"Esportes aéreos", como o plural do nome atesta, não é apenas um esporte, e sim um conjunto de treze esportes regulados pela Federação Aeronáutica Internacional (FAI). Como era de se esperar, não são todos os esportes "aéreos" que existem, mas somente aqueles dos quais a FAI estabelece as regras e organiza os campeonatos - o wingsuit, por exemplo, ainda não é regulado pela FAI, então não entra na conta. Sobre um desses esportes, o voo planado, eu já falei aqui, no segundo post sobre os esportes de demonstração, porque ele pertenceu a essa categoria nas Olimpíadas de 1936; evidentemente, não vai dar para falar sobre todos os outros doze hoje, de forma que darei preferência para os que já fizeram parte dos World Games - é provável, portanto, que no futuro eu faça uma segunda parte desse post. Por enquanto, apertem os cintos, pois hoje é dia de esportes aéreos no átomo!
Vamos começar pelo principal esporte aéreo nos World Games, o paraquedismo. O paraquedismo estreou nos World Games em 1997, em Lahti, Finlândia, e é o único esporte aéreo que fez parte de todas as edições do evento desde então - aliás, até a edição de 2013, ele era o único esporte aéreo do programa.
O paraquedas foi uma invenção do balonista francês André-Jacques Garnerin, que buscava criar um dispositivo de segurança que salvasse a vida dos passageiros em caso de queda do balão. Em 1797, corajosamente, ele pulou de um balão que sobrevoava Paris a 980 m de altura para testar sua invenção, e felizmente chegou de forma segura até o chão. Os primeiros paraquedas, porém, não eram como os de hoje, devendo ser carregados no fundo do balão e abertos pelos próprios paraquedistas, usando as mãos, no momento do salto; os paraquedas dobráveis, que cabem em mochilas e são abertos por cordas de segurança seriam invenções dos militares, que buscavam torná-los mais facilmente transportáveis, para ocupar menos espaço nas aeronaves, e mais fáceis de abrir, para facilitar seu uso em emergências. As primeiras competições de paraquedismo, que datam de 1939, também foram criação dos militares, e, no início, eram pouco mais que exibições de habilidade, com os paraquedistas demonstrando acrobacias antes de abrir seus paraquedas; as primeiras competições com regras bem definidas, jurados e participação de civis datam da década de 1950, com a primeira competição internacional de paraquedismo tendo sido realizada em Paris, em 1952, com a participação de paraquedistas de 12 países europeus.
Atualmente, a FAI reconhece dez modalidades do paraquedismo. A mais comum e mais famosa é a de precisão, na qual o objetivo é atingir uma espécie de alvo feito de lona e posicionado no chão, cujo centro é um círculo de 2 cm de diâmetro. O alvo possui sensores eletrônicos em toda a sua área, para determinar e exibir em um placar a qual distância o paraquedista tocou do centro quando pousou, sendo que, evidentemente, quanto mais perto do centro, mais pontos o paraquedista ganha; paraquedistas que não pousem sobre o alvo são desclassificados. Competições de precisão normalmente são disputadas em três fases, com os 25% mais bem colocados da primeira fase se classificando para as semifinais, os 50% mais bem colocados da semifinal se classificando para a final e aquele com a maior pontuação após a final sendo declarado campeão. Os pontos não são descartados após cada fase, o que significa que o campeão é aquele com mais pontos após somarem-se os pontos da fase classificatória, da semifinal e da final, e não aquele que pousou mais perto do alvo na final. A prova de precisão pode ser disputada de forma individual ou por equipes, sendo que cada equipe tem cinco paraquedistas que saltam do avião com intervalo de um minuto entre eles, somando-se os pontos de todos os integrantes da equipe para se determinar a equipe vencedora. A prova de precisão, tanto no individual quanto por equipes, é disputada no masculino e no feminino.
A precisão não é a modalidade mais antiga do paraquedismo; este posto pertence ao estilo, competição que remonta a o que os militares faziam quando o esporte do paraquedismo foi inventado. Em uma competição de estilo, após saltar do avião, e antes de abrir seu paraquedas, cada competidor deve realizar uma série de acrobacias simples, que incluem cambalhotas para a frente e para trás e giros ao redor do próprio eixo e ao redor do eixo da queda; a quantidade exata de cada movimento e a sequência na qual eles devem ser feitos são determinados pela organização do evento. Para determinar o vencedor, é considerado o tempo total que o paraquedista levou para realizar a sequência completa, com o tempo começando a contar quando ele inicia a primeira acrobacia e parando quando ele finaliza a última; erros durante as acrobacias são convertidos em tempo extra, somado ao tempo final do competidor. Normalmente a competição possui três fases, com os melhores da primeira passando para as semifinais e os melhores das semifinais fazendo a final, sendo os tempos das três fases somados para se determinar o vencedor - que, evidentemente, será aquele com o menor tempo.
A precisão e o estilo fazem parte do campeonato mundial mais antigo da FAI, chamado apenas de Campeonato Mundial de Paraquedismo, e realizado a cada dois anos desde 1954. Atualmente, o Mundial conta com as provas da precisão individual masculina, precisão individual feminina, precisão por equipes masculina, precisão por equipes feminina, estilo masculino, estilo feminino e com as provas do overall masculino e overall feminino, na qual as posições de cada competidor nas provas de precisão individual e de estilo são convertidas em pontos, que são então somados para se determinar o vencedor do overall.
A segunda prova mais comum é a do estilo livre, criada na década de 1980, também disputada no masculino e no feminino, de forma individual ou em duplas. Na prova do estilo livre, cada paraquedista (ou dupla) salta de uma altura entre 1.000 e 1.200 metros, e deve realizar acrobacias antes de abrir seu paraquedas, ganhando pontos por cada acrobacia bem sucedida. Todas as acrobacias válidas são sancionadas pela FAI utilizando critérios de segurança - descer com a cabeça apontando para o chão, por exemplo, é considerado inseguro, pois aumenta rapidamente a velocidade do paraquedista, e, portanto, faz com que ele perca pontos ao invés de ganhar. O vencedor da competição será aquele que obtiver a maior nota dos jurados, normalmente após duas fases de competição, uma classificatória e uma final, com as notas sendo somadas. Como é impossível os jurados saltarem junto com os paraquedistas, é usada uma equipe de cinegrafistas, com um cinegrafista saltando junto com cada competidor ou dupla, e as notas sendo atribuídas de acordo com as imagens dos vídeos.
O estilo livre possui uma variação considerada uma modalidade em separado pela FAI, conhecida como queda livre. As regras são as mesmas, mas, na queda livre, durante as acrobacias, os paraquedistas, além da posição tradicional, como se estivessem deitados no ar de barriga para baixo, também podem assumir as posições de costas (como se estivessem deitados no ar de barriga para cima), vertical (apontando a cabeça ou os pés para o chão) e sentada (como se os paraquedistas estivessem sentados em cadeiras invisíveis no ar). A queda livre é considerada a modalidade mais perigosa do paraquedismo, pois, além de o paraquedista alcançar grande velocidade, é praticamente impossível abrir o paraquedas fora da posição tradicional, para a qual o paraquedista sempre deve retornar ao final da apresentação.
Em seguida temos a prova de velocidade, também conhecida como sprint, criada na década de 1990 e disputada no masculino e no feminino. Nela, o paraquedista salta de uma altura entre 2.200 a 2.500 metros, tenta alcançar a maior velocidade possível nos primeiros 20 segundos, e então realiza uma série de dez acrobacias pré-determinadas pela organização do evento, devendo completá-las com perfeição antes do momento de abrir o paraquedas. Cada erro nas acrobacias resulta não em perda de pontos, e sim a tempo adicionado no tempo total que o paraquedista levou para realizar todas as acrobacias, que começa a contar do momento em que ele inicia a primeira e termina no momento em que ele abre o paraquedas. Provas de velocidade costumam ser muito, mas muito rápidas, com uma série de dez acrobacias sendo realizada, em média, em seis segundos; esse é também o esporte no qual um ser humano consegue alcançar a maior velocidade sem qualquer auxílio de propulsão externa, com os melhores paraquedistas chegando a 400 km/h. Competições de velocidade costumam ter uma fase classificatória e uma final, da qual participam os oito melhores tempos, sendo que os tempos não são somados, valendo para o título apenas o tempo da final. Para não fazer o coitado do cinegrafista saltar nessa velocidade toda, a prova de velocidade é filmada por uma câmera especial, montada no solo e que conta com um super zoom.
A prova mais bonita é a da formação, disputada por equipes masculinas, femininas e mistas, e criada na década de 1960. Nela, um grupo de paraquedistas salta do avião quase que simultaneamente; durante a queda, esses paraquedistas devem se aproximar uns dos outros, e, tocando seus braços e pernas, criar "desenhos" com seus corpos no ar. Os desenhos válidos também são determinados pela FAI, e, mais uma vez, levam em conta critérios de segurança; existem dois tipos de desenhos, os randoms, no qual os paraquedistas apenas se aproximam e formam o desenho, e os blocks, no qual os paraquedistas devem realizar movimentos específicos, chamados inters, enquanto entram em formação. Cada random bem sucedido vale um ponto, enquanto cada block vale dois pontos, um pela precisão dos inters e um pelo resultado final. Cada competição é composta de dez rodadas, com cada rodada sendo composta de blocks e randoms pré-determinados pela organização, diferentes a cada rodada, e sempre somando um total de 5 ou 6 pontos; cada equipe possui 35 segundos para realizar todos os blocks e randoms do programa, e, se sobrar tempo depois do último, pode recomeçar para pontos bônus - somando, portanto, mais de 5 ou 6 pontos a cada rodada. Os pontos de cada rodada são somados, e a equipe vencedora será aquela com mais pontos após a décima; em alguns torneios, a equipe com menos pontos é desclassificada após certas rodadas (normalmente da quinta ou da sexta em diante), com apenas as de melhor pontuação chegando à rodada final. Assim como no estilo livre e na queda livre, a pontuação é atribuída de acordo com a imagem dos vídeos dos cinegrafistas que saltaram junto com cada equipe.
A formação possui seis provas: na 4-way, competem grupos de quatro paraquedistas; na 8-way, grupos de oito; e, na 16-way, isso mesmo, grupos de dezesseis. Na 4-way vertical, ou VSF (de vertical formation skydiving, "paraquedismo de formação vertical") também competem grupos de quatro, mas os randoms e os blocks são diferentes, e fazem uso de posições verticais e sentadas, enquanto nas outras três provas só é usada a posição tradicional do paraquedismo. Na 10-way temos equipes de dez paraquedistas, mas também com regra diferente, com os randoms e blocks sendo livres e o objetivo sendo somar o maior número de pontos em 50 segundos. Finalmente, temos a Big-way, na qual o número de paraquedistas é aberto, e que funciona de forma diferente das demais porque não tem provas com rodadas e vencedores, apenas quebras de recorde - ou seja, uma equipe decide tentar um determinado random ou block, ou mantê-lo por um determinado tempo sem nenhum paraquedista se soltar, e, se conseguir, um novo recorde é estabelecido. Atualmente, o recorde de maior número de participantes em uma equipe de Big-way é de 400, que mantiveram um random por 4,25 segundos em fevereiro de 2006.
A formação possui seu próprio Mundial, o Campeonato Mundial de Formação, disputado a cada dois anos desde 1975 - até 2003 nos anos ímpares, desde 2004 nos anos pares, o que significa que a próxima edição será esse ano. No início, o Mundial tinha apenas provas de 4-way e 8-way masculinas, com a 4-way feminina estreando em 2001 e a 4-way vertical mista estreando em 2012. Desde 2006, também são disputadas no Mundial de Formação provas de estilo livre e queda livre mistas e de velocidade masculina.
A formação também possui uma variação considerada uma modalidade em separado pela FAI, conhecida como CReW, sigla para Canopy Relative Work, que, traduzido literalmente, significa "trabalho relativo de cobertura". A prova do CReW é basicamente uma prova de formação com os paraquedas abertos; os paraquedistas abrem seus paraquedas logo após saltar do avião, e formam randoms e blocks durante a descida. Por razões de segurança, cada paraquedista conta com dois paraquedas e uma faca, caso um se enrosque no paraquedas do outro e precise cortar as cordas para se livrar. A prova do CReW é disputada por duplas ou por equipes de quatro integrantes, existindo provas masculinas, femininas e mistas; também existem provas de "Big-way", com equipes numerosas tentando quebrar recordes.
Outra prova bastante popular é a de pilotagem. Nela, ao atingir determinada altitude, os paraquedistas abrem seus paraquedas não para descer na vertical, e sim para planar em direção a uma linha de chegada. Provas de pilotagem normalmente são realizadas sobre a água, e contam com pontos de checagem eletrônicos durante o percurso, que acusam a passagem do paraquedista por eles. Existem provas de pilotagem de quatro tipos: na de velocidade, existem apenas dois pontos de checagem, e o vencedor será aquele que completar o trajeto entre eles no menor tempo; na de distância, há apenas um ponto de checagem, e o vencedor será aquele que completar a maior distância depois que passar por ele, com a contagem se encerrando quando o paraquedista toca o chão; na de precisão, o paraquedista deve passar por um ou mais pontos de checagem e então pousar sobre um alvo, ganhando pontos de acordo com a distância do centro do alvo a qual tocou ao pousar, e sendo vencedor o que somar mais pontos; e, na de canopy, os paraquedistas devem passar por dois pontos de checagem, mas, entre um e outro, devem fazer acrobacias, que incluem tocar a água para deixar um spray atrás de si, sendo as acrobacias avaliadas por jurados, e se tornando vencedor aquele que obtiver a maior nota. As quatro provas também fazem parte do evento combinado, no qual o mesmo paraquedista compete nas quatro e sua performance é convertida em pontos usados para se determinar o campeão. Existem, também, competições de pilotagem por equipes, com cada equipe sendo composta de três paraquedistas, e seus tempos, distâncias ou pontos sendo somados para se determinar a equipe vencedora. A pilotagem também possui seu próprio mundial, o Campeonato Mundial de Pilotagem, disputado a cada dois anos desde 2006; atualmente, são disputadas no Mundial provas de velocidade, distância, precisão, canopy e combinado individuais, todas mistas.
Semelhante à pilotagem é a prova do cross country, na qual, assim como no CReW, os paraquedistas abrem seus paraquedas assim que saltam do avião, e, assim como na pilotagem, os usam para planar em direção à linha de chegada. A principal diferença do cross country para a pilotagem é que, no cross country, a linha de chegada está posicionada a quilômetros de distância do local do salto, e nem todo o percurso é feito sobre a água (na verdade, pode ser que nada do percurso passe por água). Os paraquedistas usam aparelhos de GPS e rádios para que se possa determinar com exatidão seu posicionamento durante a prova, e não a realizam um por vez, com grupos grandes saltando com intervalos de um minuto entre um paraquedista e outro. Antes de cada prova, os paraquedistas também devem estudar um mapa, para saber se estão no caminho correto ou não durante o salto. No final da prova, o vencedor será aquele que tiver realizado o percurso no menor tempo, com o tempo sendo contado do momento em que o paraquedista deixou o avião até o momento no qual ele passou pela linha de chegada.
Finalmente, temos o skysurfing, no qual o paraquedista salta com uma pequena prancha, semelhante a uma de snowboarding, presa aos pés. Assim como no estilo livre, durante a queda, ele deve realizar acrobacias, que são filmadas por um cameraman que salta junto com ele, e rendem pontos conferidos por juízes que assistem o vídeo. As acrobacias são próprias dessa modalidade e se assemelham às do surf, por isso o nome - de fato, durante o vídeo, o paraquedista parece estar surfando no ar, e não caindo. Por razões de segurança, a prancha possui um sistema que a ejeta caso o paraquedista esteja tendo dificuldades para descer com os pés presos a ela ou para pousar. O skysurfing foi criado em 1986 por dois franceses, Dominique Jacquet e Jean-Pascal Oron, mas somente começou a se popularizar no final da década de 1990; ele também possui seu próprio mundial, o Campeonato Mundial de Skysurfing, realizado a cada dois anos desde 1997.
O principal campeonato do paraquedismo são os Jogos Aéreos Mundiais, competição realizada a cada quatro anos desde 1997, criada para reunir todos os esportes da FAI, mas que, na prática, deixa alguns de fora. No caso do paraquedismo, são disputadas provas de precisão (individual masculino e feminino e equipes masculinas e femininas), estilo livre (mista), queda livre (mista), formação (4-way masculina, 4-way feminina, 8-way e VSF mistas), CReW (2-way e 4-way mistas), pilotagem (velocidade, distância, precisão, canopy e combinado individuais mistas e canopy por equipes mistas) e velocidade (masculina). Nos World Games, já fizeram parte do programa provas de precisão individual masculina, feminina e mista; estilo livre masculino, feminino e misto; formação 8-way mista; CReW 4-way mista; e pilotagem combinada mista.
O segundo esporte aéreo a estrear nos World Games foi o paragliding, que entrou no programa em 2013 - única edição da qual participou até agora, aliás. Muita gente acha que no paragliding os competidores planam usando um paraquedas, mas, na verdade, apesar da aparência semelhante, um paraquedas e um paraglider são artefatos bem diferentes. Verdade seja dita, o paraglider foi criado a partir do paraquedas, ou melhor, de ideias para se planar com paraquedas da mesma forma que era feito com asas delta, se jogando de um penhasco ao invés de saltando de um avião ou balão; os pioneiros do paragliding incluem a canadense Domina Jalbert, primeira a tentar realizar o feito, em 1952, e que construiu o primeiro protótipo de paraglider, o qual chamou de "parafoil", dez anos depois; o francês Pierre Lemoigne, que, em 1961, tentou combinar uma asa delta e um paraquedas no que chamou de "paracommander", usado para um esporte conhecido como parasail ou parascending, no qual o parasailer era empinado como uma pipa com um cabo preso a um carro ou barco e depois solto para planar; e o canadense Patrick Gilligan e o suíço Bertrand Dubuis, que, em 1985, em um livro de sua autoria sobre os princípios do parascending, criaram o termo paragliding - glide, em inglês, significa "planar", então, paragliding seria algo como "planar com um paraquedas".
Mas os inventores do paraglider usado hoje foram três amigos franceses, Jean-Claude Bétemps, André Bohn e Gérard Bosson, que, em 1978, criaram o que chamaram de parapente - nome que até hoje é usado na França e, algumas vezes, no Brasil, e vem do fato de que pente, em francês, significa "inclinação", uma alusão ao fato de que o paraglider desce em ângulo em direção ao chão. No primeiro teste, Bétemps saltou da Ponte de Pertuiset, em Mieussy, França, e planou por 100 metros. No segundo, Bohn, saltando da mesma ponte, percorreu mais de um quilômetro até aterrissar em um campo de futebol. A partir daí, a prática do paragliding se espalhou pela França, chegou a outros países, e, durante a década de 1990, passou por um surto de popularidade, acompanhado de aperfeiçoamentos que tornaram o esporte cada vez mais seguro.
A parte de cima do paraglider, que se parece com um paraquedas, é na verdade composta de duas camadas de nylon ou poliéster, ligadas de forma a criar células em seu interior; com a passagem do vento, essas células se enchem de ar, dando ao paraglider um formato de aerofólio, que é o que faz com que ele plane. O paraglider é ligado por cordas a uma espécie de cadeirinha feita de lona, que permite que o piloto assuma as posições de pé ou sentado a qualquer momento, inclusive durante o voo, e conta com amortecedores para o caso de um pouso de emergência. O paraglider mais a cadeirinha pesam em torno de 22 kg; um paraglider tem entre 20 e 25 m2 de área, entre 8 e 12 m de envergadura, e consegue alcançar até 75 km/h. Um paraglider perde um metro de altitude a cada 11 metros percorridos; para efeitos de comparação, um paraquedas planando perde um metro de altitude para cada três percorridos. Um paraquedas completo, com mochila e tudo, pesa entre 9 e 11 kg, mas sua área e envergadura dependem de vários fatores, como o peso do paraquedista, a altura do salto, a altitude na qual ele vai se abrir etc.
Existem vários métodos para a decolagem de um paraglider. O mais usual é se jogar de um penhasco - se jogar mesmo, sair correndo e cair pela borda, sem saltar - o que exige, evidentemente, um penhasco. Na falta de um, o paraglider pode ser empinado como uma pipa, com a ajuda de um barco (mas não um carro, o que é considerado extremamente inseguro e proibido pela FAI): o piloto começa dentro da água, com o paraglider aberto, e é puxado pelo barco até alcançar determinada altitude, quando solta o cabo e começa a planar - sendo este um dos métodos preferidos por quem pratica o paragliding como recreação na praia. Nos campeonatos da FAI, o método preferencial é levar os paragliders até uma determinada altitude com um helicóptero, com eles se jogando pela porta - mais uma vez, sem pular - e começando a planar.
A FAI reconhece duas modalidades do paragliding. A primeira é a precisão, que funciona da exata mesma forma da modalidade do paraquedismo: os paragliders saem de um ponto de partida e devem pousar em um alvo, sendo que, quanto mais perto do centro, mais pontos são conquistados, e quem tiver a pontuação maior é o campeão. A segunda modalidade é o cross country, uma espécie de corrida de paragliders, com os competidores tendo de sair de um ponto de partida, passar por de dois a seis pontos de checagem e pousar em uma linha de chegada, sendo vencedor aquele que conseguir fazer isso em menos tempo. A FAI também sanciona quebras de recorde, fora de campeonato; basta que o paraglider anuncie que vai tentar quebrar um recorde, estabeleça hora e local, e, se um delegado da FAI estiver presente, o novo recorde, caso ocorra, será tornado oficial. O atual recorde de maior distância percorrida pertence a três brasileiros, Donizete Baldessar Lemos, Rafael Monteiro Saladini e Samuel Nascimento, que, em 2016, percorreram 564,3 m.
O mais importante campeonato do paragliding é o Campeonato Mundial de Paragliding, realizado a cada dois anos desde 1989, e que conta com provas mistas de precisão e cross country. Desde 2004, anualmente, também é disputada a Copa do Mundo de Paragliding, apenas com provas cross country, com seis etapas ao longo do ano, nas quais os pilotos ganham pontos de acordo com sua colocação; só participam da sexta etapa (conhecida como superfinal) os seis pilotos com mais pontos após a quinta, sendo que o vencedor da superfinal é também o campeão daquele ano, independentemente do número de pontos que tinha até então. O paragliding também faz parte do programa dos Jogos Aéreos Mundiais desde a primeira edição, sendo que, nessa primeira edição, a única prova de paragliding do programa foi de cross country, mas, da segunda em diante, foi de precisão, sempre com provas mistas. Nos World Games de 2013, foram disputadas provas de precisão masculina e feminina.
O terceiro esporte a estrear nos World Games foi o ultraleve e paramotor. O paramotor foi criado pelo inglês Mike Byrne em 1980, e é essencialmente um paraglider, mas, atrás da cadeirinha, ele tem uma espécie de ventilador gigante, quase do tamanho do piloto, que atua como elemento de propulsão; esse ventilador é movido a gasolina, e tem autonomia de 4 horas. Um paramotor pesa entre 22 e 34 kg, e, assim como um paraquedas, sua área e envergadura dependem do peso somado do piloto com o ventilador. Graças ao ventilador, levantar voo com um paramotor é bem mais fácil que com um paraglider: basta correr com o ventilador ligado durante 10 ou 20 metros e dar um salto, deixando o paramotor ser levado pelo voo. Em voo, um paramotor alcança até 75 km/h.
Já o ultraleve é um avião de pequeno porte, que pese no máximo 472,5 kg, alcance a velocidade máxima de 65 km/h e tenha no máximo dois ocupantes. A grande maioria dos ultraleves é movida a gasolina, mas, recentemente, já começaram a ser produzidos ultraleves elétricos. Os ultraleves começaram a ser fabricados, muitos por seus próprios pilotos, na década de 1970, como uma forma de se ter um avião barato e usado para o lazer. As primeiras competições esportivas de ultraleve começariam na década de 1980, quando também surgiram os primeiros clubes de ultraleve, dedicados à reunião de seus pilotos e entusiastas. Existem centenas de modelos de ultraleves, mas, para uso em suas competições, a FAI sanciona apenas dois, o girocóptero e o trike. O trike é uma espécie de asa delta que, no lugar da armação onde o piloto segura, há uma carenagem com três rodas, assento para duas pessoas e uma hélice atrás, que atua como propulsor, enquanto o girocóptero é um pequeno helicóptero de carenagem aberta.
Independentemente de se é usado um paramotor, um girocóptero ou um trike, a prova é a mesma, e se chama slalom. Nela, o piloto deve percorrer um circuito de 2 km de extensão demarcado por postes infláveis por dentro dos quais o piloto deve passar. Cada piloto faz três passagens alternadas (não seguidas) pelo circuito, e os tempos são somados para se determinar o vencedor. Uma peculiaridade do circuito é que ele tem uma área de decolagem e uma área de pouso, onde a passagem tem de terminar; decolar após o fim da área de decolagem ou pousar fora da área de pouso, assim como voar abaixo da altitude mínima de segurança e falhar em passar pelos postes, resulta em tempo extra somado ao tempo final daquela passagem. Em provas de paramotor, apenas os 16 melhores após a segunda passagem disputam a terceira, conhecida como final. Existem provas de slalom individuais e por equipes de três integrantes cada, com seus tempos sendo somados para se determinar o tempo da equipe.
O Campeonato Mundial de Ultraleve e Paramotor, mais importante competição desse esporte, é disputado anualmente desde 1985. O esporte também está presente nos Jogos Aéreos Mundiais desde 1997, mas, no início, eram disputadas apenas provas de ultraleve, com o paramotor só tendo estreado em 2015; atualmente, fazem parte do programa três provas: paramotor, girocóptero e trike individuais. Nos World Games de 2017, única edição da qual esse esporte participou até agora, foi disputada apenas a prova do paramotor individual. Todas as provas de ultraleve e paramotor são mistas, com homens e mulheres competindo juntos.
Para terminar por hoje, vamos falar da aerobática, cujo nome é uma junção das palavras "aéreo" e "acrobática". A aerobática é a versão esportiva de uma apresentação da Esquadrilha da Fumaça, com cada piloto ou equipe realizando acrobacias e um painel de seis jurados atribuindo notas de acordo com a precisão e estética de cada uma, sendo vencedor o piloto ou equipe que obtiver a maior nota após a soma das seis. Durante a apresentação, cada aeronave deve permanecer dentro de um cubo imaginário de 1 km de lado, determinado por marcações no solo, perdendo pontos se sair dessa área de competição; os jurados se posicionam no solo, cada um entre 150 e 250 m dos limites desse cubo. Competições de aerobática costumam ser realizadas em duas fases, com os oito melhores da primeira fase retornando para a final com suas notas zeradas - ou seja, o melhor da final será o campeão, independentemente de sua nota na primeira fase.
A aerobática surgiu no início do século XX, quando alguns aventureiros decidiram comprar aviões de segunda mão e usá-los não para transporte ou guerra, mas para ganhar uns trocados espantando plateias com sua coragem e ousadia. Aos poucos os militares passaram a encorajar a aerobática em seus treinamentos, por acreditar que o conhecimento das arrojadas manobras poderia representar uma vantagem durante um conflito real; logo os próprios militares passaram a ter equipes permanentes de aerobática - como a já citada Esquadrilha da Fumaça, que é patrocinada pela Aeronáutica do Brasil - e daí foi uma questão de tempo até que as várias equipes de diferentes quartéis começassem a competir entre si para decidir qual era a melhor. As primeiras competições esportivas de aerobática abertas a civis datam da década de 1950.
A FAI só reconhece quatro modalidades da aerobática: propulsionada, planador, paraglider e paraglider duplas; algumas competições nacionais - e até mesmo algumas internacionais - têm provas de aerobática de asas delta e de helicópteros, mas estas são consideradas perigosas pela FAI. A aerobática propulsionada - aquela disputada com pequenos aviões, como os da Esquadrilha da Fumaça - possui cinco tipos de prova, de acordo com a experiência do piloto: Primária, Esportista, Intermediária, Avançada e Ilimitada; cada uma dessas provas possui acrobacias válidas diferentes, bem como diferentes velocidades máximas e altura da área válida de competição em relação ao solo - na prova Primária, a face inferior do cubo fica a 460 m do solo, enquanto na Ilimitada fica a apenas 100 m, o que significa que a dificuldade e o risco são bem maiores. A aerobática de planadores e paragliders possui apenas três tipos de prova, Esportista, Intermediária e Ilimitada. Também é importante registrar que todas as competições da FAI são individuais (exceto a paraglider duplas, que, obviamente, é em duplas), mas outros torneios costumam ter provas de duplas e de equipes que chegam a até 16 aviões.
Cada apresentação dura em torno de dez minutos, e todos os aviões devem deixar um rastro de fumaça colorida no ar durante as acrobacias; no caso dos paragliders, a fumaça é dispersada através de um dispositivo preso à parte de trás da cadeirinha. As provas Primária e Esportista não possuem final: cada piloto faz duas apresentações (normalmente uma por dia), com as notas de ambas sendo somadas para se determinar as notas finais e o vencedor; a primeira apresentação é feita com o chamado programa conhecido, que é determinado pela organização meses antes do início do campeonato, e todos os pilotos já sabem o que devem fazer antes de começar, enquanto a segunda é feita com o programa livre, no qual cada piloto pode combinar as acrobacias que quiser para criar sua apresentação, desde que elas constem da lista de acrobacias válidas da FAI. Provas de Intermediária, Avançada e Ilimitada possuem três apresentações na primeira fase (novamente, uma por dia), com as notas sendo somadas para se determinar os oito finalistas; a primeira apresentação é feita com o programa conhecido, a segunda com o programa livre, e a terceira com o programa desconhecido, que também é definido pela organização do torneio, mas só é divulgado para os pilotos 12 horas antes do início da prova, sendo que os pilotos podem estudá-lo, mas não podem treiná-lo antes de a apresentação começar. A final das provas Intermediária e Avançada também é feita com o programa desconhecido, mas a final da Ilimitada é feita com o programa de quatro minutos: durante esse tempo, cada piloto é livre para fazer as acrobacias que bem entender, mesmo que elas não estejam na lista da FAI. Muitas vezes, acrobacias criadas para o programa de quatro minutos se mostram tão populares que acabam adicionadas à lista da FAI para eventos futuros.
O principal torneio da aerobática é o FAI World Grand Prix, disputado anualmente desde 1990, e que conta com todas as 14 provas possíveis do programa da FAI. A aerobática também faz parte dos Jogos Aéreos Mundiais desde 1997; atualmente, todas as quatro modalidades da FAI estão presentes, mas, em todas as quatro, é disputada apenas a prova Ilimitada. Nos World Games de 2017, única edição com a participação da aerobática, foi disputada uma prova de planador Avançada. Todas as provas da aerobática são mistas, com homens e mulheres competindo juntos.
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