sábado, 13 de outubro de 2007

Escrito por em 13.10.07 com 2 comentários

Rugby

No próximo sábado, dia 20, acontecerá, no Stade de France, em Saint-Denis, França, a final da sexta edição da Copa do Mundo de rugby. Infelizmente, o Brasil não passou nem das eliminatórias, mas eu, como fã do esporte, já espero ansiosamente pelo embate.

Sim, eu acompanho rugby. Há pouco tempo, é verdade, uns dois anos no máximo. Comecei a assistir meio por curiosidade, já que adoro futebol americano - e, como vocês devem saber, um monte de gente acha que os dois esportes são "a mesma coisa"; eu, por exemplo, quando era criança, tinha uma camiseta azul onde se lia "rugby" em letras vermelhas enormes, e logo abaixo tinha uma figura de um jogador de futebol americano, de capacete e tudo, chutando a bola oval na direção do Y.

Pois bem, apesar de ter usado esta camiseta durante vários anos, eu sabia que os dois esportes não eram a mesma coisa, embora achasse que a regra era mais ou menos a mesma - afinal, o objetivo de ambos é carregar uma bola oval até o outro lado do campo, tomando cuidado para não ser derrubado e soterrado no caminho. Um dia, estava eu mudando de canal incessantemente, e achei na ESPN um jogo recém-começado da Heineken Cup, uma espécie de Liga dos Campeões da UEFA do rugby. Como era a primeira vez que eu via um jogo de rugby na TV, fiquei assistindo. Descobri que as regras do rugby e do futebol americano não eram tão parecidas assim, mas as sutilezas do jogo, ao invés de me desestimularem, me animaram a acompanhar mais jogos. Como dei sorte de começar a gostar do esporte bem perto de uma Copa do Mundo, nada melhor que me programar para assitir tantos jogos quanto possível - nem que fosse na TV5. Confesso que foi bastante divertido, tanto que, como vocês já devem ter imaginado, decidi escrever um post sobre este esporte ainda tão incompreendido. Preparem-se, pois, que hoje é dia de rugby no átomo!

O rugby é um dos esportes mais antigos do mundo, e foi criado na Inglaterra no início do século XIX. Diz a lenda que, no ano de 1823, um grupo de estudantes da Rugby School, uma tradicional escola da cidade de Rugby, no condado de Warwickshire, estava jogando futebol - não o futebol que conhecemos hoje, cujas regras só foram publicadas em 1863, mas algum outro jogo onde o objetivo era carregar a bola com os pés - quando um dos estudantes, de nome William Webb Ellis, se revoltou e, ao invés de levar a bola com os pés, a abraçou e saiu correndo. Os demais estudantes, para pará-lo, começaram a agarrá-lo e jogá-lo ao chão, mas o time de Webb Ellis foi passando a bola de mão em mão, se livrando dos agarrões e encontrões, até o gol. Estava criado um novo esporte, que levaria o nome da cidade, e que teria seu primeiro conjunto de regras oficiais publicado em 1845. Muitos historiadores não acreditam nesta história e a tratam como lenda, mas os fãs e dirigentes do esporte acreditam nela, tanto que a Rugby School tem uma placa em homenagem a Webb Ellis por ter inventado o esporte, e o troféu da Copa do Mundo de rugby se chama Webb Ellis Cup.

Seja como for, com o jogo codificado começaram a surgir clubes de rugby - que na época se chamava "rugby football", sendo ainda hoje conhecido em muitos locais por este nome - por toda a Inglaterra. Inicialmente, eles tentaram se associar à Football Association, a entidade que até hoje congrega os clubes de futebol ingleses, mas como a FA proibia carregar a bola com as mãos ou derrubar intencionalmente o oponente nos jogos regulados por ela, logo eles desistiram, se uniram, e fundaram a Rugby Football Union, em 1871, que ficou responsável por garantir que todos os clubes de rugby da Inglaterra jogassem com as mesmas regras. Mas a Inglaterra não era o único país do mundo que jogava rugby; alguns clubes da Escócia, País de Gales e Irlanda haviam sido fundados antes mesmo dos clubes ingleses, e eles também tinham interesse em usar as mesmas regras, até para que fosse possível disputar jogos internacionais. Assim, em 1886, estes três países fundaram a International Rugby Board (IRB), que seria responsável pela unificação das regras do rugby em todo o planeta. A Inglaterra se filiou à IRB em 1890, e, desde então, o rugby se alastrou pela Europa, e de lá para o mundo.

O rugby foi um esporte totalmente amador durante mais de cem anos; somente em 1995 a IRB decretou sua profissionalização, ou seja, permitiu que os jogadores de rugby recebessem salário de seus clubes, como ocorre com a maioria dos outros esportes. Evidentemente, isto já acontecia de forma mascarada há bastante tempo, e o que a IRB fez foi simplesmente tirar os profissionais da clandestinidade. Quando os jogadores se tornaram profissionais, houve quem previsse que o esporte iria acabar, destruído pelo capitalismo; felizmente, ocorreu exatamente o oposto, com a popularidade do rugby crescendo anos após ano, e cada vez mais países se interessando em praticar o esporte, embora se possa fazer a crítica de que os países onde o rugby é mais evoluído, ou seja, que têm maior número de clubes e jogadores profissionais, sejam desproporcionalmente fortes em relação àqueles onde o esporte ainda é majoritariamente amador.

Hoje, a IRB conta com 95 membros; os dez considerados mais fortes, não necessariamente nesta ordem, são Nova Zelândia, Austrália, África do Sul, Inglaterra, França, Escócia, País de Gales, Irlanda, Itália e Argentina. O Brasil é membro da IRB, mas o esporte por aqui ainda é amador, e a seleção brasileira só costuma disputar jogos internacionais contra outros países das Américas, como nas eliminatórias da Copa. O time mais famoso é o da Nova Zelândia, apelidado All-Blacks, por seu uniforme de camisa e calção preto. Na Oceania, aliás, o rugby é um dos esportes mais populares - se não o mais popular - de modo que equipes como as de Fiji, Tonga e Samoa também costumam ser bastante respeitadas pelos adversários. Também podemos citar como destaques o Japão, onde o rugby vem melhorando ano após ano, e já pleiteia organizar a Copa de 2015; e a Romênia, uma espécie de "sétima força" da Europa, que tem um campeonato bem organizado. Os Estados Unidos, que jogam até rugby universitário, costumam dar trabalho aos oponentes, como na maioria dos esportes, mas ainda não a ponto de incomodar as grandes forças; assim como no futebol, o rugby norte-americano é mais forte entre as mulheres.

Sim, existe rugby feminino, embora este ainda seja pouco praticado e conhecido, principalmente por preconceito. O rugby feminino ainda é totalmente amador, mas segue exatamente as mesmas regras do masculino, apesar de só ter sido incorporado pela IRB em 1998 - até então as competições eram organizadas apenas em nível nacional, ou por acordo entre as federações dos países que disputariam um torneio internacional, como ocorreu com as Copas do Mundo de 1991 e 1994. Ao todo, 80 dos membros da IRB possuem equipes de rugby feminino - inclusive o Brasil - sendo os mais fortes a Nova Zelândia, tricampeã do mundo; a Inglaterra, uma vez campeã e três vezes vice; e os Estados Unidos, com um título e dois vices.

Falando em Copa do Mundo, a de rugby masculino é nada menos que o terceiro evento esportivo mais assistido do planeta, só perdendo para a Copa do Mundo de futebol e para as Olimpíadas. A Copa do Mundo de rugby foi criada em 1985, por idéia das federações da Austrália e da Nova Zelândia, que desejavam um torneio do qual todas as seleções de rugby do mundo pudessem participar - até então, o mais perto disso que existia era o torneio Five Nations, disputado entre Inglaterra, Escócia, País de Gales, Irlanda e França (atualmente ele é o torneio Six Nations, já que a Itália entrou em 2000). A IRB gostou da idéia, e marcou a primeira Copa para 1987, com Austrália e Nova Zelândia como sede conjunta. A Nova Zelândia venceu o torneio, derrotando a França (que havia derrotado a Austrália na semifinal) na final por 29 a 9.

Como a primeira Copa foi no hemisfério sul, a segunda foi marcada para o hemisfério norte. Oficialmente, a sede de 1991 era a Inglaterra, mas alguns jogos aconteceram na Escócia, País de Gales, Irlanda e França (ou seja, a rigor, foi um torneio disputado nas Five Nations). Na final, a Austrália calou Twickenham, um dos principais estádios de rugby do mundo, ao derrotar a anfitriã Inglaterra por 12 a 6. A Copa voltaria ao hemisfério sul em 1995 com duas novidades: pela primeira vez a África do Sul, suspensa de todas as competições internacionais durante um longo tempo devido à política racista do apartheid, sediaria uma competição esportiva internacional, e pela primeira vez todos os jogos da Copa do Mundo de rugby ocorreriam em um único país. O entusiasmo do povo contagiou a seleção da África do Sul, que venceu o torneio, derrotando a Nova Zelândia na final por 15 a 12 na prorrogação.

Em 1999 teríamos mais uma Copa disputada nas Five Nations, com o País de Gales como sede oficial. A Austrália ganhou seu segundo título, desta vez derrotando a França na final por 35 a 12. A Copa de 2003 seria na Austrália, e lá a Inglaterra se vingaria da derrota de 1991, vencendo a Austrália na final em Sydney por 20 a 17 na prorrogação. A Copa do Mundo deste ano acontece na França (embora quatro jogos tenham sido disputados no País de Gales e dois na Escócia, não me perguntem o porquê que eu não sei), e, como eu já disse, a final será dia 20; as semifinais ocorrem hoje, entre Inglaterra e França, e amanhã, entre África do Sul e Argentina. Mantendo a tradição de um torneio no norte, outro no sul, a Copa de 2011 será na Nova Zelândia. A sede para 2015 ainda não foi escolhida, mas os principais candidatos a sede são Japão e Escócia.

Certo, tudo isso é muito interessante, mas alguém aí pode estar se perguntando: como é que se joga rugby? Bem, antes de passarmos às regras, cabe fazer um pequeno parêntese, até para explicar uma coisa que quem já conhece o rugby deve estar achando que estava "faltando": na verdade, não existe um esporte chamado rugby, mas dois. Este sobre o qual eu estou falando aqui, que é o mais difundido no mundo e o que eu gosto de assistir, é conhecido como rugby union, por causa da Rugby Football Union (as federações nacionais de rugby, aliás, não são chamadas "federations", mas "unions"). O "outro" rugby, conhecido como rugby league, surgiu em 1895, quando 22 clubes da Inglaterra, insatisfeitos com uma nova regra proibindo qualquer tipo de ajuda financeira aos atletas, que consideravam que os prejudicava, saíram da Rugby Football Union e fundaram a Northern Rugby Football Union, que em 1901 mudou de nome para Northern Rugby League, e em 1922 para Rugby Football League. Como a RFL e a IRB tinham visões diferentes sobre o jogo, as regras do rugby league foram ao longo do tempo ficando bastante diferentes das originais - e até parecidas com as do futebol americano, se vocês me perguntarem. O rugby league também saiu da Inglaterra e se espalhou pelo mundo, mas bem menos que o rugby union; atualmente, a Federação Internacional de Rugby League tem apenas 45 membros, sendo que o Brasil não faz parte dela. Isto esclarecido, vamos a um breve resumo das regras do rugby union.

Um time de rugby tem 22 jogadores, sendo 15 em campo e 7 reservas. Destes 15 que jogam, oito são chamados forwards, mais fortes e pesados, e têm por função ganhar e manter a posse de bola, evitando o avanço adversário; os outros sete, mais técnicos e leves, são os backs, e executam a maior parte das jogadas, correndo com a bola em direção ao campo adversário. Os números nas camisas dos jogadores são relacionados às suas posições, ou seja, os forwards usam as camisas de 1 a 8, e os backs de 9 a 15. Além destas funções mais "gerais", alguns dos jogadores possum funções mais "específicas"; o jogador chamado fly-half, por exemplo, que joga com a camisa número 10, é considerado o "cérebro" do time, sendo responsável por armar as jogadas e chutar em direção ao gol quando necessário; já o scrum-half (número 9) deve ter reflexos rápidos e ser leve mas resistente, pois é ele quem faz a ligação passando a bola entre os forwards e os backs; o hooker, que joga com a camisa 2, além de ter uma importante função defensiva, é o encarregado de cobrar os laterais, e por aí vai; eu não vou falar sobre todos eles, mas o importante é que cada jogador deve saber desempenhar muito bem sua função para que o time seja bem sucedido, sendo muito difícil vencer apenas usando a força bruta. Cada reserva também corresponde à função do jogador que irá substituir, embora eles usem as camisas de 16 a 22; no rugby são permitidas todas as sete substituições em um jogo, sendo que jogadores substituídos não podem voltar à partida, como no futebol. A exceção é a "substituição por sangramento", quando um jogador sai de campo e dá lugar a um reserva para cuidar de um ferimento que esteja sangrando; caso o sangramento estanque em até 15 minutos, ele poderá voltar, e a subsituição não contará para o limite de sete.

O campo de rugby tem 100 metros de comprimento por 70 de largura, dividido no meio por uma linha cheia. No final de cada um dos lados há uma área de 10 a 22 metros de comprimento, conhecida como zona de in-goal, separada do campo de jogo por uma linha cheia chamada linha de in-goal. No meio da linha de in-goal fica o gol, em formato de H, com as hastes verticais separadas 5,6 metros uma da outra, e a barra horizontal a 3 metros de altura. A altura das barras verticais acima da barra horizontal é livre, mas deve ser maior que 3,4 metros. Outras marcações importantes são a linha de 22 metros, localizada 22 metros antes da linha de in-goal; e a linha de 5 metros, uma linha pontilhada que corre a 5 metros de distância da lateral por toda a extensão do campo. Diferentemente do que ocorre no futebol, as linhas laterais e do fim do campo são consideradas "fora", ou seja, se a bola quicar lá, ou um jogador com a bola nas mãos pisar nelas, a bola "saiu". A linha de in-goal, por outro lado, faz parte da zona de in-goal, mas onde a linha de in-goal encosta na linha lateral do campo, há uma bandeirinha, e se o jogador carregando a bola encostar nessa bandeirinha, a bola saiu.

O objetivo principal do jogo é carregar a bola até a zona de in-goal, e, uma vez lá, encostá-la no chão de forma que a bola fique pelo menos um instante em contato simultaneamente com o gramado e o corpo do jogador. Isto, por alguma razão que se perdeu no tempo, se chama try, e vale 5 pontos. Como a linha de in-goal faz parte da zona de in-goal, bola na linha de in-goal é try, mas se o jogador encostar na infame bandeirinha antes de encostar a bola no chão, o try não vale, pois a bola saiu.

O time que fez o try sempre tem direito a um chute de conversão: a bola é colocada sobre um apoio de plástico ou um montinho de areia (à escolha do jogador) em qualquer posição do campo, mas sempre na mesma direção do ponto onde o try foi marcado. Dali, o chutador do time (normalmente, mas nem sempre, o fly-half) a chutará em direção ao gol, marcando dois pontos se ela passar entre as barras verticais e acima da barra horizontal. Como o try só é marcado quando a bola encosta no chão, alguns jogadores, depois de entrar na zona de in-goal, correm para seu meio, para que a bola seja colocada em uma posição mais favorável para o chute.

Além do try, há duas outras formas de se pontuar, ambas valendo três pontos. A primeira é o drop kick: a qualquer momento em que estiver com a bola na mão, um jogador pode optar por, ao invés de passá-la, quicá-la no chão e chutá-la em direção ao gol, marcando os três pontos se acertar. A segunda forma é o penalty kick: quando um time sofre uma falta grave (decorrente de jogo perigoso, por exemplo), tem a opção de chutar a bola em direção ao gol, seja com o auxílio do suporte ou quicando-a no chão como no drop, ganhando os três pontos se acertar. Embora o try valha mais pontos, os chutes também são uma arma importante para a vitória, principalmente em jogos mais truncados.

A bola não é redonda, mas oval, com de 280 a 300 mm de comprimento, pesando entre 410 e 460 gramas, e sendo feita de couro ou material sintético similar. O uniforme de jogo obrigatório é composto de uma camiseta de mangas curtas, calção, meias e chuteiras; opcionalmente, os jogadores podem usar protetores de ombros, clavícula, cabeça (parecido com uma touquinha), protetor dental (tipo os usados no boxe) e luvas sem dedos, e protetores para os seios, no caso do rugby feminino. Nenhum destes opcionais pode ser fabricado em plástico duro ou metal, para evitar que eles firam os outros jogadores.

O jogo começa com um chute do meio do campo chamado kick off. A partir daí, o jogador que receber a bola tentará correr com ela, ou passá-la de mão em mão dentre seus companheiros de time, até chegar ao in-goal, com um detalhe interessante: passes com a mão só são permitidos para os lados ou para trás; passes para a frente devem obrigatoriamente serem feitos com os pés. Além disso, qualquer jogador à frente da linha da bola é considerado impedido, e não pode receber a bola nem atrapalhar os oponentes (segurando-os ou impedindo que eles vejam a bola, por exemplo), cometendo falta grave se o fizer. O time que não tem a posse de bola tentará impedir o avanço do oponente através de tackles, que consistem em agarrar o jogador abaixo da linha dos ombros e derrubá-lo no chão. Um jogador que sofre um tackle obrigatoriamente deve soltar a bola, por isso é bom que alguns companheiros estejam por perto, senão o oponente vai roubá-la. Se houverem companheiros por perto, forma-se o famoso montinho, chamado ruck, cujo principal objetivo é evitar que o oponente pegue a bola. Formado o ruck, a bola deve permanecer obrigatoriamente à vista do juiz, e quem pegá-la poderá prosseguir com a jogada. Não há qualquer limite quanto ao número de tackles que cada time pode sofrer por jogada, prosseguindo o mesmo time com a posse de bola até que ele marque um try, um gol, cometa uma falta de ataque, a bola saia, ou até que o oponente roube a bola. Na linguagem do rugby, toda vez que se forma um ruck e o mesmo time continua com a posse, se diz que começou uma nova fase do ataque.

Quando um jogador é agarrado, para tentar evitar um tackle, o time atacando pode tentar uma formação conhecida como maul, onde vários jogadores vão se abraçando e se empurrando, para que o conjunto fique mais forte e o oponente não saiba com quem está a bola; um oponente que voluntariamente derrube o maul incorre em falta grave.

Se o time estiver no sufoco, poderá dar um chutão para a frente; embora não pareça, porém, esta é uma jogada arriscada, pois se a bola sair direto pela lateral, sem tocar em ninguém nem quicar dentro de campo, o outro time cobrará o lateral do ponto onde a bola foi chutada. Normalmente, o lateral é cobrado pelo time que não pôs a bola pra fora, no ponto onde a bola saiu, mas, além da exceção já citada, há outra: no caso de um penalty kick, se o time cobrando a falta não optou por chutar em direção ao gol, ele poderá chutar para a lateral; neste caso, o próprio time que cobrou a falta cobrará o lateral do ponto onde a bola saiu, mesmo que ela saia direto - o intuito, neste caso, é começar a jogada seguinte mais perto do in-goal, visando um try. O lateral é cobrado como no futebol, com a bola sendo lançada detrás da cabeça do jogador que está cobrando o lateral, mas no rugby, curiosamente, os jogadores podem erguer seus companheiros de time que irão receber a bola, para que eles tenham mais chance de pegar a bola.

Penalty kicks são reservados às faltas graves; faltas de gravidade média (como levar mais de um minuto para cobrar um penalty ou chute de conversão) são punidas com um free kick. Um free kick não pode ser chutado direto para o gol, e se sair direto pela lateral, o lateral é cobrado do ponto do chute, a não ser que o chute tenha sido dado detrás da linha de 22 metros do time que está cobrando o free kick. Um time também tem direito a recomeçar a partida com um free kick se pegar atrás de sua própria linha de 22 metros uma bola passada através de chute pelo time adversário e gritar "mark".

Já as faltas leves, aquelas que não prejudicam o andamento do jogo (como um passe com as mãos para a frente), são punidas com um scrum, uma das coisas mais curiosas do jogo. Como um scrum é meio difícil de se descrever, eu arrumei uma foto (que está logo depois deste parágrafo), mas mesmo assim eu vou tentar: os jogadores de 1 a 8 de cada time se abraçam, formando três linhas, uma de três jogadores, uma de quatro e um sozinho no final, e então "encaixam" na formação do adversário, formando um emaranhado de gente. O scrum-half do time cobrando a falta então põe a bola no meio do scrum, e seu time poderá passá-la para trás com os pés (começando pelo hooker) até que ela saia do scrum, quando um outro jogador do time (normalmente o próprio scrum-half) poderá pegar a bola e recomeçar seu ataque. O scrum pode parecer seguro, mas tem um certo risco: se o hooker oponente pegar a bola antes do hooker do time que está cobrando a falta, o outro time poderá roubar a bola. Por essa razão, os times ficam se empurrando durante o scrum, cada um tentando levar o hooker oponente para longe da bola.



Faltas muito graves, como aquelas especialmente violentas, ainda rendem ao jogador faltoso um cartão amarelo, que faz com que ele fique fora do jogo por 10 minutos, período durante o qual seu time terá de atuar com um jogador a menos, ou até mesmo um cartão vermelho, caso no qual o time fica com menos um até o final da partida. Faltas dentro da zona de in-goal podem ser punidas com um scrum posicionado em uma linha pontilhada a 5 metros da linha de in-goal se forem leves; com o time que sofreu a falta recomeçando a jogada da linha de 5 metros com as mãos caso a falta seja mais grave; ou até, se o árbitro considerar que o try só não saiu por causa de uma falta especialmente grave, pode ser dado ao time que sofreu a falta um penalty try, que vale 5 pontos mais um chute de conversão com a bola posicionada bem de frente com o gol.

Um jogo de rugby tem dois tempos de 40 minutos cada, sendo que o relógio só pára para atendimentos médicos. Cada tempo, porém, não pode acabar com a bola "viva", ou seja, se uma jogada estiver em andamento quando os 40 minutos se completarem, o jogo prosseguirá até a bola sair ou alguém marcar um gol ou try. O jogo é apitado por um árbitro central, que corre junto aos jogadores, e deve poder ver a bola em todos os momentos, auxiliado por dois "bandeirinhas", chamados touch judges, que têm como principais funções marcar onde a bola saiu pela lateral e confirmar a validade de gols e trys, mas podem apitar qualquer lance que o árbitro central apitaria, caso este esteja distante (afinal, com um chutão a bola viaja mais rápido que qualquer árbitro) ou não veja a jogada (especialmente em lances violentos sem posse de bola). Este trio conta ainda com a ajuda de um television match official (TMO), que passa todo o jogo assistindo sua transmissão pela televisão em uma cabine; em lances polêmicos, principalmente trys controversos, o árbitro central pode pedir que o TMO reveja o lance, se valendo de recursos como câmera lenta e pausa. Nestes casos, a palavra do TMO é a que vale.

O rugby union já foi um esporte olímpico, tendo feito parte do programa dos Jogos de 1900, 1908, 1920 e 1924. Desde 1960, o esporte tenta retornar, mas esbarra em dois obstáculos: o primeiro, o preconceito de que rugby seria um esporte violento e incompatível com os ideais olímpicos (ah, é? e o boxe?), e o segundo, o número de jogadores; já que o COI decidiu limitar o número de atletas participantes de cada edição das Olimpíadas, não seria muito lógico incluir um esporte onde cada equipe tem 22 jogadores. Para tentar contornar este segundo problema, em 1973 a IRB decidiu regular também uma modalidade "mais compacta" do esporte, criada em 1883 na Escócia e apelidada de rugby sevens, por ter apenas 7 jogadores em cada time, mais 5 reservas, um máximo de 3 substituições, e dois tempos de sete minutos cada, o que permite que várias partidas sejam disputadas em um mesmo dia. O rugby sevens é hoje extremamente popular, tanto na versão masculina quanto na feminina, e tem sua própria Copa do Mundo, que Fiji ganhou duas vezes, e a Inglaterra e a Nova Zelândia uma. O rugby sevens está em campanha ferrenha para ser adicionado ao programa olímpico dos Jogos de 2016, e tem ao seu favor o fato de já fazer parte de competições continentais importantes, como os Commonwealth Games e os Jogos Pan-Americanos, nos quais estrará em 2011. Eu confesso que fiquei muito feliz quando li esta notícia do Pan (embora tenha ficado meio chateado porque o futsal vai sair) e espero que o Brasil vá a Guadalajara disputar alguns jogos. E que a televisão os transmita, de preferência.

2 comentários:

  1. Muito bacana o post, estava querendo saber um pouco mais sobre o esporte e agora já faço uma noção. obrigado

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  2. Anônimo23:20:00

    gostei muito das suas explicações!! me ajudou muito!! vlw!!

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