domingo, 30 de outubro de 2022

Escrito por em 30.10.22 com 0 comentários

Spice Girls

Todo mundo tem seus guilty pleasures; um dos meus é gostar de Spice Girls. Eu acompanhei a carreira delas do começo até o final, sei cantar todas as principais músicas de cór, e até assisti aquele filme horroroso que fizeram quando elas estavam no auge da fama. Lá no começo do átomo, quando eu decidi transformá-lo em um blog para falar sobre as coisas das quais eu gosto, pensei em fazer um post sobre Spice Girls, mas desisti porque achei que seria meio vergonhoso - inclusive, lá no início eu descartei vários assuntos porque achei que seriam vergonhosos, pelos mais variados motivos, como quando desisti de falar de Velozes e Furiosos porque achei que alguém poderia me acusar de estar incitando corridas de rua (depois desisti de vez porque não param de fazer filmes e eu não quero fazer uma série de posts). Agora que o milésimo post está se aproximando, entretanto, decidi deixar a vergonha de lado e finalmente escrever o post. Hoje é dia de Spice Girls no átomo!


A formação das Spice Girls não foi espontânea, no sentido de que elas não se conheceram por acaso e resolveram formar uma banda: no início dos anos 1990, na Inglaterra, os empresários Bob e Chris Herbert, que eram pai e filho e donos da empresa de talentos Heart Management, decidiriam montar uma girl band, um conjunto pop exclusivamente feminino, para competir com as boy bands que começavam a dominar as rádios do Reino Unido. Conjuntos pop compostos por moças que cantavam e dançavam não eram nenhuma novidade - as All Saints, que muita gente aqui no Brasil acha que são cópia das Spice Girls, na verdade são anteriores a elas, tendo lançado seu primeiro álbum em 1993 - mas a ideia dos Herberts era que cada uma das moças do grupo teria uma aparência e um estilo completamente diferentes, para que o conjunto tivesse apelo dentre o público mais variado possível - o normal era que todas as moças do grupo fossem "iguaizinhas", usando, por exemplo, as mesmas roupas e os mesmo corte de cabelo.

Em fevereiro de 1994, a Heart Management colocou um anúncio no jornal The Stage, chamando moças entre 18 e 23 anos que soubessem cantar e dançar para uma bateria de testes. Aproximadamente 400 moças atenderam à convocação, sendo divididas em grupos de dez para interpretar a música Stay, da banda Eternal, e, em seguida, interpretar sozinhas cada uma uma música de sua escolha. Após várias semanas de deliberação, as doze melhores foram chamadas para uma segunda fase, na qual foram divididas em grupos de quatro, novamente para interpretar uma música juntas e outra sozinhas, mas agora com cada grupo podendo escolher sua música. Nessa segunda fase, seriam escolhidas Victoria Adams, Melanie Brown, Michelle Stephenson e Geri Halliwell, que não havia participado da primeira fase, mas já conhecia os Herberts de outros testes, e os convenceria a deixá-la participar da segunda; às quatro, se uniria Melanie Chisholm (se pronuncia "tchízum"), que foi considerada a melhor da primeira fase, mas não pôde participar da segunda por estar com amigdalite. As cinco retornariam para um teste final, no qual interpretariam, em grupo e depois cada uma separadamente, Signed, Sealed, Delivered I'm Yours, de Stevie Wonder. Aprovadas, as cinco assinariam contrato com a Heart Management, que decidiria chamar o grupo de Touch.

O quinteto se mudaria para um apartamento de três quartos de propriedade dos Herberts na cidade de Maidenhead, no sul da Inglaterra, e passaria quase todo o ano de 1994 ensaiando e criando coreografias para músicas escritas pelos compositores John Thirkell e Erwin Keiles, também contratados da Heart; outro contratado da Heart, Pepi Lemer, seria seu técnico vocal. Stephenson não gostava das músicas, achando que eram muito infantis, e o quinteto como um todo reclamava da falta de oportunidades - elas ensaiavam ininterruptamente, mas jamais gravavam nenhuma música nem se apresentavam pra ninguém. Em meados de 1994, Stephenson seria demitida por "falta de comprometimento", e, para que o grupo continuasse sendo um quinteto, os Herberts pediriam para que Lemer indicasse uma de suas alunas. A primeira que ele convidou recusou a oferta, então ele chamou Emma Bunton, que fez um teste junto com as outras quatro, agradou, e se tornou a nova quinta integrante do Touch.

Apesar de já estarem morando e trabalhando juntas há meses, as cinco sequer tinham um contrato com a Heart, que alegava não querer assinar "enquanto elas não estivessem prontas", mas, ao mesmo tempo, não as deixava se apresentar, apenas ensaiar, o que fazia com que elas reclamassem sempre que estivessem em contato com alguém ligado à Heart. Para tentar apaziguar os ânimos das moças, os Herberts começaram a permitir que elas fizessem pequenas apresentações para convidados da Heart. Durante uma dessas apresentações, elas decidiriam mudar uma das músicas, acrescentando uma parte cantada como rap. Keiles ficaria furioso, mas os Herberts gostariam da ideia de as moças criarem suas próprias canções, e as colocariam para ter aulas de composição e criação musical. Durante uma dessas aulas, elas escreveriam uma música chamada Sugar and Spice ("açúcar e tempero"), e pediriam para mudar o nome da banda para Spice.

No final de 1994, o grupo seguia insatisfeito, e convenceria a Heart a deixar elas se apresentarem, em dezembro, para uma plateia composta por executivos de gravadoras, que ficaram extremamente impressionados com o grupo. Em janeiro de 1995, os Herberts, animados com a repercussão da apresentação, proporia a elas um contrato leonino, o qual elas decidiriam não assinar após ouvir a opinião de amigos e familiares. Para tentar convencê-las a assinar, os Herberts as colocariam para ter aulas de composição musical com Richard Stannard, um dos mais famosos compositores pop do Reino Unido; durante essas aulas, elas escreveriam dois dos maiores futuros sucessos das Spice Girls, Wannabe e 2 Become 1.

Outro ponto de atrito das moças com a Heart era que, normalmente em bandas femininas desse tipo, uma cantava enquanto as outras faziam apenas backing vocals, e a Heart queria que elas também se apresentassem assim, com Chisholm sendo a cantora, mas elas não aceitavam, exigindo que todas dividissem os vocais igualmente. Em março de 1995, a situação ficaria insustentável, as moças se rebelariam e decidiriam ir embora; tecnicamente, isso não foi uma quebra de contrato, já que elas nunca assinaram nenhum, mas a Heart as acusou de roubar as gravações que haviam feito nos estúdios da empresa. As moças jamais confirmaram nem negaram a subtração oficialmente, mas há quem diga que, extra-oficialmente, Geri declararia tê-lo feito para evitar que a Heart usasse suas criações. No dia seguinte ao que voltaram para Londres, elas entraram em contato com o compositor Eliot Kennedy e com os produtores da Absolute, que estavam na apresentação de dezembro anterior, e os convenceram a trabalhar com elas. Nas semanas seguintes, elas gravariam demos de duas outras músicas que viriam a ser grandes sucessos das Spice Girls, Say You'll Be There e Who Do You Think You Are. Essas demos chamariam a atenção de Simon Fuller, da empresa 19 Entertainment, que as contrataria em maio de 1995.

Nessa época, já havia se espalhado dentro da indústria da música a notícia de que aquelas moças extremamente talentosas que haviam feito aquela apresentação em dezembro estavam em busca de uma gravadora, o que deflagrou uma verdadeira guerra para decidir quem teria o direito de colocá-las em seu catálogo. Após ouvir todas as propostas, elas decidiriam, em julho de 1995, assinar com a Virgin, que lhes propôs um contrato de cinco álbuns em dez anos. A Virgin só pediria para que elas mudassem o nome da banda, pois já havia um rapper chamado Spice cantando desde 1992, e ela queria evitar confusão; elas optariam por Spice Girls simplesmente porque todo mundo se referia a elas como "the Spice girls" - "as meninas do Spice", sendo que spice, em inglês, significa "tempero"; ao contrário do que muitos dizem, a tradução não seria "garotas apimentadas" ou "garotas temperadas", já que spice é substantivo, não adjetivo, e, para que a tradução fosse essa, o nome da banda teria de ser Spicy Girls.

O primeiro single das Spice Girls, Wannabe, seria lançado em julho de 1996, e estrearia na terceira posição da lista dos mais vendidos, alcançando a primeira na semana seguinte e ficando lá por sete semanas seguidas. O single chegaria ao primeiro lugar nas paradas de sucessos de 37 países, incluindo nos Estados Unidos, se tornando não só o single de estreia de maior sucesso de um grupo feminino como também o single de maior sucesso de um grupo feminino na história da música. Os dois singles seguintes, Say You'll Be There e 2 Become 1, também seriam grandes sucessos, com o primeiro ficando duas semanas na primeira posição da parada britânica, e o segundo se tornando o single de mais rápida vendagem da história, esgotando sua tiragem de 462 mil cópias em sua primeira semana à venda. O quarto e último single do primeiro álbum traria duas músicas, Mama e Who Do You Think You Are, e faria com que as Spice Girls se tornassem a primeira banda desde o Jackson 5 a conseguir quatro singles seguidos na primeira posição da Billboard.

O álbum do qual essas músicas fariam parte, Spice, seria lançado simultaneamente em toda a Europa em novembro de 1996. Seu sucesso seria tão monumental que a imprensa britânica imediatamente começaria a fazer comparações com os Beatles, inclusive criando o termo Spicemania, inspirado na famosa Beatlemania, e se referindo ao grupo como Fab Five, já que os Beatles eram os Fab Four. Spice venderia o absurdo número de 3 milhões de cópias somente no Reino Unido, rendendo nada menos que 10 Discos de Platina, e se mantendo na primeira posição da lista dos mais vendidos durante 15 semanas. Nos Estados Unidos, Wannabe seria lançado em janeiro de 1997, e estrearia no Top 100 da Billboard na posição 11, se tornando o single de um artista estrangeiro a estrear na posição mais alta, superando I Want to Hold Your Hand, dos Beatles, que havia estreado na posição 15 (mas ficaria na primeira posição por sete semanas, enquanto Wannabe ficaria por apenas quatro). Spice seria lançado nos Estados Unidos em fevereiro, e venderia 7,4 milhões de cópias naquele país, rendendo mais 7 Discos de Platina. Somando o mundo inteiro, Spice venderia 23 milhões de cópias, se tornando o álbum mais vendido da história de um grupo totalmente feminino.

Como parte da estratégia de marketing para atrair o público jovem, cada uma das Spice Girls era sempre chamada pelo seu primeiro nome, e não por seu sobrenome ou por nome e sobrenome - com exceção das Melanies, que, como eram duas, ficariam conhecidas como Mel C (Chisolm) e Mel B (Brown). Cada uma delas também teria um apelido composto por duas palavras, sendo a segunda "Spice" e a primeira algo que tivesse a ver com sua personalidade (por exemplo, Mel C era a Sporty Spice). Ao contrário do que todo mundo imagina, esses apelidos não foram criados nem pela gravadora, nem pelos empresários, nem por elas mesmas, e sim pela revista Top of the Pops, uma das mais famosas revistas dedicadas a música do Reino Unido. A história foi a seguinte: antes do lançamento de seu primeiro álbum, as Spice Girls lançaram o single de Wannabe, que fez grande sucesso e levou a um convite para almoçar com Peter Loraine, na época editor da Top of the Pops. Era comum a revista dar apelidos a artistas, mesmo que eles já fossem famosos, como uma forma de fazer gracejos durante as matérias. Loraine criaria os apelidos baseado na aparência e comportamento que cada Spice Girl tinha durante o almoço com ele: Mel C seria a Sporty Spice (a "Spice esportiva") por estar vestindo uma roupa de academia e ter o cabelo preso em um rabo de cavalo bem alto na cabeça, como uma atleta; Mel B seria a Scary Spice (a "Spice assustadora"), por estar vestida de forma chamativa, ter um piercing na língua e falar muito alto e com um sotaque de Leeds, que Loraine tinha dificuldade para entender; Victoria seria a Posh Spice (a "Spice chique") por ser a mais reservada, sempre séria e falando pouco, usando cabelo chanel e um vestido pretinho básico; Emma seria a Baby Spice (a "Spice bebê") por estar usando maria-chiquinhas no cabelo e ter chupado um pirulito depois do almoço; e Geri seria a Ginger Spice (a "Spice ruiva"; ginger, que significa "gengibre", é uma gíria para se referir a pessoas ruivas na Inglaterra) porque Loraine não conseguiu pensar em mais nada, e ela estava com os cabelos tingidos de vermelho.

Assim como todos os demais apelidos dados pela revista, os das Spice Girls seriam usados nessa matéria e depois provavelmente esquecidos ou trocados por outros, mas esses foram tão no alvo que Loraine começou a receber telefonemas de outras revistas e jornais perguntando se poderiam usá-los, até que a própria Virgin pediu permissão para transformá-los nos nomes de palco das Spice Girls. Em uma entrevista em 2020, Mel C declarou que seus estilos não seriam uma coisa fabricada, que até o lançamento de Wannabe todas elas estavam sendo autênticas, se vestindo e se comportando como mandava a personalidade de cada uma, mas que, depois que a Virgin adotou os apelidos oficialmente, inclusive os colocando no encarte do álbum, elas decidiram abraçá-los e exagerar um pouco as características de cada uma, quase se tornando caricaturas de si mesmas, o que foi muito bom, já que todas eram muito jovens (na época do lançamento do primeiro álbum, Geri tinha 24 anos, Mel C e Victoria tinham 22, Mel B tinha 21 e Emma tinha 20), não esperavam fazer tanto sucesso tão rápido, e agir como personagens as ajudava a manter os pés no chão.

Com letras que mostravam claramente que elas estavam no comando de suas vidas, inclusive das vidas amorosas - ao invés do tradicional "você me deixou e estou sofrendo", estavam mais para "você me perdeu, azar o seu" - as Spice Girls também seriam o centro do movimento que ficou conhecido como Girl Power, que não começou com elas, tendo origem em 1991, mas que, graças ao gigantesco sucesso das Spice Girls, se popularizou, dando origem a várias músicas nas quais a mulher, ao invés de sofrer passivamente por amor, se mostrava forte, independente e dona da situação. Outro movimento que não começou com as Spice Girls, mas foi maximizado por seu sucesso, foi o Cool Britannia: em meados dos anos 1990, o Reino Unido passava por uma fase de resgate cultural, com o povo voltando a sentir orgulho do país nas artes, esportes, e até na política; ter uma banda de sucesso mundial que não tinha medo de se associar a símbolos britânicos - Geri usava nos shows um vestido com a bandeira do país, Mel C se declarava abertamente torcedora do Liverpool - levaria esse movimento a seu ápice, com muitos considerando as Spice Girls como principais responsáveis por tornar a Grã-Bretanha novamente relevante na música - e isso numa época na qual bandas como Oasis e Blur estavam fazendo grande sucesso.

Girl Power! também seria o nome de um livro escrito pelas Spice Girls e lançado em março de 1997, esgotando sua tiragem inicial de 200 mil cópias no primeiro dia e sendo traduzido para mais de 20 idiomas. No mês seguinte, seria lançado o VHS One Hour of Girl Power, com todos os clipes lançados pelas Spice Girls mais algumas de suas aparições na TV e trechos de alguns shows, que venderia 500 mil cópias em três meses e se tornaria o VHS mais vendido da história da música pop. A partir daí começaria a ser lançada uma enxurrada de merchandising das Spice Girls, a maioria voltada para meninas, como material escolar e bonecas ao estilo Barbie.

O ápice desse merchandising seria o filme Spice World (que no Brasil ganharia o subtítulo O Mundo das Spice Girls), rodado entre abril e junho de 1997, que estrearia nos cinemas do Reino Unido em 15 de dezembro do mesmo ano. Contando, no elenco, com nomes como Richard E. Grant, Alan Cumming, Claire Rushbrook, Naoko Mori, Meat Loaf e o ex-007 Roger Moore, o filme mostra as Spice Girls tendo de lidar com as exigências da fama, com um editor de jornal desonesto que quer destruir sua carreira para vender mais, com dois roteiristas de Hollywood que querem de qualquer jeito convencê-las a fazer um filme, e com um milionário que quer filmá-las e usar suas imagens em um projeto. Dirigido por Bob Spiers e com roteiro de Kim Fuller, irmão de Simon, o empresário da banda, o filme foi um gigantesco sucesso de público graças unicamente à presença das Spice Girls - com orçamento de 25 milhões de dólares, rendeu 100 milhões se considerada a bilheteria do mundo inteiro - mas foi massacrado pela crítica.

Mas o pior de Spice World foi que, teoricamente, ele seria um instrumento de marketing não do primeiro, mas do segundo álbum das Spice Girls, que também se chamaria Spice World - só que, na época em que ele estava sendo filmado, as músicas do segundo álbum ainda não haviam nem sido escritas. O resultado foi que as Spice Girls tiveram de escrever e gravar as músicas simultaneamente às filmagens, o que as deixou exaustas - uma das músicas do segundo álbum, Stop, fala justamente que elas não aguentam mais a forma como a gravadora e seus empresários fazem com que elas trabalhem incessantemente, mas foi escrita para também servir para uma moça que está reclamando do namorado, para que a gravadora não percebesse.

Em outubro de 1997, dois meses antes da estreia do filme, as Spice Girls lançariam seu primeiro single do segundo álbum, Spice Up Your Life, que também estrearia na primeira posição da parada de sucessos do Reino Unido, dando às moças um recorde de cinco seguidos. Por incrível que pareça, também em outubro elas fariam o primeiro show de suas vidas - até então, só tinham feito apresentações na TV - em duas datas em Istambul, Turquia, com o nome de Girl Power! Live in Istambul. No mês seguinte, novembro, seria lançado seu segundo álbum, chamado Spiceworld (tudo junto, diferentemente do filme), que bateria o recorde de mais cópias vendidas em menos tempo na Europa ao vender sete milhões em duas semanas. O álbum venderia um milhão e meio de cópias no Reino Unido, o suficiente para mais cinco Discos de Platina, e 4 milhões nos Estados Unidos, onde foi lançado simultaneamente com o mercado europeu, o que levou a críticas de que as Spice Girls tiveram dois álbuns lançados nos Estados Unidos em um intervalo de nove meses; somando os números de todo o planeta, Spiceworld venderia 14 milhões de cópias.

Também em novembro, as Spice Girls se tornariam a primeira banda pop a apresentar o programa An Audience with..., do canal ITV, com essa edição tendo 11,8 milhões de espectadores, um quinto da população do Reino Unido. Em dezembro, junto ao lançamento do filme, seria lançado mais um single, Too Much, que mais uma vez chegaria no primeiro lugar da parada de sucessos britânica, o sexto seguido; além disso, as Spice Girls seriam o artista mais tocado nas rádios norte-americanas no ano de 1997. Em 1998 ainda seriam lançados mais dois singles de Spiceworld, Stop, o primeiro da banda a não alcançar o primeiro lugar da parada de sucessos britânica, parando no segundo lugar, e Viva Forever, sétimo delas a chegar ao primeiro lugar, estabelecendo outro recorde. Também em 1998, as Spice Girls participariam da gravação da música oficial da torcida da seleção da Inglaterra na Copa do Mundo de Futebol, How Does It Feel to Be On Top of the World, junto com as bandas Echo and the Bunnymen, Ocean Colour Scene e Space.

Em novembro de 1997, porém, ocorreria o evento que é considerado por muitos como o início do fim das Spice Girls: insatisfeitas com a forma como Simon Fuller conduziu as gravações do álbum e do filme, elas o demitiriam pouco após o lançamento do álbum, e anunciaram que elas mesmas seriam as empresárias da banda - para a imprensa especializada, Fuller era o principal responsável pelos contratos extremamente bem sucedidos firmados por elas, e, com sua saída, elas perderiam o rumo. Fuller ainda acusaria Geri de roubar seu celular, que continha a agenda da banda e todos os contatos dos quais elas precisavam; Geri jamais admitiu, mas disse "ter feito o necessário para garantir uma transição suave" após a demissão de Fuller.

Em fevereiro de 1998, as Spice Girls sairiam em sua primeira turnê, a Spiceworld Tour com 97 shows, sendo 56 na Europa e 41 na América do Norte. No meio da turnê, pouco antes de elas embarcarem para os Estados Unidos, o advogado de Geri anunciaria sua saída da banda, alegando diferenças criativas - mais tarde, ela declararia em entrevistas estar exausta e desiludida, e os tabloides britânicos publicariam que, após a saída de Fuller, Mel B teria se tornado a líder da banda, posto que Geri queria para si. Seja como for, a saída de Geri foi o principal assunto da imprensa britânica em 1998, e chegou a ser cogitada antes do anúncio oficial, por ela não ter participado dos dois shows que as Spice Girls fizeram na Noruega. Mesmo com os fãs em choque e a imprensa dando como certo o fim da banda, a parte norte-americana da turnê foi mantida, e acabou dando origem a um documentário, Spice Girls in America: A Tour Story.

Em dezembro de 1998, enquanto ainda estavam nos Estados Unidos, as Spice Girls gravaram e lançaram uma nova música, Goodbye. Alguns interpretaram isso como um sinal de que a banda iria acabar, outros acharam que era uma canção de despedida para Geri, mas a música havia sido composta antes de sua saída, somente gravada depois. O single de Goodbye estrearia na primeira posição da parada britânica, fazendo com que as Spice Girls igualassem um recorde dos Beatles de três singles seguidos lançados na época do Natal já estreando na primeira posição (os outros dois foram 2 Become 1 e Too Much). Pouco depois, Mel B e Victoria anunciariam quase que simultaneamente que estavam grávidas - Mel B era casada com o dançarino Jimmy Gulzer, e chegou a assinar Mel G por um tempo, Victoria namorava o jogador de futebol David Beckham, com quem se casou após o nascimento da criança, passando a se chamar Victoria Beckham.

A partir de 1999, as Spice Girls passariam a focar mais em suas carreiras solo do que na da banda: com o nome de Melanie C, Mel C lançaria seu primeiro álbum solo, Northern Star, ainda em 1999, mesmo ano no qual Geri lançaria o dela, Schizophonic; Mel B lançaria Hot em 2000, e Emma (com A Girl Like Me) e Victoria (com Victoria Beckham) começariam suas carreiras solo em 2001, já depois do lançamento do último álbum das Spice Girls, Forever, de novembro de 2000. Esse álbum só teria um single lançado, com duas músicas, Holler e Let Love Lead the Way, que chegaria ao primeiro lugar da parada britânica, mas se tornaria o primeiro das Spice Girls a não conseguir entrar para o Top 100 da Billboard. O álbum também não chegaria na primeira posição dos mais vendidos no Reino Unido, ficando em segundo, atrás de Coast to Coast, do Westlife, e, nos Estados Unidos, chegaria apenas à posição 39. No total, Forever venderia apenas 4 milhões de cópias no mundo inteiro, sendo 300 mil no Reino Unido, o suficiente para conseguir mais um Disco de Platina.

Em dezembro de 2000, um mês após o lançamento do álbum - e um ano após sua última turnê, Christmas in Spiceworld, que teve quatro shows em Londres e quatro em Manchester, em dezembro de 1999 - as Spice Girls anunciariam estar entrando em um hiato por tempo indeterminado para se dedicar a suas carreiras solo; em entrevistas, todas fariam questão de dizer que não era o fim da banda, e que elas planejavam cumprir o contrato com a Virgin e lançar mais dois discos, mas estavam em um momento de suas vidas em que precisavam repensar suas prioridades. Os dez anos de contrato com a Virgin, entretanto, terminariam sem que os dois últimos álbuns jamais fossem lançados, e a gravadora só não criaria caso porque lançaria também os primeiros álbuns solo de Mel B, Emma e Victoria (no caso de Victoria, o único) e os dois primeiros de Mel C, estes extremamente bem sucedidos.

Em junho de 2007, as cinco Spice Girls dariam uma entrevista coletiva na qual anunciariam sua intenção de voltar a cantar juntas, em uma turnê chamada The Return of the Spice Girls; segundo boatos, a Virgin pagou 10 milhões de libras para cada uma para que elas aceitassem fazer essa turnê. Nesse meio tempo, Mel B já havia lançado mais um álbum (L.A. State of Mind, de 2005, pela gravadora Amber Café), Emma mais dois (Free Me, de 2004, pela 19 Recordings, e Life in Mono, de 2006, pela Universal), Geri mais dois (Scream If You Wanna Go Faster, de 2001, e Passion, de 2005, ambos pela EMI, que também lançou Schizophonic), e Mel C mais três (Reason, de 2003, pela Virgin, e Beautiful Intentions, de 2005, e This Time, de 2007, ambos pela Red Girl Records, fundada pela própria Mel C).

Inicialmente, a turnê The Return of the Spice Girls contaria com 40 shows no Reino Unido, Alemanha, Espanha, Estados Unidos, Canadá, China, Hong Kong, Austrália, África do Sul e Argentina, levando as Spice Girls pela primeira vez para a Ásia, África, Oceania e América do Sul. Apenas um show estava previsto em Londres, para o qual todos os ingressos se esgotaram 38 segundos após o início das vendas; 16 novas datas foram abertas para Londres, e todos os ingressos se esgotaram em menos de um minuto. Três datas nos Estados Unidos, em Las Vegas, Los Angeles e San Jose, também esgotaram no primeiro dia, o que fez a organização abrir novas datas em outras cidades. Com a adição dessas novas datas, os shows fora da Europa e América do Norte foram cancelados, o que causou muitas reclamações dos fãs; oficialmente, a banda alegou "motivos familiares", mas os tabloides noticiaram que a Virgin ganharia muito mais dinheiro com os shows extras em Londres e nos Estados Unidos do que viajando pelo mundo. No fim, turnê teria 47 shows, sendo 22 na Europa e 25 na América do Norte.

Durante a turnê, as Spice Girls lançariam uma nova música, Headlines (Friendship Never Ends), única inédita de seu álbum Greatest Hits, lançado em novembro de 2007. O álbum chegaria ao segundo lugar na parada britânica dos mais vendidos, com 600 mil cópias, que lhe renderiam mais dois Discos de Platina, mas Headlines chegaria apenas à posição 11 da parada de sucessos britânica, se tornando o primeiro single das Spice Girls a não entrar para o Top 10 (na verdade, para o Top 2, já que Stop chegou à segunda posição, e todos os outros à primeira). A história da produção da turnê de reunião também se tornaria um documentário, chamado Giving You Everything, também lançado em 2007.

Em 2010, as Spice Girls licenciariam suas músicas para a produção de uma peça de teatro chamada Viva Forever!, ao estilo de Mamma Mia, que usava músicas do ABBA, e cuja produção também rendeu um documentário, Spice Girls' Story: Viva Forever!; a peça foi massacrada pela crítica e não fez sucesso dentre o público, saindo de cartaz após sete meses com um prejuízo de 5 milhões de libras. Em 2012, elas se apresentariam na Cerimônia de Encerramento das Olimpíadas, em Londres, cantando Wannabe e Spice Up Your Life; esse seria o momento mais comentado das Olimpíadas de 2012 nas redes sociais, com apenas o Twitter registrando 116 mil tweets por minuto. Depois das Olimpíadas, apenas Emma e Mel C lançariam mais álbuns, com Emma lançando o álbum de covers My Happy Place, em 2019, pela BMG, e Mel C lançando The Sea (2011), o álbum de covers Stages (2012), Version of Me (2016) e Melanie C (2020), todos pela Red Girl.

Em 2016, Mel B, Emma e Geri lançaram um clipe comemorativo pelos 20 anos de Wannabe, e deram a entender em entrevistas que lançariam novo material das Spice Girls. As três chegaram a lançar uma nova música, Song for Her, e a fazer planos para uma turnê, mas tudo foi interrompido quando Geri engravidou de Christian Horner, chefe da equipe Red Bull da Fórmula 1, com quem havia se casado em 2015. Em 2018 elas começariam conversas para que as Spice Girls retornassem com sua formação original, mas Victoria, já bem sucedida no ramo do design de moda, não aceitaria o convite. Assim, a formação das Spice Girls passaria a ser Mel C, Mel B, Emma e Geri.

Esse quarteto embarcaria em 2019 para a até hoje última turnê das Spice Girls, a Spice World 2019 Tour, que teve 13 shows, sendo um na Irlanda e 12 no Reino Unido. Ao fim da turnê, elas assinariam um contrato com a Paramount para a produção de um longa metragem animado estrelado pelas Spice Girls, que acabaria sendo adiado pela pandemia, e ainda nem tem data definida para início dos trabalhos.

Em julho de 2021, para comemorar os 25 anos do lançamento de Wannabe, seria lançado um EP, que também conta com gravações demo previamente inéditas. O mais recente lançamento das Spice Girls é Spice25, de outubro de 2021, uma versão especial de Spice incluindo gravações demo e remixes, que alcançaria a quarta posição na parada dos mais vendidos do Reino Unido.

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