Mas como assim?, alguns de vocês devem estar se perguntando. Bem, o fato é que, quando eu era criança, os animes que passavam na televisão não eram comprados do Japão, mas dos Estados Unidos. Em outras palavras, algum canal, estúdio ou produtora dos Estados Unidos comprava um anime, o dublava em inglês para ser exibido lá, e aí os canais daqui compravam essa versão dublada em inglês, para dublá-la em português e exibi-la aqui. Um dos efeitos colaterais desse método é que alguns animes ficavam com nomes bem diferentes dos originais japoneses, já que, muitas vezes, seu título em português era uma tradução do título em inglês, que quase nunca era uma tradução literal do original. Foi assim, por exemplo, que Macross virou Robotech e Saint Seiya virou Cavaleiros do Zodíaco.
Apesar desse método by proxy, até que tínhamos bastante animes passando na televisão. Não tantos quanto poderíamos ter caso eles fossem comprados diretamente do Japão, mas, ainda assim, um bom número. Essa semana, conversando com uma colega, me lembrei de um desses animes, e a lembrança foi tão feliz que decidi escrever sobre ele, mesmo sem ter lá muito assunto. Como os posts do átomo já há um bom tempo têm título, não é segredo que esse anime é Angel.
Mas como assim?, alguns de vocês devem estar se perguntando, já que o título diz "Angel, a Menina das Flores". Bom, Angel era o título do anime quando eu o assistia, não por um acaso mesmo título que ele tinha em inglês na época. Seu título original é Hana no Ko Runrun, que pode ser traduzido para "Runrun, a Filha das Flores". Atualmente, após um relançamento, ele também pode ser encontrado nos Estados Unidos com os nomes Flower Child Lunlun ("Lunlun, a Criança das Flores") e Lunlun, the Flower Angel ("Lunlun, o Anjo das Flores"), mas, na década de 1980, quando foi lançado por lá diretamente em vídeo (e incompleto), ele se chamava, simplesmente, Angel.
Aqui no Brasil, quando foi exibido pela primeira vez (e incompleto), na TV Record, ele manteve esse título, Angel. Alguns anos mais tarde, já na década de 1990, ele seria exibido no SBT (mais uma vez incompleto), com o nome de Angel, a Menina das Flores. No final da década de 1990, ele finalmente seria exibido completo, mas redublado, pela hoje extinta TV Corcovado, que resolveu mudar seu nome para Angélica. Como Angel e Angélica são títulos bem genéricos, e Angel, a Menina das Flores é mais específico, foi esse último que acabou pegando.
Ok, mas do que se trata? Há muito anos, viviam na Terra, em harmonia, dois povos, os humanos e os florais. Mas os humanos foram deixando sua pureza de lado, se tornando ambiciosos e gananciosos, e os florais não quiseram mais ter nada a ver com eles. Assim, eles se mudaram para um outro mundo, chamado Estrela Floral (como eu já mencionei aqui, os japoneses parecem achar que pessoas moram em estrelas), oculto dos olhos humanos por uma barreira multicolorida. Após milhares de anos, entretanto, a Estrela Floral está perdendo sua energia, e a única forma de recuperá-la é com a mítica Flor das Sete Cores, uma rara flor cujas pétalas têm, cada uma, uma das cores do arco-íris, e que floresce apenas a cada mil anos na Terra.
A única esperança dos florais é Angel (Runrun, ou Lunlun, no original), uma menina órfã que vive no interior da França com seus avós, e que, secretamente, é a única descendente viva dos florais na Terra. Em seu aniversário de 15 anos, Angel recebe a visita do cachorro Baldo (Nouveau, no original) e da gata Cathy (Cateau, no original), que, graças ao poder dos florais, podem falar. Eles explicam a Angel a história de sua herança, lhe incumbem com a missão de encontrar a Flor das Sete Cores, e lhe informam que, uma vez que consiga, Angel será coroada a nova Rainha da Estrela Floral, governando todo o povo floral. Para ajudá-la em sua missão, eles também dão a Angel a Chave Floral, um broche que, ao ser apontado para uma flor, transmite a Angel as características dessa flor, que serão úteis nas situações que a menina enfrentará.
Mas nem tudo são flores (perdoem o trocadilho) na missão de Angel, pois ela também terá dois antagonistas terríveis: a perversa Malícia (Togenishia, no original) e seu lacaio Ivan (Yabouki, no original). Malícia pertence ao povo floral, e quer encontrar a Flor das Sete Cores antes de Angel, para ser coroada a nova Rainha Floral e satisfazer a todos os seus desejos. Extremamente bela, vaidosa e orgulhosa, Malícia possui o poder de invocar uma ventania quando quiser, mas, quando o usa, fica com o rosto todo enrugado e se desespera por ter afetado sua beleza - curiosamente, ela também fica toda enrugada quando vê a foto da Flor das Sete Cores, o que nos leva a pensar em como ela encontrará a flor e a levará até a Estrela Floral sem perder sua beleza. Já Ivan é um tanuki, criatura mitológica japonesa que se parece com uma mistura de homem e texugo, e é um mestre dos disfarces, podendo vestir qualquer roupa em segundos por detrás de seu guarda-chuva.
Angel, aliás, quando usa a Chave Floral, não somente ganha novas habilidades como também muda de roupa - se ela precisa andar de moto, ganha uma roupa de motoqueira; se precisa saltar de paraquedas, ganha uma roupa de paraquedista, e assim por diante. Ao terminar de usar suas habilidades, a roupa de Angel reverte para seu vestidinho vermelho normal. Evidentemente, Angel ganhava uma nova roupa por episódio, sempre precisando de uma habilidade específica em cada um deles.
Finalmente, Angel tinha um guardião enviado pelos florais, chamado Felipe (Serge, no original). Felipe finge ser um fotógrafo e observa Angel à distância, evitando se envolver a menos que sua vida esteja em perigo, mas a ajudando de forma sutil caso ela precise. Ao final de cada episódio, Felipe também dava um pacote de sementes de flor às pessoas com quem Angel teve contato, normalmente da mesma flor que Angel usou com a Chave Floral. Após entregar as sementes, ele fazia uma breve explicação sobre as características dessa flor e o que ela representava na "linguagem das flores".
Assim como muitos outros animes, Angel seria, originalmente, um mangá, também chamado Hana no Ko Runrun, criado por Shiro Jinbo e publicado em 39 volumes na revista Nakayoshi, entre 1977 e 1979. Curiosamente, no Mangá, Malícia e Ivan têm papéis bem menores - Ivan, aliás, é uma espécie de detetive, e sua principal função é descobrir o itinerário de Angel para que Malícia possa se antecipar a ela, enquanto no anime ele é usado por Malícia para atrapalhar diretamente a menina em sua busca.
Para encontrar a Flor das Sete Cores, Angel viajaria por vários países da Europa, com seus principais pontos turísticos e paisagens sendo exibidos a cada edição - curiosamente, essa era uma característica comum dos mangás voltados para meninas do final da década de 1970 e início da de 1980, com vários outros títulos, como Honey Honey e Heidi, sendo ambientados em países europeus ou levando suas protagonistas em viagens pela Europa. Essa característica também seria transposta para o anime, com Angel visitando muitos países europeus, embora grande parte dos episódios seja ambientada na França, seu país natal.
O anime seria produzido pela Toei e teria 50 episódios, exibidos pela TV Asahi entre 9 de fevereiro de 1979 e 8 de fevereiro de 1980. Apesar de ter a mesma história e personagens, o anime não segue fielmente a ordem de episódios do mangá, e tem muito mais foco na ação, com Malícia e Ivan tendo mais destaque e Angel sendo submetida a mais situações perigosas. Angel também ganharia um filme para o cinema, chamado Hana no Ko Runrun Konnichiwa Sakura no Sono ("olá, jardim das cerejeiras"), lançado em março de 1980 e curiosamente ambientado no Japão ao invés de na Europa, com Angel, Baldo, Cathy e Felipe procurando a Flor das Sete Cores em meio ao Festival das Cerejeiras enquanto Malícia e Ivan tentam impedi-los.
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