segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

Escrito por em 7.2.11 com 3 comentários

As Crônicas de Nárnia

Hoje o átomo finalmente chega à marca de 400 posts. Talvez, para um blog prestes a completar oito anos de vida, não seja uma marca assim tão impressionante, mas, como praticamente desde a sua criação ele só tem um post por semana, não deixa de ser bastante expressiva. Celebremos, portanto, essa conquista enquanto eu me preparo para o Desafio dos 500 Posts. Sim, porque, como eu disse semana passada, agora chegar aos 500 é questão de honra.

Para comemorar o quatrocentésimo post do átomo, eu escolhi falar sobre As Crônicas de Nárnia. De certa forma, não foi nada assim planejado há um bom tempo. Para falar a verdade, eu estava desde o post 380 pensando em qual assunto seria legal o suficiente para um quatrocentésimo post, e nada do que eu escolhia me agradava muito. Mas aí eu fui assistir A Viagem do Peregrino da Alvorada no cinema (em 3D, embora isso não venha ao caso), e achei que um post sobre Nárnia não somente seria legal de se fazer como também caberia bem nessa ocasião especial.

As Crônicas de Nárnia são uma série de sete livros escritos na metade do século XX pelo autor britânico C.S. Lewis. Confesso que nunca os li. Assim como muita gente por aqui, só tomei conhecimento de que os livros existiam quando o primeiro filme estreou nos cinemas. Desde então, de vez em quando eu tenho vontade de comprar um e ler, mas o tamanho exagerado do livro - que, por aqui, que eu saiba, só é vendido em volume único - sempre acaba me desanimando. Não ter lido o livro, porém, nunca foi empecilho para que eu gostasse dos filmes. Imagino que, assim como eu, muita gente por aí goste dos filmes, mas nunca tenha tido oportunidade de ler os livros. Hoje, todos nós aprenderemos um pouco mais sobre eles e seu autor.

Clive Staples Lewis nasceu em 29 de novembro de 1898 em Belfast, Irlanda do Norte. Foi amigo pessoal de J.R.R. Tolkien, professor de literatura na Universidade de Oxford, e lutou pelo Exército Britânico na Primeira Guerra Mundial. Desde criança, ele era fascinado por histórias com animais falantes e antropomórficos, especialmente as escritas pela autora Beatrix Potter. Ele e seu irmão, Warren Hamilton Lewis, chegaram a criar um mundo ficcional, Boxen, habitado por animais falantes, para o qual escreviam histórias na infância e adolescência. Apesar disso, e apesar de hoje C.S. Lewis ser universalmente conhecido por seus livros infantis, no início de sua carreira literária o autor optou por escrever livros adultos - até mesmo alguns de ficção científica, com viagens espaciais e tudo.

Sua ida para o universo dos livros infantis aconteceu quase que por um acaso: fascinado por mitologia, Lewis alegava ter uma imagem em sua mente - de um fauno, no meio da neve, carregando um guarda-chuva e um pacote - desde que tinha 16 anos. Um dia, quando tinha por volta de 40, ele simplesmente pensou "vamos ver se eu consigo transformar isso em uma história", e começou a escrever o que viria a se tornar O Leão, a Feiticeira e o Guarda-Roupa.

O ano era 1939, e a Segunda Guerra Mundial avançava pela Europa. Na Inglaterra, várias crianças eram mandadas por seus pais de Londres para a zona rural, para morar com parentes e amigos, para que escapassem dos bombardeios alemães. Lewis, que morava em Risinghurst, na zona rural, conheceu três meninas que foram morar com um de seus vizinhos por esse motivo, e decidiu que os protagonistas de sua história seriam quatro irmãos na mesma situação.

Como já foi dito, entretanto, Lewis não tinha nenhuma experiência com literatura infantil, e sua primeira história nesse estilo acabou ficando amplamente insatisfatória - tanto que, em 1947, após anos tentando concluí-la, ele achou que estava tão ruim que a destruiu. No ano seguinte, porém, Lewis receberia um novo ânimo: após vários sonhos com leões, ele decidiria criar um novo personagem, Aslan, através do qual amarraria a história. Em março de 1949, O Leão, a Feiticeira e o Guarda-Roupa (The Lion, the Witch and the Wardrobe, no original), já estaria concluído, sendo enviado para a editora Geoffrey Bles em maio daquele mesmo ano, e finalmente publicado em outubro de 1950. Empolgado, Lewis escreveria mais três livros da série antes mesmo de o primeiro chegar às livrarias.

Ambientado por volta de 1940, O Leão, a Feiticeira e o Guarda-Roupa conta a história de quatro irmãos, Pedro, Susana, Edmundo e Lúcia Pevensie (que, evidentemente, no original, se chamam Peter, Susan, Edmond e Lucy), que moram em Londres e são enviados pelos pais para o interior, para morar com o Professor Digory Kirke, um amigo da família, para fugir dos bombardeios da Segunda Guerra Mundial. Durante uma brincadeira de esconde-esconde, Lúcia, a mais nova, entra em um guarda-roupa que a transporta para o mundo mágico de Nárnia, onde ela conhece o Sr. Tumnus, um fauno - que, no meio da neve, carrega um guarda-chuva e pacotes de comida. Quando Lúcia retorna, nenhum dos irmãos mais velhos acredita em sua aventura, imaginando que tudo não passa de faz de conta.

De repente, entretanto, os quatro irmãos vão parar em Nárnia, onde descobrem que sua governante, a Feiticeira Branca, mantém o local sob inverno constante há mais de um século, além de governar com mão de ferro e através do terror. Os irmãos, surpreendentemente, são parte de uma profecia, segundo a qual a Feiticeira será derrotada e a paz voltará a Nárnia quando eles forem coroados reis e rainhas do local. Acompanhados de vários animais falantes e criaturas mágicas, os irmãos, então, partem em uma jornada para encontrar Aslan, o leão, único com poder suficiente para findar o reinado de terror da Feiticeira Branca.

Uma curiosidade sobre o livro é que ele possui várias referências ao cristianismo: neto de um pastor anglicano, Lewis rejeitou a religião ainda criança, mas, por volta dos 30 anos, e sob influência de Tolkien, a redescobriu, tornando-se um cristão fervoroso e defensor dos preceitos da religião. Embora jamais tenha pensado em escrever O Leão, a Feiticeira e o Guarda-Roupa como um livro cristão, Lewis acabou tendo várias ideias para referências enquanto o escrevia, sendo a mais notável a de que Aslan representa Jesus, chegando a se sacrificar para salvar a vida de Edmundo e depois ressucitar por seu amor às criaturas vivas. Esses elementos mais tarde se tornariam alvo de críticas de outros autores, que chegaram até a acusar Lewis de doutrinamento.

O nome "Nárnia" foi tirado por Lewis de uma cidade real da Itália, hoje chamada Narni, mas que em latim se chamava Narnia. Lewis encontrou o nome em um antigo atlas, e gostou de sua sonoridade, decidindo usá-lo para batizar seu mundo fantástico. Curiosamente, um texto alemão de 1501 faz referência a uma mulher chamada Lucia von Narnia, mas não se sabe se Lewis teria tido acesso a ele antes de escrever seu livro, ou se teria decidido chamar uma de suas personagens de Lúcia apenas por coincidência.

Quando de sua publicação, O Leão, a Feiticeira e o Guarda-Roupa foi solenemente ignorado pela crítica, primeiro porque Lewis não era visto como um escritor infantil, segundo porque, em 1950, a moda era que os livros infantis fossem os mais realistas possível; histórias com animais falantes e criaturas fantásticas não somente eram vistas como apropriadas apenas para crianças bem pequenas como também eram consideradas nocivas a crianças mais velhas e adolescentes, que, lendo-as, se tornariam incapazes de se relacionar propriamente na vida real. Mas, mesmo assim, o livro foi um grande sucesso de público, o que motivou a editora a continuar publicando os demais livros infantis de Lewis.

O Leão, a Feiticeira e o Guarda-Roupa foi adaptado três vezes para a televisão, primeiro nos Estados Unidos, pela ABC, em 1967, como uma minissérie em dez capítulos; depois em 1979, como um desenho animado exibido em syndication, que ganhou um Emmy de Melhor Animação, e pode ser encontrado em DVD por aqui; e finalmente em 1988 pela BBC, na forma de um filme para a TV que combinava atores, bonecos e animatronics, que também ganhou um Emmy e um Bafta. Inúmeras versões para o teatro também foram montadas, sendo as mais famosas uma de 1984 do London's Westminster Theatre, uma de 1998 da Royal Shakespeare Company, e uma versão australiana de 2003 que se apresentou em vários países.

Embora nos países de língua inglesa o livro seja um grande clássico da literatura infantil, aqui no Brasil ele só se tornaria conhecido através de sua mais recente adaptação, um filme de 2005 produzido pela Disney em parceria com a Walden Media, chamado As Crônicas de Nárnia: O Leão, a Feiticeira e o Guarda-Roupa. Pensado como uma alternativa infanto-juvenil a O Senhor dos Anéis - e também querendo pegar uma fatia do bolo do sucesso dos filmes de fantasia inaugurado por ele - o filme, dirigido por Andrew Adamson, trazia Georgie Henley como Lúcia, Skandar Keynes como Edmundo, William Moseley como Pedro, Anna Popplewell como Susana, Tilda Swinton como a Feiticeira Branca, James McAvoy como o Sr. Tumnus, e Liam Neeson como a voz de Aslan. Se utilizando de efeitos visuais de última geração para criar as paisagens e criaturas fantásticas de Nárnia - bem como os animais falantes - o filme teve o exagerado orçamento de 180 milhões de dólares, mas rendeu mais de 745 milhões, sendo um grande sucesso de público e de crítica. O que, no cinema, é garantia certa de continuação.

Como havia mesmo um segundo livro de Nárnia dando sopa, a Disney deu luz verde para a produção de As Crônicas de Nárnia: Príncipe Caspian, o segundo livro da série, mais uma vez com Adamson na direção, com Henley, Keynes, Moseley, Popplewell e Neeson repetindo seus papéis, e Ben Barnes como o Príncipe Caspian do título, além de Sergio Castellitto como Lorde Miraz, Vincent Grass como o Dr. Cornelius, Eddie Izzard como a voz do rato Reepicheep, e Peter Dinklage como o anão Trumpkin. Warwick Davis, famoso por ter interpretado o protagonista de Willow na Terra da Magia e o Professor Flitwick na série Harry Potter, também interpreta um anão, Nikabrik.

Príncipe Caspian é ambientado 1.300 anos depois dos eventos de O Leão, a Feiticeira e o Guarda-Roupa - em Nárnia, porque na Terra só se passou um único ano. Após a partida dos irmãos Pevensie, chegaria a Nárnia um grupo grande de humanos - até então, não existiam humanos em Nárnia - conhecidos como Telmarinos. Os Telmarinos matariam e expulsariam os narnianos para a floresta, e acabariam com quase toda a magia do mundo, construindo um grande império. Quando a história começa, o regente de Nárnia é Lorde Miraz, que ocupa o trono enquanto o herdeiro legítimo, o Príncipe Caspian, seu sobrinho, não alcança idade suficiente para ser coroado. Quando nasce um filho homem de Miraz, porém, ele trama um plano para assassinar Caspian e ser coroado rei. Mas o Dr. Cornelius, tutor do príncipe, não somente o ajuda a fugir como também lhe dá uma trompa mágica, que pertenceu a Susana. Soprando-a, ele trará de volta a Nárnia os grandes reis e rainhas do passado, que o ajudarão a derrotar Miraz e restabelecer a paz.

Dito e feito, Caspian sopra a trompa, e os quatro irmãos Pevensie vão parar novamente em Nárnia. Após um momento de deslumbramento por estarem de volta, e de um período de adequação à nova realidade do local - na qual poucos animais falam, poucas criaturas fantásticas ainda existem, e os humanos mandam em tudo - os quatro decidem se unir a Caspian para invadir o palácio e derrotar Miraz antes que ele ataque. O plano dá errado, e Miraz não somente consegue argumentos para ser coroado rei como também reúne um enorme exército para derrotar os narnianos de uma vez por todas. Enquanto Pedro, Edmundo, Susana e Caspian lutam em uma grande batalha pela liberdade de Nárnia, Lúcia parte para procurar Aslan, que não é visto desde que os irmãos foram coroados, mas que ela tem certeza de que os ajudará nesse momento difícil.

Lançado em 2008, As Crônicas de Nárnia: Príncipe Caspian não fez feio nas bilheterias, rendendo quase 420 milhões de dólares. Como custou mais de 225 milhões, e não foi muito bem recebido por uma parcela da crítica que o considerou muito violento, a Disney o considerou um fracasso, e decidiu que não mais investiria em filmes de Nárnia.

Príncipe Caspian, o livro, por outro lado, foi tão bem sucedido quanto O Leão, a Feiticeira e o Guarda-Roupa. Escrito por um empolgado Lewis logo após ter terminado o livro anterior, seria publicado exatamente um dia antes de ele completar um ano de publicação, em outubro de 1951, com o título original de Prince Caspian: The Return to Narnia. Apesar da boa vendagem, Príncipe Caspain não é tão famoso quanto seu antecessor, e, além do filme, só teve uma outra adaptação, uma versão em dois episódios exibida pela BBC em 1989.

No início de 1950, logo após terminar de escrever Príncipe Caspian, Lewis já emendaria o terceiro livro da série, A Viagem do Peregrino da Alvorada (The Voyage of the Dawn Treader), que seria publicado em setembro de 1952. O Peregrino da Alvorada é um navio, no qual o agora Rei Caspian, Reepicheep e uma tripulação de valorosos homens (mais um minotauro e algumas outras criaturas fantásticas) navegam em direção ao leste, à procura de sete fidalgos expulsos do continente por Miraz. A viagem ocorre três anos após os eventos de Príncipe Caspian, dessa vez tanto em Nárnia quanto na Terra. Lúcia e Edmundo estão morando na casa de uma tia, com seu odiado primo Eustáquio Mísero (Eustace Scrubb no original), enquanto Pedro e Susana moram nos Estados Unidos com seus pais, todos os quatro temporariamente. Um dia, Edmundo encontra na casa da tia um estranho quadro, com um mar revolto e um navio que lembra Nárnia. Enquanto ele, Lúcia e Eustáquio olham para o quadro, água começa a vazar dele, e, quando se dão conta, os três estão em Nárnia e no caminho do Peregrino da Alvorada.

Se juntando à tripulação em busca dos fidalgos, os irmãos Pevensie e seu primo chegam à ilha onde os fidalgos deveriam estar, onde descobrem que não somente eles rumaram ainda mais para o leste, mas também que há um novo perigo ameaçando Nárnia: um estranho nevoeiro que faz com que as pessoas que nele entrem desapareçam. A única forma de dissipá-lo é unindo as espadas dos fidalgos, que, por acaso, o Peregrino já estava procurando mesmo. O leste do oceano de Nárnia, entretanto, é uma região perigosa e desconhecida, e a tripulação do Peregrino da Alvorada terá de passar por muitos perigos para cumprir sua missão, chegando perto, inclusive, do Fim do Mundo, onde se localiza a terra natal de Aslan.

Para escrever A Viagem do Peregrino da Alvorada, Lewis se inspirou nas lendas de sua Irlanda natal, em especial nas Immram, histórias nas quais os heróis navegam rumo a terras distantes e desconhecidas, repletas de elementos do cristianismo e de mitologias da ilha; curiosamente, entretanto, em todas as Immram os heróis navegam para o oeste, enquanto em A Viagem do Peregrino da Alvorada os heróis navegam para leste. Assim como O Leão, a Feiticeira e o Guarda-Roupa, o livro também já foi adaptado várias vezes para o teatro, sendo a primeira, em 1983, na forma de um musical montado nos Estados Unidos pela Totino Fine Arts Center, e a primeira montagem no estilo tradicional ocorrendo dois anos depois, na Inglaterra, estreando na Newcastle Playhouse e depois saindo em turnê. A Viagem do Peregrino da Alvorada também virou uma minissérie de dois capítulos da BBC, que estreou no dia seguinte ao final de Príncipe Caspian, de forma que, para muitos, trata-se de apenas uma minissérie, em quatro episódios, que cobre a história dos dois livros.

Em 2010, o terceiro livro também viraria filme, com o título de As Crônicas de Nárnia: A Viagem do Peregrino da Alvorada. Como a Disney não se motivou a produzi-lo, a Walden Media fez uma nova parceria com a Fox. Henley, Keynes, Barnes e Neeson retornam em seus papéis, e Moseley, Popplewell e Swinton fazem participações especiais. Simon Pegg substituiu Izzard como a voz de Reepicheep, e completam o elenco principal Will Poulter como Eustáquio, e Gary Sweet como Lorde Drinian, o capitão do Peregrino da Alvorada. Adamson decidiu atuar apenas como produtor, e a direção ficou a cargo de Michael Apted.

Durante a pré-produção, a Fox expressou seu desejo de filmar com câmeras 3D, para permitir ao filme concorrer de igual para igual com aqueles que considerava seus principais oponentes na bilheteria, Enrolados, Tron: O Legado e Zé Colmeia, todos filmes em 3D. Diante da baixa bilheteria de Príncipe Caspian, entretanto, o projeto era considerado de risco, e o uso dos equipamentos 3D encareceria demais as filmagens, o que acabou levando a Fox a optar por filmar com câmeras tradicionais e converter o filme para 3D na pós-produção através de um software - o que não deixa o efeito tão realístico quanto filmar direto em 3D, mas quebra um galho. Graças a essa decisão, o orçamento fechou em 140 milhões de dólares. Até agora, os ganhos na bilheteria têm sido considerados baixos. Como a Fox já declarou que, se o filme não tiver bons rendimentos, não renovará a parceria com a Walden para o quarto filme, A Viagem do Peregrino da Alvorada pode vir a ser o último filme ambientado em Nárnia.

A série de livros, entretanto, ainda tem quatro outros volumes. Curiosamente, o que foi lançado em quarto lugar não foi o que Lewis escreveu logo após concluir A Viagem do Peregrino da Alvorada, mas o que ele escreveria no ano seguinte, em 1951. Essa mudança foi feita não por decisão isolada da editora, mas a pedido do próprio autor, que definiu uma espécie de trilogia com este e os dois anterores. Lançado em setembro de 1953, A Cadeira de Prata (The Silver Chair) é o primeiro livro publicado sem a presença dos irmãos Pevensie na história. Outra curiosidade sobre ele é que foi após tomar conhecimento de que Lewis estava escrevendo A Cadeira de Prata que seu amigo escritor e professor de Oxford, Roger Lancelyn Green, decidiu chamar o conjunto das histórias ambientadas de Nárnia de AS Crônicas de Nárnia (The Chronicles of Narnia), embora esse nome jamais tenha sido usado pela editora durante a publicação das primeiras edições de cada livro.

Em A Cadeira de Prata, Aslan chama Eustáquio de volta a Nárnia, juntamente com uma amiga do colégio, Jill Pole, e lhes dá uma missão: encontrar o Príncipe Rillian, filho de Caspian, que desapareceu há dez anos, quando partiu para se vingar de uma serpente que matou sua mãe. Como de costume, apenas um ano se passou na Terra, mas vários se passaram em Nárnia, e Caspian, já idoso, voltou a navegar para o leste, em busca de Aslan, deixando Trumpkin como regente em seu lugar. Para encontrar Rillian, Eustáquio e Jill contarão com quatro pistas dadas a eles por Aslan, e com a ajuda de Brejeiro, uma espécie de homem-sapo. Seguindo as pistas, os três cruzarão Nárnia, enfrentando vários perigos até encontrar a tal Cadeira de Prata do título, à qual Rillian está amarrado.

A Cadeira de Prata também foi adaptada para uma minissérie da BBC, em seis capítulos, exibida em 1990. A Walden Media já assegurou os direitos para transformar o livro no quarto filme da Nárnia, mas, como eu acabei de dizer, se a Fox não se interessar pelo projeto, pode ser que ele jamais saia do papel.

Um ano após o lançamento de A Cadeira de Prata, em setembro de 1954, seria publicado o livro que Lewis escreveu logo após concluir A Viagem do Peregrino da Alvorada. Chamado O Cavalo e seu Menino (The Horse and His Boy), esse é não somente o primeiro livro publicado fora da ordem em que foi escrito, mas também o primeiro ambientado fora da ordem cronológica estabelecida até então, e o primeiro a não ter crianças da Terra como protagonistas. Outra curiosidade é que sua história é citada duas vezes em A Cadeira de Prata, referenciada como uma antiga lenda narniana.

Ambientado durante o reinado dos irmãos Pevensie em Nárnia - ou seja, durante os eventos do final de O Leão, a Feiticeira e o Guarda-Roupa - O Cavalo e seu Menino tem como protagonistas o cavalo Bri e o menino Shasta, um órfão encontrado e criado por um pescador da Calormânia, que prometeu vendê-lo para um lorde. Sem querer esse triste destino para o menino, e desejando voltar à sua Nárnia natal, Bri o salva, e os dois partem rumo a uma grande aventura, cruzando a Calormânia para chegar até Nárnia.

Os irmãos Pevensie aparecem várias vezes no livro como reis e rainhas de Nárnia, e a Rainha Susana até tem um papel bastante importante. A história de Shasta costuma ser comparada pelos estudiosos da obra de Lewis à história de Moisés, já que ambos foram encontrados na água, libertaram um povo quando adultos, e se encontraram com uma divindade quando jovens - no caso de Shasta, ele encontra Aslan durante sua jornada com Bri. Também vale citar como curiosidade a ambientação da história em uma parte do mundo de Nárnia que ainda não havia sido explorada, e que deixa clara que Nárnia não é um mundo inteiro, mas apenas uma terra em um mundo maior, com outras terras diferentes, cada uma com suas próprias características.

Depois de escrever A Cadeira de Prata, Lewis se dedicaria a um projeto que estava parado há algum tempo: concluir uma "prequência", uma história ambientada antes de O Leão, a Feiticeira e o Guarda-Roupa, que contaria as origens do mundo do qual Nárnia faz parte. Lewis começaria a escrever essa história junto com o primeiro livro, mas, se empolgando com as sequências, acabou adiando sua finalização. O livro, que se chamria O Sobrinho do Mago (The Magician's Nephew), somente ficaria pronto no início de 1954, e seria publicado em maio de 1955. Como curiosidade, vale citar que O Sobrinho do Mago foi o único dos livros de Nárnia publicado no Brasil antes da estreia do primeiro filme, mas na ocasião, em 1992, recebeu o nome de Os Anéis Mágicos.

Ambientado no início do século XX, O Sobrinho do Mago tem como protagonistas Digory Kirke, o professor para a casa de quem os irmãos Pevensie se mudam no início de O Leão, a Feiticeira e o Guarda-Roupa, e sua amiga Polly Plummer, ambos ainda crianças. O tio de Digory, André Ketterley, é um feiticeiro, e possui anéis mágicos capazes de transportar coisas de um mundo para outro. Acidentalmente, Digory e Polly usam os anéis, e acabam indo parar em um cruzamento entre mundos, um local que dá acesso a vários mundos diferentes. De lá eles acabam indo para o mundo natal da Feiticeira Branca, e libertando-a de um feitiço que a mantinha dormindo. A Feiticeira Branca segue as crianças de volta até a Inglaterra, e, após diversos incidentes, eles usam novamente os anéis, o que acaba levando a todos até Nárnia, então um novo mundo sendo criado pelo poder de Aslan. Aslan então pede ajuda a Digory e Polly para deter a Feiticeira Branca, antes que ela congele todo o seu recém-criado mundo.

O Sobrinho do Mago possui vários elementos autobiográficos, com Digory sendo praticamente uma representação do próprio Lewis. O livro também é escrito em um tom mais leve que os demais, sendo o que possui o maior número de piadas e passagens engraçadas. Alguns atribuem esse fato a Lewis o estar escrevendo enquanto se recordava de sua própria infância, outros dizem que seria uma homanagem a Edith Nesbit, uma das autoras preferidas de Lewis na infância, de cujos livros O Sobrinho do Mago guarda grande semelhança. Curiosamente, a Walden Media também já assegurou os direitos para produzir um filme baseado nesse livro, então pode ser que, se A Cadeira de Prata não sair do papel, eles tentem obter a luz verde para O Sobrinho do Mago. Tilda Swinton já se mostrou interessada em interpretar a Feiticeira Branca caso isso ocorra.

Lúcia, Pedro, Caspian, Susana e Edmundo


Enquanto escrevia O Sobrinho do Mago, em 1953, Lewis decidiu dedicar parte de seu tempo a um fechamento para a série, o qual chamou de A Última Batalha (The Last Battle), livro que seria publicado em setembro de 1956. A Última Batalha é ambientado durante o reinado de Tirian, bisneto do bisneto de Rilian, filho de Caspian. Após uma longa era de prosperidade, sinais indicam que o mal voltará a Nárnia. Esse mal surge na forma do macaco Manhoso, que trama um ardiloso plano: ele engana o burro Confuso, fazendo-o vestir uma pele de leão e se passar por Aslan, e então convence os narnianos de que Aslan está de volta, e ordena que eles trabalhem para os calormanos, reunindo um grande tesouro que, segundo ele, será usado pelo bem de Nárnia. Tirian descobre o plano de Manhoso, mas, com os narnianos e calormenos acreditando nas palavras do macaco, não tem forças para impedi-lo sozinho. Ele então pede ao verdadeiro Aslan por ajuda, que vem sob a forma de Eustáquio e Jill - mais uma vez, apesar de centenas de anos terem se passado em Nárnia, apenas um ano se passou na Terra desde as aventuras narradas em A Cadeira de Prata.

Eustáquio e Jill então se unem a Tirian e aos narnianos ainda fiéis ao rei em uma grande batalha contra os calormanos, que chegam até mesmo a invocar o deus maligno Tash. Durante essa batalha, Pedro, Edmundo, Lúcia, Digory e Polly também surgem em Nárnia, se unindo às forças do bem. Após a vitória, o próprio Aslan surge e decide "desfazer" Nárnia, julgando os sobreviventes e levando aqueles considerados valorosos para seu país, a Verdadeira Nárnia.

Mais uma vez, estudiosos da obra de Lewis vêem em A Última Batalha diversos elementos bíblicos: a Última Batalha seria o apocalipse, Manhoso representaria o falso profeta, Tash seria o demônio, e o julgamento de Aslan seria o Dia do Julgamento, com os valorosos indo para a Verdadeira Nárnia, que seria o Céu. A Última Batalha ganharia a Carnegie Medal, mais importante prêmio da literatura infantil britânica, em 1956, mas é até hoje alvo de muitas críticas, principalmente aos calormanos e à ausência de Susana. Muitos críticos do livro dizem que a descrição dos calormanos os torna semelhantes aos árabes, e, ao dizer que os calormanos veneram Tash, que seria o demônio, Lewis estaria sendo racista e preconceituoso. Estudiosos da obra de Lewis contra-argumentam que as únicas descrições que poderiam associar calormanos a árabes são as de que eles têm a pele escura e usam turbantes, e que elementos da religião calormana, como o politeísmo e os sacrifícios, os afastam de qualquer associação com o islã. A controvérsia envolvendo Susana é ainda mais curiosa: segundo uma passagem, ela não foi para Nárnia junto com os irmãos por "estar mais interessada em lingeries, maquiagens e compromissos sociais". Feministas acusam Lewis de machismo, e dizem que a exclusão de Susana é uma oposição do autor à expressão da sexualidade feminina; estudiosos rebatem dizendo que a crítica é ao materialismo, do qual Lewis era um ferrenho opositor, e que, se ele fosse machista e misógeno, Lúcia não teria um papel tão importante durante toda a saga, e outros personagens femininos, como Polly e Jill, não teriam tanto destaque.

Depois de Nárnia, Lewis se dedicaria a escrever outros romances de cunho cristão até sua morte, em 1963. Críticas à parte, todos os sete livros de Nárnia se tornariam grandes clássicos da literatura infantil de língua inglesa, e hoje podem ser encontrados em 47 idiomas. Para finalizar, vale citar como curiosidade que, a partir de 1994, quando a editora Harper Collins assumiu os direitos de publicação internacionais da obra, os livros passaram a ser lançados numerados de acordo com a ordem cronológica, e não com a ordem de lançamento. Ainda hoje há muito debate sobre qual seria a melhor forma de lê-los, sendo o principal argumento para a manutenção da ordem de publicação o fato de que O Leão, a Feiticeira e o Guarda-Roupa constrói um clima de suspense ao revelar Nárnia que é arruinado se você já tiver lido O Sobrinho do Mago.

3 comentários:

  1. Anônimo20:06:00

    sou munher ja li o livro e achei que susana teria de ser a heroína machista esse lewis idiota.

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  2. Anônimo20:09:00

    sua tonta e mulher

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  3. Gostei muito do blog, e já estou seguindo. Acabei de ler o sobrinho do mago e amei! Já havia visto os três filmes lançados. Emprestei o livro na biblioteca e gostei tanto que comprei o livro com todas as histõrias. Estou esperando chegar,rsrsrsr. Gostei muito do post sobre Nárnia.
    Queria te convidar para conhecer o meu blog.
    http://panquecanaparede.blogspot.com

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