sábado, 4 de agosto de 2007

Escrito por em 4.8.07 com 0 comentários

Baralho (V)

Hoje veremos os sete padrões regionais restantes do baralho francês. Como na semana passada, cada um deles será ilustrado por um Valete de Paus, mas, se você clicar nele, poderá ver as demais figuras do padrão, além de exemplos de algumas das cartas numéricas.

Padrão Vienense ou Austrian Crown


Este padrão foi criado na Áustria, na metade do Século XIX, como um baralho próprio para o jogo de Piquet. Por causa disso, originalmente o baralho tinha apenas 32 cartas (A, 7, 8, 9, 10, V, D, R de cada naipe), o necessário para este jogo. Como o Piquet era um jogo muito popular em diversos países da Europa, logo o padrão se espalhou, e começaram a ser fabricadas versões de 52 cartas (A, 2, 3, 4, 5, 6, 7, 8, 9, 10, V, D, R de cada naipe), acompanhadas por de um a três curingas. Atualmente, são fabricados também versões de 24 cartas (A, 9, 10, V, D, R de cada naipe), para Schnapsen, mas o padrão já não é mais tão popular, só sendo fabricado na Áustria, Itália e Bélgica.

A principal característica deste padrão são suas figuras, enormes se comparadas às dos demais padrões do baralho francês. A base de quase todas é grande e arredondada, exceto da Dama de Paus e do Valete de Espadas, que ainda assim têm braços bem grandes. As coroas dos Reis são tão grandes que nem cabem inteiras nas cartas, ficando parte delas de fora da figura. As figuras são impressas em várias cores e em ambos os sentidos da carta, sendo divididas por uma linha horizontal imperceptível - e, curiosamente, em algumas das cartas, como no Valete de Copas, alguns detalhes da figura de cima "vazam" para a de baixo. As figuras também são bastante detalhadas, e uma característica que chama a atenção é que, diferentemente do usual, todos os homens deste baralho são barbeados. Outros detalhes curiosos são que o Valete de Copas carrega uma flâmula onde se lê "Wien", em alusão à cidade de Viena, e o Rei de Espadas possui uma faixa onde é escrito o nome da fabricante, mas sem se respeitar a simetria.

As cartas do padrão vienense são grandes, 64 x 100 mm. Nenhuma possui índices, mas os ases têm pequenos símbolos do naipe ao qual pertencem nos quatro cantos da carta, além de um grande no centro. As cartas numéricas possuem uma quantidade de símbolos igual ao seu valor, e as figuras possuem dois símbolos, nos cantos superior esquerdo e inferior direito.

No final do Século XIX, a fabricante austríaca Piatnik lançou uma versão enfeitada deste padrão, com figuras mais bem trabalhadas, menores, para que as coroas dos Reis coubessem nas cartas, e com índices nos quatro cantos. Esta versão acabou se popularizando, e sendo fabricada também na Itália. Atualmente, o padrão original é conhecido como Large Crown ("coroa grande"), em referência às enormes coroas dos reis, e a variação acabou ganhando o apelido de Small Crown ("coroa pequena") por suas figuras mais delicadas. O Small Crown não chega a ser um padrão separado, mas é fabricado até hoje pela Piatnik, em baralhos de 52 cartas e três curingas, em duas versões, com cartas de 66 x 91 mm e índices em inglês (A, J, Q, K), ou com cartas de 58 x 89 mm e índices em alemão (A, B, D, K).

Padrão Suíço Moderno


Assim como o padrão vienense, este também foi criado tendo em mente o jogo de Piquet, muito popular na Suíça no Século XIX, quando o padrão começou a ser fabricado. O nome "suíço moderno" foi cunhado pelos jogadores e colecionadores para diferenciá-lo do baralho suíço, o que tem os naipes de escudos, rosas, castanhas e sinos; nenhuma fabricante, porém, se refere a ele com este nome, preferindo chamá-lo simplesmente de Piquet ou Jass-Piquet, já que ele possui 36 cartas (A, 6, 7, 8, 9, 10, V, D, R de cada naipe), as necessárias para o jogo de Jass, e não as 32 do jogo de Piquet.As poses das figuras deste padrão se assemelham bastante às do padrão de Berlim, embora sejam bem menos ricas em cores e detalhes. As cartas têm 57 x 88 mm, e apenas os 6, 7, 8, 9 e 10 possuem índices - na verdade, números, já que não acompanham os pequenos símbolos do naipe que normalmente fazem parte de um índice. A disposição destes números é curiosa: eles ficam nos quatro cantos da carta, mas dentro dos símbolos do naipe mais próximos dos cantos, impressos na cor branca. Os Ases não são identificados por qualquer índice, mas, assim como no padrão vienense, têm um pequeno símbolo do naipe em cada um dos quatro cantos da carta, além de um grande no centro. As figuras também não têm índices, tendo dois símbolos grandes do naipe nos cantos superior esquerdo e inferior direito e, dependendo da fabricante, dois símbolos pequenos nos outros dois cantos. OUtro símbolo pequeno pode ser encontrado, curiosamente, na lâmina dos machados dos Valetes. As figuras são impressas nos dois sentidos da carta, divididas por uma linha preta.

Atualmente, o padrão suíço moderno consegue ser mais popular até que o baralho suíço tradicional, sendo fabricado na Suíça, Áustria, Alemanha, Bélgica e Itália. A fabricante suíça A.G. Müller, talvez tentando preservar o baralho suíço, usado cada vez menos no país, criou um padrão registrado como Combi-Jass, onde cada carta é dividida ao meio na diagonal, sendo que um dos lados da carta é impresso com o padrão suíço moderno, e o outro com o padrão suíço tradicional, mais ou menos como ocorre com as Kongresskarten do padrão de Berlim.

Padrão Milanês ou Lombardo


Este padrão também é de origem italiana, mas, diferentemente dos outros dois que vimos, não foi influenciado pelo padrão belga. De fato, as figuras do padrão milanês não se parecem com as de nenhum outro, e são ricamente decoradas, impressas em várias cores, nos dois sentidos da carta, divididas por uma fina linha preta horizontal. A carta mais curiosa é o Valete de Paus, que em seu peito traz um dos símbolos presentes no brasão que representava a cidade de Milão no Século XV.

As cartas do padrão milanês possuem diversas peculiariedades. Para começar, são finas e compridas, com 50 x 92 mm. Nenhuma das cartas possui índices, tendo os ases e as cartas numéricas apenas um número de símbolos correspondente ao seu valor, e as figuras os tradicionais dois símbolos nos cantos superior esquerdo e inferior direito. Diferentemente de outros padrões sem índices, as cartas do padrão milanês possuem uma fina borda em volta da carta. Mas talvez sua maior característica seja o fato de que ele só é comercializado na versão de 40 cartas (1, 2, 3, 4, 5, 6, 7, V, D, R de cada naipe) própria dos jogos italianos, não sendo possível jogar jogos que precisem de 52 cartas com este padrão.

O padrão milanês é fabricado na Itália, Áustria e Alemanha. Na Suíça, acabou sendo inventada uma variação deste padrão que, mais tarde, foi adotada por algumas fabricantes italianas com o nome de Lombarde Estero ("lombardo estrangeiro"). A única diferença desta variação é que as cartas numéricas possuem índices, sendo o Ás identificado por um A (Asso) e as demais cartas por seu número; as figuras não possuem índices, mas uma pequena palavra escrita no canto superior esquerdo, mais ou menos como os nomes das figuras do padrão parisiense: nos Valetes está escrito Fante; nas Damas, Regina; e nos Reis, Re.

Padrão Sueco


De todos os padrões do baralho francês, este é o mais recente, tendo sido criado no início do Século XX pela fabricante Öbergs, inspirado em baralhos enfeitados que chegavam à Suécia importados da Alemanha. Os jogadores logo se animaram a jogar com um baralho criado em seu próprio país, e daí para que outras fabricantes começassem a produzi-lo, e ele se tornasse um padrão regional próprio, foi um pulo.O baralho sueco possui 52 cartas e três curingas, que medem 58 x 89 mm cada. Seus índices estão presentes apenas nos cantos superior esquerdo e inferior direito de cada carta, e são impressos em sueco: E (Ess) para os Ases, K (Kung) para os Reis, D (Dam) para as Damas, e um curioso Kn (Knekt) para os Valetes, o que torna este o único padrão regional do baralho francês a usar duas letras em um único índice.

Como este é um padrão inspirado em baralhos enfeitados, é de se esperar que as figuras sejam ricamente decoradas, e impressas em múltiplas cores. Uma característica do padrão sueco é que suas figuras vestem cores diferentes de acordo com o naipe que representam: as de Paus vestem roxo; as de Ouros, azul; as de Copas, vermelho; e as de Espadas vestem verde e amarelo. Também é curioso notar que cada Rei está olhando em uma direção diferente, e que todas as Damas usam o mesmo penteado, não por acaso um que estava na moda na Suécia na época em que o baralho foi criado. As figuras são impressas em ambos os sentidos da carta, divididas por uma imperceptível e irregular linha diagonal, que acompanha uma faixa, capa ou manto que o personagem esteja vestindo.

Apesar de recente, este é um dos padrões mais famosos da Europa, fabricado na Suécia, Dinamarca, Áustria, Alemanha, Bélgica e Suíça, no tamanho normal ou Paciência (44 x 61 mm). Curiosamente, na Dinamarca - e na versão exportada para a Dinamarca pela sueca Offason - o padrão sofre uma pequena alteração, tendo índices nos quatro cantos da carta e em dinamarquês: B (Bænkdreng) para os Valetes, D (Dame) para as Damas, K (Konge) para os Reis, e duas letras, Es (Es), para os Ases.

Padrão Holandês


Este é o padrão nacional da Holanda e da região de Flanders, ao norte da Bélgica, única do país que rejeita o padrão belga. Em relação ao número de cartas e seu tamanho, ele não tem nada de mais, tendo 52 cartas, de 59 x 91 mm, mais três curingas. Os índices, presentes nos quatro cantos da carta, são em holandês: os Ases são marcados com A (Aas), os Valetes com B (Boer), as Damas com V (Vrouw) e os Reis com H (Heer). As figuras são ricamente decoradas, e impressas em várias cores nos dois sentidos da carta, divididas por uma fina linha preta.

Mas a principal característica deste padrão está em seus Ases: cada um deles é ricamente decorado com prédios históricos das principais cidades holandesas. Cada Ás é ilustrado com duas figuras, uma em cada das metades horizontais da carta, dividida ao meio por uma linha imperceptível. No centro da carta fica um símbolo do naipe ao qual o Ás pertence, dentro de um círculo branco que se sobrepõe às figuras.

O padrão holandês já foi fabricado em diversos países da Europa, mas atualmente só o é na Bélgica e Holanda. A popularidade do padrão nestes dois países, porém, afasta o risco de que ele desapareça, pelo menos por enquanto.

Padrão Tradicional Russo


Durante muito tempo, este foi o padrão nacional da Rússia. Da metade do Século XX em diante, porém, ele foi lentamente substituído pelo padrão anglo-americano. Hoje, ele ainda é considerado um padrão regional próprio, mas é comercializado praticamente como se fosse um baralho enfeitado - por isso o adjetivo "tradicional", que sempre acompanha o nome do padrão.O padrão tradicional russo é ricamente decorado, com todas as figuras vestindo trajes típicos de diferentes regiões do maior país da Terra. As figuras são impressas em ambos os sentidos da carta e divididas por uma linha diagonal irregular e imperceptível, mas, curiosamente, apesar de impressas em múltiplas cores, não usam a cor preta, o que as deixa meio com uma cara de "pintadas à mão". Os Ases também são finamente decorados com motivos que remetem a caçadas, com lanças, arcos, galhos, animais e outros adereços, estando o símbolo do naipe sempre dentro de um escudo dourado e redondo.

O baralho tem 52 cartas de 58 x 89 mm, e normalmente acompanha dois ou três curingas. Os índices estáo presentes apenas nos cantos superior esquerdo e inferior direito de cada carta, e estão em russo, sendo impressos no alfabeto cirílico: os Ases são marcados com a letra T (Tuz), os Valetes com B (Valet), os Reis com K (Korol) e as Damas com a letra Д (Dama).

No auge de sua popularidade, este padrão chegou a ser fabricado em diversos países do Leste Europeu, mas hoje ele só é fabricado mesmo na Rússia. Algumas fabricantes ocidentais, como a espanhola Fournier, de vez em quando lançam baralhos com as figuras deste padrão, mas com índices em inglês (A, J, Q, K). A austríaca Piatnik faz o contrário, tendo em sua linha um baralho com índices em russo, mas cujas figuras não seguem a do padrão tradicional, o que pode até ser considerado como uma versão enfeitada do padrão.

Fabricantes russas também costumam lançar de vez em quando versões enfeitadas deste padrão, sendo que uma delas se tornou bastante famosa, a Slavonic, que tem cada naipe representando um diferente povo eslavo. Durante algum tempo o Slavonic chegou a ser considerado um padrão separado, e foi fabricado em diversos países europeus, mas atualmente ele é tido apenas como uma variação do tradicional russo, e fabricado apenas na Rússia.

Padrão Toscano ou Florentino


De todos os padrões regionais do baralho francês, este é o único que tem as figuras impressas em um único sentido da carta - em outras palavras, o único em que as figuras podem ficar de cabeça para baixo. Suas figuras também são ricamente trabalhadas, cheias de cores e detalhes, o que torna este baralho um dos preferidos dos colecionadores.

Originalmente, existiam dois padrões separados, o toscano e florentino. O toscano original também tinha as figuras impressas em um único sentido da carta, mas estas eram menos trabalhadas, e impressas apenas nas cores preta, azul, amarela e vermelha. A partir da segunda metade do Século XX, as fabricantes da região da Toscana começaram a abandonar este padrão, e fazer suas cartas com as mesmas figuras do padrão florentino, mas impressas em cartas do tamanho do padrão toscano, levemente menor que o outro. Hoje, ainda temos baralhos vendidos como toscano e outros vendidos como florentino, sendo que a única diferença entre ambos é o tamanho das cartas: 56 x 88 mm no toscano, 67 x 100 mm no florentino. Ambos os padrões só são fabricados na Itália, sendo que a fabricante Modiano refere-se ao padrão florentino como Toscano Grandi, e adiciona alguns detalhes a mais às figuras, como seu nome nas capas dos livros e nos pergaminhos.

Seja em que tamanho for, o padrão toscano ou florentino só é encontrado na versão tradicional italiana de 40 cartas. Nenhuma delas tem índices, tendo as cartas numéricas um número de símbolos do naipe ao qual pertencem correspondente ao seu valor, e as figuras um único símbolo do naipe, no canto superior esquerdo.

Baralhos com índices estrangeiros


Mesmo sem possuir um padrão regional próprio, alguns países europeus de vez em quando lançam baralhos com índices no idioma local, sejam eles versões enfeitadas, temáticas ou de outros padrões regionais. É o caso da Polônia, que usa, para os Ases, Reis, Damas e Valetes, respectivamente, as letras A (As), K (Król), D (Dama) e W (Walet); a Estônia usa Ä (Äss), K (Kuningas), E (Emand), S (Södur); na Letônia usa-se 1, K (Kung), D (Dama), S (Spele); na Lituânia, T (Tuz), K (Karalis), M (Mergelemis), B (Bortukais); na Islândia, A (Ás), K (Köngur), D (Drottning), G (Gosi); em Portugal se fabricam baralhos com A, R, D, V; e na Grécia já foram fabricados baralhos com índices impressos no alfabeto grego, com as letras A (Ás), B (Vasiliás), K (Kyria) e Θ (Thalamipolos). A Finlândia chegou a adotar um padrão curioso, no qual os Ases eram marcados com o número 1, e as figuras com os números 11, 12 e 13, ao invés de letras. Baralhos com esta numeração não são mais fabricados, exceto pela Piatnik, que tem em seu catálogo um baralho de luxo chamado Lintu ("soberano", em finlandês), onde as figuras vestes trajes típicos finlandeses.

No próximo post desta série, o baralho latino!

Série Baralhos

Padrões Regionais Franceses - Parte 2

0 Comentários:

Postar um comentário