sábado, 13 de setembro de 2025

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Studio Ghibli (VI)

E vamos a mais filmes do Studio Ghibli!

O Castelo Animado
Hauru no Ugoku Shiro
2004

Até 2004, todos os filmes do Studio Ghibli haviam sido produções originais ou adaptações de histórias originalmente escritas por autores japoneses; isso mudaria quando, em 2000, Hayao Miyazaki lesse O Castelo Animado, da autora inglesa Diana Wynne Jones, lançado em 1986. Ambientada em um reino semelhante aos do século XX antes da Primeira Guerra Mundial, mas com elementos fantásticos e uso corriqueiro de magia, a história conta com um castelo que fica perambulando pelas cercanias do reino, criado pelo mago Howl. O livro não descreve de que forma o castelo anda, e Miyazaki, enquanto estava lendo, imaginou que ele tinha pés de galinha, se interessando por adaptar o livro só para poder desenhar esse castelo.

A princípio, o filme seria escrito e dirigido por Mamoru Hosoda, um novo contratado do Studio Ghibli que anteriormente trabalhava para a Toei Animation, mas Toshio Suzuki e os executivos do Studio Ghibli não gostariam de suas ideias para a adaptação, considerando que a história se afastaria muito tanto da original quanto do estilo das demais produções Ghibli. Com o afastamento de Hosoda, o projeto seria engavetado até 2003, quando o próprio Miyazaki decidiria escrevê-lo e dirigi-lo. Miyazaki tomaria essa decisão após os Estados Unidos invadirem o Iraque naquele ano; contrário a qualquer tipo de guerra, mas achando essa em particular um absurdo, Miyazaki decidiria aproveitar que um dos temas do livro é que o reino no qual ele é ambientado está em guerra contra outro reino e fazer um filme fortemente anti-guerra, numa alegoria clara ao conflito iniciado pelos norte-americanos. Ele chegaria a declarar estar fazendo propositamente um filme que não seria bem recebido nos Estados Unidos.

Para se inspirar a criar as paisagens do reino, Miyazaki viajaria para a Alsácia, na França, onde desenharia e tomaria notas de várias construções antigas; como o reino tinha um componente fantástico, ele misturaria esses conceitos com a arte futurista do ilustrador francês Albert Robida. O castelo de Howl é na verdade uma espécie de colagem de vários tipos de construção, como se o mago tivesse juntado toda uma cidade num edifício só, e se move andando sobre dois gigantescos pés de galinha que possui em sua fundação, soltando fumaça por diversas chaminés enquanto se movimenta, ao melhor estilo steampunk. O Castelo Animado seria divulgado como uma produção totalmente digital, mas isso não seria verdade: todos os planos de fundo e todos os personagens seriam desenhados e pintados à mão pelos animadores do Studio Ghibli, usando cerca de 1400 folhas de papel e acetato, somente então digitalizadas e animadas por computação, num processo que levou seis meses.

A protagonista do filme é a jovem chapeleira Sophie, que, um dia, de forma totalmente acidental, conhece o mago Howl. Isso faz com que a Bruxa das Terras Desoladas, uma antiga namorada de Howl, fique com ciúmes, e lance em Sophie uma maldição, que a transforma em uma senhora de 90 anos. Para tentar quebrar a maldição, Sophie decide ir até o castelo de Howl, do qual a maioria da população de seu reino tem medo de chegar perto; no caminho, ela faz amizade com um espantalho que tem vida própria, com o jovem aprendiz de feiticeiro Markl; e com o demônio Calcifer, responsável por animar o castelo de Howl. Calcifer faz um trato com Sophie, prometendo remover a maldição se ela conseguir libertá-lo do domínio do mago, e ela decide se apresentar a Howl como a nova faxineira, trabalhando no castelo enquanto busca uma forma de libertar Calcifer. A história se complica devido ao fato de que o reino onde Sophie mora está em guerra contra o reino vizinho, que o culpa pelo desaparecimento de seu príncipe; Howl é convocado pelo Rei para usar seus poderes no esforço de guerra, mas se recusa terminantemente a participar do conflito, e pede para que Sophie vá ao palácio real fingindo ser sua mãe e dando uma desculpa qualquer para que ele não precise atender ao chamado, o que faz com que Sophie se enrede cada vez mais na vida de Howl.

Talvez mais do que qualquer outro filme do Studio Ghibli, O Castelo Animado tem uma forte mensagem pacifista; nele, a guerra é travada por um motivo fútil, fomentada pelo governo, interfere na vida de populações que não têm nada a ver com isso, e é mostrada de forma crua e direta, em contraponto, por exemplo, à forma nuanceada usada em Princesa Mononoke. Howl não somente se recusa terminantemente a tomar parte na guerra como é afetado fisicamente por ela, se transformando em uma espécie de monstro até mesmo quando usa seus poderes para defender seu castelo de ataques inimigos. O filme também ficaria famoso por não ter vilões claros: tanto Howl quanto a Bruxa das Terras Desoladas podem ser vistos como malginos em alguns momentos e heroicos em outros, e o reino vizinho, que ataca o de Sophie, o faz acreditando estar certo, para salvar seu príncipe.

Outra característica que chamaria atenção seria que Sophie, ao ser transformada em idosa, não ficaria desesperada ou achando que sua vida acabou, reuniria suas forças e iria em busca de uma solução, com sua idade avançada, mesmo tendo sido adquirida em segundos, a tornando mais sábia, resiliente e propensa a falar o que pensa; isso seria visto como uma forma positiva de abordar o envelhecimento. Sophie é considerada uma das heroínas mais fortes das produções do Studio Ghibli, mostrando não somente um espírito inabalável, mas também compaixão para com o vaidoso e egoista Howl e para com a Bruxa das Terras Desoladas, mesmo ela sendo responsável por sua atual situação. Curiosamente, conforme o filme vai chegando a seu final, Sophie rejuvenesce mais não totalmente, terminando a história com uma aparência semelhante à que tinha no início, mas com os cabelos brancos - talvez para mostrar que ela foi mudada pela experiência, e, mesmo recobrando sua aparência jovem, manteve sua sabedoria.

O filme acabaria tendo várias diferenças em relação ao livro, que possui mais personagens, mais tramas secundárias, e no qual Markl, que se chama Michael e é um adolescente, tem interesse romântico em Sophie. O castelo é descrito no livro como uma torre de mago alta, escura e sinistra, e Calcifer é muito mais demoníaco e sombrio, com Miyazaki preferindo fazer dele um elemental do fogo simpático no filme. No livro, Howl, que é mulherengo, conquistador e machista, algo que foi bastante atenuado no filme, nasceu no País de Gales, para onde os personagens viajam com frequência, mas Miyazaki preferiria não fazer qualquer referência ao mundo real no filme. E a Bruxa das Terras Desoladas é claramente a vilã do livro, enquanto no filme ela é apenas um personagem secundário, chegando a ajudar Sophie em alguns momentos.

Mas a principal diferença entre livro e filme é que o primeiro é muito menos focado na guerra, que só é citada brevemente na história, ao invés de retratada em detalhes. O foco do livro está em Sophie desafiar e subverter os papéis de classe e gênero, algo que fica bastante em segundo plano no filme. Jones, que faleceria em 2011, seria convidada para visitar a sede do Studio Ghibli, e conversaria com Miyazaki e Suzuki sobre a adaptação, embora não tenha tido nenhum envolvimento na produção. Miyazaki viajaria a Londres no início de 2004 para mostrar o filme finalizado a ela antes do lançamento nos cinemas; ela o aprovaria, dizendo que diferenças entre mídias não somente são naturais, como esperadas. Ainda assim, muitos críticos costumam considerar o filme uma espécie de fanfic: os personagens e cenários são os mesmos, mas a história é diferente.

O Castelo Animado seria exibido na mostra do Festival Internacional de Cinema de Veneza em setembro de 2004, e, distribuído pela Toho, estrearia nos cinemas japoneses em 20 de novembro do mesmo ano. Graças ao sucesso de A Viagem de Chihiro, ele seria exibido em vários países europeus já no início de 2005; no Brasil, estrearia em 5 de agosto de 2005, depois da estreia nos Estados Unidos, em 10 de junho. A dublagem em inglês seria supervisionada por Pete Docter, da Pixar, e traria Emily Mortimer como a Sophie jovem, Jean Simmons como a Sophie idosa, Christian Bale como Howl, Lauren Bacall como a Bruxa das Terras Desoladas, Billy Crystal como Calcifer, e Josh Hutcherson como Markl. O filme seria uma das produções japonesas mais rentáveis de todos os tempos, e, no Japão, seria o terceiro de maior bilheteria na história, atrás de Titanic e A Viagem de Chihiro.

A crítica também receberia o filme extremamente bem, elogiando a qualidade da arte e das animações, a aparência do castelo e o contraste entre as cenas belas e bucólicas dos tempos de paz com a violência da guerra. O Castelo Animado ganharia o prêmio de Escolha do Público no festival de cinema da Mainichi Shimbun, o de Animação do Ano no Tokyo Anime Awards, e seria indicado ao Oscar de Melhor Filme de Animação, perdendo para Wallace & Gromit - A Batalha dos Vegetais.

Contos de Terramar
Gedo Senki
2006

Hayao Miyazaki sempre foi admirador da série Terramar, escrita por Ursula K. Le Guin, e, desde a década de 1980, pensava em fazer uma adaptação de algum dos livros para um anime. A autora, entretanto, sempre negou qualquer pedido de adaptação de suas obras para filmes de animação, por causa de uma rusga que tinha com a Disney, e, quando a editora Iwanami Shoten, que havia publicado Terramar no Japão, a procurou a pedido de Miyazaki, ela sequer quis ouvir a proposta.

Em 2003, porém, durante uma conversa com a tradutora Masako Shimizu, que traduzia os livros de Le Guin para o japonês, a autora diria que, após ter assistido Meu Amigo Totoro e A Viagem de Chihiro, havia mudado de ideia, e pediria para que Shimizu tentasse entrar em contato com Miyazaki para saber se ele ainda estaria interessado em uma adaptação de Terramar. Na época trabalhando em O Castelo Animado, Miyazaki sentiria já não ter o mesmo entusiasmo para trabalhar na adaptação, já que havia se inspirado em Terramar para diversas outras criações suas, e diria a Suzuki que estava pensando em, dessa vez, ser ele a recusar a oferta.

Suzuki, contudo, não estava disposto a rejeitar uma oferta de adaptação feita pela própria autora da obra original, ainda mais essa autora sendo Ursula K. Le Guin e essa obra sendo Terramar, um grande sucesso de vendas no Japão. O produtor, então, criaria um plano para que o projeto fosse tocado pelo filho de Miyazaki, Goro, em sua estreia na direção. Ao descobrir o plano, Miyazaki seria terminantemente contra, dizendo a Suzuki que seu filho "não aguentaria" dirigir um filme de animação, e que, provavelmente, não sabia nem desenhar. Mas Suzuki, imaginando que algo assim pudesse ocorrer, já havia encomendado a Goro um storyboard do filme, buscando provar que ele estava à altura da tarefa.

Na assinatura do contrato, estariam presentes Hayao Miyazaki, Goro, Suzuki e Le Guin, que se confessaria desapontada pelo filme não ser dirigido pelo Miyazaki pai, e só aceitaria assinar após Suzuki lhe garantir que Hayao supervisionaria todo o projeto - na verdade, ainda irritado e achando que o filho não estava pronto, ele não quis nenhum ter envolvimento, sequer falando com Goro durante a produção. Ele aceitaria, entretanto, assistir a uma sessão privada do filme após sua conclusão, embora seu único comentário ao filho tenha sido "você não deve dirigir um filme sendo guiado por suas emoções". Mais tarde, ele deixaria uma nota na mesa de trabalho de Goro, que dizia apenas "foi feito de forma honesta, então é um bom filme".

Dirigido por Goro Miyazaki e com roteiro de Keiko Niwa, Contos de Terramar não é uma adaptação de nenhum dos livros da série Terramar, mas sim uma nova história que reúne elementos dos quatro primeiros - O Feiticeiro de Terramar, de 1968, As Tumbas de Atuan, de 1970, A Última Margem, de 1972, e Tehanu, de 1990 - com forte influência do mangá Shuna no Tabi, escrito por Hayao Miyazaki e publicado em 1983. Seu título seria o mesmo de uma coletânea de contos ambientada em Terramar e lançada em 2001, ou seja, o mais recente lançamento da série na época da estreia do filme, mas a história do filme não usa nada de nenhum desses contos. Essa colcha de retalhos acabaria fazendo com que o filme ficasse completamente diferente dos livros, o que desagradaria Le Guin - após assistir a uma sessão privada antes da estreia, ela diria a Goro "não é meu livro, é seu filme, embora seja um bom filme", mas, em entrevistas posteriores, se diria desapontada pelo resultado final.

Uma das principais críticas de Le Guin à adaptação seria a de que os livros são centrados em questões morais, enquanto o filme é focado na violência física - ela reclamaria especialmente de o filme contar com um vilão que personificava todo o mal da história, "podendo convenientemente ser morto para que todos os problemas dos heróis fossem resolvidos". Em entrevistas, ela se diria incomodada com o fato de que, na maior parte das histórias de fantasia, "matar alguém seja a solução para encerrar a chamada guerra entre o bem e o mal", e que ela procurava não oferecer soluções tão simplistas, com o filme seguindo o caminho mais fácil. Ela também diria ter se sentido confusa ao assistir o filme, já que os nomes dos personagens eram os mesmos dos que ela criou, mas seu comportamento e as histórias que viviam eram completamente diferentes - nesse sentido, o filme, assim como O Castelo Animado, também poderia ser considerado uma espécie de fanfic. Para não dizer que ela não gostou de nada, Le Guin elogiaria a estética do filme, mas diria acreditar que a produção não havia sido tão caprichada quanto as dos filmes dirigidos por Hayao Miyazaki.

O filme acompanha o Príncipe Arren, que, após roubar a espada de seu pai e fugir de seu reino, conhece o arquimago Gavião, com quem passa a viajar. Após salvar a jovem Theanu de um bando de mercenários, Arren envolve a si mesmo e a Gavião em um plano da feiticeira Kumo, que planeja abrir o portal que existe entre a vida e a morte para se tornar imortal, mas, com isso, pode destruir o equilíbrio do mundo. Gavião decide enfrentar Kumo sozinho, deixando Arren sob os cuidados de uma velha amiga sua, Tenar, mas ele logo descobrirá que o menino não é muito afeito a seguir ordens.

Distribuído pela Toho, Contos de Terramar estrearia nos cinemas japoneses em 29 de julho de 2006. O filme seria o líder de bilheteria no Japão já em sua semana de estreia, ficando um total de cinco semanas na primeira posição e fechando o ano como o filme japonês de maior bilheteria de 2006 e quarto se forem consideradas as produções de Hollywood - caso no qual o primeiro seria Piratas do Caribe: O Baú da Morte. A crítica ficaria bastante dividida, elogiando a animação e a trilha sonora e considerando a arte belíssima, mas criticando o enredo, o ritmo e as diferenças entre o filme e os livros. Um resultado dessa divisão da crítica seria que Contos de Terramar acabaria indicado tanto ao prêmio de Animação do Ano da Academia Japonesa de Cinema quanto ao de Pior Filme do Bunshun Kichigo - o Troféu Framboesa do Japão - no qual Goro Miyazaki também seria escolhido Pior Diretor. O filme seria considerado amplamente por crítica e público como o pior do Studio Ghibli até 2020, quando seria superado por Aya e a Bruxa - também dirigido por Goro, o que mostra que seu pai talvez não estivesse totalmente desprovido de razão.

Fora do Japão, Contos de Terramar seria exibido nos cinemas em 2007 no Reino Unido, onde renderia bem menos que e seria considerado inferior aos lançamentos anteriores do Studio Ghibli; na Austrália, mas apenas em poucos cinemas e somente legendado; e na Espanha, onde também seria exibido apenas legendado e apenas em dois cinemas, um em Madrid, um em Barcelona. Para irritação de Le Guin, a versão norte-americana seria produzida pela Disney, e estrearia nos Estados Unidos apenas em 2010, por causa de um entrevero jurídico envolvendo a RHI Entertainemnt, produtora da minissérie Legends of Earthsea, exibida pelo Sci-Fi Channel em 2004, que tinha os direitos de exclusividade nos Estados Unidos sobre qualquer produto baseado em Terramar até dezembro de 2008, com a Disney sendo obrigada a esperar esse tempo passar para poder lançar Contos de Terramar.

Como já havia se passado quatro anos, e o filme era universalmente considerado de baixa qualidade, a Disney o lançaria nos cinemas apenas por estar contratualmente obrigada a isso, o que faria com que Contos de Terramar, nos Estados Unidos, estreasse no fantástico número de 5 salas de cinema. Devido às cenas violentas, o filme receberia classificação PG-13 (menores de 13 anos só podem assistir acompanhados dos pais), se tornando o primeiro e único filme PG-13 da Disney a ser exibido nos cinemas dos Estados Unidos - Princesa Mononoke também receberia classificação PG-13, mas seria lançado nos cinemas pela Miramax. A dublagem da Disney traz Timothy Dalton como Gavião, Matt Levin como Arren, Mariska Hargitay como Tenar, e Willem Dafoe como Lorde Cob - que, no original japonês, é uma mulher chamada Kumo, com seios e dublada pela atriz Yuko Tanaka, mas que a Disney preferiu transformar em "um feiticeiro andrógino".

Ponyo: Uma Amizade que Veio do Mar
Ponyo
2008

Depois que Miyazaki terminou O Castelo Animado, Suzuki sugeriu que seu próximo filme fosse voltado para crianças pequenas, e ele gostou da ideia, imaginando criar uma história que misturasse fatos da vida real e fictícios, e vendo em sua mente "ondas maiores que uma casa, se chocando contra uma colina". Viajando para a cidade costeira de Tomonoura, ele tomaria notas sobre a comunidade local e o Parque Nacional de Setonaikai, imaginando utilizá-las nesse filme infantil, e leria as obras de Natsume Soseki, gostando especialmente de Mon, originalmente publicado em 1910, que tinha como protagonista um menino que morava em um penhasco, algo que combinava com sua visão inicial da história. Ao fim da viagem, ele decidiria que a história seria centrada em uma menina com poderes mágicos chamada Ponyo, palavra que, segundo ele, passava a impressão de ser "macia". Em entrevistas posteriores, Miyazaki também diria que, quando criança, pegou emprestado com um vizinho A Pequena Sereia, de Hans Christian Andersen, e ficou intrigado com o fato de que a sereia não tinha alma, planejando abordar uma situação semelhante com Ponyo.

No filme, Ponyo (que originalmente se chama Brunhilde) é uma criatura fantástica parecida com um peixe, que vive no fundo do mar com centenas de irmãos e seu pai, Fujimoto, que nasceu humano, mas se tornou uma criatura marinha após um romance com Gran Mamare, a deusa da compaixão e dos oceanos. Fujimoto é extremamente rancoroso em relação aos seres humanos, que destroem os oceanos sem pensar nas consequências, mas Ponyo tem grande curiosidade para conhecer o mundo da superfície e, um dia, quando o pai não está olhando, se separa do cardume e vai até a praia, onde conhece o menino Sosuke, de cinco anos de idade. Sosuke vive em uma casa no alto de um penhasco com sua mãe, Lisa, que trabalha como cuidadora de idosos, e seu pai, Koichi, é marinheiro e passa a maior parte do tempo embarcado. É Sosuke quem decide chamar a criaturinha de Ponyo, colocando-a em um balde e levando-a para a escola; Fujimoto consegue recuperá-la e levá-la de volta para o fundo do mar, mas Ponyo não se conforma e quer voltar à companhia de Sosuke de qualquer jeito. Através de uma série de desaventuras, ela consegue assumir a forma de uma menina da idade de Sosuke, mas, no processo, libera um poder mágico que ameaça destruir todo o planeta, levando à intervenção de Gran Mamare.

Enquanto trabalhava no roteiro, Miyazaki teve um bloqueio criativo, ficando empacado. Durante uma viagem a Londres, ele visitaria a Tate Gallery, e ficaria impressionado com o quadro Ofélia, de John Everett Millials. Segundo Miyazaki, ele ficaria embasbacado com a riqueza dos detalhes, achando que seu trabalho era porco em comparação, e decidiria que o Studio Ghibli teria que mudar totalmente seu estilo de animação se quisesse seguir fazendo sucesso. Na época, Katsuya Kondo havia produzido um curta para o Studio Ghibli chamado Yadosagashi, sobre uma menina que se perde de seus pais e, enquanto procura o caminho para casa, conhece vários espíritos da natureza. Durante a produção do curta, Kondo discutiria com Miyazaki a possibilidade de dirigir um longa, mas diria que preferiria trabalhar junto a um diretor para ganhar mais experiência antes de se aventurar sozinho; ao ter sua epifania, Miyazaki concluiria que o estilo de Yadosagashi era justamente o que ele queria para Ponyo, e convidaria Kondo para ser o supervisor de animação, trabalhando a seu lado durante toda a produção.

Assim como Yadosagashi, Ponyo teria traços simples com linhas fortes, e seria totalmente desenhado e animado à mão, sem qualquer cena usando computação gráfica ou sendo animada no computador - para afastar a tentação, Miyazaki fecharia o setor de computação do estúdio quando a produção de Ponyo começou, somente reabrindo-o quando o filme estreou. Miyazaki também criaria novidades para a animação que seriam testadas pela primeira vez em Ponyo; a mais comentada seria a animação dos navios, que, tradicionalmente, são desenhados em um acetato e "deslizados" sobre o fundo, mas que, por ordem de Miyazaki, nesse filme seriam desenhados frame por frame, como se fossem personagens.

Durante a pré-produção, Miyazaki estava ouvindo A Cavalgada das Valquírias, de Richard Wagner, quando teve a inspiração para um desenho de Ponyo correndo sobre um enorme peixe - que, mais tarde, ele decidiria transformar em uma das cenas do filme. Isso também faria com que muitos elementos do filme fossem inspirados na ópera As Valquírias, começando pelo nome verdadeiro de Ponyo, Brunhilde. Já Sosuke seria inspirado no próprio filho de Miyazaki, Goro, quando ele tinha cinco anos.

A música-tema de Ponyo, chamada Gake no Ue no Ponyo, seria lançada sete meses antes do filme, e se tornaria um grande sucesso em todo o Japão. Criada pela dupla Takaaki Fujioka e Naoya Fujimaki - famosos na década de 1970 com a banda Marichans - sob o nome Fujioka Fujimaki, e cantada por Nozomi Ohashi, na época com 8 anos de idade, a música seria a primeira de uma produção do Studio Ghibli a entrar para o Top 100 das mais tocadas nas rádios japonesas, alcançando a terceira posição enquanto o filme estava em cartaz, e seu single fecharia o ano de 2008 na posição 14 dos mais vendidos no Japão. A música participaria do famoso programa de ano novo do canal de TV NHK Kohaku Uta Gassen, com Ohashi estabelecendo o recorde de participante mais jovem, anteriormente pertencente a Mai Hagiwara, do grupo Cute, que se apresentou quando tinha 11 anos.

Ponyo estrearia nos cinemas japoneses em 19 de julho de 2008, distribuído pela Toho, ocupando 481 salas, um recorde para um filme nacional; mesmo estreando no mesmo dia que Pokémon: Giratina e o Cavaleiro do Céu, seria o recordista de bilheteria no Japão no primeiro fim de semana, e fecharia o primeiro mês com uma bilheteria de 10 milhões de ienes, também um recorde. A crítica também seria quase que totalmente positiva, considerado o filme "um conto de fadas visualmente impactante" e comparando-o com Meu Amigo Totoro. Ponyo seria exibido fora de concurso no Festival Internacional de Cinema de Veneza e no Festival do Cinema do Futuro de Bologna; ganharia cinco prêmios no Tokyo Anime Awards, incluindo Anime do Ano e Melhor Filme Doméstico; ganharia o de Animação do Ano da Academia Japonesa de Cinema; e renderia a Miyazaki mais um Prêmio Ofuji Noburo - o quinto de sua carreira.

Nos Estados Unidos e Canadá, Ponyo estrearia em 14 de agosto de 2009, distribuído pela Disney, também com um recorde de salas, 927, o maior número já registrado não só para um filme do Studio Ghibli, mas também para qualquer anime - para efeitos de comparação, A Viagem de Chihiro estreou em 26 salas, O Castelo Animado em 36, e o recordista anterior do Studio Ghibli, Princesa Mononoke, em 38. Miyazaki viajaria aos Estados Unidos para promover o filme, e, enquanto estava lá, daria uma palestra sobre cinema na Universidade da Califórnia em Berkeley e participaria da San Diego Comic-Con. A dublagem em inglês mais uma vez ficaria a cargo da Pixar, dirigida por John Lasseter, Brad Lewis e Peter Sohn, e traria Noah Cyrus (irmã da Miley) como Ponyo, Frankie Jonas (irmão mais novo dos Jonas Brothers, que não faz parte do trio) como Sosuke, Tina Fey como Lisa, Matt Damon como Koichi, Liam Neeson como Fujimoto, Cate Blanchett como Gran Mamare, e Lily Tomlin, Betty White e Cloris Leachman como as idosas de quem Lisa cuida. Cyrus e Jonas também gravariam a versão em inglês da música-tema, que não chegaria nem perto de fazer o mesmo sucesso da japonesa.

Ponyo também seria o recordista do Studio Ghibli em estreias na Europa, sendo exibido nos cinemas de 36 países. Na França, ele teria uma exibição especial no Festival International de la Bande Dessinée d'Angoulême, o mais importante festival de filmes de animação em língua francesa, onde seria aplaudido de pé, em janeiro de 2009; na Itália, ele estrearia em março de 2009 em 186 salas, recorde para um anime, e fecharia seu primeiro fim de semana como o sexto filme mais assistido nos cinemas do país; e na Alemanha ele estrearia duas vezes, a primeira em 2009, em versão legendada, distribuída pela Constantin Film com o título Ponyo - Das Verzauberte Goldfischmädchen ("a menina peixinho dourado encantada"), e a segunda, com dublagem em alemão, em 2010, pela Universum Film, com o título Ponyo - Das große Abenteuer am Meer ("a grande aventura no mar"), que ficaria sendo o oficial no país. No Brasil, Ponyo: Uma Amizade que Veio do Mar estrearia nos cinemas em 2 de julho de 2010.

Para terminar, vale deixar registrada a curiosidade de que Ponyo seria o último filme do Studio Ghibli e último de todos os animes a ser lançado em VHS no Japão, em 3 de julho de 2009, bem como o primeiro filme do Studio Ghibli a ser lançado em Blu-ray, em 8 de dezembro de 2009.

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