quarta-feira, 30 de julho de 2008

Escrito por em 30.7.08 com 0 comentários

James Bond (IV)

E hoje é dia da quarta e última parte do post sobre James Bond! Após quase três décadas de sucessos no cinema, a década de 1990 não começava muito boa para o agente 007. Para começar, pouco após a estréia de Licence to Kill, em 1989, tiveram início várias batalhas judiciais, motivadas pela intenção da MGM de vender os direitos de distribuição de todos os filmes de James Bond para a francesa Pathé, que então os comercializaria para exibição em TVs de todo o mundo, algo com o qual a EON não concordou. Pouco depois, em 1991, faleceria Richard Maibaum, roteirista de 13 dos 16 filmes da série. Albert R. Broccoli, o produtor da série, teria graves problemas de saúde, que fariam com que ele se afastasse da produção do 17o filme, e acabariam culminando em seu falecimento, em 1996. Ainda em 1991, a União Soviética deixaria de existir, acabando com a Guerra Fria, principal componente dos filmes de agente secreto. Para completar, em 1994, Timothy Dalton, que assinara um contrato para três filmes, o romperia devido à demora para iniciar as filmagens do novo projeto, o que deixaria a EON mais uma vez procurando por um novo Bond.

Pierce BrosnanDesta vez, porém, eles procuraram pouco. Assumindo a produção, Barbara Broccoli, filha de Albert, e Michael G. Wilson, co-produtor dos últimos três filmes, decidiram contratar Pierce Brosnan, 42 anos, que já havia sido considerado para o papel quando Roger Moore deu lugar a Dalton. Barbara e Wilson também escolheram para a direção o neozelandês Martin Campbell, sem nenhum grande sucesso no currículo, mas considerado bastante promissor. Finalmente, para aproveitar a queda do Muro de Berlim e o fim da União Soviética, os produtores decidiram fazer do novo filme uma "modernização" de Bond - já considerado por muitos críticos como "ultrapassado" e "sem lugar no mundo atual". Assim surgiu GoldenEye.

GoldenEye (no Brasil, 007 contra GoldenEye), não era exatamente um reboot, mas se preocupava em trazer um Bond ainda no auge da carreira para a década de 1990, com todas as mudanças que ela pudesse representar para a vida de um agente secreto. Embora os filmes anteriores não tenham sido oficialmente desconsiderados, todo o elenco principal foi renovado, à exceção de Desmond Llewelyn, que, aos 81 anos, repetiu o papel de Q. M, por outro lado, seria interpretado pela famosíssima atriz Judi Dench, na primeira vez em que o chefe do MI6 seria mostrado como sendo uma mulher. Para o papel de Moneypenny, secretária de M, foi escolhida uma atriz com um nome no mínimo curioso, Samantha Bond.

GoldenEye foi o primeiro filme da série totalmente dissociado da obra de Ian Fleming, já que não usa absolutamente nenhum dos elementos - nem o título - dos livros escritos por ele. Talvez por isso, o título foi uma espécie de homenagem a Fleming, já que é o nome de sua casa de praia na Jamaica. O tal GoldenEye do filme, inclusive, não é uma pessoa, mas um satélite, capaz de emitir um pulso eletromagnético que destrói qualquer equipamento eletrônico em sua área de atuação. No filme pode não haver Guerra Fria, mas os russos continuam fazendo das suas, vendendo o tal satélite para um sindicato do crime, que planeja usá-lo para destruir Londres e iniciar um colapso financeiro. O homem por trás de tal plano é ninguém menos que Alec Trevelyan (Sean Bean), ex-agente 006 e amigo de Bond, que forjou sua própria morte antes de fundar o sindicato, auxiliado pela assassina Xenia Onatopp (Famke Janssen), que possui o desagradável hábito de estrangular suas vítimas com as coxas, e pelo programador Boris Grishenko (Alan Cumming), que trabalhava no projeto GoldenEye. Sem saber que enfrentará um ex-colega, Bond é enviado para deter os criminosos, e para tal tarefa contará com a ajuda, como de costume, de uma Bond Girl, Natalya Simonova (Izabella Scorupco), gênio da informática e sobrevivente de um ataque do GoldenEye. Bond também terá a ajuda de um agente da CIA, Jack Wade (Joe Don Baker), também enviado para deter o sindicato, e do ex-agente da KGB Valentin Zukovsky (Robbie Coltrane), que o ajuda a encontrar Trevelyan.

GoldenEye estreou em novembro de 1995, primeiro nos Estados Unidos, e quatro dias depois no Reino Unido. Apesar de ter recebido algumas críticas desfavoráveis, foi considerado um grande sucesso, eleito um dos melhores filmes da série, e rendeu um bom dinheiro: com orçamento de 58 milhões de dólares, rendeu quase 351 milhões, sendo 106 milhões só nos Estados Unidos, e 26 milhões só no primeiro fim de semana. Com música-tema composta por Bono e The Edge, do U2, e cantada por Tina Turner, GoldenEye também foi o primeiro filme de Bond a usar efeitos especiais gerados por computação gráfica, e o primeiro a ser adaptado para um video game, e um por sinal muito bom.

O enorme sucesso de GoldenEye, além de provar que Bond poderia sobreviver nos anos 1990, colocou uma enorme pressão sobre os produtores, que foram praticamente obrigados pela MGM a fazer com que o filme seguinte fosse, pelo menos, um sucesso equivalente. Alguns problemas, porém, afetariam seriamente a produção. Além da já citada morte de Broccoli, sete meses após a estréia de GoldenEye, Campbell se recusou a dirigir o filme, alegando não querer fazer dois filmes de Bond seguidos; para substituí-lo, foi escolhido Roger Spottiswoode. O roteiro também foi problemático, com sete roteiristas trabalhando simultaneamente. Finalmente, o orçamento foi mais do que estourado, e fechou em nada menos que 110 milhões de dólares.

O resultado disso tudo foi Tomorrow Never Dies (007 o Amanhã Nunca Morre no Brasil), que estreou em dezembro de 1997, primeiro no Reino Unido e uma semana depois nos Estados Unidos, rendendo 125 milhões de dólares na Terra do Tio Sam, e 333 milhões no mundo inteiro. A recepção dos críticos foi bastante diversa, com alguns considerando-o o melhor filme de Bond em muitos anos, outros achando que foi dinheiro jogador fora. A música-tema foi gravada por Sheryl Crow.

Judi Dench (M)Desta vez, Bond deve enfrentar um magnata das telecomunicações, Elliot Carver (Jonathan Pryce), que possui o singelo plano de usar sua influência na mídia para engenderar alguns eventos que levariam à Terceira Guerra Mundial, para obter vantagens financeiras, evidentemente. Carver possui dois capangas de respeito - o tecno-terrorista Henry Gupta (Ricky Jay) e o fortão Stamper (Götz Otto, que ganhou o papel dizendo no teste que era "grande, mau e alemão") - e, ainda por cima, é casado com uma ex-namorada de Bond, Paris (Teri Hatcher). A Bond Girl do filme é uma agente chinesa, Wai Lin (Michelle Yeoh), que também investiga as empresas de Carver, devido ao aumento de sua influência no sudeste asiático. Bond também conta mais uma vez com a ajuda de Jack Wade, e o filme introduz um novo personagem recorrente, o agente do MI6 Charles Robinson (Colin Salmon), que também participaria dos dois filmes seguintes.

Além dos problemas com a produção, Tomorrow Never Dies teve alguns problemas de elenco: Anthony Hopkins foi convidado para viver Carver, mas recusou. Natasha Henstridge seria a Bond Girl, que seria uma agente russa, mas, talvez para evitar clichês, foi substituída por Yeoh. Monica Belucci testou para o papel de Paris, mas os produtores preferiram Hatcher, que estava grávida de três meses quando as filmagens começaram, o que fez com que ela se atrasasse excessivamente para uma das filmagens, irritando Brosnan, que depois teria pedido desculpas ao saber de sua gravidez. Rumores de desentendimentos nas filmagens, aliás, foram constantes, e devidos principalmente a brigas entre Spottiswoode e o roteirista Bruce Feirstein.

As brigas foram tão intensas que Spottiswoode não quis voltar para uma nova seqüência, alegando cansaço. O 19o filme de Bond teria, portanto, um novo diretor, Michael Apted. The World is Not Enough (no Brasil, 007 o Mundo Não é o Bastante), que tirava seu nome do lema da família Bond, "Orbis non Sufficit", apresentado pela primeira vez tanto no livro quanto no filme de On Her Majesty's Secret Service, estrearia dois anos depois, em novembro de 1999, primeiro nos Estados Unidos, e uma semana depois nos Reino Unido. Curiosamente, para afastar de Bond a imagem de um "agente secreto ultrapassado", a MGM fez um acordo com a Mtv, que exibiu nos Estados Unidos diversos especiais sobre o agente na semana de lançamento do filme, totalizando mais de 100 horas de programação. Aparentemente, deu certo: com orçamento de 135 milhões de dólares, o filme rendeu 126 milhões só nos Estados Unidos, sendo 35,5 milhões só no primeiro fim de semana, e totalizou 361 milhões de dólares no mundo inteiro, se tornando o Bond mais rentável até então.

Em The World is No Enough, Bond investiga o assassinato de Robert King (David Calder), amigo pessoal de M e empresário do ramo do petróleo que planeja construir um oleoduto do Azerbaijão até o ocidente, passando pela Turquia. O principal suspeito do crime é o terrorista Renard (Robert Carlyle), que, no passado, seqüestrou a filha de Robert, Elektra (Sophie Marceau), e levou um tiro na cabeça disparado pelo 009, ficando com a bala alojada no cérebro, se movendo lentamente até que um dia ele morra. Imaginando que Renard talvez queira vingança, Bond decide proteger Elektra, e acaba descobrindo que o terrorista planeja roubar uma bomba nuclear soviética. Durante sua missão, Bond acaba conhecendo a física nuclear e Bond Girl Christmas Jones (Denise Richards), e contará com a ajuda mais uma vez de Valentin Zukovsky. The World is Not Enough foi o último filme onde Desmond Llewelyn, que faleceria cerca de um mês após a estréia, interpretou Q. Coincidentemente, neste filme Q se aposenta, e passa seu cargo para um assistente (John Cleese), que assumiria o papel de Q no filme seguinte.

Com música-tema interpretada pela banda Garbage, que criou um clip no melhor estilo agente secreto para divulgá-la, The World is Not Enough entrou para a história como o filme com a seqüência pré-título mais longa da série, com 14 minutos. Apesar da boa recepção do público, o filme foi desprezado pela crítica, que o elegeu como um dos piores da carreira de Bond. A Dra. Jones também foi muito criticada, sendo eleita a pior Bond Girl de todos os tempos pela revista Entertainment Weekly, com os críticos argumentando que Denise Richards não era uma atriz apropriada para interpretar uma física nuclear, e que um uniforme de camisetinha e shortinho não combinava com uma cientista.

Mas, como se aprende no cinema, não há filme tão ruim que uma seqüência não possa piorar. Em novembro de 2002, simultaneamente nos Estados Unidos e Reino Unido, estrearia Die Another Day (no Brasil, 007 Um Novo Dia Para Morrer), vigésimo filme da série. Nele, após matar Moon (Will Yun Lee), um Coronel renegado norte-coreano, Bond é capturado pelo inimigo, e submetido a 14 meses de tortura. Libertado em uma troca de prisioneiros, ao ser trocado por Zao (Rick Yune), homem de confiança de Moon, Bond decide descobrir quem seria o contato de Moon no ocidente, responsável por alertar Zao de que ele seria um agente britânico infiltrado, ato que levou à sua captura. Investigando Zao, Bond acaba chegando a Gustav Graves (Toby Stephens), magnata dos diamantes, que na verdade planeja usar um satélite carregado com eles e capaz de disparar um poderoso laser para auxiliar a Coréia do Norte a conquistar a Coréia do Sul e o Japão. Também durante a investigação, Bond se envolve com a agente norte-americana Jinx (Hale Berry), a Bond Girl do filme, e primeira Bond Girl negra da história, que também investiga Zao. O elenco conta ainda com Rosamund Pike como Miranda Frost, secretária de Graves; Michael Madsen como o chefe de Jinx; e Madonna, em uma participação especial no papel de uma instrutora de esgrima.

Dirigido por Lee Tamahori, e com música-tema de Madonna, Die Another Day comemorava o aniversário de 40 anos da série, trazendo referências a todos os dezenove filmes anteriores em suas cenas. Curiosamente, ele também usa alguns elementos do livro Moonraker não usados no filme, se tornando o primeiro filme de Bond desde Licence to Kill a trazer elementos dos livros de Fleming. Com o orçamento astronômico de 142 milhões de dólares, rendeu 432 milhões, sendo 161 milhões só nos Estados Unidos.

Mas, no meio do caminho, alguma coisa deu errado. A escolha da Coréia do Norte como vilã do filme e cenas de pouco tato onde os norte-americanos comandam tropas sul-coreanas fizeram com que o filme fosse odiado na Ásia, e boicotado em diversos países, dentre eles a Coréia do Sul. A quantidade absurda de merchandising durante o filme também foi pesadamente criticada, com alguns críticos o apelidando de Buy Another Day. Muitos também acharam que o foco nos efeitos especiais e nas traquitanas que Bond usa durante as missões foi exagerado, sobrando pouco espaço para desenvolver o enredo. No geral, Die Another Day é considerado um dos piores - ou até mesmo o pior, por alguns - filmes da série, embora um crítico ou outro tenha elogiado a direção de Tamahori ou as referências aos filmes anteriores.

Como aparentemente os roteiros originais não estavam mais dando certo, a EON decidiu tentar uma volta às origens, fazendo mais um filme inspirado nas obras de Fleming. Já desde 1999 a MGM havia conseguido os direitos de filmagem de Casino Royale, o único livro de Bond jamais adaptado pela EON, e, coincidentemente o primeiro de todos, lançado em 1953. Graças a uma adaptação não-oficial feita em 1967, os direitos de Casino Royale pertenciam à Sony, mas esta os trocou pelos direitos sobre um filme do Homem-Aranha, que na época pertenciam à MGM - curiosamente, em 2005 a Sony compraria a MGM, o que faria com que os direitos voltassem para ela.

Em 2004, quando foi dada a luz verde para a primeira adaptação "oficial" de Casino Royale, os roteiristas começaram a trabalhar em mais um filme com Brosnan no papel principal. Para aproveitar que se tratava do primeiríssimo livro, porém, a EON decidiu finalmente fazer um reboot da série, que ignoraria todos os vinte filmes já existentes, e começaria a contar a história de James Bond como 007 do início, e na época atual. Para isso, eles precisariam de um novo Bond. A lista especulativa chegou a ter mais de 200 nomes, incluindo os de Eric Bana, Hugh Jackman, Goran Visnic e Clive Owen; Colin Salmon chegou a ser seriamente considerado, o que faria com que Bond fosse, pela primeira vez, negro. O preferido dos produtores era Henry Cavill, mas, com apenas 22 anos, foi considerado jovem demais para o papel. Finalmente, após muita procura, Barbara Broccoli e Michael G. Wilson decidiram apostar em Daniel Craig, ator inglês de 37 anos que estava fazendo muito sucesso no filme Nem Tudo é o que Parece (Layer Cake, no original).

Daniel CraigA escolha de Craig, porém, não foi pacífica: pela primeira vez, os fãs se revoltaram contra a decisão dos produtores, alegando que o ator não se enquadrava na descrição de Bond presente nos livros, principalmente por ser louro. Até mesmo um site, danielcraigisnotbond.com chegou a ser posto na ar para expressar seu descontentamento. Apesar disso, a EON manteve sua decisão, e o futuro provaria que ela o faria bem: a maioria dos críticos foi extremamente elogiosa quanto à interpretação de Craig, e aparentemente até os fãs acabaram se rendendo após o filme, já que ele foi confirmado também para os dois próximos.

Casino Royale (007 Cassino Royale no Brasil) é o primeiro filme da série a não começar com a característica seqüência do revólver; ao invés disso, ele começa com uma seqüência em preto-e-branco mostrando como Bond conseguiu a licença para matar, e o código 007. Logo após, aí sim, temos a seqüência do revólver, e então a abertura, considerada uma das mais criativas da série. A música tema, You Know My Name, interpretada por Chris Cornell, ex-vocalista do Audioslave e do Soundgarden, é a terceira a não ter o mesmo nome do filme, e a segunda a não fazer referência a este durante sua letra. Ela também substitui o famoso tema de Bond durante o filme, com este sendo executado apenas durante os créditos finais, como que dando partida na carreira do agente secreto.

No filme, um inexperiente Bond, recém-promovido a agente 00, seguindo pistas em uma missão, vai da África ao Caribe e então a Miami, onde evita um ataque terrorista contra um avião. Ao fazê-lo, ele coloca Le Chiffre (Mads Mikkelsen - "chiffre" significa "número" em francês), gênio matemático, mestre no xadrez e banqueiro de uma organização terrorista ligada ao misterioso Sr. White (Jesper Christensen), em uma posição complicada, precisando de dinheiro para devolver a seus clientes. Para recuperar o dinheiro, Le Chiffre arma um jogo de pôquer de apostas altíssimas - 10 milhões de dólares só para começar a jogar - no qual planeja usar seu intelecto superior para ganhar. O MI6 fica sabendo do jogo e decide inscrever Bond, também exímio jogador, com o plano de que, se Le Chiffre perder, o governo britânico lhe oferecerá proteção em troca de informações sobre os terroristas. Durante esta empreitada, Bond acaba conhecendo a Bond Girl Vesper Lynd (Eva Green), uma agente do Tesouro enviada para supervisionar a operação e fornecer o dinheiro necessário ao jogo, e o agente da CIA Felix Leiter (Jeffrey Wright, primeiro ator negro a interpretar Leiter em um filme oficial), que também foi enviado com o mesmo plano, mas não joga tão bem quanto Bond.

Judi Dench repete mais uma vez o papel de M, mas nem Q nem Moneypenny aparecem no filme - e, aparentemente, estão fora dos planos da EON nesta nova fase, pois também não estão previstos para os próximos. Para interpretar a Bond Girl foram cogitados nomes como Angelina Jolie, Charlize Theron e Audrey Tautou, que só não ficou com o papel por já estar filmando O Código Da Vinci. Antes das filmagens começarem, Quentin Tarantino expressou interesse em dirigir o filme, e Matthew Vaughn, diretor de Nem Tudo é o que Parece chegou a ser cogitado, mas no final a direção acabou ficando mais uma vez a cargo de Martin Campbell, de GoldenEye. Para que o filme tivesse o maior clima de 007 possível, os produtores decidiram restringir os efeitos em computação gráfica ao mínimo possível, e filmar todas as seqüências de ação "à moda antiga"; isto fez com que, pela segunda vez, uma cena de um filme de Bond fosse parar no Livro dos Recordes, já que na cena do capotamento o Aston Martin do 007 gira sete vezes em torno do próprio eixo.

Com orçamento de 130 milhões de dólares, Casino Royale estreou em novembro de 2006, simultaneamente no Reino Unido e Estados Unidos. Rendeu a considerável soma de 594,2 milhões, sendo 167 milhões só nos Estados Unidos, 40 milhões só no primeiro fim de semana. A recepção dos críticos foi excelente, embora alguns tenham achado o filme - especialmente o final - muito comprido. No geral, Casino Royale foi considerado um dos melhores filmes da franquia, e cumpriu sua missão de reiniciar a série com louvor.

Vesper LyndTanto que o próximo filme, Quantum of Solace (ainda sem título no Brasil, mas provavelmente não será a tradução literal, "a medida do consolo"), será uma seqüência direta dele. Dirigido por Marc Forster (de De Volta à Terra do Nunca) e com estréia prevista para o final deste ano, o filme tira seu título de um dos contos do livro For Your Eyes Only, embora o enredo seja totalmente diferente.

Após Quantum of Solace, ainda restam quatro títulos de contos de Ian Fleming ainda não usados para filmes: The Hildebrand Rarity, The Property of a Lady, Risico e 007 in New York. Usando um deles ou não, o próximo filme, com Craig mais uma vez no papel, já está previsto para 2010. Por enquanto, Bond vem conseguindo sobreviver ao fim da Guerra Fria. Para felicidade dos fãs, esperamos que o mundo sempre venha a precisar de um agente secreto com permissão para matar.

James Bond

Pierce Brosnan
Daniel Craig

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quarta-feira, 23 de julho de 2008

Escrito por em 23.7.08 com 0 comentários

Conan (I)

Como já narrei em algum lugar por aqui, eu comecei a ler quadrinhos de super-heróis ainda criança, por volta dos sete anos, quando meu avô apareceu lá em casa com uma revista do Capitão América que alguém tinha esquecido no trabalho dele, ou alguma coisa assim. Depois disso comprei uma revista dos X-Men numa vez em que fui ao jornaleiro com meu pai, e depois não parei mais. Quer dizer, parei de comprar revistas há alguns anos, mas continuo me interessando por super-heróis.

Apesar de minha mãe achar que crianças de sete anos não deveriam ler quadrinhos de super-heróis - algo com o qual eu hoje de certa forma concordo, mas isso não vem ao caso agora - ela nunca proibiu que meu pai ou meu avô comprassem qualquer destas revistas para mim, com exceção de uma: A Espada Selvagem de Conan. Ok, Conan não é exatamente um super-herói, mas a revista era publicada pela Marvel, e a Abril, que a lançava aqui, a colocava no mesmo pacote de outras como Homem-Aranha, X-Men, Capitão América e Superaventuras Marvel. De fato, eu me lembro que meu avô fez certa vez uma assinatura de um pacote da Turma da Mônica para mim e para minha irmã, que durou pouco tempo, pois logo depois a publicação das revistas da Mônica passou da editora Abril para a Globo. Para compensar meu avô, a Abril lhe deu a opção de trocar a assinatura por qualquer outro pacote da editora, que ele receberia até o tempo contratado por ele acabar. Eu, evidentemente, tentei convencê-lo a escolher o pacote Marvel, mas minha mãe não deixou, devido, principalmente, à presença de Conan no meio das revistas. Não lembro o que ele acabou escolhendo, mas deve ter sido alguma revista pra ele, ou então o dinheiro de volta.

Hoje eu também concordo com minha mãe que nenhuma criança deveria ler Conan, mas eu só fui entender o porquê anos mais tarde, quando, já maior de idade, finalmente travei meu primeiro contato com as histórias do personagem - exceto pelos dois filmes com o Schwarzenegger, que eu assisti algumas vezes na Sessão da Tarde, e de um desenho bem pouco Conan que passava na Globo. Não sei quando a Espada Selvagem deixou de ser publicada no Brasil, mas provavelmente ela nem existia mais quando eu li um livro com histórias de Conan emprestado por um amigo meu. Neste momento, eu gostaria de confessar três coisas: primeiro, eu só resolvi ler o livro por que eu era fã de Schwarzenegger; segundo, eu nunca li uma edição da Espada Selvagem na vida; terceiro, isto não me impediu de me tornar fã de Robert E. Howard e de querer ler todas as demais histórias de seu mais famoso personagem. Tanto que Conan é o tema do post de hoje.

Robert E. HowardRobert Ervin Howard, o homem que criou Conan, nasceu em Peaster, Texas, em 1906. Filho de um médico, ele passou sua infância viajando por várias cidades do sul dos Estados Unidos, ouvindo histórias de fantasmas contadas por vaqueiros, histórias da África contadas por ex-escravos, histórias da Guerra de Secessão contadas por soldados, e até lendas folclóricas contadas pelos índios. Sua mãe, que sofria de tuberculose, fez questão de educá-lo para ser um homem letrado, incutindo nele um profundo amor pela literatura e poesia, e sempre incentivando-o a escrever seus próprios versos. Apesar disso, em sua adolescência Howard fora um apaixonado pelo boxe, e se dedicava a atividades físicas como levantamento de pesos e luta livre com a mesma paixão que devorava livros e escrevia poemas.

Mas o que ele queria mesmo era ser escritor. Desde os nove anos de idade, Howard já escrevia histórias envolvendo vikings, árabes e batalhas medievais épicas. Suas maiores influências eram Jack London, que costumava escrever sobre reencarnação e vidas passadas; Rudyard Kipling e suas histórias de continentes selvagens; e Thomas Bulfinch, especialista em lendas da mitologia clássica. Aos treze anos, Howard se apaixonou pelos bárbaros após ler um livro sobre os pictos, um antigo povo habitante da Escócia. Aos quinze, se apaixonou pela revista Adventure, especializada em contos de aventura ao estilo Indiana Jones. Diante disso, seu destino estava traçado: ele seria um escritor de contos de aventura.

Howard começou a tentar ainda aos quinze anos, criando vários personagens e enviando-os para revistas como a Adventure e sua concorrente Argosy, mas tudo o que conseguiu foi uma pilha de rejeições. Diante disso ele recuou por um tempo, se dedicando à escola e ao boxe, e trabalhando em uma variedade de empregos como colhedor de algodão, caixa de doceria e estenógrafo. Aos poucos, ele voltou a oferecer seus contos a revistas, até que um deles, Spear and Fang ("lança e presa"), sobre um homem das cavernas, foi aceito pela revista Weird Tales ("histórias esquisitas"), que lhe pagou 16 dólares. Aos 18 anos, Howard estava no mercado: a Weird Tales aceitaria várias outras histórias escritas por ele, finalmente concretizando seu sonho de ser um escritor profissional.

Aos 20 anos, Howard escreveu sua primeira história a ilustrar a capa da revista, Wolfshead, cujo protagonista era um lobisomem. Aos 22, publicou a primeira história de seu primeiro personagem regular, Solomon Kane, um aventureiro do século XVII que corria o mundo combatendo o mal. Aos poucos ele passou a publicar também poemas, escritos em conjunto com seu amigo Tevis Clyde Smith. Howard começava a criar para seus personagens um mundo sombrio, quase hipnótico, cheio de imagens oníricas e fantásticas, algo inigualado em qualquer outra revista de contos de aventura da época, e que ajudou a popularizar a Weird Tales, junto com os contos de horror cósmico e intimista de H.P. Lovecraft e a fantasia surreal de Clark Ashton Smith, ambos também colaboradores da revista. Mas Howard não queria ficar restrito às histórias esquisitas, e passou a escrever também para outra revista, a Fight Stories, onde criou o marinheiro Steve Costigan, que lutava boxe, era pouco inteligente, mas tinha um coração de ouro. Após um tempo, Howard passou a escrever também para a Action Stories, e, aos 23 anos, tornou-se um escritor profissional, jamais exercendo outra profissão pelo resto da vida.

Com emprego garantido, Howard passou à experimentação. Influenciado por seu amigo Lovecraft, ele começou a misturar elementos de fantasia, horror, mitologia, filosofia, bárbaros, magia e lutas de espada, tudo em uma história só. O resultado foi The Shadow Kingdom, primeira aventura de seu mais recente personagem, o bárbaro Kull. Kull foi publicado na Weird Tales e fez um enorme sucesso, mas várias de suas aventuras posteriores foram rejeitadas, o que levou Howard a desistir do personagem.

Em 1932, aos 26 anos, Howard estava viajando pelo Texas, quando teve uma inspiração súbita. Com ela, ele criou a Ciméria, uma terra fictícia, localizada no hemisfério norte, lar de bárbaros fortes e destemidos - claramente uma referência a seus queridos pictos. Ao chegar em casa, Howard decidiu expandir esta idéia, e acabou criando um mundo inteiro, ao qual chamou de Era Hiboriana, pois ele não queria que fosse outro planeta, mas nossa própria Terra, em uma era tão antiga que não temos qualquer registro dela hoje. Howard decorou sua Era Hiboriana com diversos países, povos, monstros e magias. Só faltava um herói para viver aventuras nela. E este herói seria Conan, o cimério.

ConanConan já havia aparecido extra-oficialmente em uma história de Howard, de 1931, chamada People of the Dark ("o povo da escuridão"), publicada na revista Strange Tales of Mystery and Terror, na qual o protagonista diz que, em outra vida, foi "Conan, um bárbaro de cabelos negros que servia ao deus Crom". A primeira aventura oficial de Conan, porém, surgiria após Howard reescrever uma história rejeitada de Kull, rebatizando-a para The Phoenix on the Sword (A Fênix na Espada). Esta história seria publicada na edição de dezembro de 1932 da Weird Tales, e faria tanto sucesso que Howard escreveria e publicaria nada menos que outras dezesseis aventuras de Conan na revista ao longo de três anos.

Com Conan, Howard acabou criando um novo estilo de fantasia, conhecida como Sword and Sorcery, ou Espada e Magia. Este estilo influenciaria diversos outros escritores da Weird Tales e do mundo inteiro. Infelizmente, Howard faleceria em 1936, aos 30 anos de idade, suicidando-se com um tiro na cabeça por não suportar a morte de sua mãe. Ao todo, ele deixou escritas 21 histórias de Conan - quatro publicadas após sua morte - e inúmeras de outros personagens.

Conan é alto, musculoso, mas ágil como uma pantera, tem cabelos negros e lisos, olhos azuis e pele queimada de sol. Apesar de ter uma força inigualável, ser praticamente invencível em combate corpo-a-corpo e de gostar de resolver seus problemas com sua espada, não é burro, mas um estrategista brilhante, de raciocínio rápido e capaz de ler e escrever em diversos idiomas. Além disso tudo, Conan também é leal, honrado, e possui um ótimo senso de humor. Nascido na fictícia terra da Ciméria, localizada no extremo norte, era filho de um ferreiro, e desde cedo se interessou pelas artes da luta, já sendo um guerreiro respeitado aos quinze anos de idade. Nesta época, ele participou da destruição do forte de Venarium, depois da qual passou a vagar pelo mundo em busca de novas aventuras - as aventuras narradas por Howard em suas histórias.

Apesar de todas as suas boas qualidades, Conan é freqüentemente descrito como um anti-herói, e não como um herói, pois só se envolve com os problemas dos outros quando seu envolvimento pode resultar em algum ganho pessoal, e só executa atos heróicos quando estes vão ao encontro de seus próprios interesses. Conan também não é super-humano, e algumas vezes se vê em dificuldades, sendo capturado por inimigos, precisando de aliados para superar um determinado problema, ou simplesmente caindo de bêbado ou sendo seduzido por alguma feiticeira gostosona. Em nenhuma das histórias de Howard, porém, ele jamais foi derrotado em confronto direto.

A Era Hiboriana onde vive Conan é um período perdido de nossa própria história, entre a destruição de Atlântida e o aparecimento das primeiras cidades das quais temos registros. Nesta época, o mundo é formado por um único continente, Hibória, dividido em diversas regiões, algumas por sua vez subdivididas em nações. Destas, a principal é Aquilônia, que de certa forma lembra o Império Romano, sempre em busca de expansão e dominação das nações vizinhas. Embora rode o mundo inteiro, Conan está sempre de alguma forma ligado à Aquilônia, a principal fonte de enredos para suas aventuras. Por volta dos 40 anos de idade, após ser bárbaro, mercenário, gladiador, ladrão e pirata, Conan consegue derrotar o Rei de Aquilônia, se tornando ele mesmo o ocupante do trono, e aparentemente encerrando sua carreira de aventuras como monarca.

Após a morte de Howard, histórias envolvendo Conan foram escritas por mais de quinze autores diferentes. As primeiras surgiram na década de 1950, quando a editora Gnome Press adquiriu os direitos sobre as obras de Howard, e republicou todas as histórias de Conan escritas por ele em volumes de capa dura. Ao todo, entre 1950 e 1957 a Gnome lançou sete livros, sendo que o penúltimo curiosamente continha histórias escritas por Howard, mas que não eram protagonizadas por Conan, reescritas por L. Sprague de Camp para se tornarem aventuras do personagem. O último livro lançado pela Gnome foi também a primeira aventura de Conan totalmente escrita por um autor que não fosse Howard, The Return of Conan, escrito por Björn Nyberg e revisado por de Camp.

A Espada Selvagem de ConanAté então, porém, Conan era um personagem conhecido apenas pelos fãs do gênero. Sua popularização definitiva veio apenas em 1966, com o lançamento de uma segunda série de livros, desta vez pela Lancer Books. Idealizada por de Camp e por Lin Carter, esta nova série, publicada em formato brochura, republicou todas as histórias de Howard mais uma vez, além de trazer histórias inéditas, algumas inacabadas, finalizadas por de Camp e Carter. Entre 1966 e 1977, a Lancer - e depois a Ace Books, que assumiu o projeto após a falência daquela - publicou doze livros com mais de 50 histórias de Conan, sendo que três deles traziam apenas histórias inéditas escritas por de Camp e Carter. A arte ficou a cargo de Frank Frazetta, que até hoje é considerado o criador da imagem de Conan, e ilustrador definitivo de suas aventuras. Embora a coleção da Lancer/Ace seja criticada por muitos puristas pela "intromissão" da dupla de Camp/Carter nas histórias originais de Howard, foi ela quem ajudou a espalhar Conan pelo mundo, transformando-o em um dos mais populares personagens do século XX.

A série da Lance/Ace seria assumida pelas editoras Bantam e Maroto a partir de 1978, que, juntas, lançariam 11 novos livros entre 1978 e 1982. A partir de 1982, a editora oficial de Conan seria a Tor, que até 1997 lançaria nada menos que 42 novos livros com histórias inéditas de vários autores, sendo as mais famosas as de Robert Jordan - curiosamente, todos os 42 títulos da Tor começam com Conan the, tipo Conan the Invincible e Conan the Fearless. A partir de 1997, a Tor começou a republicar os livros com histórias que não fossem de Howard lançados anteriormente pela Lance/Ace, Bantam e Maroto. Em 2004, ela lançou seu último livro até agora, Conan of Venarium, escrito por Harry Turtledove. Atualmente, os direitos sobre Conan são disputados, sendo o entendimento geral o de que as histórias pertencem a seus respectivos autores, sendo as de Howard de domínio público, mas o personagem Conan não pertence a ninguém. Isto, evidentemente, é contestado por várias editoras que alegam ter os direitos para a publicação de novas histórias do cimério.

Na década de 1970, Conan se tornaria ainda mais popular ao sair das páginas dos livros para as histórias em quadrinhos. A primeira revista do personagem, batizada de Conan the Barbarian, foi publicada pela Marvel Comics em outubro de 1970. Com roteiro de Roy Thomas e arte de Barry Windsor-Smith, a revista era a cores e voltada para o público juvenil que lia os quadrinhos de super-heróis da editora. Ao todo, teve 275 edições mensais, só deixando de ser publicada em 1993, mais 12 especiais anuais entre 1973 e 1987, e cinco especiais "gigantes" entre 1974 e 1975. Durante os 23 anos em que foi publicada, a revista contou com roteiros de Thomas, J.M. DeMatteis, Bruce Jones, Doug Moench e Chuck Dixon, dentre outros, e com a arte de Windsor-Smith e John Buscema. O sucesso da revista acabou gerando um spin-off, King Conan (mais tarde rebatizada para Conan the King), que mostrava as aventuras de Conan já como Rei da Aquilônia, e foi publicada entre 1980 e 1989, com 55 edições mensais. Durante a década de 1990, a Marvel ainda faria algumas novas tentativas com Conan the Adventurer (14 edições entre 1994 e 1995), Conan the Savage (10 edições entre 1995 e 1996) e simplesmente Conan (11 edições entre 1995 e 1996), mas nenhuma fez tanto sucesso quanto a Conan the Barbarian original.

Mas a revista de Conan de maior sucesso de todos os tempos é mesmo The Savage Sword of Conan the Barbarian (a famosa A Espada Selvagem de Conan, em português), criada pela Marvel também na onda do sucesso de Conan the Barbarian. Com roteiro de Thomas e arte em preto-e-branco de Buscema ou Alfredo Alcala, a revista era voltada para o público adulto, com histórias bem mais violentas, mulheres seminuas, sacrifícios humanos, esse tipo de coisa. Lançada em agosto de 1974, também teve vida longa, com 235 edições entre 1974 e 1995, mais um especial anual em 1975, e hoje é considerada um clássico dos quadrinhos.

Desde 2003, os quadrinhos de Conan são publicados pela editora Dark Horse, em uma revista inicialmente chamada simplesmente de Conan, mas rebatizada para Conan the Cimmerian em maio último. Com roteiro de Kurt Busiek até 2006 e Tim Truman desde então, e arte de Cary Nord, a revista da Dark Horse tenta se manter fiel apenas às histórias originais de Howard, sem nenhuma conexão com as de outros autores ou com as da Marvel.

SchwarzeneggerNa década de 1980, seria a vez de Conan chegar ao cinema. O primeiro projeto de um filme do personagem partiu do diretor Edward Summer, que planejava adaptar todas as histórias de Howard, criando uma série de filmes ao estilo da de James Bond. Summer chegou a fazer seis sinopses, e ele e Thomas escreveram o roteiro do que seria o primeiro filme, mas este projeto nunca foi adiante. O que chegaria às telas de cinema em 1982 seria outro projeto totalmente diferente, produzido por Dino de Laurentiis e dirigido por John Milius, comm roteiro de Milius e Oliver Stone. Conan the Barbarian (Conan, o Bárbaro no Brasil) traria Arnold Schwarzenegger no papel do cimério, seu primeiro papel de destaque, e que o impulsionou para uma carreira de sucesso. O filme, porém, tem muito pouco a ver com as histórias originais de Conan, sendo ambientado em uma estranha Idade do Bronze com elementos fantásticos. Nele, Conan se torna órfão quando sua vila é atacada pelos homens de Thulsa Doom (James Earl Jones), sendo vendido como escravo. Após ser escravo e gladiador, e ser treinado nas artes da espada, Conan, já adulto, conquista sua liberdade, e, vagando pelo mundo, conhece personagens como o arqueiro Subotai (Gerry Lopez), a ladra Valeria (Sandahl Bergman), o Rei Osric (Max von Sydow) e o mago Akiro (Makoto Iwamatsu). Mas o própósito de Conan não é simplesmente correr o mundo vivendo aventuras, mas se vingar de Doom pela morte de seus pais.

Apesar de pouco fiel ao Conan de Howard, o filme foi um grande sucesso, e gerou, como era de se esperar, uma continuação. Conan the Destroyer (Conan, o Destruidor) foi lançado em 1984, novamente com Schwarzenegger no papel principal, mas dirigido por Richard Fleischer e produzido por Raffaella de Laurentiis, filha de Dino. Mais voltado ao público juvenil, e mais parecido com um filme de fantasia medieval do que seu antecessor, o filme mostrava Conan e seu aliado Malak (Tracey Walter) sendo contratados pela Rainha Taramis (Sarah Douglas) para resgatar uma jóia que só pode ser tocada por sua sobrinha Jehnna (Olivia d'Abo). Em troca, a Rainha, que tem poderes mágicos, ressucitaria Valeria, amante de Conan. Durante sua missão, Conan reencontra Akiro e conquista uma nova aliada, a guerreira Zula (Grace Jones), e descobre que a Rainha na verdade planeja assassinar Jehnna e ressucitar o deus maligno Dagoth, se tornando a governante mais poderosa do mundo por toda a eternindade. Diante disso, Conan decide detê-la e salvar a menina.

O filme foi bem menos sucedido que o primeiro, com alguns críticos inclusive acusando-o de ser "muito infantil"; ainda assim, foi considerado um sucesso por de Laurentiis, tanto que ela decidiu produzir um filme de outra personagem das histórias de Conan, Red Sonja (conhecido no Brasil como Guerreiros do Fogo), no ano seguinte, com Brigitte Nielsen no papel principal, e Schwarzenegger como o bárbaro Kalidor. Outro filme de Conan, porém, jamais foi feito. Até recentemente, haviam boatos de que seria feito um filme de Conan em sua fase Rei, novamente trazendo Schwarzenegger, que estaria na "idade ideal" para o personagem - embora, nas histórias de Howard, Conan tenha se tornado Rei com 40 anos, e Schwarza já esteja com mais de 60. Como era difícil para ele conciliar as filmagens com suas atribuições como Governador da Califórnia, o projeto foi suspenso, até que, em agosto de 2007, a Millenium Films conseguiu os direitos exclusivos para a produção de um novo filme do cimério. A Millenium já avisou que irá produzir o tal filme, e que ele será bem mais fiel às histórias originais de Howard que os outros dois, mas nada ainda foi dito sobre quem interpretaria Conan - já que, muito provavelmente, não será Schwarzenegger.

Além dos livros, quadrinhos e filmes, Conan também teve dois desenhos animados e uma série de TV durante a década de 1990 - os quais eu vou me abster de comentar - uma tirinha de jornal publicada entre 1978 e 1981, um RPG, um card game, e sete jogos de videogame, sendo o mais recente Age of Conan, um MMORPG onde você pode criar seu próprio bárbaro e viver aventuras na Era Hiboriana.

Aos que quiserem conhecer o bárbaro mais famoso da literatura em sua forma original, recomendo Conan, o Cimério, coleção em dois volumes publicada pela Editora Conrad, tradução de Conan of Cimmeria da editora Wandering Star. Além das histórias originais de Howard, cada livro traz notas, rascunhos, esboços de contos inacabados, e outros tipos de material. Imperdível para qualquer fã de fantasia.
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quarta-feira, 16 de julho de 2008

Escrito por em 16.7.08 com 2 comentários

Indiana Jones

Até por volta dos 15 ou 16 anos, minhas preferências musicais e cinematográficas eram bem diferentes das atuais. Em outras palavras, eu gostava de um monte de bandas e filmes para os quais eu não ligo muito hoje em dia. Em matéria de bandas e cantores, quase nenhum sobreviveu à minha adolescência, mas em matéria de filmes alguns continuaram na minha lista de favoritos, a maioria deles, porém, fora das primeiras colocações. Um bom exemplo é o tema do post de hoje, Indiana Jones.

Quando criança, eu absolutamente adorava Indiana Jones, e achava Indiana Jones e o Templo da Perdição a coisa mais incrivelmente fantástica já feita para o cinema. Eu tinha vontade de comprar uma jaqueta de couro e um chapéu, e me imaginava vivendo aventuras em meio a templos ancestrais infestados de insetos, com meu chicote como companheiro. Eu era criança, oras!

Com o tempo, o deslumbramento pelos filmes de Indy foi passando, e hoje, embora eu ainda adore todos eles, já não são os primeiros a vir à minha mente quando me perguntam quais são meus filmes favoritos. Mas ainda me divirto ao ver a armadilha da pedra que rola, a perseguição no carrinho de mina, ou a sessão de autógrafos de Hitler. Em homenagem a estes três filmes tão especiais - e ao quarto, que estreou recentemente - Indiana Jones finalmente ganhará seu post aqui no átomo! Um post que às vezes eu acho que já deveria ter sido escrito há mais tempo, mas tudo bem.

IndyIndiana Jones foi criado por George Lucas e Steven Spielberg no final da década de 1970, pouco após o lançamento do primeiro Star Wars. Spielberg havia acabado de dirigir Contatos Imediatos de Terceiro Grau, e comentava com seu amigo Lucas que desejava que seu próximo filme fosse algo aventureiro e divertido, mais ou menos como os filmes de James Bond - curiosamente, a EON havia cogitado o nome de Spielberg para dirigir um filme de Bond na mesma época, mas o descartara por ele estar envolvido com a pós-produção de Tubarão. Lucas, fã dos heróis de aventuras que povoavam as revistas pulp da década de 1930, já vinha há algum tempo maturando a idéia de fazer um filme sobre um deles, e teria respondido a Spielberg que tinha "uma idéia ainda melhor".

Após acertarem os detalhes, ambos reuniram uma equipe para criar o personagem principal do filme. Seu visual foi criado pelo desenhista Jim Steranko, que havia ilustrado histórias de Nick Fury para a Marvel, e, curiosamente, era grande fã de James Bond. Lucas sugeriu que o herói deveria usar uma jaqueta do tipo que usavam os aviadores da Primeira Guerra Mundial, um chapéu semelhante ao de Humphrey Bogart no filme O Tesouro de Sierra Madre, e um chicote ao estilo Zorro. Steranko adicionou um cinto com coldre, e uma camisa e calças cáqui ao estilo das usadas por Charlton Heston em O Segredo dos Incas. Faltava apenas um nome, e Lucas sugeriu Indiana Smith, em homenagem a um cachorro chamado Indiana que ele mesmo tinha na época; Spielberg, que não gostava do nome Smith, discordou, e Lucas sugeriu, meio de brincadeira, "ok, então que tal Indiana Jones?". Pegou.

"Indiana", evidentemente, não era o nome de batismo do personagem (bem mais tarde seria revelado que este seria Henry Walton Jones, Jr.); ao melhor estilo dos pulps, Indiana - ou Indy, como era chamado por seus amigos - possuía uma espécie de "identidade secreta", atuando como o simples professor Dr. Jones quando não estivesse caçando tesouros. Apesar de Indy não ser um super-herói, ser bem humano e bem falível, ele e seu alter ego têm personalidades quase que diametralmente opostas: enquanto está dando aulas, o Dr. Jones é tímido, comedido, apenas mais um no meio da multidão; quando veste a roupa de Indiana, porém, ele se torna corajoso, heróico, falastrão e capaz de proezas aparentemente impossíveis a um humano normal. Segundo Lucas e Spielberg, isso era o que mais os atraía nos heróis dos pulps, e é provavelmente a maior razão para o sucesso de Indiana: ele transmite a mensagem de que, com um pouco mais de dedicação e coragem, qualquer um pode ser um herói.

Com o personagem criado, faltava apenas o ator para interpretá-lo. Spielberg sugeriu Harrison Ford, mas Lucas, já tendo trabalhado com ele em dois filmes, preferiu Tom Selleck. Selleck, na época, porém, gravava a série de TV Magnum, e não foi liberado pela CBS para as filmagens. Após um pouco mais de insistência de Spielberg, Lucas acabou concordando, e Ford foi chamado para o papel a menos de três semanas de começarem as filmagens do que seria o primeiro filme estrelado por Indiana Jones.

Os Caçadores da Arca Perdida (no original, Raiders of the Lost Ark, e atualmente "rebatizado" para Indiana Jones e os Caçadores da Arca Perdida), dirigido por Spielberg e produzido por Lucas, estrearia em junho de 1981. Com uma espantosa renda de 384 milhões de dólares - o mais rentável filme do ano, sendo que custou "apenas" 20 milhões - e oito indicações para o Oscar, incluindo melhor filme, das quais ganhou quatro - Melhor Som, Melhor Edição, Melhores Efeitos Visuais e Melhor Direção de Arte, além de um Oscar Especial por Edição de Efeitos Sonoros - o filme foi um imenso sucesso, recebendo várias críticas bastante favoráveis, e se tornando praticamente um clássico instantâneo.

O enredo dos Caçadores envolve a Arca da Aliança, aquela onde Moisés teria depositado os fragmentos dos Dez Mandamentos, idéia do roteirista Philip Kaufman, que ouviu a história da Arca de um dentista quando era pequeno, e ficou fascinado. Ambientado em 1936, o filme mostra Indy sendo contratado para encontrar a Arca antes dos nazistas, que podem usar seu poder para tornar o exército alemão invencível, e conquistar o mundo. Para encontrar a Arca, Indy precisa da ajuda de uma antiga paixão, Marion Ravenwood (Karen Allen), filha de seu antigo professor, Abner Ravenwood, e que está de posse de um medalhão necessário para apontar o lugar onde se encontra o tesouro; e de Sallah (John Rhys-Davies), o "melhor escavador do Cairo", que conhece a região onde a Arca está supostamente enterrada, assim como as lendas sobre ela. Para encontrar a arca antes, os nazistas contrataram ninguém menos que o maior rival de Indy, o arqueólogo francês René Belloq (Paul Freeman), auxiliado por vários soldados alemães e agentes da Gestapo, dos quais o mais sinistro é o interrogador Arnold Toht (Ronald Lacey). Completa o elenco principal o Dr. Marcus Brody (Denholm Elliott), amigo de Indy e curador do museu para onde ele planeja levar a Arca após encontrá-la.

As filmagens dos Caçadores foram bastante tumultuadas. Grande parte delas ocorreu na Tunísia, onde também foram filmadas as cenas de Tatooine de Star Wars - a cena onde Indy ameaça explodir a Arca, inclusive, foram feitas no mesmo local onde R2-D2 foi capturado pelos Jawas. Muitos membros da equipe, incluindo Ford e Rhys-Davies, sofreram de disenteria devido ao calor intenso e à má qualidade da água, o que fez com que uma programação de seis semanas de filmagens tivesse de ser reduzida para apenas quatro, e com que muitas das cenas fossem alteradas no momento das filmagens, recorrendo a improvisações de última hora, incluindo uma das mais famosas: na cena em que um espadachim se exibe para Indy, e este o mata com um tiro, o roteiro previa uma complicadíssima cena de Indy lutando contra o oponente usando seu chicote. Doente e cansado, Ford perguntou a Spielberg: "por que não podemos simplesmente dar um tiro nele?". Várias cenas da perseguição onde Indy pilota um caminhão também tiveram de ser filmadas sem Ford, com os closes dele na cabine sendo filmados depois. Uma das cenas, porém, saiu bem melhor do que todos esperavam: a igualmente famosa seqüência da abertura, onde Indy escapa de ser esmagado por uma pedra gigante. Feita de fibra de vidro, a pedra ficou tão realística e a cena tão boa que Spielberg pediu para que se acrescentasse mais um metro e meio de perseguição no finalzinho da cena.

Além de problemas com filmagens, Spielberg e Lucas também tiveram alguns problemas com elenco: além de Selleck não poder interpretar Indy, o papel de Marion foi escrito com Debra Winger em mente, que o recusou. Toht foi oferecido a Klaus Kinski, que disse ter odiado o roteiro; e Sallah seria de Danny DeVito, que não pôde aceitar por já estar envolvido com a série Taxi. O elenco também traz duas curiosidades: Alfred Molina em seu primeiro papel no cinema, como um guia que leva Indy ao templo da seqüência de abertura; e Pat Roach em dois papéis, o de um dos capangas de Toht que atacam o bar de Marion, e o do mecânico que luta com Indy na cena do avião estacionado - o que fez com que ele tivesse a duvidosa honra de ser um dos poucos a morrer duas vezes em um único filme. Também como curiosidade, vale citar duas idéias de Spielberg que foram rejeitadas por Lucas: a de que o Dr. Jones seria alcóolatra, e que Toht teria um braço biônico - esta última descartada para que o filme não acabasse virando ficção científica.

Apesar de todos estes problemas, tudo deu certo no final, com o filme se tornando o grande sucesso do qual já falamos, e dando origem, evidentemente, a uma continuação - prevista por Lucas desde o início: graças ao igualmente enorme sucesso de Star Wars, ele conseguiu da Paramount um contrato para produzir nada menos que cinco filmes de Indiana Jones. O segundo deles, Indiana Jones e o Templo da Perdição (Indiana Jones and the Temple of Doom), seria lançado dali a três anos, em maio de 1984.

O Templo da Perdição não é uma seqüência, mas uma "preqüência" dos Caçadores, ambientada um ano antes - segundo Lucas, ele optou por esta estratégia porque não queria que os nazistas fossem mais uma vez os vilões do filme. O clima do filme é bem mais pesado que o do anterior, quase um filme de terror. Spielberg e Lucas atribuem este fato à intenção inicial de que o filme fosse uma espécie de homenagem a Gunga Din, um famoso filme da década de 1930 com Cary Grant, e ao humor da dupla na época, já que ambos haviam terminado relacionamentos amorosos recentemente. De fato, o filme seria até mais pesado que a versão final, e se chamaria "Indiana Jones e o Templo da Morte".

Nesta nova aventura, Indy vai parar na Índia (?), acompanhado da cantora Willie Scott (Kate Capshaw) e do pequeno órfão chinês Short Round (Ke Huy Quan). Lá, eles são confundidos como enviados do deus Shiva, e recrutados pelo povo de uma pequena aldeia para recuperar uma pedra sagrada, que teria sido roubada por um culto maligno, que ainda escravizou todas as crianças do povoado, missão que Indy aceita por acreditar que a tal pedra seria uma das lendárias Pedras de Sankara. Durante a busca pela pedra, Indy acaba descobrindo que seu roubo faz parte do renascimento do culto Tugue, que idolatra Kali, a deusa da morte, e planeja destruir todas as outras religiões e dominar o mundo, liderados pelo sacerdote Mola Ram (Amrish Puri). Dan Aykroyd faz uma participação especial como o diretor de um aeroporto.

Os JonesSpielberg e Lucas usaram no Templo da Perdição várias cenas que haviam escrito para os Caçadores mas acabaram cortadas do roteiro, como a da perseguição na mina e a do salto do avião usando um bote inflável. Por incrível que pareça, as filmagens só consumiram 85 dias. O orçamento foi de 28 milhões de dólares, e o filme rendeu 333 milhões, além de duas indicações para o Oscar - Melhor Trilha Musical Original e Melhores Efeitos Visuais, ganhando só o último - e muitas reclamações por parte dos hindus, de que o filme seria racista e estereotipado.

As curiosidades sobre o filme incluem o fato de que temos novamente personagens batizados em homenagem a cachorros, já que Willie era a cocker spaniel de Spielberg, e Short Round o cachorro do roteirista Willard Huyck; uma nova participação de Pat Roach, desta vez em três papéis diferentes, o do homem que toca o gongo na primeira cena do filme, o de um assassino enviado para matar Indy, e o de um mestre de escravos, o que fez com que ele fosse o único ator além de Ford presente em ambos os filmes - e mais uma vez morresse duas vezes em um filme só; e o nome do clube onde se desenrola a seqüência de abertura, Club Obi Wan, em homenagem a Star Wars. Em relação ao elenco, Kate Capshaw, em seu segundo papel no cinema, não era a primeira escolha para Willie, mas após seu teste ela tirou o papel de Sharon Stone; e Ke Huy Quan (que depois também faria Os Goonies, e hoje é conhecido como Jonathan Ke Quan) na verdade não se ofereceu para o papel, mas foi acompanhando seu irmão a um teste, e os diretores de elenco decidiram convidá-lo depois que viram que ele dava dicas ao irmão sobre o que fazer e o que não fazer durante o teste. Finalmente, o Governo da Índia não deu autorização para as filmagens por não gostar do roteiro, o que fez com que o filme fosse na verdade filmado no Sri Lanka - onde Ford arrumou uma hérnia de tanto cavalgar elefantes.

Após este desvio por um filme mais "sério", Indy retornaria em mais uma aventura ao estilo da primeira cinco anos depois, em Indiana Jones e a Última Cruzada (Indiana Jones and the Last Crusade). De certa forma, Spielberg se sentiu desconfortável por ter feito uma seqüência tão diferente da original, e fez questão de completar a trilogia com um filme o mais parecido com Os Caçadores possível. Para começar, nesta nova aventura Indy está em busca mais uma vez de um artefato religioso, o Santo Graal.

Na verdade, o Santo Graal era o projeto de vida do pai de Indy, o Professor Henry Jones (Sean Connery), que durante toda a sua vida se preocupou mais em estudar sobre o Cálice e procurá-lo do que em criar seu filho. Indy se envolve com a busca do Graal quando seu pai é dado por desaparecido durante a procura, e, para completar, ele descobre que os nazistas também estão atrás do artefato. Inicialmente, portanto, a missão de Indy é salvar seu pai, mas evidentemente ambos partem em busca do Graal após se reunirem. Buscando recuperar o clima de Os Caçadores da Arca Perdida, Spielberg e Lucas ambientaram este novo filme apenas dois anos depois, em 1938, e trouxeram de volta dois personagens, Marcus Brody, que desta vez viaja com Indy, servindo como apoio cômico do filme, e Sallah, já que talvez seja preciso escavar atrás do Cálice. Completam o elenco principal Alison Doody como a Dra. Elsa Schneider, a "Indy Girl" do filme, e Julian Glover como Walter Donovan, um empresário norte-americano que deseja beber do Cálice para se tornar imortal. Pat Roach fez uma pequena participação como um agente da Gestapo, se tornando o único ator além de Ford a aparecer nos três filmes.

De certa forma, A Última Cruzada também é o primeiro filme em que outro ator além de Ford interpreta Indiana Jones, já que na seqüência inicial vemos Indy ainda com 13 anos, interpretado por River Phoenix, e já vivendo aventuras. Phoenix foi sugerido para o papel pelo próprio Ford, que disse que, de todos os atores mirins da época, Phoenix era o que mais se parecia com ele quando tinha esta idade. Já Sean Connery foi escolhido pelo próprio Spielberg, que disse que ninguém a não ser James Bond poderia ser pai de Indiana Jones.

Mas, de início, o filme não teria nada de Graal ou pai de Indy. Quando surgiu a idéia de um terceiro filme, Spielberg e Lucas pensaram mais uma vez em utilizar elementos que ficaram de fora do filme anterior, levando Indy desta vez para a China, idéia que até chegou a ganhar um roteiro feito por Chris Columbus. Após chegar à conclusão de que seria melhor algo mais próximo do primeiro filme que do segundo, Lucas sugeriu o Santo Graal, mas Spielberg não concordou, pois achava que as pessoas iriam associar o filme a Monty Python e o Cálice Sagrado. Spielberg, porém, já pensava em incluir o pai de Indy na aventura, e, após refletir um pouco, chegou à conclusão de que o Graal seria uma adição interessante, pois a busca pelo Cálice Sagrado poderia ser uma metáfora para a busca pela reconciliação entre pai e filho.

Estreando em maio de 1989, com orçamento de 48 milhões de dólares - o dobro do anterior - A Última Cruzada rendeu 474 milhões, se tornando o filme mais rentável do ano - embora, nos Estados Unidos, tenha tido renda inferior à de Batman. O filme foi indicado a três Oscars, de Melhor Trilha Sonora, Melhor Som e Melhor Edição de Efeitos Sonoros, ganhando este último, e recebeu muitas críticas positivas.

Apesar do contrato de Lucas com a Paramount ainda permitir mais dois filmes, ele não conseguia encontrar um motivo satusfatório para que Indy decidisse se aventurar novamente, e a série foi interrompida por alguns anos. Enquanto o novo filme não saía, Lucas decidiu produzir uma série de TV com o personagem, que mostrasse suas primeiras aventuras, mais ou menos como a seqüência inicial da Última Cruzada.Assim nasceu O Jovem Indiana Jones (The Young Indiana Jones Chronicles).

Televisionada entre 1992 e 1996 pela ABC, a série teve 28 episódios ao todo, mais quatro filmes feitos para a TV, e era o que nos Estados Unidos se chama edutainment, programas de televisão infantis feitos como entretenimento, mas que procuram ensinar alguma coisa às crianças ao invés de apenas diverti-las. Cada episódio se iniciava com Indy aos 93 anos, interpretado por George Hall, contando uma das aventuras que viveu quando criança. Então, um flashback nos mostrava o herói dos 8 aos 10 anos (interpretado por Corey Carrier) ou dos 16 aos 21 anos (Sean Patrick Flanery), vivendo a tal aventura - aparentemente, dos 11 aos 15 anos ele pouco se aventurou. O "velho" Indy voltava ao final do episódio para a conclusão. Ford, aos 50 anos, fez uma participação especial como um Indy de meia idade em um dos episódios. Curiosamente, quando a série foi lançada em DVD, Lucas removeu todas as aparições de Hall, mantendo apenas as aventuras, sem a introdução ou conclusão. O motivo, comenta-se, era que Hall usava um tapa-olho, em referência a uma aventura futura na qual Indy perderia um olho, mas depois Lucas teria desistido desta idéia.

Após a participação de Ford na série de TV, Lucas teve a idéia de fazer um novo filme, com um Indy mais velho, ambientado na década de 1950, tendo alienígenas como vilões, já que extraterrestres eram moda nos anos 1950. Ford e Spielberg não concordaram, achando que a idéia não era boa, mas mesmo assim Lucas decidiu encomendar um roteiro. A idéia de colocar Indiana Jones contra os ETs foi descartada de vez após a estréia de Independence Day, quando Spielberg convenceu Lucas de que mais um filme de invasão alienígena era desnecessário naquele momento. Lucas então abandonou Indiana, e se concentrou na nova trilogia de Star Wars.

Indy sessentãoNo ano 2000, Ford, Lucas e Spielberg se reencontraram durante uma homenagem do American Film Institute a Ford. Coincidentemente, o filho de Spielberg havia lhe perguntado quando sairia um novo filme de Indiana Jones, o que reacendeu o interesse do diretor no projeto. Os três, e mais os produtores Frank Marshall e Kathleen Kennedy, decidiram discutir idéias para um novo filme, e Lucas sugeriu que eles poderiam usar as Caveiras de Cristal, artefatos da América Pré-Colombiana, que ele já havia pensado em colocar em um dos episódios de O Jovem Indiana Jones, antes da série ser cancelada, como mote para que Indy se envolvesse em uma nova aventura. M. Night Shyamalan chegou a ser convidado para escrever o roteiro, mas acabou recusando por não se achar capaz de escrever uma seqüência para Os Caçadores da Arca Perdida, um de seus filmes preferidos de todos os tempos.

Após muitas mudanças de nome e no roteiro, finalmente nasceu Indiana Jones e o Reino da Caveira de Cristal (Indiana Jones and the Crystal Skull Kingdom), ambientado em 1957, exatos 19 anos após A Última Cruzada - mesmo tempo que separa os dois filmes - e trazendo os soviéticos substituindo os nazistas no papel de vilões, para aproveitar o momento da Guerra Fria. Diferentemente dos outros filmes, este foi filmado quase todo nos Estados Unidos, exceto por algumas seqüências nas Cataratas do Iguaçu. Spielberg também optou por não filmar com equipamento digital, e por não utilizar efeitos especiais gerados por computação gráfica, para que o filme tivesse o mesmo clima dos outros três. Ford, apesar dos 63 anos, também fez todas as suas cenas de ação, dispensando dublês, para que o filme ficasse o mais realístico possível.

Este novo filme traz um Indiana Jones mais velho e mais experiente, acompanhado do explorador Mac (Ray Winstone) e do adolescente Mutt (Shia LaBeouf), em busca da Caveira de Cristal, um artefato ancestral e poderoso, descoberto por seu amigo Harold Oxley (John Hurt), e que interessa aos soviéticos, liderados pela Dra. Irina Spalko (Cate Blanchett). O filme também traz de volta Karen Allen no papel de Marion, antiga paixão de Indy, que mais uma vez o acompanha em sua aventura. Marcus Brody, infelizmente, não pôde estar no filme, já que Denholm Elliott falecera em 1992, assim como Pat Roach, que faleceu em 2004. Sean Connery ainda está vivo, mas aposentado, e recusou repetir o papel do Professor Jones.

Estreando em maio deste ano, O Reino da Caveira de Cristal foi um grande sucesso, recebendo muitas críticas positivas, apesar de alguns críticos terem torcido o nariz, e do Partido Comunista da Rússia ter reclamado de os soviéticos serem os vilões. Com orçamento de 185 milhões, rendeu até agora 715 milhões no mundo inteiro, sendo 25 milhões apenas no dia da estréia, o que fez com que ele se tornasse a quarta maior bilheteria de abertura da história, além do filme mais rentável de 2008 até o momento.

Criado para homenagear os heróis do passado, Indiana Jones se tornou um dos maiores ícones do cinema, superando até mesmo alguns dos que lhe serviram de inspiração, como Allan Quatermain, que existe desde 1885, mas ganhou um filme em 1985, na carona do sucesso de Indy. O próprio Indy inspirou diversos outros personagens, como Jack Colton de Tudo por Uma Esmeralda, Rick O'Connell de A Múmia, e a mulher mais famosa dos games, Lara Croft, de Tomb Raider. Já se fala em um "Indiana Jones 5", no qual Indy passaria o bastão provavelmente para Mutt, que daria segmento às suas aventuras. Eu pessoalmente, não me importaria de ver Ford no papel até que tivéssemos um Indy bem velhinho.
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quarta-feira, 9 de julho de 2008

Escrito por em 9.7.08 com 0 comentários

James Bond (III)

E hoje teremos a terceira parte do post sobre James Bond! Quando terminamos a anterior, Roger Moore tinha acabado de interpretar o agente 007 pela quarta vez, e todos os romances escritos por Fleming já haviam sido adaptados. Para décimo-segundo filme da série, Broccoli decidiu então adaptar um conto, For Your Eyes Only (no Brasil, 007 Somente para seus Olhos), que, na verdade, deveria ter se tornado o décimo-primeiro filme, mas acabou dando lugar a Moonraker, que tentou pegar uma carona no sucesso de Star Wars.

For Your Eyes Only, o livro, foi o oitavo da série, lançado em 1960, e trazia cinco contos: From a View to a Kill, Risico, The Hildebrand Rarity, Quantum of Solace e o que dá nome à obra. O filme é, na verdade, uma mistura de For Your Eyes Only e Risico, mas a maior parte do roteiro é original.

Bernard Lee (M)O filme tem uma das seqüências de abertura mais curiosas da série, onde Bond está visitando o túmulo de sua esposa quando é atacado por Blofeld (John Hollis, dublado por Robert Rietty). Bond consegue se livrar da armadilha do vilão e o mata, acabando com sua ameaça de uma vez por todas. Embora o nome de Blofeld não seja citado em momento algum, é claramente o vilão, e esta seqüência foi incluída por dois motivos: primeiro porque a "morte" de Blofeld em Diamonds Are Forever foi meio subentendida, propositalmente, já que a EON ainda tinha esperanças de usá-lo em um outro filme, mas, como Kevin McClory, o dono dos direitos sobre o personagem, jamais permitiu, eles decidiram demonstrar de uma vez por todas que o vilão estava morto. Em segundo lugar, porque havia um boato de que Moore, cansado do papel, não aceitaria repeti-lo, então a cena serviria para apresentar um novo Bond ao público. Moore acabou aceitando voltar ao papel, mas a cena foi mantida assim mesmo.

Dirigido por John Glen, que havia sido o editor dos dois filmes anteriores, For Your Eyes Only estreou em junho de 1981, primeiro no Reino Unido e dois dias depois nos Estados Unidos. Com orçamento de 28 milhões de dólares, rendeu mais de 195 milhões, sendo 55 milhões apenas na terra do Tio Sam. A música-tema era cantada por Sheena Easton, que inclusive aparece na abertura cantando-a, na primeira e única vez em que isto acontece na série. O filme também foi alvo de duas controvérsias, digamos, sexuais: seu cartaz, que mostra uma moça de costas, de biquini e com parte do bumbum à mostra, foi considerado muito ousado para a época, e teve de ser editado em várias partes do mundo. Além disso, há uma cena no filme em que várias mulheres de biquini estão em volta de uma piscina; após o lançamento do filme, uma delas, Caroline Cossey, revelaria ser na verdade um transexual. Cossey só aparece de relance em umas duas cenas, mas algumas publicações sensacionalistas chegaram a divulgar que ela teria tido "tórridas cenas de amor com 007".

Mas o filme também tem um enredo: Bond é enviado pelo MI6 para recuperar um sistema de comando de mísseis conhecido como ATAC, roubado durante um ataque misterioso. As pistas o levam à Grécia e ao contrabandista Milos Columbo (Chaim Topol), mas, para chegar a Columbo, Bond precisará da ajuda de seu ex-parceiro e hoje empresário Aristotle Kristatos (Julian Glover). Durante sua missão, como de costume, Bond acaba se envolvendo com uma Bond Girl, Melina Havelock (Carole Bouquet), cujos pais foram assassinados em um ataque relacionado à busca do ATAC, e que deseja vingança.

For Your Eyes Only foi o último filme de James Bond distribuído pela United Artists, que pouco depois de seu lançamento seria comprada pela MGM. Também foi o primeiro sem a presença de Bernard Lee, que interpretava M, e morreu no início de 1981. Em homenagem a ele, os produtores decidiram não substituí-lo por outro ator naquela ocasião, e, portanto, M não aparece no filme. A partir do seguinte, M seria interpretado por Robert Brown.

Já com mais de 50 anos, Moore começava a considerar seriamente não voltar a interpretar Bond, o que levou a EON a fazer testes com dois outros atores, Timothy Dalton e James Brolin. Um evento inesperado, porém, levou os produtores a investir novamente em Moore, e convencê-lo a fazer mais um filme. E este filme seria o que leva o curioso nome de Octopussy (e o não menos curioso 007 contra Octopussy no Brasil).

OctopussyAssim como seu antecessor, Octopussy tira seu nome de um conto, o principal do livro Octopussy and The Living Daylights, décimo-quarto e último da série, publicado dois anos após a morte de Fleming, em 1966. Sua primeira edição trazia apenas dois contos (evidentemente, Octopussy e The Living Daylights), mas a partir da segunda edição foi incluído The Property of a Lady, e, em 2002, o último conto de Fleming que permanecia inédito, 007 in New York - a única de suas histórias a trazer "007" no nome.

A rigor, Octopussy, o filme, é uma mistura de Octopussy, o conto, e The Property of a Lady; na realidade, porém, o roteiro é quase todo inédito, e muito pouco é retirado destes contos. Ao contrário do que o título em português possa sugerir, Octopussy (Maud Adams) não é a vilã do filme, mas a Bond Girl, uma rica dona de circo e contrabandista de jóias nas horas vagas, à qual Bond deve se unir para impedir mais um plano de destruição do mundo pelo uso de armas nuclares. Adams, que já havia interpretado Andrea Anders em The Man with the Golden Gun, não foi a primeira escolha para o papel - os produtores, inclusive, relutaram muito em chamá-la, pois temiam uma associação entre as duas personagens - mas acabou ficando com ele após as recusas de Sybil Danning, Faye Dunaway e Persis Khambatta.

No filme, Bond deve substituir o agente 009 em uma missão que o levará até a Índia, atrás do príncipe afegão Kamal Khan (Louis Jourdan), que trabalha para o General Orlov (Steven Berkoff), que a princípio apenas rouba dos soviéticos jóias e relíquias da época dos czares, mas na verdade planeja usar armas nuclares para obrigar toda a Europa a se desarmar - com um propósito maligno em mente, evidentemente. Octopussy, a princípio, é aliada de Khan, mas acaba se bandeando para o lado de Bond. Bond também conta com a ajuda do indiano Vijay, interpretado pelo tenista Vijay Amritraj, que, em uma curiosa cena bastante criticada, toca a música-tema do 007 em uma flauta, para mostrar a Bond que ele é um contato do MI6.

Octopussy foi dirigido mais uma vez por John Glen. A música-tema, All Time High, cantada por Rita Coolidge, foi a segunda a não ter o mesmo nome do filme, e a primeira a não ter o nome do filme cantada em nenhum momento em sua letra. O filme, que estreou em junho de 1983, primeiro no Reino Unido e quatro dias depois nos Estados Unidos, custou 35 milhões de dólares, e foi um grande sucesso de bilheteria, rendendo 187,5 milhões no mundo inteiro, sendo quase 68 milhões apenas nos Estados Unidos. A crítica, porém, não gostou tanto assim, reclamando de várias cenas, e considerando o filme longo e confuso.

O evento inesperado que levou Moore a fazer seu sexto filme no papel de 007 foi nada menos que o pior pesadelo da EON tornado realidade: talvez irritado com a presença de Blofeld em For Your Eyes Only, McClory decidiu fazer valer seus direitos, e filmar um 007 paralelo, não-oficial. E com Sean Connery no papel do agente - eis porque Moore não poderia ser substituído ainda, já que a EON temia que um ator novato não conseguisse fazer frente ao "Bond original". Assim, curiosamente, dois filmes de James Bond foram produzidos quase que simultaneamente, e dois estrearam em um único ano. Para batizar seu filme, McClory ainda foi engraçadinho e usou a frase Never Say Never Again ("nunca diga nunca novamente"), que teria sido proferida pela esposa de Connery quando ele declarou que nunca mais aceitaria interpretar Bond outra vez após Diamonds Are Forever. Embora Never Say Never Again costume ser considerado até pelos fãs de 007 como um ótimo filme, na "batalha dos Bonds" ele acabou perdendo para Octopussy, já que custou 36 milhões de dólares e rendeu 160 milhões, sendo 55 milhões nos Estados Unidos. Alguns críticos também acharam que Connery, aos 53 anos, estava "muito velho" para o papel, mas, na verdade, ele é três anos mais novo que Moore.

Desmond Llewelyn (Q)Essencialmente, Never Say Never Again (no Brasil, 007 Nunca Mais Outra Vez) é uma refilmagem de Thunderball, mas, embora o enredo seja o mesmo, o filme é bastante diferente. Nele, a organização criminosa SPECTRE, liderada por Ernst Stavro Blofeld (Max von Sydow) rouba dois mísseis nucleares norte-americanos, e exige bilhões de dólares para não usá-los contra o mundo. Bond é então enviado para as Bahamas, onde enfrentará um dos agentes da SPECTRE, Maximilian Largo (Klaus Maria Brandauer), tentará escapar da perigosa Fatima Blush (Barbara Carrera) e se envolverá com a Bond Girl Domino Petachi (Kim Basinger), namorada de Largo; tudo isso contando com a ajuda do agente da CIA Felix Leiter (Bernie Casey) e do atrapalhado Nigel Small-Fawcett (Rowan Atkinson, conhecido por aqui como Mr. Bean). Curiosamente, neste filme Bond é considerado um agente velho e à beira da aposentadoria, e M (Edward Fox) só aceita enviá-lo em missão quando descobre que a SPECTRE está envolvida. Também curiosamente, o filme parece ignorar os demais, já que Bond e Blofeld não se conhecem.

Dirigido por Irvin Kershner (de O Império Contra-Ataca), Never Say Never Again deveria ter sido lançado na mesma época de Octopussy, para fazer uma concorrência direta; alguns atrasos na produção, porém, fizeram com que ele só fosse lançado em outubro de 1983, primeiro nos Estados Unidos e oito dias depois no Reino Unido, distribuído pela Warner Bros. Por não ser um filme "oficial", não conta com a tradicional seqüência do revólver nem com a igualmente tradicional abertura, embora durante os créditos iniciais seja executada uma música-tema cantada por Lani Hall. O tema de 007, evidentemente, não é tocado em nenhum momento do filme. Graças à diferença de três meses entre os dois lançamentos, um dos filmes não roubou público do outro, a EON não sofreu tanto quanto imaginava, e a série oficial seguiria seu rumo normalmente.

O décimo-quarto filme produzido pela EON estrearia em junho de 1985, simultaneamente nos Estados Unidos e Reino Unido, com o nome de A View to a Kill (no Brasil, 007 na Mira dos Assassinos). Assim como Octopussy, ele era uma adaptação de um conto que tinha pouquíssimo a ver com esse conto, no caso From a View to a Kill, do livro For Your Eyes Only. Dirigido mais uma vez por Glen, e com a música-tema a cargo do Duran Duran, o filme foi um grande sucesso comercial, rendendo 152,4 milhões de dólares no mundo inteiro, sendo 50,3 milhões apenas nos Estados Unidos - bem mais que os 30 milhões que custou. Apesar disso, foi um retumbante fracasso de crítica, costuma ser lembrado como um dos piores, e foi o filme que Moore menos gostou de fazer, principalmente por, aos 58 anos, já se achar velho demais para o papel.

No filme, o primeiro produzido em dupla por Albert R. Broccoli e seu enteado Michael G. Wilson, Bond viaja mais uma vez para os Estados Unidos, desta vez para a Costa Oeste, onde deverá deter o megalomaníaco da vez, Max Zorin (Christopher Walken), presidente de uma indústria fabricante de microchips, que planeja nada menos que causar um terremoto no Vale do Silício, o que acabaria com todas as demais empresas do setor, deixando-o com um monopólio. Antes do papel ser oferecido a Walken, ele o foi a David Bowie e Sting, que o recusaram. Talvez querendo ter um ídolo da música no filme de qualquer jeito, os produtores acabaram escalando a cantora Grace Jones para o papel de May Day, namorada de Zorin e sua principal capanga. Outras curiosidades do elenco incluem uma participação especial de Dolph Lundgreen, à época namorado de Jones, como um agente soviético, e uma brevíssima aparição de Maud Adams, que visitava seu amigo Moore em um dia de gravações e acabou sendo escalada como figurante, se tornando a única atriz a aparecer em três filmes da série. Mais do que ela, só Lois Maxwell, que em A View to a Kill interpretou Moneypenny, a fiel secretária de M, pela décima-quarta e última vez, sendo substituída nos dois filmes seguintes por Caroline Bliss. Ah, sim, o filme também tem uma Bond Girl, Stacey Sutton (Tanya Roberts), geóloga neta de um industrial do petróleo cuja companhia foi assimilada fraudulentamente pela Zorin.

Lois Maxwell (Moneypenny)A View to a Kill foi o sétimo e último filme de Roger Moore como 007, que, ao fim de seu contrato, evidentemente não tinha interesse nenhum em renová-lo. Assim, começou uma nova busca por um novo Bond, onde foram considerados Lewis Collins, Sam Neil, Pierce Brosnan - que quase ficou com o papel, não fosse ele o protagonista da série de detetive Remington Steele, da NBC - e Timothy Dalton, que após bater na trave por pelo menos duas vezes, finalmente ficou com o papel, aos 40 anos de idade.

Foi com a entrada de Dalton que começou uma história, que vocês já devem ter ouvido falar, de que os filmes de 007 são "atemporais", ou seja, eles sempre são ambientados na época atual, e Bond sempre tem mais ou menos a mesma idade, sendo irrelevante o ano em que ele nasceu ou entrou para o MI6. Na verdade, como Moore é três anos mais velho que Connery, e George Lazenby não é tão mais novo assim que os dois, pode-se muito bem considerar que os primeiros catorze filmes mostravam o mesmo Bond, que foi envelhecendo normalmente ao longo dos anos. Mas quando o papel passou para Dalton, vinte anos mais jovem que Moore, os produtores se viram diante de uma situação para a qual teriam três saídas: a primeira, fazer com que todos os filmes subseqüentes fossem de época, ambientados durante as décadas de 60 ou 70; a segunda, dar um reboot, como se os demais filmes não tivessem acontecido, e Bond estivesse no auge de sua carreira na época atual; e a terceira, ignorar isso tudo e continuar filmando como se ninguém fosse perceber que Bond rejuvenesceu. Para muitos, a escolha desta terceira opção foi a responsável pela falta de interesse dos fãs mais antigos pelos filmes mais novos.

Se bem que o décimo-quinto filme, The Living Daylights (no Brasil, 007 Marcado para a Morte), é até bom. Inspirado no conto de mesmo nome do livro Octopussy and The Living Daylights, mais uma vez o filme tinha bem pouco a ver com o conto. Nele, o 007 é designado para proteger o General soviético Georgi Koskov (Jeroen Krabbé), que planeja desertar, levando aos britânicos a informação que o General Pushkin (John Rhys-Davies), substituto de Gogol, teria ressucitado a operação smiert spionom, na qual a KGB mataria sistematicamente diversos agentes do MI6 ao redor do mundo, enfraquecendo a agência. Enquanto investiga a operação, Bond acaba descobrindo um esquema de tráfico de armas e drogas que envolve o norte-americano Brad Whitaker (Joe Don Baker). A Bond Girl do filme, Kara Milovy (Maryam d'Abo), é uma violoncelista tchecoslovaca namorada de Koskov, que acaba se bandeando para o lado de Bond quando descobre que ela também é considerada desertora e passível de punição. The Living Daylights foi o último filme com a participação do General Gogol, já que Walter Gotell, que o interpretava, teve de se afastar por motivos de saúde. O filme também traz a sexta participação de Felix Leiter, interpretado pelo sexto ator diferente, John Terry.

Timothy DaltonQuarto filme dirigido por Glen, The Living Daylights teve um orçamento de 40 milhões de dólares, e estreou em junho de 1987, rendendo 51 milhões nos Estados Unidos, e 191 milhões no mundo inteiro. A música-tema foi interpretada pela banda a-ha, mas The Living Daylights foi o primeiro filme da série a utilizar uma música diferente da música-tema durante os créditos finais, no caso, If There Was A Man, interpretada por Chrissie Hynde, dos Pretenders. O filme gerou pelo menos um incidente curioso: o esquema de Whitaker utiliza veículos e embalagens da Cruz Vermelha para traficar ópio, o que fez com que a famosa organização humanitária ameaçasse processar a MGM, e rendeu um aviso na abertura do filme de que o símbolo da Cruz Vermelha foi usado sem autorização.

Seguindo o intervalo-padrão de dois anos, o décimo-sexto filme de Bond, Licence to Kill (007 Permissão para Matar no Brasil), quinto e último dirigido por Glen, estrearia em julho de 1989. Primeiro filme da série oficial a não tirar seu título de uma das histórias escritas por Fleming, Licence to Kill pega alguns elementos de The Hildebrand Rarity e outros de Live and Let Die que ficaram de fora da primeira adaptação. Originalmente, o filme iria se chamar Licence Revoked ("licença revogada"), mas o título foi trocado após uma pesquisa nos Estados Unidos apontar que as pessoas o associavam com a perda da carteira de motorista.

O motivo para a escolha do nome está no enredo: Bond está nos Estados Unidos para o casamento de seu amigo Leiter (David Hedison, que já o havia interpretado em Live and Let Die, o primeiro a repetir o papel), e ambos, antes da cerimônia, capturam o traficante Franz Sanchez (Robert Davi). No dia seguinte, Sanchez suborna um agente para deixá-lo escapar, e vai em busca de vingança, matando a esposa de Leiter e ferindo-o seriamente. Diante disso, quem parte em busca de vingança é Bond, que, ao desobedecer uma ordem de M para ir em missão a Istambul, tem sua permissão para matar revogada. Mas isto não impedirá o ex-007 de ir em busca de Sanchez, contando com a ajuda da ex-piloto da CIA e Bond Girl Pam Bouvier (Carey Lowell). O elenco conta ainda com Benicio del Toro no papel de Dario, capanga de Sanchez; e Talisa Soto como Lupe Lamora, namorada do vilão.

Com a música-tema cantada por Gladys Knight, e orçamento de 32 milhões de dólares, Licence to Kill rendeu 156 milhões no mundo inteiro, mas apenas 34 milhões nos Estados Unidos, sendo considerado um fracasso de bilheteria. Alguns atribuem este valor à pesada concorrência, já que o filme estreou próximo a Batman, Indiana Jones e a Última Cruzada, Jornada nas Estrelas V, Máquina Mortífera 2, O Segredo do Abismo, Os Caça-Fantasmas 2 e Querida, Encolhi as Crianças. Para evitar que isto se repetisse, a EON decidiu que dali por diante nenhum filme subseqüente de James Bond estrearia no verão norte-americano.

Licence to Kill foi o último filme da série produzido por Broccoli, que se afastaria da produção do seguinte devido a problemas de saúde, e faleceria em 1996. Pouco após sua estréia, tiveram início várias batalhas judiciais, motivadas pela intenção da MGM de vender os direitos de distribuição de todos os filmes de James Bond para a francesa Pathé, que então os comercializaria para exibição em TVs de todo o mundo, algo com o qual a EON não concordou. Tais batalhas acabaram atrasando o lançamento do próximo título da série em seis anos, o maior intervalo até hoje sem filmes de Bond nos cinemas. Mas isso já é assunto para a quarta e última parte deste post, em breve!

James Bond

Roger Moore
Timothy Dalton

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quarta-feira, 2 de julho de 2008

Escrito por em 2.7.08 com 0 comentários

Nascar

Desde criança, eu adoro corridas de automóvel. Como fã da Fórmula 1, porém, duas coisas não entravam na minha cabeça: como é que os americanos podiam gostar de corridas de 200 voltas em ovais, e como que alguém podia gostar de corridas de stock cars, que eu achava grandes e desajeitados demais para correr em autódromos. Após umas duas temporadas de Fórmula Indy, venci meu preconceito contra corridas de 200 voltas em ovais. A resistência aos stock cars, porém, demorou bem mais para ser vencida.

Apenas há pouco tempo, coisa de uns três anos no máximo, resolvi assistir a uma corrida da Stock Car Brasil enquanto tomava o café-da-manhã. Não vou dizer que me apaixonei pela categoria, mas resolvi dar mais algumas chances e assitir a mais algumas provas. Continuo achando os carros grandes e desajeitados demais para correr em autódromos, mas até que as corridas são bem interessantes. Este ano, pela primeira vez, decidi acompanhar o campeonato inteiro.

Mas ainda faltava um teste de fogo para derrubar minha resistência de vez: a Nascar, que não somente é de stock cars, mas ainda tem corridas de 200 voltas em ovais. Eu não tinha um plano deliberado, tipo "vou assistir Nascar para ver como é que é", mas, no ano passado, estava eu zapeando quando achei uma corrida, e resolvi ficar assistindo. Mais uma vez, não vou dizer que me apaixonei pela categoria, mas de lá pra cá assisti a várias corridas, ao vivo ou em VT, e devo confessar que passei a achá-las bastante interessantes. Tanto que a Nascar virou o assunto do post de hoje.

A relação que eu mantenho com a Nascar é a mesma que eu mantenho com o beisebol: apesar de gostar da categoria, e de acompanhar razoavelmente o campeonato, eu assisto a poucas corridas inteiras, pelo simples motivo de que elas demoram muito. Tudo bem, Indianápolis também demora umas quatro horas, mas é uma vez por ano, e não uma vez por semana. Aliás, eu acho que alguém devia fazer uma tese sobre o porquê dos americanos gostarem tanto de eventos esportivos tão demorados.

A Nascar, sigla para National Association for Stock Car Auto Racing ("Associação Nacional para Corridas de Stock Cars") foi fundada pelo mecânico William France, Sr. em fevereiro de 1948, com a ajuda de vários pilotos de stock cars de todos os Estados Unidos. As corridas de stock cars - que tinham este nome por utilizar carros comuns, que podiam ser encontrados em qualquer loja de automóveis, ao invés de carros fabricados especificamente para corridas - já eram muito populares nos Estados Unidos desde a década de 30; as corridas, porém, eram isoladas, sem fazer parte de um único campeonato, como a famosíssima prova da Daytona Beach, Flórida. O intuito de France e seus amigos era reunir várias destas corridas e criar um campeonato, onde cada corrida conferiria pontos aos pilotos de acordo com a sua posição de chegada, se sagrando campeão o que tivesse mais pontos ao final da última prova. Diz a lenda que o primeiro sistema de pontos da categoria foi escrito em um guardanapo.

A primeira prova da Nascar foi disputada em 19 de junho de 1949 em Charlotte. O primeiro campeonato contou com oito provas, e foi vencido por Red Byron. No início, as regras eram tão rígidas que os carros deveriam ser exatamente iguais aos fabricados para a venda, sendo desclassificado qualquer piloto que fizesse a menor modificação que fosse no intuito de ganhar velocidade - o que, curiosamente, resultava em cenas como os pilotos indo de sua casa ou hotel ao autódromo dirigindo o mesmo carro que usariam para correr. A partir do meio da década de 1950, começaram a ser permitidas modificações, desde que elas fossem feitas em nome da segurança. A rigidez das regras foi diminuindo, porém, e a partir do final da década de 1960, os stock cars já eram o que são hoje: carros fabricados especificamente para corridas, mas sob uma "casca" que os deixa com aparência de carros comuns. A partir da década seguinte, a categoria entraria no que é conhecido hoje pelos fãs como sua "era moderna", com a entrada dos patrocinadores, mudanças no regulamento e no sistema de pontos, e grandes inovações tecnológicas a cada campeonato. Em 1979, seria televisionada a primeira prova ao vivo do início ao final, as 500 Milhas de Daytona, pela CBS.

Após estes 60 anos, a Nascar se tornou um gigante não só do automobilismo, mas também do esporte mundial. A entidade organiza por ano 1.500 corridas em mais de 100 pistas de 39 estados norte-americanos, Canadá e México. Seu campeonato é o segundo mais assistido pela TV nos Estados Unidos, perdendo apenas para o da NFL. Dos 20 eventos esportivos norte-americanos de maior público presente, 17 são corridas da Nascar - e dois dos outros três são o Super Bowl e as 500 Milhas de Indianápolis. Suas provas são transmitidas ao vivo para mais de 150 países, e sua categoria principal é a segunda mais rentável do automobilismo mundial, perdendo apenas para a Fórmula 1.

"Categoria principal" porque é claro que as 1.500 corridas por ano da Nascar não são todas do mesmo campeonato. A rigor, "Nascar" não é uma categoria, mas uma entidade que controla o automobilismo de stock cars na América do Norte; sendo assim, ela regula diversas categorias, sendo cinco "nacionais", com corridas por todo o país, e diversas outras regionais, com corridas em uma única região, ou até mesmo em um único estado, dos Estados Unidos ou Canadá.

Das cinco categorias nacionais, a principal e mais importante, atrás apenas da Fórmula 1 em rentabilidade, é a conhecida como Sprint Cup. Este nome, ao contrário do que possa parecer, não tem nada a ver com velocidade (sprint é um verbo que equivale a "arrancada", "disparada", ou simplesmente ao ato de sair correndo a toda velocidade); a categoria foi assim batizada por ser patrocinada pela Sprint, uma companhia de telecomunicações que é dona da Nextel. Entre 2004 e 2007, aliás, a categoria era conhecida como Nextel Cup; e, antes disso, entre 1972 e 2003, como Winston Cup, patrocinada pela R.J. Reynolds Tabaco, que fabricava o cigarro Winston. Antes disso, entre 1950 e 1971, ela se chamava simplesmente Grand National Series, e a temporada de 1949 teve o nome de Nascar Strickly Stock Series.

É na Sprint Cup que correm os principais pilotos da Nascar, e onde são disputadas as principais provas. O calendário atualmente conta com 36 provas, disputadas em 22 autódromos diferentes. Destes, cinco são ovais curtos, de uma milha ou menos de comprimento (Bristol', Dover', Martinsville', Phoenix' e Richmond'); nove são ovais intermediários, entre uma e duas milhas de comprimento (Atlanta', Charlotte', Chicagoland, Darlington, Homestead, Kansas City, Las Vegas, New Hampshire' e Texas'); seis são os chamados superspeedways, ovais de mais de duas milhas de comprimento (Daytona', Fontana', Indianápolis, Michigan', Pocono' e Talladega'); e dois são em circuitos mistos (Sonoma e Watkins Glen). Autódromos marcados com um ' sediam duas corridas a cada temporada. A cada prova os pilotos correm entre 300 e 600 milhas, o que dá uma média de 200 voltas e umas quatro horas de corrida.

40 carros largam a cada corrida, mas qualquer número de pilotos pode se inscrever para o campeonato - alguns, inclusive, nem disputam o campeonato inteiro, apenas algumas provas. Em cada prova, os 35 mais bem colocados do campeonato têm participação garantida, independente da posição de largada que obtiverem durante a classificação; os demais disputam as cinco vagas restantes. Esta regra é diferente para as cinco primeiras corridas da temporada, onde têm lugar garantido os 35 primeiros do campeonato do ano anterior. Curiosamente, a numeração dos carros considera zeros à esquerda em números de dois dígitos, então podemos ter dois carros diferentes com os números 7 e 07, por exemplo. O carro da Sprint Cup é tão cheio de inovações tecnológicas que ganhou o apelido de "Carro do Amanhã" ("Car of Tomorrow"). A maior parte das inovações, porém, visa a segurança, tanto que o número de acidentes diminuiu consideravelmente após sua estréia no ano passado.

O campeonato da Sprint Cup utiliza um sistema de playoffs, chamado de Chase for the Sprint Cup. Após as 26 primeiras corridas, os doze primeiros do campeonato ganham um bônus de 5.000 pontos, mais dez pontos para cada corrida que tenham vencido. Isto faz com que somente eles tenham a chance de continuar brigando pelo campeonato, já que os demais ficam bem para trás - mas todos continuam correndo, com os pontos das últimas dez corridas sendo distribuídos normalmente. Este sistema, criado em 2004 e aperfeiçoado em 2007, busca garantir que o campeão não seja conhecido por antecipação, mantendo a emoção até a última prova.

Assim como a jóia da coroa da IRL são as 500 Milhas de Indianápolis, a jóia da Sprint Cup são as 500 Milhas de Daytona. Disputada desde 1959, em um autódromo construído especialmente para a Nascar, a corrida é o evento automobilístico mais assistido pela TV nos Estados Unidos, superando até Indianápolis - que é o maior evento de público presente - e é considerada o maior evento do stock car mundial. Disputada em 200 voltas ao redor do oval, e com direito a troféu próprio para o vencedor, as 500 Milhas de Daytona ainda contam com um sistema de classificação curiosíssimo: apenas as duas primeiras posições do grid são definidas na classificação; os demais pilotos devem correr duas corridas especiais, chamadas The Duels, de 60 voltas cada, disputadas na quinta-feira anterior às 500 Milhas. Metade dos pilotos que tentam se classificar disputam o primeiro Duel, e a outra metade o segundo, distribuídos de acordo com a colocação no campeonato do ano anterior, e largando de acordo com a velocidade obtida na classificação. O resultado dos Duels é que formará o grid das 500 Milhas, com o primeiro definindo as posições ímpares, e o segundo, as pares. Assim, o vencedor do primeiro Duel larga em terceiro, o segundo colocado em quinto, o terceiro em sétimo, o vencedor do segundo Duel em quarto, e assim por diante.

O calendário da Sprint Cup conta ainda com duas provas que não valem pontos, mas rendem gordos prêmios em dinheiro aos vencedores. A primeira, conhecida como The Shootout, é sempre disputada no fim de semana anterior às 500 Milhas de Daytona, no mesmo autódromo. A prova é disputada apenas pelos pilotos que conseguiram pole positions no ano anterior, mais os que já a venceram em alguma ocasião, consiste de dois segmentos, um de 20 voltas e um de 50 voltas, com um intervalo de 10 minutos entre eles, e tem seu grid de largada determinado por sorteio, ao invés de classificação. No fim de semana anterior às 600 Milhas de Charlotte, no mesmo autódromo, é disputada a All Star Race, composta de 100 voltas divididas em quatro partes de 25 voltas cada, com intervalos entre elas. Participam da All Star os vencedores de todas as provas do ano anterior, de todas as provas da mesma temporada anteriores a ela, os últimos dez vencedores dela, os últimos dez campeões da Sprint Cup, e os dois primeiros colocados da Sprint Showdown, uma corrida de classificação de 40 voltas divididas em duas partes de 20, realizada um pouco antes da All Star, e da qual participam todos os pilotos que já não estejam classificados para ela.

Depois da Sprint Cup, a categoria mais importante da Nascar é a Nationwide Series, que também não tem este nome por correr em pistas de todos os Estados Unidos, mas por ser patrocinada pela companhia de seguros Nationwide. Criada em 1982 com o nome de Busch Grand National Series, devido ao patrocínio da cervejaria Anheuser-Busch, fabricante da Budweiser, a Nationwide Series é uma espécie de categoria de acesso, onde correm os pilotos que desejam ganhar experiência em provas de stock cars ou em ovais, para um dia se transferirem para a Sprint Cup. Os carros da Nationwide Series são um pouco menos potentes e tecnologicamente avançados que o da Sprint Cup, mas boatos dizem que a categoria também passará a usar o Carro do Amanhã a partir da próxima temporada.

O campeonato da Nationwide Series conta com 35 provas, mas não tem playoffs, sendo campeão o piloto que somar mais pontos ao final da última corrida. Nem todas as provas são disputadas nos mesmos autódromos que as da Sprint Cup, mas as que são costumam ser realizadas no dia anterior, para estimular a presença do público - tanto que, em alguns autódromos, um mesmo ingresso vale para ambas as corridas. Graças a isso, nos últimos anos os pilotos das equipes mais endinheiradas da Sprint Cup têm se inscrito também na Nationwide Series, usando a corrida da Nationwide como "aquecimento" ou "treinamento" para a corrida da Sprint. Isto tem gerado muitas reclamações por parte dos pilotos e equipes da Nationwide, pois, sendo os pilotos da Sprint Cup mais experientes, e suas equipes mais ricas, eles acabam tendo vantagem sobre os pilotos da Nationwide, vencendo a maioria das provas, e impedindo que muitos pilotos da Nationwide se classifiquem para a maioria delas. Embora as equipes da Nationwide queiram que pilotos da Sprint Cup sejam proibidos de correr suas provas, a Nascar, não querendo irritar seus principais garotos-propaganda, tem estudado uma saída que acabe sendo boa para ambas as partes, tipo fazer com que os pilotos da Sprint Cup não possam ganhar pontos válidos pelo campeonato da Nationwide.

Dos 26 autódromos usados na Nationwide Series, sete são ovais curtos (Bristol', Dover', Memphis, Milwaukee, O'Reilly Park, Phoenix' e Richmond'), doze são ovais intermediários (Atlanta, Charlotte', Chicagoland, Darlington, Homestead, Kansas City, Kentucky, Las Vegas, Madison, Nashville', New Hampshire e Texas'), quatro são superspeedways (Daytona', Fontana', Michigan e Talladega) e três são circuitos mistos (Cidade do México, Montreal e Watkins Glen). Autódromos marcados com um ' sediam duas corridas a cada temporada. A categoria é a única das três nacionais a realizar provas fora do território norte-americano. As corridas da Nationwide Series têm entre 200 e 312 milhas, durando uma média de duas horas e meia cada.

A terceira categoria nacional da Nascar atende pelo nome de Craftsman Truck Series, como vocês já devem ter imaginado, por ser patrocinada pelas ferramentas Craftsman. Diferentemente da Sprint Cup e da Nationwide Series, a Truck Series não é uma categoria de stock cars, mas sim de stock trucks, caminhonetes com caçambinha e tudo, modificadas para correr. A categoria foi criada em 1995, e a princípio foi vista como uma excentricidade destinada a pilotos que não conseguissem passar da Nationwide Series para a Sprint Cup, mas hoje atrai cada vez mais jovens pilotos, e alguns deles acabam passando para a Sprint Cup sem nunca correr na Nationwide. Os índices de audiência da Truck Series crescem a cada dia, mas ainda não são tão bons quanto os das outras duas categorias.

O calendário da Truck Series é bem mais curto, com 25 provas disputadas em 22 autódromos, dos quais oito são ovais curtos (Bristol, Dover, Mansfield, Martinsville, Memphis, Milwaukee, O'Reilly Park e Phoenix), dez são ovais intermediários (Atlanta, Charlotte, Homestead, Kansas City, Kentucky, Las Vegas, Madison, Nashville, New Hampshire e Texas), e quatro são superspeedways (Daytona, Fontana, Michigan e Talladega). Apenas os autódromos de Martinsville, Phoenix e Texas sediam duas provas cada, e não existem circuitos mistos. As provas têm entre 150 e 400 milhas cada, e algumas caem no mesmo local e fim-de-semana da Sprint Cup ou da Nationwide Series. o campeonato da Truck Series não tem playoffs, sendo campeão o piloto que tiver mais pontos ao final da última prova.

As outras duas categorias nacionais da Nascar são, na verdade, "internacionais". A primeira é a Canadian Tire Series, o campeonato canadense de stock cars, disputado desde 2006, quando a Nascar comprou a Cascar, sua equivalente canadense, que organizava o campeonato desde 1981. Exceto por algum eventual estrangeiro aventureiro, todos os pilotos da Canadian Tire - que, como de costume, leva o nome de seu patrocinador - são canadenses, e todas as 13 provas do calendário são disputadas no Canadá, sendo seis em ovais curtos e sete em circuitos mistos.

Finalmente, temos a Corona Series, o campeonato mexicano, patrocinado pela cerveja Corona. Como era de se esperar, todos os pilotos são mexicanos, e todas as 15 provas são disputadas no México, sendo dez em ovais e cinco em mistos. A Corona Series é disputada desde 2004 - entre 2004 e 2006 se chamou Desafío Corona - e foi criada por uma parceria entre a Nascar e a mexicana OCESA, que visava popularizar as corridas de stock cars no México, tradicionalmente apreciador das categorias do tipo Fórmula.

Apesar de ser uma categoria tão antiga, e de já ser conhecida de longa data de alguns brasileiros, principalmente devido a videogames, a Nascar ainda está longe de ser uma categoria popular aqui no Brasil, talvez devido a dois fatores: primeiro, apenas recentemente as temporadas completas passaram a ser exibidas, através de canais pagos não muito distribuídos, como BandSports e Speed; e segundo, é provável que ela sofra do mesmo antiamericanismo que afeta outros esportes norte-americanos, agravado pelo fato de que os estrangeiros têm pouca vez na Nascar: o número de pilotos estrangeiros é mínimo e, até uma vitória da Toyota neste ano, a última vez que uma marca estrangeira havia vencido uma corrida havia sido em 1954 com a Jaguar. Até hoje, apenas um único piloto brasileiro já se atreveu a correr na Sprint Cup, Christian Fittipaldi, que disputou 15 provas em 2003, pilotando um Dodge, e terminando na 44a posição.

Para os fãs da velocidade, porém, eu recomendo uma olhada. As últimas 30 voltas de cada corrida costumam ser bem interessantes.
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