sábado, 13 de julho de 2024

Escrito por em 13.7.24 com 0 comentários

Hanna

Um dia, eu estava comprando DVDs numa promoção de leve 3 e pague 2, e faltava um para fechar a trinca. Peguei um chamado Hanna, li a sinopse atrás, achei interessante e comprei. Gostei razoavelmente, achei até que tinha um estilo bem europeu de filme de ação, mas não fiquei especialmente encantado. Muitos anos depois, durante a pandemia, quando eu estava fuxicando o catálogo do Prime Video em busca de algo pra assistir, achei uma série chamada Hanna, com a mesma história do filme. Não assisti na época, mas coloquei na lista pra ver depois. Decidi assistir esse ano, e gostei mais do que do filme - inclusive, quando terminei, fiquei com vontade de escrever sobre ela aqui. Hoje, portanto, é dia de Hanna no átomo!

Hanna, o filme, foi lançado em 2011, dirigido por Joe Wright, com roteiro de Seth Lochhead e David Farr. O canadense Lochhead criaria a história por volta de 2002, quando ainda era um aluno da Vancouver Film School, e escreveria o roteiro com esperança de, um dia, oferecê-lo a um grande estúdio. Esse dia nunca chegou, mas o roteiro ficaria circulando em Hollywood, até ser incluído, em 2006, em uma lista dos "melhores roteiros jamais produzidos". Isso chamaria a atenção da Focus Features, que telefonaria para Lochhead para saber do que se tratava o filme. O roteirista diria, simplesmente, que era "um filme ao estilo da Focus", o que aparentemente convenceu o estúdio a comprá-lo. Seria a Focus quem contrataria Farr, que é britânico e mais conhecido por ser diretor de teatro, para fazer algumas mudanças na história, sem que Lochhead e Farr jamais se encontrassem ou conversassem entre si.

Também pelos termos do contrato, todos os direitos sobre o filme e os personagens pertenceriam à Focus, que conversaria com os diretores Danny Boyle e Alfonso Cuarón antes de assinar com Wright, recomendado pela atriz Saoirse Ronan, que havia sido contratada para interpretar Hanna. O filme seria financiado pelo estúdio alemão Babelsberg, que captaria dinheiro de várias empresas alemãs, e, por causa disso, seria quase que totalmente filmado na Alemanha, tendo cenas em Berlim, Hamburgo, Magdeburgo e Potsdam, cidade onde está localizada a Babelsberg. As filmagens fora da Alemanha ocorreriam em Ouarzazate e Essaouira, no Marrocos, e em Kuusamo, na Finlândia, onde a equipe enfrentaria temperaturas de 33 graus negativos. Com trilha sonora composta especialmente para ele pela dupla The Chemical Brothers, o filme seria distribuído nos Estados Unidos pela Focus, na Europa pela Universal e no restante do mundo pela Sony; estrearia em 8 de abril nos Estados Unidos, 6 de maio no Reino Unido e 8 de maio no restante do planeta.

Hanna (Saoirse Ronan, na época já com uma indicação ao Oscar de Melhor Atriz Coadjuvante, por Desejo e Reparação, no currículo) é uma adolescente de 15 anos que foi criada por engenharia genética. No começo do filme, ela mora com seu pai, Erik Heller (Eric Bana), alemão e ex-agente da CIA, no interior da Finlândia, onde ele a treina para se tornar uma especialista em combate armado e desarmado, sem permitir que ela tenha contato com nenhum outro ser humano. Essa vida secreta vem do fato de que Erik é considerado desertor e caçado por outra agente da CIA, Marissa Wiegler (Cate Blanchett), e está treinando Hanna para que ela mate Marissa. Marissa, por sua vez, persegue Erik e Hanna porque ele a sequestrou de um programa secreto do governo para criar supersoldados, após o programa ser encerrado e o governo dar ordem para que todos os criados até então, incluindo Hanna, fossem exterminados.

Ao considerar que Hanna está pronta para sua missão, Erik ativa um sinal que levará a CIA até onde eles estão e parte para Berlim, dando a Hanna instruções para se deixar capturar, matar Marissa, fugir, e se encontrar com ele na capital alemã. Nem tudo sai conforme o esperado, porém, e, durante a fuga, Hanna se vê no Marrocos, onde conhece acidentalmente Sophie (Jessica Barden), que está com seus pais, Sebastian (Jason Fleming) e Rachel (Olivia Williams), e seu irmão, Miles (Aldo Maaland), de férias, odiando cada momento. Sophie e Hanna se tornam amigas à primeira vista, e a família de Sophie meio que adota Hanna, levando-a com eles para a Espanha, próxima parada da viagem - sem saber que Marissa enviou um agente sádico chamado Isaacs (Tom Hollander) para caçá-la e eliminá-la, enquanto ela mesma procura por Erik.

A crítica ficaria dividida, apontando, principalmente, que não se tratava de um filme de ação convencional; segundo Wright, o filme tinha elementos de contos de fadas, e lidava, principalmente, com a difícil transição da infância para a adolescência, com o contexto de ação e violência servindo apenas como pano de fundo. Também seria muito comentado que Hanna, a protagonista, apesar se ter sido criada por engenharia genética para ser mais forte, mais inteligente e mais ágil que um ser humano comum, totalmente desprovida de compaixão e com o intuito de ser treinada para se tornar uma máquina de matar, ainda assim é uma pessoa de boa índole, o que tocava no ponto da importância dos valores familiares durante a criação do indivíduo. Hanna teria bilheteria mundial de 65,3 milhões de dólares contra um orçamento de 30 milhões, sendo considerado um sucesso moderado, e se tornaria o filme mais famoso da carreira de Lochhead, que depois dele só conseguiria escrever filmes lançados diretamente em DVD.

Em 2016, a Focus estava procurando por roteiros que pudessem levar à criação de novas séries para exibição em streaming; Farr ficaria sabendo e conversaria com o estúdio sobre a possibilidade de ele criar uma série baseada em Hanna. As conversas renderiam frutos, e a série começaria sua pré-produção em março de 2017; em maio, a Amazon concordaria em financiar a série, que seria exibida exclusivamente no Prime Video, sendo uma co-produção da Focus, Amazon, NBC Universal International, Tomorrow Studios e Working Title. Farr escreveria todos os episódios da primeira temporada, exceto o quinto, escrito por Ingeborg Topsoe. Em fevereiro de 2018, seria anunciado que a série seria dirigida por Sarah Adina Smith, mas, devido a outros compromissos, ela dirigiria apenas os dois primeiros episódios, com os demais sendo dirigidos por Jon Jones, Amy Neil e Anders Engstrôm, dois cada.

A primeira temporada teria oito episódios, o primeiro estreando em 3 de fevereiro de 2019, e os outros sete em 29 de março. A primeira temporada segue a história do filme à risca, mas com algumas alterações importantes, a principal delas a de que, se dependesse de Erik, Hanna jamais seria capturada pela CIA, com sua captura somente ocorrendo porque, cansada de viver em isolamento, Hanna deixa a caverna onde eles moram - que na série é na Polônia, e não na Finlândia - e visita a cidade vizinha, com o fato de que uma adolescente desconhecida saiu da floresta chamando a atenção das autoridades locais, e, por consequência, da CIA. Outra alteração importante é que, na série, o programa que criou Hanna era conduzido por uma empresa chamada UTRAX, da qual Erik era um recrutador, e Marissa era uma das responsáveis pela conexão com o governo dos EUA; Erik não é o pai biológico de Hanna, tendo conhecido sua mãe, a romena Johanna Petrescu, quando ela já estava grávida, e decide sequestrar a menina e fugir após se apaixonar por Johanna, que acaba morrendo quando o casal é perseguido por Marissa após o sequestro ser descoberto. O final da primeira temporada é muito parecido com o do filme, mas tem uma alteração importante, para que possa haver uma segunda temporada.

A primeira temporada seria filmada na Hungria, Eslováquia, Espanha, Reino Unido e Alemanha; após ser capturada na Polônia, levada para a base da CIA no Marrocos, fugir e conhecer Sophie, Hanna mora um tempo com a família da amiga na Inglaterra, onde passa por várias situações típicas da adolescência, como frequentar uma balada e se apaixonar por um amigo. Enquanto isso, Erik, na Alemanha, volta a travar contato com antigos colegas da CIA, e tenta levar Hanna para morar com seu pai biológico e sua nova família, na Romênia. Após descobrir sua origem, entretanto, Hanna decide pesquisar onde ficam as instalações da UTRAX, para ir até lá e destruir tudo, impedindo que outras jovens tenham o mesmo destino que ela - em uma reviravolta que não ocorre no filme, o programa da UTRAX ainda está em pleno vapor, sem que Marissa, afastada após o sequestro de Hanna, tenha conhecimento disso.

O elenco principal tem apenas quatro nomes: Esmé Creed-Miles interpreta Hanna, Mireille Enos interpreta Marissa, Joel Kinnaman interpreta Erik, e Noah Taylor interpreta o Dr. Roland Kunek, criador do programa da UTRAX. Também estão na primeira temporada Khalid Abdalla como Jerome Sawyer, agente da CIA que considera Marissa incompetente e decide ele mesmo caçar e eliminar Hanna; Justin Salinger como Carl Meisner, agente da CIA aliado de Marissa; Rhianne Barreto como Sophie; Joanna Kulig como Johanna, mãe de Hanna; e Yasmin Monet Prince como Clara Mahan, outra das garotas que fazem parte do experimento da UTRAX, que faz amizade com Hanna após ela invadir as instalações da empresa; além da antiga equipe de Erik, formada por Rudi (Stefan Rudolf), Elsa (Katharina Heyer), Lucas (Peter Ferdinando) e Dieter (Benno Fürmann); a família de Sophie, composta pelo pai, Tom (Phaldut Sharma), a mãe, Rachel (Lyndsey Marshal), e o irmão, Jay (Kemaal Deen-Ellis); o menino por quem Hanna se apaixona, Anton (Gamba Cole); e Sandy Phillips (Áine Rose Daly), outro dos experimentos da UTRAX, que odeia Hanna com todas as suas forças.

A primeira temporada seria um sucesso, e a Amazon renovaria a série para uma segunda, com mais oito episódios, todos estreando em 3 de julho de 2020. Farr escreveria os dois primeiros episódios e os dois últimos, com os demais ficando a cargo de Paul Waters, Laura Lomas, Nina Segal e Charlotte Hamblin. Farr também seria o diretor dos dois últimos episódios, com os outros sendo dirigidos por Eva Husson e Ugla Hauksdottir, três cada. Totalmente filmada antes do início da quarentena da pandemia, a segunda temporada é menos internacional que a primeira, com suas gravações ocorrendo quase que integralmente na Inglaterra, com apenas os dois primeiros episódios sendo filmados também na França e os dois últimos também na Espanha.

Na segunda temporada, Hanna finge que abandonou Erik e decidiu se juntar ao treinamento da UTRAX, como parte de um plano para retirar Clara da organização; enquanto está lá, ela descobre que a UTRAX mandará algumas das meninas geneticamente alteradas para recuperar um documento que pode expor segredos da organização, e decide também obter essa lista, para destruir a UTRAX de dentro para fora. Hanna terá uma aliada improvável em Marissa, que, após descobrir que a UTRAX continuou operando sem seu conhecimento, decide ajudar a menina, mas tem muita dificuldade para fazer com que Hanna confie nela - compreensivelmente, depois de tudo o que ela fez na primeira temporada.

A segunda temporada adiciona um novo nome ao elenco fixo, o de Dermot Mulroney como John Carmichael, agente da CIA antigo amigo e atual rival de Marissa e novo contato da UTRAX com o governo, sendo dele a ideia de reintegrar Hanna ao projeto ao invés de exterminá-la como no plano original. Outros personagens novos incluem Leo Garner (Anthony Welsh), supervisor responsável pelo treinamento das agentes da UTRAX; Terri Miller (Cherrelle Skeete), responsável pela manutenção das redes sociais das agentes da UTRAX, que se solidariza com Hanna e Clara; Joanne McCoy (Katie Clarkson-Hill), braço direito de Carmichael; Sonia Richter (Emma D'Arcy), agente da CIA que aparentemente trabalha para Marissa, mas é uma espiã de Carmichael; e as agentes da UTRAX Jules Allen (Gianna Kiehl) e Helen Young (Sèverine Howell-Meri).

Como parte de uma reestruturação de seu catálogo feita durante a pandemia, a Amazon decidiria não renovar a série para uma terceira temporada, mas Farr convenceria a Focus a financiar mais seis episódios, para que ele pudesse terminar a história de forma satisfatória. A Focus, por sua vez, convenceria a Amazon - provavelmente dizendo que ela não precisaria colocar dinheiro na produção, apenas disponibilizar os episódios quando eles estivessem prontos - e a terceira temporada se tornaria uma realidade, com todos os seus seis episódios estreando em 24 de novembro de 2021. Mais uma vez, Farr escreveria os dois primeiros e os dois últimos, com os outros dois ficando a cargo de Selina Lim e Paul Waters; a direção seria de Sacha Polak, Weronika Tofilska e Anca Miruna Lazarescu, dois episódios cada. As filmagens ocorreriam na Inglaterra e República Tcheca.

Na terceira temporada, Hanna, ainda fingindo ser agente da UTRAX, e agora definitivamente aliada de Marissa, é enviada em uma missão para matar um jovem francês filho de imigrantes, chamado Abbas Nazir. Evidentemente, ela planeja apenas fingir que matou o rapaz e colocá-lo em um esconderijo para que a UTRAX não o encontre, mas acaba também se apaixonando por ele, fugindo para encontrá-lo com frequência, o que faz com que a organização comece a desconfiar dela. Paralelamente a isso, Marissa descobre que o plano da UTRAX, conduzido por um diretor da CIA que tem uma ligação íntima com seu passado, é o de usar as agentes para matar jovens que foram selecionados através de um algoritmo como potenciais ameaças aos Estados Unidos no futuro - por isso a missão de Hanna para matar Nazir. Hanna e Marissa, então, decidem atacar diretamente o diretor, para encerrar as operações da UTRAX de uma vez por todas.

O diretor, que se chama Gordon Evans, é interpretado pelo famoso ator Ray Liotta, o único novo nome do elenco fixo. Outros personagens novos da terceira temporada incluem o já citado Abbas Nazir (Adam Bessa) e sua filha, Nadiya (Léann Hamon); Brianna Stapleton (Chloe Prime), nova ligação da UTRAX com a CIA; Max Kaplan (Gabriel Akuwudike), responsável por criar o algoritmo usado pela UTRAX para determinar seus alvos; e Ethan Williams (Sam Swainsbury), programador que já trabalhou no projeto da UTRAX, conhece Kaplan, e é convencido por Marissa a ajudá-la em sua missão. No geral, a terceira temporada parece uma continuação direta da segunda, e as duas têm muito pouco a ver com a primeira; em comparação com o filme, a série também segue uma linha de ação mais tradicional, sem os elementos filosóficos da produção para o cinema.

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