segunda-feira, 25 de junho de 2012

Escrito por em 25.6.12 com 1 comentário

Clássicos Disney (XI)

Hoje temos mais três Clássicos Disney, começando com um fato inédito!

Bernardo e Bianca na Terra dos Cangurus
The Rescuers Down Under
1990


Antes de A Pequena Sereia, era comum que os Clássicos Disney de sucesso fossem relançados nos cinemas, às vezes mais de uma vez - Branca de Neve e os Sete Anões, por exemplo, foi relançado nada menos que oito vezes. Bernardo e Bianca, o mais bem sucedido Clássico da Era de Vacas Magras que assolou a Disney nas décadas de 1970 e 1980, seria relançado duas vezes, em 1983 e 1989. O relançamento de 1983 também teria boa bilheteria - na verdade, quase tão boa quanto a do lançamento original - o que daria aos animadores da Disney uma ideia: como eles estavam mesmo precisando de um novo Clássico de sucesso, por que não tentar uma sequência?

Com essa ideia revolucionária em mente, a equipe começou a trabalhar em um roteiro, que começaria justamente de onde o primeiro filme parou. Conforme o roteiro se desenvolvia, entretanto, ele ficava cada vez mais focado em Penny e menos nos ratinhos, até que já não se justificava produzir o desenho como continuação de Bernardo e Bianca. Já achando que a ideia da sequência não era tão boa assim, a equipe decidiu engavetar a ideia e usar parte do que já havia sido escrito em outro Clássico, Oliver e Sua Turma.

Curiosamente, entretanto, durante a produção de Oliver, a discussão sobre a sequência de Bernardo e Bianca voltaria à tona, com uma solução surpreendentemente simples para o problema do roteiro: se a questão era que o roteiro havia ficado muito focado em Penny, bastava fazer o contrário - desenvolver um roteiro totalmente focado nos ratinhos, dispensando, inclusive, a menina. Todos voltaram a achar que a sequência seria uma boa ideia e, em 1987, começaria a produção de Bernardo e Bianca na Terra dos Cangurus, primeiro Clássico Disney a ser sequência de outro Clássico Disney - e, até o lançamento de Toy Story 2, única sequência produzida pela Disney a ser lançada nos cinemas, e não diretamente em DVD.

Durante a pré-produção, a equipe achou que seria melhor não fazer uma adaptação de mais um dos livros da série The Rescuers, de Margery Sharp, em cujos dois primeiros livros Bernardo e Bianca foram baseados, e sim apostar em uma ideia totalmente nova, desenvolvida pelos roteiristas Jim Cox, Karey Kirkpatrick, Byron Simpson e Joe Ranft. A opção por ambientar a história na Austrália (o Down Under do título original é um apelido posto pelos australianos em seu próprio país) se deveu a Hollywood estar vivendo um momento de cisma com a Terra dos Cangurus, causado, acreditem ou não, pelo sucesso de Crocodilo Dundee, que estreou por lá justamente em 1987.

Desta vez, Bernardo (Bob Newhart) e Bianca (Eva Gabor) têm de salvar Cody (Adam Ryen), um menino australiano que tem o dom de falar com os animais. Cody fica em perigo e envia a mensagem para a Sociedade Internacional de Resgate após ser capturado pelo ambicioso caçador Percival C. McLeach (George C. Scott), interessado em encontrar uma rara águia dourada, Marahute (Frank Welker), de quem o menino se tornou amigo. Bernardo e Bianca, então, rumam para a Austrália no albatroz Wilbur (John Candy), irmão do Orville do primeiro filme, e lá se aliam a Jake (Tristan Rogers), um rato australiano também membro da Sociedade, que os ajudará no resgate.

O elenco de Bernardo e Bianca na Terra dos Cangurus traz várias curiosidades. A intenção dos produtores era repetir o trio de protagonistas de Bernardo e Bianca, chamando os mesmos dubladores para Bernardo, Bianca e para o albatroz Orville. Bob Newhart e Eva Gabor (em seu último papel antes de falecer em 1995) repetiriam suas atuações como os ratinhos, mas Jim Jordan, o dublador de Orville, faleceria em 1988. Sem poder contar com ele, os produtores optariam por mudar o personagem, e assim nasceria Wilbur, irmão de Orville - curiosamente dublado por John Candy, que faleceria em 1994. Além de Bernardo e Bianca, o Secretário Geral da Sociedade Internacional de Resgate, Chairmouse, também teria o mesmo dublador do primeiro filme, Bernard Fox, que também dublaria um ratinho médico que atende Wilbur após uma contusão. As vozes da águia Marahute e do lagarto de estimação de McLeach, Joanna, ficariam a cargo de Frank Welker, um dos mais famosos dubladores dos Estados Unidos, especialmente popular na década de 1980, quando dublou vários personagens de Transformers, incluindo Megatron, Smurfs e Comandos em Ação, e especializado em vozes de animais, já tendo trabalhado em mais de duzentos desenhos apenas dublando bichos - inclusive a Uni de Caverna do Dragão.

Bernardo e Bianca na Terra dos Cangurus seria o primeiro Clássico Disney totalmente animado usando a tecnologia CAPS, desenvolvido pela Pixar, e que tornaria o uso de células de animação obsoletas. Com o CAPS, os desenhos em preto e branco e planos de fundo feitos pelos desenhistas eram digitalizados, e então artefinalizados, coloridos, animados e enquadrados por um programa de computador, que ainda permitia vários efeitos de câmera diferentes. O resultado final, então, era diretamente transferido para a película, sem a necessidade de câmeras tradicionais. Além de cortar imensamente os custos e reduzir o tempo de produção, o CAPS ainda facilitava o uso de sequências de computação gráfica incorporadas ao desenho - como a do campo das flores na abertura e a do voo de Wilbur sobre a Ópera de Sydney. Curiosamente, temendo rejeição do público se soubesse que o desenho não foi feito da forma tradicional, a Disney optou por não fazer qualquer referência ao CAPS ou à computação gráfica durante o lançamento, o que faria com que o pioneirismo de Bernardo e Bianca na Terra dos Cangurus, primeiro longa-metragem totalmente montado e editado por computador, só fosse conhecido anos mais tarde, quando o processo se tornaria padrão.

Mesmo com toda a economia de tempo do CAPS, Bernardo e Bianca na Terra dos Cangurus ainda levaria três anos para ficar pronto, estreando nos cinemas em 16 de novembro de 1990 - o relançamento de Bernardo e Bianca em 1989 já fazia parte dos preparativos para sua estreia. Talvez eclipsado pelo sucesso de A Pequena Sereia, talvez porque a moda da Austrália já tivesse passado na época, o desenho não fez sucesso, custando 38 milhões de dólares e rendendo 47 nas bilheterias. Seu desempenho foi tão ruim nas primeiras semanas que a Disney decidiu cancelar sua campanha de marketing para a TV, acreditando que estava jogando dinheiro fora, e que não conseguiria atrair novos espectadores com ela. A crítica se dividiu, com alguns o elogiando - e até o considerando melhor que o original - e outros reclamando que seu roteiro era fraco e sua ambientação inconsistente - o TV Guide, por exemplo, publicou que, mudando os cenários e os sotaques, a história poderia ser ambientada em qualquer país do mundo.

Essa falta de sucesso acabaria gerando um efeito colateral curioso: embora tenha sido lançado no período de 1989 a 1999 e depois de A Pequena Sereia, Bernardo e Bianca na Terra dos Cangurus não é considerado por quase ninguém como parte da Renascença Disney. Se não fosse a própria Disney, aliás, corria o risco de muitos nem o considerarem um dos Clássicos.

A Bela e a Fera
Beauty and the Beast
1991


Logo após concluir Branca de Neve e os Sete Anões, Walt Disney pensou em escolher a fábula La Belle et la Bête, de Jeanne-Marie Le Prince de Beaumont, conhecida em português como A Bela e a Fera, para ser seu próximo longa-metragem. Enquanto tentava adaptar a história, a equipe de produção lhe recomendou que desistisse, pois não estava conseguindo chegar a um resultado satisfatório. Na década de 1950, após o lançamento de Cinderela, a equipe sugeriu que o projeto fosse retomado, mas dessa vez foi Disney que não quis, pois o francês Jean Cocteau havia acabado de lançar, em 1946, um filme com atores baseado na mesma fábula.

Assim, o projeto iria para a gaveta, de onde só sairia em 1988. Na época, a Disney havia montado um estúdio em Londres, Inglaterra, para ajudar na produção de Uma Cilada para Roger Rabbit. Para que esse estúdio não ficasse ocioso, Michael Eisner, CEO da Disney na época, deciciu ressucitar a ideia de fazer um desenho de A Bela e a Fera, incumbindo o estúdio londrino de fazê-lo. Richard Williams, que dirigiu algumas das sequências animadas de Roger Rabbit foi convidado para dirigir, mas não aceitou, recomendando o inglês Richard Purdum. Purdum convidaria a roteirista Linda Woolverton, que começaria a escrever o roteiro de uma versão não-musical, ambientada na França da Era Vitoriana. A princípio, o desenho não seria mais um Clássico, apenas mais um lançamento dos Estúdios Disney.

Mas Jeffrey Katzenberg, presidente da Disney em 1989, tinha outros planos. Após ler o roteiro preliminar de Woolverton, ele ordenou que este fosse descartado, que o projeto recomeçasse do zero, e que dessa vez fosse um desenho musical ao estilo de A Pequena Sereia, que seria lançado como o próximo Clássico Disney. Purdum pediu demissão, e Katzenberg convidou Ron Clements e John Musker, diretores de A Pequena Sereia, para o projeto, que recusaram justamente por estarem estafados após todo o trabalho que tiveram com Ariel. Katzenberg, então, surpreendeu, e convidou os estreantes Kirk Wise e Gary Trousdale, que, até então, só haviam dirigido curtas que faziam parte de atrações dos parques Disney. Mas, se não conseguiu convencer uma das duplas de A Pequena Sereia, Katzenberg conseguiria convencer a outra: Howard Ashman e Alan Menken, os responsáveis por sua trilha sonora, convidados a fazer do desenho, mais uma vez, um musical ao estilo dos da Broadway. Ashman, entretanto, estava muito doente devido a complicações decorrentes da AIDS, e pediu para que a produção se mudasse do estúdio de Londres para o de Nova Iorque, mais próximo de sua casa - ele viria a falecer nove meses antes da estreia do filme, não chegando a ver sua versão final. Katzenberg atendeu, e, assim, o projeto que havia começado unicamente para que o estúdio londrino não ficasse ocioso acabaria não desempenhando seu papel principal.

O novo roteiro seria escrito por uma grande equipe, capitaneada por Woolverton. Como a história original só tinha dois personagens, eles precisaram inventar muitos mais, criando os objetos animados do castelo da Fera como apoio cômico, e um caçador apaixonado por Bela para ser o vilão - elementos que aproximariam o Clássico Disney do filme de Cocteau, no qual Bela também tinha um pretendente bobalhão e alguns objetos do castelo da Fera eram animados, embora sem personalidades próprias como no desenho. Devido ao descarte do roteiro original, a equipe de produção teve de trabalhar com um prazo apertado, para que o plano de se lançar um novo Clássico Disney a cada ano pudesse ser cumprido; isso fez com que o CAPS viesse mais a calhar do que nunca - graças a ele, a produção do desenho ficaria pronta em tempo recorde, e graças a inovações em seu software ele seria animado e vívido como há muito tempo um desenho Disney não conseguia ser, se aproximando do estilo dos primeiros Clássicos, como Branca de Neve e Pinóquio. Justamente para que o resultado final ficasse próximo da aparência dos primeiros Clássicos, os animadores inicialmente não quiseram incluir nenhuma cena em computação gráfica, como já vinha se tornando padrão nos Clássicos Disney, mas acabaram convencidos por um dos técnicos do CAPS a incluir uma única cena, a da valsa de Bela e da Fera no salão do castelo. Curiosamente, esta cena faria tanto sucesso - inclusive entre os animadores - que a Disney passaria a investir cada vez mais em computação gráfica, sempre buscando integrá-la aos desenhos de forma que o público tivesse dificuldades para distinguir o que era feito pelo computador e o que fora feito à mão.

No desenho, Bela (Belle no original, voz de Paige O'Hara) é uma jovem pobre que vive com seu pai, o invetor maluco Maurice (Rex Everhart), em um pequeno vilarejo no interior da França. Bela possui um pretendente, o forte, másculo e egocêntrico Gaston (Richard White), caçador sempre acompanhado do puxa-saco Lefou (Jesse Corti; como curiosidade, le fou significa "o louco" em francês). Todas as moças da vila cobiçam Gaston, mas Bela o acha um bobalhão, e está mais interessada em seus livros, o que faz com que ela seja vista como esquisita por seus vizinhos.

Um dia, o pai de Bela está indo para uma feira quando se perde e acaba invadindo o castelo da Fera (Robby Benson), um monstro horrível e anti-social que mora nas redondezas do vilarejo, sendo feito seu prisioneiro. Ao saber do ocorrido, Bela vai até lá e se oferece para trocar de lugar com ele, ficando encarcerada enquanto o pai ganha a liberdade. A Fera aceita, e Bela passa a viver no castelo, em companhia dos objetos animados que fazem às vezes de criados da Fera: o candelabro Lumière (Jerry Orbach), o relógio Horloge (Cogsworth no original, voz de David Ogden Stiers, famoso ator de TV, em sua primeira de muitas participações como dublador Disney), o Guarda-Roupa (Jo Anne Worley), o espanador Fifi (Kimmy Robertson), o bule Madame Samovar (Mrs. Potts no original, samovar é uma espécie de bule de chá russo, voz de Angela Lansbury) e seu filho, a xícara Chip (Bradley Michael Pierce).

Enquanto está prisioneira, Bela acaba descobrindo a triste história da Fera: ele é, na verdade, um Príncipe, amaldiçoado por uma feiticeira por tê-la maltratado no passado. O Príncipe só deixará de ser Fera quando alguém se apaixonar verdadeiramente por ele, algo que, evidentemente, começa a acontecer com Bela. Mas o tempo é curto: além de a maldição ter um prazo fatal para se tornar permanente - quando cair a última pétala de uma rosa que a Fera mantém sob uma redoma - Gaston decide juntar a população do vilarejo para invadir o castelo, matar a Fera e salvar Bela.

A Bela e a Fera se tornaria um dos maiores sucessos da história da Disney: com orçamento de 25 milhões de dólares, renderia mais de 145 milhões, se tornando o primeiro filme de animação da história a render mais de 100 milhões de dólares em sua exibição original, o mais rentável Clássico Disney de todos os tempos, e o terceiro maior sucesso de 1991, atrás apenas de O Exterminador do Futuro 2 e Robin Hood, Príncipe dos Ladrões. O desenho também seria aclamado pela crítica, que o comparou aos grandes Clássicos do passado e elogiou especialmente Bela, uma verdadeira heroína do final do século XX, que luta por seus interesses ao invés de se submeter às circunstâncias.

A Bela e a Fera seria indicado a nada menos que seis Oscars, de Melhor Trilha Sonora, Melhor Edição de Som, três de Melhor Canção Original (Beauty and the Beast, Belle e Be Our Guest), e se tornando o primeiro longa metragem de animação da história a ser indicado ao Oscar de Melhor Filme. Esse ele infelizmente não ganhou, levando apenas os de Melhor Trilha Sonora e Melhor Canção Original por Beauty and the Beast - canção que seria a primeira na história dos Clássicos Disney a ter duas versões, a do filme, cantada por Angela Lansbury, e uma "versão comercial", cantada por Céline Dion e Peabo Bryson, gravada especialmente para tocar nas rádios e ajudar a divulgar o filme. A Bela e a Fera seria indicada ainda a quatro Globos de Ouro, de Melhor Filme Musical ou Comédia, Melhor Trilha Sonora e dois de Melhor Canção Original, por Beauty and the Beast e Be Our Guest, só não ganhando esse último (até porque não dá para ganhar os dois); e a oito Grammys, de Melhor Álbum Infantil, Melhor Composição Instrumental para Filme, Melhor Performance Pop de Grupo ou Dueto Vocal, Melhor Canção Escrita Especificamente para Filme ou Série de TV, Melhor Performance Instrumental Pop, Gravação do Ano, Canção do Ano (esses cinco últimos para Beauty and the Beast) e Álbum do Ano, não ganhando esses três últimos.

Lançado em 13 de novembro de 1991, A Bela e a Fera teria uma pré-estreia em setembro do mesmo ano no Festival de cinema de Nova Iorque. Essa versão, porém, só estava 70% completa, apresentando storyboards e rascunhos no lugar das sequências faltantes - e, ainda assim, foi aplaudida de pé. A Disney planejava relançá-lo em 1998 para concorrer com O Príncipe do Egito, mas, por motivos de agenda (leia-se outros filmes do estúdio para estrear na mesma época), acabou desistindo. Um trabalho de restauração, remasterização e reinclusão de uma cena descartada já havia sido iniciado, entretanto, e a Disney acabaria decidindo por levá-lo adiante e lançar uma "versão estendida" do desenho no primeiro dia de 2002. Além dessas três versões (original, incompleta e estendida), o filme ainda ganharia uma versão sing along ("cante junto"), na qual a letra das canções aparecia na tela para a plateia cantar junto com o filme, que ainda contava com uma introdução mostrando cenas dos bastidores e entrevistas com os dubladores, que estrearia em cinemas selecionados dos Estados Unidos em setembro de 2010; e uma versão em 3D, que estrearia em setembro de 2011.

A Bela e a Fera ainda teria duas "sequências" lançadas diretamente em vídeo - entre aspas porque, na verdade, suas histórias se passam durante os eventos do filme, enquanto Bela ainda vive no castelo da Fera. Em A Bela e a Fera: O Natal Encantado (Beauty and the Beast: The Enchanted Christmas), de 1997, Lumière e Horloge discutem sobre quem teria trazido o Natal de volta ao Castelo - proibido pela Fera durante o período da maldição - e Madame Samovar decide lhes contar a verdadeira história do primeiro Natal de Bela no Castelo; já O Mundo Mágico de Bela (Belle's Magical World), de 1998, é composto de quatro episódios, nos quais Bela e a Fera se envolvem em confusões graças aos objetos animados do castelo. O desenho também daria origem a uma série com atores, Sing Me a Story with Belle, exibida pelo Disney Channel entre 10 de setembro de 1995 e 11 de dezmbro de 1999, no qual Bela é a dona de uma livraria, visitada por crianças para as quais ela conta histórias. Finalmente, A Bela e a Fera seria o primeiro Clássico Disney a ser adaptado para um musical da Broadway, ficando em cartaz de abril de 1994 até julho de 2007 - mais de 13 anos de sucesso.

Aladdin
1992


Em 1988, o compositor Howard Ashman, na época trabalhando em A Pequena Sereia, levou a Michael Eisner, CEO da Disney, uma ideia para um novo Clássico: ele sempre quis trabalhar em uma versão cinematográfica de Aladdin, um dos contos do famoso livro As Mil e Uma Noites, e um desenho musical da Disney, no estilo de A Pequena Sereia, lhe parecia a oportunidade perfeita. Eisner aprovou o projeto, Ashman criou várias canções em parceria com Alan Menken, e escreveu um roteiro preliminar, que entregou a Linda Woolverton, responsável pelo roteiro final. John Musker e Ron Clements, diretores de A Pequena Sereia, embarcaram na ideia, e a leveram para Jeffrey Katzenberg, presidente da Disney. Que detestou, achando que a história não empolgava.

Musker e Clements, porém, acreditavam na ideia, e decidiram pedir para os roteiristas Ted Elliott e Terry Rossio reescreverem o roteiro, mudando vários detalhes: Aladdin, originalmente, teria treze anos, uma mãe, e sua imagem seria inspirada em Michael J. Fox; na nova versão, ele tinha dezoito anos, era órfão e se parecia com Tom Cruise. Originalmente, Jasmine, a princesa, era submissa e esperando por seu príncipe encantado, bem ao estilo das Princesas Disney dos primeiros Clássicos; na nova versão ela seria forte, determinada e lutando pelo que quer como Ariel e Bela. E até mesmo o papagaio Iago, originalmente de sotaque e fleuma britânicos, ficou raivoso e cômico. Finalmente, como Musker achava que a história original de As Mil e Uma Noites não tinha uma moral digna de um desenho Disney - Aladdin simpelsmente encontra a lâmpada, realiza seus desejos e, quando ela lhe é roubada, luta por reavê-la - decidiu incluir cenas que sugerissem que o mais importante na vida é ser quem você é, e que desejos realizados podem parecer fantásticos de início, mas trazem consequências problemáticas. Com as mudanças, Katzenberg aprovou o projeto, que entrou imediatamente em produção. Infelizmente, Ashman, seu idealizador, faleceria de complicações relacionadas à AIDS antes de sua conclusão, tendo algumas de suas composições incompletas, inclusive, sido terminadas por Tim Rice.

Na cidade árabe de Agrabah, o malvado conselheiro Jafar (Jonathan Freeman) e seu papagaio Iago (Gilbert Gottfried) tramam conseguir a lendária Lâmpada Mágica, que concede três desejos a seu dono, e usá-la para tomar o poder do Sultão (Douglas Seale), a quem já vêm manipulando há algum tempo. Meio avoado, o Sultão não percebe o intento maligno de seu conselheiro, e está mais preocupado em casar sua filha Jasmine (Linda Larkin), uma princesa rebelde que só quer se casar por amor e está de saco cheio da vida no palácio. Um dia, jasmine foge disfarçada, e esbarra com o ladrão Aladdin (Scott Weinger), um órfão que vive nas ruas de Agrabah em companhia de seu macaco Abu (Frank Welker). A fuga de Jasmine é descoberta e ela é reconduzida ao palácio, mas Aladdin já está irremediavelmente apaixonado por ela. Ao ver que ele é puro de coração - pré-requisito para se retirar a Lâmpada Mágica da tumba onde está escondida - Jafar se disfarça e o ilude. Aladdin e Abu realmente conseguem pegar a lâmpada, mas, ao descobrir que ela contém um gênio (Robin Williams) capaz de realizar três de seus desejos, ele decide usá-la em proveito próprio - para conquistar o coração de Jasmine. Enquanto isso, Jafar, evidentemente, fará de tudo para pôr as mãos na lâmpada e realizar seus próprios desejos malignos.

Aladdin mais uma vez traria grandes inovações para as animações Disney: por sugestão do designer de produção Richard Vander Wende, todos os personagens teriam seus traços inspirados nas caricaturas de Al Hirschfeld, exceto o vilão, Jafar, justamente para que ele se destoasse dos demais. A cidade fictícia de Agrabah, onde a história se desenrola, seria inspirada em fotos de Isfahan, Irã, terra natal do supervisor de layout Rasoul Azadani. As cores também seriam escolhidas propositalmente, com os heróis usando tons de azul, os vilões tons de vermelho, e a cidade sendo do neutro amarelo. No geral, a aparência do desenho, especialmente do gênio, lembra bastante o filme O Ladrão de Bagdá, de 1947, um dos preferidos de Musken. E, graças a avanços na computação gráfica, pouco se percebe quais cenas foram feitas no computador e quais à mão - a cena na qual a caverna desmorona, por exemplo, é toda feita por computador, exceto o tapete voador - a própria pintura do tapete, aliás, foi feita digitalmente em todo o filme.

O elenco de Aladdin seria quase todo escolhido através de testes. O primeiro aprovado seria Jonathan Freeman, o Jafar, originalmente um vilão irritante, mas durante a produção alterado para um vilão calmo e controlado, o que, segundo os produtores, pareceria mais aterrorizante. Freeman passaria um ano e nove meses gravando suas falas, principalmente porque teria que regravar algumas delas após as vozes de Aladdin e Jasmine serem escolhidas, já que os produtores desejavam que ele sempre soasse como uma ameaça à dupla de protagonistas. Para dublar Aladdin foi escolhido Scott Weinger, que mandou para a Disney uma fita demo com seu teste, no qual sua mãe interpretava o gênio. Antes de receber a fita, os produtores haviam optado por Brad Kane, que ficaria responsável pela voz de Aladdin nas canções, já que não gostaram de Weinger cantando. E Jasmine ficaria a cargo de Linda Larkin, que, apesar de ter sido a que mais agradou, levou nove meses para ser contratada definitivamente após seu teste, já que os produtores insistiam que a voz de Jasmine deveria ter um tom em particular, que Larkin demorou a encontrar. Dentre os personagens que não foram escolhidos através de testes estão Iago - Musker e Clements pediram que ele fosse transformado em personagem cômico após ver a interpretação de Gilbert Gottfried em Um Tira da Pesada 2, convidaram Gottfried para dublá-lo e pediram que os animadores fizessem o papagaio com os mesmos trejeitos que seu personagem naquele filme - e o gênio.

Robin Williams foi a primeira escolha dos diretores para dublar o gênio, embora Katzenberg tivesse sugerido que eles convidassem John Candy, Steve Martin ou até mesmo Eddie Murphy. Em agradecimento à Disney, responsável por seu primeiro filme de sucesso, Bom Dia, Vietnã, e para quem já havia gravado vários filmes promocionais, Williams aceitou fazer o papel pelo valor mínimo da tabela do Sindicato dos Atores, e enquanto já estava envolvido com duas outras produções, Hook: A Volta do Capitão Gancho e A Revolta dos Brinquedos. Williams gravaria suas falas no intervalo das gravções de A Revolta dos Brinquedos, e receberia carta branca para incluir quaisquer cacos que desejasse - e até mesmo para gravar novas falas que não estivessem previstas no roteiro - com os produtores depois escolhendo as melhores e os animadores finalizando as cenas do gênio já com as falas de Williams disponíveis. Graças a isso, o gênio rouba o filme, já que os animadores também não pouparam cacos, incluindo participações especiais de Sebastian, Pinóquio e até mesmo de versões animadas de Musker e Clements.

Katzenberg, entretanto, mais uma vez demonstraria que podia ser um gênio dos negócios, mas também era um homem de pouco tato: em troca de seus esforços para interpretar o gênio e torná-lo o mais engraçado possível, Williams pediria para que seu nome não fosse usado na campanha de marketing do filme, e que a imagem do gênio não ocupasse mais de 25% do espaço do cartaz do filme - pois A Revolta dos Brinquedos estrearia apenas um mês depois de Aladdin, e ele não queria roubar público de seu próprio filme. A Disney aceitou, mas, dias antes do lançamento de Aladdin, Katzenberg mudou de ideia, e não somente anunciou a torto e a direito que Williams interpretava o gênio como também colocou o gênio maior que todos os outros personagens do cartaz. Williams, indignado, só aceitaria voltar a trabalhar com a Disney após a demissão de Katzenberg, em 1996.

Assim como Beauty and the Beast, a canção principal de Aladdin, A Whole New World, ganharia duas versões, a do filme, cantada por Brad Kane e Lea Salonga, e uma "comercial" interpretada por Peabo Bryson e Regina Belle. A canção faria um imenso sucesso, e seria a principal responsável pela indicação de Aladdin a prêmios, incluindo cinco Oscars - Melhor Trilha Sonora, Melhor Canção (A Whole New World e Friend Like Me), Melhor Edição de Som e Melhor Som, ganhando os dois primeiros - três Globos de Ouro - Melhor Canção, Melhor Trilha Sonora e Melhor Filme Musical ou Comédia, ganhando os dois primeiros e mais um de Realização Especial para Robin Williams - e quatro Grammys - Melhor Performance Pop de Grupo ou Dueto Vocal, Melhor Canção Escrita Especificamente para Filme ou Série de TV, Melhor Álbum de Trilha Sonora e Álbum do Ano.

Aladdin estrearia em 25 de novembro de 1992, e seria um enorme sucesso de público e crítica, com a maioria dos críticos elogiando a ação, o humor e, em particular, a performance de Williams. Com custo de 28 milhões de dólares, o filme renderia 19,2 milhões apenas em seu primeiro fim de semana e 217 milhões no total apenas nos Estados Unidos - recorde de arrecadação na história dos desenhos animados até ser batido por O Rei Leão dois anos depois, e até hoje terceiro maior valor arrecadado por uma animação tradicional na história, atrás apenas do já citado O Rei leão e do filme dos Simpsons. Aladdin também seria o mais bem sucedido filme de 1992, ganhando de, por exemplo, O Guarda-Costas, Mudança de Hábito e Instinto Selvagem, e estabeleceria o recorde de maior arrecadação na semana entre o Natal e o Ano Novo, ainda não superado.

Aladdin seria o primeiro Clássico Disney a ganhar uma sequência lançada diretamente em vídeo, O Retorno de Jafar, de 1994, no qual o vilão tenta se vingar de Aladdin com a ajuda do ladrão Abis Mal, dublado por Jason Alexander, de Seinfeld. Pouco depois do lançamento da sequência, estrearia no Disney Channel a série animada de Aladdin, ambientada após os eventos de O Retorno de Jafar e que duraria 86 episódios, exibidos entre 5 de fevereiro de 1994 e 25 de novembro de 1995. Por causa da ira de Robin Williams, o gênio seria dublado em O Retorno de Jafar e na série animada por Dan Castellaneta, a voz de Homer Simpson nos Estados Unidos. Williams retornaria para dublar o gênio em uma nova sequência lançada direto em vídeo, Aladdin e os 40 Ladrões (Aladdin and the King of Thieves no original), no qual Aladdin descobre que seu pai está vivo, mas é Rei dos Ladrões em Agrabah.

Série Clássicos Disney

•Bernardo e Bianca na Terra dos Cangurus
•A Bela e a Fera
•Aladdin

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