Estudiosos estimam que os primeiros patins tenham surgido na Finlândia, por volta do ano 1.000 a.C. Na época, esses "patins" eram pouco mais que pedaços de ossos afiados, amarrados nas solas dos sapatos, com a ajuda dos quais caçadores podiam deslizar sobre o gelo. Conforme os finlandeses iam estebelecendo comércio com outros povos, o conhecimento dos patins chegaria a outros países, que inventariam sua própria versão do apetrecho.
Foram os holandeses, porém, que inventaram os patins como conhecemos hoje, e somente no século XIII. Na época, artesãos holandeses começaram a produzir lâminas de aço que já vinham com um suporte para serem encaixadas no solado das botas, e permitiam que seus usuários deslizassem com mais velocidade que com os patins tradicionais de osso, pedra ou metal existentes até então, amarrados nas botas com cordas. O formato das lâminas permitia também um maior controle sobre o deslizamento, facilitando freadas e curvas, por exemplo.
Quatro séculos depois, jovens nobres que costumavam organizar competições de trenó na cidade de Haia decidiriam organizar, também, competições de patinação no gelo. Essas competições envolviam tanto provas de corrida quanto de "dança no gelo", e faziam parte de grandes festivais, nos quais a população local e visitantes de outras cidades se uniam aos competidores, patinando no gelo apenas por diversão. Logo esses festivais chegariam a outras cidades, como Amsterdam e Leiden, muitas delas passando a organizar provas próprias que se tornariam bastante famosas - como uma corrida na qual os patinadores partiam da cidade de Zaandam, patinando pelos canais congelados, passando por Amsterdam e Naardem, até a chegada na cidade de Muden, em um percurso de pouco mais de 200 Km.
Nessa época, o Rei da Inglaterra, Jaime II, foi exilado na Holanda, e conheceu a patinação e suas competições. Ao retornar para seu país de origem, ele levou com ele o novo esporte, suas regras e equipamentos, e o introduziu à nobreza local. Como na Holanda, logo começariam a surgir grandes festivais, durante os quais a população também travava contato com a patinação, e, daí, aconteceria o mais comum no Reino Unido em se tratando de esportes: começariam a surgir os primeiros clubes de patinação, sendo o primeiro o Edinburgh Skating Club, fundado em 1740. Esses clubes eram focados principalmente na patinação artística, a preferida das classes mais abastadas do Reino Unido, com as corridas ficando ainda restritas à Holanda. O surgimento dos clubes, porém, ajudou na disseminação do esporte, já que estrangeiros, após visitarem os clubes, voltavam a seus países com a ideia de criar locais para a prática da patinação por lá também.
No final do século XIX, a grande quantidade de clubes de patinação artítica e provas de corrida de patinação espalhadas pela Europa evidenciavam a necessidade da criação de um órgão capaz de unificar as regras, até para permitir competições internacionais. Assim, em 1892, foi fundada, na cidade de Scheveningen, Holanda, a União Patinadora Internacional (ISU, da sigla em inglês), uma das mais antigas federações internacionais do mundo, criada da união de 12 federações nacionais europeias. Alegando diferenças entre as regras adotadas na Europa e as usadas por eles, os Estados Unidos se recusaram a se filiar à ISU, e, em 1907, fundaram sua própria federação internacional, a ISUA, da qual os únicos membros eram eles mesmos e o Canadá. Como, em 1927, a ISU já possuía mais de 20 membros, enquanto a ISUA só tinha os Estados Unidos - o Canadá decidiu sair da ISUA e se filiar à ISU em 1911 - a ISUA decidiu encerrar suas operações, e os norte-americanos finalmente entraram para a ISU. Hoje, a ISU conta com 69 membros dos cinco continentes, incluindo o Brasil, e é responsável pela regulação de quatro esportes: a patinação artística, a patinação sincronizada, a patinação em velocidade e a patinação em velocidade em pista curta - à primeira vista, a nomenclatura faz com que se questione se é mesmo necessária a divisão da patinação em velocidade em duas (tipo "dois esportes diferentes só porque em um deles a pista é menor?"), mas, como veremos, a divisão é necessária, pois as regras são completamente diferentes.
Mas falaremos disso mais tarde, pois vamos começar pela patinação artística. Como todo esporte que se preza, a patinação precisava de regras bem definidas, para que a competição entre os vários clubes fosse possível. O primeiro a escrever um conjunto de regras para a patinação artística foi o britânico Robert Jones, que, em 1772, publicou um livro no qual descrevia as várias figuras que um patinador deveria ser capaz de realizar enquanto no gelo. O criador da patinação artística como conhecemos hoje, porém, foi um norte-americano, Jackson Haines, que, em meados do século XIX, começou a introduzir movimentos de balé e de outras danças em suas apresentações - até então, as apresentações consistiam apenas no patinador desenhando figuras, como círculos e oitos, no gelo, uma após a outra (por isso, até hoje, os movimentos da patinação artística se chamam "figuras"); Haines foi o primeiro a fazer uma apresentação "dançada" - embora sem música - com movimentos como giros e piruetas, e fluida, com um movimento levando ao outro, ao invés de o patinador parar e recomeçar após cada figura como era o tradicional. Haines também inventaria os primeiros patins nos quais as botas já vinham com a lâmina presa à sola, o que permitia uma maior gama de movimentos sem a preocupação de o suporte se soltar, e criou um novo tipo de lâmina, mais curta e mais curva que as usadas até então.
Curiosamente, entretanto, o estilo de Haines era rejeitado nos Estados Unidos, onde os juízes consideravam mais importante que os patinadores dominassem a chamada "técnica inglesa" de desenhar figuras no gelo. Em 1864, então, ele decidiria se mudar para a Europa, onde tentaria ensinar sua técnica, batizada por ele mesmo de "técnica internacional". Ele abriria uma escola de patinação em Estocolmo, Suécia, e, em 1868, seria convidado para uma apresentação para a família real da Áustria, em Viena. Essa apresentação impressionaria a plateia, que não considerava ser possível um homem se mover com tanta graça e desenvoltura sobre o gelo. Haines seria convidado a ficar na Áustria, onde fundaria a Escola de Viena, que, finalmente, faria com que sua técnica passasse a ser adotada em toda a Europa, se tornando a oficial em todas as competições de patinação artística do continente desde então. Os Estados Unidos, porém, pareciam ter alguma espécie de birra contra ele, e continuariam usando a "técnica inglesa" - mesmo após ela já nem ser mais usada na Inglaterra - até bem depois da virada do século - o primeiro campeonato usando a "técnica internacional" em solo norte-americano seria realizado apenas em 1914, em New Haven, Connecticut, e ela só se tornaria o padrão nos campeonatos do país em meados da década de 1920. Infelizmente, Haines não viveria para ver sua técnica se tornar o padrão mundial; faleceria em 1875, na Finlândia, de tuberculose. Apenas no centenário de sua morte os norte-americanos reconheceriam sua importância para a patinação artística, e o incluiriam no Hall da Fama da modalidade.
Quando de sua fundação, combinando a ideia do livro de Jones com os movimentos introduzidos por Haines, a ISU criaria seu próprio "livro oficial de figuras", que conta com vários tipos de saltos, piruetas, giros e passos. Somente as figuras presentes nas regras da ISU são consideradas válidas - e, portanto, valem pontos - durante uma competição oficial de patinação artística. O patinador deve executá-las com perfeição, leveza e graciosidade, perdendo pontos em técnica ou na parte artística se não conseguir.
Durante uma competição, cada patinador tem direito a duas apresentações, uma chamada "programa curto" (com duração de dois minutos e meio) e uma chamada "programa livre" (de 4 minutos no feminino e 4 minutos e meio no masculino e nas duplas). Ambas são realizadas ao som de uma música escolhida pelo patinador que está se apresentando, mas o programa curto tem mais figuras obrigatórias, enquanto no programa livre o patinador pode apresentar mais figuras de sua própria escolha. Cada figura é avaliada primeiro por um especialista técnico, que irá determinar a precisão técnica com que ela foi executada - podendo se valer, inclusive, de um replay em câmera lenta para avaliar melhor a execução se desejar. A decisão do especialista técnico não vale pontos, e sim determina a pontuação base do patinador naquela apresentação. Um painel de 12 juízes, então, avaliará a qualidade da apresentação do patinador, podendo somar ou diminuir até 3 pontos da base determinada pelo especialista técnico. Desses 12 juízes, 9 são escolhidos aleatoriamente, então são descartadas a maior e a menor notas, e as outras sete são somadas e divididas por sete para se chegar à nota final do patinador. Esse método pode parecer complicado, mas foi criado para ser o mais justo possível, sem a possibilidade de um grupo de juízes mal-intencionados dar vantagem a um ou outro patinador. Essa avaliação é feita tanto no programa curto quanto no programa livre, e as notas finais de ambos os programas são somados para se determinar o vencedor.
A competição de patinação artística ocorre em uma arena chamada rinque. Originalmente, os rinques eram montados em lagos congelados, mas hoje são ginásios fechados, muitas vezes com o gelo sendo criado e mantido artificialmente. Segundo as normas da ISU, um rinque deve ter, no mínimo, 26 metros de largura por 56 de comprimento; na prática, entretanto, existem rinques de três medidas "oficiais": a chamada "medida olímpica", usada nas Olimpíadas de Inverno e no Campeonato Mundial, é a de 30 por 60 metros, e a preferida da ISU para qualquer competição organizada por ela. Nos Estados Unidos e Canadá, porém, os rinques costumam ter 26 por 61 metros, que é a medida de uma arena de hóquei no gelo da NHL, normalmente aproveitadas para eventos de patinação. Na Europa, por outro lado, os rinques costumam ter 30 por 64 metros, que era a medida preferencial dos patinadores antes de a ISU resolver padronizar. Pode parecer implicância, mas a medida do rinque é importante porque os patinadores devem usar toda a sua extensão durante sua apresentação; um rinque de 30 por 60 torna a visão dos juízes mais nítida, além de permitir movimentos mais velozes dos patinadores. A ISU também recomenda que o gelo esteja sempre na temperatura de -4oC, para permitir um deslize mais suave. Em intervalos pré-determinados durante as competições, uma máquina "dá um polimento" no gelo, para que ele esteja sempre liso e não influencie nas apresentações.
Os patins da patinação artística possuem uma única lâmina, no meio da bota, mas que possui um vão no meio, o que faz com que, na prática, sejam dois fios. Os patinadores devem sempre patinar apoiados em apenas um desses fios, perdendo pontos se ambos os fios tocarem o gelo. Esses pontos, assim como os perdidos no caso de quedas, são descontados da nota final do patinador, e não das notas individuais dos juízes. Outra característica dos patins é que eles têm, na frente, uma parte curva com "dentinhos", usada para maior firmeza nos saltos.
A patinação artística é disputada em quatro modalidades: simples masculina, simples feminina, duplas mistas e dança no gelo. Nas duplas mistas, elementos como sincronicidade, levantamentos (o homem erguendo a mulher e patinando com ela em seus braços) e lançamentos (o homem tira a mulher do chão e a "arremessa" para que ela pouse executando um novo movimento mais a frente) também são avaliados, sendo os levantamentos obrigatórios. A diferença da competição de dança no gelo para a de duplas mistas é que a dança no gelo é como se fosse uma dança mesmo: não são permitidos saltos nem lançamentos, as piruetas devem ser feitas sempre com um nos braços do outro, os levantamentos não podem ser feitos acima da altura do ombro, e há uma série de passos obrigatórios que devem ser cumpridos sincronizados com a música. O tempo na dança no gelo também tem uma "tolerância" de 10 segundos para mais ou para menos (ou seja, deve ter entre 4:20 e 4:40 no programa livre, por exemplo), com a dupla não sendo penalizada se terminar a apresentação dentro desse intervalo de tempo.
A patinação artística foi disputada em duas edições das Olimpíadas (não das Olimpíadas de Inverno, mas das Olimpíadas mesmo), em 1908 e 1920, nas modalidades simples masculina, simples feminina e duplas - na edição de 1908 foi disputada também uma prova de "figuras especiais" masculinas, na qual pontos eram atribuídos por desenhos elaborados no gelo, semelhante ao que ocorria na "técnica inglesa". Desde a criação das Olimpíadas de Inverno, em 1924, a patinação artística faz parte do programa, também com essas três modalidades. A dança no gelo seria incluída no programa em 1976, e, em 2014, seria incluída também uma competição por equipes, na qual cada país inscreveu um atleta do masculino, uma do feminino e duas duplas, sendo realizadas quatro apresentações, uma de cada modalidade, e os pontos somados para se determinar o país vencedor. É tradicional nas Olimpíadas de Inverno que, alguns dias após o término das competições da patinação artística, seja realizada uma "exibição de gala", na qual todos os patinadores exibem coreografias juntos, para relaxar após a competição e agradecer à presença do público com espetáculo.
Além das Olimpíadas de Inverno, a competição mais importante da patinação artística é o Campeonato Mundial, realizado anualmente desde 1896 (exceto durante a Primeira e a Segunda Guerras Mundiais e em 1961, quando foi cancelado após o avião que levava a equipe dos Estados Unidos cair, matando a todos), o que faz com que ele seja um dos mais antigos campeonatos do mundo ainda disputados. A competição de simples masculinas esteve presente em todas as edições, a de simples femininas desde 1906, a de duplas mistas desde 1908, e a dança no gelo desde 1952.
A segunda disciplina regulada pela ISU, a patinação sincronizada, é bem semelhante à patinação artística: também é disputada em um rinque, usa o mesmo tipo de patins, e suas competições são divididas em uma apresentação do programa curto e uma do programa longo, ambas sob o som de música, com o sistema de avaliação também sendo o mesmo. A diferença é que a patinação sincronizada é disputada por equipes. E cada equipe é composta de vinte patinadores.
A primeira equipe de patinação sincronizada do mundo foi formada por Richard Porter em Ann Arbor, Michigan, Estados Unidos, e era composta por estudantes da Universidade de Michigan, que se apresentavam durante os intervalos dos jogos de hóquei no gelo do time da universidade. Logo outras universidades começaram a imitá-las, e, nos anos 1970, houve um boom da modalidade, com várias equipes dos Estados Unidos e Canadá se enfrentando em campeonatos locais, e as primeiras equipes começando a surgir na Europa. A ISU assumiu a regulação em 1999, e, desde então, tenta difundir o esporte, embora ainda com pouco sucesso.
Como as competições são disputadas por equipes enormes, as figuras da patinação sincronizada são diferentes daquelas da patinação artística. A maioria envolve formações - "desenhos" que a equipe deve formar enquanto patina, como círculos, linhas e interseções que lembram as pétalas de uma flor ou uma roda girando. Durante a apresentação, grupos de patinadores podem se destacar e realizar saltos e piruetas, voltando para a formação de maneira fluida e sem quebrar a sincronicidade. Um dos movimentos mais impressionantes é a pirueta sincronizada, na qual toda a equipe gira uma pirueta ao mesmo tempo. São permitidos levantamentos, desde que fiquem abaixo da altura dos ombos, mas não lançamentos. Equipes de patinação sincronizada são mistas, sem número mínimo ou máximo de homens ou mulheres, mas, em nome da graça e elegância, é comum que as equipes sejam totalmente compostas por mulheres.
A principal competição da patinação sincronizada é o Campeonato Mundial - uma competição separada do Mundial de patinação artística - disputado anualmente desde 2000. A ISU tem planos para incluir a patinação sincronizada nas Olimpíadas de Inverno como parte do programa da patinação artística, mas quer resolver uma questão antes: atualmente, menos de um terço dos membros da ISU compete internacionalmente nesse esporte, sendo que quatro países - Suécia, Finlândia, Canadá e Estados Unidos - estão em nível bem superior aos demais - de fato, estes quatro países são os únicos que já ficaram entre os quatro primeiros do Mundial, com a Finlândia já tendo conquistado oito ouros, a Suécia seis, e o Canadá um. A ISU planeja primeiro popularizar o esporte e ter um nível de competição mais elevado antes de ter de lidar com a logística necessária para sua inclusão nos Jogos.
Passemos da arte às corridas, com a patinação em velocidade. As provas da patinação em velocidade são a evolução das corridas que começaram na Holanda, mas depois se espalharam pela Europa e para os Estados Unidos. Inicialmente, essas provas eram realizadas em grandes distâncias, indo de uma cidade à outra, mas, na Inglaterra, na região de Fens, os membros dos clubes locais começaram a disputá-la, em 1763, em um lago congelado, dando várias voltas até que se cumprisse uma distância pré-determinada. Essa ideia seria levada para Oslo, Noruega, para uma prova que começaria a ser disputada em 1863, e se tornaria tão famosa que atrairia, sempre que realizada, uma verdadeira multidão de espectadores. Como de costume, no início, cada prova usava um comprimento de pista diferente, mas a maioria tentava ficar próxima aos 400 metros, que era a mesma distância de uma pista de atletismo. Quando a ISU foi fundada, adotou essa pista de 400 metros como oficial. Hoje, até existem pistas de diferentes tamanhos - as menores com 200 metros, as maiores chegando a 1.400 - mas que não podem ser usadas em competições oficiais. No início, as pistas da patinação em velocidade eram construídas em lagos, e só podiam ser usadas durante o inverno; com o advento de modernas técnicas de refrigeração, elas passaram a ser construídas em arenas fechadas. Muitas pistas ao ar livre, artificiais ou naturais, porém, ainda são usadas, especialmente na Escandinávia.
Os patins da patinação em velocidade são bem diferentes tanto dos da patinação artística quanto daqueles usados para recreação: sua lâmina é bem mais longa, mais alta, possui apenas um fio, e é presa à bota apenas na parte da frente, ficando a parte de trás, do calcanhar, solta. Como a parte da frente possui uma espécie de dobradiça, isso faz com que a lâmina fique em contato com o gelo por mais tempo, pois a parte de trás ainda leva alguns momentos para deixar o gelo e encostar na bota depois que o patinador levanta o pé. Como a parte de trás faz um estalo cartacterístico quando encosta na bota, esse modelo ficou conhecido como clap. A invenção do clap, na década de 1980, aliado ao uso de modernas roupas aerodinâmicas, fez com que os patinadores conseguissem alcançar velocidades impressionantes: hoje, um patinador de ponta consegue atingir mais de 50 Km/h.
A pista da patinação em velocidade é semelhante à do atletismo: tem 400 metros de extensão, em formato oval, com duas curvas de raio entre 25 e 26 metros. Diferentemente do atletismo, porém, a pista da patinação em velocidade só possui duas raias, com entre 3 e 4 metros de largura cada. Isso porque uma das principais características desse esporte é que os atletas competem dois a dois, e não vários ao mesmo tempo na pista. Os atletas usam braçadeiras para identificar em qual raia eles largaram - vermelha para a raia de fora, branca para a raia de dentro - e, a cada volta completada, trocam de raia, para que cada um complete a mesma distância ao final da prova - já que, como a pista é oval, quem corre por dentro corre menos. Há uma marcação na pista no ponto onde os atletas têm de fazer a troca de raia, e, caso ambos cheguem nesse ponto juntos, a preferência é de quem está indo da raia de fora para a de dentro, devendo o outro reduzir a velocidade.
A ISU reconhece cinco disciplinas da patinação em velocidade. A mais simples é chamada apenas de single distance, ou "distância simples", e, nela, cada atleta dá voltas na pista até completar uma distância pré-determinada. As distâncias oficiais de competição, segundo a ISU, são 500 m, 1.000 m, 1.500 m, 5.000 m (todas essas tanto no masculino quanto no feminino), 3.000 m (apenas no feminino) e 10.000 m (apenas no masculino). Como a pista tem 400 m, as linhas de largada e de chegada (exceto na prova de 10.000 m) são em posições diferentes. Os patinadores, como já foi dito, correm sempre dois a dois, mas, exceto na prova dos 500 m, cada patinador só completa a prova uma vez; no final, quem tiver completado a prova no menor tempo é o vencedor, independentemente de quando ou contra quem correu - se, logo na primeira corrida, um patinador obtiver um tempo fantástico, e nenhum dos demais conseguir superá-lo, ele será o vencedor, por isso, normalmente, os patinadores mais fortes correm por último, para que a prova tenha emoção até o final. O importante, portanto, é não somente vencer o oponente contra quem você está competindo, mas também estabelecer um tempo melhor do que os dos que patinaram antes e que os que vão patinar depois não conseguirão bater. Na prova dos 500 m, cada patinador completa a prova duas vezes, uma largando na raia de dentro, outra largando na raia de fora, e os dois tempos são somados para se determinar o vencedor; essa regra foi estabelecida porque, na prova dos 500 m, só há uma troca de raia, o que dá uma ligeira vantagem a quem larga na raia de dentro.
Apesar de ser a mais conhecida, a single distance não é a mais tradicional disciplina da patinação em velocidade. Esse título fica com a allround, disputada desde antes da criação da ISU. Na allround, o mesmo patinador compete em quatro distâncias (500 m, 1.500 m, 5.000 m e 10.000 m no masculino; 500 m, 1.000 m, 3.000 m e 5.000 m no feminino) e seus tempos são convertidos em pontos, que então são somados para se determinar o vencedor. O método de conversão em pontos é bastante curioso: cada segundo vale um ponto, mas tendo como base cada 500 metros, e não a distância total da prova. Assim, completar a prova de 500 m em 40 segundos vale 40 pontos, e completar a de 1.500 m em 2 minutos vale os mesmos 40 pontos (já que 1.500 = 500 x 3, e 2 minutos = 120 segundos = 40 x 3). Os pontos podem ter inúmeras casas decimais, não sendo arredondados. Como o objetivo é completar a prova no menor tempo, o vencedor é aquele que tiver menos pontos ao final da última prova, e não mais.
Outra disciplina bastante semelhante é o sprint. Nela, cada patinador completa duas provas de 500 metros e duas de 1.000 metros, uma de cada em cada um dos dois dias de competição. No segundo dia, o patinador larga da raia diferente daquela que largou no primeiro - ou seja, quem largou na raia de dentro no primeiro dia, no segundo larga na de fora. Mais uma vez, cada segundo vale um ponto tendo como base cada 500 metros, os pontos das quatro provas são somados, e quem tiver menos pontos é o vencedor.
Uma das disciplinas mais interessantes é a da perseguição por equipes, única que, como o nome diz, é disputada por equipes. Cada equipe é composta de três patinadores, mas, nas Olimpíadas de Inverno, cada equipe conta também com um quarto patinador, que pode substituir qualquer um dos outros três em uma prova específica. Nas Olimpíadas, essa prova segue um sistema de "mata-mata", com as equipes se enfrentando duas a duas, as perdedoras sendo eliminadas e as vencedoras avançando, até que só restem duas, que farão a final, ficando a vencedora com a medalha de ouro. Em outros torneios, o sistema é o mesmo das demais provas: as equipes se enfrentam duas a duas, mas cada equipe só corre uma prova, e aquela que tiver o melhor tempo é a vencedora. Nas Olimpíadas, vale uma regra semelhante à do ciclismo, segundo a qual se uma das equipes ultrapassar a outra, a que ultrapassou é imediatamente declarada vencedora, não precisando completar a prova; na prática, entretanto, isso é raríssimo de acontecer.
Na perseguição por equipes, as equipes não largam uma ao lado da outra, uma em cada raia, e sim ambas na raia de dentro, mas em lados opostos da pista. Uma prova do masculino é composta de oito voltas (3.200 metros), enquanto uma prova do feminino possui seis voltas (2.400 metros). Durante a prova, os patinadores patinam em fila indiana e se revezam na "liderança" a intervalos pré-determinados de tempo, com o primeiro passando para o final da fila e o seguinte assumindo seu lugar; isso é feito porque o primeiro, como está vencendo a resistência do ar, faz muito mais esforço para patinar que os outros dois. Caso um dos patinadores se desgarre (devido a uma queda, por exemplo), os outros dois seguem o revezamento normalmente. Uma volta só é considerada completa, porém, quando todos os três patinadores da equipe passarem por sua linha de chegada/largada; equipes que têm um patinador desgarrado muito atrás dos outros dois, portanto, levam uma grande desvantagem.
Finalmente, temos a maratona, que pode ser considerada a mais antiga das disciplinas, pois é descendente direta das provas que percorriam várias cidades na Holanda. De fato, até hoje, a maratona mais famosa é a Elfstedentocht (que, em holandês, significa "volta das onze cidades"), uma prova de 200 Km disputada desde 1909, em intervalos irregulares, cujo percurso passa por 11 cidades da Holanda, com largada e chegada em Leeuwarden. Atualmente, é muito rara a realização dessas maratonas ao ar livre, pois o gelo deve ter pelo menos 12 cm de espessura para que os patinadores possam deslizar propriamente - por isso a Elfstedentocht não é disputada em intervalos fixos (a cada quatro anos, por exemplo). Algumas cidades, porém, realizam anualmente provas de maratona em pistas de arenas ou ao ar livre, sendo a mais famosa a Skate the Lake, da cidade de Portland, no Canadá (que, evidentemente, não é a mesma Portland dos Estados Unidos). Essas "maratonas fechadas" possuem uma distância fixa de 40 Km (100 voltas), e, nelas, todos os patinadores largam ao mesmo tempo, não precisando respeitar as raias, e não dois a dois como nas demais provas.
Assim como a patinação artística, a patinação em velocidade faz parte do programa das Olimpíadas de Inverno desde a primeira edição do evento, em 1924. As provas dos 500 m, 1.500 m, 5.000 m e 10.000 m masculinas fazem parte do programa desde essa primeira edição, a dos 1.000 metros foi incluída em 1996, e a perseguição por equipes em 2006. No feminino, as provas dos 500 m, 1.000 m e 1.500 m apareceram como esporte de demonstração em 1932, entrando definitivamente para o programa em 1960, mesmo ano da estreia dos 3.000 m; os 5.000 m estrearam em 1988, e a perseguição por equipes em 2006. A edição de 1924 teve, ainda, uma prova masculina do allround.
A patinação em velocidade possui vários Mundiais diferentes - de fato, a única disciplina sem uma competição de nível mundial organizado pela ISU é a maratona. O mais antigo de todos é o Campeonato Mundial de Allround, realizado anualmente desde 1893 no masculino e desde 1936 no feminino (exceto durante a Primeira e a Segunda Guerras Mundiais); desde 1996, ambos são realizados juntos, na mesma sede e no mesmo período de tempo. Já o Campeonato Mundial de Sprint é realizado desde 1970 tanto no masculino quanto no feminino, e sempre teve a mesma sede e o mesmo período de tempo para ambas as modalidades.
Já a single distance e a perseguição individual possuem dois campeonatos: o Campeonato Mundial de Single Distance é realizado, tanto no masculino quanto no feminino, na mesma sede e período de tempo, anualmente desde 1996; embora tenha sido disputado em 1998, desde então se determinou que ele não o seria em ano de Olimpíadas de Inverno, ou seja, não foi disputado em 2002, 2006, 2010 nem 2014. As cinco provas de single distance são disputadas desde a primeira edição, enquanto a da perseguição por equipes entrou para o programa em 2005.
A outra competição da qual essas disciplinas fazem parte é a Copa do Mundo de Patinação em Velocidade, disputada anualmente, tanto no masculino quanto no feminino, desde 1985. A diferença da Copa do Mundo para o Mundial é que, enquanto o Mundial é uma única prova, disputada em uma única sede, a Copa do Mundo é composta por uma série de provas, disputadas ao longo do ano em sete etapas, cada uma em uma cidade-sede diferente. Pontos sao atribuídos de acordo com o desempenho de cada patinador em cada etapa, e, ao final da última, aquele com mais pontos em cada prova será declarado campeão daquela prova. As cinco provas de single distance são disputadas desde a primeira edição, e a perseguição por equipes desde 2004. Entre 2003 e 2008 também foi disputada uma curiosa prova de 100 m, e, desde 2011, é disputada uma "mini-maratona", de 20 voltas no masculino (8.000 metros) e 15 no feminino (6.000 metros), com todos os patinadores largando juntos como na maratona tradicional; por causa disso, a prova é conhecida como mass start ("largada em massa").
Finalmente, chegamos à patinação em velocidade em pista curta, que surgiu devido a uma combinação de dois fatores, ambos culpa dos Estados Unidos. Naquele país da América do Norte, as competições de patinação em velocidade usavam a largada em massa, ao invés de colocar os competidores dois a dois como na forma tradicional. Por conta disso, os patinadores norte-americanos frequentemente se viam em desvantagem ao participar de competições internacionais, pois não estavam acostumados a patinar pelo menor tempo possível mudando de raias, e sim a simplesmente patinar mais rápido que seus oponentes. Nas duas primeiras Olimpíadas de Inverno, portanto, o desempenho dos norte-americanos foi bem abaixo do esperado.
A terceira edição dos Jogos de Inverno, porém, seria realizada nos Estados Unidos, na cidade de Lake Placid. Com isso, a federação norte-americana conseguiu convencer a ISU a adotar a largada em massa nas provas daquela edição, o que produziu dois efeitos: quase todas as medalhas das provas foram para atletas dos Estados Unidos e do Canadá; e Noruega, Suécia, Finlândia e Japão registraram uma reclamação formal na ISU, protestando contra o uso da largada em massa e ameaçando boicotar as Olimpíadas seguintes caso esse formato fosse novamente adotado. Diante disso, a ISU começou a pesquisar uma solução que agradasse a todos.
Essa solução acabaria vindo também dos Estados Unidos: muitas competições de patinação em velocidade, por lá, ocorriam não em arenas de patinação em velocidade, mas em arenas de hóquei ou rinques de patinação artística. Após anos de experimentação, a ISU passaria a regular também esse formato de competição em 1967, com o nome de patinação em velocidade em pista curta. Como as regras e o formato da pista são diferentes, atletas da pista curta normalmente não competem na pista tradicional e vice-versa, o que acabou fazendo com que a ISU considerasse cada um dos formatos como um esporte diferente.
Os patinadores da pista curta também usam patins clap, mas, como a pista é menor, dão passadas mais curtas e velozes, apoiando a mão no gelo para auxiliar no equilíbrio das curvas. Nas Olimpíadas de Inverno e outros torneios internacionais sob a chancela da ISU é usado um rinque de patinação artística, com marcadores moveis no centro para delimitar uma pista de 125 metros de extensão por aproximadamente 5 metros de largura; nos Estados Unidos e Canadá, competições costumam ser realizadas, também, em arenas da NHL, nas quais a pista é um pouquinho mais curta. As provas são disputadas nas distâncias de 500 m, 1.000 m, 1.500 m e 3.000 m, tanto no masculino quanto no feminino. Dependendo do torneio, dentre quatro e seis patinadores participam da prova de cada vez; como costuma ter mais do que isso de inscritos, são disputadas eliminatórias, nas quais os melhores colocados vão avançando e os demais sendo eliminados até que só restem os que vão fazer a final. Como a pista é curta e estreita, toques entre os patinadores são comuns, e uma série de regras existem para impedir - ou penalizar - aqueles que tentarem prejudicar os demais para levar vantagem. Essas regras incluem a proibição de patinar fora da área delimitada (além dos marcadores móveis), empurrar ou puxar os adversários, e impedir uma ultrapassagem de forma perigosa. Mesmo com todas as regras e cuidados, quedas são bastante comuns.
Além das provas individuais, existem duas provas de revezamento, a masculina na distância de 5.000 metros, a feminina na de 3.000 metros. Cada equipe de revezamento é composta de quatro patinadores, sendo que três deles ficam no centro da pista, fora da área delimitada pelos marcadores móveis, enquanto o quarto compete. A cada volta, um desses atletas, de forma alternada, deve esperar na linha de chegada, e o que está patinando deverá tocar em sua mão para que ele comece a patinar - é permitido, também, dar um empurrão para que o colega ganhe mais velocidade após tocar na mão. Na prática, portanto, cada patinador dá uma volta e vai descansar, esperando sua vez.
A patinação em velocidade em pista curta fez sua estreia nas Olimpíadas de Inverno em 1988, quando todas as dez provas apareceram como esporte de demonstração. Na edição seguinte, 1992, o esporte entraria para o programa, com as provas de 1.000 m masculino, 500 m feminino e os dois revezamentos. Os 500 m masculino e os 1.000 m feminino estreariam em 1994, e as duas provas de 1.500 m em 2002. Os 3.000 m masculino e feminino ainda não estrearam nas Olimpíadas de Inverno.
Existe também o Campeonato Mundial de Patinação em Velocidade em Pista Curta, disputado anualmente desde 1976, tanto no masculino quanto no feminino, que possui um formato diferente: o mesmo atleta deve patinar em todas as quatro distâncias, sendo que apenas os oito melhores após a terceira prova participam da prova dos 3.000 m, conhecida como Super Final. Em cada prova, dependendo de seu tempo, os patinadores ganham pontos, que são somados para se determinar o Campeão e a Campeã Mundial. O Mundial também conta com as duas provas de revezamento, que não valem para o somatório de pontos.
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