segunda-feira, 16 de novembro de 2015

Escrito por em 16.11.15 com 0 comentários

Esportes de Demonstração (II)

Há pouco menos de três meses, eu fiz um post falando sobre três esportes que fizeram parte do programa das Olimpíadas de Inverno como esportes de demonstração. Se vocês o leram, sabem que o fiz porque, falando sobre eles, teria falado aqui no átomo sobre todos os esportes de demonstração das Olimpíadas de Inverno. Hoje eu vou fazer mais um, mas com três que foram esportes de demonstração nas Olimpíadas "normais" - oficialmente conhecidas como Olimpíadas de Verão, embora esse nome não tenha pegado aqui no Brasil. Diferentemente do que ocorreu da outra vez, ainda vão ficar faltando mais alguns. Se esse post terá parte três ou não, só o tempo dirá.

Vamos começar pelo esqui aquático, esporte inventado em 1922 pelo norte-americano Ralph Samuelson. Na adolescência, Samuelson frequentava com sua família o lago Pepin, na cidade de Lake City, Minnesota. Seu irmão, Ben, tinha um barco a motor, e os dois costumavam realizar mergulhos e outras acrobacias com o barco em movimento. Um dia, aos 18 anos, Samuelson teve a ideia de tentar esquiar segurando uma corda que estava presa ao barco; ele experimentou com diversos materiais, como aquelas ripas com as quais são feitas os barris, pranchas de madeira, e até mesmo esquis de neve, mas, ao descobrir que a melhor posição era levemente inclinado para trás, com a ponta dos esquis fora da água, decidiu fabricar seus próprios esquis, usando madeira polida e tiras de couro.

O esqui aquático ficaria restrito a Lake City, e seria conhecido apenas pela família e amigos de Samuelson até 1925, quando o inventor Fred Waller, tomando conhecimento de sua criação, e sabendo que ele não a havia patenteado, patentearia e colocaria no mercado o primeiro par de esquis aquáticos para uso geral. Na época, Samuelson já havia experimentado vários outros truques com os esquis, como um salto usando uma rampa de madeira lubrificada com banha de porco, instalada dentro da água. Para tentar aumentar as vendas dos esquis, a companhia que os fabricava convidaria Samuelson para várias apresentações por todo o país; Samuelson passaria 15 anos fazendo demonstrações de esqui aquático em diversas cidades, até decidir largar essa vida e se tornar fazendeiro, criando perus na cidade de Pine Island, Minnesota, até sua morte, em 1977.

Curiosamente, a popularização do esqui aquático só começaria após Samuelson parar de se apresentar, pelas mãos do promotor de eventos Dick Pope, Sr. Após assistir a uma das apresentações de Samuelson, Pope decidiria investir no esqui aquático, construindo um parque aquático na cidade de Winter Haven, Flórida, onde qualquer um poderia praticá-lo. Pope também realizou uma maciça campanha de marketing durante as décadas de 1940 e 1950, que incluía fotografias de pessoas esquiando em seu parque nas principais revistas do país, e até mesmo anúncios de rádio convidando as pessoas a visitá-lo e tentar esquiar também. Seu filho, Dick Pope, Jr., se tornaria um famoso esquiador, e ajudaria a popularizar o esporte internacionalmente, se apresentando na Europa e se tornando o primeiro campeão mundial de esqui aquático, em 1949. Com o esporte se popularizando em cada vez mais países, seria fundada, em 1955, a Federação Internacional de Esqui Aquático (originalmente IWSF, hoje IWWF, da sigla em inglês para Federação Internacional de Esqui Aquático e Wakeboard), que hoje conta com 84 membros dos cinco continentes, incluindo o Brasil.

A IWWF reconhece três disciplinas do esqui aquático. A mais famosa é o slalom, na qual o esquiador deve completar um percurso composto por 25 boias. As boias devem ser passadas alternadamente pela direita e pela esquerda, o que faz com que o esquiador esquie em ziguezague durante o percurso. Cada boia está posicionada a 11,5 m da anterior e da seguinte, e é permitido que o circuito tenha curvas, desde que elas não sejam fechadas a ponto de atrapalhar a performance do esquiador. Os esquis usados no slalom são estreitos e compridos, com entre 10 e 12 cm de largura e entre 145 e 178 cm de comprimento, dependendo da altura e peso do esquiador; para obter maior velocidade, esquiadores profissionais costumam usar não dois, mas um único esqui, preso ao seu pé dominante (destros usam no pé direito, canhotos no esquerdo). O esqui pode ser preso ao pé por uma fivela ou por uma espécie de bota travada nele na qual o esquiador enfia o pé. O slalom é a disciplina mais exigente do esqui aquático, com os esquiadores podendo alcançar velocidades de até 120 Km/h e ser submetidos a uma força de 4 g - equivalente a uma pressão de até 600 Kg sobre o torso a cada curva.

A coisa mais curiosa do slalom é que ele possui uma "pegadinha": cada boia é progressivamente mais difícil que a anterior. Para que isso aconteça, a cada boia a velocidade do barco aumenta em 3 Km/h, até alcançar o máximo permitido (54 Km/h no feminino, 57 Km/h no masculino). A partir de então, a corda que prende o esquiador ao barco é encurtada a cada boia, até o mínimo de 13 m, para dificultar as curvas. É o próprio esquiador quem escolhe a qual velocidade o barco começará a prova e qual será o comprimento inicial da corda, até um máximo de 22,86 m; esquiadores profissionais de alto nível normalmente escolhem já começar a prova com o barco na velocidade máxima e com a corda no comprimento mínimo - isso porque a pontuação é feita usando uma fórmula que leva em conta não somente o número de boias vencidas, mas também a velocidade do barco e o comprimento da corda; com a velocidade no máximo e a corda no mínimo, cada boia vencida garante também a pontuação máxima.

A segunda disciplina é a dos saltos, na qual o esquiador usa uma rampa para saltar - evidentemente, o barco não passa pela rampa, apenas o esquiador, que costuma fazer um ziguezague conforme se aproxima para ganhar velocidade. Para que o salto seja válido, o esquiador ainda deve permanecer de pé por no mínimo 30 m após o pouso. Não são feitas acrobacias, ganha simplesmente quem alcançar a maior distância, com cada esquiador tendo direito a um número pré-determinado de saltos (normalmente 3 ou 6) e apenas o melhor valendo para a classificação. Alguns torneios podem ter várias fases, com apenas os melhores de cada fase passando para a seguinte. Mais uma vez, é o próprio esquiador quem escolhe a velocidade do barco (sendo a máxima a mesma do slalom) e a altura da rampa (que deve ter entre 1,5 e 1,8 m, sendo que, quanto mais alta, mais íngreme). A rampa é feita de fibra de vidro lubrificada com graxa, e tem entre 3,7 e 4,3 m de largura; os esquis são usados nos dois pés, presos por botas, e são mais compridos que os do slalom, com entre 182 e 204 cm de comprimento, para proporcionar maior equilíbrio.

A terceira disciplina se chama truques, e nela o esquiador deve realizar acrobacias que valem pontos. O esqui usado nos truques é menorzinho, com entre 165 e 167 cm de comprimento, e bem mais largo, com entre 18 e 20 cm de largura. E é "o esqui", e não "os esquis", porque cada esquiador usa um só, com o pé dominante à frente e preso por uma bota e o outro apoiado atrás. Em uma competição de truques, cada esquiador tem direito a duas passagens pela água de 20 segundos cada, durante as quais realizará acrobacias; cada acrobacia vale um número de pontos, que depende de sua dificuldade e de quão bem ela foi executada. Um painel de cinco árbitros avaliará as acrobacias e conferirá as notas, com o esquiador que tiver o somatório mais alto ao final da competição sendo declarado vencedor.

Existe, ainda, uma "quarta disciplina", chamada overall, combinada ou três eventos; nela, os resultados de cada esquiador em cada uma das três disciplinas são convertidos em pontos, que são então somados, sendo declarado vencedor quem tiver mais pontos. Dependendo da competição, podem ser somados os pontos das três provas que já foram realizadas para se determinar o vencedor de cada disciplina, ou serem realizadas três novas provas especificamente para a overall.

Ao todo, a IWWF regula sete modalidades do esqui aquático. A primeira é a tradicional, que já vimos. A segunda é o esqui descalço, no qual o esquiador não usa esquis, por mais contraditório que isso pareça, e sim apoia os próprios pés na água. No esqui descalço, os esquiadores devem usar uma roupa semelhante a uma de mergulho, que protegerá o corpo em caso de queda e possibilitará que ele "esquie deitado" no início da prova. A velocidade do barco no esqui descalço deve ser bem maior que no tradicional, pois, como os pés são bem mais curtos que os esquis, é preciso ir mais rápido para que eles gerem sustentação; a velocidade mínima do barco depende do peso do esquiador, e há uma fórmula para determiná-la, mas vale citar como exemplo que, para um homem de 79 Kg, a velocidade mínima deve ser de 57 Km/h - equivalente à velocidade máxima no esqui tradicional. As disciplinas do esqui descalço são as mesmas do tradicional, mas com as seguintes diferenças: no slalom, não há boias, e sim um circuito fechado, com cada esquiador tendo direito a duas passagens de 15 segundos para completá-lo o maior número de vezes possível, sendo vencedor quem realizar a maior distância no somatório das passagens; as acrobacias dos truques são diferentes, e cada esquiador tem duas passagens de 15 segundos; e a rampa dos saltos deve ter entre 1 m e 1,5 m de altura e é menos inclinada - e, como é mais difícil pousar, só é necessário permanecer de pé por 10 m após o pouso.

A terceira modalidade é o wakeboarding, na qual, ao invés de esquis, o esquiador usa uma prancha, feita de camadas de madeira, espuma e resina cobertas com fibra de vidro. Diferentemente dos esquis, a prancha ajuda na flutuação do esquiador. A prancha tem entre 109 e 146 cm de comprimento (dependendo do peso do atleta), entre 18 e 20 cm de largura, e é presa aos dois pés por botas soltas no calcanhar. Finalmente, as pranchas possuem uma "barbatana" na parte de baixo, que ajuda nas acrobacias; cada esquiador pode escolher cinco diferentes configurações de barbatana, algumas mais longas, outras mais curtas, algumas duplas, mais próximas ou mais distantes do centro da prancha, ou até usar uma prancha sem barbatana, com cada configuração sendo ideal para um tipo de acrobacia. Provas de wakeboarding são sempre realizadas na disciplina truques.

A quarta e a quinta modalidades são o cable skiing e o cable wakeboarding. Nessas modalidades, o esquiador não é puxado por um barco, e sim por um motor elétrico semelhante ao de um teleférico. Basicamente, há uma estrutura sobre o lago à qual a corda do esquiador é presa, a cerca de 8 ou 9 m de altura, e o motor faz com que a corda corra por essa estrutura, puxando o esquiador como se fosse o barco. Como a estrutura fica acima do esquiador, e não à sua frente, são permitidos vários ângulos para prender a corda, sendo que, quanto mais fechado o ângulo, mais fechadas as curvas que o esquiador fará. A velocidade máxima do motor para o cable skiing é de 61 Km/h, enquanto para o cable wakeboarding é de 31 Km/h. Esse sistema foi criado na Alemanha, em 1959, pelo engenheiro Bruno Rixen, e requer um local permanente de competições, já que não é fácil montar e desmontar a estrutura; atualmente, o maior número de locais próprios para a prática do cable skiing e do cable wakeboarding estão localizados na Europa, onde essas modalidades são mais populares. Competições de cable skiing são realizadas nas três disciplinas, enquanto as de cable wakeboarding são realizadas apenas na disciplina truques.

A sexta modalidade é a corrida, disputada em um circuito fechado demarcado por boias, com no mínimo 5 Km de extensão e 1,5 m de profundidade da água. Os barcos correm sempre no sentido anti-horário, e a primeira curva deve estar sempre a no mínimo 2,5 Km da linha de largada. Evidentemente, não basta que os barcos façam as curvas, é preciso que os esquiadores as façam também, pois um esquiador que saia dos limites do circuito é desclassificado. Uma corrida no masculino dura sempre uma hora mais uma volta, enquanto no feminino dura 45 minutos mais uma volta. Dependendo das condições do circuito, a corrida pode ocorrer em um de três métodos diferentes: largada em massa, na qual todos os barcos largam juntos e o vencedor é o esquiador que cruzar a linha de chegada primeiro (o menos usado, por questões de segurança); largada com intervalos, na qual cada barco larga cinco minutos após o anterior, e o vencedor é quem completar a prova em menos tempo (o mais usado); ou largada individual, na qual cada barco só larga depois que o anterior tiver completado toda a corrida, também sendo vencedor quem completar em menos tempo. Na corrida, os esquiadores usam os mesmos esquis do slalom, mas sempre os dois.

Finalmente, temos o esqui aquático paralímpico. Assim como em outros esportes paralímpicos, no esqui aquático os atletas são classificados de acordo com sua deficiência, sendo enquadrados em diversas categorias, para que todos possam competir em igualdade de condições. Na categoria MP competem os paraplégicos, tetraplégicos e outros atletas que não sejam capazes de esquiar de pé, como biamputados. Atletas da categoria MP são subdivididos em MP1 a MP5, sendo que, quanto mais baixo o número, mais severa a deficiência, e usam um esqui adaptado, meio parecido com uma prancha de surfe, ao qual é preso um assento, o que possibilita que eles esquiem sentados. Os atletas que podem esquiar usando esquis comuns são classificados nas categorias A, L, LP, A/L1 ou A/L2. Na A competem os que só podem segurar a corda com uma das mãos, como os amputados de um dos braços ou com má formação em uma das mãos; na L competem os que só podem usar um esqui, como os amputados de uma das pernas; na LP competem os que usam próteses em uma das pernas; e nas A/L os que têm deficiências tanto em um dos braços quanto em uma das pernas, como hemiplégicos, paralisados cerebrais e amputados múltiplos. Já a categoria V é destinada aos deficientes visuais, classificados em V1, V2 ou V3, sendo que, quanto mais baixo o número, mais prejudicada a visão. As disciplinas do esqui paralímpico são as mesmas do tradicional, com a única diferença sendo a altura da rampa dos saltos, que deve ter entre 1,2 e 1,6 m; na categoria V, é permitido que um treinador vá no barco indicando com falas ou sinais sonoros a proximidade da rampa dos saltos, a exatidão das manobras dos truques e dos movimentos do slalom etc. O slalom da categoria V, aliás, se chama audio slalom, e, ao invés de boias, são usados sons para indicar se o atleta tem de virar à direita ou à esquerda, com os pontos sendo conferidos conforme a exatidão do movimento em relação ao som.

A competição mais importante do esqui aquático é o Campeonato Mundial, realizado, no masculino e no feminino, a cada dois anos desde 1953 (após uma primeira edição em 1949 e uma segunda em 1950). No Mundial são disputadas nove provas, uma de cada disciplina e uma overall para o masculino e para o feminino, e uma prova por equipes (desde 1959), que soma os pontos dos três melhores esquiadores no masculino e dos três melhores no feminino de cada país. As demais modalidades possuem cada uma seu próprio Mundial, disputados em sedes diferentes do principal: o Mundial de Esqui Descalço é disputado a cada dois anos desde 1978, e o Mundial de Cable Skiing foi disputado a cada dois anos de 1998 a 2002, e a cada quatro desde então; ambos possuem as mesmas nove provas do Mundial tradicional. O Mundial de Corrida é disputado a cada dois anos desde 1979, e é misto, com homens e mulheres competindo juntos. O Mundial de Wakeboarding foi disputado anualmente de 2001 a 2005, e a cada dois anos desde então, enquanto o de Cable Wakeboarding foi disputado a cada dois anos 2001 a 2005, então em 2006, 2008 e a cada quatro desde então. Finalmente, o Mundial Paralímpico é disputado a cada dois anos desde 1993.

O esqui aquático foi esporte de demonstração nas Olimpíadas de 1972, em Munique, na Alemanha Ocidental, com provas masculinas e femininas de slalom, truques e saltos, nas quais os Estados Unidos ganharam três ouros (dois com Ricky McCormick e um com Liz Allen–Shetter), enquanto França, Itália e Holanda ganharam um ouro cada. Desde então, a IWWF tenta fazer com que o esporte entre para o programa olímpico de forma definitiva, mas esbarra em uma questão técnica: a Carta Olímpica, que define como devem ser as Olimpíadas, proíbe que sejam incluídos no programa esportes que tenham elementos motorizados. A IWWF tenta contra-argumentar alegando que a habilidade do atleta conta mais que a motorização do barco, e que a modalidade keirin do ciclismo também usa uma motocicleta para "puxar a fila", mas, até agora, não obteve sucesso.

Enquanto não consegue voltar para as Olimpíadas, o esqui aquático faz parte do programa dos World Games. Atualmente fazem parte do programa as provas masculinas e femininas de slalom, truques, saltos (desde a primeira edição, em 1981) e wakeboarding (adicionadas em 2001), mas também já foram disputadas as provas de overall (em 1981 e de 2001 a 2009), slalom descalço, truques descalço, saltos descalço (como esporte convidado em 1993, e como parte do programa em 1997 e 2001), overall descalço (de 2001 a 2009) e cable wakeboarding (em 2005). O atleta mais bem sucedido dos World Games é o francês Patrice Martin, com 5 ouros, 2 pratas e 1 bronze; no feminino, a sul-africana Nadine de Villiers tem seis ouros, mas todos na modalidade descalço.

O segundo esporte que veremos hoje é o voo planado, que é regulado pela Federação Aeronáutica Internacional (FAI), e não usa asas-delta ou coisas do tipo, e sim planadores, aqueles aviões pequenos e sem motor. O voo planado surgiu em meados do século XIX, quando estavam tentando inventar os primeiros aviões, mas o voo planado esportivo só surgiria no final da década de 1910, na Alemanha. Na época, devido a seu envolvimento na Primeira Guerra Mundial, a Alemanha estava sob severas sanções que limitavam a fabricação e os testes de aviões motorizados. Buscando uma alternativa, os engenheiros alemães começaram a trabalhar com planadores, e, durante os testes, faziam pequenas competições para ver quem alcançava a maior distância em um único voo. Logo, entusiastas da aviação também começaram a se envolver nessas competições, até que, em 1920, na cidade de Wasserkuppe, seria realizado o primeiro Campeonato Alemão de Voo Planado, no qual o vencedor, Oskar Ursinus, alcançaria a distância de 2 Km - considerada impressionante para a época.

Após esse campeonato, o voo planado teria um boom de popularidade, as fabricantes de planadores receberiam investimentos do governo e de empresas privadas, e a tecnologia dos planadores caminharia a passos largos, conseguindo grandes avanços em pouco tempo: em pouco mais de dez anos, o recorde mundial passaria de 2 para 272 Km, com Gunther Grönhoff voando em um planador, em 1931, da cidade alemã de Munique até Kadan, na Tchecoslováquia. A distância era tão impressionante que muitos consideravam o feito impossível, e sequer acreditaram quando as notícias chegaram.

Devido a essa popularidade, o voo planado seria incluído como esporte de demonstração nas Olimpíadas de 1936, realizadas em Berlim. Participariam da competição 14 pilotos de sete países (Alemanha, Áustria, Bulgária, Hungria, Itália, Iugoslávia e Suíça), com o vencedor sendo o húngaro Lajos Rotter, que voou da cidade de Rangsdorf, vizinha a Berlim, até a cidade de Kiel, completando a distância de 336,5 Km, novo recorde mundial na época. Curiosamente, nenhum dos participantes recebeu qualquer tipo de prêmio, com exceção do suíço Hermann Schreiber, que recebeu da FAI uma medalha de ouro não por seu desempenho nas Olimpíadas, e sim por ter cruzado os Alpes em um planador um ano antes. Os organizadores planejavam entregar medalhas de ouro, prata e bronze para os três primeiros colocados, mas isso foi vetado pelo COI porque nem todos percorreram o mesmo trajeto no mesmo dia, ou seja, nem todos tiveram igualdade de condições para competir - devido ao mau tempo no dia em que escolheu para voar, inclusive, um dos pilotos, o austríaco Ignaz Stiefsohn, faleceu ao cair quando a asa de seu planador se quebrou.

Apesar de todos os percalços, a competição de voo planado de 1936 foi considerada um grande sucesso pelo COI - inclusive em termos de público, com vários espectadores comparecendo aos aeroportos de Rangsdorf e de Staaken, de onde saíram os planadores, para assistir às decolagens. Esse sucesso levaria o COI, em sua reunião seguinte, em 1938, a incluir o voo planado no programa oficial dos Jogos Olímpicos a partir da edição de 1940. Infelizmente, porém, com o início da Segunda Guerra Mundial, as edições de 1940 e 1944 tiveram de ser canceladas, e o voo planado não pôde fazer sua estreia.

Quando as Olimpíadas foram retomadas, em 1948, houve uma reunião do COI para decidir se o voo planado realmente seria incluído no programa, na qual se chegou à conclusão de que não. Os dois principais motivos foram a falta de um número expressivo de praticantes - além dos motivos óbvios pelos quais ninguém praticaria voo planado em meio a um conflito armado, muitas das antigas fábricas de planadores fecharam ou passaram a fabricar material bélico durante a Segunda Guerra - e a impossibilidade de se chegar a uma conclusão sobre o tipo de planador a ser usado - o COI queria, em nome da igualdade de condições, que todos os participantes usassem o mesmo modelo de planador, algo com o que os praticantes não concordaram, pois temiam que tal medida prejudicasse a evolução do esporte, já que faria com que o modelo sancionado pelo COI se tornasse o favorito dos fabricantes, que deixariam de buscar inovações criando novos modelos. Desde então, de vez em quando a FAI ainda tenta fazer com que o voo planado entre para o programa olímpico, mas normalmente tem suas pretensões rejeitadas sob os argumentos de baixo número de praticantes e baixo interesse do público.

O voo planado esportivo ainda existe, porém, e, assim como a maioria dos esportes, evoluiu bastante daquela época para cá - os planadores atualmente estão mais leves, mais seguros, e alguns contam com motores de emergência para que o piloto possa pousar no caso de uma eventualidade. O atual recorde de distância é de 2.245,6 Km, obtido pelo alemão Klaus Ohlmann em 2003 - o que faz com que o recorde de 2 Km de 1920, mil vezes menor, fique meio ridículo em comparação.

Como os planadores não têm meios para fazê-los sair do chão sozinhos, é necessário usar um método de lançamento. Atualmente, a FAI reconhece dois métodos, o aerotow e o molinete. No aerotow, o planador é "rebocado" por um avião motorizado, enquanto no molinete o planador é preso a um cabo ligado a um forte motor a diesel, que puxará esse cabo, enrolando-o em uma espécie de carretel, e, com o impulso, empinará o planador como se fosse uma pipa; em ambos os casos, o voo só começa a contar no momento em que o cabo se solta do planador. O método do molinete é mais barato e usado na maioria dos clubes de aviação, mas o aerotow é considerado mais seguro, e usado em competições internacionais. Antigamente, existiam dois outros métodos, o autotow, no qual o planador é rebocado por um veículo que corre por uma estrada até que ele levante voo, e o bungee, no qual o planador é impulsionado por um estilingue gigante. Esses métodos são hoje considerados muito perigosos, e não são mais homologados pela FAI - embora valha citar como curiosidade que o bungee foi o método usado nas Olimpíadas de 1936.

Atualmente, a FAI reconhece sete classes de competição: 15 Metros (envergadura máxima de 15 m, peso máximo de 525 Kg), 18 Metros (envergadura máxima 18 m, peso máximo 600 Kg), 20 Metros (envergadura máxima 20 m, peso máximo 750 Kg, dois ocupantes), standard (idêntica à 15 Metros, mas não são permitidos elementos móveis, como flaps, nas asas), aberta (peso máximo 850 Kg, todo o resto livre), club (planadores de modelos antigos, normalmente menores mas mais pesados que os atuais) e 13,5 Metros (envergadura máxima de 13,5 m, todo o resto livre, podem ser usados lastros com água de até 35 Kg/m2 nas asas, que são liberados durante o voo). As provas são divididas em distância (ganha quem chegar mais longe), duração (ganha quem ficar no ar mais tempo), altitude (ganha quem alcançar uma determinada altitude em menos tempo), triângulo (ganha quem completar um trajeto em forma de triângulo em menos tempo) e circuito fechado (ganha quem completar um determinado circuito, passando por pontos de checagem, em menos tempo), sendo que este último também pode ser disputado na modalidade paralela (dois aviões realizam o circuito ao mesmo tempo, avançando para a próxima etapa quem completá-lo primeiro) ou grand prix (todos os aviões competem juntos, ganha quem chegar primeiro).

A principal competição do voo planado é o Campeonato Mundial, cuja primeira edição no masculino foi realizada em 1937, a segunda em 1948, então em intervalos de dois ou três anos, sendo anual desde 2012; o Mundial feminino é realizado a cada dois anos, com a primeira edição tendo sido realizada em 2001. Todas as sete classes participam do Mundial masculino, mas apenas as classes club, standard e 15 Metros participam do feminino, e todas as provas são de distância. Desde 2005, a FAI também realiza, anualmente, o Sailplane Grand Prix, um circuito mundial com nove etapas em diferentes países, nas quais os pilotos ganham pontos por sua colocação nas provas, sendo campeão o que tiver mais pontos ao final da última etapa; o Grand Prix é disputado na classe 15 Metros, em circuito fechado grand prix, e homens e mulheres competem juntos. Finalmente, o voo planado faz parte, desde a primeira edição, em 1997, dos Jogos Aéreos Mundiais, competição realizada pela FAI a cada quatro anos que reúne todos os esportes regulados por ela; nesse torneio, a competição é masculina, de circuito fechado paralelo, classe 15 Metros.

A maioria das competições de voo planado, porém, não ocorre em campeonatos, e sim de forma individual, com um determinado piloto anunciando que tentará realizar um determinado feito, e delegados da FAI acompanhando a tentativa, para verificar se todos os requisitos e normas de segurança estão sendo observados, e homologar um novo recorde caso o antigo seja batido. A FAI reconhece, atualmente, 29 tipos de recorde: altitude absoluta, distância em linha reta, distância em circuito fechado, distância com até três curvas, distância ida e volta, distância em triângulo, distância livre, distância livre com até três curvas, distância livre ida e volta, distância livre em triângulo, distância absoluta, distância até objetivo, distância até objetivo declarado, duração, duração ida e volta, ganho de altitude, velocidade em circuito fechado maior que 1 Km, velocidade ida e volta em circuito de até 500 Km, até 1.000 Km, até 1.500 Km, até 2.000 Km, velocidade em triângulo até 100 Km, 200 Km, 300 Km, 500 Km, 750 Km, 1.000 Km, 1.250 Km e 1.500 Km. Curiosamente, esses recordes não são agrupados de acordo com a classe de competição, e sim de acordo com oito subcategorias: planador de único assento (D1), planador motorizado de único assento (D1M), planador de dois assentos (D2), planador motorizado de dois assentos (D2M), planador classe 15 Metros (D15), planador classe aberta (DO), planador classe mundial (DW) e ultraleve (DU). Como as classes de competição não correspondem diretamente às subcategorias, pilotos de diferentes classes às vezes competem pelo mesmo recorde.

Além de regular a modalidade e sancionar os recordes, a FAI confere insígnias aos pilotos: um piloto que tenha alcançado uma altitude de pelo menos 1.000 m, voado pelo menos 50 Km em linha reta e pilotado de forma contínua por pelo menos cinco horas (não necessariamente os três feitos em um mesmo voo) ganha uma insígnia de prata, enquanto um piloto que já tenha a insígnia de prata, voe pelo menos 300 Km de forma contínua e alcance altitude de pelo menos 3.000 m, ganha a insígnia de ouro. Um piloto que tenha uma insígnia de ouro pode acrescentar até três diamantes a ela: um quando alcançar uma altitude de pelo menos 5.000 m, um quando voar pelo menos 500 Km de forma contínua, e um quando voar pelo menos 300 Km de forma contínua com local de pouso pré-determinado (conhecido como objetivo); uma insígnia de ouro com os três diamantes é conhecida como uma insígnia de diamante. Mais do que prestígio ou certificação, as insígnias são pré-requisito para que os pilotos participem de determinados campeonatos ou tenham suas tentativas de quebra de recorde autorizadas pela FAI.

E vamos terminar com o verdadeiro motivo de eu ter decidido escrever esse post, o kaatsen. Originalmente, eu ia falar sobre kaatsen no post sobre a pelota basca, mas, como ele já estava meio grande, acabei desistindo. Como eu estava com muita vontade de falar sobre kaatsen, a saída encontrada foi juntar outros esportes de demonstração no mesmo post que ele. O kaatsen, no caso, foi esporte de demonstração nas Olimpíadas de 1928, realizadas em Amsterdã. Participaram apenas dois times, ambos holandeses.


O kaatsen também é descendente do jeu de paume, e, portanto, nele os jogadores rebatem a bola com as mãos - embora no kaatsen seja permitido aos jogadores usar uma luva especial de couro na mão que usarão para rebater, visando evitar lesões e permitir maior impulso à bola, que também é feita de couro, tem entre 6,5 e 6,8 cm de diâmetro e pesa 24 g. O kaatsen é jogado por equipes de três jogadores cada, sem reservas.

O kaatsen é jogado em um campo gramado bastante grande, de 61 m de comprimento por 32 m de largura. A 19 m de uma das linhas de fundo há uma linha cheia, chamada linha de frente; a linha de fundo mais próxima da linha de frente se chama, muito apropriadamente, linha de trás (a outra se chama linha de fundo mesmo). Ligando a linha de frente à linha de trás são traçadas outras duas linhas, cada uma a 13,5 m da linha lateral mais próxima; essas duas linhas formarão com a linha de fundo e a linha de frente uma "caixa", chamada perk, de 5 m de largura por 19 m de comprimento. Finalmente, a 19 m da linha de fundo, é traçada outra caixa, paralela ao perk, de 5 m de largura por 2 m de comprimento, dividida em duas metades de 1 m de comprimento cada. Essa caixa é a área de serviço.

Sempre durante uma jogada, um dos times estará atacando enquanto o outro estará defendendo. Dois jogadores do time que está defendendo se posicionarão dentro do perk, com o outro ficando à frente da linha de frente; todos os três jogadores do time que está atacando deverão ficar entre a linha de frente e a linha de fundo. No início da jogada, um dos jogadores do time que está atacando se posicionará dentro da área de serviço e sacará a bola em direção ao perk. Um dos jogadores que está dentro do perk, então, poderá rebatê-la. A partir de então, os jogadores que estão dentro do perk poderão se movimentar livremente entre a linha de frente e a linha de trás, mas o jogador do time que está defendendo que começou a jogada fora do perk não poderá passar da linha de frente. Os jogadores, então, rebatem a bola de um para o outro, com o jogo funcionando mais ou menos como uma partida de tênis em trios e sem rede, com a bola podendo quicar no campo uma vez antes de um jogador rebatê-la, até que um dos times marque um ponto ou ocorra um kaats.

Os pontos sempre são marcados em múltiplos de dois: se, após o saque, a bola quicar no gramado pela primeira vez antes da linha de frente, depois da linha de trás, ou entre essas duas linhas mas fora do perk, o time que está defendendo ganhará dois pontos. Se a bola quicar pela primeira vez dentro do perk, e então uma segunda vez em qualquer outro lugar do campo ou fora dele, o time que está atacando é que ganhará dois pontos. Se o time que está defendendo rebater a bola, e ela sair pela linha de fundo antes de quicar fora do campo, ganhará dois pontos. Se o time que está atacando rebater a bola, e ela quicar pela primeira vez antes da linha de frente, o time defendendo ganhará dois pontos. O primeiro time a marcar 6 pontos ganha um Eerst, o primeiro a ganhar seis "Eersts" ganha um set, e o primeiro a ganhar dois sets ganha o jogo. Um set sempre começa com os times em posição invertida à que começaram o set anterior (o time que começou o primeiro set atacando começará o segundo defendendo e vice-versa).

E o tal do kaats? Bem, como vocês já devem ter imaginado, é do kaats que o esporte tira seu nome, sendo kaatsen o plural de kaats. Especificamente, kaats é o nome de um cubo de madeira, de 10 cm de altura, usado para marcar o local dos pontos "indefinidos": toda vez que o time que está defendendo rebater a bola, e ela quicar a primeira vez dentro do campo e a segunda em qualquer outro lugar, dentro ou fora do campo, sem que o time que está atacando consiga rebatê-la, será marcado um ponto indefinido, e no local onde a bola quicou pela primeira vez, será colocado um kaats de cor branca (kaats, em holandês, aliás, significa "quique", do ato de quicar). Se já houver um kaats branco no campo, será colocado um segundo, de cor vermelha. Toda vez que o kaats vermelho for colocado no campo, os times inverterão suas funções, com o time que estava atacando passando a defender e o time que estava defendendo passando a atacar - fora o início de set, essa é a única forma dos times mudarem de função, não ocorrendo essa mudança após cada Eerst, como alguns poderiam estar imaginando.

Após a troca de função, novas formas de pontuar entram em jogo: se o kaats branco estiver no campo, e o time que está defendendo fizer a bola quicar dentro do campo, após uma linha imaginária traçada paralelamente à linha de fundo no ponto onde está o kaats branco, e depois em qualquer outro lugar, dentro ou fora do campo, sem que o time que está atacando consiga defendê-la, ganhará dois pontos, e o kaats branco será removido. Se o kaats branco não estiver no campo, mas estiver o vermelho, vale a mesma regra, mas com uma linha traçada no ponto onde está o kaats vermelho, e este sendo removido em caso de sucesso. Caso a bola quique pela primeira vez antes da linha traçada no ponto onde está o kaats "da vez", o time atacando é que ganhará os dois pontos, e o kaats fica onde está. Após o kaats vermelho ser removido, voltam as regras "normais", incluindo a dos pontos indefinidos. Caso um time alcance os seis Eersts, é possível o jogo acabar com algum kaats dentro de campo.

O kaatsen é jogado praticamente apenas na Holanda, mais especificamente na região da Frísia, no norte do país, fato que lhe rendeu o apelido de handebol frísio ou pelota frísia. Não se sabe bem como o esporte teria surgido, mas existem registros de partidas realizadas na Frísia desde o início do século XIX. O torneio mais antigo de kaatsen data de 1854, e ainda é realizado anualmente, na cidade de Franeker, com a presença de dezenas de times amadores.

A maior parte dos jogadores de kaatsen, aliás, é amador, e a maioria das partidas é realizada de modo informal, sem torneios ou prêmios ou coisa do tipo. Junte-se a isso o fato de que, fora da Holanda, o esporte é praticamente desconhecido, e não será surpresa o fato de que o kaatsen não possui uma federação internacional. Atualmente, o esporte é regulado pela Federação Holandesa de Kaatsen e Jeu de Balle (KNKB, da sigla em holandês), que é filiada a duas federações internacionais, as já citadas no post sobre pelota basca FIPV (Federação Internacional de Pelota Basca) e CIJB (Confederação Internacional de Jeu de Balle). A KNKB se filiou a essas federações visando popularizar o kaatsen internacionalmente - empreitada na qual, infelizmente, anda obtendo pouco sucesso.

Pois bem, no post sobre a pelota basca eu falei sobre a FIPV, mas não sobre a CIJB. Fundada em 1928 pela união das federações nacionais de jeu de balle de Bélgica, Holanda e França, e hoje contando com 18 membros - incluindo todos os países da América do Sul menos o Brasil - a CIJB regula internacionalmente três esportes, o frontón internacional, que nós já vimos, o llargues e o jeu de balle, que veremos rapidinho agora.

O jogo que dá nome à CIJB, o jeu de balle, é originário da Bélgica, e surgiu mais ou menos junto com o kaatsen. É disputado em um campo de concreto de 70 m de comprimento por 20 m de largura, dividido no meio por uma linha cheia; a 23 m de cada linha de fundo é marcada uma linha de serviço, dentro da qual, a 9 m de cada linha de lado, é marcada, também com linhas cheias, uma caixa ao estilo do perk, de 8 por 23 m, chamada área de serviço. As equipes são formadas por cinco jogadores cada, com direito a uma substituição, mas um jogador que saia não pode mais voltar. O saque deve ser feito de dentro da área de saque, com os outros quatro do mesmo time permanecendo fora dela, e os jogadores se alternam no saque tanto dentro da própria equipe como de uma equipe para a outra - primeiro saca o jogador 1 da equipe A, então o 1 da equipe B, então o 2 da equipe A, o 2 da equipe B, e assim por diante. Após o saque, os times deverão rebater a bola (feita de borracha e com 5 cm de diâmetro) com as mãos - sem o auxílio de luvas, mas podendo usar esparadrapos - um para o outro, podendo deixá-la quicar uma vez antes de rebater, até que um dos times cometa um erro - deixar a bola quicar duas vezes, rebater a bola para fora, não conseguir fazer a bola passar pela linha do meio do campo etc. Curiosamente, a pontuação é a mesma do tênis (15, 30, 40 e então game, sendo que, a cada game, os times mudam de lado) mas o jogo não é disputado em melhor de sets, e sim em um tempo pré-determinado: ao final de 40 minutos, a equipe com mais games vence o jogo; se houver empate, vence quem tiver mais pontos naquele game, e, persistindo o empate, é jogado um último e derradeiro ponto.

Já o llargues é uma variante do jeu de balle inventada na América Latina, e bastante praticada por nossos vizinhos. O campo do llargues também é de concreto, e tem 72 m de comprimento, mas não é retangular, tendo um estranho formato de funil: de um dos lados do campo fica a linha de saque, que tem 19 m de comprimento; a 30 m dela, fica a linha de falta, que tem apenas 8 m, e, a 42 m da linha de falta, fica a linha de fundo, com 10 m; a linha de saque é ligada à linha de falta e a linha de falta à linha de fundo por suas extremidades, formando dois trapézios, um mais largo, outro mais estreito. Centrado na linha de saque há um retângulo de 1 m de largura por 5 m de comprimento, dentro do qual o jogador deverá ficar quando estiver sacando - e, após sacar, a bola deverá quicar além da linha de falta para o saque ser válido.

Os times de llargues também são de cinco jogadores cada, mas com direito a dois reservas e substituições ilimitadas. Assim como no kaatsen, a cada jogada um dos times estará atacando - tendo direito ao saque e jogando dentro do trapézio mais largo - enquanto o outro estará defendendo - se posicionando dentro do trapézio mais estreito. Apenas dois jogadores do time atacando, escolhidos previamente antes de a partida começar, poderão sacar, e se alternarão entre si no saque. Após o saque, os times deverão rebater a bola (feita de couro, com 7 cm de diâmetro e 39 gramas de peso) com as mãos um para o outro, podendo deixá-la quicar uma vez antes de rebater, até que um dos times cometa um erro. A pontuação é a mesma do tênis e do jeu de balle, mas ganha o jogo o time que fizer 6 games primeiro - exceto em uma final, quando ganha o time que fizer 10 games primeiro. A cada game, os times mudam de lado e de função, com o que estava atacando passando a defender e vice-versa.

Como já vimos, a CIJB organiza, a cada dois anos desde 1996, o Campeonato Mundial de Handebol. Nas três primeiras edições, o único esporte disputado nesse campeonato foi o llargues masculino, com o jeu de balle e o frontón internacional masculinos sendo incluídos em 2002, e o frontón internacional feminino em 2012. A partir de 2002, algumas edições incluíram também esportes regionais como "esportes de demonstração": o manito mendocino (2002, quando o torneio foi realizado na Argentina), o pallapugno (2004, Itália), a pelota equatoriana (2008, Equador), o kaatsen (2012, Holanda) e a pelota valenciana (2014, Espanha).

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