quarta-feira, 10 de junho de 2009

Escrito por em 10.6.09 com 0 comentários

Ciclismo

Algumas vezes, quando eu estou escrevendo um post, sinto vontade de escrever outro, sobre algum assunto de alguma forma relacionado. Aí, para não fazer dois posts parecidos seguidos, eu o guardo para depois. E, de vez em quando, esse depois se revela bem depois. Hoje, por exemplo, eu decidi escrever um post cuja idéia tive quando escrevia o do atletismo, lá no ano passado. Hoje é dia de um post sobre ciclismo.

ciclismo de estradaIsto porque o ciclismo, assim como o atletismo, é um esporte composto de várias provas, algumas delas que as pessoas não conhecem muito bem - especialmente em um país onde o esporte tem pouca expressão, como o Brasil. Eu mesmo, por exemplo, sempre tive curiosidade de saber quais seriam as provas disputadas no tal do velódromo. Para saciar minha curiosidade e informar vocês, nada melhor do que um post. Portanto, ei-lo!

O ciclismo surgiu junto com a chamada era de ouro das bicicletas, no final do Século XIX. Praticamente uma invenção coletiva, a bicileta pode ter sua origem traçada até 1817, quando o Barão Karl von Drais inventou na Alemanha um veículo de duas rodas onde o condutor dava impulso com os pés no chão e controlava a direção através de um guidom preso à roda da frente. Em 1860, os franceses Pierre Michaux e Pierre Lallement decidiram acrescentar pedais na roda da frente, para que o condutor não tivesse mais de colocar os pés no chão. Este modelo, batizado então de velocípede, sofreu alterações do escocês Thomas McCall em 1869, e acabou originando aquela bicicleta antiga, que tinha uma roda enorme na frente e uma pequenininha atrás - curiosamente, esta foi a única forma encontrada na época para que o condutor conseguisse manter o equilíbrio.

Essa bicicleta do rodão era pouco prática e difícil de conduzir, porém, e diversos outros inventores começaram a trabalhar em modelos com duas rodas de tamanho normal. A maior dificuldade para eles eram os pedais na roda da frente, que dificultavam o equilíbrio, problema que só foi resolvido em 1885, quando os ingleses J. K. Starley e J. H. Lawson inventaram a correia que faz com que os pedais, localizados no meio da bicicleta, girassem a roda de trás. A esta fantástica invenção se seguiram outras, como as rodas pneumáticas, em oposição às de madeira ou borracha maciça, introduzidas pelo escocês John Boyd Dunlop em 1888; a roda traseira livre, que continuava girando mesmo quando o condutor não estivesse pedalando; e os sistemas de freios e de marchas, introduzidos por volta de 1898.

Com todas essas inovações, a bicicleta se tornou extremamente popular não só como meio de transporte, mas também de lazer. Na virada do século, já existiam vários clubes de ciclismo, onde os condutores de bicicletas, já conhecidos como ciclistas, poderiam se reunir para trocar idéias, exibir seus modelos aos colegas, participar de passeios, e, é claro, se engajar em competições esportivas. Aos poucos, as associações ciclísticas de cada país foram sendo fundadas, para poder regular as competições que surgiam, até que, em 1900, as associações ciclísticas da França, Bélgica, Itália, Suíça e Estados Unidos se uniram e fundaram a União Ciclística Internacional (UCI), ainda hoje o órgão máximo do ciclismo internacional.

Atualmente, a UCI conta com 127 países-membros (dentre eles, evidentemente, o Brasil), e é responsável por regular nada menos que sete disciplinas do ciclismo: ciclismo de estrada, ciclismo de pista, bicicross, BMX, mountain biking, biketrial e ciclismo indoor; além das provas do "para-ciclismo", destinado a portadores de deficiências, e que usam bicicletas adaptadas com apenas um pedal ou onde os pedais são acionados pelas mãos. O intuito deste post, como vocês devem estar imaginando, é descrever as provas das sete disciplinas reguladas. Vamos a elas, portanto!

Começando pelo ciclismo de estrada, a mais antiga das disciplinas do ciclismo, cujas primeiras provas remontam a 1868. No ciclismo de estrada, os ciclistas devem percorrer um trajeto pré-estabelecido ao ar livre, normalmente através de ruas ou estradas, daí o nome da competição. As provas do ciclismo de estrada podem ser de três tipos. As chamadas provas de estrada são resolvidas em um único dia, com os ciclistas percorrendo um trajeto "só de ida" (como o da maratona) ou composto por diversas voltas (conhecido como criterium). Nas provas de estrada os ciclistas largam todos juntos, e é declarado vencedor o que cruzar a linha de chegada primeiro. De esquema semelhante são as corridas contra o relógio (ou time trials, ou TT), disputadas normalmente em um trajeto mais curto que as provas de estrada, e com os ciclistas largando um de cada vez, sendo declarado vencedor o que completar o percurso com o menor tempo. Já as chamadas voltas ciclísticas são divididas em "estágios", com os competidores percorrendo um trecho por dia, somando os tempos de cada trecho, e sendo declarado vencedor o que obtiver o menor tempo total após o último trecho. Menos comuns são as chamadas ultra-maratonas, provas que também duram vários dias, mas onde os competidores não param entre um trecho e outro, percorrendo por volta de 5.000 km sem parar para descansar.

O ciclismo de estrada faz parte do programa das Olimpíadas desde a primeira edição, em 1896 (embora não tenha sido disputada nas edições de 1900, 1904 e 1908). Atualmente são disputadas as provas de estrada masculina (por volta de 200 km) e feminina (por volta de 120 km) e de corrida contra o relógio masculina (por volta de 45 km) e feminina (por volta de 30 km); no passado também já foram disputadas provas de estrada e corrida contra o tempo masculinas por equipes, onde se somavam os resultados dos atletas e a vitória era dada ao time com melhor tempo. Além da participação nos Jogos Olímpicos a cada quatro anos, o ciclismo de estrada conta com diversas provas importantes realizadas anualmente, das quais as três de maior prestígio são as voltas ciclísticas conhecidas como Grand Tours: a Tour de France, o Giro d'Italia e a Vuelta a España.

ciclismo de pistaOutra modalidade bastante famosa do ciclismo é o ciclismo de pista. Disputado em uma arena especial conhecida como velódromo, que conta com uma pista coberta feita de madeira e construída em ângulo inclinado, o ciclismo de pista faz uso de vários equipamentos especiais para diminuir o arrasto e aumentar a velocidade dos ciclistas, como bicicletas feitas de materiais leves, aros especiais nas rodas traseiras, macacões colados ao corpo e aquele capacete comprido que deixa o ciclista com cara de ET.

As provas do ciclismo de pista são divididas em duas subcategorias, as corridas de velocidade e as corridas de resistência. Das de velocidade, a mais famosa é o sprint, onde dois ciclistas largam lado a lado, sendo vencedor o que primeiro completar 1.000 metros (4 voltas no velódromo), no caso dos homens, ou 750 metros (3 voltas), no caso das mulheres. A prova do sprint é interessantíssima, porque os competidores não saem pedalando o mais rápido que conseguem desde a linha de largada - isso faria com que o competidor que está liderando ficasse em desvantagem, pois além de fazer um esforço maior para romper o ar, ainda criaria um vácuo atrás de si onde o segundo poderia pedalar com menos desgaste. Por causa disso, os competidores começam pedalando bastante devagar, se estudando e trocando de posição frequentemente. De repente, um dos dois sai correndo, e é aí que a corrida se define, com o da frente conseguindo abrir uma distância suficiente para superar o de trás, ou com o de trás pegando o vácuo e passando pelo da frente como uma bala para vencer a corrida. Os competidores no sprint se enfrentam dois a dois, com os perdedores sendo eliminados, até que só reste um, o vencedor da prova.

Semelhante ao sprint é o sprint por equipes ou "sprint olímpico", disputado por duas equipes de três ciclistas cada, no caso dos homens, ou duas ciclistas cada, no caso das mulheres. A prova masculina dura 750 metros (3 voltas), enquanto a feminina dura 500 metros (2 voltas). Cada equipe larga de um dos lados do velódromo, sendo que o ponto em que largou será também sua linha de chegada; a cada volta, o ciclista que está à frente na equipe deixa sua posição e vai para o fim da fila, com o segundo passando a liderar. É declarada vencedora a equipe que termine o número estabelecido de voltas no menor tempo, sem que seja necessário uma equipe ultrapassar a outra. Assim como no sprint, as equipes vão se enfrentando duas a duas, com as perdedoras sendo eliminadas, até que só reste uma, a campeã.

De mecânica semelhante é a corrida contra o relógio (também conhecida como time trial ou TT), onde os ciclistas competem sozinhos na pista, em uma prova masculina de 1.000 metros (4 voltas) ou feminina de 500 metros (2 voltas). Cada ciclista corre o mais depressa que conseguir, e, depois que todos tiverem tentado, é declarado campeão o que conseguiu completar as voltas em menos tempo. Essa prova tem uma variação interessante, conhecida como flying, onde cada ciclista pode dar duas voltas na pista na velocidade em que quiser, e então, ao cruzar a linha de largada, o cronômetro é disparado, com o ciclista acelerando para completar 200 metros no menor tempo possível.

Finalmente, temos o keirin, onde grupos de seis a nove ciclistas percorrem 2.000 metros (8 voltas), sendo vencedor o que cruzar a linha de chegada primeiro. A largada do keirin é dada em movimento, com os ciclistas percorrendo duas voltas atrás de um pace, uma bicicleta ou moto conduzida por alguém da organização do evento, que começa pedalando muito lentamente e vai aumentando gradativamente a velocidade, deixando a pista 60 metros antes da linha de partida, quando então os competidores podem acelerar a valer. Quando estão atrás do pace, os competidores devem pedalar em fila, cuja ordem é determinada por sorteio antes do início da prova. Assim como as demais provas de velocidade, o keirin conta com várias eliminatórias até que sejam definidos os integrantes do grupo final que disputará o título; a diferença é que aqui temos repescagens, com os eliminados tendo uma segunda chance para chegar à final.

Das provas de resistência, a mais famosa é a perseguição individual. Nela, dois ciclistas largam de pontos opostos do velódromo, tendo de percorrer a distância de 4.000 metros (16 voltas) no caso dos homens, ou 3.000 metros (12 voltas) no das mulheres. A prova se chama "perseguição" porque completar a distância não é a única forma de se ganhar a prova: se, a qualquer momento, um dos dois ciclistas alcançar e ultrapassar o outro, será declarado vencedor imediatamente, sem precisar completar a prova (mas podendo fazê-lo se quiser, para, por exemplo, bater um recorde). A prova de perseguição também existe na versão perseguição por equipes, com a mesma distância e mesmas regras, mas disputada por equipes de quatro ciclistas no masculino e três no feminino, com o da frente passando para o final da fila a cada volta. Em ambas as versões, os ciclistas (ou equipes) se enfrentam dois a dois, com os perdedores sendo eliminados, até que só reste o campeão.

Outra prova bastante famosa, mas um pouco confusa, é a prova dos pontos, disputada em 40.000 metros (160 voltas) no masculino e 30.000 metros (120 voltas) no feminino, com um sprint, onde todos devem acelerar, a cada dez voltas. Cada prova é disputada por um grupo de 6 a 9 ciclistas, sendo declarado vencedor não o que cruzar a linha de chegada na frente, mas o que somar mais pontos, daí o nome da prova. A forma mais comum de ganhar ponto é em cada sprint, quando são distribuídos 5, 3, 2 e 1 ponto para os quatro primeiros a fechar a volta, respectivamente; além disso, se em qualquer volta um competidor conseguir colocar uma volta de vantagem sobre outro, ganhará um bônus de 20 pontos.

mountain bikingSemelhante à prova dos pontos é a conhecida como madison, disputada ao longo de nada menos que 50.000 metros (200 voltas), com um sprint a cada 20 voltas, que vale a mesma pontuação da prova dos pontos. A característica do madison, porém, é que a prova é disputada por equipes de dois ciclistas, sendo que apenas um fica na pista. A qualquer momento, o que está de fora pode entrar na prova, tocar no que está correndo, e substituí-lo, com o que saiu da prova pondendo descansar. Não há limite para o número de trocas nem para o número de voltas que um mesmo ciclista pode permanecer na pista. A prova termina quando algum ciclista completa as 200 voltas, mas, curiosamente, não é declarado vencedor quem chega na frente: se mais de uma equipe completar a prova com o mesmo número de voltas (ou seja, quem não tomou volta de ninguém termina com 200, quem tomou uma termina com 199 e assim por diante), o desempate é feito pelos pontos ganhos nos sprints, o que faz com que o madison seja uma prova de muita estratégia.

A mais simples das provas de resistência é o scratch, disputada em 15.000 metros (60 voltas) no masculino, e 10.000 metros (40 voltas) no feminino. Nela, um grupo de 6 a 9 ciclistas larga de um mesmo ponto, e é declarado vencedor o que cruzar a linha de chegada primeiro após cumprir a distância. Simples assim. Finalmente, temos o omnium, uma espécie de pentatlo do ciclismo, com cinco provas disputadas em um mesmo dia. Em cada uma delas, o primeiro colocado ganha um ponto, o segundo dois, e assim por diante, sendo campeão do omnium o ciclista que somar menos pontos. As cinco provas são uma corrida contra o relógio flyer de 200 metros, um scratch de 7.500 metros/30 voltas (5.000 metros/20 voltas no feminino), uma perseguição individual de 3.000 metros/12 voltas (2.000 metros/8 voltas no feminino), uma prova dos pontos de 15.000 metros/60 voltas (10.000 metros/40 voltas no feminino) e uma corrida contra o relógio de 1.000 metros/4 voltas (500 metros/2 voltas para as mulheres). Todas as provas seguem as mesmas regras de suas versões "separadas", exceto a corrida contra o relógio final, onde os competidores, ao invés de largarem um de cada vez, largam dois a dois em lados opostos, como na perseguição, para que a prova dure menos tempo.

Assim como o ciclismo de estrada, o ciclismo de pista faz parte das Olimpíadas desde 1896, tendo ficado de fora apenas em 1904 e 1912. Atualmente, as provas disputadas são o sprint masculino e feminino, sprint por equipes masculino, perseguição individual masculino e feminino, perseguição por equipes masculino, prova dos pontos masculino e feminino, madison masculino e keirin masculino. Em outras edições também já foram disputadas a corrida contra o relógio masculina e feminina, o scratch masculino, e a curiosa prova do tandem, que usava bicicletas para duas pessoas. Além dos Jogos Olímpicos, os principais eventos do ciclismo de pista são o Campeonato Mundial, disputado anualmente, e o Cycling World Cup Classics, composto de várias etapas disputadas ao longo do ano em diversos países.

A terceira disciplina mais famosa do ciclismo é o mountain biking, que só passou a ser regulado pela UCI em 1990. Disputada ao ar livre, em trilhas que passam por locais de difícil acesso, o mountain biking usa bicicletas mais fortes e resistentes que as demais, com rodas menores mas mais largas, corpo de material mais duro, e amortecedores, para aguentar os inúmeros quiques aos quais é submetida durante uma prova.

A modalidade mais popular do mountain biking é o cross country, onde os competidores largam todos juntos e devem completar um percurso de distância variável, composto de um único trecho ou de várias voltas, sendo vencedor o que cruzar a linha de chegada primeiro. Provas de cross country disputadas em vários trechos, no estilo das voltas ciclísticas, são mais raras, mas também existem. Recentemente, foi inventada uma variação do cross country com trechos curtos, onde as bicicletas atingem altas velocidades, apelidada de short cross. O "contrário" do short cross é o enduro, onde as distâncias podem cobrir de 40 a 120 km, e as provas podem chegar a até 24 horas de duração.

Outra modalidade bastante conhecida é o downhill, onde os competidores, um por um, com intervalos de 30 segundos, devem descer um trecho acidentado mais com a ajuda da gravidade do que propriamente pedalando, vencendo a prova aquele que conseguir completar o trecho no menor tempo. De mecânica semelhante é a prova do four cross, ou 4X, onde quatro competidores descem o trecho de cada vez, vencendo o que chegar primeiro. Os perdedores vão sendo eliminados, em alguns torneios com direito a repescagem, até que o vencedor da bateria final é declarado campeão.

BMXA modalidade mais recente do mountain biking é o freeride, uma espécie de combinação do downhill com o cross country, com trechos com declives, pontes e outros obstáculos naturais ou construídos pela organização, mas onde o objetivo não é chegar primeiro, mas se apresentar bem: em diversos pontos da prova ficam juízes, que atribuem pontos pela perícia técnica dos competidores, sendo declarado vencedor o que obtiver mais pontos.

O mountain biking faz parte das Olimpíadas desde 1996, mas apenas na modalidade cross country, masculino e feminino. Diversas competições importantes de todas as modalidades são realizadas anualmente, como o Campeonato Mundial, as 24 Horas Australianas e o Utah State Downhill Mountain Bike Series.

O Campeonato Mundial de Mountain Biking também serve como campeonato mundial de biketrial, esporte que para muitos é modalidade do mountain biking, mas que a UCI trata como uma disciplina isolada. No biketrial, ou simplesmente trials, existe um circuito composto de rampas, pontes, troncos, plataformas e outros obstáculos naturais ou construídos, e o objetivo de cada competidor é completar esse circuito sem colocar os pés no chão, se se apoiar com as mãos, e sem, é claro, cair de cima de um dos obstáculos. Os trials exigem grande controle do ciclista, que fica "de pé" sobre a bicicleta a maior parte do tempo - por causa disso alguns modelos nem têm assento - controlando seu equilíbro com os freios e "pulando" com a bicicleta de um obstáculo para o outro ao invés de pedalar. Os obstáculos são divididos em seções, sendo que os circuitos normalmente são compostos de duas seções de 10 obstáculos cada, ou três seções de 7 obstáculos cada. Cada vez que comete uma falta - tipo botar o pé no chão - o competidor ganha um ponto, sendo declarado vencedor o que terminar o percurso com menos pontos, com o tempo gasto para percorrê-lo valendo como critério de desempate.

A quinta disciplina regulada pelo UCI é o bicicross, também conhecido como ciclocross. Criado em 1902 como um passatempo para o outono e inverno, quando os ciclistas europeus não tinham competições oficiais, o bicicross utiliza bicicletas semelhantes às do ciclismo de estrada, mas que correm em uma pista de terra irregular parecida com a do cross country. Essas pistas normalmente têm barreiras de madeira de 40 cm de altura que devem ser puladas com a bicicleta, fossos cheios de água ou areia, curvas fechadas demais para se fazer sem colocar um dos pés no chão, e trechos íngremes onde a única forma de subir é desmontando da bicicleta e carregando-a nas costas, montando novamente no topo. O piso pode ter trechos de terra, lama, areia, grama e até mesmo asfalto ou concreto. Cada volta na pista tem entre 2,5 e 3,5 km de extensão, mas a corrida, curiosamente, não é definida por distância ou número de voltas, mas por tempo, normalmente 60 minutos em competições oficiais, sendo declarado vencedor o que primeiro cruzar a linha de chagada depois que o relógio zerar. Assim como acontece com outras disciplinas do ciclismo, o Campeonato Mundial de bicicross é disputado uma vez por ano. Outras provas de prestígio que fazem parte do calendário são a Cross Crusade, a Copa do Mundo, o GvA Trophy, e a Three Peaks, uma corrida realizada em Yorkshire em uma única volta de 61 km, sendo vencedor quem completá-la primeiro.

Uma disciplina que costuma ser confundida com o bicicross é o BMX (cuja sigla significa "bicycle motocross"). Criado em 1970 quando ciclistas decidiram correr em pistas de motocross para imitar seus ídolos deste esporte, o BMX também tem uma pista de terra, mas o percurso é todo feito com o ciclista sobre a bicicleta, que é menor e mais resistente, ao estilo das de mountain biking. Diferentemente do que ocorre no bicicross, no BMX o importante é a velocidade, com a pista sendo curta, com curvas em ângulo inclinado, e tendo como únicos obstáculos grandes rampas que permitem que os competidores saltem longas distâncias - algumas vezes por sobre a própria pista, onde os retardatários ainda estão passando. A própria largada da prova é feita em uma rampa enorme, para que os competidores já entrem na pista com bastante velocidade. As provas do BMX normalmente duram uma única volta na pista, e são disputadas em baterias de oito competidores cada, com os primeiros colocados avançando e os últimos sendo eliminados ou indo para baterias de repescagem, até que o vencedor da bateria final seja declarado campeão. O BMX é a mais recente disciplina do ciclismo a fazer parte dos Jogos Olímpicos, tendo sido incluído no programa na edição de 2008, nas categorias masculina e feminina.

ciclobolFinalmente, temos o ciclismo indoor, que é dividido em duas modalidades bastante diferentes entre si e das demais, o ciclismo artístico e o ciclobol. O ciclismo artístico, inventado em 1888 pelo norte-americano Nicholas Edward Kaufmann, pode ser definido como uma espécie de patinação artística com uma bicicleta ao invés de patins. Disputado em uma quadra de madeira de 11 por 14 metros, com três círculos concêntricos de 50 cm, 4 m e 8 m de diâmetro no centro, nas categorias simples e duplas masculinas e femininas e duplas mistas, o ciclismo artístico exige que os competidores apresentem uma coreografia de seis minutos, acompanhada de música e composta de movimentos obrigatórios e opcionais, que valem pontos de acordo com sua complexidade. Quanto mais perfeitamente executados os exercícios, mais pontos rende o movimento, e o campeão será o competidor ou a dupla que somar mais pontos.

Já o ciclobol, que também foi inventado por Kaufmann, em 1893, é um esporte disputado por duas equipes de duas pessoas cada, que usa uma quadra do mesmo tamanho da do ciclismo artístico, 11 por 14 metros, que tem em cada extremidade um gol de 2 metros de largura por 2 de altura, e cujas únicas marcações são uma linha que a divide ao meio e uma área semicircular de 2 metros de raio em frente ao gol. O tamanho idêntico não é coincidência, e possibilita que a mesma quadra seja usada para ambos os esportes. Cada jogador atua montado em uma bicicleta, e não pode apoiar os pés no chão. Cada um dos dois jogadores pode atuar como atacante ou goleiro a qualquer momento do jogo, sendo que, dentro da área, o que está atuando como goleiro pode usar as mãos para evitar que a bola entre no gol. Fora esta exceção, os jogadores só podem tocar a bola com as rodas da bicicleta ou com a cabeça. Faltas são punidas com tiros livres de onde elas aconteceram, ou com pênaltis, se forem cometidas por um jogador dentro da área que ele está defendendo. A bola tem 18 cm de diâmetro, é feita de couro, e cheia de pelo de rabo de cavalo, podendo alcançar uma velocidade de 60 Km/h se atingida com força. Uma partida dura dois tempos de sete minutos, com prorrogação de mais dois tempos de 3 minutos e disputa de pênaltis caso o jogo não possa terminar empatado. O ciclobol não deve ser confundido com outro esporte que também usa bicicletas, o ciclopolo, que nem é regulado pela UCI, e do qual eu talvez fale um dia aqui.

Tanto o ciclismo artístico quanto o ciclobol possuem campeonatos mundiais anuais, disputados desde 1956 e 1930, respectivamente. Nenhum dos dois jamais apareceu nas Olimpíadas, mas ambos fizeram parte do torneio dos World Games em 1989, com disputas de ciclismo artístico de simples e duplas masculinas e femininas e um torneio masculino de ciclobol.

Pois bem, é isso. Um post sobre múltiplas provas de ciclismo. Espero que todos tenham gostado. Se ele me deixou com vontade de fazer outro parecido? Só o tempo dirá.

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