Thomas Sean Connery nasceu em 25 de agosto de 1930, na pequena cidade de Fountainbridge, distrito de Edimburgo, na Escócia. De família pobre, sua mãe era faxineira, e seu pai, descendente de irlandeses que imigraram para a Escócia no século XIX, trabalhava em uma fábrica e fazia bicos como carroceiro. Connery tem um irmão oito anos mais novo, chamado Neil, e, em sua família, é conhecido como Tommy, nome com o qual foi batizado em homenagem a sau avô. Na escola, porém, seus colegas só o chamavam de Sean, seu nome do meio, pois seu melhor amigo era um irlandês chamado Séamus, e, como os dois andavam sempre juntos, ficaram conhecidos como "Séamus & Sean". Ao iniciar sua carreira artística, ele acabaria optando por Sean Connery por não gostar nem de "Thomas Connery", nem de "Tommy Connery".
Antes de ser ator, entretanto, Connery teve diversos empregos. Aos 15 anos, começou trabalhando como leiteiro, e, aos 18, decidiu se alistar na Marinha. Acabaria dispensado naquele mesmo ano ao ser diagnosticado com úlcera no duodeno, condição médica comum nos homens de sua família, mas que torna os indivíduos inaptos para o serviço nas Forças Armadas do Reino Unido. Se mudando para Edimburgo, ele trabalharia novamente como leiteiro, então como carroceiro, salva-vidas em uma piscina pública e lustrador de caixões em uma funerária. Enquanto trabalhava como salva-vidas, por ser alto (1,88 m) e ter o corpo atlético, foi convidado para ser modelo vivo nas aulas de desenho e pintura da Faculdade de Artes de Edimburgo. Durante essas aulas, ele conheceria o "Mr. Escócia" Archie Brennan, campeão nacional de fisiculturismo, que o convenceria a ingressar nesse esporte.
Connery seria fisiculturista dos 19 aos 23 anos, sempre obtendo bons resultados - em 1950, ficaria com o terceiro lugar no campeonato escocês - mas acabaria desestimulado porque quase sempre perdia para atletas que se dedicavam exclusivamente ao fisiculturismo, enquanto ele gostava de se dedicar também a outras atividades atléticas, como o futebol, não querendo abrir mão delas para entrar em um regime de treinamento específico. Ao abandonar o fisiculturismo, aliás, Connery foi chamado para fazer um teste em um time profissional de futebol, o East Fife, e chamou a atenção do diretor do Manchester United, que lhe ofereceu um contrato. Na época, porém, ele já estava pensando em seguir carreira de ator, e sabia que a carreira de jogador de futebol, então, dificilmente se estendia para além dos 30 anos de idade - como já estava com 23, declinou da oferta, e diz nunca ter se arrependido disso.
O envolvimento de Connery com a carreira artística começaria quando ele tinha 21 anos, e, para ganhar um dinheiro extra, aceitou ajudar nos bastidores do King's Theatre de Edimburgo, fazendo trabalho pesado como carregar cenários e máquinas. Enquanto trabalhava, Connery foi se interessando pelo mundo do teatro, e decidiu que, assim que tivesse a oportunidade, faria um teste para uma peça. Essa oportunidade surgiria em 1953, quando, durante uma competição de fisiculturismo em Londres, ele ouviria um dos oponentes comentar que estavam selecionando extras para a produção do musical South Pacific, que sairia em turnê por várias cidades do Reino Unido. Connery fez o teste, e, como também cantava bem, ganhou o papel de um dos rapazes que canta no coral. Ao longo do tempo, a produção do espetáculo foi se afeiçoando a Connery, a quem todos achavam simpático e prestativo, e o diretor decidiu lhe dar uma oportunidade para um papel maior, se provasse que tinha talento. Connery saiu-se muito bem no teste, e, coincidentemente, quando a produção chegou a Edimburgo, foi promovido a um papel maior, com um salário também maior. Quando sua estreia na peça completou um ano, ele foi promovido a protagonista, sendo sua primeira apresentação nesse papel, novamente, em Edimburgo.
No ano de 1954, ainda atuando em South Pacific, Connery faria duas amizades importantes: o ator inglês Michael Caine e o diretor norte-americano Robert Henderson, que decidiu investir em sua carreira, lhe emprestando vários textos de Shakespeare, Tolstoi, Proust e Joyce para que ele os lesse, recomendando que ele fizesse um curso de dicção para se livrar do sotaque e lhe conseguindo pequenos papéis em peças montadas em Londres. Connery seguiria carreira no teatro inglês, atuando em Londres, Oxford e Brentford, principalmente em adaptações de obras de Agatha Christie. Devido a seu porte atlético, ele seria convidado, em 1956, para interpretar um boxeador em um episódio da série The Square Ring. Durante as filmagens, ele conheceria o diretor canadense Alvin Rakoff, que o escalaria em diversos papéis em vários episódios da série Os Condenados. Depois disso, ele migraria do teatro para a TV, sempre conseguindo papéis pequenos em episódios de séries de TV.
Em 1957, Connery faria sua estreia no cinema, interpretando um gangster gago em No Road Back. Naquele mesmo ano, Rakoff, após se desentender com Jack Palance, decidiria dar a Connery sua primeira oportunidade como protagonista, na minissérie da BBC Requiem for a Heavyweight. Em destaque, Connery receberia mais convites para filmes, incluindo sua estreia em uma produção norte-americana, um pequeno papel no filme de ação A Brutal Aventura, da MGM. Nos dois anos seguintes, ele conseguiria mais dois papéis de protagonista: em 1958, como um repórter que se envolve em um triângulo amoroso com os personagens de Lana Turner e Barry Sullivan em Vítima de uma Paixão, e em 1959 em uma produção da Disney, A Lenda dos Anões Mágicos, interpretando um irlandês que se vê em meio a uma guerra entre o povo de sua cidade e um grupo de leprechauns. A Lenda dos Anões Mágicos foi um sucesso de público e crítica, mas os críticos pegaram pesado com Connery, considerando-o "alto, bonito, e só".
Chateado com as críticas, nos anos seguintes Connery se dedicaria majoritariamente aos papéis na TV, se tornando ator regular nas séries iTV Play of the Week, An Age of Kings, Adventure Story e interpretando MacBeth em um filme para a TV e Vronsky em uma versão da BBC de Ana Karenina, ambos em 1961. No cinema, ele voltaria aos papéis pequenos, mas em filmes de grande sucesso, como A Maior Aventura de Tarzan, Até o Último Gangster e O Mais Longo dos Dias. Essas pequenas participações, entretanto, seriam responsáveia por ele conseguir o papel que o transformaria em um grande astro do cinema e pelo qual ele é lembrado até hoje: Bond, James Bond.
A principal responsável pela escolha de Connery para o papel de Bond foi Dana Broccoli, esposa de Albert Broccoli, produtor do primeiro filme do agente secreto, 007 contra o Satânico Dr. No. Dana havia visto Connery em filmes de ação, e o considerou perfeito para o papel, convencendo o marido a chamá-lo para um teste. Após conversar com Broccoli, Connery quase declinou do convite, pois o produtor desejava que ele assinasse contrato para cinco filmes, e ele tinha medo de ficar atrelado a uma série e não conseguir papéis em outras produções; seu empresário, entretanto, o convenceu do contrário, alegando que, se os filmes fossem bem sucedidos, abririam muitas portas. De fato, todos os cinco primeiros filmes de 007 - Dr. No (1962), Moscou Contra 007 (1963), 007 Contra Goldfinger (1964), 007 Contra a Chantagem Atômica (1965) e Com 007 Só Se Vive Duas Vezes (1967), todos estrelando Connery - foram enormes sucessos de público e crítica, levando o ator para o primeiro time e associando-o ao personagem na mente do público - algo que ele não queria nem fazia questão de querer. Conforme seu contrato se aproximava do fim, Connery começou a ficar irritado com a imprensa, e a querer provar que podia ser mais do que Bond.
Após o quinto filme, Connery não quis renovar o contrato, sendo substituído por George Lazenby em 007 a Serviço Secreto de Sua Majestade; quando Lazenby não quis fazer o sétimo filme, Broccoli moveu mundos e fundos para que Connery retornasse - uma exigência da United Artists, estúdio que financiava o filme, que considerava Connery o único capaz de interpretar Bond. O ator acabaria sendo convencido a voltar para 007 os Diamantes são Eternos, de 1971, mas, principalmente devido ao insucesso do filme junto ao público e à crítica, se recusou terminantemente a assinar parta mais um filme. Ele ainda voltaria a interpretar Bond, porém, no filme "não-oficial" da série, 007 Nunca Mais Outra Vez, de 1983 - e, dizem as más línguas, só porque recebeu um caminhão de dinheiro.
Trabalhar na série de 007, entretanto, não fez bem à carreira de Connery apenas financeiramente. O diretor de Dr. No, Terence Young, já havia dirigido o ator em A Brutal Aventura, e decidiu dar um polimento em sua atuação durante as filmagens. Young passava praticamente o dia inteiro com Connery, ensinando-o como se portar como se fosse um membro da alta sociedade, além de lhe dar dicas preciosas de atuação. Quem esteve presente durante as gravações diz que a mudança do início para o final do filme foi visível. Interpretar Bond também transformou Connery em um símbolo sexual, fazendo com que ele recebesse centenas de cartas de fãs femininas por dia, algo com o qual ele - que desde 1962 era casado com a também atriz Diane Cliento, com quem teve um filho, Jason, em 1963 - não se sentia confortável e não sabia como lidar.
Curiosamente, Ian Fleming, o criador do 007, de início, não gostou da escolha de Connery para o papel. Segundo ele, Connery era totalmente diferente da imagem que ele fazia de Bond, sendo muito alto, muito forte, de feições brutas e, além de tudo, escocês - Bond, nos livros, é inglês de pai e mãe. Fleming só aceitou assistir a Dr. No após ser convencido por sua namorada - que bizarramente, usou o argumento de que Connery tinha o mesmo sex appeal que Bond. Após ver a interpretação de Connery, contudo, Fleming ficaria impressionado, chegaria à conclusão de que, ao contrário do que ele pensava, Connery era o Bond perfeito, e até mesmo "revelou" nos livros seguintes que Bond era descendente de escoceses. A única parte na qual Connery talvez não fosse um Bond perfeito era nos cabelos: o ator era calvo desde os 21 anos, e, para que não tivéssemos um 007 careca, teve de usar peruca nas gravações de todos os filmes nos quais interpretou o agente - aliás, Connery usa peruca em quase todos os seus filmes, tanto que sua aparência sem cabelo é até menos conhecida, o que leva muita gente a achar que ele faz o contrário, raspa a cabeça para os filmes nos quais aparece careca.
Enquanto interpretava Bond, Connery atuou em outras produções, inclusive sendo protagonista de dois sucessos de público e crítica: Marnie, Confissões de uma Ladra, de Alfred Hitchcock, de 1964, e A Colina dos Homens Perdidos, de Sidney Lumet, de 1965. Depois que se livrou de Bond, na década de 1970, sua carreira começou a ter altos e baixos, com sucessos moderados como O Vento e o Leão e O Homem Que Queria Ser Rei, ambos de 1975; gigantescos fracassos, como Zardoz (1974) e Robin e Marian (1976), no qual interpretou Robin Hood; e participações elogiadas em filmes de elencos estelares, como Assassinato no Expresso Oriente (1974) e Uma Ponte Longe Demais (1977). Chegando ao final da década de 1970, a carreira de Connery começou a descer ladeira abaixo, acumulando fracassos e convites para produções de gosto duvidoso. Esse declínio, aliás, pode ter sido uma das razões que o motivariam a voltar ao papel de Bond em Nunca Mais Outra Vez.
Sua vida pessoal, no período, também teve altos e baixos. Em 1973 ele se separaria de Diane Cliento, que, anos mais tarde, declararia ter pedido a separação porque ele batia nela. Em 1975, ele se casaria mais uma vez, com a pintora marroquina Micheline Roquebrune, com quem está casado até hoje. Em 1979, ele gastaria uma fortuna comprando um terreno gigantesco no sul da França, onde planejava construir o campo de golfe perfeito, mas jamais teve condições de concluir o projeto, vendendo-o a um bilionário alemão em 1999. Além de fisiculturismo, futebol e golfe, Connery praticou caratê, conseguindo a faixa preta em 1983.
Depois de Nunca Mais Outra Vez, Connery se sentiria desiludido com os grandes estúdios, e passaria dois anos sem atuar em nenhuma produção. Ele seria convencido a voltar pelos produtores de O Nome da Rosa, filme de 1986 baseado no livro de Umberto Eco, que o consideravam perfeito para o papel de Guilherme de Baskerville, personagem principal da história e mentor do jovem monge Adso, que atua como narrador dos eventos. Jean-Jacques Annaud, o diretor do filme, foi contra, e usou como argumento justamente o fato de Connery ter interpretado o 007; sem conseguir outro ator apropriado, porém, acabaria aceitando realizar um teste, e se surpreenderia com a interpretação de Connery - que só aceitaria participar do filme porque era uma produção europeia, sem ligação com os grandes estúdios de Hollywood. O Nome da Rosa seria um grande sucesso e tiraria a carreira de Connery do buraco, fazendo com que ele voltasse a ser convidado para produções de respeito.
Curiosamente, enquanto filmava O Nome da Rosa, Connery seria convidado para outro papel de mentor, o de Juan Sanchez Villa-Lobos Ramirez em Highlander, o Guerreiro Imortal, o qual só aceitou porque era de um estúdio pequeno (Cannon Films), e sua participação consistia de poucas cenas. Também lançado em 1986, Highlander foi um gigantesco sucesso, e, graças a ele, Connery seria convidado para um terceiro papel de mentor seguido: Jim Malone, conselheiro de Elliot Ness em Os Intocáveis, de 1987. A interpretação de Connery seria tão contundente que ele acabaria ganhando o Oscar de Melhor Ator Coadjuvante - na única indicação ao prêmio que recebeu em toda a sua carreira - derrotando Albert Brooks, Morgan Freeman, Vincent Gardenia e Denzel Washington.
A partir de então, Connery voltaria a ter uma carreira de sucesso em filmes de ação, interpretando o Dr. Henry Jones, pai do protagonista (Harrison Ford, caso alguém não saiba), em Indiana Jones e a Última Cruzada (1989); protagonizando A Caçada ao Outubro Vermelho e A Casa da Rússia (ambos de 1990); fazendo uma pequena ponta como o Rei Ricardo Coração de Leão em Robin Hood, o Príncipe dos Ladrões (aquele do Kevin Costner, de 1991); atuando ao lado de Wesley Snipes em Sol Nascente (1993) e de Denzel Washington em Justa Causa (1995); interpretando o Rei Arthur em Lancelot, o Primeiro Cavaleiro (no qual Lancelot era Richard Gere, 1995); fugindo de Alcatraz para depois voltar em A Rocha (1996); e emprestando sua voz ao dragão Draco em Coração de Dragão (também de 1996).
Em 2000, Connery conseguiu mais uma conquista pessoal, ao ser nomeado Cavaleiro do Reino pela Rainha Elizabeth II - se tornando, portanto, Sir Sean Connery. Ele já havia sido nomeado anteriormente, mas seu nome fora rejeitado pela Câmara dos Lordes por ele ser membro do Partido Nacional Escocês, que luta pela independência da Escócia. Connery é tão engajado na causa que disse várias vezes acreditar que a Escócia se tornará um país independente antes de ele morrer, e, quando foi morar em Londres, jurou jamais voltar a morar na Escócia enquanto o país não conseguisse sua independência.
A partir do final da década de 1990, a carreira de Connery voltou a ter altos e baixos. Armadilha, de 1999, no qual contracena com Catherine Zeta-Jones, foi um grande sucesso de público, e Encontrando Forrester, de 2000, no qual interpreta um escritor recluso, foi um grande sucesso de crítica; por outro lado, a versão para o cinema da série de TV inglesa Os Vingadores, de 1998, na qual Connery interpreta o vilão, e A Liga Extraordinária, de 2003, adaptação da série em quadrinhos de Alan Moore, na qual Connery interpreta Alan Quattermain, foram gigantescos fracassos tanto de público quanto de crítica. Dizem os boatos que Connery teria sido convidado para interpretar Gandalf na trilogia de O Senhor dos Anéis, mas teria recusado porque leu o roteiro e não entendeu nada; na verdade, sua desilusão com os grandes estúdios voltou a aparecer, o que acabou levando a mais três anos sem filmar e, em 2006, a declarar que estaria se aposentando da carreira de ator.
Atualmente, Connery está com 84 anos, aposentado e vivendo com sua esposa nas Bahamas. Notícias não confirmadas dão conta de que ele está senil, não reconhecendo mais os amigos nem podendo sair de casa desacompanhado. Se for mesmo verdade, é uma pena. E uma prova de que todos nós estamos sujeitos às vicissitudes da velhice.
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