domingo, 13 de setembro de 2020

Escrito por em 13.9.20 com 1 comentário

Lutas de Submissão

Quando, para o post sobre as lutas de cinturão, fui pesquisar sobre o alysh, acabei consultando bastante o site da UWW, e fiquei com vontade de escrever um post falando sobre as lutas que eu ainda não abordei aqui reguladas por essa federação. Todas as lutas reguladas pela UWW (menos uma) são lutas de submissão, ou seja, lutas nas quais o objetivo é fazer o oponente encostar alguma parte de seu corpo no chão, normalmente suas costas, usando apenas sua força, sem golpes como socos e chutes. Assim, depois das lutas de cinturão, hoje é dia de lutas de submissão no átomo!

Antes de começarmos, relembremos: a United World Wrestling, ou UWW, é a federação internacional que regula a luta olímpica, esporte que conta com duas modalidades, a luta greco-romana e a luta livre. No total, a UWW possui dez esportes oficiais, ou seja, esportes para os quais publica as regras e organiza campeonatos. Desses dez, eu já falei sobre quatro: a luta olímpica e a luta de praia no post sobre luta olímpica, a luta de cinturão internacional e o alysh no post sobre lutas de cinturão. Hoje, eu vou falar sobre outros cinco. Vai ficar faltando o pancrácio, que é o único que não é uma luta de submissão, e por isso eu pretendo abordá-lo em um post separado.

Vamos começar pelo pahlavani, que tem origem na antiguidade, mas não com esse nome. Na época da antiga Pérsia, os soldados passavam por um intenso treinamento, chamado zourkaneh, que incluía artes marciais, treino de força, música e uma luta de submissão chamada koshti (palavra que significa simplesmente "luta", em persa), na qual o objetivo era derrubar e imobilizar o oponente no chão. Os primeiros registros do koshti datam do ano 132 a.C., e sua popularização aconteceria após os árabes invadirem a Pérsia, no ano 637, quando o povo persa passaria a se reunir em locais secretos para praticar o zourkhaneh, transformando-o em um símbolo de patriotismo e solidariedade. A partir do século VIII, o koshti passaria a ser praticado como esporte, com vários torneios regionais sendo organizados, a maioria deles ocorrendo após sessões de zourkhaneh.

O auge da popularidade do koshti se daria no século XIX, durante o reinado do xá Naser al-Din Qasar, quando, sempre no dia do Ano Novo, ocorria um grande torneio no Palácio Real, com o xá em pessoa presenteando o campeão com um bracelete de ouro. Esses torneios foram realizados até a década de 1920, quando o xá Reza Pahlavi, alegando modernização, decidiu romper com todas tradições da Dinastia Qajar - inclusive mudando o nome oficial do país para Irã, o que ocorreu em 1935. Seu filho, Mohammad Reza Pahlavi, tinha uma opinião diferente, acreditando que resguardar as tradições persas era necessário para evitar a dominação do Irã pelas tradições islâmicas, que se espalhavam pelo país cada vez mais rápido desde a virada do século, e chegou a praticar ele mesmo o koshti em sua juventude. Quando se tornou xá, em 1941, Mohammad Reza Pahlavi restituiu os torneios nacionais, e declarou o koshti como o esporte nacional do Irã.

Mas, em 1979, Pahlavi seria deposto pela Revolução Islâmica, liderada pelo Aiatolá Ruhollah Khomeini. Khomeini considerava o zourkhaneh paganismo, e, fazendo o contrário do que Pahlavi pretendia, determinou que somente as tradições islâmicas deveriam ser seguidas pelo Irã, proibindo, dentre outras coisas, a prática do koshti. A proibição não duraria muito, entretanto, pois os demais líderes do regime chegariam à conclusão de que promover o zourkhaneh contribuiria para elevar o orgulho e o patriotismo do povo, valorizando sua cultura. Eles então mudariam o nome do zourkhaneh para varzesh e bastani, que significa "esporte antigo", e o da luta para koshti pahlavani - nome que não tem nada a ver com Reza Pahlavi, significando "luta heroica". Ao decidir regular o esporte, na década de 1980, a UWW tiraria a parte do koshti, e ficaria apenas com o pahlavani. Hoje, tanto o zourkaneh - que já pode ser chamado novamente por seu nome original - quanto o koshti pahlavani são considerados Patrimônio Cultural Imaterial pela UNESCO, e considerados dentre os maiores responsáveis pelo sucesso dos iranianos em torneios de diferentes lutas esportivas.

Como todos os esportes regulados pela UWW (exceto a luta de praia e a luta africana), o pahlavani é disputado no mesmo mat da luta olímpica; o uniforme dos lutadores também é o mesmo da luta olímpica, mas com uma exceção: por cima do uniforme, os lutadores devem vestir "calças de pahlavani", uma espécie de bermuda que termina imediatamente abaixo dos joelhos, feita de tecido grosso e resistente, que possui um elástico na cintura mas fica firme mesmo graças a uma faixa, usada como cinto (inclusive passando por dentro daqueles suportes que as calças comuns, como as de jeans, também têm). Pelas regras da UWW, um dos lutadores deve sempre usar uniforme e faixa azuis, enquanto o outro usa uniforme e faixa vermelhos, mas a cor das calças é livre - a cor tradicional é um verde bem escuro com detalhes em amarelo. As sapatilhas de cada lutador devem ser preferencialmente da cor de seu uniforme, mas também podem ser pretas. A UWW regula o pahlavani apenas no masculino, e, para maior justiça nas lutas, divide os lutadores em seis categorias de peso: até 60 kg, até 70 kg, até 80 kg, até 90 kg, até 100 kg e acima de 100 kg.

Uma luta de pahlavani dura dois rounds de 3 minutos cada, com um intervalo de 30 segundos entre eles; o tempo, excluindo o intervalo, é contado de forma contínua, ou seja, o segundo round começa em 3 minutos, e a luta termina quando o relógio chega a 6 minutos. O objetivo, como já foi dito, é derrubar o oponente no chão, e as técnicas usadas para isso são as mesmas da luta greco-romana, com uma diferença: é permitido aos lutadores pegar o oponente por locais próprios nas calças, que contam com reforços no tecido (na luta greco-romana, só é permitido pegar o oponente acima da linha de sua cintura). Cada calça conta com quatro locais próprios para a pegada, cada um deles com um nome próprio: pish qabz (cintura, parte da frente), pass qabz (cintura, parte de trás), pish kazeh (joelhos, parte da frente) e pass kazeh (joelhos, parte de trás). Não há luta no solo: toda vez que um lutador é derrubado, o árbitro interrompe a luta, ele se põe de pé, e a luta prossegue; se houve pontuação, a luta recomeça do centro do mat. Em algumas situações, o árbitro manda a luta recomeçar com um dos lutadores com as mãos já nos pontos de pegada das calças do oponente.

A forma preferencial de se vencer uma luta de pahlavani é por queda, que consiste em colocar o adversário de cabeça para baixo, com seus dois ombros tocando o solo e seu corpo fazendo um ângulo de 90 graus com o chão - sendo que não há tempo pré-determinado para que ele fique nessa posição, basta que seus ombros toquem o solo por um átimo de segundo para que a queda seja caracterizada. A queda, como um nocaute ou ippon, interrompe a luta imediatamente, independentemente de pontuação ou tempo restante, com vitória do lutador que conseguiu submeter seu oponente a ela. Um lutador que seja virado de cabeça para baixo mas consiga evitar a queda, por exemplo, colocando seus cotovelos no solo para evitar que seus ombros o toquem, ou inclinando o corpo para que não seja feito um ângulo de 90 graus, fica em posição de perigo; um lutador que consegue colocar o oponente em posição de perigo dentro da zona de passividade (o círculo laranja do mat) também ganha a luta por queda. Uma queda não é válida se ocorrer fora da área de luta, mesmo que o golpe tenha começado dentro.

Se não ganhar a luta por queda, um lutador terá de tentar ganhá-la por pontos. Um lutador que, com um golpe válido, faça com que seu oponente toque o chão com qualquer parte do corpo que não sejam as solas dos pés sem colocá-lo em posição de perigo, ou que faça com que o oponente sofra uma queda ou fique em posição de perigo fora da área de luta em decorrência de um golpe que começou dentro ganha 2 pontos; um lutador que consiga se livrar de um golpe e derrube o oponente também com um golpe válido ganha 1 ponto. Se um lutador pisar com um pé inteiro fora da área de luta, seu oponente ganhará 1 ponto. Se, a qualquer momento, um lutador tiver 10 pontos a mais que o oponente, ele ganha a luta por superioridade técnica, independentemente de quanto tempo falte; se isso não acontecer, ao fim dos 6 minutos, o lutador que tiver mais pontos ganha. Caso haja empate, ganha o que realizou mais ações de 2 pontos, persistindo, o que teve menos penalidades, persistindo, o que pontuou por último.

As infrações no pahlavani incluem falta de combatividade, sair do mat de propósito, se agarrar ao mat para não sofrer um golpe, e fugir dos golpes do oponente. Da primeira vez que um lutador comete uma infração, ele é apenas advertido, sem a luta ser interrompida; da segunda vez em diante que ele comete a mesma infração, o árbitro interrompe a luta, que recomeça do centro do mat, e lhe confere uma penalidade. Um lutador que receba 3 penalidades na mesma luta é automaticamente desclassificado, com vitória do oponente; um lutador também pode ser desclassificado sem qualquer advertência ou penalidade caso tenha conduta antidesportiva, use golpes como socos ou chutes, coloque a vida ou a integridade física do oponente em risco, ou se recuse a cumprir as determinações do árbitro.

O principal campeonato de pahlavani da UWW é o Campeonato Mundial de Pahlavani, realizado a cada quatro anos desde 2004. Além de ser regulado pela UWW, o pahlavani, com seu nome completo (koshti pahlavani), é regulado pela Federação Internacional de Zourkaneh Esportivo (IZSF), fundada justamente em 2004 pelas federações nacionais de Irã, Iraque, Afeganistão e Azerbaijão, insatisfeitas com a forma como a UWW age na promoção do esporte. Hoje, a IZSF já conta com 72 membros, incluindo o Brasil, e seu principal campeonato é o Campeonato Mundial de Koshti Pahlavani, disputado anualmente desde 2005. A área de competição da IZSF não é o mat, e sim o gode, um octógono de 5 m de lado que, dentro, tem dois círculos, um com 9 m de diâmetro, marcado com uma linha de 1 m de largura (a zona de passividade), e um de 2 m de diâmetro, todo da mesma cor, que pode ser decorado. O gode é "rebaixado", com 1,5 m de profundidade em relação ao local onde ficam as arquibancadas, ou seja, é como se os lutadores lutassem em um buraco no chão. As regras da IZSF são praticamente as mesmas da UWW, exceto por uns poucos detalhes, como alguns dos golpes válidos (mais tradicionais, enquanto os da UWW são os mesmos da luta greco-romana) e as categorias de peso (as da IZSF têm 10 kg a menos cada). Assim como no pahlavani da UWW, todas as competições da IZSF são exclusivamente masculinas.

Além do pahlavani, a IZSF regula cinco "modalidades individuais", competições que avaliam a perícia e habilidade dos praticantes nos aspectos de artes marciais e treinamento físico do zourkaneh. No sang geeri jofti são usadas duas peças de madeira parecidas com escudos, de 1 m de altura e 60 cm de largura, com a parte de cima arredondada e a de baixo reta e uma alça no meio, que pesam 15 kg cada; o atleta se posiciona deitado de costas no gode, com um sang em cada mão, ambos em posição horizontal sobre seu peito, com os cotovelos dobrados, e tem 10 minutos para levantar ambos quantas vezes conseguir, mantendo-os paralelos e esticando totalmente os cotovelos enquanto rotaciona os sangs para que eles fiquem em posição vertical, paralelos a seus braços. No kabaddeh é usado um arco parecido com o do tiro com arco, mas feito de metal com 1 m de comprimento, e cuja corda é na verdade uma corrente de metal de 2 m de comprimento com 12 discos de metal intercalados entre seus elos; todo o conjunto pesa 12 kg. O atleta deve ficar de pé, com os pés afastados, os cotovelos totalmente esticados, com uma das mãos no arco e a outra na corda, e deve passar o arco de um lado para o outro da cabeça sem dobrar os punhos, podendo fazer movimentos acrobáticos específicos enquanto isso. Cada repetição e cada movimento vale pontos, e o atleta tem 2 minutos para somar a maior pontuação possível. No mil giri sangin são usados dois bastões parecidos com pinos de boliche, de 70 cm de altura e 10 kg cada; o atleta se posiciona de pé, pega ambos os mil pela ponta mais estreita, os segura de forma que a ponta mais larga fique virada para cima, com os cotovelos dobrados e os antebraços perpendiculares ao tronco, e tem 7 minutos para realizar quantas vezes conseguir um movimento que consiste em levantar o braço, mantendo o cotovelo dobrado, passar o mil pelo ombro até as costas, de forma que a ponta mais larga fique virada para baixo, e então retornar com ele para a posição original girando o punho de forma que ele percorra um círculo próximo ao ombro, o que deve ser feito alternando os braços esquerdo e direito. No mil bazi é usado um par de mil mais leve, de 1,5 kg cada, e, durante 7 minutos, são realizados vários movimentos acrobáticos que valem pontos. O charkh teez usa uma tábua de madeira de 50 cm de comprimento com dois pés de 5 cm de altura, chamada shenou, que fica posicionada no chão, e o atleta terá 45 segundos para, passando os pés de um lado para o outro dela, girar quantas vezes conseguir. Finalmente, o charkh chamani também usa o shenou, mas os movimentos válidos são diferentes, e o limite de tempo é de 120 segundos. O principal campeonato das modalidades individuais é o Campeonato Mundial de Zourkaneh Esportivo, realizado a cada dois anos desde 2008. Um detalhe interessante é que, desde 2010, a IZSF regula também o zourkaneh paralímpico, mas apenas nas modalidades individuais.

Vale citar também que, depois do Irã, o país onde o zourkaneh é mais popular é o Azerbaijão, onde ele se chama zorhana, com os primeiros registros de sua prática datando do século VII. O zorhana (cujo nome provavelmente é uma corruptela de zourkaneh) possui algumas diferenças em relação ao zourkaneh, nas provas individuais e na luta - que também se chama zorhana - como a área de luta, que, ao invés de ser um octógono, é um quadrado com entre 4 e 5 m de lado e 1 m de profundidade. Durante a época da União Soviética, o zorhana só podia ser praticado de forma clandestina, e quase foi extinto, experimentando um renascimento a partir da década de 1990.

Na Índia, levado por invasores persas no século XVI, o pahlavani seria mesclado a uma luta tradicional chamada malla-yuddha, e daria origem a um novo esporte, conhecido como kushti ou pehlwani, dependendo da região - ambos os nomes, evidentemente, foram inspirados em koshti pahlavani. Curiosamente, o site da UWW lista o kushti como uma modalidade oficial, mas a UWW não publica regras, não organiza campeonatos, nem tem um comitê dedicado a ele, então eu não sei se isso é um erro ou um indicativo de que ela passará a regulá-lo no futuro. Por enquanto, o kushti não tem uma federação internacional, sendo regulado apenas pelas federações nacionais de luta olímpica da Índia, Bangladesh e Paquistão, que, não por acaso, eram ambos parte da Índia antes de suas respectivas independências. O mais importante torneio de kushti do mundo é o Kushti Dangal, organizado anualmente pela Federação Indiana de Luta, que conta com disputas em sete categorias de peso: até 50 kg, até 55 kg, até 61 kg, até 67 kg, até 74 kg, até 81 kg, até 90 kg e absolutos (da qual podem participar lutadores de qualquer peso).

O kushti é disputado em um círculo de terra batida, de 4 m de diâmetro; curiosamente, a luta começa dentro do círculo, mas os lutadores podem continuar lutando fora dele normalmente pelo tempo que desejarem, só precisando voltar para dentro do círculo se o árbitro interromper a luta por infração. O kushti é um esporte exclusivamente masculino, e os lutadores usam apenas shorts ou sungas, sem nenhum outro tipo de vestimenta ou proteção; é costume dentre os lutadores se "sujarem" com a mesma terra da área de luta antes de a luta começar. Como em toda luta de submissão, é proibido socar ou chutar o oponente, sendo permitido apenas agarrá-lo, arremessá-lo e imobilizá-lo no solo; o kushti conta com alguns golpes válidos bastante característicos, que não estão presentes em outros estilos de luta. A duração de cada luta é determinada pela organização do torneio, mas jamais deve ultrapassar os 30 minutos; caso o tempo se esgote sem um vencedor, é disputada uma prorrogação, de no máximo 15 minutos. Caso nem assim haja um vencedor, ele é escolhido pelos árbitros - além do central, que acompanha a luta de dentro do círculo, há outros dois, que a observam do lado de fora. Não há pontuação; a maneira tradicional de se vencer a luta é fazendo com que o oponente encoste no chão, simultaneamente, seus dois ombos e seu quadril. Uma luta também pode ser vencida por desistência (caso um dos lutadores bata no chão com a mão ou o pé três vezes ou grite uma palavra-chave após ser imobilizado, o que normalmente ocorre porque ele está sentindo dor), nocaute (caso o árbitro central determine que um dos lutadores não pode continuar lutando após ser derrubado) ou desclassificação (caso um lutador cometa três infrações na mesma luta).

Vamos agora para o kuresi, que é a luta nacional do Cazaquistão. O kuresi é uma das lutas mais antigas do mundo, existindo pinturas rupestres no Cazaquistão datadas de 1.200 anos a.C. que mostram dois homens lutando. Na época das invasões mongóis, por volta do século XII, o kuresi começaria a se popularizar dentre o exército cazaque, que treinaria suas técnicas para subjugar os invasores estrangeiros. A Era de Ouro do kuresi ocorreria no século XV, quando os líderes tribais do Cazaquistão, chamados khans, organizariam grandes torneios dentre seus soldados, com o vencedor de cada um ganhando uma ferradura de ouro. Com o fim dos khanatos, o kuresi decairia em popularidade, até reviver no final do século XIX, quando sua prática se espalharia pela população em geral. No início do século XX, começariam a aparecer as primeiras academias devotadas ao ensino do kuresi, assim como os primeiros campeonatos esportivos da modalidade. O primeiro campeonato da Era Moderna seria disputado na cidade de Almaty em 1938, com diversos outros campeonatos regionais sendo disputados nos anos seguintes; o primeiro campeonato "internacional" de kuresi aconteceria na mesma cidade, em 1952 - internacional entre aspas porque, além do Cazaquistão, os participantes vinham do Uzbequistão, Turcomenistão, Quirguistão e Tajiquistão, e, à época, todos esses cinco países faziam parte da União Soviética, ou seja, quando muito, poderia ser considerado um campeonato soviético, e não internacional, como foi originalmente chamado.

O kuresi cresceria em popularidade na Ásia Central nos anos seguintes, mas só começaria a se espalhar pelo mundo em 1991, após a independência do Cazaquistão. O presidente da federação cazaque, Serik Tukiev, ele mesmo um ex-lutador, viajaria por outros países da Ásia demonstrando o estilo, e fomentando a abertura de academias no Irã, Afeganistão e Paquistão. Levado por lutadores, o kuresi chegaria também à Europa, onde as primeiras academias seriam abertas no final da década de 1990. Em 2004, ocorreria um torneio verdadeiramente internacional, com a participação de lutadores de 13 países, na cidade de Berlim, Alemanha, durante o qual seria fundada a Federação Internacional de Luta Cazaque (IKWF), que teria Tukiev como seu primeiro presidente. A IKWF duraria exatos dez anos, sendo incorporada pela UWW em 2014; a UWW mudaria algumas regras - como, por exemplo, estabelecendo o uso do mat - mas manteria a essência da luta, se comprometendo a respeitar os valores e tradições cazaques.

Hoje, além de pela UWW, o kuresi é regulado pela Federação Internacional de Kuresi Cazaque (IQKF, porque eles usam a grafia "qazaq"), fundada em 2017 pela Federação Nacional do Cazaquistão, que, como de costume, não estava de acordo com decisões tomadas pela UWW quanto à promoção do esporte. A IQKF hoje conta com 38 membros, segue as mesmas regras da UWW, mas investe muito mais em torneios internacionais - anualmente, além do Campeonato Asiático e do Campenato Europeu, a IQKF organiza nada menos que três campeonatos internacionais de primeiro nível: o Campeonato Mundial, disputado sempre no Cazaquistão, com disputas masculinas e femininas divididas por categorias de peso; a Copa do Mundo, disputada sempre fora do Cazaquistão, que é uma competição por equipes, com cada equipe contendo cinco lutadores, cada um de uma categoria de peso diferente, estando em disputa duas medalhas de ouro, uma no masculino e uma no feminino; e o Campeonato Mundial Absoluto, que também conta com apenas duas medalhas de ouro em disputa, uma no masculino e uma no feminino, sendo aberta a lutadores de qualquer categoria de peso. Enquanto isso, o único torneio internacional organizado pela UWW é o Campeonato Mundial de Kuresi Cazaque, disputado a cada dois anos, no masculino e no feminino, desde 2014.

Uma luta de kuresi dura 5 minutos no masculino e 4 minutos no feminino. A menor pontuação se chama buk, e consiste em usar uma técnica válida para projetar o oponente em direção ao solo de forma que a primeira parte de seu corpo a tocar o mat seja a palma das mãos, os cotovelos, os antebraços, as escápulas, os joelhos, o peito ou a barriga. Caso a primeira parte do corpo a tocar o solo seja a cintura, a pelve, as coxas, apenas um dos ombros, ou caso o oponente caia de lado mas não em posição de perigo, é computado um zhambas; três buk na mesma luta também valem um zhambas. Caso o oponente caia de quatro (tocando o mat com as duas palmas das mãos e os dois joelhos), tocando o mat simultaneamente com uma ou ambas as coxas e a cintura, simultaneamente com um ombro e uma escápula, ou caia de lado em posição de perigo, a pontuação se chama zhartylai zhenis; dois zhambas na mesma luta também valem um zhartylai zhenis. Finalmente, caso o oponente toque o mat simultaneamente com ambos os ombros, é computado um taza; e dois zhartylai zhenis valem um taza. É importante registrar que "posição de perigo" é qualquer posição na qual o lutador está na iminência de tocar ambos os ombros no mat, como, por exemplo, tocando um dos ombros mas impedindo que o outro toque ao colocar o próprio braço por baixo do corpo.

Para que uma pontuação seja válida, o lutador que está aplicando o golpe deve ter pelo menos um dos pés dentro da área central de luta, e o toque deve ocorrer ou na área central ou na zona de passividade, não sendo válido um toque que ocorra fora do círculo, nem um golpe que comece com o lutador com ambos os pés na zona de passividade. Ao final do tempo de luta, o lutador que tiver a maior pontuação vence - sendo que um zhartylai zhenis vale mais que um zhambas, que vale mais que um buk. O taza é equivalente ao nocaute, queda ou ippon, encerrando a luta imediatamente com vitória do lutador que conseguiu o taza, independentemente de quanto tempo falte. Caso o tempo se esgote e os lutadores estejam empatados, é disputada uma prorrogação de 3 minutos chamada koyan-koltyk beldesu, na qual os lutadores iniciam e reiniciam a luta já um com as mãos na faixa do outro, como se estivessem abraçados; a prorrogação é feita no esquema de golden score, ou seja, quem pontuar primeiro vence. Caso a prorrogação termine empatada, ganha o lutador que aplicou os golpes de maior valor (um zhambas "direto" ganha de três buk que viraram um zhambas, por exemplo), persistindo, o que teve menos penalidades, e, persistindo, o que pontuou por último.

Durante a luta, os oponentes podem receber penalidades, chamadas eskertu, por usar golpes ilegais, se jogar no chão de propósito, se agarrar ao mat, continuar lutando após o árbitro interromper a luta, arrumar o uniforme sem permissão do árbitro ou desarrumá-lo de propósito, colocar a vida ou a integridade física do oponente em risco, ou, acreditem ou não, falar durante a luta. Atos de passividade, como pisar na zona de passividade com os dois pés, sair da área válida de luta, ficar somente esperando o oponente atacar, ou fugir dos golpes do oponente, não geram penalidades instantaneamente, apenas se o árbitro considerar que o lutador está insistindo no comportamento passivo. Durante a prorrogação, também geram penalidades soltar a faixa do oponente, forçar a cabeça contra o corpo do oponente, se ajoelhar no chão, e sair da área válida de luta de propósito. Quando um lutador recebe um eskertu, seu oponente ganha um buk; no segundo eskertu, esse buk é anulado, e o oponente ganha um zhambas; no terceiro eskertu, esse zhambas é anulado, e o oponente ganha um zhartylai zhenis; no quarto eskertu, esse zhartylai zhenis é anulado, e o oponente ganha um taza - ou seja, como o taza dá vitória automática, um lutador com quatro eskertu perde automaticamente a luta. Também é importante notar duas coisas: primeiro, um lutador pode perder automaticamente a luta com três ou dois eskertu, dependendo do placar - por exemplo, se o oponente já tiver um zhartylai zhenis, e o lutador cometer seu terceiro eskertu, será o segundo zhartylai zhenis, e dois zhartylai zhenis fazem um taza; se o oponente tiver um zhartylai zhenis e um zhambas, e o lutador cometer seu segundo eskertu, o oponente ficará com dois zhambas, que fazem um zhartylai zhenis, que, com o outro que já tinha, formam um taza. Segundo, como a prorrogação é disputada em golden score, um único eskertu durante a prorrogação basta para que o lutador perca a luta. Além de se transformarem em pontos, os eskertu também são registrados no placar separadamente, para o caso de precisarem ser usados como desempate.

O uniforme do kuresi é bastante característico, composto de uma camisa aberta na frente, shorts, meias curtas e sapatilhas de luta olímpica. A camisa deve ser de mangas curtas, terminando antes dos cotovelos, mas comprida para terminar imediatamente abaixo das virilhas; não há botões nem qualquer tipo de fecho, com a camisa sendo fechada através de uma faixa amarrada na cintura. Os shorts também são curtos, terminando acima dos joelhos, e possuem tanto um elástico na cintura quanto um cordão que deve ser amarrado. As meias, a camisa e o short são obrigatoriamente brancos, com faixas em outra cor na gola, em torno dos braços, nas mangas, na barra da camisa e na lateral das pernas; um dos lutadores sempre tem essas faixas na cor azul, enquanto o outro as tem na cor vermelha. A faixa amarrada na cintura e as sapatilhas devem sempre ser da mesma cor das faixas coloridas de cada lutador. As categorias de peso são nove no masculino (até 55 kg, até 60 kg, até 66 kg, até 74 kg, até 82 kg, até 90 kg, até 100 kg, acima de 100 kg e tuye paluan, a categoria absolutos, da qual podem participar lutadores de qualquer categoria de peso) e oito no feminino (até 48 kg, até 52 kg, até 57 kg, até 63 kg, até 70 kg, até 78 kg, acima de 78 kg e tuye paluan).

As outras três lutas reguladas pela UWW não são tradicionais, tendo sido inventadas pelos comitês da entidade. A mais antiga das três é a luta de solo, criada pela UWW para aproveitar a popularidade crescente do jiu-jitsu brasileiro e do MMA, e que utiliza elementos do próprio jiu-jitsu brasileiro, do judô, do sambô, e até da luta livre universitária dos Estados Unidos. Para disfarçar, eles disseram que estavam tentando criar um novo estilo de luta que se aproximasse do pále, uma luta disputada na Grécia Antiga, inclusive fazendo parte do programa das Olimpíadas da Era Antiga, mas cujas regras se perderam com o tempo, só existindo registros de sua existência em pinturas e em tábuas de resultados.

A luta de solo possui duas modalidades, chamadas pela UWW de "divisões", a grappling e a grappling gi, sendo que a principal diferença entre as duas está no uniforme: no grappling, os lutadores usam uma camisa bem justa e colada ao corpo, chamada rashguard, que pode ter mangas curtas ou compridas, e uma bermuda ou calça comprida de lycra; sapatilhas de luta olímpica são opcionais. Pelas regras da UWW, um dos lutadores sempre usa rashguard azul e o outro usa vermelha, sendo que apenas 60% da rashguard precisa ser dessa cor, e que é proibido que os outros 40% tenham a cor oposta (ninguém pode usar uma rashguard azul e vermelha); a cor da bermuda, calça e sapatilhas é livre, desde que não seja da cor do oponente (o lutador de azul não pode usar sapatilhas vermelhas, por exemplo). Já no grappling gi o uniforme é parecido com o do jiu-jitsu brasileiro: uma camisa aberta, de mangas compridas, que é fechada com a ajuda de uma faixa amarrada na cintura, e uma calça comprida presa na cintura por um cordão interno que deve ser amarrado, com as mulheres também usando uma rashguard por baixo da camisa; as mangas da camisa e as barras da calça devem ficar a 5 cm do punho e do tornozelo, respectivamente, e tanto a camisa quanto a calça devem ser bem justas no corpo. Em competições continentais e mundiais, um dos lutadores sempre deve usar camisa, calça e faixa de cor azul, enquanto o outro sempre as usa de cor vermelha (com a rashguard podendo ser da mesma cor do uniforme ou de cor neutra), mas, em outras competições, o lutador que deveria estar de vermelho pode usar branco, e o que deveria estar de azul pode usar preto. Por causa da diferença no uniforme, algumas técnicas usadas no grappling e no grappling gi são diferentes - no grappling, por exemplo, é proibido segurar o oponente pelo uniforme, mas no grappling gi é permitido segurá-lo pelas mangas ou pela gola da camisa.

A luta de solo tem oito categorias de peso no masculino (até 62 kg, até 66 kg, até 71 kg, até 77 kg, até 84 kg, até 92 kg, até 100 kg e acima de 100 kg) e cinco no feminino (até 53 kg, até 58 kg, até 64 kg, até 71 kg e acima de 71 kg). A área de luta é mais uma vez o mat tradicional da UWW. Uma luta dura cinco minutos, sendo que o relógio para toda vez que o árbitro a interrompe. Durante uma luta, os atletas podem assumir várias posições, conhecidas como guardas: se ambos os lutadores estiverem de pé, estão em posição de guarda neutra; se ambos estão no chão, e o que está por baixo tem uma das pernas do que está por cima presa entre suas próprias pernas, há a posição de meia-guarda; se o que está por baixo assume uma posição que impede o que está por cima de imobilizá-lo, sem cruzar suas pernas em torno de seu tronco, há a guarda aberta; e, se ele cruza as pernas em torno do tronco do oponente, há a guarda fechada. Também podem ocorrer as posições de montar na lateral, quando um dos lutadores está por baixo, deitado de costas, e o outro está por cima dele, de bruços, de forma que ambos formam o desenho de uma cruz; montar completo, caso o que está por cima esteja sentado com cada um de seus joelhos de um dos lados do corpo do oponente; ou montar por trás, quando um dos atletas está com seu peito em contato com as costas do outro, com suas pernas trançadas com as do oponente e seus braços passando diagonalmente pelo tronco do oponente, como se fossem um cinto de segurança. Cada uma dessas sete posições possui movimentos válidos diferentes, levam a pontuações diferentes, e fazem com que os atletas tenham que reiniciar a luta em posições diferentes caso o árbitro a interrompa (normalmente porque um dos atletas saiu da área válida de luta).

Para pontuar na luta de solo, um atleta tem que fazer primeiro o takedown, que consiste em derrubar o oponente usando uma técnica válida. Existem o takedown "normal", que vale 2 pontos, e o takedown de amplitude, que vale 3 pontos e ocorre quando o lutador consegue erguer o oponente acima de sua linha da cintura antes de derrubá-lo. Para que um takedown seja válido, o oponente deve tocar primeiro o solo com suas costas ou a lateral de seu corpo, e o lutador precisa imobilizá-lo durante 3 segundos. Imediatamente após um takedown válido, o lutador pode tentar montar, para ganhar pontos de bônus: montar de lado vale mais 3 pontos, e montar completo ou por trás vale mais quatro pontos. Da mesma forma, um lutador que fez o takedown e montou de lado pode tentar usar uma técnica para montar completo ou por trás, ganhando mais 4 pontos, e um que fez o takedown, montou de lado e completo ganha mais 4 pontos se, depois disso, montar por trás. Há ainda uma bonificação de 2 pontos caso o lutador consiga um takedown em até 3 segundos após o árbitro iniciar ou reiniciar a luta. A maior pontuação única possível, portanto, é a de 16 pontos, obtida quando um lutador faz um takedown de amplitude em menos de 3 segundos após o início ou reinício da luta, monta de lado, passa para montar completo e então para montar por trás. A contagem dos pontos de bônus é "resetada" toda vez que um lutador não conseguir manter a posição de montar por pelo menos 3 segundos, não passar de uma posição de montar para outra com um movimento fluido ou técnica válida, ou quando o oponente conseguir escapar da imobilização.

Existe também a pontuação por reversal, que ocorre quando um lutador consegue sair de uma imobilização antes de completar 3 segundos imobilizado e, com uma técnica válida, imobiliza o oponente por 3 segundos. Um reversal vale 2 pontos, e os pontos de bônus por "emendar" montar no oponente após um reversal se aplicam normalmente - sendo a maior pontuação possível para um reversal 13 pontos, obtida quando o lutador consegue o reversal, passa para montar de lado, então para montar completo e então para montar por trás. Finalmente, existem certas técnicas que são conhecidas como close submission; se um lutador conseguir usar uma delas, mas o oponente se livrar antes de completar os 3 segundos de imobilização, o lutador que usou a técnica ganha 1 ponto; o takedown de amplitude é uma dessas técnicas, ou seja, um takedown de amplitude inválido, aquele após o qual o lutador não conseguiu manter o oponente imobilizado por 3 segundos, vale 1 ponto ao invés de 3.

Curiosamente, a única penalidade que um lutador pode receber durante a luta é a de passividade - embora "passividade" aqui signifique uma lista de coisas que incluem desde agarrar o oponente de forma que impeça que ele tente um takedown até fugir da área válida de luta de propósito para evitar ser imobilizado. Quando um lutador recebe uma penalidade, a luta prossegue normalmente (exceto se ele sair da área de luta), com o árbitro anunciando a penalidade e o oponente ganhando 1 ponto; se, após 15 segundos, o lutador estiver insistindo na passividade, recebe outra penalidade automaticamente. Um lutador que receba 5 penalidades na mesma luta é desclassificado. Um lutador também pode desistir a qualquer momento, por achar que não tem condições de continuar, bastando, para isso, bater a mão ou o pé no chão duas vezes seguidas, ou, se for incapaz de fazê-lo, gritar as palavras tap ou stop; essa decisão também pode partir de seu técnico ou de seu médico. E se, a qualquer momento da luta, um dos lutadores tiver 15 pontos a mais que o oponente, ele vence a luta por superioridade técnica.

Ferimentos são comuns na luta de solo; cada lutador tem 2 minutos por luta para atendimento médico - ou seja, a soma de todos os seus atendimentos médicos não pode ultrapassar 2 minutos - sendo declassificado caso ultrapasse esse tempo. Enquanto um dos lutadores está recebendo atendimento médico, o outro deve ficar ajoelhado no centro do mat, não podendo receber instruções. Se um lutador não puder continuar lutando após uma avaliação médica, a vitória vai automaticamente para seu oponente. Um lutador que perca a consciência durante a luta também é desclassificado, por isso, toda vez que o árbitro vê que um lutador está correndo risco de perder a consciência, deve interromper a luta instantaneamente, e conferir a ele até 2 minutos, que não contam para o tempo de atendimento médico, para se recuperar. Para evitar má-fé, caso um lutador machuque de propósito o oponente, para ele ultrapassar seu tempo de atendimento médico, ou caso ele faça o oponente perder a consciência de propósito, quem é desclassificado é ele, e não o ferido. Um atleta também é desclassificado caso, ao realizar um takedown, faça com que o oponente caia de forma que toque o chão com a cabeça ou o pescoço antes de outras partes do corpo, ou por conduta antidesportiva, como usar repetidamente técnicas inválidas.

Se não houver vitória por superioridade técnica, desclassificação ou desistência, ao fim dos 5 minutos o lutador com mais pontos será o vencedor. Caso haja empate, o vencedor será aquele que mais pontuações de 4 pontos; persistindo, o que fez mais de 3 pontos; então o que fez mais de 2 pontos; e então o que teve menos penalidades. Se, mesmo assim, o empate persistir, será disputada uma prorrogação, que funciona da seguinte forma: é feito um sorteio para decicir qual lutador será o ativo e qual será o passivo; o passivo escolhe se quer começar a prorrogação na posição montado por trás ou recebendo uma chave de braço. O ativo, então, terá 1 minuto para imobilizar o passivo durante 3 segundos. Se ele conseguir, ganha; se o tempo se esgotar, ou se o passivo conseguir se livrar totalmente da posição em que começou (se colocando de pé, por exemplo), o passivo ganha.

A mais importante competição da luta de solo é o Campeonato Mundial de Grappling, que foi organizado anualmente pela UWW de 2007 a 2013, e então a cada dois anos desde 2017. A razão para isso foi que, em 2014, a própria UWW desistiu de regular a luta de solo, deixando de publicar suas regras oficiais, de organizar campeonatos, e de dar suporte às federações nacionais, removendo até mesmo o esporte de sua lista de oficiais; essa decisão causou um grande protesto por conta de vários lutadores e de várias federações nacionais, que acabou levando a UWW a rever sua posição e voltar a regular o esporte dois anos depois, em 2016. Atualmente, a luta de solo é o esporte da UWW que mais cresce em número de praticantes, e já há até uma campanha para que ela tente incluí-lo nas Olimpíadas.

Passemos agora para a luta clássica. Pelas regras da UWW, a luta livre olímpica é disputada no masculino e no feminino, mas a luta greco-romana apenas no masculino; a luta clássica foi criada para ser uma espécie de "luta greco-romana feminina", e, portanto, é disputada apenas no feminino. O objetivo na luta clássica é fazer com que ambos os ombros da oponente toquem o solo simultaneamente, com seu corpo fazendo com o solo um ângulo de 90 graus; quando isso ocorre, há a vitória por queda. Uma vitória por queda também pode ser atribuída caso a oponente fique em posição de perigo ou posição de ponte por 3 segundos, sendo posição de perigo aquela na qual ela fica com as costas tocando o solo com seu corpo formando ângulo menor que 90 graus, e posição de ponte aquela na qual a oponente fica com as duas mãos e dois joelhos tocando o solo simultaneamente. Caso a oponente consiga se livrar da posição de perigo antes dos 3 segundos, a lutadora ganha 4 pontos caso ela estivesse no centro do mat, e 2 pontos se ela estava na zona de passividade; caso ela consiga se livrar da posição de ponte antes dos 3 segundos, a lutadora ganha 2 pontos. Uma lutadora que consiga se livrar de um golpe e usar um contra-ataque para fazer com que a oponente toque o solo com qualquer parte do corpo que não seja a sola dos pés ganha 1 ponto, e uma que consiga derrubar a oponente de lado ganha 2 pontos. Se, a qualquer momento, uma lutadora tiver 7 pontos a mais que a outra, ela ganha a luta automaticamente por superioridade técnica.

Quando uma lutadora recebe uma penalidade, a oponente também ganha um ponto. As penalidades incluem sair do mat de propósito, agarrar ou bater na mão ou braço da oponente para evitar que ela a segure, ou usar golpes proibidos. Falta de combatividade e agarrar a oponente pela roupa, da primeira vez, resultam apenas em advertência, e, pela segunda vez na mesma luta, em penalidade. Conduta antidesportiva resulta em desclassificação automática. A luta dura 3 minutos, e, se terminar empatada, vence a lutadora que executou os golpes que valiam mais pontos, persistindo, a que teve menos penalidades, e, persistindo, a que pontuou por último. As categorias de peso na luta clássica são sete: até 50 kg, até 55 kg, até 60 kg, até 65 kg, até 70 kg, até 75 kg e acima de 75 kg. O único campeonato de luta clássica que a UWW já organizou foi o Women Classic International Tournament, no Líbano, em 2018.

O uniforme da luta clássica é bastante curioso, porque só deixa o rosto, as mãos e os cabelos da lutadora à mostra - sendo que lutadoras muçulmanas podem cobrir também os cabelos. Trata-se de uma calça comprida, cuja cintura fica acima da linha do umbigo, e de uma blusa de mangas compridas, que deve ir até abaixo da linha do umbigo, ou seja, a cintura da calça deve cobrir a barra da blusa. Lutadoras que desejarem podem usar protetores para os punhos, tornozelos ou seios (parecidos com um top esportivo), que são vestidos por cima do uniforme, e devem ser da mesma cor do uniforme, brancos ou pretos; como o uniforme é bem justo, lutadoras que desejarem podem usar uma camisa de mangas curtas e uma bermuda que vá até os joelhos por cima do uniforme, desde que elas sejam da mesma cor do uniforme. Completam o uniforme sapatilhas de luta e um protetor de orelhas, parecido com um fone de ouvidos gigante, que podem ser da mesma cor do uniforme, brancos ou pretos, e um protetor bucal como o do boxe; protetores de queixo são opcionais. Pelas regras da UWW, uma das lutadoras deve sempre usar uniforme vermelho e a outra, azul.

Para terminar por hoje, vamos falar da luta africana, criada pelo Comitê de Lutas Africanas da UWW visando reunir elementos de diversos estilos de luta tradicionais da África, permitindo que lutadores de países diferentes possam competir uns contra os outros usando as mesmas regras. A meu ver, esse Comitê não foi lá muito bem sucedido, pois o resultado foi uma luta bastante simples: o lutador deve derrubar o oponente segurando-o apenas pelas áreas nuas de seu corpo, sendo proibido segurá-lo por seu calção. Só isso. Vale fazer com que o oponente caia de costas, de bruços, de cabeça, sentado, de lado, de quatro, ou fazer com que ele toque com os dois joelhos e uma das mãos ou com as duas mãos e um dos joelhos no solo simultaneamente; não há pontuação, se o oponente tocar o solo em alguma dessas posições, o lutador vence a luta. Além de não ser permitido segurar o oponente na área coberta pelo calção, não é permitido segurá-lo pelo pescoço ou cabeça, usar rasteiras para derrubá-lo, golpes como socos e chutes, ou lutar ajoelhado; um lutador que incorra em uma dessas práticas, ou que tenha falta de combatividade ou conduta antidesportiva recebe uma penalidade, e um lutador que receba três penalidades está desclassificado, com a vitória sendo dada ao oponente.

O uniforme da luta africana, no masculino, consiste apenas de calções; no feminino, as lutadoras usam também um top esportivo, e, embora não seja permitido puxar o tecido do top, é permitido pegar no corpo da oponente por cima do top. O exato modelo e cor dos calções e tops não é regulado pela UWW, que dispõe que eles podem seguir as tradições do país de origem do lutador, com a única exigência sendo a de que um lutador deve ter calções de cor diferente do outro. A área de luta é um círculo de 11 metros de diâmetro circulado por uma linha de 1,5 m de largura; a linha deve ser de cor diferente do círculo e do restante da área de competição, e claramente visível. A área de luta pode ter superfície de areia, gramada ou artificial, desde que seja não-abrasiva e antiderrapante. Uma luta dura dois rounds de 3 minutos cada, com intervalo de um minuto entre eles; caso não haja vencedor, é disputada uma prorrogação de 3 minutos, e, seguindo sem vencedor, os árbitros dão a vitória ao lutador que foi mais combativo. As cinco categorias de peso da luta africana no masculino são até 66 kg, até 76 kg, até 86 kg, até 100 kg e mais de 100 kg; no feminino, são até 48 kg, até 53 kg, até 58 kg, até 63 kg e até 80 kg. A luta africana é o mais recente dos esportes da UWW, e ainda não teve nenhum campeonato mundial.

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