois minutos e meio) e uma chamada "programa livre" (de 4 minutos no feminino e 4 minutos e meio no masculino e nas duplas). Ambas são realizadas ao som de uma música escolhida pelo patinador que está se apresentando, mas o programa curto tem mais figuras obrigatórias, enquanto no programa livre o patinador pode apresentar mais figuras de sua própria escolha. Cada figura é avaliada primeiro por um especialista técnico, que irá determinar a precisão técnica com que ela foi executada - podendo se valer, inclusive, de um replay em câmera lenta para avaliar melhor a execução se desejar. A decisão do especialista técnico não vale pontos, e sim determina a pontuação base do patinador naquela apresentação. Um painel de 12 juízes, então, avaliará a qualidade da apresentação do patinador, podendo somar ou diminuir até 3 pontos da base determinada pelo especialista técnico. Desses 12 juízes, 9 são escolhidos aleatoriamente, então são descartadas a maior e a menor notas, e as outras sete são somadas e divididas por sete para se chegar à nota final do patinador. Esse método pode parecer complicado, mas foi criado para ser o mais justo possível, sem a possibilidade de um grupo de juízes mal-intencionados dar vantagem a um ou outro patinador. Essa avaliação é feita tanto no programa curto quanto no programa livre, e as notas finais de ambos os programas são somados para se determinar o vencedor.

A competição de patinação artística ocorre em uma arena chamada rinque. Originalmente, os rinques eram montados em lagos congelados, mas hoje são ginásios fechados, muitas vezes com o gelo sendo criado e mantido artificialmente. Segundo as normas da ISU, um rinque deve ter, no mínimo, 26 metros de largura por 56 de comprimento; na prática, entretanto, existem rinques de três medidas "oficiais": a chamada "medida olímpica", usada nas Olimpíadas de Inverno e no Campeonato Mundial, é a de 30 por 60 metros, e a preferida da ISU para qualquer competição organizada por ela. Nos Estados Unidos e Canadá, porém, os rinques costumam ter 26 por 61 metros, que é a medida de uma arena de hóquei no gelo da NHL, normalmente aproveitadas para eventos de patinação. Na Europa, por outro lado, os rinques costumam ter 30 por 64 metros, que era a medida preferencial dos patinadores antes de a ISU resolver padronizar. Pode parecer implicância, mas a medida do rinque é importante porque os patinadores devem usar toda a sua extensão durante sua apresentação; um rinque de 30 por 60 torna a visão dos juízes mais nítida, além de permitir movimentos mais velozes dos patinadores. A ISU também recomenda que o gelo esteja sempre na temperatura de -4oC, para permitir um deslize mais suave. Em intervalos pré-determinados durante as competições, uma máquina "dá um polimento" no gelo, para que ele esteja sempre liso e não influencie nas apresentações.

Os patins da patinação artística possuem uma única lâmina, no meio da bota, mas que possui um vão no meio, o que faz com que, na prática, sejam dois fios. Os patinadores devem sempre patinar apoiados em apenas um desses fios, perdendo pontos se ambos os fios tocarem o gelo. Esses pontos, assim como os perdidos no caso de quedas, são descontados da nota final do patinador, e não das notas individuais dos juízes. Outra característica dos patins é que eles têm, na frente, uma parte curva com "dentinhos", usada para maior firmeza nos saltos.

A patinação artística é disputada em quatro modalidades: simples masculina, simples feminina, duplas mistas e dança no gelo. Nas duplas mistas, elementos como sincronicidade, levantamentos (o homem erguendo a mulher e patinando com ela em seus braços) e lançamentos (o homem tira a mulher do chão e a "arremessa" para que ela pouse executando um novo movimento mais a frente) também são avaliados, sendo os levantamentos obrigatórios. A diferença da competição de dança no gelo para a de duplas mistas é que a dança no gelo é como se fosse uma dança mesmo: não são permitidos saltos nem lançamentos, as piruetas devem ser feitas sempre com um nos braços do outro, os levantamentos não podem ser feitos acima da altura do ombro, e há uma série de passos obrigatórios que devem ser cumpridos sincronizados com a música. O tempo na dança no gelo também tem uma "tolerância" de 10 segundos para mais ou para menos (ou seja, deve ter entre 4:20 e 4:40 no programa livre, por exemplo), com a dupla não sendo penalizada se terminar a apresentação dentro desse intervalo de tempo.

A patinação artística foi disputada em duas edições das Olimpíadas (não das Olimpíadas de Inverno, mas das Olimpíadas mesmo), em 1908 e 1920, nas modalidades simples masculina, simples feminina e duplas - na edição de 1908 foi disputada também uma prova de "figuras especiais" masculinas, na qual pontos eram atribuídos por desenhos elaborados no gelo, semelhante ao que ocorria na "técnica inglesa". Desde a criação das Olimpíadas de Inverno, em 1924, a patinação artística faz parte do programa, também com essas três modalidades. A dança no gelo seria incluída no programa em 1976, e, em 2014, seria incluída também uma competição por equipes, na qual cada país inscreveu um atleta do masculino, uma do feminino e duas duplas, sendo realizadas quatro apresentações, uma de cada modalidade, e os pontos somados para se determinar o país vencedor. É tradicional nas Olimpíadas de Inverno que, alguns dias após o término das competições da patinação artística, seja realizada uma "exibição de gala", na qual todos os patinadores exibem coreografias juntos, para relaxar após a competição e agradecer à presença do público com espetáculo.

Além das Olimpíadas de Inverno, a competição mais importante da patinação artística é o Campeonato Mundial, realizado anualmente desde 1896 (exceto durante a Primeira e a Segunda Guerras Mundiais e em 1961, quando foi cancelado após o avião que levava a equipe dos Estados Unidos cair, matando a todos), o que faz com que ele seja um dos mais antigos campeonatos do mundo ainda disputados. A competição de simples masculinas esteve presente em todas as edições, a de simples femininas desde 1906, a de duplas mistas desde 1908, e a dança no gelo desde 1952.

A segunda disciplina regulada pela ISU, a patinação sincronizada, é bem semelhante à patinação artística: também é disputada em um rinque, usa o mesmo tipo de patins, e suas competições são divididas em uma apresentação do programa curto e uma do programa longo, ambas sob o som de música, com o sistema de avaliação também sendo o mesmo. A diferença é que a patinação sincronizada é disputada por equipes. E cada equipe é composta de vinte patinadores.

A primeira equipe de patinação sincronizada do mundo foi formada por Richard Porter em Ann Arbor, Michigan, Estados Unidos, e era composta por estudantes da Universidade de Michigan, que se apresentavam durante os intervalos dos jogos de hóquei no gelo do time da universidade. Logo outras universidades começaram a imitá-las, e, nos anos 1970, houve um boom da modalidade, com várias equipes dos Estados Unidos e Canadá se enfrentando em campeonatos locais, e as primeiras equipes começando a surgir na Europa. A ISU assumiu a regulação em 1999, e, desde então, tenta difundir o esporte, embora ainda com pouco sucesso.

Como as competições são disputadas por equipes enormes, as figuras da patinação sincronizada são diferentes daquelas da patinação artística. A maioria envolve formações - "desenhos" que a equipe deve formar enquanto patina, como círculos, linhas e interseções que lembram as pétalas de uma flor ou uma roda girando. Durante a apresentação, grupos de patinadores podem se destacar e realizar saltos e piruetas, voltando para a formação de maneira fluida e sem quebrar a sincronicidade. Um dos movimentos mais impressionantes é a pirueta sincronizada, na qual toda a equipe gira uma pirueta ao mesmo tempo. São permitidos levantamentos, desde que fiquem abaixo da altura dos ombos, mas não lançamentos. Equipes de patinação sincronizada são mistas, sem número mínimo ou máximo de homens ou mulheres, mas, em nome da graça e elegância, é comum que as equipes sejam totalmente compostas por mulheres.

A principal competição da patinação sincronizada é o Campeonato Mundial - uma competição separada do Mundial de patinação artística - disputado anualmente desde 2000. A ISU tem planos para incluir a patinação sincronizada nas Olimpíadas de Inverno como parte do programa da patinação artística, mas quer resolver uma questão antes: atualmente, menos de um terço dos membros da ISU compete internacionalmente nesse esporte, sendo que quatro países - Suécia, Finlândia, Canadá e Estados Unidos - estão em nível bem superior aos demais - de fato, estes quatro países são os únicos que já ficaram entre os quatro primeiros do Mundial, com a Finlândia já tendo conquistado oito ouros, a Suécia seis, e o Canadá um. A ISU planeja primeiro popularizar o esporte e ter um nível de competição mais elevado antes de ter de lidar com a logística necessária para sua inclusão nos Jogos.

Passemos da arte às corridas, com a patinação em velocidade. As provas da patinação em velocidade são a evolução das corridas que começaram na Holanda, mas depois se espalharam pela Europa e para os Estados Unidos. Inicialmente, essas provas eram realizadas em grandes distâncias, indo de uma cidade à outra, mas, na Inglaterra, na região de Fens, os membros dos clubes locais começaram a disputá-la, em 1763, em um lago congelado, dando várias voltas até que se cumprisse uma distância pré-determinada. Essa ideia seria levada para Oslo, Noruega, para uma prova que começaria a ser disputada em 1863, e se tornaria tão famosa que atrairia, sempre que realizada, uma verdadeira multidão de espectadores. Como de costume, no início, cada prova usava um comprimento de pista diferente, mas a maioria tentava ficar próxima aos 400 metros, que era a mesma distância de uma pista de atletismo. Quando a ISU foi fundada, adotou essa pista de 400 metros como oficial. Hoje, até existem pistas de diferentes tamanhos - as menores com 200 metros, as maiores chegando a 1.400 - mas que não podem ser usadas em competições oficiais. No início, as pistas da patinação em velocidade eram construídas em lagos, e só podiam ser usadas durante o inverno; com o advento de modernas técnicas de refrigeração, elas passaram a ser construídas em arenas fechadas. Muitas pistas ao ar livre, artificiais ou naturais, porém, ainda são usadas, especialmente na Escandinávia.

Os patins da patinação em velocidade são bem diferentes tanto dos da patinação artística quanto daqueles usados para recreação: sua lâmina é bem mais longa, mais alta, possui apenas um fio, e é presa à bota apenas na parte da frente, ficando a parte de trás, do calcanhar, solta. Como a parte da frente possui uma espécie de dobradiça, isso faz com que a lâmina fique em contato com o gelo por mais tempo, pois a parte de trás ainda leva alguns momentos para deixar o gelo e encostar na bota depois que o patinador levanta o pé. Como a parte de trás faz um estalo cartacterístico quando encosta na bota, esse modelo ficou conhecido como clap. A invenção do clap, na década de 1980, aliado ao uso de modernas roupas aerodinâmicas, fez com que os patinadores conseguissem alcançar velocidades impressionantes: hoje, um patinador de ponta consegue atingir mais de 50 Km/h.

A pista da patinação em velocidade é semelhante à do atletismo: tem 400 metros de extensão, em formato oval, com duas curvas de raio entre 25 e 26 metros. Diferentemente do atletismo, porém, a pista da patinação em velocidade só possui duas raias, com entre 3 e 4 metros de largura cada. Isso porque uma das principais características desse esporte é que os atletas competem dois a dois, e não vários ao mesmo tempo na pista. Os atletas usam braçadeiras para identificar em qual raia eles largaram - vermelha para a raia de fora, branca para a raia de dentro - e, a cada volta completada, trocam de raia, para que cada um complete a mesma distância ao final da prova - já que, como a pista é oval, quem corre por dentro corre menos. Há uma marcação na pista no ponto onde os atletas têm de fazer a troca de raia, e, caso ambos cheguem nesse ponto juntos, a preferência é de quem está indo da raia de fora para a de dentro, devendo o outro reduzir a velocidade.

A ISU reconhece cinco disciplinas da patinação em velocidade. A mais simples é chamada apenas de single distance, ou "distância simples", e, nela, cada atleta dá voltas na pista até completar uma distância pré-determinada. As distâncias oficiais de competição, segundo a ISU, são 500 m, 1.000 m, 1.500 m, 5.000 m (todas essas tanto no masculino quanto no feminino), 3.000 m (apenas no feminino) e 10.000 m (apenas no masculino). Como a pista tem 400 m, as linhas de largada e de chegada (exceto na prova de 10.000 m) são em posições diferentes. Os patinadores, como já foi dito, correm sempre dois a dois, mas, exceto na prova dos 500 m, cada patinador só completa a prova uma vez; no final, quem tiver completado a prova no menor tempo é o vencedor, independentemente de quando ou contra quem correu - se, logo na primeira corrida, um patinador obtiver um tempo fantástico, e nenhum dos demais conseguir superá-lo, ele será o vencedor, por isso, normalmente, os patinadores mais fortes correm por último, para que a prova tenha emoção até o final. O importante, portanto, é não somente vencer o oponente contra quem você está competindo, mas também estabelecer um tempo melhor do que os dos que patinaram antes e que os que vão patinar depois não conseguirão bater. Na prova dos 500 m, cada patinador completa a prova duas vezes, uma largando na raia de dentro, outra largando na raia de fora, e os dois tempos são somados para se determinar o vencedor; essa regra foi estabelecida porque, na prova dos 500 m, só há uma troca de raia, o que dá uma ligeira vantagem a quem larga na raia de dentro.

Apesar de ser a mais conhecida, a single distance não é a mais tradicional disciplina da patinação em velocidade. Esse título fica com a allround, disputada desde antes da criação da ISU. Na allround, o mesmo patinador compete em quatro distâncias (500 m, 1.500 m, 5.000 m e 10.000 m no masculino; 500 m, 1.000 m, 3.000 m e 5.000 m no feminino) e seus tempos são convertidos em pontos, que então são somados para se determinar o vencedor. O método de conversão em pontos é bastante curioso: cada segundo vale um ponto, mas tendo como base cada 500 metros, e não a distância total da prova. Assim, completar a prova de 500 m em 40 segundos vale 40 pontos, e completar a de 1.500 m em 2 minutos vale os mesmos 40 pontos (já que 1.500 = 500 x 3, e 2 minutos = 120 segundos = 40 x 3). Os pontos podem ter inúmeras casas decimais, não sendo arredondados. Como o objetivo é completar a prova no menor tempo, o vencedor é aquele que tiver menos pontos ao final da última prova, e não mais.

Outra disciplina bastante semelhante é o sprint. Nela, cada patinador completa duas provas de 500 metros e duas de 1.000 metros, uma de cada em cada um dos dois dias de competição. No segundo dia, o patinador larga da raia diferente daquela que largou no primeiro - ou seja, quem largou na raia de dentro no primeiro dia, no segundo larga na de fora. Mais uma vez, cada segundo vale um ponto tendo como base cada 500 metros, os pontos das quatro provas são somados, e quem tiver menos pontos é o vencedor.

Uma das disciplinas mais interessantes é a da perseguição por equipes, única que, como o nome diz, é disputada por equipes. Cada equipe é composta de três patinadores, mas, nas Olimpíadas de Inverno, cada equipe conta também com um quarto patinador, que pode substituir qualquer um dos outros três em uma prova específica. Nas Olimpíadas, essa prova segue um sistema de "mata-mata", com as equipes se enfrentando duas a duas, as perdedoras sendo eliminadas e as vencedoras avançando, até que só restem duas, que farão a final, ficando a vencedora com a medalha de ouro. Em outros torneios, o sistema é o mesmo das demais provas: as equipes se enfrentam duas a duas, mas cada equipe só corre uma prova, e aquela que tiver o melhor tempo é a vencedora. Nas Olimpíadas, vale uma regra semelhante à do ciclismo, segundo a qual se uma das equipes ultrapassar a outra, a que ultrapassou é imediatamente declarada vencedora, não precisando completar a prova; na prática, entretanto, isso é raríssimo de acontecer.

Na perseguição por equipes, as equipes não largam uma ao lado da outra, uma em cada raia, e sim ambas na raia de dentro, mas em lados opostos da pista. Uma prova do masculino é composta de oito voltas (3.200 metros), enquanto uma prova do feminino possui seis voltas (2.400 metros). Durante a prova, os patinadores patinam em fila indiana e se revezam na "liderança" a intervalos pré-determinados de tempo, com o primeiro passando para o final da fila e o seguinte assumindo seu lugar; isso é feito porque o primeiro, como está vencendo a resistência do ar, faz muito mais esforço para patinar que os outros dois. Caso um dos patinadores se desgarre (devido a uma queda, por exemplo), os outros dois seguem o revezamento normalmente. Uma volta só é considerada completa, porém, quando todos os três patinadores da equipe passarem por sua linha de chegada/largada; equipes que têm um patinador desgarrado muito atrás dos outros dois, portanto, levam uma grande desvantagem.

Finalmente, temos a maratona, que pode ser considerada a mais antiga das disciplinas, pois é descendente direta das provas que percorriam várias cidades na Holanda. De fato, até hoje, a maratona mais famosa é a Elfstedentocht (que, em holandês, significa "volta das onze cidades"), uma prova de 200 Km disputada desde 1909, em intervalos irregulares, cujo percurso passa por 11 cidades da Holanda, com largada e chegada em Leeuwarden. Atualmente, é muito rara a realização dessas maratonas ao ar livre, pois o gelo deve ter pelo menos 12 cm de espessura para que os patinadores possam deslizar propriamente - por isso a Elfstedentocht não é disputada em intervalos fixos (a cada quatro anos, por exemplo). Algumas cidades, porém, realizam anualmente provas de maratona em pistas de arenas ou ao ar livre, sendo a mais famosa a Skate the Lake, da cidade de Portland, no Canadá (que, evidentemente, não é a mesma Portland dos Estados Unidos). Essas "maratonas fechadas" possuem uma distância fixa de 40 Km (100 voltas), e, nelas, todos os patinadores largam ao mesmo tempo, não precisando respeitar as raias, e não dois a dois como nas demais provas.

Assim como a patinação artística, a patinação em velocidade faz parte do programa das Olimpíadas de Inverno desde a primeira edição do evento, em 1924. As provas dos 500 m, 1.500 m, 5.000 m e 10.000 m masculinas fazem parte do programa desde essa primeira edição, a dos 1.000 metros foi incluída em 1996, e a perseguição por equipes em 2006. No feminino, as provas dos 500 m, 1.000 m e 1.500 m apareceram como esporte de demonstração em 1932, entrando definitivamente para o programa em 1960, mesmo ano da estreia dos 3.000 m; os 5.000 m estrearam em 1988, e a perseguição por equipes em 2006. A edição de 1924 teve, ainda, uma prova masculina do allround.

A patinação em velocidade possui vários Mundiais diferentes - de fato, a única disciplina sem uma competição de nível mundial organizado pela ISU é a maratona. O mais antigo de todos é o Campeonato Mundial de Allround, realizado anualmente desde 1893 no masculino e desde 1936 no feminino (exceto durante a Primeira e a Segunda Guerras Mundiais); desde 1996, ambos são realizados juntos, na mesma sede e no mesmo período de tempo. Já o Campeonato Mundial de Sprint é realizado desde 1970 tanto no masculino quanto no feminino, e sempre teve a mesma sede e o mesmo período de tempo para ambas as modalidades.

Já a single distance e a perseguição individual possuem dois campeonatos: o Campeonato Mundial de Single Distance é realizado, tanto no masculino quanto no feminino, na mesma sede e período de tempo, anualmente desde 1996; embora tenha sido disputado em 1998, desde então se determinou que ele não o seria em ano de Olimpíadas de Inverno, ou seja, não foi disputado em 2002, 2006, 2010 nem 2014. As cinco provas de single distance são disputadas desde a primeira edição, enquanto a da perseguição por equipes entrou para o programa em 2005.

A outra competição da qual essas disciplinas fazem parte é a Copa do Mundo de Patinação em Velocidade, disputada anualmente, tanto no masculino quanto no feminino, desde 1985. A diferença da Copa do Mundo para o Mundial é que, enquanto o Mundial é uma única prova, disputada em uma única sede, a Copa do Mundo é composta por uma série de provas, disputadas ao longo do ano em sete etapas, cada uma em uma cidade-sede diferente. Pontos sao atribuídos de acordo com o desempenho de cada patinador em cada etapa, e, ao final da última, aquele com mais pontos em cada prova será declarado campeão daquela prova. As cinco provas de single distance são disputadas desde a primeira edição, e a perseguição por equipes desde 2004. Entre 2003 e 2008 também foi disputada uma curiosa prova de 100 m, e, desde 2011, é disputada uma "mini-maratona", de 20 voltas no masculino (8.000 metros) e 15 no feminino (6.000 metros), com todos os patinadores largando juntos como na maratona tradicional; por causa disso, a prova é conhecida como mass start ("largada em massa").

Finalmente, chegamos à patinação em velocidade em pista curta, que surgiu devido a uma combinação de dois fatores, ambos culpa dos Estados Unidos. Naquele país da América do Norte, as competições de patinação em velocidade usavam a largada em massa, ao invés de colocar os competidores dois a dois como na forma tradicional. Por conta disso, os patinadores norte-americanos frequentemente se viam em desvantagem ao participar de competições internacionais, pois não estavam acostumados a patinar pelo menor tempo possível mudando de raias, e sim a simplesmente patinar mais rápido que seus oponentes. Nas duas primeiras Olimpíadas de Inverno, portanto, o desempenho dos norte-americanos foi bem abaixo do esperado.

A terceira edição dos Jogos de Inverno, porém, seria realizada nos Estados Unidos, na cidade de Lake Placid. Com isso, a federação norte-americana conseguiu convencer a ISU a adotar a largada em massa nas provas daquela edição, o que produziu dois efeitos: quase todas as medalhas das provas foram para atletas dos Estados Unidos e do Canadá; e Noruega, Suécia, Finlândia e Japão registraram uma reclamação formal na ISU, protestando contra o uso da largada em massa e ameaçando boicotar as Olimpíadas seguintes caso esse formato fosse novamente adotado. Diante disso, a ISU começou a pesquisar uma solução que agradasse a todos.

Essa solução acabaria vindo também dos Estados Unidos: muitas competições de patinação em velocidade, por lá, ocorriam não em arenas de patinação em velocidade, mas em arenas de hóquei ou rinques de patinação artística. Após anos de experimentação, a ISU passaria a regular também esse formato de competição em 1967, com o nome de patinação em velocidade em pista curta. Como as regras e o formato da pista são diferentes, atletas da pista curta normalmente não competem na pista tradicional e vice-versa, o que acabou fazendo com que a ISU considerasse cada um dos formatos como um esporte diferente.

Os patinadores da pista curta também usam patins clap, mas, como a pista é menor, dão passadas mais curtas e velozes, apoiando a mão no gelo para auxiliar no equilíbrio das curvas. Nas Olimpíadas de Inverno e outros torneios internacionais sob a chancela da ISU é usado um rinque de patinação artística, com marcadores moveis no centro para delimitar uma pista de 125 metros de extensão por aproximadamente 5 metros de largura; nos Estados Unidos e Canadá, competições costumam ser realizadas, também, em arenas da NHL, nas quais a pista é um pouquinho mais curta. As provas são disputadas nas distâncias de 500 m, 1.000 m, 1.500 m e 3.000 m, tanto no masculino quanto no feminino. Dependendo do torneio, dentre quatro e seis patinadores participam da prova de cada vez; como costuma ter mais do que isso de inscritos, são disputadas eliminatórias, nas quais os melhores colocados vão avançando e os demais sendo eliminados até que só restem os que vão fazer a final. Como a pista é curta e estreita, toques entre os patinadores são comuns, e uma série de regras existem para impedir - ou penalizar - aqueles que tentarem prejudicar os demais para levar vantagem. Essas regras incluem a proibição de patinar fora da área delimitada (além dos marcadores móveis), empurrar ou puxar os adversários, e impedir uma ultrapassagem de forma perigosa. Mesmo com todas as regras e cuidados, quedas são bastante comuns.

Além das provas individuais, existem duas provas de revezamento, a masculina na distância de 5.000 metros, a feminina na de 3.000 metros. Cada equipe de revezamento é composta de quatro patinadores, sendo que três deles ficam no centro da pista, fora da área delimitada pelos marcadores móveis, enquanto o quarto compete. A cada volta, um desses atletas, de forma alternada, deve esperar na linha de chegada, e o que está patinando deverá tocar em sua mão para que ele comece a patinar - é permitido, também, dar um empurrão para que o colega ganhe mais velocidade após tocar na mão. Na prática, portanto, cada patinador dá uma volta e vai descansar, esperando sua vez.

A patinação em velocidade em pista curta fez sua estreia nas Olimpíadas de Inverno em 1988, quando todas as dez provas apareceram como esporte de demonstração. Na edição seguinte, 1992, o esporte entraria para o programa, com as provas de 1.000 m masculino, 500 m feminino e os dois revezamentos. Os 500 m masculino e os 1.000 m feminino estreariam em 1994, e as duas provas de 1.500 m em 2002. Os 3.000 m masculino e feminino ainda não estrearam nas Olimpíadas de Inverno.

Existe também o Campeonato Mundial de Patinação em Velocidade em Pista Curta, disputado anualmente desde 1976, tanto no masculino quanto no feminino, que possui um formato diferente: o mesmo atleta deve patinar em todas as quatro distâncias, sendo que apenas os oito melhores após a terceira prova participam da prova dos 3.000 m, conhecida como Super Final. Em cada prova, dependendo de seu tempo, os patinadores ganham pontos, que são somados para se determinar o Campeão e a Campeã Mundial. O Mundial também conta com as duas provas de revezamento, que não valem para o somatório de pontos.
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