sábado, 16 de junho de 2007

Escrito por em 16.6.07 com 0 comentários

Olimpíadas (XXIV)

E hoje, finalmente, teremos o último post da série sobre as Olimpíadas!

Atualizado em 22 de abril de 2010: Ok, já não é mais o último. É o penúltimo, onde veremos as Olimpíadas de Inverno de Turim, 2006, e as Olimpíadas de Pequim, 2008. O último agora é esse aqui.

Turim 2006


Turim foi a primeira cidade a ser escolhida sede depois do escândalo do suborno envolvendo Salt Lake City. A escolha ocorreu sob certa tensão, pois o escândalo havia vindo à tona em dezembro de 1998, e a votação seria realizada durante a reunião do COI marcada para junho de 1999. Para afastar qualquer suspeita de que a escolha seria mais uma vez influenciada por presentes, o COI tomou uma decisão radical: proibiu seus delegados de visitarem as cidades candidatas, e criou um novo órgão especialmente para a ocasião, o Colégio de Seleção. Segundo as novas regras, todas as cidades candidatas fariam apresentações para os membros do COI durante a reunião do Comitê, mas o Colégio de Seleção escolheria apenas duas delas; estas duas seriam submetidas à votação tradicional, e a que obtivesse mais votos seria a sede de 2006.

Assim, das seis cidades candidatas - Helsinque, capital da Finlândia e sede dos Jogos de Verão de 1952; Poprad-Tatry, Eslováquia; Zakopane, Polônia; Klagenfurt, Áustria; a suíça Sion e a italiana Turim - apenas Sion e Turim foram submetidas à votação. Sion era amplamente favorita, e até dentro do COI havia quem considerasse que ela já estava eleita, mas, para surpresa geral, Turim acabou ganhando por 53 votos a 36. Para muitos, a cidade italiana levou a melhor por ser bem maior que sua concorrente: um milhão e meio de habitantes, a maior cidade a já sediar uma Olimpíada de Inverno, enquanto Sion só tem 27.000; e desde Nagano o COI privilegia as cidades maiores, para facilitar a acomodação dos turistas que vão assistir às provas, e para que as competições ocorram dentro do menor raio de distância possível.

Os Jogos de Turim foram realizados entre 10 e 26 de fevereiro, e contaram com a participação de 2.508 atletas, sendo 960 mulheres, representando um número recorde de 80 nações em 84 provas de 15 esportes: biatlo, bobsleding, combinado nórdico, curling, esqui alpino, esqui cross country, esqui estilo livre, hóquei no gelo, luge, patinação artística no gelo, patinação no gelo em velocidade, patinação no gelo em velocidade em pista curta, saltos com esqui, skeleton e snowboarding (clique aqui para ver todas as provas do programa). Os mascotes foram Neve, uma menina que representava uma bola de neve, e Gliz, um menino representando um cubo de gelo. As cerimônias de abertura e encerramento foram realizadas no famosíssimo Stadio Comunale, rebatizado para Stadio Olimpico, construído para a Copa do Mundo de futebol de 1934, abandonado desde 1990, e totalmente reformado para a ocasião. A honra de acender a pira - a mais alta da história das Olimpíadas, com 57 metros de altura - coube a Stefania Belmondo, que se tornou famosa ao ganhar o ouro nos 30 km do esqui cross country em 1992, e quase transformar sua cidade natal, a pequenina Vinadio, de apenas 160 habitantes, em uma cidade fantasma, quando mais da metade de seus conterrâneos viajaram para vê-la competir. Dez anos depois, Belmondo conseguiria uma nova proeza, ganhando o ouro da prova dos 15 km em Salt Lake.

Belmondo se aposentou após os Jogos de 2002, mas muitos outros atletas que lá competiram voltaram para novas proezas em 2006. O norueguês Kjetil Andre Aamodt, que já era o recordista de medalhas olímpicas no esqui alpino, ganhou mais um ouro no slalom super gigante, e se tornou o primeiro atleta a conseguir quatro ouros no esqui alpino, e quatro medalhas em um mesmo evento - três ouros e um bronze no slalom super gigante. Seguindo seus passos, a croata Janica Kostelic, que já era a primeira mulher a ganhar quatro medalhas em uma mesma Olimpíada de Inverno, foi ouro no combinado e prata no slalom super gigante, se tornando também a primeira mulher a conquistar quatro ouros no esqui alpino. Seu irmão, Ivica Kostelic, aumentou a coleção da família ao ganhar uma prata no combinado. A austríaca Michaela Dorfmeister, prata em 1998 no slalom super gigante, passou 2002 em branco, mas retornou em grande estilo, vencendo o ouro do slalom super gigante e do downhill. E, falando em Áustria, o país dominou o esqui alpino, ganhando 14 das 30 medalhas possíveis, sendo quatro ouros, e fazendo o pódio inteiro no slalom masculino. Mas o acontecimento mais curioso envolveu o francês Jean-Pierre Vidal, ouro no slalom em 2002: um dia antes da competição, Vidal decidiu esquiar com amigos para comemorar seu aniversário, caiu, quebrou o braço, e não pôde defender seu título.

No esqui cross country, o destaque foi a tcheca Katerina Neumannová, que estreou em Olimpíadas nos Jogos de Inverno de 1992, mas só foi ganhar suas primeiras medalhas em 1998, uma prata nos 5 km e um bronze na perseguição 10 km. Em 2002 ela ganharia mais duas pratas, nos 15 km e na perseguição 2 x 5 km; mas em Turim ela finalmente subiria ao alto do pódio, ao ganhar o ouro nos 30 km. Katerina ainda foi prata na prova da perseguição 15 km, e curiosamente participou de uma Olimpíada de Verão, a de 1996 em Atlanta, onde competiu na prova de mountain bike do ciclismo, mas abandonou logo no início. O esqui cross country também foi onde a Estônia ganhou suas únicas medalhas dos Jogos, três ouros, sendo dois com Kristina Smigun, nos 10 km e na perseguição, e um com Andrus Veerpalu nos 15 km. O cross country também teve um acontecimento curioso, na nova prova do sprint por equipes: durante a final, uma das varas usadas para impulsão da canadense Sara Renner se quebrou, e seria impossível ela completar a prova apenas com a outra. Ainda assim ela continuou tentando, até que o técnico da equipe norueguesa, Bjørnar Håkensmoen, compadecido de seu esforço, decidiu emprestar-lhe uma das suas. Acabou que o Canadá ganhou a prata, deixando a Noruega em quarto lugar, mas o exemplo de esportividade de Håkensmoen foi citado por vários jornais ao redor do mundo.

No biatlo, o norueguês Ole Einar Bjørndalen não conseguiu subir ao alto do pódio, mas ganhou duas pratas, nos 20 km e na perseguição 12,5 km, e um bronze nos 15 km, se tornando o primeiro biatleta a conquistar nove medalhas olímpicas. Por incrível que pareça, este feito seria igualado no feminino poucos dias depois, quando a alemã Uschi Disl, ouro no revezamento em 1998 e 2002, prata nos 7,5 km em 1998 e 2002 e no revezamento em 1992 e 1994, e bronze nos 15 km em 1994 e 1998, ganhou um bronze nos 12,5 km, no último dia de competições. Outro alemão de destaque foi Michael Greis, que ganhou três ouros, nos 15 km, 20 km e no revezamento.

O snowboarding foi dominado pelos Estados Unidos, graças à sua performance no halfpipe, onde foi ouro e prata no masculino e no feminino, além de ouro na nova prova do snowboard cross masculino, prata no snowboard cross feminino e bronze no slalom feminino. A prova mais interessante, porém, foi a do slalom masculino, onde o suíço Philipp Schoch, ouro em 2002, era favoritíssimo a repetir a vitória, mas acabou encontrando um adversário tão difícil quanto inesperado: seu irmão mais velho Simon. Philipp e Simon derrotaram com folga todos os seus adversários até a final, onde Philipp venceu por 88 centésimos de segundo, repetindo seu ouro e deixando o irmão com a prata. A Suíça ainda conseguiria outras duas medalhas de ouro no feminino, no slalom e no snowboard cross, onde os competidores, em grupos de quatro, devem passar por um trajeto composto de saltos, obstáculos e curvas fechadas, aliando velocidade e técnica.

A patinação em velocidade em pista curta foi dominada pela Coréia do Sul: no masculino, Ahn Hyun-Soo foi ouro nos 1.000 e 1.500 metros e bronze nos 500 metros, e Lee Ho-Suk foi prata nos 1.000 e nos 1.500 metros. No feminino, Jin Sun-Yu foi ouro nos 1.000 e 1.500 metros, e Choi Eun-Kyung prata nos 1.500 metros. A Coréia do Sul ainda ganhou o ouro do revezamento masculino e feminino, e poderia ter feito todo o pódio dos 1.500 metros feminino, se Byun Chun-Sa, que chegou em terceiro, não tivesse sido desclassificada por obstruir a chinesa Wang Meng. Meng, aliás, ganhou uma medalha de cada cor: bronze nos 1.500, prata nos 1.000 e ouro nos 500 metros. Yang Yang não conseguiu repetir a boa performance de quatro anos antes, e ganhou apenas um bronze, nos 1.000 metros. O norte-americano Apollo Ohno, mais uma vez favorito a múltiplos ouros, saiu de Turim apenas com um, nos 500 metros, além de dois bronzes, nos 1.000 metros e no revezamento.

Na patinação em velocidade da pista mais longa, o norte-americano Chad Hedrick subiu ao pódio nas três provas da distância mais longa: ouro nos 5.000, prata nos 1.000 e bronze nos 1.500 metros; seu compatriota Joey Cheek foi ouro nos 500 e prata nos 1.000 metros, e outro norte-americano, Shani Davis, foi ouro nos 1.000 e prata nos 1.500 metros, completando a melhor participação dos Estados Unidos na história da patinação em velocidade. Mas o maior destaque do masculino foi o italiano Enrico Fabris, que quase levou o estádio abaixo ao ganhar o bronze na prova dos 5.000 metros, a primeira medalha da Itália na patinação em velocidade. O apoio da torcida parece ter motivado Fabris imensamente, tanto que ele não somente ajudou a equipe italiana a conseguir o ouro da nova prova da perseguição por equipes, como também ganhou o ouro dos 1.500 metros, levando a platéia à loucura. No feminino, o maior destaque foi a canadense Cindy Klassen, que subiu ao pódio em cinco das seis provas, ganhando ouro nos 1.500 metros, prata nos 1.000 metros e na perseguição por equipes, e bronze nos 3.000 e 5.000 metros. Também merecem destaque a russa Svetlana Zhurova, que aos 34 anos, e voltando de uma parada de três devido a uma gravidez, se tornou a atleta mais velha a conquistar um ouro na patinação em velocidade; e a alemã Claudia Pechstein, que graças a uma prata nos 5.000 metros e um ouro na perseguição por equipes se tornou a primeira patinadora a conquistar nove medalhas olímpicas, sendo cinco de ouro, e a atleta olímpica de inverno mais bem sucedida da história da Alemanha.

A patinação artística foi dominada pela Rússia, com Evgeni Plushenko ganhando o ouro nas simples masculinas, Tatiana Totmianina e Maxim Marinin sendo ouro nas duplas, e Tatiana Navka e Roman Kostomarov vencendo a dança no gelo; mas o maior destaque veio do feminino, onde Irina Slutskaya, após cair em um loop triplo, se limitou ao bronze. A campeã foi a japonesa Shizuka Arakawa, campeã mundial em 2004, sendo que antes disso jamais havia conseguido terminar melhor colocada que um oitavo lugar em torneios internacionais. Arakawa planejava se aposentar após o mundial de 2005, mas, após terminar em nono, reconsiderou e decidiu disputar também as Olimpíadas. Para sua sorte, ela foi a única das favoritas ao ouro que não caiu durante a apresentação, e acabou vencendo a prova com quase oito pontos a mais do que a norte-americana Sasha Cohen, a medalhista de prata. O momento mais memorável da patinação artística, porém, ocorreu nas duplas, durante a apresentação da dupla chinesa Zhang Dan e Zhang Hao. Ambiciosos, eles tentaram um arremesso salchow quádruplo, um movimento nunca antes executado em competições. Infelizmente, não foi desta vez: Dan se espatifou no chão, saiu deslizando, e se chocou contra as placas que envolvem o rinque. Tonta e cheia de dores, Dan foi atendida por um médico, e, ao invés de desistir, voltou para seu parceiro e encerrou sua apresentação, executando com perfeição todos os demais movimentos, e levando a platéia ao delírio. Aplaudidos de pé até por seus concorrentes, Dan e Hao ainda conseguiram pontuação suficiente para ficar com a medalha de prata, embora quase 15 pontos atrás dos russos campeões.

Nos trenós, o canadense Duff Gibson, 39 anos, se tornou o atleta mais velho a conquistar uma medalha de ouro em um evento individual na história dos Jogos de Inverno ao ganhar a prova do skeleton, 26 centésimos à frente de seu compatriota Jeff Pain. No luge, o italiano Armin Zöggeler repetiu seu ouro de 2002, ganhando por apenas 11 centésimos do russo Albert Demtschenko, e a Alemanha fez o pódio todo do simples feminino pela segunda vez seguida, com Silke Otto também repetindo o ouro. A Alemanha também foi destaque no bobsleding, ganhando ouro nas três provas, e com André Lange e Kevin Kuske fazendo parte tanto do trenó de dois lugares quanto do de quatro.

No hóquei no gelo masculino, tivemos uma final nórdica, onde a Suécia derrotou a Finlândia por 3 a 2. A vitória foi ainda mais especial para os suecos, já que a Finlândia estava invicta na competição, mas a Suécia havia perdido seus dois primeiros jogos, para a Eslováquia por 3 a 0, e para a Rússia por 5 a 0. A Suécia também chegou na final do feminino, ganhando dos Estados Unidos na semifinal por 3 a 2, na primeira ocasião em que as norte-americanas perderam em um torneio internacional para alguém que não fosse o Canadá. Na final, porém, as suecas acabaram derrotadas pelas canadenses por 4 a 1.

O Brasil participou dos Jogos de 2006 com nove atletas, sendo três mulheres, e de lá voltou com sua melhor participação em Jogos de Inverno. As maiores esperanças estavam com a equipe de Bobsleding, formada por Ricardo Raschini, Edson Bindilatti, Márcio Silva e Claudinei Quirino, única de um país tropical na competição. A pista, porém, estava muito difícil, e devido a duas quedas o Brasil acabou terminando em 25o e último lugar - ainda assim melhor que o 27o de 2002, que já era a melhor participação do Brasil em Jogos de Inverno. No esqui alpino, Nikolei Hentsch foi 30o no slalom gigante e 43o no downhill. Mirella Arnhold também foi 43a, mas no slalom gigante. No esqui cross country, Jacqueline Mourão, que havia participado do mountain bike nas Olimpíadas de Atenas em 2004, se tornou a primeira brasileira a participar tanto dos Jogos de Verão quanto dos de Inverno, e terminou em 67o na prova dos 10 km; nos 15 km, Hélio Freitas foi o 93o dentre 99 atletas.

Mas a melhor colocação do Brasil em 2006 e em toda a história dos Jogos de Inverno foi obtida por Isabel Clark, do snowboarding, que também foi a porta-bandeira da delegação. No prova do snowbpard cross, beneficiada por um acidente que envolveu três atletas, Isabel terminou a prova em nono, se tornando a primeira atleta de um país sem neve permanente a ficar entre as dez primeiras de uma competição olímpica. Isabel foi notícia no mundo inteiro, e a nós só resta esperar que seu esforço não tenha sido em vão, e que alguém resolva investir para que, um dia, o Brasil consiga sua primeira medalha em Jogos de Inverno.

Pequim 2008

Atualizado em 21 de julho de 2020

Pequim, capital da China, foi escolhida sede dos Jogos Olímpicos de 2008 na reunião do COI de 2001, após conseguir a maioria absoluta dos votos já na segunda rodada de votação, vencendo a canadense Toronto; a japonesa Osaka; Paris, capital da França; e Istanbul, na Turquia. Outras cinco cidades - Bangcoc, capital da Tailândia; Cairo, capital do Egito; Havana, capital de Cuba; Kuala Lumpur, capital da Malásia; e Sevilha, na Espanha - foram eliminadas na fase preliminar, e não chegaram à votação.

Apesar de ter sido escolhida tão facilmente, Pequim enfrentou inúmeros protestos de grupos contrários à realização de um evento tão importante quanto os Jogos Olímpicos na China. Grupos defensores dos direitos humanos, os Repórteres Sem Fronteiras e opositores do governo comunista alegavam que os Jogos serviriam de propaganda falsa para o governo chinês, que desejaria passar internacionalmente uma imagem de cultura, riqueza e desenvolvimento, enquanto na realidade o povo é pobre e tem seus direitos violados. Estes grupos chegaram a comparar os Jogos de 2008 com os de 1980, realizados na União Soviética, e até com os de 1936, realizados na Alemanha de Hitler, para argumentar que a escolha de Pequim foi um erro. Alguns até conclamaram os Estados Unidos a boicotarem os Jogos, evidentemente sem sucesso.

Também eram contrários à realização de uma Olimpíada em Pequim os ativistas pela independência do Tibete, que consideraram estar em um bom momento para que a opinião pública internacional expressasse seu desejo de ver um Tibete livre. Eles também conclamaram um boicote, para pressionar a China a libertar a região, invadida e dominada em 1950, e se sentiram particularmente ofendidos com a decisão do comitê organizador de escolher o antílope tibetano, um animal que não existe no resto da China, para ser um dos mascotes olímpicos. Outro que se sentiu ofendido foi o governo de Taiwan, eternamente em conflito contra Pequim, que considera a ilha uma província da China, e não um país independente. Taiwan chegou a cogitar boicotar os jogos, por causa de duas confusões: a primeira foi o trajeto da tocha olímpica, que percorreu 23 cidades ao redor do mundo - incluindo Taipé, a capital de Taiwan - antes de entrar na China para visitar mais 112, no maior trajeto da história das Olimpíadas. O problema foi que Taipé seria a última cidade fora de território chinês a ser visitada, passando a tocha depois por Macau e Hong Kong - Regiões Administrativas Especiais da China - e daí para Sanya, a primeira do trajeto doméstico. O governo de Taiwan alegava que Pequim estaria influenciando as pessoas ao redor do mundo a achar que Taiwan faz parte da China, e só aceitaria fazer parte do revezamento se a tocha passasse por lá bem antes de chegar ao país rival. Como não houve acordo, Taipé acabou retirada do trajeto. A segunda confusão foi por causa do desfile das nações na Cerimônia de Abertura, tradicionalmente feito com as nações em ordem alfabética no idioma do país anfitrião. Graças a isso, Taiwan, mais uma vez, viria depois de Hong Kong e Macau, o que não foi aceito pelo governo da ilha. Felizmente, os organizadores da Cerimônia aceitaram subverter a tradicional ordem alfabética, e colocar a República Centro Africana entre Hong Kong e Taiwan, o que acalmou os ânimos e afastou o boicote.

Desnecessário dizer, o COI não ficou nada satisfeito com esses conflitos todos, e mais de uma vez reafirmou que os Jogos não deveriam ser vistos como um evento político, mas como uma celebração desportiva, com foco nos atletas, e não nas atitudes de seus governos. Mas, mais uma vez, infelizmente, os apelos do COI pareciam entrar por um ouvido e sair pelo outro. O próprio trajeto da tocha seria marcado por centenas de protestos, e interrompido várias vezes por manifestantes que tentavam apagar a tocha. O trajeto foi tão problemático que o COI decidiu proibir "trajetos internacionais"; a partir de 2010, a tocha sairá da Grécia e irá direto para o país anfitrião, onde visitará algumas cidades antes de chegar à cidade-sede.

Conflitos internacionais à parte, a expectativa para 2008 era de um espetáculo esportivo jamais visto. A China anunciou sua intenção de ganhar simplesmente todas as medalhas de ouro que estivesse disputando. Lógico que isso era praticamente impossível, mas pelo menos eles conseguiram terminar em primeiro lugar no quadro não-oficial de medalhas, superando os Estados Unidos, algo que não acontecia desde 1992. No total, os Estados Unidos até tiveram mais medalhas, 110 contra 100 dos chineses, mas a China teve muito mais ouros, 51 a 36, e, tradicionalmente, a colocação no quadro de medalhas é determinada pelo número de ouros, seguido do de pratas e de bronzes. Curiosamente, a imprensa norte-americana optou por divulgar um quadro no qual a colocação era determinada pelo número total, o que garantiu os Estados Unidos em primeiro. Embora eles tenham sido muito criticados por essa decisão, vale lembrar que, como não existe um quadro oficial do COI, cada um é livre para contar as medalhas do jeito que quiser, então eles não estavam errados.



Os mascotes de 2008 eram conhecidos coletivamente como Fuwa ("bonecos da boa sorte", em chinês), e cada um deles representava um dos cinco elementos tradicionais chineses, um ideal da cultura chinesa, um anel olímpico e um grupo de esportes olímpicos: Beibei, o azul, foi inspirado nos peixes, está ligado à Água, representa os esportes aquáticos e o ideal da prosperidade; Jingjing, o urso panda, é o anel preto, a alegria, está ligado ao Metal, e representa as lutas; Huanhuan, inspirado na tocha olímpica, representa evidentemente o Fogo, o anel vermelho, a paixão e os esportes com bola; Yingying, o controverso antílope tibetano, é o anel amarelo, a saúde, representa o atletismo e está ligado à Terra; e Nini, inspirado nas gaivotas, representa o anel verde, a boa sorte, a ginástica, e está ligado à Madeira. Os nomes dos bichinhos não foram escolhidos ao acaso: se você juntar as primeiras sílabas dos nomes de cada um deles, formará a frase Beijing huanying ni, que significa "seja bem-vindo a Pequim". Outra curiosidade é que, apesar de serem bichinhos meio indefinidos, Beibei e Nini são meninas, enquanto os outros três são meninos. Os Fuwa foram extremamente bem sucedidos desde antes dos Jogos, vendendo milhares de produtos, principalmente bonecos de pelúcia, e resgatando a glória dos mascotes do passado.

Os Jogos foram realizados no período entre 8 a 24 de agosto. A data de início de 08/08/08 foi escolhida de propósito, pois o número 8 é associado à prosperidade na cultura chinesa. Nada menos que 11.028 atletas participaram, representando 204 nações - apenas um dos membros do COI, o Brunei, optou por não inscrever nenhum atleta, embora tivesse dois classificados. O programa olímpico contou com 302 provas de 34 esportes - atletismo, badminton, basquete, beisebol, boxe, canoagem, ciclismo, equitação, esgrima, futebol, ginástica artística, ginástica de trampolim, ginástica rítmica, handebol, hóquei, judô, levantamento de peso, luta olímpica, nado sincronizado, natação, pentatlo moderno, polo aquático, remo, saltos ornamentais, softbol, taekwondo, tênis, tênis de mesa, tiro com arco, tiro esportivo, triatlo, vela, vôlei e vôlei de praia - sendo as principais novidades a substituição das provas de duplas do tênis de mesa por provas por equipes e a inclusão da maratona aquática, uma prova de 10 km realizada no mar (clique aqui para ver todas as provas do programa). As competições da equitação não foram realizadas em Pequim, mas em Hong Kong, devido a problemas com a vigilância sanitária chinesa. O comitê organizador também tentou fazer com que o wushu, a arte marcial considerada o esporte nacional da China, fosse incluído como esporte de demonstração, algo que não acontecia desde 1992; o COI rejeitou a proposta, mas acabou permitindo a realização de um campeonato internacional de wushu em Pequim no mesmo período dos Jogos - o contrato que as cidades assinam com o COI proíbe a realização de qualquer outro evento esportivo na cidade durante um período que começa 15 dias antes da cerimônia de abertura e se encerra 10 dias após a cerimônia de encerramento, mas para esse torneio foi aberta a primeira e única exceção da história das Olimpíadas. Não somente o torneio foi permitido, mas ele pôde ser disputado no Olympic Sports Center Gymnasium, bastando que os organizadores não exibissem nenhum pôster ou logotipo dos Jogos Olímpicos durante sua realização, as medalhas eram semelhantes às olímpicas, mas menores (exatamente como nos esportes de demonstração) e seus participantes puderam ficar hospedados na Vila Olímpica, algo inédito na história dos Jogos.

Falando em Vila Olímpica, as instalações construídas para estas Olimpíadas merecem algum destaque. Ao todo foram construídas nada menos que 31, além de seis que já existiam e foram reformadas. O grande destaque foi o Estádio Nacional de Pequim, apelidado Ninho do Pássaro, devido à sua estrutura externa de cabos e vigas de aço entrelaçados, que lembrava um ninho. Além das provas do atletismo e da final do futebol, o Ninho do Pássaro foi palco da Cerimônia de Abertura, um espetáculo grandioso, que para muitos superou até mesmo a dos Jogos de 1980; e da Cerimônia de Encerramento. Do outro lado da rua do Ninho do Pássaro ficava o Centro Aquático Nacional de Pequim, apelidado Cubo d'Água por seu formato quadrado e azul, onde foram realizadas as competições de natação, saltos ornamentais e nado sincronizado, contendo a piscina mais moderna do mundo.

Além de entrarem para a posteridade como duas das mais modernas e impressionantes instalações esportivas da história dos Jogos, o Ninho do Pássaro e o Cubo d'Água também foram testemunhas do surgimento de duas lendas do esporte, os principais destaques das Olimpíadas de Pequim. Como a natação foi disputada antes do atletismo, o Cubo viu o surgimento de sua lenda primeiro, quando o norte-americano Michael Phelps caiu na água.

Nascido em Baltimore, Estados Unidos, Phelps, de apenas 23 anos, já havia participado das Olimpíadas de Atenas, onde ganhara o impressionante número de seis medalhas de ouro e duas de bronze. Em Pequim, porém, seu objetivo era ainda mais grandioso: conquistar o ouro de todas as oito provas que disputaria, quebrando o recorde de maior número de medalhas de ouro em uma só Olimpíada, anteriormente pertencente a outro norte-americano da natação, o lendário Mark Spitz, que conquistara sete ouros em Munique, 1972.

Especialista no nado medley, aquele que envolve os quatro estilos, mas também muito bom nos estilos borboleta e crawl, ninguém duvidava de que Phelps iria conseguir sua proeza. A tarefa, porém, esteve ameaçada em duas ocasiões: no revezamento 4 por 100 metros livre, onde evidentemente o ouro não dependia só de Phelps, a equipe da França surpreendeu a dos Estados Unidos, e chegou a estar liderando na última perna da prova. O ouro norte-americano acabou garantido por Jason Lezak, atleta de 32 anos que disputava sua terceira Olimpíada, e anteriormente só havia ganhado ouros em revezamentos medley. Lezak nadou como um louco, fechando sua perna em 46,06 segundos, 9 décimos mais rápido que Alain Bernard, o último atleta da França, e 44 centésimos mais rápido que o recorde mundial dos 100 metros nado livre, do próprio Bernard. Infelizmente para Lezak, porém, apenas a primeira perna do revezamento conta para o recorde da prova individual.

Cinco dias depois daquela que seria considerada a final mais emocionante da natação de Pequim, Phelps respiraria aliviado mais uma vez, ao garantir mais um ouro, segundo alguns, por pura sorte. A prova era a dos 100 metros borboleta, e o algoz de Phelps chamava-se Milorad Cavic. Nascido nos Estados Unidos, na cidade de Anaheim, Califórnia, Cavic se naturalizou sérvio, nacionalidade de seus pais, e nas Olimpíadas defendia as cores da Sérvia. Nos 100 metros borboleta de Pequim, Cavic havia batido Phelps tanto nas eliminatórias - por 8 centésimos - quanto nas semifinais - por 5 centésimos. Na final, parecia que Cavic iria ganhar e acabar com o sonho de oito medalhas de Phelps, mas o norte-americano decidiu provar que os campeões também precisam ter sorte, batendo nada mais, nada menos que um centésimo à frente do sérvio. Apenas nas imagens em câmera lenta podemos ver que Phelps bate antes de seu rival - e respira aliviadíssimo ao olhar para o placar.

Nas outras seis provas, Phelps reinou absoluto, aumentando seu total de medalhas de ouro para 14, o que também fez com que ele se tornasse o atleta olímpico com mais ouros em todos os tempos. Além desse feito histórico, o Cubo d'Água ainda viu caírem 21 recordes mundiais e 30 recordes olímpicos - apenas os recordes olímpicos do australiano Ian Thorpe nos 400 metros livre e da holandesa Inge de Bruijn nos 100 metros borboleta, ambos estabelecidos em Sydney, 2000, ficaram de pé. Para muitos, a quebra de tantos recordes foi causada por um traje revolucionário, o LZR Racer, desenvolvido pela Speedo em parceria com a NASA e o Instituto Desportivo Australiano. Sem costuras, feito para se tornar uma segunda pele do atleta e diminuir ao máximo o atrito com a água, o LZR Racer também foi suspeito de aumentar a flutuabilidade, o que é proibido pelas regras da Federação Internacional de Natação. Mesmo após muita discussão e polêmica, a FINA optou por validar o traje, mas voltou atrás após uma nova chuva de recordes no Campeonato Mundial de 2009, com o traje sendo proibido de vez a partir de 2010.

Antes de mudarmos de esporte, cabe uma menção a duas outras atletas da natação, a norte-americana Dara Torres e a sul-africana Natalie du Toit. Aos 41 anos, Torres era a atleta mais velha da competição, e estava nada menos do que em sua quinta Olimpíada, tendo competido pela primeira vez em Los Angeles, 1984 (as demais foram 1988, 1992 e 2000). Ainda assim, ela terminou a competição com três pratas, nos revezamentos 4 por 100 livre e medley, e nos 50 metros livre, prova mais rápida da natação. Torres, aliás, parece desafiar o tempo: ainda hoje continua nadando, e, segundo ela, melhor do que quando era mais jovem. Já du Toit não competiu no Cubo d'Água, mas no Parque Olímpico de Remo e Canoagem de Shunyi, na estreante prova da maratona aquática. Vítima de um atropelamento, du Toit perdeu a perna esquerda aos 17 anos, mas não desistiu da natação. Após cinco ouros e uma prata nas Paralimpíadas de 2004, todas em provas de piscina, ela decidiu tentar se classificar para as Olimpíadas de Pequim, se tornando o segundo atleta amputado a conseguir classificação - o primeiro foi o húngaro Olivér Halassy, que disputou o polo aquático em 1928, 1932 e 1936. Du Toit terminou sua prova em 16o lugar em um total de 25 atletas, provando que pode competir de igual para igual com quem tem as duas pernas. Algumas semanas depois da maratona, du Toit competiria também nas Paralimpíadas, onde ganharia mais cinco ouros.

A lenda surgida no Ninho do Pássaro veio do caribe, e tinha nome de velocidade. Às vésperas de completar 22 anos, o jamaicano Usain Bolt pisou a pista de Pequim tão favorito quanto Phelps, embora de certa forma tenha impressionado ainda mais o mundo esportivo do que o norte-americano. Menino pobre, nascido em Trelawny, Bolt, de 1,93m, é muito mais alto que a média dos velocistas, mas isso parece não impedi-lo de correr como o raio de seu apropriado sobrenome - de fato, há até quem alegue que ajude, já que suas pernas são bem compridas. Em Pequim, Bolt ganhou o ouro nos 100 metros, nos 200 metros e no revezamento 4 por 100 metros, e todos os três de forma incontestável, com direito a quebra de recorde mundial e uma vantagem sobre o segundo colocado que torna a foto da chegada até vergonhosa: nos 100 metros, ele foi nada menos que um décimo de segundo inteiro mais rápido, e, mesmo assim, porque, quando viu que ia ganhar, decidiu rir e bater no peito, o que lhe custou um recorde ainda melhor - e lhe rendeu algumas broncas por falta de respeito com os adversários. Para não cometer o mesmo erro, nos 200 metros Bolt correu concentrado até o final, e o resultado foi uma impressionante vantagem de 66 centésimos sobre o medalhista de prata.

O Ninho do Pássaro também foi o palco do desfile da musa dos jogos, a russa Yelena Isinbayeva. Linda e sorridente, a atleta de 26 anos, na infância, desejava se tornar ginasta, mas sua altura impediu que seguisse essa carreira. Quando um técnico propôs que ela tentasse o salto com vara, sua família primeiro pensou que ele estivesse de gozação. O homem, porém, era um visionário. Isinbayeva é uma mestra nesse esporte, alcançando alturas com as quais as mulheres haviam apenas sonhado: em 2005, ela se tornou a primeira mulher a quebrar a marca dos cinco metros, e seu recorde mundial estabelecido em Pequim, 5,05 m, o vigésimo-sexto de sua carreira, era nada menos que 25 centímetros mais alto que a marca da medalhista de prata. Isinbayeva é até hoje a rainha absoluta de seu esporte, e, apesar de estar atravessando uma fase ruim, que a levou a decidir dar um tempo e descansar, promete seguir quebrando barreiras, disposta a provar que o céu é o limite.

No tênis, quem esperava uma final entre os dois maiores nomes da atualidade, o espanhol Rafael Nadal e o suíço Roger Federer, teve de se contentar com o ouro de Nadal sobre o chileno Fernando González, já que Federer acabaria eliminado nas quartas de final pelo norte-americano James Blake. Federer, porém, seria campeão nas duplas, ao lado de Stanislas Wawrinka. Nas simples femininas, o pódio foi todo russo, com Elena Dementieva ganhando o ouro, Dinara Safina a prata e Vera Zvonareva o bronze. Nas duplas femininas as irmãs norte-americanas Venus e Serena Williams massacraram as adversárias, ganhando o ouro com 6-2 e 6-0 sobre as espanholas Anabel Medina Garrigues e Virginia Ruano Pascual.

Outro massacre norte-americano aconteceu no basquete, onde os Estados Unidos, mordidos com o resultado dos Jogos de 2004, decidiram jogar mais sérios e concentrados, e aí não teve para ninguém, com os norte-americanos chegando ao ouro facilmente, só não passando dos 100 pontos nos jogos contra Angola (97) e Grécia (92), ambos na fase de classificação. No futebol, a Argentina repetiu sua medalha de ouro da olimpíada anterior, com um time que contava com os craques Riquelme e Messi. E o beisebol e o softbol tiveram talvez sua última aparição olímpica, já que o COI votou por removê-los do programa a partir de 2012. Curiosamente, em ambos os favoritos foram surpreendidos por asiáticos na final, com a Coréia do Sul ganhando de Cuba no beisebol e o Japão batendo os Estados Unidos no softbol.

O Brasil enviou para Pequim sua maior delegação de todos os tempos, com 277 atletas, sendo 145 homens e 132 mulheres, que disputaram 28 dos 35 esportes do programa. Em Pequim, o Brasil conseguiu superar seu recorde de 15 medalhas de Atlanta, 1996, mas infelizmente não superou os cinco ouros de Atenas, 2004, terminando a competição com três medalhas de ouro, quatro de prata e dez de bronze, 17 no total.

O maior destaque da delegação brasileira foram as mulheres: logo no terceiro dia dos Jogos, Ketleyn Quadros se tornou a primeira atleta brasileira a conquistar uma medalha em um evento individual, um bronze na categoria leves do judô. Natália Falavigna repetiria o feito de Ketleyn, ao conquistar um bronze no taekwondo, categoria superpesados. Mauren Higga Maggi iria ainda mais longe - literalmente - e se tornaria a primeira brasileira a conquistar um ouro em um evento individual, o salto em distância do atletismo, retornando após uma suspensão de dois anos causada por um doping involuntário para bater favoritas como a russa Tatyana Lebedeva, que ficou com a prata, e a norte-americana Brittney Reese, que terminou em quinto. Isabel Swan e Fernanda Oliveira também entraram para a história do esporte brasileiro ao ganhar a primeira medalha olímpica da vela feminina, um bronze na classe 470. Nos esportes coletivos, o vôlei feminino finalmente chegou à tão aguardada e merecida medalha de ouro com um time que contava com nomes como Fofão, Walewska, Sheilla, Mari, Paula Pequeno, Fabiana e Fabi, derrotando adversários como Itália, Rússia e China, com uma campanha tão irrepreensível que seu primeiro set perdido aconteceu na final, contra os Estados Unidos. A seleção de futebol, de Marta e Cristiane, também enfrentou os Estados Unidos na final, mas perdeu, ficando com sua segunda medalha de prata seguida. Dentre as que não chegaram ao pódio podemos citar a dupla Talita e Renata, quarto lugar no vôlei de praia, e as nadadoras Ana Marcela Cunha e Poliana Okimoto, respectivamente quinto e sétimo lugar na maratona aquática.

Dentre os homens, o maior destaque foi César Cielo Filho, responsável pela primeira medalha de ouro da história da natação brasileira em Olimpíadas, nos 50 metros livre. Dois dias antes, Cesão, como é conhecido pelos amigos, já havia conseguido um bronze em outra prova de velocidade, os 100 metros livre. Cielo tem tudo para se tornar o maior nadador brasileiro da história, tanto que no ano seguinte, no Campeonato Mundial, ganhou o ouro nas duas provas, quebrando o recorde mundial dos 100 metros livre, e no final de 2009 quebrou também o recorde mundial dos 50 metros livre em uma competição em São Paulo.

Tirando os favoritos que nem subiram ao pódio, como o ginasta Diego Hypólito e a atleta do salto com vara Fabiana Murer, prejudicada por um erro da organização que resultou no sumiço de uma de suas varas, talvez a maior decepção do Brasil em Pequim tenha sido a medalha de prata do superfavorito time masculino de vôlei, treinado por Bernardinho, que perdeu a final para os Estados Unidos, para quem também já haviam perdido a Liga Mundial do mesmo ano. As demais pratas do Brasil vieram do vôlei de praia, com Márcio e Fábio Luiz, que perderam a final para os norte-americanos Rogers e Dalhausser, e da classe star da vela, com Robert Scheidt e Bruno Prada.

Completaram o quadro de medalhas do Brasil os bronzes de Leandro Guilheiro e Tiago Camilo, respectivamente nas categorias leves e meio-médios do judô, de Ricardo e Emanuel no vôlei de praia, e da seleção masculina de futebol, que, sob o comando do técnico Dunga, e contando com jogadores como Ronaldinho Gaúcho e Alexandre Pato, mais uma vez deixou escapar a chance do ouro ao perder para a Argentina nas semifinais. E tudo bem que "não conta", mas vale citar a medalha de bronze de Emerson Almeida na categoria pesados do torneio quase-olímpico de wushu.

Finalmente, duas equipes brasileiras, as do revezamento 4 x 100 metros do atletismo, feminino e masculino, receberiam boas notícias inesperadas, anos após os jogos. No feminino, a equipe brasileira, formada por Rosemar Coelho Neto, Lucimar de Moura, Thaíssa Presti e Rosângela Santos, chegou originalmente em quarto lugar, com a Rússia conquistando o ouro, a Bélgica a prata, e a Nigéria o bronze. Em 16 de agosto de 2016, porém, seis dias antes de se completarem oito anos da realização da prova, foi descoberto que uma das atletas russas, Yulia Chermoshanskaya, havia feito uso de duas substâncias proibidas, na época indetectáveis pelos exames anti-doping. Com a descoberta, a Rússia perdeu sua medalha, e as outras três equipes foram realocadas, com o Brasil conquistando seu nono bronze.

Algo semelhante ocorreu no masculino: a Jamaica havia ficado com o ouro, Trinidad e Tobago com a prata, e o Japão com o bronze, com os brasileiros Vicente Lenílson, Sandro Viana, Bruno de Barros e José Carlos Moreira terminando em quarto lugar. Em janeiro de 2017, um novo exame do material fornecido pelo jamaicano Nesta Carter apontou uso de dimetilamilamina, e, após a confissão do atleta, a Jamaica foi desclassificada e os demais realocados, com os brasileiros conquistando o décimo bronze e garantindo o recorde de 17 medalhas para o Brasil quase oito anos e meio após o final dos Jogos.

No final, apesar de todas as críticas e protestos, os Jogos de Pequim foram considerados um grande sucesso pelo COI, que declarou não ter quaisquer arrependimentos quanto à escolha da capital chinesa como sede. Ainda é cedo, porém, para medir a extensão do legado que os Jogos deixarão à cidade - e talvez ao país como um todo.


Série Olimpíadas

Turim 2006
Pequim 2008

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