segunda-feira, 29 de agosto de 2016

Escrito por em 29.8.16 com 0 comentários

Salvamento

No programa dos World Games, há um esporte chamado salvamento. O salvamento é um esporte, de certa forma, diferente. Primeiro porque ele é regulado pela Federação Internacional de Salvamento de Vidas (ILS, da sigla em inglês), que não é uma federação esportiva, e sim uma organização internacional devotada à prevenção de afogamentos, conscientização do uso responsável da água para o lazer, e treinamento de salva-vidas, realizando palestras, seminários e cursos sobre o tema, e tendo como filiadas diversas entidades nacionais que treinam e congregam salva-vidas. Segundo, porque o salvamento é, justamente, praticado em sua maioria pelos salva-vidas, seja como treinamento, seja como lazer - até onde eu pude descobrir, não existem atletas competindo em provas internacionais de salvamento que não trabalhem também como salva-vidas. Apesar dessa certa exclusividade, o salvamento é um esporte interessante, inclusive de se assistir; por causa disso, já há algum tempo que eu penso em fazer um post sobre ele, e será hoje.

As origens do salvamento podem ser traçadas até 1774, quando surgiu a primeira organização dedicada a salvar vidas de pessoas que se aventuravam no mar, a inglesa Royal Humane Society, que contava com voluntários que ficavam de prontidão em portos e cidades costeiras da Grã-Bretanha, para oferecer socorro a pessoas que caíssem no mar e não conseguissem retornar sozinhas, além de aplicar primeiros socorros e procedimentos de ressuscitação para os que se afogassem. Inspirada pela Royal Humane Society, surgiria nos Estados Unidos, em 1786, a Massachusetts Humane Society, que prestava o mesmo papel nos portos e cidades costeiras do estado de Massachusetts. O trabalho da organização, sem dúvida, era importantíssimo, mas seu alcance, principalmente por questões financeiras, ainda era limitado; isso começaria a mudar em 1848, quando o Governo Federal dos Estados Unidos decidiria passar a custear serviços de salva-vidas em todo o país, oferecendo não somente o treinamento, mas também todo o equipamento necessário para que os salva-vidas efetuassem seu trabalho - mas não salários, já que a atividade de salva-vidas ainda era voluntária. Por todo litoral do país surgiriam "clubes" de salva-vidas semelhantes aos usados pela Massachusetts Humane Society, mas de responsabilidade da United States Revenue Cutter Service, o órgão alfandegário dos Estados Unidos responsável então pela entrada no país pelo mar - desativado em 1915, quando suas funções passariam para a Guarda Costeira.

Enquanto isso, surgiriam na Europa diversas outras organizações nacionais devotadas a salvar vidas no mar, algumas custeadas pelo governo, outras por entidades privadas, outras poucas por seus próprios membros. Em 1910, as organizações nacionais da Bélgica (a primeira a surgir após a da Grã-Bretanha, em 1838), Dinamarca, Suécia, França, Alemanha, Turquia, Rússia, Itália e Espanha se uniriam e fundariam a primeira Federação Internacional de Salvamento de Vidas, que, então, usava a sigla de seu nome em francês, FIS. A Royal Humane Society e o governo dos Estados Unidos, entretanto, não concordavam com muitos pontos do regulamento adotado pela FIS, e se recusaram a se filiar a ela. Somente em 1971 é que Grã-Bretanha e Estados Unidos, junto a Austrália, Nova Zelândia e África do Sul, passariam a fazer parte de uma organização internacional, mas não a FIS, já que eles decidiriam fundar a sua própria, a World Life Saving (WLS). Ter duas entidades internacionais regulando a mesma coisa nunca é uma boa ideia, porém, e, no início da década de 1980, FIS e WLS começaram negociações para se tornarem uma única entidade; essas negociações se concluiriam em 1993, quando FIS e WLS se fundiriam, se transformando na ILS, que hoje conta com mais de 100 entidades filiadas representando 85 países, incluindo o Brasil, representado pela Sociedade Brasileira de Salvamento Aquático. Graças à parte esportiva do salvamento, a ILS é filiada à SportAccord, sendo o salvamento um dos esportes reconhecidos pelo COI, o que lhe dá a chance de, um dia, ser incluído nas Olimpíadas, embora essa possibilidade seja extremamente remota.

A parte esportiva do salvamento, aliás, surgiu quase que simultaneamente às suas organizações, já que os voluntários estavam frequentemente criando exercícios com os quais podiam treinar e se manter sempre preparados para qualquer eventualidade, e não demoraria muito para que começassem a competir entre si para tentar provar quem era o melhor nesses exercícios. Já na fundação da FIS, em 1910, os países-membros se comprometeram a organizar e participar de um Campeonato Mundial, do qual constariam provas devidamente reguladas pela FIS, para que pudessem ser praticadas por todos eles com as mesmas regras.

O primeiro Campeonato Mundial da FIS, entretanto, só ocorreria em 1955, em Paris, França, com a participação de 16 países e todas as provas disputadas em piscinas. No ano seguinte, paralelamente às Olimpíadas de Melbourne, Austrália (país que não era membro da FIS), a Royal Life Saving Society australiana organizaria um torneio de salvamento na cidade de Torquay Beach, com a participação apenas de países não-filiados à FIS, e todas as provas disputadas no mar. O Mundial da FIS permaneceria apenas com provas de piscina; ele seria anual até 1969 (embora não tenha sido disputada a edição de 1965), disputado a cada dois anos de 1972 a 1983 (pulando a de 1980 para passar para os anos ímpares ao invés dos pares), então a cada quatro anos até 1995, quando foi disputada sua última edição, já depois da criação da ILS. Paralelamente a isso, a WLS também organizaria seu próprio Mundial, que contava com provas de piscina e de praia, disputado pela primeira vez em 1974, então em 1981, 1983, 1988, 1990 e 1994. O Mundial da ILS, que é o atual, é disputado a cada dois anos desde 1996, também com provas de praia e piscina. A ILS considera todas as edições dos Mundiais da FIS e da WLS (e até mesmo a australiana de 1956) como edições oficiais do Mundial de Salvamento, e seus campeões como Campeões Mundiais. Vale dizer também que o Campeonato Mundial de Salvamento é conhecido como Rescue ("resgate") - nome que a WLS começou a usar para ele em 1988 - com cada edição identificada pelo nome Rescue seguido do número do ano em questão - o desse ano, por exemplo, é o Rescue 2016.

Atualmente, a ILS regula 34 provas diferentes do salvamento, divididas em cinco modalidades: piscina, praia, surf boat, Competição de Resposta de Emergência Simulada (SERC, sigla de seu nome em inglês) e Bote Inflável de Resgate (IRB, mais uma vez de seu nome em inglês). Esse não seria um post do átomo se eu não fosse falar um pouquinho sobre cada uma delas, então vamos lá, começando pelas provas de piscina.

Vamos começar pela natação com obstáculos, que é idêntica a uma prova de natação estilo livre, com a diferença de que a piscina tem dois obstáculos, que se parecem com telas presas às raias, que impedem que o competidor passe por eles com a cabeça e os braços saindo da água, obrigando-o a mergulhar e passar por baixo. As barreiras têm 5 cm de largura por 3 metros de altura, o que significa que, dependendo da profundidade da piscina, os competidores têm que encostar os pés no fundo para tomar impulso e subir novamente sem perder velocidade. A piscina usada é sempre a de 50 metros, com uma barreira posicionada a 15 m de cada borda. A ILS regula três provas de natação com obstáculos: a dos 100 metros natação com obstáculos (na qual cada competidor passa por quatro barreiras, duas na ida e duas na volta), a dos 200 metros natação com obstáculos (oito barreiras) e a do revezamento 4 x 50 metros natação com obstáculos (na qual cada competidor só passa por duas barreiras, já que só precisa completar uma piscina).

Em seguida temos as provas de manequim. O manequim em questão representa uma pessoa afogada, mas é de cor laranja, para melhor visualização pelo público, e não possui braços ou pernas, apenas o tronco e a cabeça. Ele é feito de um material que se enche de água facilmente, ou seja, o competidor deve manter uma velocidade constante, ou o manequim ficará mais e mais pesado. Também é importante que o competidor carregue o manequim como se fosse uma pessoa, ou seja, com a cabeça do manequim estando sempre para fora da água e sem usar posições ou movimentos que poderiam "machucá-lo" - nada de passar o braço pelo pescoço do manequim ou puxá-lo pela cabeça, por exemplo. Quando não estão carregando o manequim, os competidores costumam usar o nado crawl, mas, quando estão com eles, alguns usam o nado de costas, pois neste estilo é mais fácil carregar o manequim conforme as regras. As provas com manequim são disputadas na piscina de 50 metros.

A ISL regula quatro provas de manequim. Na 50 metros carregando o manequim, o manequim está no fundo da piscina, bem na metade do caminho; cada competidor, portanto, nada 25 metros, mergulha, pega o manequim, sobe com ele e o carrega durante os 25 metros restantes. A segunda prova é a do 100 metros carregando o manequim com nadadeiras, na qual, como o nome implica, os competidores usam nadadeiras, do tipo tradicional, ou seja, uma em cada pé. Nessa prova, o manequim também está no fundo da piscina, mas encostado na borda oposta àquela na qual os competidores largam. Cada competidor deve nadar no mínimo 40 metros, mergulhar (pois o mergulho deve ocorrer nos 10 metros finais), pegar o manequim, fazer a virada e voltar carregando-o, ou seja, é disputada uma piscina sem carregar o manequim seguida de uma carregando o manequim. A terceira prova é semelhante, e se chama 100 metros resgatando o manequim com nadadeiras. Nela, o manequim está próximo à borda oposta àquela na qual os competidores largam, mas está flutuando, e não no fundo da piscina. Cada competidor deve nadar os primeiros 50 metros carregando um tubo de resgate, tocar a borda oposta e, só então, colocar o tubo em volta do manequim como se ele posse uma pessoa afogada e retornar carregando-o, mas com as mãos no tubo, sem poder tocar o manequim.

A quarta e última prova é o revezamento 4 x 25 metros carregando o manequim. Nessa prova, o primeiro dos quatro competidores de cada equipe já começa com o manequim, o que significa que a largada é feita com os competidores dentro da água (como na prova do nado de costas) e já com o manequim em uma posição permitida. Como a prova é disputada em uma piscina de 50 m, e cada competidor só nadará 25 m, o segundo e o quarto competidores de cada equipe esperam em uma área especial, no meio do caminho, enquanto o terceiro espera na borda oposta à da largada, mas já dentro da água. O primeiro competidor, após a largada, nadará os primeiros 25 m, entregará o manequim ao segundo competidor e voltará para sair da piscina pela mesma borda pela qual entrou; o segundo nadará mais 25 m, entregará o manequim para o terceiro, e sairá pela borda onde estava o terceiro; o terceiro nadará os primeiros 25 m da volta, entregará o manequim para o quarto (que já estava lá desde o início da prova, é importante frisar) e voltará para sair pela mesma borda pela qual entrou; finalmente, o quarto competidor nadará os últimos 25 m e tocará na borda, estabelecendo o tempo da equipe.

Outro tipo de prova de piscina são as provas de medley, que combinam características de várias outras provas. A mais básica é a 100 metros resgate medley. Nela, cada competidor nada os primeiros 50 m normalmente, mas, após a virada, deve mergulhar e nadar no fundo da piscina, sem tirar nenhuma parte do corpo da água, até alcançar um manequim, que está a 20 m da borda da virada no masculino e a 15 m no feminino; após pegar o manequim, o competidor sobe e termina a distância da prova carregando o manequim de acordo com as regras das provas de manequim. Mais complicada é a prova dos 200 metros super salva-vidas, na qual cada competidor deve nadar 50 m normalmente, fazer a virada, nadar mais 25 m normalmente, mergulhar para pegar um manequim que está no fundo da piscina, subir com ele, nadar os 25 próximos metros carregando-o, tocar a borda, deixá-lo onde está, calçar nadadeiras e pegar um tubo de resgate sem sair da água, nadar 50 m, tocar na borda, passar o tubo por um manequim que estava flutuando próximo a essa borda, e retornar trazendo-o pelo tubo. A terceira prova é o revezamento 4 x 50 metros medley, na qual o segundo e o quarto competidores de cada equipe usam nadadeiras, mas o primeiro e o terceiro, não. Os três primeiros competidores de cada equipe nadam 50 m normalmente, com a única diferença entre os três sendo que o segundo usa nadadeiras e o terceiro carrega um tubo de resgate; quando o terceiro alcança a borda oposta, porém, o quarto já o estará esperando dentro da água, e ele deverá lhe entregar o tubo. O terceiro, então, passará a fazer o papel de vítima, e o quarto deverá passar o tubo por seu corpo e trazê-lo pelo tubo nos últimos 50 metros - com o terceiro não podendo ajudar, como se fosse realmente uma vítima leiga no assunto.

Finalmente, temos a curiosa prova do arremesso de linha, disputada por equipes de dois competidores cada; um desses competidores será o salva-vidas, e ficará na borda da piscina, do lado de fora, o outro será a vítima, e começará dentro da piscina, a 12 m da borda onde estão os salva-vidas. Cada salva-vidas começa segurando uma das pontas de uma corda (a tal linha), que está esticada e dentro da água. Ao sinal do árbitro, todos devem recolher a corda o mais rápido possível e então arremessá-la para a vítima. Se a vítima não conseguir pegar a corda, o salva-vidas deve repetir o procedimento, mas, se ela conseguir, ele então deverá puxá-la, sendo o tempo da dupla estabelecido quando a vítima tocar a borda. Toda a velocidade do retorno deve vir da força que o salva-vidas faz para puxar a corda, com a vítima não podendo ajudar com braçadas ou movendo as pernas.

Passemos agora para as provas de praia, começando pela corrida de surf. Nessa prova, cada competidor usa uma prancha de surf, idêntica às usadas por surfistas profissionais. A prova começa na areia, e, após correr um curto trecho, os competidores entram na água, deitam-se nas pranchas e, usando os braços para remar, devem percorrer um circuito demarcado com boias. Após percorrer o circuito, eles saem da água, pegam as pranchas e correm mais um curto trecho até a linha de chegada. Todo o percurso, da linha de largada até a linha de chegada, incluindo as partes na areia e na água, tem aproximadamente 400 metros. Além da prova individual, existe também a prova da corrida de surf por equipes, disputada por equipes de três competidores cada, com o tempo dos três sendo somado para se determinar a equipe vencedora.

De mecânica semelhante é a corrida de prancha, na qual os competidores usam aquelas pranchas de resgate próprias de salva-vidas, parecidas com pranchas de bodyboarding, mas com alças dos lados. Mais uma vez, a prova começa na areia, e, após um trecho de corrida, os competidores entram na água, deitam-se nas pranchas e, usando os braços e pernas, percorrem um circuito demarcado com boias, voltando para a areia em seu final e correndo um último trecho carregando as pranchas. Mais uma vez, todo o percurso tem aproximadamente 400 m. Além da prova individual, existe a corrida de prancha em revezamento, disputada por equipes de três competidores cada; diferentemente do que ocorre na corrida de surf por equipes, cada um dos membros realiza o percurso de uma vez, e não todos juntos, sendo que o membro seguinte da equipe só pode começar a correr depois que o anterior tiver cruzado a linha de chegada.

Outra prova parecida é a corrida de surfski, na qual é usado um caiaque próprio para uso no mar, mais estreito, longo e leve que o tradicional e com uma ponta em forma de faca para furar as ondas, conhecido como surfski. Nessa prova, os competidores já começam dentro da água, e, após o sinal de largada, devem percorrer um percurso de aproximadamente 400 m demarcado com boias, sendo vencedor aquele que primeiro cruzar a linha de chegada. Existe também a corrida de surfski em revezamento, disputada por equipes de três competidores cada, na qual a linha de largada e a de chegada são no mesmo ponto e sempre próximas à areia: após o primeiro membro da equipe cruzar a linha de chegada, ele é ajudado pelo segundo, que puxa o surfski até a areia; ambos, então, trocam de lugar, com o segundo membro entrando no surfski após o primeiro sair, e o primeiro empurra o surfski até a água, para que o segundo cumpra o percurso. O procedimento é repetido com o segundo e o terceiro, sendo vencedora a equipe cujo terceiro membro cruzar a linha de chegada primeiro.

No mesmo estilo temos uma prova com nome curioso, mas auto-explicativo: a corrida-natação-corrida. Sem usar qualquer tipo de prancha ou embarcação, os competidores começam na areia, correm até a água, nadam por um percurso demarcado por boias, saem da água e correm até a linha de chegada. Mais uma vez, esse percurso tem aproximadamente 400 m. A prova da corrida-natação-corrida é organizada pela ILS apenas de forma individual, embora campeonatos nacionais e regionais tenham uma versão com revezamento.

As provas diferentes começam com a corrida de tubo de regate. Nela, os competidores começam na areia, a aproximadamente 10 m da água. Na borda da água fica uma cesta para cada competidor, contendo um equipamento de resgate no mar, que inclui uma espécie de colete, um cinto próprio e um tubo de resgate. Após a largada, os competidores correm até suas cestas, vestem seu equipamento, entram na água e nadam em linha reta até a linha de chegada, que fica a 120 m da água. O vencedor, evidentemente, é o que a alcançar primeiro.

Em seguida temos o resgate com tubo de resgate (que não é erro de tradução, em inglês se chama rescue tube rescue), disputada por equipes de quatro membros cada. Um desses membros será o salva-vidas, um será a vítima, e os outros dois serão o resgate. Após o sinal de largada, a vítima nada até uma boia, localizada a 120 m da linha da água, e faz um sinal com a mão quando a alcança; nesse momento, o salva-vidas, portando um tubo de resgate, corre, entra na água e nada até a vítima. Ao alcançá-la, ele passa o tubo por seu corpo e retorna, trazendo-a pelo tubo, e sem poder ser ajudado pela vítima. Quando o salva-vidas alcança a linha da água, os dois membros do resgate o estão aguardando, devendo ajudá-lo a retirar a vítima da água e levá-la até a linha de largada/chegada, localizada a 10 m da linha da água. A equipe que levar sua vítima corretamente até a linha de chegada primeiro vence a prova.

Uma prova semelhante é a do resgate com prancha, disputado por equipes de dois membros cada, com um sendo a vítima e o outro sendo o salva-vidas. Ao ser dada a largada, a vítima nada até a boia, que está a 120 m da linha da água, e faz um sinal com a mão ao chegar lá. Usando uma prancha de resgate, o salva-vidas deve entrar na água, nadar até a vítima e "resgatá-la", trazendo-a de volta à areia. Curiosamente, nessa prova é permitido à vítima ajudar o salva-vidas com os braços ou pernas, mas ambos devem permanecer em contato um com o outro e com a prancha durante todo o tempo do resgate.

A modalidade praia também conta com cinco provas disputadas apenas na areia, sem que os competidores entrem na água. A mais simples é a sprint de praia, que nada mais é que uma corrida de 90 metros na areia, como se fosse uma prova do atletismo. Seguindo o mesmo esquema, temos o revezamento de praia, disputado por equipes de quatro competidores cada, com cada um deles correndo 90 m e passando um bastão para o seguinte, sendo vencedora a equipe cujo quarto membro cruzar a linha de chegada levando o bastão. Diferentemente do que ocorre no atletismo, não há curvas, e todos os quatro membros da equipe usam o mesmo trecho, ou seja, o primeiro e o terceiro correm "indo", enquanto o segundo e o quarto correm "voltando". A corrida de praia também se parece com uma prova de atletismo, mas é disputada em etapas de 500 m cada, com um intervalo entre elas; ao final da última etapa, o tempo de cada competidor em cada etapa é somado para se determinar o vencedor. Existem duas provas de corrida de praia, a de 1 km, composta de duas etapas, e a de 2 km, composta de quatro etapas. Como nem sempre é possível correr 500 m em linha reta, pode ser usado um circuito, com duas ou mais curvas. A prova mais diferente é a da bandeiras de praia; nela, os competidores devem correr até pequenas bandeiras fincadas a 20 m da linha de largada e arrancá-las da areia. O problema é que sempre existem menos bandeiras do que competidores, o que faz com que aqueles que não conseguirem pegar uma bandeira sejam eliminados. As eliminações vão ocorrendo até que só reste um competidor, que será o vencedor da prova.

Para concluir a modalidade praia, faltam as provas do oceanman (masculina) e oceanwoman (feminina), uma espécie de triatlo do salvamento, mas com quatro partes - ou seja, um "tetratlo": corrida de prancha, corrida de surfski, natação e corrida na areia. A ordem das três primeiras partes será definida por sorteio, mas a última parte será sempre a corrida na areia; se a corrida de surfski for sorteada para ser a primeira parte, os competidores já começam dentro do surfski e dentro da água, mas, se for sorteada para ser a segunda ou terceira, eles começarão na areia, correndo para a água para iniciar a primeira parte, enquanto o surfski ficará na areia em um local próprio, e os competidores deverão arrastá-lo para a água antes de entrar nele e começar a remar - da mesma forma, ao terminar a parte do surfski, o competidor deve sair dele ainda na água e arrastá-lo para esse local próprio. Caso a parte da prancha de resgate seja a segunda ou terceira, a prancha também ficará na areia, devendo ser recolhida pelo competidor antes de ele voltar para a água, e colocada em um local próprio quando ele sair dela - nada de jogar a prancha longe para ganhar tempo. Em todas as partes, o atleta deverá sair da água e correr até a linha de largada/chegada antes de começar a parte seguinte. O percurso usado na natação, na corrida de prancha e na corrida de surfski é o mesmo, demarcado com boias, e com aproximadamente 300 m; o percurso da corrida na areia também tem 300 m, para um total de aproximadamente 1.200 m de prova. Além das provas individuais, existem provas de oceanman/oceanwoman em revezamento; as regras são as mesmas, com a diferença de que cada uma das quatro partes é realizada por um dos quatro membros da equipe.

A única prova da modalidade surf boat é a corrida de surf boat, que também é disputada na praia, mas é considerada pela ILS como uma modalidade em separado por ser obrigatoriamente disputada por equipes, enquanto as demais provas de praia, a princípio, são individuais. Um surf boat é um barco originalmente criado para ser usado em resgates quando o mar estiver muito agitado, principalmente em naufrágios. Atualmente feito de plástico reforçado, fibra de carbono e materiais sintéticos, um surf boat tem entre 6,86 e 7,925 m de comprimento, mínimo de 1,62 m de largura, 55,8 cm de profundidade e pesa entre 180 e 190 kg. A equipe que o manejará é composta por cinco integrantes, sendo que quatro serão responsáveis pelos remos e um será o responsável pelo leme. Os remos do surf boat têm apenas uma lâmina, o que significa que dois membros da equipe sempre remarão do lado direito, e dois sempre do lado esquerdo; o controle da direção do barco, porém, não é feito com os remos, e sim com o leme, com o membro que o controla sentando-se na popa e usando de uma alavanca para virá-lo. A mecânica da corrida de surf boat é semelhante às das corridas de surf, prancha e surfski: as equipes e seus barcos começam na areia, e, após ser dada a largada, empurram o barco até a água, entram nele e remam para percorrer um percurso de aproximadamente 400 m, sendo vencedor o barco que cruzar a linha de chegada primeiro.

As provas de IRB também são todas disputadas na praia, mas o IRB também é considerado uma modalidade em separado devido às suas características. O IRB é um bote inflável, composto por quatro tubos feitos de borracha e um chão rígido, feito de fibra de carbono e alumínio. Quando totalmente inflado, o IRB tem 4,2 m de comprimento, 1,95 m de largura e 90 cm de altura, e pesa por volta de 80 Kg. Cada IRB conta, em sua popa, com um motor a diesel de 25 hp, podendo alcançar 55 Km/h. Todos os IRB são de uma cor conhecida como "vermelho resgate", para serem facilmente identificáveis em meio às águas do mar, e são tripulados por duas pessoas, um salva-vidas e um piloto, que controla o motor através de uma alavanca, e fica preso ao bote por uma correia presa a seu tornozelo.

A ILS regula quatro provas de IRB. A mais simples é a de resgate com IRB, disputada por equipes de três membros cada; um desses membros será a vítima, enquanto os outros dois serão os tripulantes do IRB. Antes de a prova começar, a vítima é levada até uma boia localizada a 140 m da linha da areia, devendo ficar atrás dessa boia. O IRB começa na areia, e, ao sinal de largada, ele deve ser arrastado ao mar por seus tripulantes, ter seu motor ligado pelo piloto e, então, rumar até a boia, parar, resgatar a vítima, circundar a boia e retornar até a linha de chegada. O vencedor será o IRB que completar essa tarefa no menor tempo.

Uma prova parecida é a do resgate em massa com IRB, disputada por equipes de quatro membros - sendo duas vítimas - e que simula dois resgates seguidos. As duas vítimas começam a prova junto à mesma boia, mas uma atrás dela, a outra na frente. Ao sinal de largada, o IRB procede ao resgate da vítima que está atrás da boia, exatamente como na prova de resgate com IRB. Quando o IRB alcança a linha de chegada, o piloto deve desligar o motor e colocá-lo em ponto morto; então, simultaneamente, o salva-vidas retira a vítima do bote, enquanto o piloto sai do bote, corre até uma bandeira fincada na areia, a aproximadamente 10 m da linha de chegada, a circunda e retorna para o bote. Quando tanto o piloto quanto o salva-vidas estiverem novamente dentro do bote, o piloto liga novamente o motor e o IRB procede ao resgate da segunda vítima - que, enquanto o IRB voltava com a primeira, assumiu a posição dela atrás da boia - novamente exatamente como na prova de resgate com IRB.

A terceira prova é a do resgate com IRB por equipes, disputada por equipes de cinco membros, sendo uma vítima, dois pilotos, dois salva-vidas e dois IRBs diferentes. A vítima, como de costume, começa atrás da boia; os IRBs começam na areia, e, ao sinal de largada, o primeiro deles, com o primeiro piloto e o primeiro salva-vidas, é arrastado para a água, tem seu motor ligado, e ruma para a boia. Ao chegar lá, porém, o salva-vidas mergulha e fica junto à vítima, enquanto o piloto circunda a boia e começa a retornar para a areia. Assim que o primeiro IRB começa a retornar, o segundo piloto e o segundo salva-vidas arrastam o segundo IRB até a água, mas o piloto deve deixá-lo desligado e retornar até uma bandeira fincada a aproximadamente 10 m da linha de chegada. O primeiro piloto leva o primeiro IRB até a linha de chegada, desliga o motor, coloca em ponto morto, sai do IRB e corre até esta bandeira, para que os dois pilotos toquem as mãos. Após este toque, o segundo piloto corre até o segundo IRB, entra nele, liga o motor e ruma para a boia, onde o segundo salva-vidas resgatará tanto a vítima quanto o primeiro salva-vidas. Após este resgate, o segundo IRB circunda a boia e ruma para a linha de chegada.

Finalmente, temos a prova do resgate com tubo de resgate em IRB, disputada por equipes de três membros - vítima, piloto e salva-vidas. Nesta prova, a vítima não começa junto à boia, mas 25 m atrás da mesma. O IRB, como de costume, começa na areia, e, ao sinal de largada, é arrastado para a água, tem seu motor ligado e ruma para a boia. Ao chegar lá, o piloto começa a circundar a boia, e, quando estiver atrás dela, desliga o motor e o coloca em ponto-morto; o salva-vidas, então, veste o colete e o cinto próprios do equipamento do tubo de resgate - que já estavam, evidentemente, dentro do IRB - pula na água com o tubo de resgate em mãos e nada até a vítima, passando o tubo por seu corpo e retornando com ela até o IRB. Ao chegar lá, tanto o piloto quanto a própria vítima podem ajudá-lo a colocá-la dentro do bote; depois que a vítima estiver segura, o piloto liga novamente o motor, termina de circundar a boia e ruma para a linha de chegada.

A última modalidade é a do SERC, que pode ser disputada em praia ou piscina, por equipes de quatro salva-vidas cada, sendo um capitão. A prova do SERC simula uma situação real de perigo, sorteada antes de seu início, e da qual as equipes só tomam conhecimento quando são chamadas para a prova - todas as equipes participam da mesma situação, mas uma por vez, com salas próprias para as que já realizaram a prova e para as que estão aguardando, para que não possa haver "cola". Cada equipe tem dois minutos para averiguar a situação e tomar providências, sendo julgadas por um painel de cinco árbitros, que levarão em conta a iniciativa da equipe, o julgamento da situação, o conhecimento das técnicas empregadas e as habilidades de resgate de cada equipe, atribuindo notas e dando descontos de acordo com sua performance em cada um desses quatro quesitos. Depois que todas as equipes tiverem realizado a prova, aquela com a maior nota será a vencedora.

O salvamento faz parte do programa dos World Games desde a segunda edição, em 1985, em Londres, Inglaterra. No passado, o programa já contou com provas de praia, mas, atualmente, só são disputadas nos World Games provas de piscina. Para a próxima edição, em 2017, estão previstas as provas de 200 metros natação com obstáculos, revezamento 4 x 50 metros natação com obstáculos, 50 metros carregando o manequim, 100 metros carregando o manequim com nadadeiras, 100 metros resgatando o manequim com nadadeiras, revezamento 4 x 25 metros carregando o manequim, 200 metros super salva-vidas e revezamento 4 x 50 metros medley, todas em versões masculinas e femininas, para um total de 16 provas.

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