domingo, 3 de outubro de 2021

Escrito por em 3.10.21 com 0 comentários

Asterix

Essa semana, enquanto pensava em qual poderia ser o assunto do átomo, vi por acaso um álbum do Asterix à venda. Meu pai adora o Asterix, mas eu, apesar de achar as histórias engraçadas, nunca me considerei fã. Mesmo assim, achei que seria um tema interessante, principalmente porque eu e vocês podemos descobrir coisas sobre Asterix que não sabíamos. Portanto, hoje é dia de Asterix no átomo!

Embora aqui no Brasil seja mais conhecido pelos desenhos animados, Asterix é o astro de uma série em quadrinhos francesa. Ambientada na Gália (região que hoje corresponde em sua maior parte à França), no ano 50 a.C., a série mostra as tentativas frustradas do Império Romano, sob o comando de Júlio César, de dominar uma pequena aldeia, cujo nome nunca é mencionado. Embora nada menos que quatro legiões cerquem o local (chamadas Totorum, Aquarium, Laudanum e Compendium), todas as incursões dos soldados romanos ao local resultam em derrota, graças a um segredo dos gauleses: a poção mágica do druida Panoramix, que confere força, agilidade e resistência sobre-humanas, por um curto período de tempo, àqueles que a consomem.

Asterix, apesar de baixinho e nada amedrontador, é considerado o guerreiro mais inteligente da aldeia, e, por causa disso, o Chefe Abraracourcix o seleciona para importantes missões, sejam incursões aos acampamentos dos legionários, seja viagens a outros países europeus, sempre tentando impedir algum plano dos romanos ou ganhar alguma vantagem contra eles. Asterix é sempre acompanhado por seu melhor amigo, Obelix, que é enorme, superforte mas pouco inteligente - quando era criança, ele caiu no caldeirão da poção mágica, o que tornou sua superforça permanente, mas o impede de beber a poção como os demais guerreiros, já que, segundo Panoramix, ninguém sabe o que poderia acontecer se ele o fizesse. Obelix tem um cachorrinho, chamado Ideiafix, que também costuma acompanhar a dupla em suas aventuras.

Asterix foi uma criação de dois quadrinistas franceses, o roteirista René Goscinny e o desenhista Albert Uderzo. Filho de imigrantes poloneses, nascido em Paris, mas criado em Buenos Aires, Argentina, Goscinny morou por um tempo nos Estados Unidos, onde conheceu o cartunista belga Morris, por quem foi convidado para trabalhar na série Lucky Luke a partir de 1955, no que ficaria conhecida como a Era de Ouro do personagem, um dos mais populares dos quadrinhos europeus. Já Uderzo era filho de imigrantes italianos, nasceu na pequena cidade de Fismes, se mudando para Paris aos nove anos de idade, e começando a trabalhar com ilustrações ainda na escola, mesmo sendo daltônico. Goscinny e Uderzo se conheceriam em 1951, pouco após o retorno do roteirista à França, quando ambos tinham por volta de 25 anos. Os dois rapidamente se tornariam amigos, e decidiriam aceitar um emprego na editora belga Word Press, que havia acabado de abrir uma filial em Paris, em 1952. Suas primeiras criações, assim como Lucky Luke, seriam relacionadas ao Velho Oeste norte-americano: o índio Oumpah-pah (que teria tiras publicadas entre 1958 e 1962) e os caubóis Jehan Pistolet e Luc Junior.

Em 1959, Goscinny seria escolhido para ser editor da revista semanal Pilote, um lançamento da Word Press, voltada ao público adolescente e que contaria com alguns dos maiores artistas franceses e belgas da época, como Jean-Michel Charlier, Jacques Lob, Jijé, Morris e Moebius. Goscinny e Uderzo decidiriam criar um novo personagem para a revista, que fosse inspirado na história francesa ao invés da norte-americana, e assim nasceu Asterix. Inicialmente, Uderzo desenharia Asterix como um guerreiro enorme e musculoso, mas Goscinny tinha em mente que ele deveria ser baixinho e aparentemente inofensivo, dependendo mais de sua inteligência que de sua força; Uderzo concordou, mas sugeriu que ele tivesse um companheiro que fosse seu oposto, muito forte mas pouco inteligente, e assim surgiu Obelix. A principal inspiração de Uderzo para a aparência dos gauleses viria de uma série de pinturas de Évariste Vital Luminais, nas quais cenas da vida gaulesa eram retratadas - numa delas, inclusive, dois dos personagens são praticamente Asterix e Obelix.

Os nomes dos personagens seriam inspirados pelos nomes dos antigos chefes guerreiros gauleses, todos terminados em -rix (que significava "rei" no idioma da época), como Vercingetorix, Orgetorix e Dumnorix; Goscinny e Uderzo nomeariam seus personagens com palavras francesas que terminavam em -ix, como "asterisco" e "obelisco", ou fariam trocadilhos, como no caso de Panoramix, do Chefe Abraracourcix (um trocadilho com a expressão francesa à bras raccourcis, que significa algo como "violentamente") e o bardo Assurancetourix (assurance tous risques é um tipo de apólice de seguros na França) - exceto por Asterix e Obelix, os nomes dos personagens costumam ser traduzidos, com, em inglês, o cachorro sendo Dogmatix, o druida Getafix, o Chefe Vitalstatistix e o bardo Cacofonix; em espanhol o Chefe se chama Abrazopartidix; e no Brasil o nome do bardo é Chatotorix. Somente os homens gauleses têm esses nomes, com as mulheres tendo nomes mais normais, mas ainda assim satíricos, como a esposa de Abraracourcix, Caralinda (Bonnemine no original), ou a bela Falbalá, a moça mais bonita da aldeia, e os romanos tendo nomes engraçados que terminam em -us, como o legionário Gluteus Maximus e o espião Tulius Detritus.

As tiras de Asterix na Pilote seriam um grande sucesso e, em 1961, o personagem já ganharia seu primeiro álbum - os quadrinhos europeus, ao invés de em revistas mensais como os norte-americanos, costumam ser lançados em álbuns, com um álbum sendo um livro, muitas vezes de capa dura, que contém uma história completa; assim como livros, álbuns não têm periodicidade definida, sendo lançado um novo toda vez que seu criador o conclui. Chamado Asterix, o Gaulês (Astérix le Gaulois), e publicado pela editora Dargaud, o álbum contava como o centurião Crismus Bonus, disfarçado de gaulês, conseguiu se infiltrar na aldeia e sequestrar Panoramix, planejando descobrir o segredo da poção mágica e usá-la para depor Júlio César e se tornar o novo Imperador; Asterix consegue se infiltrar no acampamento onde o druida está mantido refém e, junto com ele, bola um plano para enganar o centurião e escapar.

Grande parte da história já havia sido publicada como tiras na Pilote, entre as edições 1 e 38, de 1959 e 1960, e acabou sendo aproveitada no álbum sem qualquer modificação, o que levou a algumas incongruências (Panoramix começa a história morando numa caverna, depois é mostrado que ele mora em uma cabana na aldeia; Obelix no começo da história tem um machado, mas depois essa arma nunca mais aparece; a aparência de Júlio César é diferente no começo da história e no final); mesmo assim, o álbum seria um grande sucesso, com todas as seis mil cópias de sua primeira tiragem sendo vendidas. A primeira tradução oficial de Asterix para outro idioma seria o lançamento deste álbum em holandês, em 1966, e a primeira edição em inglês seria lançada no Reino Unido em 1969, pela Brockhampton Press; uma versão "pirata" da história, na qual Asterix se chama Little Fred, Obelix é Big Ed, o druida é Hokus Pokus, o centurião é Pompus e a aldeia gaulesa tem o nome de Nevergiveup ("jamais desista") seria publicada na revista inglesa Valiant Comics em novembro de 1963. Vale citar como curiosidade que a placa de impressão da página 35 do álbum original se perdeu, sendo refeita pelo irmão de Uderzo, Marcel, para um relançamento em 1970, o que fez com que todas as impressões do álbum, exceto a original, tivessem arte ligeiramente diferente nessa página.

Asterix, o Gaulês ganharia uma versão em desenho animado, produzida pela Dargaud Films e lançada nos cinemas franceses em 1967. Goscinny e Uderzo não foram consultados quanto à realização do filme, e, embora seu enredo seja bastante fiel ao do álbum, não ficaram satisfeitos com o resultado, conseguindo impedir o lançamento de uma sequência, que já estava pronta, e um contrato que previa seu envolvimento em todas as produções animadas subsequentes de Asterix feitas pela Dargaud. O desenho faria um sucesso moderado na França, e seria dublado em inglês, para lançamento nos Estados Unidos, em 1968, onde passaria praticamente despercebido, visto que o personagem ainda era desconhecido por lá. Vale dizer que essa não foi a primeira adaptação de Asterix, o Gaulês, já que, mais cedo em 1967, estrearia na TV francesa o filme Deux Romains en Gaule ("dois romanos na Gália"), que seguia o mesmo enredo mas com algumas diferenças; curiosamente, Asterix e Obelix eram desenhos animados, mas todo o restante da produção, em preto e branco, era um filme.

Os 19 álbuns seguintes de Asterix seguiriam a mesma fórmula de Asterix, o Gaulês, sendo reedições das tiras publicadas na Pilote com acréscimo de pouco material novo; ao longo dos anos, graças ao enorme sucesso dos álbuns, o intervalo entre a publicação na revista e seu lançamento ficaria cada vez menor. Os cinco seguintes seriam, pela ordem, Asterix e a Foice de Ouro (La Serpe d'Or), publicado em 1962, contendo tiras da Pilote 42 a 74, de 1960 e 1961, no qual Panoramix quebra sua foice especial, com a qual não pode participar da reunião anual dos druidas, o que faz com que Asterix e Obelix tenham de ir até a cidade de Lutécia (Paris) para comprar uma nova; Asterix e os Godos (Astérix et les Goths), de 1963, com tiras das edições 82 a 112, de 1961 e 1962, no qual Panoramix é sequestrado pelos godos, e Asterix e Obelix vão à Germânia salvá-lo; Asterix Gladiador (Astérix Gladiateur), de 1964, com tiras das edições entre 126 e 168, de 1962, no qual Chatotorix é sequestrado pelos romanos, e Asterix e Obelix entram para a escola de gladiadores para resgatá-lo; Asterix e a Volta à Gália (Le Tour de Gaule d'Astérix), de 1965, com tiras das edições 172 a 213, de 1963, no qual Asterix propõe aos romanos resolver suas diferenças não com uma guerra, mas com uma corrida de biga que passe pelos principais pontos da Gália, numa paródia da famosa volta ciclística Tour de France; e Asterix e Cleópatra (Astérix et Cléopâtre), também de 1965, com tiras das edições 215 a 257, de 1963, no qual a Rainha do Egito pede a ajuda de Panoramix, amigo de seu pai, para vencer uma aposta que fez com Júlio César, e Asterix e Obelix o acompanham em sua viagem.

Asterix e Cleópatra se transformaria no segundo desenho animado para o cinema estrelado por Asterix, lançado em 1968. Dessa vez supervisionado por Goscinny e Uderzo, o desenho possui o mesmo enredo do álbum, mas um desenrolar completamente diferente, sendo, inclusive, praticamente um musical, cheio de números cantados, elementos satíricos e easter eggs (como a figura do Papai Noel em meio a hieróglifos numa parede de um templo). O desenho seria extremamente elogiado pela qualidade de sua animação e por sua trilha sonora, mas, mais uma vez, faria apenas um sucesso moderado; ele também seria dublado e lançado nos Estados Unidos no ano seguinte, conseguindo um pouco mais de sucesso que seu antecessor, mas ainda assim nada digno de nota.

Ainda na década de 1960 teríamos Asterix e a Grande Luta (Le Combat des Chefs), de 1966, com tiras da edições entre 261 e 302, de 1964, no qual o chefe de uma aldeia rival, aliado dos romanos, desafia Abraracourcix para um duelo, valendo o controle de ambas; Asterix entre os Bretões (Astérix chez les Bretons), também de 1966, com tiras das edições entre 307 e 334, de 1965, no qual Cinemapax, um primo de Asterix que mora na Grã-Bretanha, pede ajuda para que sua aldeia também não seja conquistado pelos romanos; Asterix e os Normandos (Astérix et les Normands), também de 1966, com tiras das edições 340 a 361, de 1965 e 1966, no qual Abraracourcix pede para que Asterix e Obelix treinem seu sobrinho Calhambix (Goudurix no original) para ser um grande guerreiro ao mesmo tempo em que a aldeia recebe a visita de uma delegação de vikings; Asterix Legionário (Astérix Légionnaire), de 1967, com tiras das edições 368 e 389, de 1966 e 1967, no qual Asterix e Obelix se alistam na Legião Estrangeira e viajam ao norte da África para salvar Tragicomix, noivo de Falbalá; Asterix e o Escudo Arverno (Le Bouclier Arverne), também de 1967, com tiras das edições 399 a 421, do mesmo ano, no qual Júlio César busca se apoderar do lendário Escudo de Vercingetorix, com o qual finalmente poderá dominar toda a Gália, e Asterix e Obelix tentam impedi-lo; Asterix nos Jogos Olímpicos (Astérix aux Jeux Olympiques), de 1968, com tiras das edições 434 a 455, do mesmo ano (lançadas enquanto estavam sendo realizadas as Olimpíadas daquele ano, na Cidade do México), no qual Asterix descobre que os romanos participam, a cada quatro anos, dos Jogos Olímpicos na Grécia, e, como a Gália está sob domínio romano, decide se inscrever como o representante gaulês no evento, mas não pode utilizar a poção mágica durante as competições, em uma referência e sátira ao doping nas Olimpíadas modernas (como curiosidade, vale citar que várias das versões internacionais desse álbum, incluindo a norte-americana, foram atrasadas de propósito para que seu lançamento coincidisse com a realização das Olimpíadas de 1972, em Munique); Asterix e o Caldeirão (Astérix et le Chaudron), de 1969, com tiras das edições 469 a 491, de 1968, no qual um caldeirão cheio de dinheiro é roubado da aldeia, e Asterix e Obelix têm de recuperá-lo; e Asterix na Hispânia (Astérix en Hispanie), também de 1969, com tiras das edições 498 a 519, do mesmo ano, no qual Pepê, filho do Chefe da última aldeia hispânica que ainda resiste aos romanos, é sequestrado e levado para a Gália, e Asterix e Obelix recebem a missão de salvá-lo.

No início da década de 1970 seriam lançados Asterix e a Cizânia (La Zizanie), de 1970, com tiras das edições entre 531 e 552, do mesmo ano, no qual Júlio César decide fomentar a desunião entre os gauleses para facilitar que ele conquiste a aldeia; Asterix entre os Helvéticos (Astérix chez les Helvètes), também de 1970, com tiras das edições 557 a 578, no qual Asterix e Obelix têm de ir à Helvécia (Suíça) em busca de uma flor rara para uma poção de Panoramix; Asterix e o Domínio dos Deuses (Le Domaine des Dieux), de 1971, com tiras das edições entre 591 e 612, do mesmo ano, no qual Júlio César decide construir um enorme hotel ao redor da aldeia; Asterix e os Louros de César (Les Lauriers de César), de 1972, com tiras das edições 621 a 642, de 1971, no qual Abraracourcix cisma de temperar um guisado com a coroa de louros de Júlio César, e cabe a Asterix e Obelix obtê-la; Asterix e o Adivinho (Le Devin), também de 1972, com tiras das edições 652 a 673, do mesmo ano, no qual, enquanto Panoramix está ausente por conta do encontro anual dos druidas, Prolix, um adivinho charlatão, tenta tomar seu lugar; e Asterix na Córsega (Astérix en Corse), de 1973, com tiras das edições 687 a 708, do mesmo ano, no qual Asterix e Obelix libertam um corso que estava sendo mantido preso pelos romanos na Gália e decidem acompanhá-lo em sua viagem de volta para casa.

Asterix na Córsega seria o último álbum a trazer republicações das tiras da Pilote, já que Asterix deixaria de ser publicado quando a revista se tornasse mensal, em janeiro de 1974. A partir daquele ano, todos os álbuns lançados seriam de histórias inéditas, produzidas especificamente para seus lançamentos. Os três seguintes seriam Asterix e o Presente de César (Le Cadeau de César), de 1974, no qual um taverneiro tenta clamar posse das terras onde está situada a aldeia, alegando terem sido um presente de Júlio César; Asterix e a Grande Travessia (La Grande Traversée), de 1975, no qual Asterix e Obelix enfrentam uma tempestade durante uma pescaria no mar e vão parar acidentalmente na América do Norte; e Obelix e Companhia (Obélix et Compagnie), de 1976, no qual Preposterus, um romano infiltrado, começa a comprar e revender os menires produzidos por Obelix para destruir a aldeia usando o capitalismo.

Também em 1976, seria lançado mais um desenho animado nos cinemas, Os Doze Trabalhos de Asterix, que, diferentemente dos dois anteriores, tinha uma história inédita, criada por Uderzo e pelo roteirista de cinema Pierre Tchernia, na qual Júlio César propõe a Asterix e Obelix um desafio: se a dupla conseguir cumprir doze tarefas dificílimas, ele abdica do trono e passa o comando de todo o Império aos gauleses, mas, se eles falharem em apenas uma sequer, a aldeia se rende aos romanos. Dirigido por Goscinny e Uderzo, o desenho seria um grande sucesso internacional, e, naquele mesmo ano, seria adaptado para um álbum, também chamado Os Doze Trabalhos de Asterix (Les Douze Travaux d'Astérix), com arte de Marcel Uderzo. Extremamente fiel ao roteiro do filme, o álbum infelizmente não é considerado parte da série oficial e, por causa disso, raramente é republicado - a única edição norte-americana foi lançada em 1980 e jamais reimpressa, e a francesa está fora de catálogo desde 1996.

Goscinny faleceria em 1977, aos 51 anos, de ataque cardíaco durante um exame de rotina no consultório de seu cardiologista. Na época, ele estava trabalhando em mais um roteiro, que Uderzo pensou em manter inédito, mas, a pedido dos fãs, terminou a história e a desenhou para publicação. Assim surgiu Asterix entre os Belgas (Astérix chez les Belges), lançado em 1979, no qual Abraracourcix decide tirar satisfações com o chefe de uma aldeia belga após ouvir Júlio César falar que os belgas são o povo mais valente da Europa. Em homenagem a Goscinny, em todos os quadrinhos que correspondem à parte da história escrita por Uderzo após sua morte está chovendo, com um céu escuro e fechado. Asterix entre os Belgas seria o último álbum de Asterix publicado pela Dargaud, já que Uderzo preferiria não renovar seu contrato após sua publicação.

Graças às demonstrações de carinho que recebeu dos fãs nesses dois anos, entretanto, Uderzo decidiria continuar com a série, agora como roteirista e desenhista, e, para isso, criaria sua própria editora, chamada Albert-René - os primeiros nomes dele e de Goscinny. A pedido do próprio Uderzo, todos os álbuns lançados de Astérix até hoje são creditados, na capa, a "R. Goscinny & A. Uderzo". Embora os álbuns com roteiro e desenho de Uderzo sejam bastante criticados por terem menos humor e enredos mais fracos que os de Goscinny, todos foram grandes sucessos de vendas, com alguns deles inclusive tendo números melhores que os originais - mas o campeão de todos os tempos segue sendo Asterix e os Normandos, que vendeu 1,2 milhão de cópias em dois dias. Os álbuns de Uderzo também eram menos frequentes, tendo sido lançados apenas oito em um intervalo de 25 anos.

O primeiro álbum com roteiros e arte de Uderzo seria Asterix e o Grande Fosso (La Grande Fosse), de 1980, no qual Asterix e Obelix se envolvem numa disputa entre duas aldeias rivais separadas por um fosso. Em seguida viriam A Odisseia de Asterix (L'Odyssée d'Astérix), de 1981, no qual Asterix e Obelix tinham de viajar até a Galileia para conseguir um pouco de petróleo para uma poção de Panoramix, enquanto eram seguidos pelo espião Zerozerosix (que tinha a cara do Sean Connery); O Filho de Astérix (Le Fils d'Astérix), de 1983, no qual um bebê é abandonado na porta de Asterix, que decide tentar devolvê-lo a seus pais; e As 1001 Horas de Asterix (Astérix chez Razade), de 1987, no qual Chatotorix é incumbido de fazer chover em uma aldeia na Índia usando sua música, e Asterix e Obelix decidem acompanhá-lo. Em 1989 seria publicado mais um álbum especial que não era considerado parte da série, Como Obelix Caiu no Caldeirão do Druida Quando Era Pequeno (Comment Obélix est Tombé dans la Marmite du Druide quand il était Petit), cujo título é auto-explicativo, também com roteiro e arte de Uderzo.

Após a criação da Albert-René, a Dargaud continuaria com os direitos de publicação e distribuição dos álbuns produzidos por Goscinny e Uderzo, o que desagradava a Uderzo e a Anne Goscinny, filha do roteirista, que achavam que eles queriam ganhar dinheiro com Asterix a qualquer custo e repassavam muito pouco aos autores. Em 1990, Uderzo, sua filha Sylvie e Anne decidiriam processar a Dargaud, e, após uma longa e demorada batalha nos tribunais, teriam os direitos sobre todos os álbuns revertidos para eles, ficando a Dargaud impedida de republicá-los. Ao invés de relançá-los pela Albert-René, porém, o trio decidiria fazer um contrato com a editora Hachette, que poderia republicar qualquer um dos álbuns originais de Goscinny e Uderzo, ficando apenas os direitos de publicação dos que eram apenas de Uderzo com a Albert-René, da qual os donos passariam a ser Uderzo, Sylvie e Anne.

A série continuaria com Asterix - A Rosa e o Gládio (La Rose et le Glaive), de 1991, no qual Asterix e Obelix se veem às voltas com uma legião romana, digamos, diferente, e que aborda temas como feminismo e homossexualidade; Asterix e a Galera de Obelix (La Galère d'Obélix), de 1996, no qual escravos roubam a galera (barco) de Júlio César e a escondem na aldeia de Asterix; e Asterix e Latraviata (Astérix et Latraviata), de 2001, no qual os romanos contratam uma atriz (chamada Latraviata, como a ópera) para substituir Falbalá e roubar um tesouro que está de posse de Asterix e Obelix. Em 1996 também seria lançado um álbum-tributo, Uderzo Croqué par ses Amis ("Uderzo desenhado por seus amigos"), que não fazia parte da série oficial e trazia 21 histórias curtas produzidas por vários cartunistas europeus nas quais o protagonista era Uderzo como se ele fosse um dos moradores da aldeia de Asterix; esse álbum jamais foi traduzido para outros idiomas.

Em 2003, seria lançado, como parte da série oficial, Asterix e a Volta às Aulas (Astérix et la Rentrée Gauloise), que continha 16 histórias curtas, nove delas originalmente publicadas na Pilote, nas edições 157 (1962), 172 a 186 (1963), 260 (1964), 334 (1966), 363 (1966), 424 (1967), 527 (1969), na edição especial Pilote Super Pocket (1968) e na edição especial de 35 anos da revista (1994), uma originalmente publicada na edição de maio de 1977 da National Geographic Magazine, uma originalmente publicada na edição 1337 da revista Elle (1971), e uma inédita, produzida originalmente em 1973, todas essas com roteiro de Goscinny e arte de Uderzo, e mais uma originalmente publicada na edição de outubro de 2004 na revista LIRE, uma originalmente publicada no material promocional da candidatura de Paris a sede das Olimpíadas de 1992, e uma produzida especialmente para esse álbum, essas três com roteiro e arte de Uderzo.

O álbum seguinte de Uderzo seria Asterix e o Dia em que o Céu Caiu (Le Ciel lui Tombe sur la Tête), de 2005, no qual extraterrestres invadem a aldeia tentando roubar a poção mágica. Em 2007 seria a vez do lançamento de mais um álbum-tributo, Astérix et ses Amis, com 34 histórias curtas de Asterix criadas por famosos cartunistas europeus em homenagem aos 80 anos de Uderzo; mais uma vez, esse álbum jamais foi traduzido para outros idiomas. E, em 2009, seria lançado O Aniversário de Asterix e Obelix - O Livro de Ouro (L'Anniversaire d'Astérix et Obélix - Le Livre d'Or), no qual Asterix e Obelix fazem aniversário (no mesmo dia) e recebem cartas e visitas de vários personagens que conheceram nos álbuns anteriores. Lançado em comemoração aos 50 anos da publicação da primeira tira de Asterix, e com parte da história sendo ambientada no ano 1 d.C., 50 anos após os eventos dessa primeira tira, esse seria o último álbum com roteiro e arte de Uderzo.

Durante o período no qual Uderzo foi roteirista e desenhista, Asterix e Obelix também estrelariam cinco novos desenhos animados. O primeiro, Asterix contra César (Astérix et la Surprise de César), de 1985, teria roteiro de Tchernia, inspirado em Asterix Legionário e Asterix Gladiador. O segundo, de 1986, seria uma adaptação de Asterix entre os Bretões, também com roteiro de Tchernia. Asterix e a Grande Luta (Astérix et le Coup du Menhir), de 1989, seria o primeiro produzido fora da França, mais precisamente na Alemanha, pela Extrafilm Produktion; com roteiro de Adolf Kabatek e Yannik Voight, usaria elementos de Asterix e a Grande Luta e Asterix e o Adivinho. Asterix Conquista a América (Astérix et les Indiens), de 1994, também seria produzido na Alemanha pela Extrafilm, com roteiro de Thomas Platt e Rhett Rooster, inspirado em Asterix e a Grande Travessia, mas com muitas alterações e elementos novos. O mesmo ocorreria com Asterix e os Vikings (Astérix et les Vikings), de 2006, uma produção da dinamarquesa A. Film com roteiro de Stefan Fjeldmark e Jean-Luc Goossens, inspirado em Asterix e os Normandos.

Em 1999, Asterix e Obelix fariam sua estreia nos cinemas em um filme com atores, chamado Asterix e Obelix contra César (Astérix et Obélix contre César). Dirigido por Claude Zidy com roteiro de Gérard Lauzier, o filme trazia Christian Clavier como Asterix, o superastro francês Gérard Depardieu como Obelix, e o italiano Roberto Benigni, que na época estava bem famoso por causa de A Vida é Bela, como o romano Lucius Detritus, e sua história é um amálgama de quase todos os álbuns escritos por Goscinny (que também foi creditado como roteirista), com poucos elementos novos; o elenco de apoio contava, dentre outros, com Michel Galabru como Abraracourcix, Claude Piéplu como Panoramix, Pierre Palmada como Chatotorix, os alemães Marianne Sägebrecht como Caralinda, Gottfried John como Júlio César, e a modelo francesa Laetitia Casta como Falbalá, em sua estreia como atriz. Produzido pelos estúdios Pathé, o filme seria um gigantesco sucesso na França, rendendo o dobro do que custou, mesmo sendo o mais caro filme francês do século XX.

Um segundo filme, Asterix e Obelix: Missão Cleópatra (Astérix et Obélix: Mission Cléopâtre) seria lançado em 2002, com direção e roteiro de Alain Chabat. Inspirado em Asterix e Cleópatra, o filme traria novamente Clavier e Depardieu como a dupla de protagonistas, mas todo o restante do elenco seria trocado, com Panoramix agora sendo interpretado por Claude Rich e Júlio César pelo próprio Chabat; o papel de Cleópatra ficaria com a italiana Monica Bellucci, e o arquiteto Numerobis ficaria com o comediante marroquino Jamel Debbouze. O filme seria ainda mais caro que o anterior, mas também seria o recordista de salas na estreia na França, com 950, e, mais uma vez, sua bilheteria seria quase o dobro de seu orçamento. Seu sucesso motivaria a Pathé a começar a trabalhar numa sequência quase que imediatamente, Astérix en Hispanie, que seria lançado em 2004, mas desentendimentos entre Uderzo e a equipe criativa do filme, principalmente Chabat, fariam com que as gravações fossem interrompidas, ficando o filme incompleto e jamais lançado.

Por causa disso, o terceiro filme de Asterix, Asterix nos Jogos Olímpicos (Astérix aux Jeux Olympiques), só seria lançado em 2008. Clavier não aceitaria retornar, sendo substituído por Clovis Cornillac, mas Depardieu interpretaria mais uma vez Obelix; o elenco de apoio conta com a lenda do cinema Alain Delon como Júlio César, Jean-Pierre Cassel como Panoramix, Benoît Poelvoorde como o romano Brutus, e com o retorno de Debbouze como Numerobis. O filme seria não somente mais uma vez o mais caro da história da França, mas também o filme mais caro de todos os tempos em outro idioma que não fosse o inglês; em compensação, se tornaria recordista de bilheteria da história do cinema francês e recordista de bilheteria no primeiro fim de semana na França, com sua renda nos três primeiros dias naquele país sendo equivalente a 60% da renda do primeiro fim de semana de todos os outros países no qual o filme estreou somados - porém, por ser tão caro, dessa vez sua bilheteria foi "apenas" 20 milhões de dólares maior que seu orçamento.

Também em 2008, sem consultar Sylvie e Anne, Uderzo decidiria vender a Albert-René para a Hachette, que, assim, poderia não somente republicar qualquer um dos álbuns antigos, mas também passaria a publicar os novos - sendo O Aniversário de Asterix e Obelix o primeiro lançamento da Hachette. Sylvie foi contra, e chegou a dar entrevistas declarando que o pai tomou uma atitude absurda, mas Anne se posicionou a favor, e declarou acreditar que Asterix ainda poderia viver por um longo tempo com uma nova editora e uma nova equipe criativa, não fazendo sentido que Uderzo se agarrasse a ele se queria parar. De fato, após a publicação de O Aniversário de Asterix e Obelix, Uderzo, aos 82 anos, anunciaria sua aposentadoria, e que em breve selecionaria pessoalmente quem seriam os artistas que dariam seguimento ao legado de Asterix. Esse anúncio seria feito em 2011, quando o roteirista Jean-Yves Ferri e o desenhista Frédéric Mébarki seriam revelados como a equipe criativa por trás do 35o álbum de Asterix, a ser lançado em 2013. Poucos meses após o anúncio, porém, Mébarki anunciaria estar desistindo do projeto, por não aguentar a pressão de ter que substituir Uderzo, e, para seu lugar, seria anunciado o desenhista Didier Conrad.

Ferri e Conrad são a dupla responsável pelos álbuns de Asterix até hoje. Sob sua batuta, já foram publicados quatro: Asterix entre os Pictos (Astérix chez les Pictes), de 2013, no qual Asterix e Obelix encontram um picto congelado na praia e decidem levá-lo de volta à Caledônia, antes que sua noiva se case com um rival; Asterix e o Papiro de César (Le Papyrus de César), de 2015, no qual Júlio César publica um livro dizendo que conquistou toda a Gália, e Asterix decide tirar satisfação; Asterix e a Transitálica (Astérix et la Transitalique), de 2017, no qual o senador Lactus Bifidus propõe uma corrida de bigas pela península itálica, numa paródia do Giro d'Italia, com Asterix e Obelix decidindo representar a Gália e a curiosidade mórbida de que o corredor representante dos romanos se chama Coronavirus; e Asterix e a Filha de Vercingetorix (La Fille de Vercingétorix), de 2019, no qual o famoso chefe guerreiro gaulês pede a seu bom amigo Abraracourcix que esconda sua filha, Adrenaline, em sua aldeia, para que ela não seja capturada pelos romanos.

Asterix voltaria aos cinemas em 2012, com Asterix e Obelix: A Serviço de Sua Majestade (Astérix et Obélix: Au Service de Sa Majesté), produzido pela Fidélité Films e inspirado em Asterix entre os Bretões e Asterix e os Normandos. Depardieu retornaria mais uma vez ao papel de Obelix, mas Asterix agora ficaria a cargo de Edouard Baer, Júlio César com Fabrice Luchini, Abraracourcix com Michel Duchaussoy, e Panoramix com László Baranyi; novos personagens incluem Guillaume Gallienne como Cinemapax, Charlotte Le Bon como sua noiva Ofélia, Vincent Lacoste como Calhambix, Tristán Ulloa como Claudius Lapsus, Gérard Jugnot como o pirata Barba Ruiva, Bouli Lanners como o viking Grossebaf, e a lenda Catherine Deneuve como a Rainha Cordélia. Esse seria o primeiro filme de Asterix a não se pagar nas bilheterias, mas, felizmente, também seria o mais barato de todos. Talvez por seu fracasso, também é, por enquanto, o último filme de Asterix com atores.


A produção de filmes de animação, por outro lado, seguiria, com em 2014 sendo lançado Asterix e o Domínio dos Deuses (Astérix: Le Domaine des Dieux), inspirado no álbum de mesmo nome, sendo inclusive bastante fiel à sua história, apenas adicionando novos elementos. Uma produção conjunta entre Belvision, Grid Animation e M6 Films, com roteiro de Alexandre Astier, seria o primeiro desenho de Asterix em computação gráfica e em 3D, sendo bastante elogiado pela qualidade de sua animação, e um grande sucesso de bilheteria, superando, na França, sucessos da Disney como Enrolados e Frozen, e batendo em seu fim de semana de estreia seus dois principais concorrentes, Jogos Vorazes: A Esperança - Parte 1 e Interestelar.

Em 2018 seria a vez de Asterix e o Segredo da Poção Mágica (Astérix: Le Secret de la Potion Magique), mais um filme de animação em computação gráfica e em 3D, dessa vez com uma história inédita, escrita por Alexandre Astier e Louis Clichy, na qual, após cair de uma árvore, Panoramix fica preocupado como o que poderia acontecer com a aldeia caso ele, que é o único que sabe preparar a poção mágica, morresse de repente, e decide treinar um sucessor; ao ficarem sabendo, os romanos decidem aproveitar a oportunidade para conseguirem finalmente a fórmula da poção. Produzido pela M6 Films, o desenho seria mais um grande sucesso, embora não tão grande quanto seu antecessor, e teria como curiosidade o fato de que Asterix era dublado por Clavier.

Uderzo faleceria em março de 2020, também de ataque cardíaco, aos 92 anos, dormindo, em sua casa em Neuilly-sur-Seine. O primeiro álbum a ser lançado após sua morte será Asterix e o Grifo (Astérix et le Griffon), quinto e mais recente por Ferri e Conrad, previsto para ser lançado simultaneamente em 20 idiomas ainda esse mês, no qual Asterix, Obelix e Panoramix saem em busca de um grifo, animal lendário necessário para os estudos do druida. Também está em produção uma série animada de Asterix, a primeira do personagem, cujo enredo será inspirado em Asterix e a Grande Luta, com estreia prevista para 2023.

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