Vamos começar pelo netbol, esporte semelhante ao basquete - e não por acaso, já que as histórias de ambos se confundem. O basquete foi inventado em 1891, nos Estados Unidos, pelo professor de educação física James Naismith (mais informações no meu post sobre basquete), e, na época, tinha times de nove jogadores cada. No ano seguinte, ele ganharia uma versão feminina, com regras levemente diferentes, criada pela também professora de educação física Senda Berenson, que incluiu o esporte em suas aulas na Smith College. Conforme o tempo foi passando e o basquete foi se popularizando, as regras foram sendo modificadas para garantir um jogo mais acessível, veloz e emocionante, até chegarmos ao formato que temos hoje, com cinco jogadores de cada lado e regras unificadas para homens e mulheres.
Pois bem, em 1893, a também professora de educação física Martina Bergman-Österberg, nascida na Suécia, mas que trabalhava na Physical Training College, em Londres, Inglaterra, visitou os Estados Unidos, e assistiu a uma partida de basquete feminino. Achando o esporte interessante, ela decidiu incluí-lo em suas aulas ao retornar à Europa, e, logo, o esporte se tornou um grande sucesso dentre as garotas londrinas. Curiosamente, isso ocorreu anos antes de o basquete masculino começar a se popularizar no continente, o que só ocorreria depois da Primeira Guerra Mundial, por volta de 1920.
Como de costume, conforme o esporte trazido por Bergman-Österberg se popularizava e se espalhava por outras escolas para moças, suas regras seriam alteradas, principalmente para tornar sua prática mais acessível. As duas principais modificações foram fazer com que o esporte fosse disputado ao ar livre, em um gramado - já que a maioria das escolas da época não tinha quadra, mas, em compensação, tinha enormes gramados em seus terrenos - e a substituição das cestas de vime usadas na época no basquete por anéis de aço com pequenas redes de corda penduradas. Essa mudança se deu em nome da praticidade, já que o buraco no fundo das cestas usadas então no basquete não era grande o suficiente para que a bola passasse, o que fazia com que alguém tivesse que ir lá com uma vareta e empurrar a bola para fora após cada ponto; os anéis, por outro lado, permitiam que a bola passasse por dentro deles e fosse recuperada facilmente, enquanto as redes de corda, ao balançar, comprovavam que a bola havia efetivamente passado pelo anel, pois, dependendo do ângulo e da distância, era bastante difícil discernir se a bola havia passado por dentro ou por fora do anel caso não houvesse a rede. Vale citar que, enquanto esse tipo de cesta foi introduzido nas escolas para moças da Inglaterra em 1899, no basquete norte-americano ele só apareceria 1906 - alguns historiadores, inclusive, argumentam que a cesta do basquete teria sido copiada da usada pelas moças inglesas, o que, evidentemente, é refutado pelos norte-americanos.
Outras duas modificações bastante populares foram o máximo de sete jogadoras de cada lado, ao invés de nove, e a restrição do contato físico, com cada jogadora atuando em uma posição fixa e de movimentação limitada. Essa segunda modificação foi apontada como uma das principais responsáveis pela popularização do jogo em toda a Grã-Bretanha, já que, na época, era considerado inadequado que mulheres disputassem esportes que envolvessem contato físico. Após se espalhar pela Grã-Bretanha, o esporte se espalharia também pelas colônias, se tornando especialmente popular na Austrália, Nova Zelândia e Jamaica. E foi da Jamaica, aliás, que veio seu nome: até 1909, o esporte era conhecido na Grã-Bretanha simplesmente como basquete, e na Austrália e Nova Zelândia como "basquete feminino ao ar livre", já que o basquete feminino dos Estados Unidos já começava também a se popularizar por lá; na Jamaica, entretanto, ele ganharia o nome de netbol, em referência à rede que pendia dos aros (rede, em inglês, é net). Para que o esporte não se confundisse com o basquete dos Estados Unidos, logo ele começaria a ser chamado de netbol nos demais países onde era praticado.
No início, o netbol era um esporte jogado principalmente em escolas para moças, mas, após a Primeira Guerra Mundial - quando, inclusive, o esporte passaria a ser jogado majoritariamente em quadras ao invés de ao ar livre - começariam a surgir os primeiros clubes e os primeiros campeonatos. O primeiro país a fundar uma federação nacional de netbol seria a Nova Zelândia, em 1924, e a primeira partida internacional aconteceria em 1938, entre Nova Zelândia e Austrália, com vitória australiana. Como de costume, cada país adaptava as regras de acordo com seu gosto, e, para que mais partidas internacionais fossem disputadas, era necessário um conjunto de regras único para o mundo inteiro. A Segunda Guerra Mundial prejudicaria bastante a prática e a expansão do netbol, contudo, de forma que as primeiras negociações para a criação de uma federação internacional só começariam em 1957.
Em 1960, em uma reunião no Sri Lanka, representantes das federações nacionais de Inglaterra, Austrália, Nova Zelândia, África do Sul e Índias Ocidentais (uma federação formada na época por várias ex-colônias inglesas do Caribe) finalmente chegariam a um consenso, e fundariam a Federação Internacional de Netbol e Basquetebol Feminino, que, em 1963, após todos os países-membros se comprometerem a usar o nome "netbol" para o esporte, mudaria de nome para Federação Internacional das Associações de Netbol, e, em 2012, para ficar com um nome mais parecido com os das demais federações internacionais esportivas, decidiria mudar de novo, para Federação Internacional de Netbol (INF, da sigla em inglês). Hoje, a INF conta com 49 membros plenos (países onde é praticado o netbol profissional ou semiprofissional) e 25 membros associados (países onde o netbol é disputado por amadores, sem que haja campeonatos oficiais). O Brasil não é membro da INF, e a maioria dos membros, plenos e associados, é de ex-colônias britânicas.
Vale citar que, embora nada impeça que homens joguem netbol, para a INF o netbol é um esporte exclusivamente feminino, ou seja, todos os torneios organizados pela INF e todos os torneios profissionais organizados por seus membros plenos são femininos. De fato, só há registros de campeonatos masculinos de netbol, todos amadores, na Austrália, Nova Zelândia, Fiji, Canadá, Jamaica, Quênia, Paquistão e Emirados Árabes Unidos.
O netbol é jogado em uma quadra de 30,6 metros de comprimento por 15,25 m de largura (originalmente 100 x 50 pés, por isso as medidas quebradas em metros), cuja superfície pode ser de madeira, material sintético, ou, inclusive, gramado - embora hoje a maior parte das competições de netbol ocorra em quadras cobertas, a INF manteve em suas regras a opção de se jogar ao ar livre, seja em ginásios sem cobertura ou em campos gramados, tanto para manter a tradição quanto para ajudar na expansão e popularização do esporte. A quadra não é dividida ao meio, e sim em três seções de 10,2 m cada, demarcadas por linhas cheias, chamadas linhas transversais; centrado no meio de cada linha de fundo é traçado um semicírculo de 4,9 m de raio, conhecido como círculo de gol, e, bem no meio da quadra, há um círculo central de 90 cm de diâmetro. As cestas possuem 38 cm de diâmetro, e são formadas, como já foi dito, por um aro de metal com uma rede de corda dependurada; cada cesta fica no alto de um poste de 3,05 m de altura, posicionado dentro da quadra, tocando o meio da linha de fundo. Diferentemente de uma cesta de basquete, não há tabela. A bola é feita de borracha, é inflada, e do mesmo tamanho de uma bola de futebol, com entre 68 e 71 cm de circunferência e pesando entre 397 e 454 g.
Uma equipe de netbol é formada por sete jogadoras e sete reservas. As substituições podem ocorrer apenas nos intervalos entre um quarto e outro, ou quando uma das jogadoras sofre uma contusão e não pode mais seguir jogando, e, exceto em casos especiais, a critério dos árbitros, uma jogadora substituída não pode mais retornar à partida. Cada jogadora possui uma função específica, que determina em quais locais da quadra ela pode se movimentar; uma jogadora que "invada" um local da quadra onde não poderia estar incorre em falta. As posições de quadra são determinadas pelas linhas transversais, e se chamam ataque (onde está posicionada a cesta adversária), centro e defesa (onde está posicionada sua própria cesta).
Para que não haja confusão quanto à posição de cada jogadora, as jogadoras possuem não números, e sim letras em seus uniformes, com cada conjunto de letras sendo usado para uma posição: o trio de atacantes é formado pela a goal shooter (GS), que só pode se movimentar no ataque, incluindo dentro do círculo de gol; a goal attack (GA), que pode se movimentar no centro e no ataque, incluindo dentro do círculo de gol; e a wing attack (WA), que pode se movimentar no centro e no ataque, mas não no círculo de gol. Essas posições são espelhadas pelo trio de defensoras: a goal keeper (GK), que só pode se movimentar na defesa, incluindo dentro do círculo de gol; a goal defense (GD), que pode se movimentar no centro e na defesa, incluindo dentro do círculo de gol; e a wing defense (WD), que pode se movimentar no centro e na defesa, mas não no círculo de gol. Completa o time a centre, que pode se movimentar por toda a quadra, exceto dentro dos círculos de gol.
Uma partida de netbol dura quatro quartos de 15 minutos cada. Entre o primeiro e o segundo quartos e entre o terceiro e o quarto, há um intervalo de 4 minutos; já entre o segundo e o terceiro quartos, o intervalo é de 12 minutos. É possível uma partida terminar empatada, mas, caso seja um jogo eliminatório, por exemplo, é disputada uma prorrogação, que começa após um intervalo de 4 minutos. A prorrogação é composta de dois tempos de 7 minutos cada, com intervalo de 1 minuto entre eles. Caso o empate persista, são disputados sucessivos novos tempos de 7 minutos, mas com "morte súbita", sendo vencedor o time que primeiro abrir dois pontos de vantagem sobre o adversário. O relógio para toda vez que a bola para (após um ponto, quando ela sai de campo, para atendimento médico etc.), e, a cada quarto, os times trocam de lado.
No início de cada quarto e após cada ponto, é realizado o centre pass: a bola começa com a centre de um dos times, que deve ficar com um dos pés imóvel dentro do círculo central. Além dela, apenas a centre do outro time pode permanecer no centro, devendo as atacantes permanecerem no ataque e as defensoras na defesa, até o árbitro apitar; quando isso ocorre, as GA, GD, WA e WD de cada time podem entrar no centro, e a centre fará um passe para uma delas. Para que um centre pass seja válido, a jogadora que recebeu a bola deve estar com os dois pés dentro do centro quando o fizer. No início da partida, o time que terá direito ao primeiro centre pass é escolhido por sorteio; a partir de então, os centre pass são alternados entre os dois times, independentemente de quem marcou o ponto ou quem fez o centre pass no quarto anterior. Se, durante o jogo, a bola sair por uma linha lateral ou de fundo, também é a centre (no caso, a da equipe que não tocou na bola por último) quem faz a reposição de bola, mantendo um dos pés sobre a linha e passando-a para uma de suas companheiras.
Durante o jogo, o objetivo é que a bola vá passando de jogadora para jogadora até que uma delas consiga fazer com que a bola passe por dentro do aro da cesta de cima para baixo, o que vale um ponto. Trabalho de equipe é essencial não só porque nem todas as jogadoras podem se movimentar por toda a quadra, mas por três outros motivos: em primeiro lugar, uma jogadora que esteja de posse da bola não pode retirar seu pé de apoio do chão (ou seja, pode girar, mas não andar); em segundo lugar, uma jogadora que tenha a posse de bola só pode ficar três segundos com ela, sendo obrigada a passá-la dentro desse tempo; e, em terceiro lugar, uma cesta só é válida se a jogadora que arremessou a bola para a cesta estava com os dois pés dentro do círculo de gol quando o fez - ou seja, somente a GS e a GA podem fazer pontos, pois as demais não podem entrar no círculo de gol. Como já foi dito, o netbol é um jogo de pouco contato físico, com as jogadoras não podendo obstruir, trombar ou tentar tomar a bola das mãos das adversárias; em qualquer situação de defesa, inclusive quando a GS ou GA estão tentando fazer uma cesta, cada jogadora deve se posicionar no mínimo a 90 cm da adversária que está com a bola.
Uma partida de netbol é oficiada por dois árbitros, cada um responsável por metade da quadra, e ambos com a mesma autoridade, com um não podendo contestar as decisões do outro. Também há um árbitro reserva, caso um dos dois se machuque e não possa prosseguir com suas funções, um oficial responsável pela contagem do tempo e um pela contagem dos pontos. Dependendo da gravidade da falta, ela pode ser punida com posse de bola para a adversária no local onde ocorreu (ex: não soltar a bola após 3 segundos, tirar o pé de apoio do chão); com um "passe livre", no qual todas as adversárias têm de ficar a três metros da jogadora que tem a bola, sendo que ela não poderá arremessar para a cesta, mesmo que esteja dentro do círculo de gol (ex: jogadora entrar em um local da quadra não permitido para sua posição, contato físico não permitido com uma jogadora que tem a posse de bola); com um pênalti, semelhante ao passe livre, mas cobrado do local onde a falta ocorreu, e não do lugar onde a jogadora que sofreu a falta estava, e que pode ser arremessado diretamente para a cesta caso tenha ocorrido dentro do círculo de gol (ex: mover o poste para evitar uma cesta, contato físico não permitido com uma jogadora que não tem a posse de bola); com uma suspensão, sendo que a jogadora suspensa fica dois minutos fora do jogo, com o time atuando com uma a menos nesse período (ex: contato físico deliberado, reincidência em faltas mais leves); ou com expulsão, sendo que a jogadora expulsa não pode mais voltar naquela partida, mas o time pode colocar outra em seu lugar após 2 minutos (ex: atitude antidesportiva, reincidência em falta punida com suspensão). As regras do jogo estipulam que cada time deve ter uma centre em quadra a todos os momentos, portanto, se a centre for suspensa ou expulsa, o time pode substituir outra jogadora para colocar uma centre reserva em seu lugar, e, se todas as centres de um mesmo time forem expulsas, uma jogadora de outra posição pode colocar a camisa com o C e passar a atuar como centre.
A principal competição internacional do netbol é a Copa do Mundo, realizada a cada quatro anos desde 1963. A Austrália é a maior vencedora, com 11 títulos, seguida da Nova Zelândia com 4 e de Trinidad e Tobago com 1 (o título de 1979 foi dividido entre essas três seleções porque o campeonato foi no sistema de pontos corridos e não previa regras para desempate caso mais de um time terminasse com a mesma pontuação). O netbol também já fez parte do programa dos World Games, em 1985, 1989 e 1993, com a Nova Zelândia ganhando as duas primeiras edições e a Austrália a terceira. Em 1995, o netbol foi reconhecido pelo Comitê Olímpico Internacional, o que, em teoria, permite que ele seja incluído em uma das próximas edições das Olimpíadas; porém, devido ao fato de que praticamente só ex-colônias britânicas o praticam, isso é pouco provável de ocorrer em um futuro próximo.
Para terminar, vale citar que o netbol possui uma variação também regulada pela INF, chamada Fast5. O nome Fast5 vem do fato que cada equipe possui apenas cinco jogadoras em quadra (centre, GS, GA, GK e GD) e cinco reservas, e cada partida dura apenas quatro quartos de seis minutos cada, com intervalo de dois minutos entre eles. Outras diferenças são que as substituições são ilimitadas (jogadoras substituídas podem voltar) e podem ocorrer a qualquer momento, mesmo com a bola em jogo; os técnicos podem fornecer instruções às jogadoras, se posicionando à lateral da quadra; o centre pass após cada cesta é realizado pela equipe que sofreu a cesta, e o do início de cada quarto é alternado (uma equipe começa o primeiro e terceiro quartos, a outra o segundo e quarto); as GA e GS podem arremessar para a cesta de fora do círculo de gol, sendo que cestas marcadas da área do ataque valem dois pontos e cestas marcadas do centro valem três; e jogos empatados são decididos, sem prorrogação, em uma "disputa de pênaltis", na qual as cinco jogadoras que terminaram o jogo em quadra se alternam fazendo arremessos para a cesta de dentro do círculo de gol, sendo vencedora a equipe que fizer mais cestas. Isso sem contar a característica mais curiosa do Fast5, o power play: antes de cada partida, cada equipe pode escolher um dos quartos (sendo que as duas equipes não podem escolher o mesmo) para que sua pontuação, naquele quarto, seja dobrada - ao invés de um, dois e três pontos, as cestas valem dois, quatro e seis. Frequentemente comparado com o Twenty20 (do críquete) e com o rugby sevens, o Fast5 foi criado para tentar conquistar mais jogadoras e mais espaço nas transmissões televisivas, já que as partidas duram por volta de meia hora cada. Por enquanto, os únicos países com campeonatos domésticos de Fast5 são a Inglaterra e a Jamaica, mas já existe uma competição internacional, a Fast5 Netball World Series, disputada anualmente desde 2009, sempre pelas seis seleções mais bem colocadas no ranking (do netbol tradicional) da INF. Das sete edições já realizadas, a Nova Zelândia ganhou cinco, e Inglaterra e Austrália uma cada.
Vamos passar agora para o futebol australiano, que, assim como o futebol americano, envolve carregar a bola com as mãos e bastante contato físico, sendo os chutes usados apenas em momentos específicos, como na hora de se fazer os gols. A razão pela qual ele se chama "futebol" mesmo não usando os pés para conduzir a bola é a mesma do futebol americano: lá nos primórdios do esporte, na Inglaterra, todo e qualquer esporte coletivo com bola era chamado pela população em geral de "futebol"; quando esses esportes chegaram à Austrália e foram adaptados para a criação do futebol australiano, ninguém se preocupou em criar um nome só pra ele.
Falando nisso, acho que não é segredo para ninguém que o futebol americano, nos Estados Unidos, é chamado apenas de football (e não American football, termo usado apenas em situações muito específicas), o que levou o futebol da FIFA a ser apelidado por lá de soccer. Na Austrália, assim como em todos os demais países de língua inglesa que não sejam os Estados Unidos e Canadá, o futebol da FIFA é chamado de football, sendo o futebol australiano, na Austrália, realmente chamado de Australian football - embora, dependendo do contexto, quando não houver a possibilidade de confundir os dois esportes, ele também possa ser chamado apenas de football, ou, de forma mais "carinhosa", footy.
Pois bem, o futebol australiano é jogado em um campo não retangular, mas oval, e gigantesco: entre 135 e 185 metros de comprimento por entre 110 e 155 de largura. Sério, "gigantesco" não é exagero: um campo de futebol australiano equivale mais ou menos a quatro campos de futebol, o que faz com que ele seja o segundo esporte coletivo com o maior campo de jogo, perdendo apenas para o polo - que é jogado por pessoas a cavalo, então precisa mesmo de um campo grande. Nas duas extremidades do comprimento ficam localizados os gols, formados por quatro postes verticais de cor branca, espaçados 6,4 metros entre si; todos os postes contam com proteções em suas bases para que os jogadores não se machuquem caso se choquem contra eles, sendo que os dois postes do meio (que também são um pouco mais altos que os das extremidades) possuem proteções em cor diferente, normalmente azuis ou vermelhas, enquanto as dos postes das extremidades são brancas. Os quatro postes são posicionados sobre uma linha reta, chamada linha de gol, à frente da qual fica a área, um quadrado de 6,4 m de largura por 9 m de comprimento, cujas pontas tocam os dois postes de gol mais do meio. Bem no centro do campo são traçados dois círculos concêntricos, o menor com 3 m de diâmetro e o maior com 10 m, cortados ao meio por uma linha no sentido da largura do campo; em volta desses círculos - chamados apenas de "círculos centrais" - é traçado o "quadrado central", um quadrado de 50 m de lado. A maioria dos campos conta também com a linha de 50 metros, um semicírculo de 50 m de diâmetro centrado no centro da linha de gol. Tradicionalmente, o campo de futebol australiano é coberto de grama natural, embora nos últimos anos tenham surgido vários campos com superfície de grama sintética.
Não é só o campo do futebol australiano que é enorme: cada time tem direito a nada menos que 18 jogadores em campo, mais quatro reservas, sendo que as substituições são ilimitadas, podem ocorrer a qualquer momento, mas o jogador substituto só pode entrar no campo depois que o que está sendo substituído sair totalmente, e todas as substituições devem ser feitas através de um portãozinho localizado em uma das linhas laterais. Os jogadores são levemente especializados, com seis atuando como atacantes, seis como defensores e seis como meios de campo; na prática, porém, todos os jogadores podem se movimentar por todas as partes do campo e realizar todos os tipos de jogada. O uniforme do futebol australiano se assemelha ao do basquete, com os jogadores usando camisas sem mangas e bermudas.
Assim como a do futebol americano e a do rugby, a bola do futebol australiano é oval, tendo entre 22,9 e 23,3 cm de comprimento por 9,54 cm de largura em seu ponto mais largo - mais comprida, mas mais estreita, portanto, que uma bola de rugby. A invenção da bola de futebol australiano é creditada ao fabricante de material esportivo T. W. Sherrin: originalmente, o esporte usava bolas redondas, de mais fácil acesso, mas, a partir de 1860, as bolas de rugby, mais fáceis de serem carregadas com as mãos, começaram a substituí-las, até que, em 1880, Sherrin pegou uma bola de rugby e a modificou, para que ela quicasse com mais facilidade e com uma trajetória mais previsível; graças a isso, logo suas bolas se tornaram as mais populares, e sua fábrica, também chamada Sherrin, se tornou a maior da Austrália, sendo hoje a fornecedora oficial de bolas para a AFL, o principal campeonato australiano do esporte. Tradicionalmente, bolas de futebol australiano são vermelhas para jogos diurnos e amarelas para noturnos, e possuem uma "costura" (feita hoje do mesmo material que a bola) em um dos lados, como a das bolas de futebol americano.
Uma partida de futebol australiano dura quatro quartos de 20 minutos cada, com o relógio parando após cada gol, mark (veja adiante), em caso de atendimento médico ou outro fato a critério dos árbitros. O árbitro central, como no futebol, pode adicionar tempo extra ao final de cada quarto, caso ache que a bola ficou muito tempo parada, sendo que esse tempo adicional, somando os quatro quartos, não pode ultrapassar 10 minutos por jogo. Entre o primeiro e segundo e entre o terceiro e quarto quartos há um intervalo de três minutos, e entre o segundo o terceiro há um intervalo de 15 minutos. É possível uma partida terminar empatada, e, curiosamente, as regras oficiais não preveem nenhuma forma - como prorrogação ou pênaltis - de desempatar jogos eliminatórios, sendo usado, atualmente, o replay - um novo jogo é marcado entre as duas equipes.
No início de cada quarto e após cada gol, é realizado o ball up, um movimento no qual a bola é quicada no chão com toda a força pelo árbitro central dentro do círculo de 3 m, e os jogadores mais altos de cada equipe disputam quem conseguirá pegá-la, pertencendo a posse ao time que conseguir. Durante esse ball up, apenas quatro jogadores de cada time podem estar dentro do quadrado central, com os demais podendo se posicionar em qualquer local do campo. Durante a partida, os jogadores podem correr carregando a bola com as mãos, mas, a cada 15 metros, devem quicá-la no chão como ocorre no basquete. A bola não pode jamais ser passada diretamente com as mãos para outro jogador do mesmo time, apenas indiretamente, com o uso de um movimento com a mão fechada, chamado handball, semelhante a um saque por baixo do vôlei, ou com um chute. Nenhuma outra parte do corpo que seja as mãos ou os pés pode tocar a bola, exceto se isso ocorrer acidentalmente ou quando a bola estiver fora do controle de qualquer jogador - normalmente rolando pelo chão.
O futebol australiano é um jogo de intenso contato físico: obstruir os adversários (se enfiando de repente na frente deles enquanto estão correndo), encontrões em movimento lateral ("ombro a ombro") e usar os adversários como apoio pare conseguir maior impulsão durante um pulo (usando as mãos ou até os joelhos nos ombros ou nas costas do adversário) são movimentos totalmente permitidos pelas regras, e realizados com frequência. Além disso, qualquer jogador que esteja com a posse de bola pode sofrer um tackle, sendo derrubado pelos adversários. Para que um tackle seja válido, o jogador que vai sofrer o tackle deve estar com os dois pés no chão e o contato deve ocorrer entre a linha dos ombros e a linha da cintura. Um jogador que sofre um tackle é obrigado a soltar a bola imediatamente, mesmo que consiga permanecer de pé após o contato. Como é proibido tomar a bola das mãos de um jogador, e bastante difícil interceptá-la quando ela está sendo quicada ou passada, o tackle é a principal forma que os jogadores têm de tomar a bola do adversário.
Mas a jogada mais característica do futebol australiano é o mark: toda vez que um jogador chuta a bola e ela viaja mais de 15 metros, se outro jogador, de seu time ou do adversário, conseguir pegá-la e dominá-la com as duas mãos, ele realizará um mark, que dá direito a um chute livre, sem barreira e com o relógio parado, na direção do gol - e, ainda por cima, um jogador que faz mark não pode sofrer tackle, e, na hora do chute, ninguém pode ficar a menos de três metros de distância dele. Por causa dessas características, o mark é uma jogada muito valorizada, e alguns jogadores chegam a realizar movimentos acrobáticos para consegui-lo - a AFL, inclusive, realiza a eleição de "melhor mark do campeonato", com prêmio em dinheiro, ao final do mesmo, o que estimula ainda mais as jogadas acrobáticas. Ainda assim, se o jogador quiser, ele pode abrir mão do mark e sair jogando normalmente após dominar a bola, o que normalmente é feito para pegar os adversários de surpresa.
Existem duas formas de se pontuar no futebol australiano. A mais valiosa é o gol, que ocorre quando um jogador chuta a bola por entre os dois postes do meio, mais altos, marcando, assim, 6 pontos - e não importa se ela foi pelo ar ou quicando pelo chão. A outra é o behind, que vale 1 ponto, e pode ocorrer nas seguintes situações: quando um jogador chuta ou usa o handball para fazer a bola passar entre um dos postes mais baixos e um dos mais altos; quando o jogador usa um handball e a bola passa entre os dois postes mais altos; quando a bola acerta diretamente um dos postes ("na trave"); ou quando há um "gol contra", ou seja, quando a bola toca em qualquer parte do corpo de um adversário após ser chutada ou impulsionada com o handball e antes de passar por entre dois postes quaisquer. Se o gol contra ocorreu propositalmente - um dos jogadores jogou a bola contra seu próprio gol para evitar que um adversário marcasse os 6 pontos - além de ser marcado o ponto, o jogador que chutou tem direito a um chute livre, igual ao do mark do ponto onde o adversário tocou na bola. Na hora de registrar o placar, gols e behinds são registrados separadamente, com um ponto no meio, seguidos pelo resultado total entre parênteses - exemplo 10.15 (75) a 7.10 (52).
Uma partida de futebol australiano é oficiada por nada menos que nove árbitros, sem contar o oficial que cuida do tempo de jogo e o oficial que cuida do placar. Dos nove árbitros, dois são árbitros de gol, um posicionado atrás de cada gol, para validar os gols, os behinds e marcar a falta do gol contra proposital; quatro são árbitros de lateral, cada um responsável uma quarta parte do campo, e tendo como principal função realizar o throw in (toda vez que a bola sai de campo, o árbitro de lateral a pega e a recoloca em jogo com um movimento parecido com o lateral do futebol, arremessando-a por detrás de sua cabeça; ou seja, no futebol australiano é o árbitro quem cobra lateral, e não os jogadores - ah, sim, e a bola é de quem pegar depois do throw in, independentemente de quem tocou nela por último antes que saísse); e e os outros três são árbitros de campo, correndo junto aos jogadores para marcar faltas, parar o relógio para atendimento médico e realizar outras atribuições como o ball up, sendo um desses três o árbitro central, tendo mais autoridade que todos os demais.
O futebol australiano foi inventado pelo jogador de críquete Tom Wills, que, em 1858, viajou com seu time para a Inglaterra, e lá conheceu o rugby; ao voltar, ele decidiria criar um esporte de dinâmica semelhante, que pudesse ser praticado pelos jogadores de críquete no inverno, quando os campeonatos faziam uma pausa. As primeiras partidas de futebol australiano, inclusive, seriam disputadas em campos de críquete - por isso o formato oval do campo - e, até hoje, embora já existam estádios próprios para o futebol australiano, muitas partidas são disputadas em estádios de críquete adaptados. Com a ajuda de um amigo, o também jogador de críquete Jerry Bryant, e o apoio do técnico John Macadam, professor de educação física na Melbourne Grammar School, Wills conseguiu organizar dois times, um representando a Grammar e um representando o Scotch College, que se enfrentaram em 7 de agosto de 1858, data considerada a do primeiro jogo de futebol australiano da história. Em 14 de maio do ano seguinte, Wills fundaria o primeiro clube de futebol australiano, o Melbourne Football Club, e, três dias depois, ele, Bryant, três jornalistas e o professor de educação física Thomas H. Smith se reuniriam e escreveriam a primeira versão das regras do esporte. Tendo sido codificado pela primeira vez em 1859, o futebol australiano é mais antigo que o futebol (1863) e que o rugby (1871).
Novos clubes de futebol australiano começariam a surgir já em 1859, e o primeiro campeonato nacional aconteceria em 1861, com vitória do Melbourne. Em 1860, as regras passariam por uma revisão, a primeira de muitas, sendo alteradas por sugestão dos jogadores. Em 1877, seria fundada a primeira associação de clubes, a Associação de Futebol de Victoria (VFA; Victoria é o nome do estado australiano onde se localiza a cidade de Melbourne, sendo também o mais densamente povoado e a segunda principal economia do país), e, nos anos seguintes, os demais estados também fundariam suas associações. Em 1896, os clubes mais ricos da VFA se desentenderiam com a direção da associação e sairiam, fundando uma liga, a VFL (Victorian Football League). Após a Segunda Guerra Mundial, o campeonato da VFL rapidamente se tornaria o mais famoso e rentável do país, e passaria a atrair também times de outros estados. Em 1989, já não vendo sentido em manter o nome de apenas um estado no seu, já que abrigava times de todos, a VFL passaria a se chamar AFL (Australian Football League). Naquele mesmo ano, o esporte se tornaria profissional, e, desde então, não pararia de crescer em popularidade.
Hoje, o futebol australiano é considerado por muitos como o esporte mais popular da Austrália. A AFL atualmente conta com 18 times, sediados em cidades de cinco dos seis estados do país, e seus jogos são sempre lotados e têm ingressos esgotados semanas antes da data prevista - a grande final, realizada anualmente no Melbourne Cricket Ground, o "Maracanã da Austrália", é um dos eventos mais assistidos pela TV no país, e conta com mais de 90 mil espectadores presentes no estádio. Também é bastante popular o futebol australiano universitário, masculino e feminino - sim, existe futebol australiano feminino, com as mesmas regras, embora até mesmo na Austrália ele seja semiprofissional, e não goze de tanto prestígio quanto o masculino, mais ou menos como ocorre com o futebol feminino por aqui. O próprio Campeonato Feminino da AFL só foi realizado pela primeira vez em 1992, enquanto o masculino é realizado desde 1897 (ainda na época da VFL).
A Austrália não é o único país que pratica o futebol australiano, embora seja o único com jogadores profissionais; em todos os outros, as equipes são semiprofissionais ou amadoras. Ainda não existe uma federação internacional de futebol australiano, mas a própria AFL já se encarrega de regulá-lo internacionalmente e de realizar torneios internacionais através de sua Comissão Internacional, que hoje conta com 46 membros dos cinco continentes (Brasil não incluído, embora exista um time brasileiro, chamado Carnaval, composto por australianos residentes no país, que já jogou amistosos contra times semelhantes da América do Sul). O principal torneio internacional do futebol australiano é a Copa do Mundo, realizada a cada três anos desde 2002 no masculino e 2011 no feminino, com os torneios masculino e feminino acontecendo sempre simultaneamente. Todas as edições da Copa do Mundo foram realizadas na Austrália, e as finais sempre foram disputadas no Melbourne Cricket Ground; no masculino, a Irlanda conquistou dois títulos, a Papua Nova Guiné outros dois, e a Nova Zelândia um, enquanto no feminino Irlanda e Canadá têm um título cada. Se você estranhou a ausência da Austrália dentre os campeões, é porque a Austrália não participa da Copa do Mundo - sendo o único país com jogadores profissionais, e o que pratica o esporte há mais tempo, ela está há anos-luz dos demais competidores, e provavelmente iria massacrá-los e ganhar todos os títulos, algo que não interessa à AFL, que criou o torneio justamente para dar chance aos outros países de competir em alto nível.
O futebol australiano foi esporte de demonstração nas Olimpíadas de 1956, realizadas, nada surpreendentemente, em Melbourne, Austrália. O "torneio" foi composto por um único jogo, realizado no Melbourne Cricket Ground, entre um time formado por jogadores da Associação Amadora de Jogadores de Futebol de Victoria (VAFA) e um combinado de jogadores da VFA e VFL. O time da VAFA venceu o combinado VFA/VFL por 12.9 (85) a 8.7 (55), mas uma das coisas que mais marcaram a partida foi um comentarista, que explicava para o público, em tempo real, através do sistema de som do estádio, as regras do jogo e as decisões do árbitro, para que uma plateia composta em sua maioria por pessoas que jamais haviam visto um jogo de futebol australiano na vida pudessem entender o que estava acontecendo.
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