Lançado em 2006, Ergo Proxy é um thriller de ficção científica noir cyberpunk - que surgiu a partir de um título que, aparentemente, é composto de duas palavras que alguém achou que soavam bem juntas: ergo é uma conjunção latina que significa "portanto", e costuma ser usada em textos científicos escritos em língua inglesa, enquanto proxy, que poderia ser traduzido para "procurador", é alguém que recebe autorização para agir em nome de outra pessoa, sendo um termo frequentemente usado em informática para se referir a um servidor que se presta a "conexões indiretas" (ao invés de o seu computador se conectar ao servidor X, ele se conecta ao servidor proxy, e o proxy se conecta ao servidor X).
O título foi uma ideia do roteirista Dai Sato, que trabalhava para o estúdio Manglobe. Além de criá-lo, ele definiu que a história seria ambientada no futuro mas com clima de filmes de detetives dos anos 1930, criou uma curta sinopse dos três primeiros episódios, e fez alguns esboços de como seria a cidade na qual a trama se passa. Ele apresentaria esses elementos à Manglobe, que os aprovaria e chamaria o diretor Shukou Murase para liderar o projeto, com a promessa de que ele teria liberdade total para desenvolver a série da forma como quisesse - a Manglobe planejava lançá-la diretamente em DVD, então preocupações como interferência da rede de TV na qual seria exibido ou pressão dos patrocinadores, muito comuns ao se desenvolver um anime, não estariam presentes. Em conjunto, Sato e Murase decidiriam incluir elementos filosóficos e existencialistas, transformando o anime em uma reflexão sobre se o homem é um produto do meio em que vive ou se já nasce com seu caráter formado.
Para isso, eles usariam robôs. Ergo Proxy é ambientado num futuro pós-apocalíptico, milhares de anos após uma tragédia ambiental que dizimou quase toda a população da Terra. Em teoria, todos os sobreviventes habitam enormes cidades sob domos, que os protegem dos efeitos venenosos da atmosfera - embora alguns, principalmente por pobreza, se arrisquem viver fora dos domos, em um ambiente que, para todos os efeitos, é letal para humanos. Nessas cidades, os humanos contam com a companhia dos AutoReivs, androides que desempenham funções como secretária, babá, cozinheira e outras, deixando para os humanos as funções consideradas importantes, como advogado, professor e médico. Apesar de sua aparência e comportamento, AutoReivs são, essencialmente, robôs: cada um possui uma programação própria, a qual não pode desrespeitar nem extrapolar, só agindo dentro de seus limites.
Humanos e AutoReivs conviveram pacificamente durante centenas de anos - ao ponto de que muitos humanos já nem sabem mais fazer algumas coisas sem sua ajuda - mas, pouco antes de a série começar, um novo elemento coloca em perigo essa relação: na cidade de Romdeau, surge um estranho vírus que faz com que os AutoReivs tornem-se capazes de anular sua programação, agindo como bem entenderem. Por dar aos AutoReivs uma espécie de consciência, o vírus é logo chamado de Cogito (que, em latim, significa "penso" - como em cogito ergo sum, "penso, logo existo"). AutoReivs infectados pelo Cogito se tornam rebeldes e violentos, não aceitando mais ordens de seus donos - e logo os primeiros assassinatos atribuídos a AutoReivs começam a surgir.
É assim que se envolve na história Re-l Mayer (cuja pronúncia do primeiro nome é "wríou", mesma da palavra real em inglês), uma investigadora da polícia que, ao lado de seu parceiro, o AutoReiv Iggy, recebe a incumbência de investigar um assassinato atribuído a um AutoReiv. Durante a investigação, porém, ela acaba encontrando uma criatura muito mais poderosa: um Proxy. Tidos como lendas, Proxys são praticamente deuses, sendo não somente imortais, mas também muitíssimo mais fortes, rápidos, ágeis e inteligentes que os humanos. Re-l não sabe, mas, secretamente, os governantes da cidade faziam experimentos com esse Proxy, acreditando que ele contém a chave para a salvação da humanidade, que, após tantos anos enclausurada nos domos, parece ter chegado a um impasse: ou retorna para as áreas livres do planeta, ou os domos se tornarão incapazes de continuar sustentando-a.
Após travar contato com o Proxy, Re-l conhece um imigrante - em Romdeau, imigrantes são cidadãos de terceira classe, sendo considerados inferiores até mesmo aos AutoReivs - chamado Vincent Law. Natural da cidade de Mosk, Vincent trabalha na Divisão de Controle de AutoReivs, e tem como função diagnosticar se um AutoReiv está ou não infectado, encaminhando para "reparos" os que não passarem nos testes. Ele acaba se afeiçoando a um AutoReiv infectado, Pino, que tem a aparência e o comportamento de uma menininha - pois foi fabricado para ser "filha adotiva" de Raul Creed, o chefe do Escritório de Segurança de Romdeau, órgão que zela pelo bem-estar e segurança de seus cidadãos, ao qual Re-l, como policial, também é subordinada. Se unindo a Vincent e a Pino, Re-l fará descobertas que a farão questionar tudo o que tinha por certeza até agora.
Originalmente planejado para ser lançado diretamente em DVD, Ergo Proxy acabaria estreando também no canal por assinatura WOWOW (pois é, o nome é esse mesmo), em 25 de fevereiro de 2006, saindo em DVD três meses depois. O anime seria bastante elogiado, especialmente quanto a seus temas filosóficos e à beleza de seus cenários - seu estilo de animação, que mescla animação tradicional com computação gráfica, também seria bastante elogiado, principalmente nos Estados Unidos, onde ele seria exibido em 2007. Ao todo, a série teria 26 episódios.
Praticamente junto com o anime, foi lançado um spin-off em mangá, chamado Centzon Hitchers & Undertaker (assim em inglês mesmo), que acompanha uma AutoReiv infectada chamada Dorothy e um astrônomo chamado Leon Apple, vivendo aventuras na cidade-domo de Centzon. Publicado na revista Monthly Sunday Gene-X entre março de 2006 e fevereiro de 2007, o mangá também fez bastante sucesso, e chegou a cogitar-se adaptá-lo para um novo anime, projeto que não foi levado adiante.
É curioso, aliás, que, mesmo tendo sido bem sucedido, Ergo Proxy tenha ficado restrito a um anime e um mangá - tanto que esse é o meu post mais curto do átomo em anos. Na verdade, porém, a gente estranha, mas eles fizeram o certo: a história foi contada, não há por que ficar prolongando-a só para ganhar mais dinheiro.
Muito bom texto! Grato!
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