Sempre que eu penso em "ficção científica pessimista", me vem à mente V. Para quem não sabe, V foi uma série de ficção científica da década de 1980 que, assim como Battlestar Galactica, foi "reimaginada" para a época atual. E, na "reimaginação", evidentemente, teve de ter um clima pessimista, opressor e de viés político. O fato de ter sido cancelada após duas temporadas e 22 episódios mostra que não deu certo.
O que é uma pena, porque o V original é muito legal, não merecia ser estragado do jeito que foi. Em homenagem aos velhos tempos, quando refilmar não era sinônimo de estragar, vamos a um post sobre V!
Inicialmente, V não seria uma história de ficção científica. Seu criador, o produtor Kenneth Johnson, responsável pelas séries de TV O Homem de Seis Milhões de Dólares, A Mulher Biônica e O Incrível Hulk, pretendia fazer uma versão para a TV do livro It Can't Happen Here (algo como "isso nunca aconteceria aqui"), escrito por Sinclair Lewis em 1935. No livro, Buzz Windrip, um político populista, vence a eleição para Presidente dos Estados Unidos, e, uma vez empossado, trata de se garantir cada vez mais poder, criando uma milícia chamada Minute Men e governando com mão de ferro - dissolvendo o Congresso e colocando todos os seus opositores em campos de concentração. A maior parte da população nem se importa - ou acha que Windrip está certo, ou entra em negação, afirmando que seria impossível que isso acontecesse na América - mas o jornalista Doremus Jessup, inconformado, decide começar um movimento de resistência para tirar Windrip do poder e reinstaurar a democracia.
Johnson, fã do livro, escreveu um roteiro para um filme de TV chamado Storm Warnings ("avisos da tempestade"), o qual ofereceu para a NBC em 1982. A emissora, porém, o rejeitou, alegando que o paralelo entre Windrip e Hitler fazia sentido em 1935, mas não em 1982, e que a história seria "intelectual demais" para o público médio da televisão. Um dos executivos, entretanto, daria a Johnson uma ideia: para pegar carona no sucesso crescente de filmes de ficção científica, ele poderia substituir os norte-americanos fascitas por extraterrestres, e a eleição por uma invasão. Se manteria a alegoria nazista, mas o produto final seria mais palatável aos olhos dos executivos da TV.
E foi o que Johnson fez. Pegando também elementos da peça de teatro Terror e Miséria no Terceiro Reich, do dramaturgo alemão Bertold Brecht, e do conto To Serve Man, de Damon Knight - mais tarde adaptado para um episódio de Além da Imaginação - Johnson criaria uma história sobre alienígenas que vêm à Terra fingindo serem pacíficos, mas que, na verdade, estão interessados em nossos recursos naturais. O roteiro seria aprovado, mas, de tão grande, acabaria se tornando não um filme, mas uma minissérie em dois capítulos de uma hora e meia cada, exibidos em 1o e 2 de maio de 1983.
Assim como em It Can't Happen Here, o protagonista de V é um jornalista, Mike Donovan (Marc Singer). Correspondente de guerra, ele é um dos escolhidos por John (Richard Herd), Comandante dos Visitantes - como os alienígenas se referem a si mesmos - para visitar uma de suas naves quando estas chegam à Terra. De aparência humana, mas falando com uma estranha voz modulada, os Visitantes, que chegam em 50 enormes naves-mãe sobrevoando várias cidades do mundo, se dizem pacíficos, e prometem à população de nosso planeta compartilhar sua tecnologia superior em troca de minérios e compostos químicos dos quais precisam para solucionar problemas em seu mundo natal. Os governos da Terra concordam, e logo os Visitantes se instalam em diversas usinas e fábricas, produzindo os tais compostos de que precisam. Aos poucos, porém, vão dando mostras de que não são tão amiguinhos assim.
Primeiro, eles começam a perseguir cientistas. Todos os que contestam suas ações são desacreditados, têm suas ações restringidas ou perdem o direito a pesquisas. Isso afeta diretamente três personagens: o renomado paleontólogo Robert Maxwell (Michael Durrell), que tem de contar com a ajuda de seu jardineiro, Sancho Gomez (Rafael Campos) para fugir com sua esposa, Kathleen (Penelope Windust) e suas filhas, a adolescente Robin (Blair Tefkin), a menina Polly (Viveka Davis) e a nenezinha Katie (Marin May) antes que o pior lhes aconteça; a estudante de medicina Julie Parrish (Faye Grant), que passa a ter várias oportunidades de emprego negadas; e o médico Ben Taylor (Richard Lawson), cujo pai, Caleb (Jason Bernard) é designado para trabalhar com os Visitantes em uma usina, e o irmão, Elias (Michael Wright) vive nas ruas e não confia nos alienígenas.
Em seguida, os Visitantes começam uma onda maciça de propaganda, com direito a cartazes tipo "os Visitantes são seus amigos" e matérias na TV mostrando como eles são bons para nós, feitas pela jornalista Kristine Walsh (Jenny Sullivan), antiga namorada e rival de Donovan. Como parte da propaganda, os Visitantes criam o programa "Amigos dos Visitantes", no qual jovens da Terra ganharão a oportunidade de visitar as naves, receber treinamento e ajudar nas missões lideradas por Brian (Peter Nelson), um Visitante de aparência adolescente. Um dos mais ávidos Amigos dos Visitantes é o jovem sedento de poder Daniel Bernstein (David Packer), cujo avô, Abraham (Leonardo Cimino), judeu e sobrevivente de um campo de concentração, se esforça para convencer ao filho, Stanley (George Morfoley) e à nora, Lynn (Bonnie Barlett), de que tudo o que ele viveu na Europa durante o nazismo está se repetindo.
Donovan, que não compra a história de que os visitantes são pacíficos, durante uma de suas visitas à nave faz uma aterradora descoberta: os Visitantes, na verdade, não são humanos, mas répteis usando pele sintética para disfarçar sua aparência. Mais que isso, eles não estão aqui para conseguir minérios e compostos químicos, mas para roubar a nossa água, já que a do planeta deles acabou, e para juntar a maior quantidade de prisioneiros possível - carnívoros, eles não se importam de comer seres humanos, e precisarão estocar bastante comida para sua viagem de volta. Com a ajuda de seu assistente Tony Chong (Evan Kim), ele consegue gravar imagens que comprovam tudo isso, mas, quando vai exibi-las, os Visitantes interferem com a transmissão. Desacreditado, Donovan passa a ser perseguido, e decide, com a ajuda de Robert, Julie e Ben, formar uma Resistência, com o propósito de desmascarar (literalmente) os Visitantes e impedir seu plano antes que seja tarde demais.
Mas isso não será tão fácil: muitos humanos, a começar pela mãe de Donovan, Eleanor Dupres (Neva Patterson) - cujo segundo marido, Arthur Dupres (Hansford Rowe), é dono da usina onde trabalha Caleb - apoiam os Visitantes e ficam contra a Resistência, acreditando que eles são um bando de arruaceiros querendo bagunçar um acordo bom para os dois lados. Felizmente, do lado dos Visitantes também há os insatisfeitos, aqueles que discordam do plano de roubar a água e comer as pessoas e que se aliam à Resistência, como o simpático e atrapalhado Willie (Robert Englund, que mais tarde faria carreira interpretando o Freddy Kruger), designado para trabalhar na mesma usina que Caleb, e que acaba se apaixonando por uma humana, Harmony Moore (Diane Civita); e um dos líderes da invasão, Martin (Frank Ashmore), que, ao lado de Barbara (Jenny Neumann), se torna um dos principais aliados da resistência, fornecendo informações valiosas e acesso às naves quando necessário.
Outros personagens de destaque são Ruby Engels (Camila Ashland), uma simpática senhora que antes da invasão era atriz, e se torna uma das mais eficientes espiãs da resistência (afinal, que desconfia de uma velhinha?); o filho de Donovan, Sean (Eric Johnston), capturado pelos Visitantes para ser comido, e que Donovan, evidentemente, quer salvar a qualquer custo; o comandante da operação Visitante, Steven (Andrew Prine), de quem Eleanor se torna amiga; e talvez o personagem mais famoso da série, a Visitante Diana (Jane Badler), oficial de ciências responsável por inventar uma máquina que faz lavagem cerebral nos humanos, tornando-os amigos incondicionais dos Visitantes. Gananciosa, Diana deseja sempre mais do que seu posto lhe confere, odeia a humanidade, e parece não se decidir se quer terminar logo de pegar a água e a comida para voltar logo para casa, ou se quer ficar por aqui mais um tempo torturando os inocentes.
V foi um gigantesco sucesso, elogiada por sua alegoria do nazi-fascismo e por seus efeitos especiais - que fizeram com que seu orçamento fechasse em 13 milhões de dólares, um absurdo para a televisão da época. Algumas de suas cenas, como a de Diana comendo um porquinho-da-Índia, entrariam para a lista das mais icônicas da história da televisão - e das mais surpreendentes, já que quem assistia quando da estreia não tinha ideia do que ia acontecer. A minissérie termina propositalmente aberta, e o grande sucesso, evidentemente, foi a garantia de que uma continuação estava a caminho.
Essa continuação, entretanto, passaria por alguns problemas de produção. Johnson escreveria um roteiro, junto com três outros roteiristas, que seria considerado pela NBC "emocionante e trazendo uma conclusão satisfatória", mas impossível de ser realizado devido ao custo que seus efeitos especiais teriam. Bizarramente, ao invés de deixar Johnson refazer o roteiro para deixar a série mais barata, a NBC simplesmente o demitiu e contratou novos roteiristas para revisar o roteiro. No fim, a NBC quis dar créditos de roteirista a Johnson, mas ele, compreensivelmente irritado, disse que só aceitaria se fosse sob o pseudônimo de Lillian Weezer.
A continuação seria batizada como V: A Batalha Final (V: The Final Battle), e seria mais uma vez uma minissérie, desta vez em três partes de uma hora e meia cada, exibidas em 6, 7 e 8 de maio de 1984. Ambientada alguns meses após os eventos da minissérie anterior, V: A Batalha Final mostraria mais uma vez a resistência em seu intuito de revelar ao mundo a verdadeira face dos Visitantes, desta vez com mais sucesso, graças à chegada dos mercenários Ham Tyler (Michael Ironside) e Chris Farber (Mickey Jones). Com experiência em terrorismo e guerrilha, os dois conseguem colocar a Resistência em vantagem, mas são duramente criticados por Donovan - a quem Ham apelida de "Bonzinho" (Gooder, no original) - que preferiria combater os alienígenas com menso violência.
Outros personagens novos da segunda minissérie são o Padre Andrew Doyle (Thomas Hill), que acredita que, sendo todos filhos de Deus, humanos e visitantes podem conviver em paz, e tenta convencer Diana disso; o ex-policial Mark (Sandy Simpson), que não vai com a cara de Willie e não confia em Martin; sua noiva, a enfermeira Maggie Blodgett (Denise Galik), que finge um interesse romântico em Daniel para descobrir os planos dos Visitantes; e a Visitante Pamela (Sarah Douglas), enviada pelo Líder dos Visitantes para colocar Diana na linha e acelerar o andamento da missão. Momentos-chave da minissérie incluem Diana tentando fazer lavagem cerebral em Julie, que passa a ficar desconfiada de sua própria lealdade; a lavagem cerebral de Sean, que passa a atuar como espião dos Visitantes na Resistência; e um envolvimento sexual de Brian e Robin, conduzido por Diana como uma experiência, cujo resultado é uma criança híbrida de humanos e visitantes, Elizabeth (Jenny Beck) - que acaba se tornando a chave para a derrota dos visitantes. V: A Batalha Final termina com a Resistência vencendo a guerra - apesar de muitas baixas - e os Visitantes voltando para seu planeta com o rabo entre as pernas - exceto Diana, que pega uma nave auxiliar e foge para a Terra.
Assim como a primeira minissérie, V: A Batalha Final foi um grande sucesso, ganhando em audiência de suas principais concorrentes, Os Últimos Dias de Pompeia, da ABC, e Concealed Enemies, da PBS, além de ganhar um Saturn Awards, o Oscar da ficção científica. Diante desse desempenho, a NBC começou preparativos para transformar V em uma série regular. Johnson, que não gostou das alterações feitas pelos novos roteiristas de V: A Batalha Final, não quis se envolver com o projeto, mas ainda acabaria sendo creditado como criador da série, para atrair audiência.
A série de V - que, oficialmente, se chama apenas V, mas, para não confundir com a minissérie, acabou apelidada de V: The Series - estrearia em 26 de outubro de 1984. Ambientada um ano após os eventos de V: A Batalha Final, ela possui um clima totalmente diferente das minisséries: enquanto nas minisséries a dominação alienígena era sutil, e a resistência se esforçava para desmascará-los perante o grande público, na série os Visitantes entraram de sola e dominaram tudo, quase exterminando a raça humana e fazendo com que diversas células de resistência surgissem ao redor do planeta, tentando expulsar os extraterrestres de nosso mundo.
Os dois primeiros episódio da série serviriam de ponte, explicando como os Visitantes conseguiram realizar essa segunda invasão, determinando quais personagens das minisséries prosseguiriam na série - e explicando o porquê de alguns não continuarem - e introduzindo alguns personagens novos. Um fato interessante envolve o terceiro episódio: originalmente programado para ir ao ar, evidentemente, após o segundo, o episódio seria rejeitado depois de pronto pela NBC, que o consideraria muito violento. O problema é que ele introduz um dos principais personagens da série, Kyle Bates (Jeff Yagher). A solução encontrada pela produção foi refazer algumas das cenas do quarto episódio, usando-as para inserir Kyle na história. Só que, quando a série entrou em syndication - sendo vendida para outras emissoras que não fossem afiliadas da NBC - e começou a ser reprisada, o terceiro episódio foi exibido normalmente, entre o segundo e o quarto, o que causou uma série de situações estranhas - personagens que conheceram Kyle no terceiro episódio aparentemente tiveram uma amnésia temporária, e tiveram de ser apresentados a ele novamente no quarto, tendo as mesmas reações.
Das minisséries sobrariam Diana, agora a comandante das tropas invasoras, disposta a fazer o que for preciso para que a Resistência pague pela humilhação a que foi submetida; Elias, que agora é dono de um restaurante fino no qual Willie trabalha de garçom e que serve de fachada para o quartel-general da Resistência; Robin, que já não é mais uma adolescente, mas às vezes se comporta como uma; e mais Donovan, Julie e Ham, os líderes da Resistência - Chris faz apenas uma participação em três episódios. Dois dos personagens da minissérie tiveram de trocar de intérprete: Sean (agora interpretado por Nicky Katt), o filho de Donovan, passou a se envolver cada vez mais com os Visitantes, rejeitando o pai e a Resistência apesar de todos os esforços de Donovan para salvá-lo; e Elizabeth, a filha de Robin, híbrida de humano e Visitante, passou por uma metamorfose no segundo episódio, se transformando em uma adolescente com poderes psíquicos e sendo interpretada por Jennifer Cooke.
Os personagens novos incluem Nathan Bates (Lane Smith), presidente de uma organização chamada Fronteiras da Ciência e responsável por um acordo com os Visitantes que transformou Los Angeles em uma Cidade Livre em Zona Desmilitarizada - na maior parte das vezes, só no papel. Bates é pai do já citado Kyle, que não concorda com os métodos do pai, se torna um dos principais membros da Resistência e interesse amoroso de Elizabeth. Outro personagem novo ligado a Bates é Mr. Chiang (Aki Aleong), chefe de segurança das Fronteiras da Ciência e devotado a descobrir o local do quartel-general da Resistência. Julie, aliás, trabalha para a Fronteiras da Ciência, tendo de manter o fato de que é uma das líderes da Resistência em segredo. Finalmente, temos Lydia (June Chadwick), Visitante enviada pelo Líder para supervisionar a invasão e principal rival de Diana - uma passa a série inteira alfinetando a outra.
A audiência da série começou bem, mas depois se pôs a cair vertiginosamente. Para tentar salvá-la, os produtores incluíram mais um novo personagem, o Visitante Charles (Duncan Regehr), Comandante Supremo dos Visitantes, enviado pelo Líder para tentar acabar com a incompetência de Diana e Lydia e dominar a Terra de uma vez por todas - e que levou ao fato bizarro de uma série de TV dos anos 80 ter um casal de vilões chamados Charles e Diana. Após a chegada de Charles, a série passou a focar bem mais nos Visitantes, falando sobre vários de seus rituais, características de sua sociedade e de sua cultura, incluindo até alguns Visitantes cômicos, como o agente funerário e decorador de interiores Oswald (Peter Elbling).
Como não deu certo, os produtores optaram por uma repaginada, mudando a abertura para uma mais sinistra, voltando a focar principalmente na Resistência, e retirando vários personagens antigos, que foram lutar em outras plagas. Nessa "segunda fase" também foram incluídos os visitantes James (Judson Scott), comandante das tropas e amante de Diana; e Phillip, o irmão gêmeo de Martin (e igualmente interpretado por Frank Ashmore), que a princípio serve ao Líder, mas, após conhecer Donovan, passa a ajudar a Resistência. Nem assim a audiência subiu, e, dos 22 episódios programados, a série acabou se encerrando com apenas 19, sendo o último exibido em 22 de março de 1985. Os produtores ainda fizeram um final aberto, com esperança de conseguir a luz verde para uma segunda temporada, mas não teve jeito.
Após o cancelamento da série, Johnson tentou durante anos ressucitar V no formato de uma nova minissérie, e até chegou a escrever um romance, V: The Second Generation, que ignora todos os eventos de V: A Batalha Final e da série. Ambientada 20 anos após os eventos da minissérie original, V: The Second Generation, lançado em 2008, mostra uma Terra totalmente dominada pelos Visitantes, mas na qual a maior parte da população ainda não acredita que eles sejam lagartos, com a Resistência, cada vez mais enfraquecida e mais perto da derrota, ainda lutando para desmascará-los. Quando tudo parece perdido, surge uma nova raça alienígena, os Zedti, inimigos de longa data dos Visitantes, que se alia à Resistência e vira a mesa a seu favor. Mas, conforme a vitória se aproxima, a Resistência começa a desconfiar que os Zedti têm seus próprios motivos para salvar a Terra.
Depois de escrever o livro, mas antes de publicá-lo, Johnson chegou a entrar em negociações com a NBC para transformar V: The Second Generation ou em uma nova minissérie, ou em um filme para a TV. A Warner Bros, porém, que havia adquirido os direitos de V na época do lançamento das minisséries e da série em DVD, motivada pelo sucesso da nova versão de Battlestar Galactica, optaria ela mesma por produzir uma nova versão de V. Diante do início da produção do V da Warner, a NBC interrompeu as negociações com Johnson, que, então, decidiu lançar sua própria continuação no formato de livro.
Assim como ocorreu com Battlestar Galactica, a nova versão de V era uma "re-imaginação", um remake ambientado na época atual, com novos personagens e novas situações. Johnson não se envolveu com o projeto, embora seja creditado, mais uma vez, como seu criador, a pedido da Writers Guild of America - uma espécie de sindicato dos roteiristas dos EUA. A produção ficou a cargo de Scott Peters (de The 4400), que optou por usar apenas duas coisas do V original - os Visitantes são répteis e posam de bonzinhos - mudando todo o resto.
Nessa nova versão, os visitantes são liderados por Anna (a brasileira Morena Baccarin, de Firefly), que também é Rainha de toda a sua espécie - apesar de continuarem répteis, os Visitantes agora possuem uma sociedade insetoide, com diferentes "subespécies" como "soldado", "rastreador" etc; além disso, seu disfarce não é apenas uma pele falsa, sendo produto de engenharia genética. Os Visitantes chegam à Terra a bordo de 29 grandes naves, que estacionam sobre as principais cidades do planeta, e, mais uma vez, clamam vir em paz, oferecendo sua ajuda e tecnologia avançada em troca de uma pequena parcela de nossos recursos naturais, necessários para seu planeta natal. Como de costume, nem todo mundo compra a história, principalmente a agente do FBI Erica Evans (Elizabeth Mitchell, a Juliet de Lost) e o padre Jack Landry (Joel Gretsch), ex-capelão do exército. Um dia, ambos são abordados pelo Visitante Ryan Nichols (Morris Chestnut), que está infiltrado em nosso planeta desde muito antes da chegada de Anna. Descontente com os planos de Anna e desejando viver em paz entre os humanos, Ryan revela que os Visitantes são, na verdade, répteis, e que estão entre nós há anos, infiltrados no governo, na economia e nas religiões, sendo a chegada de Anna o último passo para a conclusão de seu plano de dominação do planeta. Ryan, Erica e Jack, então, formam uma Resistência, devotada a desmascarar os Visitantes perante o grande público e impedir seu plano maligno.
Outros personagens humanos são Tyler (Logan Huffman), filho de Erica, que fica extremamente empolgado com a chegada dos Visitantes e se alista no programa de Embaixadores da Paz, que recruta jovens humanos para servir de relações-públicas entre as duas raças; Valerie Stevens (Lourdes Benedicto), noiva de Ryan, que dará luz à primeira criança híbrida de humano e visitante; Chad Decker (Scott Wolf), repórter de TV que vê na cobertura da invasão e na chance de se tornar porta-voz de Anna a maior oportunidade de sua carreira; e Kyle Hobbes (Charles Mesure), um terrorista irlandês que oferece seus serviços à Resistência, mas esconde um segredo em seu passado. Dentre os Visitantes temos Marcus (Christopher Shyer), braço-direito de Anna; Joshua (Mark Hildreth), médico da nave-mãe e também membro do grupo que é contra os planos da Rainha, ajudando a Resistência em várias ocasiões; Dale Maddox (Alan Tudyk, também de Firefly), parceiro de Erica no FBI; e Lisa (Laura Vandervoort, a Supermoça de Smallville), filha de Anna e futura Rainha, por quem Tyler se apaixona. Personagens coadjuvantes incluem Paul Kendrick (Roark Critchlow), chefe de Erica e Dale no FBI; Sarita Malik (Rekha Sharma, de Battlestar Galactica), agente do FBI membro da força especial para investigar atos contra os Visitantes; o Padre Travis (Scott Hylands), superior de Jack; e Joe Evans (Nicholas Lea, o Alex Krycek de Arquivo X), ex-marido de Erica e pai de Tyler.
A primeira temporada de V, que estrearia em 3 de novembro de 2009, sofreria um problema inesperados: a ABC, canal que televisionava a série, tinha os direitos de transmissão das Olimpíadas de Inverno de 2010, e decidiu suspender a série durante as duas semanas do evento. Os produtores ainda chegaram a declarar que "sempre foi sua intenção" fazer dois blocos ao invés de uma temporada contínua, mas essa desculpa não colou, e o resultado da interrupção foi o que ninguém queria: após começar com uma audiência fabulosa e sob uma chuva de elogios da crítica, os números de V foram caindo a cada episódio, a ponto de a média de audiência de toda a segunda metade da temporada (a que foi exibida depois das Olimpíadas) ser praticamente a metade da audiência do piloto.
Além disso, uma discussão bizarra tomou os críticos de TV que comentavam a série: talvez achando que V não seria V sem uma alegoria política, vários deles começaram a dizer que a série fazia uma alegoria do governo de Barack Obama - usando como argumento até mesmo o fato de que os Visitantes ofereceram aos humanos um sistema de saúde gratuito, uma das principais plataformas de Obama. Várias vezes os produtores e atores da série negaram - Jeffrey Bell, o produtor executivo, chegou a declarar que V era "uma série sobre naves espaciais e nada mais" - mas, a cada dia, mais gente parecia achar que Anna era Obama, e os Visitantes, o Partido Democrata.
Como a produção já estava atrasada mesmo, os produtores decidiram não fomentar ainda mais a controvérsia e encerrar a primeira temporada com apenas 12 episódios - mais uma vez alegando que esse já era o plano desde o início - e inventar um cliffhanger bem legal para a segunda temporada, já garantida pela ABC. Prevista para estrear no final de 2010, entretanto, a segunda temporada também sofreria um atraso na produção por um motivo bizarro: descontente de ter que creditar Johnson como criador de uma série que, na sua visão, não tinha nada a ver com a original, a Warner se envolveu em uma batalha jurídica com a Writers Guild of America, o que levou a um mês de paralisação nas filmagens e não adiantou nada, já que a Warner perdeu. Por causa disso, a segunda temporada só estrearia em 4 de janeiro de 2011 - e algum dos roteiristas deve ter tido aulas com J.J. Abrams, porque resolveram o cliffhanger mal e porcamente.
A segunda temporada revelaria que os Visitantes estão entre nós para absorver nosso DNA e melhorar sua própria espécie, exterminando-nos em seguida - algo que eles vêm fazendo há anos, com vários povos do Universo - mas que nossas emoções são perigosas para eles - naturalmente sem emoções, um Visitante se torna confuso ao adquiri-las, e a maioria deles se volta contra Anna e seus planos. A segunda temporada trouxe dois novos personagens de destaque, o cientista Sidney Miller (Brett Harrison), responsável por descobrir o que os Visitantes querem conosco; e Eli Cohen (Oded Fehr), líder de uma organização global paramilitar que se alia à Resistência meio a contragosto.
Os dois principais atores da minissérie original de V seriam convidados a atuar na segunda temporada: Jane Badler interpreta uma nova Diana, essa mãe de Anna e antiga Rainha dos Visitantes, que, após ser "contaminada" pelas emoções humanas, chegou à conclusão de que a fusão com nosso DNA destruiria sua raça e abandonou os planos de invasão, sendo destronada por sua filha, que os levou adiante; e Marc Singer, o Donovan, agora interpreta Lars Tremont, chefe de uma organização governamental ultrassecreta que sabe que os Visitantes estão entre nós há anos, e agora se prepara para contra-atacar, se aliando à Resistência.
Infelizmente, o contra-ataque jamais veio. Com baixa audiência e sob pesadas críticas, a segunda temporada acabaria tendo apenas 10 episódios, com o último indo ao ar dia 15 de março de 2011. Mais uma vez, os produtores criaram um final aberto, esperançosos de, no mínimo, convencer algum outro canal (NBC?) a bancar uma terceira temporada, mas, mais uma vez, não teve jeito, e V foi cancelada de novo.
Passado um ano do cancelamento, ainda é forte uma capanha dos fãs - apoiada pelo produtor executivo Scott Rosembaum e por alguns dos atores - para que outro canal, em especial o TNT - que exibia a re-imaginação de Battlestar Galactica e pertence ao mesmo grupo da Warner - banque uma terceira temporada para a série. Enquanto isso, Johnson tenta convencer algum estúdio de Hollywood a fazer uma versão para o cinema da minissérie original. Ou seja, pode ser que não tenhamos visto ainda o fim dos Visitantes. Mas como será sua próxima vinda ainda é um mistério.
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