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sábado, 23 de fevereiro de 2008

Escrito por em 23.2.08 com 0 comentários

Contra (II)

Hoje teremos a segunda parte do post sobre a série de jogos Contra, da Konami. Semana passada vimos os títulos para NES, Game Boy e Super Nintendo, agora é a hora de saber o que Contra fez em sistemas que não fossem da Nintendo.

Hard CorpsO primeiro Contra lançado para um videogame não-Nintendo foi Contra: Hard Corps, lançado em 1994 para Sega Genesis, conhecido aqui no Brasil como Mega Drive. Ao invés de dar aos usuários da Sega "mais do mesmo", com Bill e Lance enfrentando alienígenas, a Konami optou por manter apenas o estilo de jogo e o cenário, e inovar em todo o resto: Hard Corps se passa cinco anos após os eventos de Contra 3 (ou seja, no ano 2641), quando a ameaça alienígena foi totalmente rechaçada, e a humanidade lentamente começa a reconstruir sua civilização. Para manter a paz e a ordem nestes tempos tão difíceis, é criada uma unidade especial do Exército, conhecida, adivinhem, como Hard Corps.

Fora um eventual meliante ou outro para deter, os Hard Corps não têm muito trabalho, até que um dia o sistema de segurança da cidade falha, e robôs descontrolados saem destruindo tudo. Na verdade isto foi apenas uma distração criada pelo Coronel Bahamut, um herói da guerra contra os alienígenas, que aparentemente enlouqueceu e planeja dominar o mundo, se utilizando do poder de uma célula alienígena confinada no centro de defesa da cidade. Uma corajosa equipe de quatro Hard Corps descobre os planos do Coronel, e parte para detê-lo.

Como era de se esperar, no início do jogo você pode escolher um dos quatro membros desta equipe, o que já é uma enorme inovação em termos de Contra, pois até então o jogador 1 só podia jogar com Bill, e o jogador 2 com Lance. Para completar a novidade, a equipe não é composta de quatro soldados idênticos com cabelos e roupas diferentes, mas de um homem (Ray Poward), uma mulher (Sheena Etranzi), um lobisomem (Brad Fang) e um robô (Modelo de Combate CX-1-DA300, apelidado "Browny"). Cada um possui quatro armas diferentes, que podem ser trocadas recolhendo seus símbolos dos tradicionais balões, e algumas características distintas, como maior ou menor velocidade ou alcance do pulo (Browny, aliás, possui um pulo duplo), mas nenhuma destas peculiaridades influencia na dificuldade do jogo, sendo a escolha do personagem uma questão puramente pessoal.

Falando em dificuldade, Contra: Hard Corps é um jogo dificílimo, tão ou mais difícil que Contra 3. Na versão original japonesa o jogador pode ser atingido três vezes antes de morrer, mas nas versões americana e européia é "bateu-morreu" como nos Contra anteriores. O jogo é composto de dez fases com poucos inimigos que morrem com um só tiro, mas muitos sub-chefes que dão um trabalho danado. Outra inovação do jogo é a presença de caminhos alternativos nas fases, que inclusive alteram o final de acordo com o caminho seguido pelo jogador - ao todo existem quatro finais diferentes, mais um final secreto, somente obtido se o jogador encontrar e passar por uma fase secreta.

Contra: Hard Corps foi o último jogo da série a ser lançado na Europa com o nome de Probotector, mas a Konami decidiu fechar com chave de ouro: substituiu os quatro personagens por quatro robôs idênticos, mas de cores diferentes, de nomes CX-1, CX-2, CX-3 e CX-4; o Coronel Bahamut agora é um alienígena; um dos personagens que era um traidor dos Hard Corps agora é mau desde o início; e a célula alienígena foi substituída por uma nova fonte de combustível para robôs.

A boa notícia é que, a partir do jogo seguinte, um grande contingente de jogadores mais velhos e um relaxamento parcial das rígidas leis européias fez com que a Konami passasse a lançar o mesmo jogo, imodificado, nos Estados Unidos e Europa. A má notícia é que o jogo seguinte não foi lá essas coisas. Lançado em 1996 para Playstation e Sega Saturn, Contra: Legacy of War sequer foi desenvolvido pela Konami, mas pela softhouse húngara Appaloosa. Uma enxurrada de críticas negativas fez com que o jogo sequer fosse lançado no Japão, e tal fato acabou fazendo com que, em 2002, a Konami o retirasse da cronologia oficial de Contra.

Legacy of WarLegacy of War foi o primeiro Contra com gráficos em 3D. Mais do que isso, o jogo vinha acompanhado de um par de óculos 3D, e uma opção no menu permitia que o jogador, ao usá-los, visse tudo em 3D. As fases, infelizmente, são mostradas de um ângulo bisonho, e os personagens são focalizados tão de perto que às vezes você é atingido sem nem saber pelo quê. Esta mesma característica faz com que inimigos aéreos sejam quase impossíveis de serem atingidos, e com que as lutas contra os chefes sejam meio claustrofóbicas, sem muito lugar para correr dos ataques inimigos. Por causa desta câmera torta e dos controles um tanto difíceis de se acostumar, Legacy of War acaba sendo um jogo bem mais difícil do que é realmente. Pelo menos você começa o jogo com nove vidas - mas, se der continue, por qualquer razão volta só com oito - e é possível gravar o progresso no Memory Card.

A história também não é lá essas coisas - de fato, parece uma cópia da história de Hard Corps: o Coronel Bassar, ditador de um pequeno país hostil (e que, por algum motivo, tem a pele verde), conseguiu roubar um embrião alienígena, e o está utilizando para criar supersoldados geneticamente modificados. Uma equipe especial, liderada por Ray Poward, é reunida para impedi-lo. Além de Ray, você pode escolher jogar com a mercenária Tasha, o robô CD-288, ou o alienígena renegado Bubba. Assim como em Hard Corps, cada um deles tem quatro armas diferentes (sendo que duas, a metralhadora e o lança-chamas, são comuns aos quatro), e algumas características melhores ou piores em relação aos outros três, mas, mais uma vez, o personagem com o qual você joga é apenas uma questão de escolha, influenciando pouco no desenrolar do jogo. Legacy of War tem ao todo 7 fases, mas sem caminhos ou finais alternativos.

Mesmo com todas as críticas desfavoráveis em relação a Legacy of War, a Appaloosa ainda conseguiu autorização da Konami para desenvovler um segundo título para Playstation, lançado em 1998 com o nome de C: The Contra Adventure. Mais uma vez foi um jogo em 3D, mais uma vez recebeu muitas críticas desfavoráveis, e mais uma vez foi removido da cronologia oficial em 2002. Na verdade o jogo foi considerado tão ruim que foi lançado apenas nos Estados Unidos.

C: The Contra AdventureMas ninguém pode acusar a Appaloosa de não ter se esforçado: apenas uma das sete fases usa a câmera horrorosa do jogo anterior, sendo outras quatro vistas de trás do personagem, e mais duas no tradicional estilo de plataforma (mas com gráficos em 3D). Mas C comete um pecado mortal em termos de Contra: não tem um modo para dois jogadores. Além disso, o único personagem à disposição do jogador é Ray Poward, que tem por missão encontrar Tanya, uma soldado de elite desaparecida enquanto investigava a queda de um meteorito em um templo maia na América do Sul, e derrotar invasores alienígenas que vieram atrás do tal meteorito. Ray começa o jogo com cinco vidas, mas você não perde uma delas assim que é atingido - pela primeira vez em um Contra norte-americano, o personagem tem energia, que vai diminuindo conforme ele é atingido.

Após o fiasco da Appaloosa, talvez se esperasse que a série chegasse a seu fim. A Konami, porém, decidiu dar a ela um novo gás, e do jeito certo: chamou Nobuya Nakazato, um dos responsáveis por Contra 3 e por Hard Corps, e lhe incumbiu da missão de criar um novo Contra, com gráficos 3D mas o mais fiel possível ao original, com fases de plataforma e até trazendo de volta Bill e Lance. Para completar o revival, este jogo seria lançado para Nintendo 64, sistema da empresa onde Contra havia vivido seus melhores dias. Infelizmente, problemas envolvendo a capacidade máxima dos cartuchos do Nintendo 64 e atrasos no desenvolvimento acabaram fazendo com que este título fosse cancelado.

O que já estava pronto, porém, pôde ser muito bem aproveitado, e o resultado foi um jogo de Playstation 2 que trouxe Contra de volta aos seus melhores dias: Contra: Shattered Soldier, lançado em 2002. Com gráficos 3D mas bastante parecido com os Contra originais, Shattered Soldier traz cinco fases recheadas de inimigos, chefes enormes e muito tiroteio. A única coisa que não se manteve fiel aos Contra originais foi o sistema de armas: você já começa com uma metralhadora, um lança-chamas e um lança-granadas, e pode alternar entre elas livremente, sem ser preciso pegar armas nos balões de ferro, que nem existem nesse jogo. Cada arma possui um ataque comum ilimitado, e um ataque especial, muito mais poderoso mas de usos limitados. Assim como Hard Corps, Shattered Soldier tem vários finais diferentes, mas aqui eles não dependem de caminhos alternativos nas fases, mas de seu desempenho nelas: o jogo possui um sistema de hit rate, que computa quantos inimigos foram destruídos (sendo que destruir o mesmo mais de uma vez não conta), quantas vidas foram perdidas e quantos continues foram gastos (mas não o tempo gasto em cada fase) para ranquear o jogador e disponibilizar conteúdo secreto e finais melhores.

Shattered SoldierShattered Soldier se passa no ano 2647 (seis anos após Hard Corps, onze após Contra 3). Cinco anos antes, um pulso eletromagnético disparado por engano matou 80% da população da Terra. O suspeito por disparar este pulso criminoso foi ninguém menos do que Bill, acusado ainda de assassinar seu ex-companheiro Lance quando este tentava impedi-lo. Por este crime, Bill foi condenado a dez mil anos de prisão criogênica. Apenas cinco anos após Bill ser congelado, porém, uma organização terrorista auto-denominada Blood Falcon, liderada por um ser com poderes sobre-humanos, ameaça destruir o que restou do planeta. Sem escolha diante de suas armas alienígenas, o Exército decide descongelar Bill e enviá-lo para a batalha, com a promessa de que seus crimes serão perdoados se ele derrotar a Blood Falcon. Para acompanhar Bill em sua missão (e também para que o jogo possa ter um modo de dois jogadores) é designada Lucia, uma ciborgue de última geração. Ao longo da batalha, Bill e Lucia descobrirão uma verdade terrível: Lance não morreu, mas foi infectado pelos alienígenas, e é ele o comandante da Blood Falcon.

Com Shattered Soldier, a Konami decidiu não só revitalizar a série, mas também arrumar a casa: foi após seu lançamento que Contra Force, Legacy of War e The Contra Adventure foram removidos da cronologia oficial, e a cronologia norte-americana foi alterada para ficar igual à japonesa, o que acabou significando que os manuais dos jogos lançados nos Estados Unidos estavam errados. O jogo foi extremamente bem recebido, e rendeu uma continuação, lançada também para Playstation 2, em 2004, com o nome de Neo Contra. Neo Contra, porém, não era tão legal quanto seu antecessor: mais uma vez Contra se aventurou pelo terreno do 3D, e, embora a câmera da Konami seja muito melhor que a da Appaloosa, e o jogo tenha mira automática desde que os inimigos estejam na mesma direção do cano da arma, os controles são um pouco esquisitos. A maior parte do jogo acontece em perspectiva isométrica - visto de cima mas de uma diagonal - mas algumas partes de algumas fases são vistas de trás do personagem, e algumas até lembram fases de plataforma. Mais uma vez o jogador começa com três armas, mas agora é possível adquirir mais delas conforme seu hit rate for aumentando. Neo Contra tem sete fases, e, diferentemente do "padrão Contra", é um jogo curto e fácil.

Neo ContraA história é meio esquisita: o ano é 4444 (nada menos que 1797 anos após Shattered Soldier) e a Terra foi transformada em um planeta-prisão, onde imperam criminosos e rebeldes políticos que se auto-denominam Contras. Estes rebeldes se organizam em um grupo chamado Neo Contra, que logo é considerado uma ameaça pelo famoso Exército. Para combater o Neo Contra eles chamam ninguém menos que Bill - que, a princípio, estava em sono criogênico, mas ao longo do jogo descobrimos que, na verdade, trata-se de um clone de Bill - e o enviam para a Terra na companhia do samurai Jaguar. Ambos terão a missão de derrotar o Neo Contra, mas não sem antes descobrir que seu líder é nada menos que outro clone de Bill.

Por ser em 3D, fácil demais, e ter uma história esquisita, Neo Contra não foi bem recebido pelos fãs, e surgiu até um boato de que a Konami estaria tentando trazer novos jogadores para a série ao lançá-lo. Assim, mais uma vez, a Konami decidiu retornar às origens para revitalizar a série, e, em 2007, lançou para Nintendo DS o primeiro Contra para um sistema Nintendo desde Contra 3 - mais do que isso, uma continuação direta de Contra 3: Contra 4.

Ambientado em 2638, dois anos após Contra 3 e três antes de Hard Corps, Contra 4 traz uma nova ameaça alienígena, chamada Black Viper. Para detê-la, o Exército chama seus principais soldados: Bill, Lance, Mad Dog e Scorpion. Ué, mas Mad Dog e Scorpion não eram Bill e Lance na versão americana? Pois é. Contra 4 foi desenvolvido pela empresa norte-americana WayForward sob supervisão da Konami norte-americana, então parece que eles quiseram consertar algumas incongruências causadas pela adoção da cronologia japonesa nos jogos norte-americanos. Assim, não somente Mad Dog e Scorpion são dois soldados diferentes de Bill e Lance como também o jogo Operation C, que originalmente era uma missão de Bill contra a organização terrorista Black Viper agora é oficialmente uma missão anterior de Mad Dog e Scorpion contra a ameaça alienígena Black Viper - e essa foi a razão pela qual eles agora foram convocados para ajudar Bill e Lance. Como Contra, Super C e Operation C não têm nenhum texto explicativo da história durante o jogo, sendo todo o enredo contado no manual, na minha opinião eles nem precisavam tentar consertar, podendo mudar a história para o que bem entendessem, mas enfim. E a razão pela qual temos quatro personagens disponíveis para jogadores é que, originalmente, quatro jogadores poderiam jogar simultaneamente, mas durante o desenvolvimento esta idéia foi abandonada, e a versão final do jogo só permite dois jogadores.

Contra 4Contra 4 utiliza o mesmo estilo de jogo do Contra original, com nove fases, sendo seis de plataforma e três vistas de trás do personagem. Durante o jogo, também são feitas várias "homenagens" aos Contra que saíram para sistemas Nintendo, como chefes que retornam, mas redesenhados. O jogo usa o mesmo sistema de armas de Contra 3, onde o jogador pode carregar duas armas de cada vez, e, assim como na versão Arcade de Super Contra, pegar o mesmo símbolo da arma que você está carregando aumenta o poder da mesma. Falando nisso, os balões que carregam as armas voltaram, e trazem seis armas diferentes para substituir o rifle comum com o qual se começa o jogo, além de um escudo temporário e uma bomba que destrói todos os inimigos da tela. Antes de pegar uma nova arma, o jogador pode optar por "soltar" a antiga, pegando-a de novo após um tempo, ou deixando-a para o segundo jogador pegar. Apesar de toda esta nostalgia, Contra 4 faz bom uso da capacidade do DS, com ótimos gráficos e música, e o uso das duas telas - nas fases de plataforma, a ação se desenrola em ambas simultaneamente, e nas vistas de trás a tela inferior serve como mapa.

Além do jogo comum, chamado de Arcade Mode, Contra 4 traz um Challenge Mode, com dez tipos de missões diferentes. Cada uma delas traz um objetivo, como chegar ao final da fase em um tempo pré-determinado, sem atingir reféns feitos pelos alienígenas, ou até sem disparar um único tiro. Concluindo estas missões, você destrava conteúdo secreto, como uma galeria de ilustrações, material promocional e capturas de tela dos demais jogos da série; a possibilidade de jogar as versões NES de Contra e Super C; e até mesmo cinco personagens secretos, se você não estiver a fim de jogar com os quatro que o jogo oferece: Probotector, Lucia, Sheena Etranzi, Jimbo e Sully. Sim, Jimbo e Sully teoricamente eram os descendentes de Mad Dog e Scorpion em Contra 3, mas já que tudo virou uma salada mesmo, agora eles também são soldados diferentes. E Probotector é o robô conhecido como RD008 e RC011, que substituía Bill e Lance na versão européia de Contra.

Mesmo com as eventuais confusões causadas pelas "correções" na cronologia - os fãs mais radicais, por exemplo, não aceitam a inclusão de Mad Dog e Scorpion no jogo, e acham que esses nomes deveriam ser esquecidos para sempre - Contra 4 foi extremamente bem recebido pela crítica, e ganhou o prêmio de melhor jogo de ação de 2007, conferido pela IGN. Isto, aliado à boa vendagem, fez com que a Konami decidisse lançá-lo também no Japão, com o nome de Contra: Dual Spirits, previsto para o próximo dia 13 de março. Se a Konami aprendeu a lição e fará os novos Contra mais parecidos com este ou se inventará mais moda - um onde o jogador usa o remoto do Wii como rifle, talvez? - só o tempo dirá.

Contra

Parte 2

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sábado, 16 de fevereiro de 2008

Escrito por em 16.2.08 com 1 comentário

Contra (I)

Apesar de eu ter sido uma das primeira crianças que eu conhecia a ter um Atari, e praticamente a única a ter um MSX, demorei alguns anos até finalmente ter um NES, principalmente devido ao preço, já que na época atravessávamos uma fase de vacas magras. Meu primo, por outro lado, ganhou um Dynavision 2 - um compatível com o NES, que jamais foi lançado aqui com seu nome original - de aniversário, ou de Natal, no mesmo ano em que foi lançado. Portanto, durante muito tempo o único contato que eu tinha com jogos de videogames de 8 bits era na casa dele, e, evidentemente, jogos para dois jogadores eram favorecidos quando nos reuníamos para jogar, principalmente aqueles onde os dois podiam jogar ao mesmo tempo. Meu primo até tinha um jogo deste tipo, Double Dragon 2, que foi o primeiro jogo de NES que eu joguei na vida, mas o nosso preferido era Contra, que ele pegava emprestado de um amigo quase toda vez que eu ia lá.

Eu nunca fui muito bom em Contra, principalmente porque o jogo era muito difícil, mas confesso que jogar com meu primo no modo de dois jogadores, mesmo que eu sempre fosse o primeiro a ficar sem vidas, era divertidíssimo. Depois que eu finalmente ganhei meu NES (um Top Game VG-9000) até arrisquei alugar Contra e Super C algumas vezes, mas sozinho o jogo não tinha a mesma graça. Ainda assim, durante um bom tempo Contra fulgurou na minha lista de jogos preferidos, e só saiu de lá porque depois de Contra 3 eu nunca mais me interessei pela série. Ano passado, porém, o lançamento de um novo jogo fez com que eu tivesse vontade de escrever um post sobre Contra. E aí saiu esse aqui.

Contra (Arcade)O primeiro Contra foi lançado para arcades pela Konami em 1987. Como na época os jogos não davam muita atenção ao enredo, sendo mais importante sair destruindo tudo o que aparecia pela tela, o que realmente interessava era que o jogo pegava carona no sucesso de filmes de ação como Rambo e Predador; ainda assim, a Konami preparou uma história até decente: o ano é 2633, e um estranho meteoro caiu no fictício arquipélago de Galuga, próximo à costa da Nova Zelândia. Tal meteoro trazia uma forma de vida alienígena em uma espécie de animação suspensa, que foi prontamente surrupiada pela organização terrorista Red Falcon, que planeja usar seu poder para dominar o mundo. Para impedi-los, o Exército (sabe-se lá de que país) envia dois de seus mais valorosos soldados, Bill Rizer e Lance Bean, que terão como missão invadir a fortaleza da Red Falcon e destruir o tal alienígena, antes que seja tarde demais. Por suas incríveis habilidades em batalha, estes soldados recebem o título de "Contra", reservado apenas àqueles com determinação e habilidade quase sobre-humanas.

O sucesso nos arcades levou a uma prática comum na época, a adaptação para sistemas caseiros: a versão de Contra para NES, lançada em 1988, acabou se tornando mais famosa até que a original, e foi uma das maiores responsáveis pela longevidade da série. No mesmo ano, Contra ganharia uma versão para PC, e seria adaptado para os computadores ZX-Spectrum, Commodore 64 e Amstrad CPC com o nome de Gryzor. O lançamento destas adaptações no mercado norte-americano, porém, acabou bagunçando um pouco a história, já que a Konami dos Estados Unidos resolveu se aproveitar ainda mais da popularidade dos filmes de ação da época, ao ponto de na embalagem do jogo para NES Bill estar a cara do personagem de Schwarzenegger em Predador, e Lance a cara do Rambo. Achando que o clima de guerrilha na selva combinava com o final dos anos 80, a versão norte-americana diz que o meteoro caiu em Galuga na década de 50, e apenas em 1988 a Red Falcon toma posse dele, o que faz com que o Exército mande os Contra para impedi-los. Além disso, talvez achando que Bill e Lance eram nomes meio bobos, a versão norte-americana diz que os nomes dos personagens são Mad Dog e Scorpion. Esta ficou sendo a "versão oficial" da história nos Estados Unidos até 2002, quando a Konami norte-americana decidiu rever tudo e adotar o enredo japonês. E, se você achou isso ruim, espere até saber que a versão de Contra lançada na Europa em 1990 se chamava Probotector, substituía Bill e Lance pelos robôs RD008 e RC011, e todos os inimigos humanos por robôs (mas pelo menos mantinha o enredo futurista original japonês). Isto porque as leis da Europa eram bastante rigorosas quanto à classificação de jogos de videogame - na Alemanha, por exemplo, jogos que fossem considerados violentos não podiam ser anunciados ou expostos, e só podiam ser vendidos mediante requisição para maiores de 18 anos - e lançar o jogo original poderia resultar em prejuízo para a Konami.

Mas seja qual for a história, o jogo é o mesmo: um dos jogadores controla Bill (ou Mad Dog, ou RD008) e o outro, Lance (ou Scorpion, ou RC011), que devem invadir a base da Red Falcon (que na versão norte-americana não somente é o nome da organização terrorista como também do alienígena que veio no meteoro), matar o maior número de inimigos possível, e destruir o alienígena. Contra ficou famoso por três características: primeiro, era possível que dois jogadores jogassem ao mesmo tempo, um controlando Bill e o outro Lance, cooperando para chegar ao final de cada fase, algo raro na época até mesmo em jogos de arcade; além disso, o jogo misturava dois tipos de fase, as parecidas com um jogo de plataforma, onde o personagem andava para a direita matando inimigos e pulando buracos, e as vistas de trás do personagem, onde inimigos iam aparecendo na tela como em uma galeria de tiro, e o jogador avançava automaticamente após destruir todos eles; finalmente, o jogo se tornou conhecido por ser dificílimo, já que existem milhares de inimigos e tiros na tela de cada vez, e basta que apenas um deles toque seu personagem para que você perca uma vida - e para vocês verem que eu não estou exagerando quanto à dificuldade, Contra foi escolhido em março de 2007 pela IGN.com como o jogo mais difícil de se completar em toda a história.

Outra característica interessante do jogo é o sistema de armas: cada jogador começa armado com um rifle, que dá um tiro de cada vez, mas destruindo balões que parecem feitos de metal e coletando símbolos que caem de dentro deles, o rifle pode ser substituído por armas como uma metralhadora, um laser, um lança-chamas ou a famosa spread gun, que dispara tiros em várias direções simultaneamente. Este sistema tem duas más notícias: a primeira é que cada personagem só pode carregar uma arma, substituindo a que está usando assim que pega um novo símbolo; e a segunda é que, toda vez que morre, o personagem volta com o rifle, o que, em alguns momentos do jogo, pode ser bem desagradável.

Super CO Contra original dos arcades tinha sete fases, sendo duas vistas de trás do personagem, enquanto a versão NES tinha oito, mas ao contrário do que possa parecer, não havia nenhuma fase nova; o que acontece é que nos arcades os chefes das fases vistas de trás dos personagens contavam como fases em separado, enquanto no NES eles faziam parte das fases 2 e 4, e a última e enorme fase da versão arcade foi dividida em quatro fases menores na versão NES. As principais diferenças entre estas duas versões, portanto, estavam nos gráficos e no som, evidentemente superiores na versão arcade - a versão para Famicon, o equivalente japonês do NES, ainda tinha gráficos um pouco melhores que a lançada nos Estados Unidos, graças a um chip extra proibido pela Nintendo norte-americana. Além disso, curiosamente, a versão arcade utilizava uma tela "em pé", tipo de jogos shoot-em-up; isto porque Contra era vendido como um conversion kit, um tipo de arcade onde era possível trocar o jogo apenas trocando algumas ROMs da placa, o que representava economia para o dono do gabinete, e gabinetes com tela vertical vendiam mais devido à popularidade dos shoot-em-ups. Um efeito colateral desta tela, porém, era o menor espaço para fugir dos ataques inimigos, o que fazia com que a versão arcade fosse um pouco mais difícil que a NES.

Em 1989, a Konami lançou, exclusivamente no Japão, uma versão de Contra para MSX2; esta sim tinha várias diferenças em relação às demais, como ação tela-a-tela (o personagem "muda de tela" ao chegar ao final da tela anterior, algo que já acontecia na versão MSX de Castlevania), uma barra de energia para que o personagem não morresse mais com um único tiro, e oito novas fases, sendo duas novas vistas de trás do personagem e três na vertical, ou seja, onde o personagem deveria ir subindo ao invés de andar para a direita - uma das fases originais, porém, foi removida aparentemente sem motivo. Apesar de todas as novidades, esta versão não fez muito sucesso, devido aos gráficos considerados ruins, à dificuldade reduzida, e à impossibilidade de dois jogarem ao mesmo tempo.

Mas antes desta versão MSX, a Konami lançaria uma seqüência para Contra: em 1988 chegaria aos arcades Super Contra, que mantinha o mesmo estilo de jogo de seu antecessor (inclusive com a tela na vertical), mas com algumas novidades como terreno inclinado nas fases de plataforma; a substituição das fases vistas de trás por fases vistas de cima, ao estilo de jogos populares da época como, Ikari Warriors; uma nova arma lança-bombas; e a possibilidade de aumentar o poder da arma que o personagem está usando ao se pegar um segundo símbolo desta arma enquanto equipado com ela.

A versão japonesa de Super Contra tinha um subtítulo, Alien no Gyakushu ("contra-ataque alienígena"), removido da versão americana e das caseiras; a versão NES, lançada em 1990, teve o título reduzido ainda mais, para apenas Super C, e a versão lançada na Europa novamente trocou os personagens por robôs, e ganhou o inocente título de Probotector 2: Return of the Evil Forces. Além das diferenças nos gráficos e no som, a versão NES tem três fases extras (são cinco no arcade, sendo duas vistas de cima, e oito no NES), todas na vertical, um último chefe diferente, e nela não é possível aumentar o poder das armas, à exceção do lança-chamas. Além da versão NES, Super Contra ganhou adaptações para PC e Commodore Amiga, também em 1990.

Ah, sim, e o jogo também tem uma história: um ano depois dos eventos mostrados em Contra (2634 na versão japonesa, 1989 na versão maericana), Bill e Lance (ou Mad Dog e Scorpion, ou RD008 e RC011) são novamente chamados, desta vez para investigar uma ocorrência estranha: uma base militar na América do Sul emitiu um sinal de alerta, reportando uma revolta dos soldados, e depois cessou todas as comunicações. Chegando lá, os heróis descobrem que a base está tomada pelos mesmos tipos de criaturas que eles enfrentaram em Galuga. Eles então decidem acabar com qualquer ameaça alienígena que possa haver na base, mesmo que isto signifique matar seus próprios colegas soldados.

Super Contra foi o último jogo da série lançado para arcades; depois dele, todos os demais só saíram para consoles caseiros, a começar por Operation C (simplesmente Contra no Japão, e simplesmente Probotector na Europa), jogo lançado em 1991 para Game Boy. Um ano após os eventos de Super Contra (2635 na versão japonesa, 1990 na americana), um vilão (uma nação hostil não identificada na versão japonesa, a organização terrorista Black Viper na americana) consegue uma amostra das células dos alienígenas de Galuga, e planeja usá-las para construir armas biológicas. O Exército então contacta Bill (ou Scorpion, que curiosamente era Lance, na versão americana), e lhe dá a missão confidencial de se infiltrar no laboratório onde está a amostra e destruí-la. Claro que ele vai destruir também muitos oponentes no processo.

Operation COperation C conta com cinco fases, sendo duas vistas de cima e duas com trechos na vertical. A má notícia quanto às armas é que só existem três armas extras, a spread gun, o lança-chamas e uma que lança mísseis teleguiados; as boas notícias são que a arma-padrão é a metralhadora e não o rifle, e o poder da spread gun pode ser aumentado pegando novamente seu símbolo. Os gráficos são padrão Game Boy e em preto e branco, mas bastante parecidos com os do NES.

Contra chegaria aos sistemas de 16 bits em 1992, com o lançamento para o Super Nintendo de Contra 3: The Alien Wars (o que me leva a crer que Operation C não conta, ou seria Contra 4), lançado no Japão como Contra Spirits e na Europa como Super Probotector: Alien Rebels. Tão difícil quanto o Contra original, Contra 3 abusava dos gráficos de 16 bits e dos novos recursos permitidos pelo Super Nintendo, como os efeitos em Mode7, o que fez com que se tornasse um clássico instantâneo e um dos jogos mais vendidos para o sistema. As novidades incluíam a possibilidade dos heróis se agarrarem a barras suspensas e atravessá-las pendurados, escalar paredes, dirigir veículos como tanques e motos, destruir objetos de cenário, e, principalmente, carregar duas armas ao mesmo tempo - normalmente, você só poderia disparar uma de cada vez, mas jogadores habilidosos no manejo dos botões podiam trocar de arma enquanto atiravam, disparando rajadas de tiros mistos. O melhor do sistema de armas era que, ao morrer, você só perdia a que estava usando na hora, mantendo a "arma reserva". Os personagens também já começavam o jogo com a metralhadora ao invés do rifle, e ganharam dois ataques especiais, um no qual tiros de ambas as armas eram disparados ao redor do personagem, mas que tinha como desvantagem o fato de perder as duas armas caso morresse durante o ataque; e outro que destruía todos os oponentes da tela, mas era limitado, e representado no painel por bombas, que podiam ser coletadas durante as fases como conteúdo dos tradicionais balões de ferro.

Contra 3 conta com seis fases, sendo duas vistas de cima, onde graças a efeitos de última geração da época, toda a fase rotaciona, mas o personagem permanece virado sempre para a mesma direção. Antes do jogo começar, era possível escolher entre três níveis de dificuldade, cada um com um final diferente, mais completo conforme mais difícll.

A história do jogo se passa em 2636, dois anos após os eventos de Super Contra, segundo a cronologia oficial japonesa. Repentinamente, o céu se abriu e um grande raio devastou uma cidade. Era nada menos que uma invasão alienígena, perpetrada pelos mesmos seres combatidos por Bill e Lance em Galuga. A Terra então começa uma guerra contra os invasores, e Bill e Lance vão para a linha de frente combatê-los. Esta história acabou causando um grande problema para a Konami norte-americana, que não podia ambientá-lo na década de 90 devido aos gráficos evidentemente futuristas; para tentar remediar, eles mantiveram a data original, e inventaram que os heróis se chamavam Jimbo e Sully, e eram descendentes de Mad Dog e Scorpion.

Contra 3Contra 3 foi adaptado para portáteis duas vezes, primeiro para Game Boy em 1994 com o título de Contra: the Alien Wars (ou Probotector 2 na Europa), com gráficos até decentes, mas sem a rotação nas fases vistas de cima, sem a possibilidade de carregar duas armas ao mesmo tempo, e sem a fase 4 inteira. A segunda adaptação veio em 2002 para o Game Boy Advance, com o nome de Contra Advance: The Alien Wars EX (ou Contra: Hard Spirits no Japão). Esta versão também não permitia duas armas ao mesmo tempo, mas quando o personagem mudava de arma o símbolo da anterior caía ao seu lado, podendo o jogador voltar para a arma antiga enquanto ele permanecesse na tela caso desejasse; o jogo também permitia que o personagem travasse a mira em um inimigo para facilitar a tarefa de acertá-lo enquanto se movia, mas a alteração mais estranha foi a substituição das duas fases vistas de cima por duas fases de outro jogo da série (Contra: Hard Corps, que veremos semana que vem), sem que qualquer alteração nos gráficos fosse feita, o que fez com que estas fases destoassem das demais.

Pouco depois do lançamento de Contra 3, a Konami norte-americana colocou no mercado mais um jogo da série para o NES - ou quase. Lançado exclusivamente nos Estados Unidos, Contra Force, apesar do nome e do característico C laranja no logotipo, não tinha absolutamente nada a ver com os demais jogos da série - inclusive, ele havia sido planejado no Japão como um jogo totalmente diferente, chamado Arc Hound, jamais lançado. Contra Force é ambientado em 1992, e seu enredo envolve um grupo especial anti-terrorista, chamado no manual de C-Force, mas durante o jogo de Blue Group. Um dia, o líder do grupo, Burns, recebe um telefonema de um informante, de nome Fox, que marca um encontro. Ao chegar ao local marcado, Burns encontra Fox morto, e é atacado por soldados de uma organização desconhecida. Agora cabe a Burns e seus colegas Bens, Iron e Smith descobrir o que esta organização quer, e detê-la.

Contra ForceEvidentemente, no início do jogo você poderá escolher um destes quatro personagens, sendo que cada um tem uma característica mais forte, como movimentos mais velozes, pulos mais altos ou tiros mais poderosos, mas todos podem destruir itens de cenário e agarrar e escalar correntes. Você pode mudar de personagem a qualquer momento durante o jogo, mas se um deles ficar sem vidas, o jogo termina. O sistema de armas não tem nada a ver com o de Contra, se parecendo mais com o de Gradius: existe uma barra no painel com várias opções de armas, e para mudar de uma opção para a outra o jogador deve coletar maletinhas durante o jogo, e apertar um botão quando o marcador estiver sobre a arma desejada. Cada personagem começa o jogo com uma pistola, que dá apenas um tiro por vez que nem chega ao fim da tela, e tem a opção de duas armas comuns a todos e duas armas exclusivas de cada, em um total de cinco armas possíveis para cada personagem. A má notícia é que quando o personagem morre ele não somente perde a arma que estava carregando, mas também todo o progresso que fez na barra das maletinhas.

Contra Force tem cinco fases, sendo duas vistas de cima. O ritmo das fases é bem mais lento que os dos Contra verdadeiros, e o número de inimigos na tela ao mesmo tempo é bem menor - todos os inimigos do jogo, aliás, são humanos, inclusive os chefes. Em 2002, Contra Force foi removido da cronologia oficial de Contra, embora eu ache que, com uma história tão diferente, ele nunca fez parte dela.

Por hoje basta! Semana que vem, mais Contra!

Contra

Parte 1

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