Felizmente, o último insulto que sofri aqui já faz bastante tempo, e foi enterrado quando os comentários da Enetation deram problema. De lá pra cá, eu já falei de coisas tão populares quanto X-Men, Homem-Aranha e Senhor dos Anéis, e falei até sobre Watchmen, em um post que eu achei que iria ter uma enxurrada de alanmooremaníacos querendo "corrigir", o que felizmente não aconteceu. Portanto, é hora de mais uma vez falar sobre um assunto que provavelmente todo mundo conhece, mas que sempre pode ter uma linha ou duas de assunto que você ainda não sabia. Hora de fazer um post sobre uma série de filmes que eu adoro, mas que não entra na minha lista de filmes favoritos por birra minha com alguns detalhes. Hora de falar sobre Star Wars.
Mas, antes de começarmos, eu repito: nada do que eu vou dizer aqui foi inventado, chutado, nem deduzido por mim. Se você acha que Star Wars é a Bíblia, George Lucas é o seu profeta, e que eu sou um herege profanando este magnífico filme, faça um favor a nós dois e clique no xiszinho ali em cima à direita antes de sucumbir à tentação de clicar no link dos comentários. E, se você não é tão fanático, mas ainda assim acha que algo do que eu falei está errado, procure dizer o que é e qual seria o certo, ao invés de simplesmente xingar a minha mãe. Afinal, muitos botanianos morreram para me trazer estas informações.
Pois bem, tudo esclarecido, vamos começar. Para quem passou os últimos trinta anos em uma galáxia muito, muito distante, Star Wars, que na minha época ainda se chamava Guerra nas Estrelas, é um filme de fantasia, onde um jovem deve cumprir seu destino treinando com um antigo mestre para se tornar um cavaleiro e resgatar a princesa de um vilão com armadura negra. Seria apenas mais um conto de fadas, se não fosse ambientado no espaço. E como às vezes as idéias mais simples são as que fazem mais sucesso, este pequeno detalhe o transformou em um fenômeno cultural, gerando várias seqüências, desenhos animados, livros, histórias em quadrinhos, videogames, e todo o tipo de merchandising que você consiga imaginar.
Lançado em 1977, e dirigido por George Lucas, o filme, que originalmente se chamava só Star Wars, sem "Episódio IV" e sem o subtítulo Uma Nova Esperança - ambos adicionados em 1981, e não só em 1997 como muitos pensam - contava a história do adolescente Luke Skywalker (Mark Hamill), um fazendeiro órfão que mora com seus tios no planeta Tatooine (embora eu não veja como alguém pode ser fazendeiro em um lugar tão deserto) que se viu envolvido em um acontecimento muito maior que ele ao encontrar acidentalmente dois dróides, C-3PO (Anthony Daniels) e R2-D2 (Kenny Baker). Os dróides eram de propriedade da Princesa Leia Organa (Carrie Fisher), uma das chefes da Aliança Rebelde, e foram ejetados de sua nave com a finalidade de encontrar o antigo Cavaleiro Jedi Obi-Wan Kenobi (Alec Guiness). No passado, os Jedi foram guardiães da paz, se utilizando da Força, uma energia mística que permeia todos os seres vivos, para conseguir grandes proezas físicas e mentais. Com a ascensão ao poder do terrível Império Galáctico, os Jedi foram extintos, e Kenobi é um dos últimos que restaram. Neste momento-chave, porém, a Aliança Rebelde, que luta pela deposição do Império e reestabelecimento da República, conseguiu roubar os planos da maior fortaleza dos vilões, a Estrela da Morte, uma estação espacial grande como uma lua, e com poder de fogo para destruir um planeta inteiro de uma só vez. Leia levava os planos em sua nave, mas esta foi abordada pelo vilão Darth Vader (interpretado por David Prowse e dublado por James Earl Jones), e ela não teve escolha senão esconder os planos em R2, e enviá-lo ao encontro de Kenobi, que teria por missão levá-los ao pai de Leia no planeta Alderaan.
Enquanto Leia era levada para a Estrela da Morte para ser forçada a delatar o local da Base Rebelde, Luke levava os dróides a seu amigo Ben Kenobi, que imaginava ser parente de Obi-Wan. Ben então revela que ele é o próprio Obi-Wan, e, mais do que isso, que o pai de Luke era também um Jedi, morto por Vader, que também era um Jedi e discípulo de Obi-Wan antes de sucumbir ao Lado Negro da Força e se unir ao Império. Obi-Wan então decide treinar Luke para ser um Jedi, enquanto ambos levam os planos para Alderaan. Para isso, eles contratam um piloto, Han Solo (Harrison Ford), cuja nave, a Millenium Falcon, co-pilotada pelo wookiee Chewbacca (Peter Mayhew) pode levá-los até lá rapidamente. Solo na verdade é contrabandista, e está de olho no dinheiro que Obi-Wan prometeu pagar-lhe para se livrar de uma dívida com um de seus contratantes, Jabba, o Hutt.
Ao chegar em Alderaan, os heróis se deparam com a Estrela da Morte, e são sugados para ela por um raio trator. Enquanto Obi-Wan desliga o raio e se sacrifica em uma luta contra Vader, Luke e Solo salvam Leia, e levam os planos da Estrela para a Base Rebelde. Os rebeldes descobrem um ponto fraco na estrutura, e Luke vai com eles para destruí-la e encerrar sua ameaça. No fim, a Estrela da Morte é destruída, Darth Vader escapa, e Luke, Solo e Chewbacca são condecorados heróis por Leia.
O lançamento de Star Wars estava agendado para o Natal de 1976, mas inúmeros contratempos, principalmente com a edição, fizeram com que ele fosse adiado até o verão do ano seguinte. O filme acabou fazendo tanto sucesso que ajudou a consolidar de vez o verão como uma boa época para lançar filmes - até então, os estúdios achavam que ninguém iria querem deixar de aproveitar o verão para ir ao cinema, mesmo com dois filmes extremamante bem sucedidos tentando provar o contrário: Tubarão, que estreara no verão de 1975, e A Profecia, do verão de 1976. Star Wars foi a maior bilheteria da História do cinema, posto que ocupou até ser desbancado por E.T. em 1982; e foi indicado a dez Oscars - incluindo melhor filme, melhor diretor e melhor ator coadjuvante para Alec Guiness - embora só tenha ganhado cinco, todos técnicos, como melhor som e efeitos visuais, mais um especial por efeitos sonoros. Este enorme sucesso levou Lucas a anunciar, em 1978, que faria mais onze filmes para contar toda a saga do universo de Star Wars. Em 1979 ele mudaria de idéia e reduziria a saga para nove filmes, e não doze. Por muito tempo, parecia que só seriam três, mas agora Lucas parece ter se decidido e encerrado a conta em seis.
Como toda saga tem um começo, a de Star Wars começou em 1973, quando o diretor George Lucas filmava Loucuras de Verão (American Graffiti no original), e começou a discutir uma idéia para um novo filme, ambientado no espaço, mas com elementos de fantasia, com o produtor Gary Kurtz. Lucas preparou um rascunho de catorze páginas, e o ofereceu aos estúdios Universal e United Artists, que o rejeitaram. Lucas então o ofereceu a Alan Ladd Jr, o novo presidente da 20th Century Fox, que não entendeu muito bem do que o filme se tratava, mas, acreditando que Lucas tinha talento, decidiu dar a luz verde mesmo assim.
Lucas não negava que suas principais influências haviam sido as histórias do herói Flash Gordon e os filmes de Akira Kurosawa; talvez por isso, o rascunho original seria muito diferente do filme que chegaria às telas. Nele, o General Luke Skywalker, um samurai de 60 anos, lutava no Século XXXIII para salvar a Princesa (que nem tinha nome) do maligno Império Galáctico. Este rascunho ainda mudaria muito, fazendo com que Luke primeiro se tornasse um jovem idealista e heróico, até finalmente colocá-lo como o adolescente humilde transformado em herói por uma armadilha do destino do roteiro final. O cenário passaria do nosso futuro para o passado de um local imaginário (o famoso "há muito tempo, em uma galáxia muito, muito distante"). A Princesa desapareceria para só voltar na revisão final. Um dos rascunhos até se preocupava em contar a origem da Força, dos Jedi e do Império, utilizando, inclusive, elementos que Lucas só levaria ao cinema ao filmar os Episódios I, II e III, como os Sith e o extermínio dos Jedi. O filme até mesmo chegou a se chamar As Aventuras de Starkiller, Episódio I: Guerra nas Estrelas, onde Starkiller seria o mestre de Luke, que o guiaria para derrotar o Império com a ajuda do Cristal Kaiburr, que amplificava a Força em qualquer pessoa. Esta versão do roteiro, em seu final, trazia até idéias para um segundo episódio da série, que se chamaria A Princesa de Ondos.
Após muito pensar e revisar, Lucas decidiu centrar o filme mais na ação do que na explicação dos elementos de seu universo; por este motivo, muitas coisas são propositalmente mal-explicadas, como o que seria Força, como os Jedi teriam sido extintos, como o Império teria derrubado a República, porque Leia seria uma Princesa sem fazer parte do Império, ou o que teriam sido as tais Guerras Clônicas mencionadas por Obi-Wan. Muitos acreditam que George Lucas já tinha os três primeiros episódios em mente ao filmar o Star Wars original, mas na verdade ele só tinha uma breve noção, e deixou para inventar o grosso mesmo quando fosse filmá-los. Na verdade, ele tentou fazer o primeiro Star Wars o mais fechado possível - a batalha para destruir a Estrela da Morte, por exemplo, só ocorreria no terceiro filme da série, e acabou sendo colocada já no final do primeiro - pois, caso fosse um fracasso e nenhum estúdio concordasse em fazer as continuações, pelo menos ele teria um filme com início, meio e fim.
Uma das características mais peculiares de Star Wars é o seu início, sob a forma de uma "retrospectiva" escrita, que sobe em direção às estrelas enquanto toca a música inconfundível de John Williams (bem, talves apenas confundível com o tema do filme do Super-Homem, também assinado por ele). Esta introdução está presente em todos os filmes da série, para ajudar o espectador a se situar, e também existia nos rascunhos do roteiro. Reza a lenda que, ao mostrar a primeira versão do filme apenas para executivos da Fox e amigos pessoais, Lucas fez uma introdução de 16 parágrafos, interrompida no meio por Brian de Palma, que alegou não estar entendendo nada, e pediu para que Lucas a resumisse, chegando à versão original. Esta introdução acabou causando problemas para Lucas, pois o Sindicato dos Atores e Diretores de Hollywood exigia que o nome dos atores aparecesse nos créditos iniciais, mas Lucas achava que isso arruinaria o início de seu filme, e teve que se desligar do sindicato para poder manter sua versão.
Outra curiosidade sobre o filme envolve o ator David Prowse, que vestia a roupa de Darth Vader. Prowse, que interpretava todas as falas do vilão, até para os outros atores saberem suas deixas, não sabia que iria ser dublado na versão final, e ficou bastante chateado com Lucas quando descobriu. Lucas, aliás, queria que Orson Welles dublasse Vader, mas acabou optando por James Earl Jones por achar que a voz de Welles era muito conhecida. Jones sequer é creditado no filme original, a pedido seu, por achar que não fez nada que merecesse seu nome nos créditos. O ator Anthony Daniels, que interpreta o robô C-3PO, também seria dublado na versão final. Lucas chegou a fazer testes com vários dubladores, e só manteve a voz de Daniels após alguns dos próprios dubladores pedirem que ele não a mudasse. Falando em problemas com elenco, Harrison Ford foi a última escolha de Lucas para o papel de Solo - o diretor não queria trabalhar com ninguém que já tivesse feito Loucuras de Verão - e antes dele Lucas entrevistou Kurt Russell, Nick Nolte, Christopher Walken e Burt Reynolds. Para ganhar o papel de Leia, Carrie Fisher teve de disputar com Sissy Spacek, Jodie Foster, Terri Nunn e Cindy Williams, e ainda assim só ganhou o papel porque se comprometeu a perder cinco quilos até o início das filmagens.
Lucas também acabou atirando no que viu e acertando o que não viu: como considerava Star Wars sua maior criação, ele fez questão de ter os direitos exclusivos sobre o merchandising do filme. Como na época isto não era tão essencial quanto agora, e como pouca gente achava que o filme fosse render muito dinheiro, a Fox lhe deu de graça os direitos exclusivos sobre tudo o que o filme rendesse fora das bilheterias, o que fez com que Lucas enriquecesse bilhões de dólares, e os estúdios passassem a incluir percentagens sobre o merchandising em todos os contratos desde então. O filme, aliás, era tão desacreditado que, quando foi distribuí-lo, a Fox conseguiu apenas 40 salas de cinema em todos os Estados Unidos, e para aumentar este número teve de fazer chantagem, ameaçando não liberar para quem não exibisse Star Wars o filme O Outro Lado da Meia-Noite, baseado em um best seller de Sidney Sheldon, e que chegaria aos cinemas no final do ano - acabou que hoje em dia ninguém mais se lembra desse filme, que rendeu à Fox menos de 10% do que rendeu Star Wars.
O sucesso de Star Wars fez com que a Fox abrisse os cofres para que Lucas filmasse suas continuações. O próximo filme da série, lançado em 1980, seria The Empire Strikes Back, ou, em bom português, O Império Contra-Ataca. Desta vez, Lucas se limitou a traçar as linhas gerais da história, deixando o roteiro a cargo de Leigh Brackett e Lawrence Kasdan, e a direção com Irvin Kershner. Já sabendo que o filme seria parte de uma saga muito maior, Lucas decidiu incluir um curioso "Episódio V" na introdução, mesmo este sendo apenas o segundo filme da série. A partir do ano seguinte, ele passou a chamar retroativamente o primeiro filme de "Episódio IV", com o subtítulo A New Hope, dando a entender que, um dia, contaria o que aconteceu antes dele.
Na época de seu lançamento, O Império... não foi tão bem sucedido quanto seu antecessor, mas hoje ele é considerado pela maioria dos fãs como o melhor dos filmes da saga. Na Academia ele foi de certa forma rejeitado, só sendo indicado a três Oscars, melhor som, melhor trilha sonora e melhor direção de arte, mas só ganhou o primeiro, além de um especial por reconhecimento em efeitos visuais. O Império... também foi o primeiro filme "sem início e sem final" da história do cinema, já que sua história estava meio espremida entre os outros dois, e é famoso por ser um dos primeiros filmes onde o mal triunfa no final, ainda que seja um triunfo momentâneo.
A história de O Império... se passe três anos depois da destruição da Estrela da Morte no primeiro filme. Luke, Leia e Solo - que deixou Jabba esperando pelo dinheiro momentaneamente - estão em uma Base Rebelde no planeta gelado de Hoth, enquanto o Império está à sua procura. Pouco antes deles serem encontrados, Luke tem uma visão de Obi-Wan, que diz que ele deve ir ao planeta Dagobah e treinar com Yoda (Frank Oz), um antigo Mestre Jedi. Após o ataque do Império, Luke parte com R2 para Dagobah, enquanto Solo, Leia, Chewbacca e C-3PO embarcam na Millenium Falcon. O sistema de velocidade hiperespecial está com alguns defeitos, porém, e a fuga não sai como o esperado, fazendo com que eles tenham de se esconder das naves imperiais até conseguir uma chance de escapar. Enquanto Solo encontra soluções criativas para não ser encontrado pelo Império, Luke chega a Dagobah e começa seu treinamento, embora Yoda insista que ele é velho demais, e que sua descrença na Força fará com que ele não se torne um bom Jedi. Quando Solo e os demais finalmente conseguem fugir, traçam um plano aparentemente simples: parar para consertar a nave na Cidade das Nuvens de Bespin, governada por seu amigo Lando Calrissian (Billy Dee Williams). Solo não sabe, porém, que sua nave está sendo seguida por um caçador de recompensas (embora hoje todos saibamos que o caçador, interpretado por Jeremy Bulloch, se chama Boba Fett, em nenhum momento do filme este nome é mencionado, apenas no filme seguinte) contratado tanto por Jabba quanto por Darth Vader para encontrá-lo. Assim, ao pousar em Bespin, Solo e Leia encontram uma cilada, não só para eles mas também para Luke: gostando de uma idéia de Vader, o Imperador decide trazer Luke também para o Lado Negro. Sentindo o sofrimento de seus amigos, Luke deixa Dagobah e parte para Bespin, mesmo sem ter concluído seu treinamento, e sabendo que algo de ruim o aguarda por lá.
Em Bespin, Vader prepara uma câmara que congelará Luke para levá-lo ao imperador; para testá-la, ele congela Solo, e o entrega a Boba Fett. Quando Luke chega, Lando se une a Leia e derrota seus captores, tentando resgatar Solo sem sucesso, e partindo na Millenium Falcon. Enquanto isso, Luke confronta Vader na cena que se tornaria mais emblemática de toda a saga, ao final da qual Vader revela que é seu pai. Luke foge e é resgatado pela Millenium Falcon, que, ao final do filme, parte com Lando e Chewbacca para encontrar Solo, enquanto Luke reflete ao lado de Leia sobre ter de confrontar seu próprio pai.
Além de ser um ponto-chave da história, o fato de Vader ser pai de Luke foi um dos segredos mais bem guardados dela - apenas Lucas, Hamill e Kershner sabiam a verdade. Prowse, durante a gravação, leu um roteiro alterado, no qual a fala era "Obi-Wan matou seu pai". Jones conta que, quando foi dublar Vader, pensou que este estivesse mentindo para enganar Luke. Lucas também teve o cuidado de rodar uma cena onde Vader aparecia por um breve momento sem sua máscara, embora de costas, para que o público soubesse que ele é humano (ou ao menos orgânico) antes da revelação, e não um robô como muitos estavam começando a pensar.
Algumas cenas deram trabalho para ser filmadas. A cena em que R2 sai da lama em Dagobah, por exemplo, foi filmada na piscina inacabada da casa de Lucas, com o próprio Lucas à câmera, e todo o resto da equipe dentro d'água. Como Yoda era um boneco, as cenas em que ele contracenava com Luke foram filmadas sobre um palanque de um metro e meio de altura, o que permitia que os animadores se movimentassem e animassem Yoda com mais facilidade. Este recurso, porém, foi criticado tanto por Hamill, que se queixava de ser o único ator no set durante horas, quanto por Frank Oz, que não ouvia as falas de Hamill de onde estava, o que o prejudicava para falar as de Yoda no tempo certo. Na cena da luta entre Luke e Vader, o dublê de Vader tinha dificuldade para lutar com o capacete; a solução foi fazer a maior parte da cena com o dublê sem capacete, enquanto a câmera focalizava Luke. Outra cena complicada foi a do congelamento de Solo, antes do qual Leia diz "eu te amo" e ele responderia "eu também". Kershner achava que esta fala não combinava com o personagem, e deixou Ford livre para dizer o que quisesse; acabou ficando "eu sei", e dando origem a uma lenda que diz que a fala original era "não se preocupe, eu voltarei", e Ford não teria falado isso porque ainda não teria acertado sua participação no próximo filme da série.
Após lançar a bomba da herança de Luke sobre os fãs, faltava a Lucas finalizar a saga, com um último filme a ser lançado em 1983, chamado Return of the Jedi. Em português, ficou O Retorno de Jedi, um título gramaticalmente errado, já que "Jedi" não é um dos personagens do filme - ficaria mais correto O Retorno dos Jedi.
Com roteiro de Lucas e Kasdan, O Retorno... foi oficialmente dirigido por Richard Marquand, mas o envolvimento de Lucas durante as gravações foi tamanho que muitos da equipe também o consideram co-diretor. Sua história se passa um ano após a do último filme; enquanto o Império constrói uma segunda Estrela da Morte, mais poderosa ainda do que a primeira, para varrer a Aliança Rebelde da face do universo, Luke, Leia, Lando, Chewbacca e os dróides viajam até Tatooine, para salvar Solo de Jabba, o Hutt, que graças à tecnologia da época consistia de um enorme boneco semelhante a uma mistura de batata e lesma, que ainda por cima falava em um idioma alienígena. Esta parte inicial ainda trouxe um dos maiores fetiches dos adolescentes da época, algo que se transformou em uma frase com significado próprio: Princesa Leia no Biquini Dourado. Diz a lenda que a própria Carrie Fisher teria sugerido este figurino, por estar descontente com as roupas da Princesa, que considerava masculinas demais.
Após botar pra quebrar no palácio de Jabba, Luke retorna para seu treinamento com Yoda, enquanto os demais se unem aos rebeldes para um ataque final à Estrela da Morte, durante uma visita do Imperador Palpatine (Ian McDiarmid) à estação. Yoda, porém, está muito doente, e diz que o treinamento de Luke está terminado, e que, após sua morte, Luke será o último dos Jedi. Yoda ainda confirma que Vader é o pai de Luke - cena esta incluída por Lucas para que ninguém achasse que Vader estava mentindo - fato este ratificado por Obi-Wan, que vai ainda mais longe e revela a Luke que Leia é sua irmã gêmea, separada dele no nascimento e escondida para protegê-los do Imperador.
Para que o ataque final à Estrela da Morte dê certo, os rebeldes precisam destivar o gerador de seu escudo, na lua de Endor. Assim, uma equipe composta de Solo, Luke, Leia, Chewbacca, R2 e C-3PO parte em uma nave roubada do Império. Na verdade, o Imperador está ciente deste plano, e armou uma cilada para quando eles chegarem lá, pretendendo que o gerador não seja desativado, e as naves rebeldes que estiverem atacando a Estrela da Morte sejam destruídas. Ao chegar em Endor, nossos heróis se deparam com as tropas do Império, mas acabam recebendo ajuda dos Ewoks - uma tribo de ursinhos anões odiada por muitos fãs, e principal motivo citado quando alguém quer explicar porque considera este filme o mais fraco dos três. Com a ajuda dos Ewoks, eles conseguem derrotar as tropas imperiais, e desligar o gerador, permitindo que as naves rebeldes penetrem na estrutura inacabada da Estrela da Morte e a destruam.
Paralelamente a isso, Luke se entrega a Vader, tentando convencê-lo a voltar para o lado do bem. Vader, entretanto, o leva à presença do Imperador, que tenta despertar sua raiva e levá-lo também para o Lado Negro. Luke então luta contra Vader, ficando com cada vez mais raiva durante o confronto, principalmente quando o vilão descobre que Leia também é sua filha. Luke, porém, se recusa a matar Vader e tomar seu lugar ao lado do Imperador, que, furioso, o ataca. Alcançando, finalmente, a redenção, Vader mata o Imperador, mas seus ferimentos se agravam, e ele morre - não sem antes revelar seu rosto sob a máscara, e voltar para o lado dos mocinhos.
Na época de seu lançamento, O Retorno... foi um grande sucesso de crítica e público, mas só recebeu indicações para quatro Oscars - melhor direção de arte, melhor som, melhores efeitos sonoros e melhor música - e só ganhou um, especial por reconhecimento em efeitos visuais. Com o passar do tempo, ele acabou sendo relegado ao papel de filme mais fraco da trilogia, embora ainda permaneça mais popular que diversos outros filmes de ficção espacial. De qualquer forma, após concluir as filmagens, Lucas não se sentiu animado a filmar o que teria acontecido antes do primeiro filme - os famosos Episódios I, II e III. O público ainda teria de esperar 16 anos para saber o que levou Anakin Skywalker a se tornar Darth Vader - e muitos hoje acham que era melhor não ter descoberto.
Em 1997, quando o primeiro filme completou vinte anos, George Lucas decidiu relançar nos cinemas os três filmes, mas com algumas alterações. Conhecidos como Edição Especial, estas versões mantinham a mesma história dos originais, mas com alguns efeitos especiais novos - basicamente, mais naves, soldados do Império e seres alienígenas foram incluídos em diversas cenas. Algumas cenas excluídas na época da edição dos filmes originais também foram reinseridas, como a famosa cena em que Solo conversa com Jabba no hangar da Millenium Falcon ainda no primeiro filme; enquanto outras foram feitas especialmente para estas versões, como imagens de diversos planetas comemorando após a morte do Imperador no Retorno de Jedi. Estas versões passaram a ser consideradas as "oficiais" desde seu lançamento, ou seja, as originais nunca mais deram as caras, o que causou a revolta de muitos fãs.
Em 2004, quando chegou a hora de lançar Star Wars em DVD, Lucas foi ainda mais longe, e optou por não lançar nem a versão original nem a de 1997, mas uma terceira versão de cada filme, remasterizada e com ainda mais efeitos especiais inéditos, como Ian McDiarmid interpretando o Imperador, e com uma nova fala, em O Império Contra Ataca - originalmente, o Imperador havia sido interpretado por uma atriz não-creditada, usando uma máscara com olhos de chimpanzé, e dublada por Clive Revill. Estas versões foram novamente alvo de críticas, principalmente por causa de uma cena do Retorno de Jedi onde, quando Anakin Skywalker aparece em forma de "espírito" ao lado de Obi-Wan e Yoda, o ator Sebastian Shaw, que interpretou Vader sem a máscara, foi substituído por Hayden Christensen, que interpretou Anakin nos episódios II e III. Talvez para diminuir a ira dos fãs, em 2006 foi lançada uma nova edição em DVD, vendida por tempo limitado, onde cada filme era composto de dois discos, um com a versão original e outro com a versão de 2004.
Hoje em dia, Star Wars se tornou mais que um filme, tendo livros, histórias em quadrinhos, RPG, e todo o tipo de material associado, a maioria sob a forma do chamado Expanded Universe, ou seja, contando histórias com personagens ou acontecimentos diferentes - e até mesmo posteriores - aos mostrados nos filmes. Nem mesmo as sucessivas revoltas dos fãs com as escolhas equivocadas feitas por Lucas parecem capazes de diminuir sua força, o que só retifica a grandiosidade da obra. E tudo isso começou com um garoto, em uma galáxia muito, muito distante.
Série Star Wars |
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Episódios IV, V e VI |
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