Esse ano, entretanto, acabei descobrindo que, mais de uma década depois, continua difícil encontrar informações sobre assuntos brasileiros, mas não tanto quanto antes, de forma que consegui escrever um post até bem legal sobre Senna. E, enquanto o estava escrevendo, fiquei com vontade de escrever sobre Piquet também. Piquet pode não ter sido tão genial ou tão idolatrado quanto Senna, mas é certamente um dos melhores pilotos da história, o que pode ser comprovado por seus três títulos mundiais de Fórmula 1 - mesma quantidade de títulos que Senna, aliás. Além disso, Piquet foi o primeiro brasileiro que eu vi ser campeão de Fórmula 1, em 1987, e, mesmo não indo muito com a cara dele na época por achá-lo marrento, é claro que eu ficava satisfeito quando ele ganhava também. Enfim, depois de abrir o baú dos posts sobre pilotos, achei que o mais lógico, depois de um post sobre Senna, seria fazer um sobre Piquet. E, por isso, hoje é dia de Nelson Piquet no átomo.
Nelson Piquet Souto Maior nasceu em 17 de agosto de 1952 no Rio de Janeiro, que, na época, era a capital do Brasil. Seu pai, Estácio, era médico, e sua mãe, Clotilde, dona de casa, e ele é o mais novo de quatro filhos do casal. Em 1960, sua família se mudaria para Brasília, a recém-inaugurada nova capital do país, onde Piquet cresceu; lá, seu pai seria Ministro da Saúde do governo do presidente João Goulart, deposto pelo regime militar em 1964.
Aos 11 anos de idade, Piquet começaria a praticar tênis, e logo conseguiria algum destaque em torneios voltados para sua idade. Ele já havia declarado à família sua vontade de se tornar piloto de kart, mas seu pai era contra, e desejava que ele se tornasse tenista profissional; para incentivá-lo, conseguiu uma bolsa de estudos em uma escola de ensino médio em Atlanta, nos Estados Unidos, e financiou uma viagem para a Califórnia, durante a qual Piquet teria a oportunidade de treinar contra vários tenistas norte-americanos já campeões em suas faixas etárias. Nada disso, porém, o seduziu, e, aos 14 anos, ele começaria a competir no kart escondido, usando o nome de Nelson Piket. Ele logo obteria muito sucesso, porém, e esconder sua nova carreira de seus pais se tornaria impossível; de início, seu pai parecia que iria aceitar a nova carreira do filho, mas, quando Piquet largou a faculdade de engenharia em 1974 para se dedicar integralmente às competições, seu pai decidiria que jamais o ajudaria com um centavo, devendo Piquet conseguir todo o dinheiro necessário para as competições sozinho.
Piquet seria campeão brasileiro de kart em 1971 e 1972, mas, a partir de 1974, tendo de arrumar um emprego em uma oficina mecânica para conseguir se sustentar e continuar competindo, veria seu desempenho cair nas pistas. Ele atrairia a atenção, entretanto, de Emerson Fittipaldi, brasileiro campeão mundial de Fórmula 1 em 1972 e 1974, que decidiria atuar como uma espécie de mentor para Piquet. Com a ajuda de Emerson, que inclusive financiaria a construção de seu carro, ele seria campeão brasileiro de Fórmula Super-V em 1976, e, no ano seguinte, se transferiria para a Europa, onde seria recebido como um prodígio do automobilismo. Em 1977, ele participaria de algumas provas do Campeonato Europeu de Fórmula 3, terminando em terceiro lugar, e, em 1978, disputaria o campeonato completo da Fórmula 3 inglesa, se sagrando campeão com oito vitórias, quebrando o recorde de sete estabelecido por Jackie Stewart em 1964, na época considerado inalcançável.
O bom desempenho de Piquet chamaria a atenção da equipe BS Fabrications, de Bob Sparshott, que corria na Fórmula 1 com um carro McLaren do ano anterior. Piquet faria um teste na BS, que acabaria optando por não contratá-lo; para fazê-los mudar de ideia, ele compraria um lugar na pequena equipe Ensign, pela qual faria sua estreia no Grande Prêmio da Alemanha de 1978, em Hockenheim. Piquet abandonaria essa corrida após 31 voltas com um problema de motor, mas deixaria uma impressão tão boa que Sparshott realmente mudaria de ideia e decidiria contratá-lo para correr ao lado do norte-americano Brett Lunger, até então piloto único da equipe. Piquet faria três corridas pela BS, abandonando na Áustria e na Holanda e chegando em nono na Itália. Sparshott, entretanto, ficaria tão satisfeito com o desempenho do brasileiro que, em uma entrevista, declararia estar disposto a apostar todo o seu dinheiro que Piquet seria campeão mundial em três anos.
O desempenho de Piquet também chamaria a atenção de Bernie Ecclestone, na época chefe da equipe Brabham, que decidiria contratá-lo, ainda em 1978, como terceiro piloto, junto ao austríaco Niki Lauda, campeão em 1975 e 1977, e ao irlandês John Watson; Piquet estrearia pela Brabham no GP do Canadá de 1978, no qual terminaria em 11o lugar. Em 1979, ele seria promovido a segundo piloto da equipe, disputando a temporada completa ao lado de Lauda; infelizmente, das 15 provas, ele abandonaria 11, incluindo o GP do Brasil, em Interlagos, conseguindo, entretanto, seus primeiros pontos da carreira no GP da Holanda, e fazendo a volta mais rápida no GP dos Estados Unidos, em Watkins Glen.
Em 1980, com a saída de Lauda, Piquet seria promovido a primeiro piloto da equipe, tendo como companheiros de equipe o argentino Ricardo Zunino nas sete primeiras corridas e o mexicano Héctor Rebaque no restante da temporada. Piquet já começaria o ano com um pódio, conseguindo o segundo lugar no GP da Argentina, e, em seguida, infelizmente abandonaria a corrida no Brasil, com problemas na suspensão; mas, após um quarto lugar na África do Sul, ele conseguiria sua primeira vitória, no GP dos Estados Unidos Oeste, em Long Beach. Piquet ainda conseguiria mais duas vitórias, na Holanda e na Itália, além de um segundo lugar na Inglaterra e um terceiro em Mônaco, terminando a temporada com o vice-campeonato, com 54 pontos, atrás do australiano Alan Jones, que corria pela Williams e somou 67.
A profecia de Sparshott se concretizaria em 1981 - exatamente três anos após ele proferi-la. Mais uma vez primeiro piloto da Brabham e colega de equipe de Rebaque, Piquet abandonaria quatro corridas e seria 12o no Brasil, em Jacarepaguá, onde largaria na pole position, mas marcaria pontos nas dez outras corridas do campeonato, sendo sete pódios: o terceiro lugar nos GPs dos Estados Unidos Oeste, da França e da Áustria, o segundo lugar na Holanda, e três vitórias, na Argentina, em San Marino e na Alemanha. Piquet se sagraria campeão com 50 pontos, um a mais que o argentino Carlos Reutemann, da Williams, vice-campeão com 49, e quatro a mais que Jones, que terminaria em terceiro com 46. Na última prova do ano, o GP de Las Vegas, disputado em um circuito improvisado construído no estacionamento do cassino Caesars Palace, Piquet conseguiria exatamente a quinta posição que precisava para ser campeão, mas, devido a problemas com o carro e a um intenso calor no dia da corrida, teve de ser retirado do carro e carregado para dentro dos boxes pelos mecânicos, de tão exausto que estava ao fim da prova.
A temporada de 1982 seria o ápice da chamada Guerra FISA-FOCA; basicamente, a FISA era um órgão ligado à Federação Internacional de Automobilismo, responsável pela organização das corridas, mas que, em 1979, decidiu que também seria responsável por legislar sobre assuntos como distribuição do dinheiro proveniente das cotas de televisão e permissão ou não para as equipes utilizarem inovações tecnológicas em seus carros, o que desagradou a FOCA, organização particular presidida por Ecclestone que cuidava dos interesses das equipes da Fórmula 1. A maioria das equipes, como Brabham, Williams, McLaren e Lotus, era filiada à FOCA, mas as três consideradas mais poderosas financeiramente (já que eram ligadas a montadoras), Ferrari, Renault e Alfa Romeo, não eram, e frequentemente ficavam ao lado da FISA. Isso fez com que as "equipes da FOCA" criassem uma antipatia pelas "equipes da FISA", que, por sua vez, consideravam as equipes da FOCA como baderneiras, o que se refletiria em várias acusações de trapaça e favorecimento indevido trocadas nas temporadas de 1980 e 1981.
A gota d'água (sem trocadilho, logo vocês vão entender o porquê) viria no GP do Brasil de 1982. Desde o início da década de 1980, já começariam a se popularizar na Fórmula 1 os motores turbo, mais leves e mais velozes que os aspirados usados por todos até então. Lideradas pela Renault, que os introduziria no final da década de 1970, as equipes da FISA seriam as primeiras a adotar motores turbo, e, para não ficar para trás em termos de desempenho, a Brabham conseguiria, para 1982, um contrato com a BMW, que iria substituir a Ford-Cosworth, fornecedora de motores da equipe em 1980 e 1981 (em 1978 e 1979, Piquet correu pela Brabham com motores aspirados Alfa Romeo). Na primeira corrida do ano, na África do Sul, entretanto, o motor turbo BMW se mostrou cheio de problemas, o que levaria ao abandono tanto de Piquet quanto de seu novo colega de equipe, o italiano Riccardo Patrese; diante disso, a Brabham decidiria voltar para os motores Ford-Cosworth para as três próximas corridas, os GPs do Brasil, Estados Unidos Oeste e San Marino, enquanto a BMW resolvia seus problemas de confiabilidade, com a equipe voltando a usar motores BMW a partir do GP da Bélgica, quinta corrida do ano.
No GP do Brasil, em Jacarepaguá, Piquet conseguiria sua primeira vitória em casa, mas seria desclassificado, assim como o segundo colocado, o finlandês Keke Rosberg, da Williams, com a vitória sendo atribuída ao terceiro na prova, o francês Alain Prost, da Renault. A desclassificação se daria devido a uma manobra dos carros da FOCA: como os carros com motores turbo eram mais leves que aqueles com motor aspirado, as equipes da FOCA decidiriam adicionar ao carro dois enormes tanques capazes de carregar 13 litros d'água cada, que teoricamente seria usada para resfriar os freios durante a corrida; ao longo da prova, porém, essa água seria despejada na pista, o que faria com que o carro ficasse aproximadamente 25 kg mais leve. Percebendo a manobra, após o fim da prova Renault e Ferrari entrariam com uma representação contra Brabham e Williams, alegando trapaça. Um mês após o fim da prova, a representação foi aceita e os tanques d'água foram considerados ilegais e proibidos, mas apenas Piquet e Rosberg foram desclassificados, com todos os outros carros que os usaram mantendo seus resultados, o que foi visto como favorecimento às equipes da FISA. Em protesto, Brabham, Williams, McLaren e Lotus decidiriam boicotar o GP de San Marino, se recusando a participar até mesmo dos treinos, o que fez com que a corrida contasse com apenas 14 carros. Após esse boicote, uma série de acordos propostos pela FISA faria com que as animosidades entre as equipes da FISA e da FOCA diminuíssem gradativamente, até se extinguirem por completo no ano seguinte.
Seja como for, Piquet faria uma péssima temporada em 1982, abandonando nove das 16 corridas - mais a desclassificação no Brasil, o boicote em San Marino, e uma vergonha no GP dos Estados Unidos Leste, em Detroit, para o qual nem conseguiu se classificar durante os treinos - e conseguindo apenas dois pódios, uma vitória no GP do Canadá e um segundo lugar no GP da Holanda. Ele terminaria o campeonato, vencido por Rosberg, em 11o lugar, com apenas 20 pontos. Poderiam ter sido mais, se, no GP da Alemanha, não tivesse ocorrido um incidente insólito: Piquet liderava com folga, quando, na volta 18 de 45, iria ultrapassar e colocar uma volta de vantagem sobre o último colocado, o chileno Eliseo Salazar, da ATS. Durante a manobra, Salazar alegou não ter visto Piquet e jogou o carro para cima dele ao fazer a tomada da curva, fazendo com que os dois colidissem e abandonassem. Piquet ficaria tão furioso que partiria para cima de Salazar assim que ambos saíssem de seus carros, atingindo-o com vários socos e chutes, ambos ainda de capacete, até que os fiscais chegassem para apartar a briga. Talvez pelos motivos errados, esta, hoje, é uma das imagens mais repetidas da Fórmula 1.
Piquet daria a volta por cima em 1983, ano no qual conquistaria seu segundo título mundial - o primeiro conquistado por um carro com motor turbo, e primeiro e único título da BMW até hoje na Fórmula 1. Ele começaria a temporada com sua primeira vitória válida no GP do Brasil, e, após abandonar os GPs dos Estados Unidos Oeste e de San Marino, conquistaria o segundo lugar na França e em Mônaco. Piquet também seria segundo lugar na Inglaterra, terceiro na Áustria e na África do Sul, e obteria vitórias na Itália e no GP da Europa, em Brands Hatch, Inglaterra. Piquet terminaria o campeonato com 59 pontos, dois à frente de Prost.
Em 1984, Patrese se transferiria para a Benetton, e Piquet teria como colega de equipe o italiano Teo Fabi, substituído por seu irmão Corrado Fabi nos GPs de Mônaco, Canadá e Estados Unidos Oeste, em Dallas, e pelo alemão Manfred Winkelhock no GP de Portugal. O regulamento proibiu o reabastecimento durante as corridas, e, na teoria, Piquet seria o favorito ao título, pois o motor BMW alcançava maior potência com menos combustível que os rivais. Nos treinos, isso até chegou a se concretizar, com Piquet conseguindo nove poles e igualando o recorde estabelecido por Lauda e já igualado pelo sueco Ronnie Peterson, mas, durante as corridas, ele sofreria com muitas quebras de motor e abandonos, e o domínio seria da McLaren, com um novo carro equipado com motores Porsche, que deu o terceiro título mundial a Lauda. Piquet abandonaria nove das 16 provas, incluindo o GP do Brasil, e só conseguiria duas vitórias, no GP dos Estados Unidos Leste e no GP do Canadá, onde um problema com o radiador causou superaquecimento do pedal do acelerador, abrindo um buraco na sapatilha do piloto e causando queimaduras de segundo grau em seu pé direito, o que fez com que ele tivesse de ser carregado, descalço, para o pódio; além de um segundo lugar na Áustria e de um terceiro no GP da Europa, em Nürburgring, Alemanha. Piquet terminaria em quinto lugar no campeonato com 29 pontos, 43 a menos que Lauda.
Piquet começaria a temporada de 1985 tendo como colega de equipe o francês François Hesnault, mas, após quatro provas, este seria substituído pelo suíço Marc Surer. O carro da Brabham se mostraria, desde o início, pouco competitivo, e Piquet teria novamente uma temporada de nove abandonos; dessa vez, porém, ele teria apenas uma vitória, no GP da França, e conseguiria apenas mais um pódio, um segundo lugar no GP da Itália, na primeira vez em que estaria junto no pódio com Senna, que chegou em terceiro. Insatisfeito, ainda durante a temporada ele decidiria negociar com outras equipes, e quase fecharia contrato com a McLaren (para ser colega de Prost, ora vejam só), se decidindo, porém, pela Williams, que lhe ofereceria um salário três vezes maior que o que ganhava na Brabham, além de contar com o motor turbo Honda, um dos melhores da categoria. O campeonato de 1985 acabaria vencido por Prost na McLaren com 73 pontos, com Piquet terminando em oitavo com 21.
Piquet passaria dois anos na Williams, e em ambos teria como companheiro de equipe o inglês Nigel Mansell. Quando Piquet assinou com a Williams, Mansell ainda não era considerado um piloto de ponta, e Piquet, segundo ele mesmo, tinha um contrato verbal com Frank Williams, o chefe da equipe, de que o brasileiro seria o primeiro piloto; no início de 1986, entretanto, Frank Williams sofreria um sério acidente de carro que o deixaria paraplégico e faria com que ele não pudesse estar presente nos boxes durante a primeira metade da temporada, sendo substituído por Patrick Head. Além de diretor técnico da Williams, Head era o engenheiro do carro de Mansell, o que fez com que o inglês tivesse um certo favorecimento por parte da equipe nas primeiras provas. Piquet não se conformou com isso, e terminou o campeonato argumentando que, se ele tivesse sido o primeiro piloto, com Mansell ajudando-o ao invés de disputando o título contra ele, ele teria ganhado o título de maneira fácil; ao invés disso, com as vitórias da Williams divididas entre Piquet e Mansell, o título acabaria ficando mais uma vez com Prost, que se tornaria o primeiro piloto desde Jack Brabham em 1959 e 1960 a ganhar dois campeonatos consecutivos - a McLaren de Prost era considerada inferior aos Williams, mas, mesmo assim, ele terminaria o campeonato com 72 pontos, contra 70 de Mansell e 69 de Piquet. Curiosamente, Piquet ganharia quatro corridas em 1986 - Brasil, Alemanha, Hungria e Itália - algo que ele não conseguiu fazer em nenhuma das duas temporadas em que foi campeão, além de conseguir o segundo lugar em San Marino, Inglaterra e Austrália, e o terceiro lugar no Canadá, na França e em Portugal. Vale citar também que, no GP da Hungria de 1986, Piquet faria, sobre Senna, aquela que hoje é considerada por muitos como a ultrapassagem mais bonita da história da Fórmula 1, praticamente deslizando de lado em uma curva fechada.
Vendo que brigar contra Mansell fora das pistas era infrutífero, Piquet, em 1987, se concentraria no desenvolvimento do carro e em garantir que ele somasse mais pontos que o colega e rival. Após começar o ano com o segundo lugar no Brasil, Piquet sofreria um sério acidente durante os treinos para o GP de San Marino, batendo em alta velocidade contra o muro na curva Tamburello - a mesma na qual Senna faleceria em 1994 - e sofrendo uma concussão; proibido pelo Dr. Sid Watkins de participar da corrida, Piquet atuaria como comentarista para a TV italiana, e veria uma pole de Senna e uma vitória de Mansell. Em seu retorno, no GP da Bélgica, ele abandonaria, mas, depois disso, conseguiria uma sequência de nove pódios seguidos: segundo lugar em Mônaco, Estados Unidos, França e Inglaterra, vitórias na Alemanha e na Hungria, segundo lugar na Áustria, vitória na Itália e terceiro lugar em Portugal - após um quarto lugar na Espanha, ele ainda seria segundo no México. Essa sequência permitiu com que ele, mesmo com a metade das vitórias de Mansell - três do brasileiro contra seis do inglês - somasse mais pontos, terminando o campeonato com 73, contra 61 do Leão. Assim, Piquet se tornaria o primeiro brasileiro tricampeão mundial de Fórmula 1.
Insatisfeito por nunca ter sido o primeiro piloto conforme prometido, e com a notícia de que a Honda deixaria a Williams, que passaria a usar um motor Judd, Piquet decidiria assinar com a Lotus, que ainda correria de Honda, para 1988. O carro da Lotus, porém, tinha sérios problemas de chassis, e, como Senna estava ascendendo como principal piloto brasileiro, a carreira de Piquet entraria na descendente. Ele não conseguiria nenhuma vitória em 1988, tendo como melhores colocações terceiros lugares no Brasil, em San Marino e na Austrália; irritado, começaria, nas entrevistas, a atacar seus rivais, principalmente Senna (a quem comparou com um motorista de táxi) e Mansell (dizendo, inclusive, que a esposa do inglês era feia), o que logo lhe renderia fama de falastrão. Piquet terminaria a temporada de 1988 com apenas 22 pontos em sexto lugar, bem atrás do campeão Senna, que somou 90. E, por incrível que pareça, a temporada de 1989 seria ainda pior: com a Lotus tendo de trocar os motores Honda pelos Judd, Piquet e o japonês Satoru Nakajima, seu colega de equipe nesses dois anos, praticamente brigavam com o carro na pista, tanto que nenhum dos dois conseguiria se classificar nos treinos para o GP da Bélgica, na segunda vez em sua carreira em que Piquet não conseguiria a classificação para um GP. Piquet não conseguiria nenhum pódio, tendo como melhor resultado o quarto lugar nos GPs do Canadá, Inglaterra e Japão, e terminaria o campeonato em oitavo lugar com 12 pontos.
No final da temporada de 1989, a Lotus anunciaria que usaria motores Lamborghini para 1990, o que desagradou Piquet, levando-o à decisão de não renovar com a equipe. Como todas as equipes de ponta já haviam definido seus dois pilotos para a próxima temporada, Piquet viu como sua única opção a Benetton, que usava motores Ford, e só aceitou assinar com o brasileiro caso ele aceitasse receber por resultado, e não um salário fixo, o que ele acabou aceitando para não ficar um ano sem correr. Surpreendentemente, mesmo em um carro teoricamente inferior, Piquet mostrou ainda ser um excelente piloto, pontuando em 12 das 16 corridas do ano. Nas 14 primeiras, seu colega de equipe seria o italiano Alessandro Nannini, mas, após um acidente de helicóptero no qual perdeu o braço direito, ele seria substituído nas duas últimas provas pelo brasileiro Roberto Moreno, indicado por Piquet. Essas duas últimas provas, aliás, seriam o ponto alto da temporada de Piquet: até então, seus melhores resultados haviam sido um segundo lugar no Canadá e um terceiro na Hungria, mas Piquet conseguiria a vitória no Japão e na Austrália, com direito a uma dobradinha brasileira (Piquet em primeiro e Moreno em segundo) em Suzuka e a um emocionante duelo contra a Ferrari de Mansell em Adelaide. Graças a essas duas vitórias, Piquet terminaria o ano com 43 pontos, na terceira posição do campeonato, atrás apenas de Senna, campeão com 78, e de Prost com 71.
A boa temporada de Piquet garantiria uma renovação com a Benetton com salário fixo; ele seguiria tendo Moreno como colega de equipe, mas apenas nas 11 primeiras provas, pois, para as cinco últimas, a equipe quis dar uma chance a um novato promissor - um alemão chamado Michael Schumacher. A temporada de 1991 não foi tão boa quanto a de 1990, porém, com Piquet conseguindo apenas uma vitória, no GP do Canadá (a última de sua carreira), além do terceiro lugar nos Estados Unidos e na Bélgica. No fim, ele somaria 26,5 pontos e terminaria em sexto lugar. No final da temporada, ele chegou a negociar com a Ferrari, mas, já próximo de completar 40 anos, e à frente de vários negócios como empresário, decidiria se aposentar da Fórmula 1.
Após se aposentar da Fórmula 1, Piquet aceitaria um convite da equipe Menards para tentar se classificar para as 500 Milhas de Indianápolis de 1992; durante os treinos, entretanto, um furo no pneu faria com que ele se chocasse em alta velocidade contra o muro, quebrando as duas pernas. Ele tentaria novamente em 1993, e conseguiria se classificar, largando na 13a posição, mas, com problemas de motor, acabaria abandonando na volta 38, após percorrer 95 milhas.
Piquet também competiu nas 24 Horas de Le Mans em 1996, pilotando um McLaren GTR para a equipe Bigazzi junto ao venezuelano Johnny Cecotto e ao norte-americano Danny Sullivan, terminando em oitavo lugar; e em 1997, também pilotando um McLaren GTR, mas para a equipe Schnitzer, junto ao finlandês J.J. Lehto e ao inglês Steve Soper, abandonando após Lehto se envolver em um acidente. Por duas vezes, Piquet foi campeão das Mil Milhas Brasileiras, disputadas no autódromo de Interlagos: em 1997, pilotando um McLaren GTR com Cecotto e Soper; e em 2006, junto a seu filho Nelsinho, ao piloto brasileiro da Fórmula Indy Hélio Castroneves e ao francês Christophe Bouchut, pilotando um Aston Martin DBR9, na última prova profissional que disputou. Enquanto corria na Fórmula 1, Piquet também disputou duas vezes os 1.000 km de Nürburgring, em ambas pilotando um BMW M1 para a equipe BMW ao lado do alemão Hans-Joachim Stuck, chegando em terceiro lugar em 1980 e vencendo a prova em 1981.
Atualmente, Piquet trabalha principalmente como empresário, enquanto acompanha a carreira dos filhos Nelsinho e Pedro - ao todo, Piquet teve sete filhos: Geraldo, com sua primeira esposa, Maria Clara; Nelson Ângelo, Kelly e Júlia, com a holandesa Sylvia Tamsma; Laszlo, com a belga Katherine Valentin; e Pedro Estácio e Marco com a atual esposa, Viviane. Nelson Ângelo, conhecido como Nelsinho, compete sob o nome de Nelson Piquet Jr., competiu na Fórmula 3 sul-americana, na Fórmula 3 inglesa, na Fórmula 3 europeia e na GP2 pela equipe Piquet Sports, montada por seu pai especialmente para sua carreira; foi piloto da Fórmula 1 pela Renault em 2008 e 2009; competiu entre 2010 e 2016 em várias categorias da NASCAR; e, desde 2014, disputa a Fórmula-e, destinada a carros elétricos, tendo sido campeão da temporada 2014/2015. 2014 também foi o ano no qual Pedro Piquet começou sua carreira na Fórmula 3 Brasil; atualmente, ele disputa a Fórmula 3 europeia.
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