domingo, 5 de março de 2023

Escrito por em 5.3.23 com 0 comentários

Garbage (II)

Ontem, o átomo completou 20 anos. Durante algum tempo, eu pensei em fazer algo especial para marcar a data. Primeiro, pensei em coincidir o post 1000 com ela, mas eu teria que pular muitos domingos para que isso acontecesse, e desisti. Depois, pensei em fazer um "mês dos vinte anos", com retrospectivas, textos de leitores, talvez um conto inédito, mas acabei desistindo disso também. Minha ideia mais recente era pegar 20 posts dos antigos e reescrever, como eu já havia feito com os da Tori Amos, do Tick e de Record of Lodoss War. Até comecei a colocar essa ideia em prática, mas, por motivos pessoais que não convém explicar aqui, só consegui escrever um. Diante disso, acabei concluindo que vinte anos no ar não é um evento tão simbólico quanto os mil posts, e decidi que não vou fazer nada.

Ou quase, pois, como eu disse, já tinha reescrito um dos posts - o que fala sobre a banda Garbage. Como ele já estava pronto mesmo, vou publicá-lo hoje. Pra quem não sabe, eu tenho uma certa implicância com meus primeiros posts, por achar que eles não são tão bons quanto os mais recentes, e um sonho antigo que tenho e sei que jamais vou realizar é o de reescrever todos eles - talvez um dia, se eu achar que os assuntos novos acabaram, eu comece pra valer. Por enquanto, esse é apenas o quarto do estilo, e servirá como comemoração dos vinte anos de átomo - lembrando que, se alguma coisa desse post conflitar com o original, lá de 2003, o que vale é o que está aqui, já que agora eu tenho mais fontes e elas são mais confiáveis. Sem mais lero-lero, hoje, mais uma vez, é dia de Garbage no átomo!


A história do Garbage começa em 1974, na cidade de Madison, Wisconsin, Estados Unidos, quando três colegas de faculdade, o tecladista Duke Erikson, o guitarrista Bob Olsen e o baixista Dave Benton, decidiriam formar um trio acústico chamado Spooner. Um ano depois, Benton decidiria sair, e seria substituído pelo baterista Butch Vig. A banda se tornaria extremamente popular na cena local, mas passaria anos sem conseguir um contrato com uma gravadora para lançar um álbum. Cansados de esperar, Erikson e Vig decidiriam financiar a gravação eles mesmos, e, em 1979, fundariam a gravadora Spooner Boat Records, pela qual o Spooner lançaria dois álbuns, em 1982 e 1984. Vendo que havia muitas bandas do Wisconsin na mesma situação que eles, eles decidiriam abrir a gravadora para quaisquer bandas que quisessem lançar álbuns por ela, e acabariam sendo responsáveis pelos álbuns de estreia de vinte outras bandas. Isso faria com que o Spooner se tornasse notícia, e com que a banda fosse convidada para tocar nos estados vizinhos, e até mesmo em Chicago e Nova Iorque. Animado com o trabalho que fazia, Vig decidiria estudar sobre produção musical, se tornando cada vez mais um produtor que, nas horas vagas, tinha uma banda.

Em 1982, Erikson, Vig e um outro colega de faculdade, o engenheiro de som Steve Marker, decidiriam montar seu próprio estúdio, o Smart Studios, para que a Spooner Boat não precisasse mais alugar estúdios para gravar seus álbuns. Após um início promissor, entretanto, o mercado da música do meio-oeste começaria a entrar em declínio, e a Spooner Boat só conseguiria contratos para lançar álbuns de bandas punk locais. Para complementar sua renda, Vig tinha de trabalhar como taxista, enquanto Erikson arrumou emprego em uma empresa de entregas. Sem querer desistir, Vig fundaria uma nova banda, chamada First Person, na qual também estavam Marker, Phil Davis e Tom LaVarda. Erikson começaria a escrever letras para a First Person, que logo mudaria de nome para Fire Town. Esse projeto não seria bem sucedido, contudo, e eles decidiriam reunir novamente o Spooner, que lançaria seu terceiro e último álbum em 1990. Depois disso, Vig, Erikson e Marker decidiriam ser músicos apenas por hobby, e se dedicar integralmente à carreira de produtores.

A cena do rock estava mudando rapidamente no início dos anos 1990, e os três se aproveitaram disso para obter grande sucesso como produtores - seriam produzidos por eles, dentre outros, os álbuns Nevermind, do Nirvana, Siamese Dream, dos Smashing Pumpkins, e Dirt, do Sonic Youth, além de os Smart Studios serem usados para gravar álbuns do U2, Depeche Mode, Nine Inch Nails e House of Pain. Vig achava que os álbuns da época eram muito longos e monótonos, e, para descontrair, ele, Erikson e Marker, no fim do dia, assumiam seus instrumentos - bateria, guitarra e baixo, respectivamente - e brincavam de fazer novos arranjos para as músicas das bandas cujos álbuns estavam produzindo. Um dia, em 1993, enquanto produziam um álbum do Nine Inch Nails, eles decidiram usam essa sessão para criar os sons mais sujos e barulhentos que conseguissem. Achando que poderiam fazer algo de bom com aquilo, Vig sugeriu que, já que tinham um estúdio mesmo, os três montassem uma banda.

Inicialmente, a banda seria composta apenas pelos três, mas, cansado de produzir bandas das quais todos os integrantes eram homens, e fã de Debbie Harry, Patti Smith, Chrissie Hynde e Siouxsie Sioux, todas elas, segundo ele, mulheres de personalidade forte e verdadeiras líderes de suas bandas, Vig sugeriu que eles tentassem encontrar uma vocalista feminina para o projeto. A banda queria uma cantora de voz grave, e não aguda como estava na moda na época, e que conseguisse cantar rock sem gritar, o que também estava na moda na época. Após muita procura, em 1994 Vig encontraria a vocalista ideal por acaso, ao assistir ao clipe de Suffocate Me, da banda Angelfish, no programa 120 Minutes, da Mtv: a escocesa Shirley Manson.

Nascida em 26 de agosto de 1966 em Edimburgo, Shirley Ann Manson era filha de um professor universitário com a ex-vocalista de uma big band, e a segunda de três moças, tendo uma irmã mais velha e uma mais nova. Desde criança ela se interessou por música, fazendo aulas de balé e piano desde os sete anos, e de flauta, clarinete e violino posteriormente. Aluna da City of Edinburgh Music School, ela também seria atriz de teatro e cantaria em um coral, mas, na adolescência, todo esse talento quase viria a se perder: vítima constante de bullying, ela se tornaria adepta da automutilação, carregando escondidos consigo vários objetos cortantes que usava para cortar a si mesma sempre que tivesse crises de estresse ou ansiedade. Por volta dos 17 anos, ela entraria para uma gangue, mataria quase a totalidade das aulas de seu último ano escolar, e passaria a beber grandes quantidades de bebidas alcóolicas, fumar maconha, cheirar cola, e cometer pequenos roubos e atos de vandalismo - ela e seus amigos chegariam a invadir o zoológico de Edimburgo para "libertar os animais".

Manson caiu em si quando sua inscrição para a Royal Scottish Academy of Music and Drama, o sonho de sua vida, foi rejeitada. Ela deixaria a gangue e as drogas, decidiria ser voluntária em um hospital próximo à sua casa, arrumaria emprego como garçonete no restaurante de um hotel, e passaria cinco anos trabalhando na loja de modas Miss Selfridge - inicialmente no balcão de maquiagem, mas depois no estoque, porque era muito grossa com as clientes. Na loja, ela aprenderia a fazer maquiagem e cabelos, e receberia muitas amostras grátis de produtos, que decidiria usar em membros de várias bandas da cena noturna de Edimburgo, se tornando conhecida na maioria dos clubes noturnos da cidade.

Esse networking faria com que ela fosse convidada para ser backing vocal de duas bandas locais, a The Wild Indians e a Autumn 1904. Em 1984, ela seria abordada por Martin Metcalfe, vocalista da banda Goodbye Mr. Mackenzie, que a convidaria para ser sua tecladista e backing vocal. Manson e Metcalfe namorariam cerca de um ano, e ela decidiria continuar na banda mesmo após os dois terminarem, se tornando um dos membros mais ativos, considerada essencial para que eles conseguissem lançar seu primeiro álbum, em 1987, pela gravadora Capitol, subsidiária da EMI. O álbum não faria muito sucesso, e a EMI os transferiria para o selo Parlophone, pelo qual eles chegariam a lançar dois singles, mas, quando o segundo álbum já estava todo gravado, a EMI decidiria romper seu contrato, o que faria com que seu empresário, Gary Kurfist, decidisse lançá-lo por seu próprio selo, Radiocative Records, ligado à gravadora MCA.

O plano de Kurfist era que, se esse segundo álbum fizesse sucesso, a MCA contratasse a banda para um terceiro. Infelizmente o segundo álbum teve um desempenho ainda pior do que o primeiro, mas Kurfist não se abalou: já tendo trabalhado com Debbie Harry, do Blondie, ele sugeriria que Manson deveria ser a vocalista principal, e ela chegaria a gravar algumas canções para apresentar à MCA para ver se eles mudavam de ideia. A gravadora diria não ter interesse em contratar a banda, mas que, se ela estivesse interessada, lançaria um álbum solo de Manson, com Kurfist costurando um acordo para que os demais membros da Goodbye Mr. Mackenzie fossem sua banda, ao invés de contratar músicos novos. Manson aceitou, com a condição de que o álbum não fosse lançado como sendo de Shirley Manson, mas sim da banda Angelfish, nome que ela mesma criaria.

Ao todo, o Angelfish lançaria dois singles, um EP e um álbum, também chamado Angelfish (que eu consegui comprar de segunda mão e adoro), e faria muito mais sucesso que a Goodbye Mr. Mackenzie, com o álbum, lançado em 1994, tendo boas vendas, e a banda fazendo uma turnê que passou por Bélgica, França, Canadá e Estados Unidos. A banda só gravaria um único clipe, o de Suffocate Me, que só passaria na Mtv uma única vez - justamente aquela em que Butch Vig estava assistindo. Vig praticamente obrigou sua empresária, Shannon O'Shea, a descobrir quem era aquela moça e entrar em contato com ela; quando Manson recebeu o telefonema, achou que fosse trote, e disse que não fazia a menor ideia de quem era Butch Vig, com O'Shea pedindo para ela encontrar uma cópia de Nevermind e ler os créditos.

Manson, Vig, Erikson e Marker se encontrariam pela primeira vez em Londres, em 8 de abril de 1994 - mesmo dia do suicídio de Kurt Cobain, do qual Vig só ficaria sabendo à noite. Ela aceitaria fazer um teste para entrar na banda, mas apenas quando a turnê do Angelfish acabasse - mais tarde, em entrevistas, ela diria estar super nervosa, e ainda achando que a história toda podia ser um conto do vigário; curiosamente, eles diriam também estar super nervosos, por não fazer ideia de como se contratava uma vocalista para uma banda. Vig, Erikson e Marker decidiriam assistir ao show do Angelfish em Chicago, e convidariam Manson para fazer o teste após a apresentação. Ela não se sairia bem no teste, mas sua atitude conquistaria o trio, que dizia estar procurando "alguém que eles não conseguissem manipular". Ao final da turnê, Manson pediria para sair do Angelfish e entraria em contato com O'Shea, para marcar um segundo teste, no qual ela seria aprovada e contratada. Após sua saída, a banda voltaria a se chamar Goodbye Mr. Mackenzie, e seguiria na ativa até 1996, lançando mais dois álbuns.

A banda de Erikson, Marker e Vig já tinha uma vocalista, faltava um nome. A história oficial de por que a banda se chama garbage, uma das palavras em inglês para "lixo" (com o caminhão do lixo sendo o garbage truck), é a de que um amigo de Vig, do qual ele nunca disse o nome, estava visitando o estúdio durante as gravações, e, ao ouvir a primeira versão da música Vow, comentou "this sounds like garbage" (algo como "esse som é um lixo"), ao que Vig respondeu que eles ainda iriam fazer muito sucesso com esse lixo. Há uma outra versão, porém: em 1993, Vig teria escrito em seu diário comentários sobre o processo criativo da banda, com a última linha sendo "espero que todo esse lixo resulte em algo bonito", e servindo de inspiração para a banda quando fossem criar o nome. Seja qual for a versão oficial, todos concordaram que Garbage era um bom nome para uma banda.

Com uma vocalista e um nome, faltava um álbum, cuja produção foi veloz, graças ao fato de que os três músicos já estavam mais que acostumados a produzir, e já estavam trabalhando nas canções antes de contratar a vocalista. Manson, que até então jamais havia escrito uma letra de música, ajudaria os outros três a completar várias letras nas quais eles achavam ter chegado a um beco sem saída, e a reescrever outras que ela não achava boas. Todas as gravações seriam feitas nos Smart Studios, mas, como eles não tinham mais uma gravadora, decidiriam enviar demos do Garbage para várias delas - sempre sem qualquer identificação, para evitar que eles fossem contratados apenas por serem quem são. A primeira gravadora que os respondeu foi a Mushroom, que poderia lançar o álbum no mundo todo, exceto nos Estados Unidos. Trabalhando com isso, eles lançaram o single de Vow, a música que, segundo eles, estava "mais completa", que foi um gigantesco sucesso nas rádios, e fez com que eles conseguissem um contrato com a Almo Sounds para lançamento nos Estados Unidos. Curiosamente, por causa do Angelfish, Manson ainda tinha contrato com a Radioactive Records, e teve de ser "cedida" para a Mushroom e a Almo, sem poder receber contratualmente nenhum dinheiro das vendas do álbum do Garbage.

O primeiro álbum do Garbage, também chamado Garbage (mas apelidado G, já que tem um G enorme na capa), seria lançado em 15 de agosto de 1995. A banda não planejava incluir Vow no álbum, mas a música faria um enorme sucesso também nos Estados Unidos, entrando para o Top 100 da Billboard, e acabaria tomando o lugar de outra, Subhuman, que, devido a uma cláusula do contrato com a Mushroom, seria lançada como single na Europa. Além de Vow, as músicas de trabalho foram, na ordem de lançamento, Only Happy When It Rains, Queer, Stupid Girl e Milk - cujo single contaria com um remix feito pelo rapper Tricky. Outra música que acabaria não entrando para o álbum, #1 Crush, seria lançada como single nos Estados Unidos após ser incluída na trilha sonora de Romeu + Julieta, com Leonardo di Caprio e Claire Danes; um remix dessa música seria o tema de abertura da série britânica Hex.

O álbum seria um grande sucesso, entrando para o Top 200 da Billboard nos Estados Unidos e chegando à 12a posição na lista dos mais vendidos do Reino Unido, rendendo um disco de platina duplo em cada um desses países. Os clipes do Garbage também fariam grande sucesso, e acabariam sendo lançados em uma fita VHS, oficialmente chamada Garbage Video, em novembro de 1996. A turnê de lançamento do álbum, chamada Garbage Tour (temos um padrão aqui), duraria de novembro de 1995 a dezembro de 1996, e incluiria 88 shows do Garbage, 50 shows nos quais o Garbage abria para o Smashing Pumpkins (como parte da turnê do álbum Mellon Collie and the Infinite Sadness), e mais 36 shows que faziam parte de festivais, para um total de 174 apresentações, número absurdo para uma primeira turnê de uma banda, passando por Estados Unidos, Canadá, México, Reino Unido, Holanda, Alemanha, Dinamarca, Bélgica, França, Luxemburgo, Espanha, Noruega, Suécia, Cingapura, Hong Kong, Japão, Austrália e Nova Zelândia.

O Garbage seria indicado ao BRIT Awards, maior prêmio da indústria fonográfica britânica, de Melhor Banda Nova e de Revelação Internacional, e ao Grammy de Melhor Artista Novo, com Stupid Girl sendo indicada aos Grammys de Melhor Canção de Rock e Melhor Performance de Rock por uma Dupla ou Grupo - infelizmente, não ganharia nenhum desses prêmios. A pressão para repetir o sucesso do primeiro álbum no segundo, porém, era imensa, e eles decidiriam não perder tempo, se mudando para um chalé na cidade de Friday Harbor, no estado de Washington, pouco após o final da turnê, para já começar a trabalhar no álbum seguinte. Eles decidiriam não mudar o estilo, fazendo um álbum parecido com o primeiro, mas mais sofisticado, "levando seu som até os limites" - e, por isso, escolheriam o nome Version 2.0.

A produção de Version 2.0 levou quase um ano, devido ao perfeccionismo dos músicos, que gravavam, regravavam, gravavam novamente, e, quando achavam que estava bom, voltavam para o estúdio para gravar mais um pouco. Ele acabaria lançado em maio de 1998, mesmo mês no qual a banda sairia em sua segunda turnê, que consistiria de 219 shows, durando até o final de 1999, e levaria o Garbage pela primeira vez a Portugal, Finlândia, Áustria, Suíça, Itália, Irlanda, Islândia, Rússia, República Tcheca, Polônia, Grécia, Turquia, África do Sul e Israel. O álbum teria seis músicas de trabalho: Push It (cujo clipe receberia oito indicações no Mtv Video Music Awards), I Think I'm Paranoid, Special (com um clipe cheio de efeitos especiais), When I Grow Up, The Trick Is to Keep Breathing e You Look So Fine. Version 2.0 também entraria mais uma vez para o Top 200 da Billboard, renderia mais um Disco de Platina nos Estados Unidos e dois no Reino Unido, e daria ao Garbage mais quatro indicações ao Grammy, de Álbum do Ano, Melhor Álbum de Rock, Melhor Canção de Rock e Melhor Performance de Rock por uma Dupla ou Grupo - essas duas últimas por Special.

Na crista da onda, em agosto de 1999 o Garbage seria convidado para se juntar ao seleto grupo de artistas que gravaram músicas para as aberturas dos filmes de James Bond, interpretando The World is Not Enough, composta por David Arnold e Don Black, para a trilha de 007: O Mundo Não é o Bastante. A banda ficaria empolgadíssima com o convite, com Vig declarando que um de seus sonhos sempre foi gravar uma música para uma trilha sonora do 007, e Manson se dizendo fã dos filmes do personagem desde criança, principalmente por ser escocesa como Sean Connery - Arnold faria o convite diretamente a Manson, e diria nunca ter ouvido ninguém gritar tanto pelo telefone. Mais uma vez com um clipe cheio de efeitos especiais, dirigido pelo alemão Philipp Stölzl, praticamente um mini-filme de espionagem, e elogiadíssimo inclusive por publicações dedicadas a cinema, The World is Not Enough foi lançada em single pela Radioactive Records, e, através de um acordo especial, pôde ser incluída na coletânea do Garbage, Absolute Garbage, lançada em 2007.

Após tirar um ano sabático para descansar, a banda voltaria a se reunir no início de 2001 para trabalhar em seu terceiro álbum. Nesse meio tempo, a Almo Sounds seria vendida para a Universal, e, não gostando dos termos do novo contrato, a banda preferiria exercer sua opção contratual de encerrá-lo; a gravadora, entretanto, se recusaria, e a questão seria resolvida na justiça, com o Garbage assinando após a solução do conflito com a Interscope Records, que ficaria responsável por seu lançamento nas Américas; na Europa, África, Ásia e Oceania, a banda continuaria com a Mushroom. Enquanto os músicos brigavam na justiça e gravavam as novas canções, Manson decidiu escrever um blog contando tudo sobre a produção, o qual ela chamou de Beautiful Garbage, que acabou sendo, também, o nome do álbum.

Previsto para ser lançado em setembro de 2001, o álbum teve seu lançamento atrasado devido aos ataques terroristas do dia 11, e acabou sofrendo com falta de promoção, com o insucesso de sua primeira música de trabalho, Androgyny (que, por ter sido lançada dia 10 de setembro, mal tocou nas rádios), e com reclamações dos críticos e dos fãs, devido ao fato de o álbum ser bem diferente dos anteriores, tendendo mais para o techno e a música eletrônica do que para o rock barulhento pelo qual o Garbage ficou conhecido. Beautiful Garbage seria o primeiro álbum do Garbage a entrar para o Top 100 da Billboard, mas falharia em obter certificação nos Estados Unidos, renderia apenas um Disco de Ouro no Reino Unido, e não receberia indicações ao Grammy; suas músicas de trabalho seriam Androgyny, Cherry Lips, Breaking Up the Girl e Shut Your Mouth. A turnê de lançamento teria 129 shows e ocorreria entre outubro de 2001 e dezembro de 2002, se encerrando com um show nas Ilhas Caimãs. O início da turnê, nos Estados Unidos, seria também parte da turnê de All That You Can't Leave Behind, com o Garbage abrindo para o U2; após o último show dessa perna, Vig contrairia hepatite, e teria de ser substituído por Matt Chamberlain para a primeira perna da turnê europeia.

O Garbage começaria a trabalhar em seu quarto álbum em março de 2003, mas teve de interromper os trabalhos quando Manson teve de se submeter a uma cirurgia nas cordas vocais, só sendo liberada para voltar a cantar em agosto. Nesse meio tempo, a banda quase acabou: reclamando de "falhas na comunicação", Vig se mudou para Los Angeles, cortando todo o contato com Erikson e Marker, e Manson, para se recuperar, voltou à Escócia. Somente no Natal, após refletir, Vig voltaria atrás e chamaria os colegas para conversar e voltar a trabalhar no novo álbum. Em janeiro de 2004, toda a banda se mudaria para Los Angeles, e, para abrir os trabalhos do novo álbum, fariam um show surpresa em companhia de John King, Matt Chamberlain e Justin Meldal-Johnsen. Além de mudar de cidade, o Garbage mudaria também de gravadora, com o quarto álbum sendo lançado pela Geffen nos Estados Unidos e Canadá, e pela Warner, através da subsidiária A&E, no resto do mundo.

Lançado em abril de 2005, Bleed Like Me seria o primeiro álbum do Garbage a entrar para o Top 10 da Billboard, chegando à quarta posição; infelizmente, o bom início nas vendas não se manteria, e, nos Estados Unidos, o álbum mais uma vez não obteria certificação, recebendo apenas um Disco de Prata no Reino Unido. A crítica também não receberia bem o álbum, dizendo que ele não tinha a mesma carga emocional dos anteriores, e que o Garbage estava se distanciando muito de seu som característico. As músicas de trabalho seriam Why Do You Love Me, Bleed Like Me, Sex Is Not the Enemy e Run Baby Run. A turnê de lançamento, realizada entre março e outubro de 2005, tinha 90 shows previstos, mas acabou tendo apenas 78, com os 12 últimos, que seriam a terceira perna europeia, sendo cancelados - ainda assim, a banda iria pela primeira vez à Hungria, Sérvia e Eslováquia. A banda justificaria o cancelamento dizendo estar emocionalmente esgotada, e anunciaria estar entrando em hiato por tempo indefinido após o fim da turnê.

O hiato duraria até janeiro de 2007, quando Vig organizaria um show beneficente para arrecadar dinheiro para o músico Wally Ingram, que estava com câncer na laringe e não podia pagar pelo tratamento. Após tocar nesse show, os quatro decidiriam começar a trabalhar em um novo álbum, mas gravariam apenas uma música, Tell Me Where It Hurts, antes de decidirem que ainda não estavam prontos para voltar. Eles decidiriam, então, lançar sua primeira coletânea, Absolute Garbage, que tinha suas 16 mais populares canções, mais Tell Me Where It Hurts, também lançada em single. Absolute Garbage seria lançado em duas versões, com a de luxo trazendo também um DVD com 15 clipes, imagens de bastidores, entrevistas e trechos de shows.

A banda seguiria inativa até outubro 2010, quando, segundo Erikson, se encontrariam por acaso, perceberiam estar prontos para voltar à ativa, e começariam a trabalhar no quinto álbum. Ainda levaria mais um ano antes que o anúncio oficial fosse feito, em setembro de 2011, quando Manson revelaria que, além de no álbum, eles estavam trabalhando em um "pacote especial" de b-sides (músicas que normalmente vinham em singles, junto com a canção principal) e canções inéditas que seriam lançadas no Natal, como um presente para todos os fãs que seguiram com a banda mesmo após um hiato tão longo - infelizmente, isso jamais se concretizaria, e o Garbage acabaria lançando somente o álbum, chamado Not Your Kind of People, em maio de 2012, sete anos após o anterior.

Lançado por um selo criado pelo próprio Garbage, chamado Stunvolume, Not Your Kind of People entraria para o Top 20 da Billboard, mas, mais uma vez, não obteria certificação; suas músicas de trabalho seriam Blood for Poppies, Battle in Me, Automatic Systematic Habit, Big Bright World e Control. Sua turnê, realizada entre abril de 2012 e abril de 2013, teria 120 shows, e traria o Garbage pela primeira vez para a América do Sul, com shows na Argentina, Chile, Uruguai, Paraguai, Colômbia e Brasil - em São Paulo, como parte do Festival Planeta Terra. Pela primeira vez, a banda também estaria na Romênia, Ucrânia, Belarus, Letônia e Taiwan.

Em 2015, o Garbage faria uma nova turnê, chamada 20 Years Queer, para comemorar os 20 anos do lançamento do álbum original, com 27 shows na Europa, Estados Unidos e Canadá. Esses shows incluiriam apenas músicas e b-sides do primeiro álbum, muitas delas em versão remix. Em outubro de 2015, Garbage seria relançado em versão de luxo, com todas as faixas remasterizadas e todos os b-sides incluídos.

Em fevereiro de 2016, a banda surpreenderia ao anunciar que seu sexto álbum já estava nos estágios final de produção; com o nome de Strange Little Birds, ele seria lançado em junho daquele ano. Segundo Erikson, os trabalhos teriam começado no início de 2013, e as gravações teriam acontecido meio que na surdina, no porão da casa de Vig. O álbum seria extremamente elogiado pela crítica, especialmente seu som cru e mais próximo daquele que fez a fama do Garbage; dentre o público, entretanto, apesar de estrear no Top 20 da Billboard, não se saiu bem, vendendo cerca de apenas 20 mil cópias, e se tornando o álbum de pior vendagem da banda. Suas músicas de trabalho seriam Empty, Even Though Our Love Is Doomed e Magnetized; sua turnê teria 81 shows, seria realizada entre maio e dezembro de 2016, e contaria com mais dois shows no Brasil, um em São Paulo e um no Rio de Janeiro, no Circo Voador.

Entre julho e agosto de 2017, o Garbage também faria 27 shows, nos Estados Unidos, Canadá e México, em uma turnê conjunta com o Blondie, chamada Rage and Rupture Tour. Em 2018, seria a vez de Version 2.0 ganhar uma edição especial de 20 anos, nos mesmos moldes da do álbum anterior, e do lançamento de Version 2.0: The Official Remixes, com remixes de artistas famosos, como The Crystal Method e Fun Lovin' Criminals, para Push It, I Think I'm Paranoid, Special, When I Grow Up e You Look So Fine. Esse lançamento também seria acompanhado de uma nova turnê, chamada 20 Years Paranoid, com 40 shows na Europa, Estados Unidos e México, nos quais seriam tocadas apenas faixas e b-sides de Version 2.0.

Em março de 2017, o Garbage lançaria um novo single, chamado No Horses, dizendo que esse seria o tipo de som que os fãs poderiam esperar para seu próximo álbum. Esse sétimo álbum, chamado No Gods No Masters, seria lançado em junho de 2021, e teria como músicas de trabalho The Men Who Rule the World, No Gods No Masters e Wolves, sendo bem recebido pelos críticos e entrando para o Top 100 da Billboard, mas mais uma vez falhando em obter certificação. No Gods No Masters não teria uma turnê de lançamento própria, mas, em 2021 e 2022, o Garbage sairia em três turnês, duas em conjunto com Alanis Morrissette, e uma em conjunto com o Tears for Fears. Também em 2021, Beautiful Garbage ganharia sua edição especial de 20 anos.

O mais recente lançamento do Garbage é mais uma coletânea, Anthology, de outubro de 2022, que traz as 34 faixas mais populares da carreira da banda e mais uma inédita, Witness to Your Love, lançada também em single. Também em outubro de 2022, o Garbage se apresentaria tocando The World Is Not Enough no famoso Royal Albert Hall, de Londres, como parte das comemorações pelos 60 anos da franquia 007, participando também de um documentário produzido para o Amazon Prime Video. Atualmente, a banda se encontra em Los Angeles, trabalhando em seu oitavo álbum, que ainda não tem data de lançamento prevista.

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