Godzilla vs. King Ghidorah
1991
Godzilla vs. Biolante foi um sucesso de crítica, e também não fez feio com o público; sua bilheteria, porém, ficaria abaixo do esperado pela Toho, que, apesar de ter considerado o filme um sucesso, e decidido ressucitar a série de filmes, resolveu começar com um pé atrás, fazendo uma pesquisa sobre o que o público não teria gostado no filme. Surpreendentemente, as maiores críticas do público foram justamente em relação ao que mais agradou aos críticos: o uso de um monstro novo. Aparentemente, no imaginário popular, Godzilla já tinha uma galeria de kaiju bastante popular, e um dos desejos do público era ver esses monstros clássicos adaptados para a nova cronologia.
Os produtores do filme, Tomoyuki Tanaka e Shogo Tomiyama, então, decidiriam por atualizar mais um filme da Série Showa: assim como O Retorno de Godzilla era uma atualização de Godzilla Contra-Ataca, o novo filme, chamado Godzilla vs. King Kong, seria uma atualização de King Kong vs. Godzilla, ambientado depois de Godzilla vs. Biollante, e trazendo a história para os dias atuais. Com a luz verde da Toho, eles chamaram novamente Kazuki Omori, diretor de Godzilla vs. Biollante, para escrever o roteiro e dirigir o filme.
A ideia dos produtores esbarraria, entretanto, em um problema de ordem prática: na época, quem detinha os direitos de King Kong era a Turner Entertainment, que pediu uma fortuna para que o gorila pudesse aparecer no filme de Godzilla. Não estando disposta a gastar tanto dinheiro sem saber se teria o retorno esperado, a Toho vetou o projeto. Não querendo abrir mão de sua ideia, Tanaka e Tomiyama decidiram aproveitar o roteiro e fazer um Godzilla vs. Mechanikong, usando o Kong robótico de seu filme King Kong Escapa. Dessa vez, porém, foi Omori quem se opôs. Temeroso de que a Turner pudesse alegar que Mechanikong violava seus direitos da mesma forma que se eles usassem o Kong original, ele decidiria reescrever o roteiro usando não qualquer gorila, mas o vilão mais famoso de Godzilla: seu arqui-inimigo King Ghidorah.
A história criada por Omori é bastante curiosa: o historiador Kenichiro Terasawa (Kosuke Toyohara) decide pesquisar sobre Godzilla, e acredita ter descoberto sua verdadeira origem: em 1944, durante a Segunda Guerra Mundial, um grupo de soldados japoneses estava encurralado por norte-americanos na Ilha de Lagos, no Pacífico Sul, quando um dinossauro, o qual Terasawa decidiu batizar de "godzillassauro", atacou os norte-americanos, permitindo que os japoneses escapassem. Dez anos depois, os Estados Unidos realizaram testes nucleares nessa mesma ilha, e a radiação das bombas causou uma mutação no godzillassauro, transformando-o em Godzilla. Só faltou explicar o que um dinossauro estava fazendo em uma ilha do Pacífico Sul em 1944.
Bem, seja como for, Terasawa está reunindo mais material para poder publicar um livro sobre o assunto quando uma nave espacial pousa no alto do Monte Fuji, trazendo quatro visitantes: Wilson (Chuck Wilson), Grenchko (Richard Berger), Emmy (Anna Nakagawa) e o androide M-11 (Robert Scott Field). Os quatro se autodenominam Futurianos, e dizem ter vindo do ano 2204 - para provar, eles trazem uma cópia do livro que Terasawa ainda está escrevendo. Segundo os Futurianos, no futuro o Japão será completamente destruído por Godzilla, mas eles têm uma forma de impedir que isso ocorra: usando sua tecnologia de viagem no tempo, eles podem voltar a 1944 e matar o godzillassauro, impedindo que a radiação o transforme em Godzilla. Por que eles resolveram dar uma paradinha em 1991 e avisar que iam fazer isso, eu nem desconfio.
Enfim, os Futurianos viajam a 1944 acompanhados de Terasawa, da médium Miki Saegusa (Megumi Odaka) e do cientista Professor Mazaki (Katsuhiko Sasaki). Lá, após o godzillassauro salvar os japoneses, eles o transportam para uma ilha no Mar de Bering, para que ele não esteja lá quando os americanos lançarem as bombas. Sem que ninguém perceba, porém, M-11 lança no mar três pequenas criaturas chamadas Dorats. Quando ocorrem os testes nucleares, a radiação funde os três, transformando-os em King Ghidorah. Sem Godzilla para impedi-lo, Ghidorah destruirá o Japão em 1991, a menos que o governo atenda a todas as exigências dos Futurianos, que o controlam.
O que os Futurianos não sabem, porém, é que o Godzilla criado em 1954 e o que atacou o Japão em 1984, ao contrário do que se acreditava até então, não são o mesmo: em 1984, um submarino nuclear russo afundou no Mar de Bering, e sua radiação transformou o godzillassauro levado para lá pelos Futurianos em um novo Godzilla - ou seja, eles não destruíram o primeiro, mas sim criaram o segundo. Esse Godzilla ruma para Tóquio para enfrentar King Ghidorah. Como Godzilla está ganhando, os Futurianos tentam uma última cartada para impedi-lo: retornam ao futuro trazendo Mecha King Ghidorah, um Ghidorah mecânico criado a partir do DNA do original. Godzilla, portanto, terá de travar uma batalha de vida ou morte contra uma versão cibernética de seu pior inimigo.
Lançado em 14 de dezembro de 1991, o filme seria um gigantesco sucesso de público e, mesmo com a história um tanto criativa demais, foi bastante elogiado pela crítica - japonesa, porque a crítica norte-americana não poupou reclamações, principalmente em relação à forma como os norte-americanos são retratados no filme, e ao fato de que os vilões são retratados como ocidentais. Mais uma vez, o filme não seria exibido nos cinemas dos Estados Unidos, com a versão internacional da Toho sendo lançada diretamente em VHS, e somente em 1998.
Vale citar, também, que a Toho teve o cuidado de colocar um nome diferente no filme, para que ninguém o confundisse com o de 1964, no qual Godzilla enfrentou Ghidorah pela primeira vez. Quem traduziu o título para o português, porém, aparentemente não teve essa mesma preocupação.
1992
Após o sucesso de Godzilla vs. King Ghidorah, a Toho decidiu pelo óbvio: uma atualização de Mothra vs. Godzilla, dessa vez com o título invertido, para mostrar que Godzilla era o personagem principal - ou quase: Mothra era o segundo monstro mais famoso da Toho, perdendo apenas para o próprio Godzilla, e o roteiro, escrito mais uma vez por Omori, focava principalmente nela, deixando Godzilla quase como um coadjuvante pego de surpresa na batalha entre Mothra e seu arqui-inimigo, Battra.
Um gigantesco meteoro cai bem no local onde Godzilla estava hibernando, acordando-o e causando um sério desequilíbrio ambiental. Pouco depois, o caçador de recompensas Takuya Fujita (Tetsuya Bessho) invade um antigo templo na Tailândia e rouba um artefato, mas é preso na saída. Na cadeia, ele recebe a visita de sua ex-mulher, Masako (Satomi Kobayashi), que diz que o secretário de meio-ambiente japonês lhe fez uma proposta: Takuya faria parte de uma equipe, liderada por Masako, enviada para explorar a misteriosa Ilha Infante, na costa da Indonésia, e estudar os efeitos ambientais da queda do meteoro. Em troca, ele teria sua pena de 15 anos de prisão perdoada. Sem muita opção, ele aceita.
Na Ilha Infante, Takuya, Masako e Kenji Ando (Takehiro Murata), representante de uma empresa que deseja explorar a ilha economicamente, encontram uma estranha caverna contendo um ovo gigante e duas mulheres de poucos centímetros de altura (Keiko Imamura e Sayaka Osawa), que se auto-intitulam Cosmos. Elas lhes contam uma lenda, segundo a qual, há milhares de anos, existia na Terra uma avançada civilização, protegida de todos os perigos por Mothra. Um dia, porém, essa civilização decidiu criar uma máquina capaz de controlar o clima, e o planeta, irritado, enviou um outro monstro, Battra, para destruí-los. Mothra e Battra se envolveram em uma luta épica, durante a qual a avançada civilização foi destruída e a máquina de controlar o clima entrou em parafuso, causando enchentes e nevascas. Battra, derrotada, foi soterrada na Sibéria, e Mothra se refugiou na Ilha Infante, onde, logo após colocar um ovo, morreu. O ovo permaneceu submerso até os dias de hoje, quando o desequilíbrio ambiental causado pelo terremoto fez com que a caverna na qual ele estava escondido subisse acima do nível do mar. O pior temor das Cosmos é que Battra também tenha sido libertada pelo desequilíbrio ambiental, caso no qual ela rumará diretamente para a Ilha Infante, para destruir o ovo, e depois tentará cumprir sua missão: destruir o mundo.
Evidentemente, é exatamente isso o que parece que vai acontecer: Battra se liberta após um terremoto e ruma diretamente para a Ilha Infante. Lá, Ando decide que o melhor a fazer é levar o ovo também para o Japão, onde ele ficará mais bem protegido - na verdade, seu chefe quer explorar o ovo como atração turística, mas ele não revela isso a ninguém. Enquanto o ovo está sendo levado para o Japão, Battra ataca os japoneses, sendo enfrentada pelo exército. Pior ainda, Godzilla ataca o navio que está levando o ovo, que, quando tudo parece perdido, choca, revelando uma larva de Mothra. Duas novas épicas batalhas, então, se desenrolam: Godzilla contra a larva de Mothra, e Mothra contra Battra com Godzilla no meio.
Lançado em 12 de dezembro de 1992, Godzilla vs. Mothra se tornaria o filme mais rentável da Série Heisei - como os ingressos na década de 1990 eram mais caros que na década de 1960, ele também é considerado o mais rentável de todos os filmes estrelados por Godzilla, mas, se os valores forem reajustados de acordo com a inflação, King Kong vs. Godzilla ainda é o primeiro, e Godzilla vs. Mothra apenas o quarto. Discussões econômicas à parte, o filme também conseguiria uma proeza relativamente difícil: por pouco não ultrapassaria Jurassic Park para se tornar o filme de maior bilheteria no Japão em 1993, terminando o ano em segundo lugar, logo atrás dos dinossauros de Spielberg. Além disso, somando as bilheterias de todos os países asiáticos, Godzilla vs. Mothra se tornaria o filme de kaiju mais assistido da história da Ásia, recorde que mantém até hoje. A crítica também receberia o filme positivamente, considerando as batalhas bem coreografadas e o roteiro o melhor de Godzilla em anos.
Muito do sucesso do filme se deve aos efeitos especiais de Koichi Kawakita: em seu terceiro filme seguido como chefe da equipe de efeitos visuais, ele estudaria as mais modernas técnicas, e convenceria a Toho a não poupar despesas nesse departamento. Godzilla vs. Mothra pode não ter ficado nenhum Jurassic Park, mas a melhora dos efeitos em relação aos demais filmes, mesmo os da Série Heisei, foi visível. Apesar de ter escrito o roteiro, Omori, já envolvido com outro projeto, optou por não dirigir o filme, sendo substituído por Takao Okawara, em seu segundo filme como diretor, após estrear com o terror Reiko e ser assistente de direção de Akira Kurosawa em Kagemusha e de Koji Hashimoto em O Retorno de Godzilla. Após anos afastado, Akira Ifukube retornaria para compor a trilha sonora de Godzilla vs. King Ghidorah; repetindo a dose em Godzilla vs. Mothra, ele seria elogiadíssimo, ganhando um prêmio da Academia Japonesa de Cinema por seu trabalho.
A roupa de Godzilla seria mais uma vez vestida por Kenpachiro Satsuma, o Godzilla oficial da Série Heisei, em sua quarta atuação seguida. Uma curiosidade envolvendo a roupa - a mesma usada nos dois filmes anteriores - foi que ela desapareceu misteriosamente durante a pré-produção, ficando sumida durante semanas. Foi uma senhora idosa, durante uma caminhada em uma das praias da Baía de Tóquio, quem descobriu a roupa na areia, bastante danificada. Ela informou à polícia, que entrou em contato com a Toho, que correu contra o tempo para restaurá-la a tempo de ser usada nas sequências subaquáticas do filme - a nova roupa que estava sendo produzida, devido ao prazo apertado, não seria impermeável, e as cenas subaquáticas corriam o risco de serem excluídas se a roupa roubada não tivesse sido encontrada.
Como de costume, Godzilla vs. Mothra ganharia uma versão internacional, produzida em Hong Kong. Essa versão seria lançada nos Estados Unidos, diretamente em VHS, pela Columbia Tri-Star em 1998, junto com Godzilla vs. King Ghidorah. Para evitar confusão com o filme de 1964, lançado nos Estados Unidos com o nome de Godzilla vs. Mothra, a Columbia adicionaria um subtítulo, o que faria com que o filme ficasse conhecido pelos norte-americanos como Godzilla and Mothra: The Battle for Earth.
1993
Depois de "ressucitar" King Ghidorah e Mothra, Tanaka decidiu que o próximo monstro clássico a aparecer em um filme da Série Heisei seria Rodan. Várias propostas foram analisadas, incluindo as óbvias "Godzilla enfrenta Rodan" e "Rodan ajuda Godzilla a enfrentar um outro monstro". No final, a Toho optaria pela segunda, pois o quadragésimo aniversário de Godzilla estava chegando, e ela queria aproveitar a oportunidade para relançar outro personagem popular: Mechagodzilla.
Após os eventos do filme anterior, a ONU decidiu criar uma agência especial para tentar deter os ataques de Godzilla, a UNGCC (da sigla em inglês para "centro de medidas de contenção de Godzilla das Nações Unidas"). Essa agência decide resgatar os restos mortais de Mecha King Ghidorah, e usá-los para construir o que eles consideram ser a arma definitiva na luta contra o monstro: uma versão mecânica de Godzilla, chamada Mechagodzilla. Com as peças que sobraram, provavelmente, eles também construíram uma aeronave militar chamada Garuda.
A construção de Mechagodzilla e da nave leva dois anos. Quando sua conclusão está quase no fim, uma expedição japonesa à ilha de Adonoa, no Mar de Bering, liderada por Kazuma Aoki (Masahiro Takashima), encontra um ninho gigantesco com dois ovos, um chocado e um ainda intacto. Eles tentam remover o ovo intacto para levar ao Japão para estudo, mas são atacados por Rodan, um pterodáctilo que sofreu mutação pela mesma radiação que criou Godzilla. Quando tudo parece perdido para a equipe, Godzilla surge e começa a enfrentar Rodan, o que dá a eles tempo para fugir com o ovo - que logo choca, revelando um Godzilla em miniatura, que a cientista Azusa Gojo (Ryoko Sano) decide chamar, muito inspiradamente, de Baby Godzilla.
Baby Godzilla possui um chamado telepático que atrai Godzilla para o Japão, o que dá à ONU a oportunidade perfeita para usar Mechagodzilla. Inesperadamanete, porém, durante a batalha, Rodan aparece e começa a atacar Mechagodzilla, o que leva a ONU a lançar Garuda contra eles. Ocorre, então, uma épica batalha entre Godzilla, Mechagodzilla, Rodan e Garuda.
Apesar de ter sido produzido para ser o filme de quadragésimo aniversário de Godzilla - e alardeado como tal, com toda a sua campanha de marketing focada nesse evento - Godzilla vs. Mechagodzilla seria lançado alguns meses antes da data oficial, em 11 de dezembro de 1993. A crítica elogiou bastante o filme, principalmente as lutas entre os monstros e a trila sonora, considerando-o um dos melhores da Série Heisei. O público, por outro lado, não se animou tanto; embora a Toho tenha considerado o filme um sucesso, sua bilheteria ficaria bem abaixo das dos dois anteriores.
A Toho convidaria Ishiro Honda, diretor do Godzilla original e de O Terror de Mechagodzilla, para dirigir o retorno de Mechagodzilla aos cinemas. Animado com a possibilidade de realizar mais um filme de Godzilla de qualidade, Honda aceitaria, mas, infelizmente, faleceria antes das filmagens começarem, em fevereiro de 1993, aos 81 anos, de causas não divulgadas. Okawara, então, o substituiria como diretor, dirigindo seu segundo filme de Godzilla seguido.
É interessante notar que o cuidado que a Toho teve de escolher um título diferente para o novo filme no qual Godzilla enfrentaria King Ghidorah ela deixou de lado na hora de batizar o novo filme no qual Godzilla enfrentaria Mechagodzilla, o que fez com que existissem dois filmes chamados Godzilla vs. Mechagodzilla, sem que o segundo fosse um remake do primeiro. Até mesmo a versão internacional do filme, lançada na Ásia, teria esse título.
Na hora de lançar o filme nos Estados Unidos, entretanto, a Columbia Tri-Star, para evitar confusão, decidiria chamá-lo de Godzilla vs. Mechagodzilla 2. Quando o filme foi lançado, em 1998 e exclusivamente em VHS, de fato a confusão de que seria o mesmo ou um remake do de 1974 não aconteceu. Muita gente, porém, achou que se tratava de uma continuação.
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