O nome oficial do esporte, aliás, é levantamento de peso olímpico, sendo esse "olímpico" usado para diferenciar a modalidade esportiva do simples ato de levantar pesos como exercício, do jeito que se faz em academias, por exemplo. Durante um bom tempo, também foi usado o nome halterofilismo, mas, em 2011, a Federação Internacional de Levantamento de Peso determinou que "levantamento de peso olímpico" passaria a ser o único nome oficial; ainda assim, o termo halterofilismo ainda é bastante usado no Brasil.
Assim como a corrida foi o esporte inventado para se determinar quem era o mais rápido, o levantamento de peso foi o esporte inventado para se determinar quem era o mais forte. Registros de competições nas quais atletas competiam para ver quem conseguia erguer o maior peso existem desde civilizações antiquíssimas, como no Egito, China e Grécia antiga. Naquela época, entretanto, o "peso" em questão podia ser qualquer coisa, como uma pedra ou um tronco, ganhando quem erguesse o objeto mais pesado, com pouca ou nenhuma regulamentação.
O levantamento de peso como esporte começaria a surgir apenas no final do século XIX, na Europa. Exercícios físicos como rotina de treinamento, incluindo levantamento de pesos, já existiam há algum tempo para militares, e começavam a se popularizar dentre praticantes de diversas modalidades esportivas, como o atletismo e a natação. Alguns desses atletas começariam a organizar também competições de levantamento de peso, usando os pesos com os quais treinavam. Essa nova disciplina teria seu primeiro campeonato mundial em 1891, em Londres, com a participação de diversos atletas europeus.
Na hora de se determinar o programa dos primeiros Jogos Olímpicos, realizados em 1896, o levantamento de peso estava passando por um surto de popularidade, de forma que acabou incluído. A competição, porém, foi bem diferente das que vemos hoje, com atletas competindo em duas categorias: quem conseguia levantar mais peso acima da cabeça usando apenas uma das mãos e quem conseguia fazê-lo usando ambas as mãos. Assim como as regras, os pesos também eram diferentes dos de hoje, sendo inteiriços, o que demandava, portanto, diversos pesos diferentes, que seriam tentados pelos competidores em ordem crescente, até que o competidor falhasse em levantar um deles. Curiosamente, a competição de levantamento de peso de 1896 não foi considerada um esporte em separado, e sim uma disciplina do atletismo - o que até faz um certo sentido, já que o atletismo tem provas para determinar quem corre mais rápido, quem salta mais alto e que arremessa mais longe, então por que não para determinar quem levanta mais peso?
Veio o século XX, e a popularidade do levantamento de peso começou a diminuir na Europa, tanto que ele ficaria de fora dos Jogos de 1900. Em 1904, nos Estados Unidos, o esporte retornaria, mais uma vez como parte do atletismo, e novamente com a competição de duas mãos, mas incluindo uma curiosa competição chamada all-around, na qual os atletas tinham de levantar os pesos fazendo várias poses diferentes, ganhando notas por cada performance, e sendo o vencedor quem tivesse o maior somatório. Os critérios eram bastante subjetivos, e apenas atletas dos Estados Unidos se arriscaram a participar.
Com a volta das Olimpíadas para a Europa, o esporte ficaria de fora do programa das duas edições seguintes, mas isso não significaria que ele ficaria condenado ao esquecimento. Após os Jogos de 1904, estava claro que o levantamento de peso precisava de regras unificadas, para atrair novos praticantes e popularizar o esporte. Assim, em 1905, na Hungria, seria fundada, com a participação de dez federações nacionais europeias, a Federação Internacional de Levantamento de Peso (IWF, da sigla em inglês; até 1974 conhecida como FHI, da sigla em francês para Federação Internacional de Halterofilismo), que hoje conta com 188 membros dos cinco continentes, incluindo o Brasil. Após sua fundação, a IWF faria um pedido ao COI para que as competições de levantamento de peso de 1896 e 1904 passassem a ser retroativamente consideradas um esporte em separado ao invés de parte do atletismo, o que foi atendido em 1920.
Sob a tutela da IWF, o esporte ganhou regras mais concisas, que determinavam a forma correta de se levantar os pesos, como julgar se o levantamento foi bem sucedido ou não, como se dava a progressão de pesos para cada atleta, e, o mais importante de tudo, a separação de atletas em classes de peso corporal - pela lógica, um atleta mais pesado conseguirá levantar mais peso que um mais leve, portanto, não era justo que todos competissem juntos. No início, a IWF determinaria cinco classes de peso corporal diferentes, e os atletas de cada uma deveriam competir em três categorias, o arranco, o arremesso e o desenvolvimento, somando os maiores pesos que cada um obtivesse em cada uma das três categorias para se determinar o vencedor.
Nos Jogos de 1924, a pedido dos atletas, o número de categorias aumentaria para cinco, incluindo o arranco com uma das mãos e o arremesso com uma das mãos; para a IWF, entretanto, o melhor seria que todas as provas fossem disputadas com ambas as mãos, então, após essa edição, ela fez com que as competições envolvendo apenas uma das mãos deixassem de ser oficiais. Após as Olimpíadas de 1972, a IWF também decidiria retirar o desenvolvimento das competições oficiais, devido a dificuldades de julgamento e a problemas de coluna que a categoria ocasionava aos atletas. Também na década de 1970, o levantamento de peso começaria a se popularizar dentre as mulheres; a IWF reconheceria o levantamento de peso feminino como esporte em 1983, mas este só estrearia nas Olimpíadas em 2000 (tendo participado, antes disso, do programa dos World Games em 1997).
O levantamento de peso é um esporte que usa vários equipamentos específicos, a começar, obviamente, pelos pesos que serão levantados pelos competidores. Cada peso é composto de três partes, sendo a primeira delas a barra. A barra é feita de aço, tem formato cilíndrico e é predominantemente lisa, mas em determinadas partes, onde o atleta a segurará com as mãos, ela possui uma textura áspera, para facilitar a pegada, enquanto nas pontas possui uma espécie de rosca, para que os pesos girem durante o levantamento e diminuam a inércia exercida sobre o corpo do atleta. Para as competições masculinas, a barra possui 2,8 cm de diâmetro, 2,2 metros de comprimento e pesa 20 Kg; para o feminino, possui 2,5 cm de diâmetro, 2,1 metros de comprimento e pesa 15 Kg. Em ambos os casos, a distância entre as roscas, ou seja, os locais onde os pesos ficarão, é a mesma, 1,31 metro.
O segundo componente dos pesos são os discos, que existem de dois tipos. Os mais comuns são os chamados bumper plates, porque quicam quando caem no chão. Se alguém aí acha estranho um peso enorme quicar, isso ocorre porque, ao contrário do que se imagina, eles são feitos de borracha sólida. Os bumpers têm 45 cm de diâmetro cada, e seguem um código de cores para facilitar na hora de determinar o peso total a ser erguido: os brancos pesam 5 Kg, os verdes 10 Kg, os amarelos 15 Kg, os azuis 20 Kg, e os vermelhos 25 Kg. O segundo tipo de disco é o chamado iron plate, por ser feito de ferro, e só é usado quando são necessários pequenos incrementos de peso. Os iron plates possuem 25 cm de diâmetro cada, e seus pesos são os mesmos dos bumpers, mas divididos por dez: os brancos pesam 500 g, os verdes 1 Kg, os amarelos 1,5 Kg, os azuis 2 Kg, e os vermelhos 2,5 Kg. Nas Olimpíadas de 1980 também foram testados bumpers de 65 cm de diâmetro na cor branca que pesavam 50 Kg, mas eles acabaram não sendo aprovados para uso oficial pela IWF.
Além da barra e dos discos, o terceiro elemento dos pesos é o colar, uma espécie de porca colocada na ponta da bara depois do último disco, para evitar que eles caiam quando o peso for erguido. Cada colar pesa 2,5 Kg, o que faz com que só a barra e os colares, sem nenhum disco, já pese 25 Kg no masculino e 20 Kg no feminino.
Outro equipamento bem característico do levantamento de peso é o uniforme. Originalmente, o uniforme era uma espécie de maiô, bem decotado na frente e nas costas. Quando as mulheres começaram a competir oficialmente, o decote do maiô ficou menor e a parte de baixo virou uma espécie de bermuda, com o uniforme se tornando parecido com o da luta olímpica. Desde 1972, também pode ser usada, opcionalmente, uma camisa por baixo do uniforme, e, desde 2011, a pedido das nações muçulmanas, as mulheres podem usar, por baixo do uniforme, uma peça inteira de mangas compridas e calças compridas conhecida em inglês como unitard. Antes de 2011, as regras da IWF determinavam que os cotovelos e joelhos dos atletas deveriam estar sempre visíveis para facilitar o trabalho dos juízes na hora de determinar se o levantamento foi válido; a maioria dos atletas ainda acredita que isso influencia no julgamento, o que faz com que apenas as mulheres muçulmanas optem por mangas e calças compridas.
Completam o equipamento um cinto especial, feito de couro e com largura máxima de 12 cm, usado para proteger o ventre e a parte baixa da coluna de lesões durante o esforço do levantamento, e sapatos especiais que possuem um reforço e proteção para os dedos na frente e um salto de aproximadamente 3 cm de altura no calcanhar, que possibilita mais firmeza e melhor apoio durante o levantamento. O uso de talco nas palmas das mãos e no pescoço e de fita adesiva nos polegares e punhos é opcional, e usado pela maioria dos atletas para permitir maior firmeza na pegada e no apoio e diminuir a incidência de calos e lesões de pele.
Atualmente, os homens são divididos em oito classes de acordo com seu peso corporal: até 56 Kg (conhecida popularmente como peso-palha), 62 Kg (peso-pena), 69 Kg (peso-leve), 77 Kg (peso-médio), 85 Kg (peso-pesado ligeiro), 94 Kg (meio-pesado), 105 Kg (peso-pesado) e mais de 105 Kg (superpesado). As mulheres são divididas em sete classes: até 48 Kg, 53 Kg, 58 Kg, 63 Kg, 69 Kg, 75 Kg e mais de 75 Kg (com os nomes populares sendo usados na mesma ordem, mas excluindo os pesos-pesados ligeiros). Essas classes podem ser alteradas pela IWF de acordo com o peso corporal médio dos atletas competindo, com inclusive novas classes sendo criadas (de 1980 a 1996 existiam 10 classes para os homens), mas, desde 2000, as classes permanecem inalteradas. Cada classe possui seu próprio campeão, o que significa que, nas Olimpíadas, por exemplo, o levantamento de peso distribui nada menos que 15 medalhas de ouro, 15 de prata e 15 de bronze.
Dentro de cada classe, cada atleta deverá executar pelo menos um levantamento usando cada uma das duas técnicas, o arranco e o arremesso, sendo que a competição do arranco ocorre primeiro, e então, após um intervalo, começa a do arremesso. O maior peso levantado por cada atleta em cada técnica é o que vale, e ambos são somados para se determinar o peso total levantado pelo atleta. O atleta com o maior peso total levantado é declarado campeão. Caso ocorra um empate, o vencedor será o que tiver o menor peso corporal; caso o empate persista, o que levantou o maior peso primeiro.
Cada atleta é livre para escolher qual peso irá tentar levantar, e aquele que escolheu o menor peso faz sua tentativa primeiro. A partir daí, cada vez que um atleta for bem sucedido, os demais serão obrigados a escolher um peso igual ou maior do que o que ele levantou. Cada atleta possui três tentativas para levantar cada peso; se não conseguir, fica com seu melhor resultado até então. Um atleta que falhe em suas três primeiras tentativas do arranco ou do arremesso é automaticamente desclassificado, pois não terá como somar o maior peso de cada técnica; atletas desclassificados por falhar nas três primeiras tentativas do arranco nem participam do arremesso. Quando um atleta falha em sua tentativa, ele não é obrigado a tentar novamente em seguida, podendo ceder a vez para o seguinte; caso o seguinte seja bem sucedido em sua tentativa, aquele que falhou pode pedir um peso maior, mas não receberá as tentativas que já usou de volta - por exemplo, se um atleta tenta levantar 100 Kg e falha, então decide aumentar para 101 Kg, ele só terá duas tentativas para levantar os 101 Kg. O peso deve sempre ser aumentado em no mínimo 1 Kg, sendo os discos de 500 g usados apenas para manter o equilíbrio (afinal, um disco de 500 g de cada lado aumenta o total em 1 Kg).
Durante o levantamento, o atleta será avaliado por um painel de três juízes, que determinarão se o levantamento foi válido - tanto o arranco quanto o arremesso possuem regras que devem ser observadas durante o levantamento para que este seja considerado válido. Cada um desses juízes possui dois botões em um dispositivo, um que acende uma luz verde, outro que acende uma luz vermelha em um painel; para que o levantamento seja considerado válido, pelo menos duas luzes verdes devem se acender.
Cada técnica é composta de três movimentos, e em ambas o atleta começa de cócoras, com os joelhos dobrados, como se fosse se sentar no chão em frente ao peso. Na técnica do arranco, o atleta começa com as mãos bem espaçadas na barra. No primeiro movimento, ele ergue o peso acima da cabeça e desdobra os joelhos, voltando a dobrá-los em seguida para o segundo movimento, voltando à posição inicial, mas agora com o peso levantado acima da cabeça ao invés de no chão. No terceiro movimento, ele deve desdobrar os joelhos e se colocar de pé. Como requer mais força, o arranco é considerado mais difícil, e, consequentemente, os atletas conseguem levantar menos peso com essa técnica. O recorde mundial do arranco é de 214 Kg.
Já no arremesso, o atleta começa com as mãos mais próximas do centro da barra, com seus cotovelos quase encostando em seus joelhos. No primeiro movimento, ele ergue o peso e desdobra os joelhos, mas, ao invés de eguer o peso acima da cabeça, o apoia próximo às clavículas, abaixo do pescoço. Começa, então, o segundo movimento, no qual, ao mesmo tempo em que ergue o peso para acima da cabeça, ele coloca um dos pés para frente e o outro para trás, com o joelho da frente dobrado e a perna de trás esticada. O terceiro movimento consiste em trazer a perna de trás para a frente, colocando ambas em paralelo e levemente espaçadas. O arremesso é considerado mais técnico, e permite que os atletas levantem mais peso: o recorde mundial é de 263 Kg.
Além de executar os movimentos corretamente, cada atleta possui um tempo limite para sua apresentação: a partir do momento em que entra no tablado onde está o peso, o atleta terá 40 segundo para concluir o levantamento, incluindo três segundos durante os quais o atleta deve permanecer em posição, com o peso acima da cabeça, sem poder soltá-lo, após concluir o terceiro movimento. O atleta é avisado por uma sirene quando esses três segundos se esgotam, e, para não ter o esforço de devolver o peso à sua posição inicial, simplesmente o solta, jogando-o para a frente.
Além de ser parte das Olimpíadas, o levantamento de peso também possui um Campeonato Mundial. A primeira edição é considerada a já citada de 1891, a segunda seria realizada em 1898, e a partir daí anualmente, com algumas interrupções, como as ocasionadas pelas Guerras Mundiais e algumas em ano de Olimpíada. Desde 1997, aliás, o Campeonato Mundial é disputado anualmente exceto em ano de Olimpíada. As mulheres começaram a disputar o Mundial em 1987, e, nas quatro primeiras edições, tiveram um campeonato separado dos homens; desde 1991, porém, o Mundial masculino e o feminino são disputados conjuntamente, na mesma sede e período de tempo. No Mundial, além das medalhas conferidas pelo peso total, como nas Olimpíadas, também são distribuídas medalhas em separado para o maior peso no arranco e o maior no arremesso em cada classe.
O levantamento de peso também fez parte das Paralimpíadas, entre 1964 e 1992. Regulado pelo próprio IPC, o Comitê Paralímpico Internacional, e não pela IWF, o levantamento de peso paralímpico era disputado por atletas cadeirantes ou amputados das pernas, e contava com alterações nas regras em relação à maneira como os levantamentos deveriam ser feitos, já que tanto o arranco quanto o arremesso fazem bastante uso das pernas em seus movimentos. Apenas homens competiam, divididos em classes de peso corporal; na última edição, em 1992, eram cinco classes, mas algumas das demais edições chegaram a ter um número maior de classes. Em 1980 e 1984 foram realizados torneios separados para paraplégicos e amputados, mas nas demais edições todos competiram juntos. O levantamento de peso paralímpico acabou removido do programa devido a uma combinação de três fatores: a dificuldade em se julgar se alguns movimentos foram válidos ou não, a falta de interesse do público em acompanhar o esporte, e a falta de interesse dos atletas, que, a cada edição, eram em número menor.
Falando nisso, vou aproveitar que estou falando sobre levantamento de peso para falar também de um outro esporte parecido, o powerlifting, conhecido em português como levantamentos básicos ou levantamento de potência. O powerlifting foi inventado nos Estados Unidos na década de 1950, época na qual, naquele país, o levantamento de peso olímpico passava por um declínio acentuado de popularidade e as academias de ginástica começavam a se tornar bastante populares. Praticantes de exercícios físicos que envolviam pesos, então, começaram a desenvolver regras para que pudessem ser realizados torneios nos quais os competidores executariam esses exercícios, e não as técnicas do levantamento de peso olímpico. Graças ao apoio da AAU, organização que buscava regular todos os esportes amadores dos Estados Unidos, e da Hoffman’s York Barbell Company, fabricante de material esportivo para o levantamento de peso olímpico, logo os atletas conseguiram se organizar e fundar diversas entidades que realizavam campeonatos e publicavam versões atualizadas das regras. Em 1971, com a união de 21 dessas entidades, seria fundada a Federação Internacional de Powerlifting (IPF), primeira a tentar regular o esporte a nível global. Hoje, a IPF já conta com 100 membros, incluindo o Brasil, representado pela COnfederação Brasileira de Levantamentos Básicos.
A IPF não é a única federação internacional do powerlifting - o que dificulta as pretensões do esporte em ser incluído no programa das Olimpíadas, já que um dos requerimentos do COI é justamente uma federação internacional unificada - existindo várias outras, como a Federação Global de Powerlifting, o Comitê Global de Powerlifting, o Conselho Muindial de Powerlifting e até mesmo a curiosamente batizada Federação Mundial de Powerlifting Livre de Drogas, fundada em uma época na qual os atletas pressionavam as federações pelo uso de exames anti-doping nas competições, mas a maioria delas, devido ao custo, não os adotavam. As regras que eu vou apresentar aqui são as da IPF; as diferenças das demais dizem respeito, principalmente, ao tipo de equipamento utilizado.
Assim como no levantamento de peso olímpico, em uma competição de powerlifting os atletas tentam levantar o maior peso possível em diferentes técnicas, com seu maior peso em cada técnica sendo somado para se determinar o peso total e o vencedor. Como o powerlifting evoluiu dos exercícios usados em academias, as três técnicas usadas nesse esporte são o agachamento, o supino e o levantamento terra - no início, principalmente na Inglaterra, também era avaliada a técnica do treino de bíceps, mas essa foi abandonada ainda na década de 1960. Em um torneio, as técnicas são sempre executadas nessa ordem, com todos os atletas realizando o agachamento primeiro, o supino após um intervalo, e, após um novo intervalo, o levantamento terra, com o vencedor sendo determinado depois que todos tiverem se apresentado. Cada atleta tem três tentativas para cada peso, pode escolher quanto peso irá tentar levantar, quem escolher o menor levanta primeiro, e é permitido aumentar o peso após uma ou duas falhas, gastando as tentativas que já foram utilizadas. Quando um atleta falha em suas três tentativas, fica com o maior peso que já tiver levantado até então; se falhar nas três primeiras de qualquer técnica, é desclassificado, pois não terá um melhor peso naquela técnica para somar.
Na técnica do agachamento, o peso começa posicionado em um suporte mais ou menos da altura do músculo deltoide do atleta. O atleta começa a apresentação de costas para o peso, e, quando desejar começar, deverá retirá-lo do suporte e apoiá-lo em suas costas, podendo dar até dois passos para a frente e abrir um pouco as pernas para conseguir maior estabilidade. Se desejar, o atleta pode designar um ajudante, que o ajudará a retirar o peso do suporte, mas não poderá mais interferir na apresentação, a menos que perceba que o atleta vai perder o equilíbrio ou que o peso vai cair, quando poderá apoiá-lo. Quando o árbitro determinar que o atleta está na posição correta, com os joelhos travados, um apoio bem firme e o peso bem posicionado e sustentado, dará um comando. Após esse comando, o atleta deverá se agachar até que a sua linha do quadril fique abaixo da linha dos joelhos, voltando à posição inicial em seguida. Quando o árbitro determinar que o atleta retornou com sucesso à sua posição inicial, dará um segundo comando, após o qual o atleta deverá fazer uma tentativa válida de recolocar o peso no suporte - "tentativa válida", no caso, é andar de costas e mover o peso na direção do suporte; originalmente as regras determinavam que o atleta deveria recolocar o peso no suporte, mas, como ele tenta fazer isso de costas, a maioria não conseguia de primeira, então decidiram dar um refresco. Se o atleta tocar os braços nas pernas, mover os pés após começar o agachamento, ou não conseguir retornar à posição inicial "de uma vez só", o levantamento será considerado inválido.
Na técnica do supino, o atleta começa deitado em uma espécie de mesa, com as pernas para os lados, os joelhos dobrados e as solas dos pés tocando totalmente o chão. O peso começa em um suporte sobre a cabeça do atleta, na altura aproximada do comprimento de seus braços. Após se posicionar deitado, o atleta deve pegar a barra, mantendo um espaço máximo de 81 cm entre as mãos, retirar o peso do suporte e colocá-lo sobre seu peito, sem que ele "afunde", ou seja, sustentando-o sobre o peito - se o atleta desejar, pode designar um ajudante, que o ajudará a retirar o peso do suporte, mas não poderá ajudá-lo em nenhum outro procedimento. Quando o árbitro determinar que o peso está firme e bem sustentado sobre o peito do atleta, dará um comando. Após esse comando, o atleta deverá esticar totalmente os braços, travando os cotovelos e sustentando o peso com a força de seus braços. Quando o árbitro determinar que os cotovelos estão travados e o peso está bem sustentado no alto, dará um segundo comando, após o qual o atleta recolocará o peso no suporte. Somente então a apresentação estará concluída. Se o peso afundar no peito do atleta, o atleta deixar de tocar o chão com toda a sola dos pés, falhar em travar os cotovelos, em devolver o peso para o suporte ou tiver qualquer ajuda além da usada para retirar o peso do suporte, o levantamento será considerado inválido.
A técnica do levantamento terra é a mais simples. O peso começa no chão, e o atleta, de pé, de frente para ele. Quando desejar, o atleta se abaixa, pega a barra e levanta o peso, ficando com os ombros retos e os joelhos travados. Diferentemente do levantamento de peso olímpico, o atleta não ergue o peso acima da cabeça, permanecendo com os braços esticados para baixo e o peso entre a cintura e os joelhos. Quando o árbitro determinar que o atleta está na posição correta, dará o comando, e o atleta deverá recolocar o peso no chão, tendo o peso sob seu controle - o que significa que ele não pode soltar ou jogar o peso, nem se desequilibrar enquanto realiza o movimento, ou o levantamento será considerado inválido.
O peso usado no powerlifting é diferente do usado no levantamento de peso olímpico. Pelas regras da IPF, a barra deve ter entre 2,8 e 2,9 cm de diâmetro, tanto no masculino quanto no feminino, e pode ter qualquer comprimento até um máximo de 2,2 metros, desde que a distância entre os discos fique entre 1,31 e 1,32 metros. Como os discos não serão jogados pelos atletas, são todos feitos de ferro, o que permite que sejam mais finos e, consequentemente, que mais discos sejam posicionados em uma mesma barra. A natureza dos levantamentos do powerlifting também não requer que os discos rodem, portanto, as roscas são diferentes, deixando os discos mais firmes. O powerlifting usa discos de 250 g (25 cm de diâmetro, cor cinza), 500 g (branco), 1,25 Kg (preto), 2,5 Kg (vermelho), 5 Kg (45 cm de diâmetro, branco), 10 Kg (preto), 15 Kg (amarelo), 20 Kg (azul), 25 Kg (vermelho) e 50 Kg (65 cm de diâmetro, verde) - esse é o código de cores da IPF, competições de outras federações podem usar outras cores ou até mesmo outros pesos, inclusive em libras ao invés de em Kg. Os colares usados pela IPF são idênticos aos do levantamento de peso olímpico.
O powerlifting também faz uso de equipamentos bastante específicos que ajudam os atletas nos levantamentos, como uma camiseta reforçada para o supino e caneleiras especiais para o agachamento. Eu disse "ajudam" porque o uso desses equipamentos não é apenas para proteção, conferindo uma vantagem real - um mesmo atleta usando a camiseta consegue levantar quase 150 Kg a mais que sem ela, pois ela "trava" o pescoço e os ombros, permitindo maior firmeza no levantamento. Por causa disso, a IPF é bastante restritiva quanto a quais equipamentos podem ou não ser usados em competições oficiais. Embora a maioria dos atletas ainda prefira competir sem os equipamentos, por considerar que assim o esporte é mais puro, o número crescente de praticantes que fazem uso deles nos últimos anos levou as federações a dividir o esporte em duas categorias, com a maioria dos torneios já tendo duas competições, uma para atletas equipados e outra para não-equipados (essa última apelidada pelos atletas de "raw", que significa "crua" em inglês, mas chamada oficialmente pela IPF de "Classic").
Seja qual for a competição, o atletas do powerlifting também são divididos em classes de peso corporal, sendo que competições da IPF, no masculino, atualmente utilizam oito classes (até 59 Kg, 66 Kg, 74 Kg, 83 Kg, 93 Kg, 105 Kg, 120 Kg e mais de 120 Kg), e, no feminino, sete (até 47 Kg, 52 Kg, 57 Kg, 63 Kg, 72 Kg, 84 Kg e mais de 84 Kg). Competições que não sejam realizadas pela IPF podem ter classes diferentes.
A principal competição do powerlifting é o Campeonato Mundial, organizado pela IPF e disputado anualmente desde 1973 no masculino e desde 1980 no feminino. A IPF é bastante rigorosa quanto ao uso de equipamentos no Mundial, publicando regulamentos que descrevem em detalhes como devem ser os equipamentos para que eles possam ser utilizados, para que nenhum atleta tenha uma vantagem desleal. Desde 2012, também anualmente, no masculino e no feminino, a IPF também organiza a Classic World Cup, sendo que, nesse torneio, nenhum tipo de equipamento pode ser utilizado. O powerlifting também faz parte do programa dos World Games desde a primeira edição, em 1981, no masculino, e desde 1989 no feminino. A competição dos World Games também é organizada pela IPF - o que significa que os equipamentos também devem estar de acordo com o regulamento - mas, para serem mais curtas, possuem menos classes de peso corporal, apenas quatro para os homens e quatro para as mulheres.
O powerlifting não está nas Olimpíadas, mas faz parte do programa das Paralimpíadas desde 1984 no masculino e desde 2000 no feminino. O powerlifting paralímpico é regulado pelo IPC, e, nele, os atletas competem em apenas uma das técnicas, o supino. A competição é aberta a qualquer atleta que possua uma deficiência que o impossibilite de competir junto aos que não possuem qualquer deficiência, desde que possua ambos os braços e consiga realizar um levantamento satisfatoriamente. Como o torneio é regulado pelo IPC, as classes de peso corporal são diferentes, existindo atualmente dez classes para os homens e outras dez para as mulheres. O uso de equipamentos é permitido, desde que estejam em conformidade com normas do IPC. Talvez o powerlifting paralímpico tenha sido o principal culpado pelo levantamento de peso paralímpico ter saído das Paralimpíadas, já que a maioria dos atletas que competiam no levantamento de peso passaram a preferir competir no powerlifting.
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