domingo, 9 de agosto de 2020

Escrito por em 9.8.20 com 0 comentários

Roque Santeiro

Hoje é dia de mais uma novela no átomo. Inicialmente, pensei em falar sobre mais uma novela das seis, porque aí ficaria com duas das sete, duas das oito e duas das seis, mas, enquanto escrevia sobre Sinhá Moça, fiquei com vontade de falar sobre mais uma que eu não assisti quando foi originalmente exibida, e sim quando foi reprisada: Roque Santeiro.

Quando Roque Santeiro estreou, eu tinha sete anos e estava na primeira série. Minha mãe não deixava nem eu nem minha irmã vermos novela das oito, que era "coisa de adulto", mas, aparentemente, as mães dos meus colegas de turma eram menos rígidas, porque todos eles assistiam e ficavam comentando o que tinha acontecido na novela na hora do recreio - inclusive, no dia seguinte à exibição do primeiro capítulo, uma menina perguntou quem o tinha assistido, um monte de gente levantou a mão, e eu, com vergonha, levantei também. Além de ouvir os "resumos" feitos pelos meus colegas, eu fiquei sabendo da história de Roque Santeiro através de duas adaptações feitas para os quadrinhos, uma numa revista da Turma da Mônica, outra numa do Recruta Zero - pois é, a novela foi um sucesso tão grande que até ganhou adaptações para revistas em quadrinhos infantis. Assistir Roque Santeiro, porém, eu só fui fazer bem mais tarde; achei que tinha sido no Vale a Pena Ver de Novo, mas, pesquisando para esse post, acabei descobrindo que foi quando a novela foi reapresentada na Sessão Aventura, entre 1991 e 1992 - e eu me lembro bem que foi nessa época, porque foi junto com Salomé e Vamp, e eu emendava as três; no Vale a Pena Ver de Novo ela foi exibida bem mais tarde, entre 2000 e 2001, e não me lembro de ter assistido de novo. Bom, seja como for, gostei muito da novela, de forma que ela merece ganhar um post aqui. Hoje é dia de Roque Santeiro no átomo.

O Roque Santeiro do título era um rapaz que, desde jovem, sempre teve grande habilidade para modelar santos, o que lhe valeu o apelido e a crença de seu pai de que ele tinha vocação religiosa, o que fez com que ele fosse praticamente obrigado a se tornar sacristão e a se inscrever no seminário. 17 anos antes do início da história, o bando do bandido Navalhada (Osvaldo Loureiro) invadiu a pacata cidade de Asa Branca, onde Roque nasceu e a novela é ambientada, e fez vários reféns na prefeitura, incluindo Roque. Durante uma confusão, todos os reféns fugiram, menos Roque, que teria ficado defendendo o novo ostensório que iria para a igreja, sido morto pelos bandidos, e tido seu corpo jogado no rio. Algum tempo depois, uma menina muito doente estava passando por esse mesmo rio, quando viu a imagem de Roque e ficou completamente curada, o que, para a cidade, seria a prova de que ele era um santo.

O "milagre" de Roque Santeiro colocaria Asa Branca no mapa, fazendo com que ela passasse a ser rota de peregrinação para fiéis de todo o Brasil. Imediatamente, os poderosos da cidade viram nisso uma forma de se dar bem, e enriqueceram explorando a imagem e a história de Roque. O problema é que a história real não é bem a que foi contada: cansado da vida no interior, sem vontade nenhuma de ser padre, com espírito aventureiro e o sonho de conhecer o mundo, Roque (José Wilker) aproveitou a confusão causada pelos bandidos e saiu da cidade, usando seus talentos de contar histórias e modelar estátuas para viajar pelo Brasil. O problema é que, agora, ele voltou, e ter um Roque Santeiro vivo não interessa àqueles que durante tantos anos lucraram com sua morte.

O principal oponente de Roque na cidade é Sinhozinho Malta (Lima Duarte), ambicioso fazendeiro cujas duas maiores paixões são as mulheres e o dinheiro. Vaidoso, Malta conta com uma coleção de perucas, só usa relógios banhados em ouro (os quais sacode enquanto profere seu bordão, "tô certo, ou tô errado?", junto ao som de um chocalho de cascavel), tem um avião particular, uma limusine, e seu maior sonho é construir um aeroporto em Asa Branca, o que colocará a cidade definitivamente no mapa. Malta enriqueceu explorando a imagem da Viúva Porcina (Regina Duarte), mulher um tanto ignorante, imensamente temperamental, mas que tem um faro como poucos para negócios. Segundo a lenda, Porcina teria se casado com Roque pouco antes de sua morte, e, graças a isso, se tornaria a figura mais famosa da cidade, sendo procurada por jornalistas e romeiros o ano inteiro; na verdade, entretanto, Porcina sequer conhecia Roque, e sua história foi inventada por Malta, que era seu amante (o que lhe rendeu a alcunha de "aquela que foi sem nunca ter sido"). Graças ao que ganhou com a história (e aos presentes que ganha de Malta), Porcina, que nasceu pobre e era balconista quando Malta a conheceu, se tornou uma das pessoas mais ricas da região - segundo alguns, atrás apenas do próprio Malta - fazendo questão de ostentar essa riqueza - e seu péssimo gosto para roupas, joias e objetos em geral. Agora viúvo, Malta planeja se casar com Porcina, mas ela acaba se apaixonando por Roque quando o conhece, formando um triângulo amoroso que é um dos principais destaques da novela.

Outro que é contra o retorno de Roque é o Padre Hipólito (Paulo Gracindo), rígido, brigão e sem papas na língua, mas paternal e tendo boas relações com todos da cidade, que teme que sua igreja, a mesma onde os bandidos se esconderam quando da "morte" de Roque, perderá prestígio e visitantes caso se comprove que a lenda era uma farsa. Financeiramente, quem teria mais a perder seria o empresário Zé das Medalhas (Armando Bógus), que se tornou milionário fabricando e vendendo lembrancinhas de Roque, como medalhinhas (daí seu apelido), camisetas, amuletos e esculturas, e agora planeja abrir um supermercado; Zé é casado com Lulu (Cássia Kis), que é ninguém menos que a menina que viu Roque e ficou curada, uma mulher jovem, bonita, que gosta de se maquiar e se vestir bem, mas é reprimida pelo marido, que a obriga a viver em casa como se fosse uma prisioneira. Zé e Lulu têm dois filhos, Tininha (Gabriela Bicalho) e Raul (Bruno César), e uma governanta, Sinhana (Lícia Magna), que secretamente vigia Lulu a mando do patrão.

Também não podemos descartar o prefeito, Florindo Abelha (Ary Fontoura), antes o barbeiro da cidade, que só se elegeu porque sua filha era namorada de Roque. Seu Flô, como é conhecido, é totalmente submisso à esposa, Pombinha (Heloísa Mafalda), mulher forte e dominadora que lidera as beatas da igreja em uma cruzada pela moral e os bons costumes. Sua filha, Mocinha (Lucinha Lins), sofreu imensamente com a suposta morte de Roque, e, após saber de seu "casamento" com Porcina, jurou jamais ser de outro homem novamente; Mocinha de vez em quando tem visões, mas sua mãe acha que ela é histérica. Finalmente, temos o próprio pai de Roque, Salustiano, conhecido como Beato Salu (Nelson Dantas), que era vaqueiro quando o filho "morreu", e, depois disso, se tornou místico, construiu um casebre no local da "morte" do filho que transformou em santuário, e passou a dar conselhos aos romeiros que o procuram, se tornando um líder espiritual bastante respeitado na comunidade.

A luta contra Roque se torna um evento secundário na agenda dos poderosos (afinal, ele tem que provar que é o Roque Santeiro), devido a dois outros eventos que estão ocorrendo na cidade quando de sua volta: primeiro, a misteriosa Matilde (Yoná Magalhães), forasteira de quem ninguém conhece o passado e dona da pousada Sossego, decide abrir a boate Sexus, o primeiro clube noturno de Asa Branca. Matilde e suas duas "meninas", Ninon (Claudia Raia) e Rosaly (Isis de Oliveira), se tornam o principal alvo da fúria das beatas comandadas por Pombinha, e têm no Padre Hipólito seu mais ferrenho opositor. Matilde tem um ex-marido, Ronaldo César (Othon Bastos), homem violento e mau-caráter de quem tentou fugir, e que, quando descobriu que ela estava em Asa Branca e fazendo dinheiro, decidiu ir atrás dela para explorá-la.

Segundo, um pouco antes de Roque chegar à cidade, é fechado um contrato para que sua história vire filme, e a equipe de produção também está em Asa Branca para filmá-lo. A equipe conta com o produtor Luisão (Alexandre Frota); a continuista Carla (Cláudia Costa); o diretor Gerson do Valle (Ewerton de Castro), que, ambicioso e perfeccionista, planeja fazer um filme digno de ganhar prêmios em festivais, e se sente frustrado por não conseguir executar suas ideias geniais; e os atores, dos quais os de maior destaque são Roberto Mathias (Fábio Jr.), o intérprete de Roque, um ator irresponsável, que decora suas falas momentos antes das gravações, chega frequentemente atrasado, vive inventado desculpas para não trabalhar e ir pra farra, e, mesmo sendo casado com Marilda (Elizângela), dá em cima de todas as mulheres da cidade, incluindo Porcina; e Linda Bastos (Patrícia Pillar), intérprete de Porcina, que fez fama na TV e agora deseja tentar uma carreira no cinema, mas é constantemente vigiada pelo marido, Tito França (Luiz Armando Queiroz), empresário ciumento que é contra sua participação.

Uma das figuras mais famosas de Asa Branca é o Professor Astromar Junqueira (Rui Resende), que escreveu a história da cidade em versos alexandrinos, é apaixonado por Mocinha, para quem sempre escreve sonetos apaixonados no jornal, e, supostamente, é um lobisomem, já que é extremamente pálido, só se veste de preto, e jamais foi visto fora de casa após a meia-noite nas noites de Lua Cheia. Podemos citar também o contraponto de Padre Hipólito, Padre Albano (Cláudio Cavalcanti), religioso progressista que anda de lambreta, não usa batina, participa de movimentos comunitários e quer convencer o colega mais velho a se adaptar aos novos tempos. Também merece destaque Tânia (Lídia Brondi), filha de Sinhozinho Malta com Margarida (Lílian Lemmertz, que aparece em flashbacks); criada no Rio, que voltou a Asa Branca após a morte de mãe, é totalmente contra o relacionamento de seu pai com Porcina, divide com a avó, Marcelina (Wanda Kosmo), a desconfiança de que Malta teria mandado matar Margarida, e acaba se envolvendo com Roberto Mathias.

Porcina possui uma "secretária" (na verdade, uma empregada que ela trata como se estivéssemos no século XIX e ela fosse uma criada) inseparável, Mina (Ilva Niño), sua confidente e cúmplice, a quem ela sempre chama com um grito ("Miiiiiiiiiinaaaaaaaaaaa", que também se tornaria um bordão da novela); seu segundo mais fiel empregado é Rodésio (Tony Tornado), a quem ela trata como escravo, o que o magoa e faz com que ele tenha sentimentos conflitantes. Dentre os empregados de Sinhozinho Malta se destacam o peão João Ligeiro (Maurício Mattar), irmão de Roque por parte de pai; a empregada Dondinha (Cristina Galvão), namorada de Ligeiro; o capataz Terêncio (Valdir Santana); a cozinheira Benedita (Wanda Alves); e a secretária do fazendeiro (essa sim uma secretária de verdade), Noêmia (Ana Luiza Folly).

Outros personagens que merecem ser citados são o Delegado Feijó (Maurício do Valle), que sempre sonhou ser ator, e é convidado para interpretar Navalhada no filme sobre a vida de Roque; seu assistente, o Cabo Zé Colmeia (Ivan Simões); o promotor público Lourival Prata (Milton Gonçalves); Toninho Jiló (João Carlos Barroso), guia de turistas que se aproveita da boa fé dos romeiros para vender objetos aleatórios que teriam pertencido a Roque; Jeremias (Arnaud Rodrigues), cego que conta a história de Roque em versos em frente à igreja, sempre acompanhado pelo menino Tiquinho (Malik dos Santos); Decembrino (Luiz Magnelli), porteiro da Pousada Sossego, que nasceu em 1º de Janeiro, mas sua mãe já tinha escolhido o nome e não queria mudar; Sua Majestade (Sandro Solviat), o louco da cidade, que sempre interrompe os discursos do prefeito aos gritos de "viva a monarquia"; e Oliveira (Fernando José), dono do jornal Gazeta Asabranquense. Antônio Pitanga faz uma participação especial como Cabra, matador de aluguel contratado por Malta para matar Roque; Cininha de Paula como Berenice, secretária de Malta no Rio de Janeiro; Dennis Carvalho como Tomazini, idealizador do filme sobre a vida de Roque; Cláudio Gaya e Jorge Fernando como os costureiros responsáveis pelo vestido de noiva de Porcina; Marcos Paulo como o motorista de Malta quando ele e Porcina vão aos Estados Unidos; Tonico Pereira como o pintor Antônio das Tintas; e Tarcísio Meira como o Coronel Emerenciano Castor.

Roque Santeiro foi escrita por Dias Gomes e Aguinaldo Silva, com colaboração de Marcílio Moraes, Joaquim de Assis e Lílian Garcia. Os primeiros 40 capítulos foram de autoria de Gomes, mas Aguinaldo assumiu integralmente a trama a partir do capítulo 41; por volta do capítulo 160, Gomes pediu para escrever a parte final da novela, e Aguinaldo se afastou. Com direção de Paulo Ubiratan, Jayme Monjardim, Gonzaga Blota e Marcos Paulo, e supervisão de Daniel Filho, a obra teve 209 capítulos, exibidos entre 24 de junho de 1985 e 22 de fevereiro de 1986. Foi a primeira novela de Dias Gomes a ser apresentada no horário das 8, com o autor, até então, só tendo escrito novelas para a faixa das 10, que existiu de 1965 a 1983.

Hoje é famosa a história de que Roque Santeiro, na verdade, era uma espécie de remake, já que a primeira versão da novela começaria a ser produzida dez anos antes, em 1975. Trinta capítulos da novela já haviam sido gravados quando a Censura Federal, órgão do governo militar que determinava quais produções poderiam ou não ir ao ar, percebeu que a novela era uma adaptação de uma peça de teatro também de autoria de Gomes, O Berço do Herói, que havia sido escrita em 1963 e vetada pela Censura anteriormente; após a descoberta, a Censura decidiria vetar também a novela, que teve sua produção interrompida imediatamente. O diretor do núcleo de dramaturgia, José Bonifácio de Oliveira, o Boni, teve de ser internado às pressas numa casa de saúde do Rio de Janeiro, com suspeita de infarto, e o diretor e ator Dennis Carvalho, que interpretava Roberto Mathias, sugeriu que todo o elenco e equipe de produção fossem até Brasília, tentar convencer o Presidente da República, Ernesto Geisel, a suspender a proibição. O encontro com o Presidente jamais aconteceu, mas a viagem do elenco sim, contando com a cobertura de vários jornais e canais de TV.

Para que não ficasse um buraco na programação, já que teria apenas três meses para produzir uma nova novela, a Globo optaria por exibir uma reprise em versão compacta de Selva de Pedra, novela de Janete Clair originalmente exibida em 1972, e chamar a própria Janete para, enquanto isso, escrever a seguinte. Ela escreveria Pecado Capital, que reaproveitaria grande parte do elenco e dos cenários da Roque Santeiro original, e, apesar de ter sido produzida às pressas, se tornaria um dos maiores sucessos da emissora. Duas curiosidades que merecem ser citadas: originalmente prevista para ser exibida após Escalada, de Lauro César Muniz, a versão original de Roque Santeiro seria a primeira novela das oito a ser filmada a cores, título que acabou ficando com Pecado Capital; e, após o final da versão de Roque Santeiro que efetivamente foi ao ar, em 1986, estrearia um remake de Selva de Pedra, com texto de Regina Braga e Eloy Araújo, até hoje o único remake a ser exibido na faixa das oito.

Em 1985, o Brasil já não vivia sob um governo militar, com o presidente José Sarney conduzindo a abertura democrática, o que possibilitou que o texto original de Roque Santeiro pudesse ser utilizado, sem a mudança de nenhum personagem ou nenhum elemento da história; alguns atores, porém, ou por já estarem dez anos mais velhos, ou por compromisso com outros trabalhos, teriam de ser trocados: Dennis Carvalho, que interpretaria Roberto Mathias, e Marcos Paulo, que seria Gerson do Valle, acabariam fazendo apenas participações especiais, com Marcos Paulo ainda atuando como um dos diretores da nova versão; Elizângela, que na versão original interpretava Tânia, pediu pessoalmente um papel ao diretor Paulo Ubiratan, e acabou ficando com o de Marilda Mathias; e Milton Gonçalves, que interpretava o Padre Hipólito na primeira versão, acabou sendo escalado para interpretar o promotor público, quando a direção da novela concluiu que seria melhor que Hipólito fosse um ator de mais idade. Francisco Cuoco, que na versão original interpretava Roque, estava envolvido com outros compromissos, e acabaria sendo substituído por José Wilker. Na versão original, a Viúva Porcina seria interpretada por Betty Faria, e sua substituição por Regina Duarte gerou muitas críticas, já que ela sempre interpretava mocinhas românticas que lhe renderam o apelido de "namoradinha do Brasil" - apesar disso, a interpretação de Regina para Porcina se tornaria memorável, e provaria que ela estava pronta para todos os tipos de personagens. Por não ser considerada ideal para o papel, Regina não seria a primeira escolha da produção, que pensaria em Sônia Braga, Vera Fischer, Marília Pêra e Fernanda Montenegro antes de decidir convidá-la. Lima Duarte, que interpretaria Sinhozinho Malta em ambas as versões, decidiria adotar um tom mais cômico na segunda, o que acabou se mostrando um grande acerto. Outros atores mantidos em seus papéis para a segunda versão foram João Carlos Barroso, Luiz Armando Queiroz e Ilva Niño.

Roque Santeiro seria a primeira novela de Maurício Mattar, Patrícia Pillar e Claudia Raia. O papel de Claudia era minúsculo, mas como ela frequentemente aparecia em cenas sensuais, acabaria sendo alçada ao status de sex symbol, posando nua para a revista Playboy e vendo sua carreira deslanchar após interpretar a personagem Tancinha na novela das sete Sassaricando, no ano seguinte. Outra que recebeu convite para posar nua na Playboy foi Yoná Magalhães, aos 51 anos, graças à sua ótima forma e a seu figurino, cheio de roupas colantes e sensuais.

A cidade cenográfica seria construída em Guaratiba, na zona oeste do Rio de Janeiro, em tempo recorde: em 20 dias, 180 trabalhadores construiriam 26 prédios de madeira, além de uma praça e um jardim. Algumas construções, como a barbearia e a igreja, além da fachada, tinham o interior montado para que as cenas internas pudessem ser gravadas lá mesmo ao invés de em estúdio. O maior destaque da cidade cenográfica era a Praça da Matriz, onde ficava a estátua de Roque Santeiro e as barraquinhas que vendiam suas lembrancinhas, cujo entorno foi montado por uma equipe de paisagistas usando apenas plantas artificiais.

O figurino dos personagens ficaria a cargo de Marco Aurélio e de seu assistente Lessa de Lacerda, que posteriormente se tornaria um dos mais prestigiados figurinistas da Globo; o destaque era o guarda-roupa de Porcina, repleto de vestidos justos de seda, chapéus, turbantes, sapatos de salto altíssimo, bijuterias e óculos exagerados, todos de cores berrantes e chamativas, que, junto com a maquiagem exagerada, compunham o visual característico da personagem. Já o visual de Sinhozinho Malta seria inspirado no do personagem J.R., do seriado norte-americano Dallas, com ternos chiques, chapéus de cowboy, colarinhos com biqueira de metal prateado, pulseiras, relógios e colares de ouro; o personagem seria responsável por um aumento de 80% nas vendas de perucas masculinas no país na época em que a novela estava no ar. O carro do fazendeiro, que trazia na frente dois enormes chifres de boi, também teria inspiração no estilo texano.

A abertura da novela ficaria a cargo de Hans Donner, e usava técnicas de chroma key e miniaturas para colocar veículos e pessoas sobre elementos da natureza, como um trator andando sobre uma espiga de milho, um carro de boi sobre uma banana, um navio navegando na asa de uma borboleta, ou uma moto subindo um coco - na cena final, um grande engarrafamento tomava conta do centro de uma vitória-régia. No logotipo da novela, a letra Q, de Roque, imitava uma auréola. A música da abertura foi Santa Fé, de Moraes Moreira, parte da primeira trilha sonora da novela - que, assim como toda novela de temática rural, teve duas, com a segunda passando a ser utilizada a partir da metade. As trilhas contariam com grandes nomes da música brasileira, como Dominguinhos, Chico Buarque, Wando, Simone, Zé Ramalho, Elba Ramalho, Fafá de Belém, Alceu Valença, Roupa Nova, Beth Carvalho, Ivan Lins, Nana Caymmi e Cauby Peixoto. Dona, do Roupa Nova, tema de Porcina, e Isso Aqui Tá Bom Demais, de Dominguinhos, tema de Sinhozinho Malta, se tornariam grandes sucessos.

Roque Santeiro é até hoje a novela de maior audiência da televisão brasileira, com média de 74 pontos de audiência - o último capítulo teve média de 96 pontos com picos de 100, o que significa que, em alguns momentos, todos os televisores ligados no Brasil estavam sintonizados na novela. O público da novela era tão alto que alguns políticos, em plena campanha eleitoral, remarcariam o horário de seus comícios, temendo que nenhum eleitor comparecesse por estar assistindo à novela. Experiência semelhante teve a atriz Cássia Kis, cuja peça de teatro Fedra, na qual contracenava com Fernanda Montenegro, estreou exatamente no dia do último capítulo da novela, o que levou a atriz a temer que ninguém comparecesse ao teatro. Até mesmo em sua primeira reprise, na Sessão Aventura, entre 1 de julho de 1991 e 3 de janeiro de 1992, a novela teria excelentes índices de audiência, chegando a 36 pontos, mais que as séries norte-americanas que costumavam ser exibidas no horário; a novela ainda seria reprisada uma segunda vez, entre 11 de dezembro de 2000 e 29 de junho de 2001, no Vale a Pena Ver de Novo.

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