Há uns vinte anos, porém, o cenário era bastante diferente. Tínhamos filmes de fantasia, claro, mas Hollywood parecia mais interessada em explorar a ficção científica. Nas décadas de 80 e 90, praticamente toda semana tínhamos uma estréia onde os principais atrativos eram naves enormes, veículos estranhos, andróides vivendo entre nós, mutantes oriundos da radiação atômica, planetas coloridos, alienígenas ainda mais coloridos, computadores que se revoltavam e destruíam o mundo, e robôs assassinos que se voltavam contra seus criadores. Alguns destes filmes eram verdadeiras bombas, outros se tornaram grandes clássicos. O tema do post de hoje é um exemplo da segunda opção: O Exterminador do Futuro.
Lançado em 1984 com o nome de The Terminator, O Exterminador do Futuro foi o filme que deu uma alavancada na carreira de Arnold Schwarzenegger, que até então só tinha atuado em uns filmes menos cotados, e nos dois Conan; e também na de James Cameron, que antes deste só havia dirigido Xenogênese e Piranhas 2. O filme foi um gigantesco sucesso de bilheteria, rendendo mais de 78 milhões de dólares no mundo inteiro - e isso tendo custado apenas 6 milhões e meio para ser feito - e é até hoje considerado um marco da ficção científica, tendo criado, na opinião de alguns, uma nova mitologia.
Diz James Cameron que ele teve a idéia do roteiro enquanto convalescia de uma doença no México; muitos pontos da história, porém, são extremamente semelhantes a dois episódios da série de TV The Outer Limits, uma série no estilo Além da Imaginação, que foi ao ar nos Estados Unidos entre 1963 e 1965. O roteirista destes dois episódios, Harlan Ellison, chegou a processar Cameron, alegando que ele teria plagiado não somente estes dois episódios, mas também um de seus outros contos, publicado em uma revista em 1967. Fãs do escritor Philip K. Dick também alegam que o filme traz algumas semelhanças com dois de seus contos, e há quem veja no Exterminador semelhanças com o filme francês La Jetée. Seja como for, todos sabemos que no cinema pouco se cria e muito se copia, e os temas explorados no Exterminador - viagem no tempo, computador malvado, guerra nuclear, robô assassino... - não eram exatamente novidade em 1984. De qualquer forma, Cameron se livrou do processo incluindo uma referência aos roteiros de Ellison nos créditos.
A história do filme é a seguinte: no futuro, um computador chamado Skynet adquirirá inteligência própria, e declarará guerra contra os humanos, se utilizando de várias máquinas também dotadas de inteligência, construídas ou controladas por ele. Quase toda a população da Terra será extinta, exceto uns poucos que resistirão e contra-atacarão as máquinas, liderados por um homem chamado John Connor. No ano de 2029, os humanos estarão bem perto de finalmente derrotar as máquinas, que tomarão uma atitude desesperada: se utilizando da nova e pouco testada tecnologia de viagem no tempo, enviarão uma máquina disfarçada de humano, um Exterminador (Arnold Schwarzenegger) para o ano de 1984. A missão do Exterminador será matar a mãe de John, Sarah Connor (Linda Hamilton), antes que John nasça, eliminando, assim, a resistência humana, o que possibilitará às máquinas dominar todo o planeta.
Felizmente, a resistência descobre os planos das máquinas, e consegue enviar um de seus soldados, Kyle Reese (Michael Biehn), ao passado, para proteger Sarah. Como o Exterminador é indistingüível de um humano comum (ele é programado para até mesmo suar e sangrar), e a resistência não pôde enviar armas do futuro, a missão de Kyle será das mais difíceis, precisando convencer Sarah e a polícia de que ele não está louco, e arrumar uma forma de destruir um robô ultra avançado com os recursos da década de 80. Desnecessário dizer que Kyle e Sarah conseguem destruir o robô, esmagando-o com uma prensa hidráulica, mas Kyle acaba não resistindo aos ferimentos causados pela luta, e morre. O filme ainda guarda uma surpresa, que eu não revelarei qual é para não perder a graça.
O enorme sucesso do filme era garantia certa de uma continuação, principalmente porque o Exterminador morreu, Sarah foi salva, mas o futuro tenebroso ainda aconteceria de qualquer forma. Diferentemente do que se esperava, porém, a continuação levou sete longos anos para ser lançada, com O Exterminador do Futuro 2: O Julgamento Final (Terminator 2: Judgement Day) só chegando aos cinemas em 1991. A direção foi novamente de Cameron, e Schwarzenegger e Hamilton repetiram seus papéis (ou quase). E a longa espera valeu a pena, pois é um filme excelente.
T2, como o filme ficou conhecido em inglês, não é ambientado em 1991, mas em 1994, dez anos após os eventos do primeiro. John Connor (Edward Furlong) já é uma criança problemática, pois creceu ouvindo que iria se tornar um grande líder e salvar a humanidade, enquanto sua mãe o treinava para isso. Imaginem, portanto, como ele não se sentiu quando sua mãe foi declarada louca e trancafiada em um manicômio. Para completar a desgraça, as máquinas do futuro decidem tentar de novo, e enviam um novo Exterminador, desta vez para matar o próprio John. Eu sempre me perguntei por que eles não mandaram esse novo Exterminador para ajudar o primeiro, mas tenho certeza de que há uma boa explicação para isso, mesmo que ninguém tenha decidido contar pra gente.
Enfim, seja lá por que motivo as máquinas decidiram enviar o segundo Exterminador para um ponto no tempo dez anos à frente do primeiro, o certo é que o vilão, desta vez, não é Schwarzenegger. Quem enviou um Exterminador idêntico ao do primeiro filme foi o próprio John, que o reprogramou para que ele o protegesse. O modelo enviado pelas máquinas era um protótipo muito mais avançado, um T-1000 (Robert Patrick), feito de metal líquido, e capaz de assumir a aparência de qualquer pessoa que toque, bem como transformar seus braços em facas, espadas, e outros objetos pontudos.
Após encontrar John, o Exterminador quer tirá-lo da cidade o mais rápido possível, mas o menino decide fazer uma escala para tirar Sarah do hospício. Com toda a família reunida, Sarah decide usar a mesma tática das máquinas, matando o responsável pela criação do Skynet, Miles Bennett Dyson (Joe Morton), antes que o computador malvado entre em operação. Ao ver Dyson com a família, Sarah não tem coragem de matá-lo, e John e o Exterminador conseguem convencê-lo a destruir toda a pesquisa usada para a criação do computador. Sarah, John e o Exterminador, portanto, têm três missões no filme: fugir da polícia (afinal, Sarah é uma louca fugitiva, e o Exterminador, para a justiça, é culpado por várias mortes em 1984), destruir o Skynet, e escapar do T-1000, de preferência destruindo-o também.
T2 foi o filme mais caro já feito até então, com um custo absurdo de 100 milhões de dólares. Felizmente, ele rendeu mais de 200 milhões apenas nos Estados Unidos, se tornando o filme mais assistido de 1991, e estabelecendo o recorde de seqüência mais rentável da história (434% a mais que o primeiro filme). O filme é considerado até hoje um dos melhores de ficção científica de todos os tempos, e contou com efeitos especiais excelentes até para os padrões de hoje, desenvolvidos pela Industrial Light & Magic de George Lucas.
Em 1996, T2 também virou atração dos parques da Universal, na Flórida, em Hollywood e no Japão: Terminator 2 3D: Battle Across Time é uma mistura de apresentação ao vivo e filme em 3D, onde os espectadores visitam a empresa que criou o Skynet, quando Sarah e John aparecem para sabotá-la, e o T-1000 é enviado para matá-los. Quando o "Exterminador bonzinho" surge para salvar John, eles acabam passando por um portal temporal, indo parar no futuro, onde tentarão destruir o Skynet. Para conseguir, eles terão de passar não somente pelo T-1000, mas também pelo T-1000000, uma imensa aranha de metal líquido. A atração dura quase 13 minutos, sendo que 7 deles são na tela do cinema, com participação de Schwarzenegger, Hamilton, Furlong e Patrick, e direção de Cameron. O segmento ao vivo traz funcionários do parque nos papéis dos personagens.
Depois de T2, Cameron se afastaria dos Exterminadores para trabalhar com o Titanic. Após Cameron e Hamilton, que eram casados, se divorciarem, ela ficou com os direitos sobre os personagens, e os vendeu a Mario Kassar e Andrew Vajna, donos da produtora Carolco, que produziu T2. A Carolco faliu em 1996, mas em 2002 Kassar e Vajna fundaram uma nova produtora, a C2, e começaram a trabalhar em uma nova seqüência para o Exterminador, apesar dos protestos de Cameron, que dizia que a história já havia sido concluída no segundo filme. Declarações anteriores de Cameron, porém, dão a entender que ele mesmo estava trabalhando na parte 3, antes de desistir por qualquer motivo.
Seja como for, O Exterminador do Futuro 3: A Rebelião das Máquinas (Terminator 3: Rise of the Machines), dirigido por Jonathan Mostow, estreou em 2003, e provocou vários tipos de reação: houve quem achou uma afronta um filme do Exterminador sem Cameron e sem Hamilton, houve quem reclamasse de Furlong não voltar a ser John Connor, houve quem achasse que o filme é um caça-níqueis, e, evidentemente, houve quem gostasse, já que o filme rendeu mais de 280 milhões de dólares no mundo todo. Eu, pessoalmente, concordo que o filme foi um caça-níqueis, mas não achei tão ruim quanto algumas críticas que andei lendo.
A principal reclamação dos fãs é que, mesmo após os esforços de John e Sarah no segundo filme, e mesmo com a data original do Dia do Julgamento (29 de agosto de 1997) chegando e passando sem acontecer nada, a rebelião das máquinas acontece de qualquer jeito. Imaginando que algo deste tipo pudesse acontecer, John (Nick Stahl) decide viver sem paradeiro certo, sem endereço, telefone, cartão de crédito ou emprego fixo, caso algum dia um Exterminador venha atrás dele - Sarah faleceu de leucemia em 1997, pouco depois do "Dia do Julgamento". Provando que a teoria de John estava certa, o Skynet realmente envia um novo Exterminador, T-X (Kristanna Loken), um novo modelo com centenas de armas avançadas escondidas pelo corpo, e capaz de controlar vários tipos de máquinas à distância. Sua missão, porém, não é matar John, mas todos os demais líderes da resistência, o que resultaria na vitória das máquinas de qualquer forma.
John acaba se envolvendo na história ao invadir o consultório da veterinária Kate Brewster (Claire Danes), buscando um analgésico para aliviar dores causadas por um acidente de moto. T-X aparece no consultório e quase mata os dois, mas é impedida por um novo Exterminador (Schwarzenegger), mais uma vez enviado pela resistência humana. O Exterminador atrasa T-X o suficiente para que ele, John e Kate fujam. Após situar a moça (tarefa nada fácil, como era de se esperar), o Exterminador revela o que aconteceu: a aeronáutica assumiu o desenvolvimento do Skynet, que se voltará contra os humanos precisamente no dia em que os eventos do filme estão ocorrendo; as ações de John e Sarah, portanto, não impediram o Dia do Julgamento, apenas o adiaram. Felizmente, o responsável pelo projeto do Skynet é o pai de Kate, então o trio decide ir até a central de comando tentar impedir o Skynet de ser ativado mais uma vez.
Este ano, os direitos do Exterminador mudaram de mãos mais uma vez, depois que Kassar e Vajna os venderam à produtora Halcyon, que já anunciou que um Terminator 4 está a caminho, devendo estrear nos cinemas em 2009 ou 2010. Como Schwarzenegger já anunciou que não pretende voltar ao papel do Exterminador, é pouquíssimo provável que Cameron aceite dirigi-lo, e já foi confirmado que Stahl e Danes não participarão do filme, acho que podemos afirmar que, daqui por diante, o Exterminador descerá ladeira abaixo. Detalhes já divulgados do roteiro dizem que John Connor terá por volta de 30 anos, e a história será centrada na luta da resistência humana contra as máquinas, o que fará deste o primeiro filme do Exterminador ambientado após o Dia do Julgamento. Se você achou isso ruim, espere até saber que a Halcyon pretende fazer com que ele seja o primeiro de uma nova trilogia. A "boa notícia" é que a Halcyon ainda não pode começar a filmar, devendo primeiro resolver uma pendência com a MGM, que alega não ter tido respeitada sua preferência contratual na distribuição do filme.
Enquanto o quarto filme não pode sair do papel, a Halcyon decidiu produzir uma série de TV. The Sarah Connor Chronicles já tem um episódio-piloto pronto, e deve estrear na Fox dos Estados Unidos no início de 2008. A série é ambientada após o filme 2, e ignora todos os acontecimentos do filme 3. O foco principal será em Sarah Connor (Lena Headey), que correrá o país fugindo da polícia e de eventuais Exterminadores vindos do futuro, enquanto tenta criar seu filho John (Thomas Dekker), agora com 15 anos, e destruir de vez o Skynet, para acabar com sua ameaça de uma vez por todas. Outros personagens recorrentes serão James Ellison (Richard T. Jones), um agente do FBI que estará no encalço de Sarah; e Cameron (Summer Glau), menina que na verdade é um Exterminador de modelo desconhecido mas avançadíssimo, quase humano, enviado pela resistência para acompanhar e proteger Sarah e John. Assim como o primeiro filme, o episódio-piloto também tem uma surpresa perto do fim, mas eu hoje não estou a fim de ser estraga-prazeres. Ainda é cedo para dizer se a série será boa ou ruim, mas eu acho que para os fãs vai ser uma coisa meio esquisita.
Com a escassez de roteiros originais que assola Hollywood nos últimos anos (podem reparar, quase todos os filmes lançados este ano ou foram adaptações ou continuações), é até compreensível que queiram prolongar a vida do Exterminador. Só é uma pena que haja também uma escassez de roteiros bons.
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