A música irlandesa é bem conhecida no Brasil, graças, principalmente, a bandas de peso como U2 e os Cranberries (duas bandas que eu gosto muito, por sinal). Mas a Irlanda, como qualquer país que se preze, possui sua "música popular", aquela que mais se aproxima de suas raízes. Há alguns anos, eu descobri uma banda que misturava música tradicional irlandesa com rock e folk (bem, pelo menos eles faziam isso antes de se tornarem populares...). A banda em questão é o assunto do post de hoje: The Corrs.
A primeira vez que eu vi os Corrs foi no Top TVZ do Multishow, na época em que ainda tinha TV a cabo. Achei a música ("Dreams") interessante, e, alguns dias depois, vi o CD Talk on Corners nas Lojas Americanas. Como estava em promoção (se não me engano, R$ 16,90) e eu tinha dinheiro sobrando, resolvi comprar. Gostei bastante, e ouvi diversas e repetidas vezes. Uns anos depois comprei também o CD In Blue, influenciado pela música "All the Love in the World", que tocava no rádio na época. Embora não tenham chegado ao ponto de entrar na briga de foice das minhas cinco bandas preferidas, os Corrs me agradaram muito (mais o Talk on Corners que o In Blue), e ainda ouço os CDs de vez em quando, o que me motivou a fazer este post sobre eles.
Andrea Corr (vocais e flauta), Caroline Corr (bateria), Sharon Corr (violino) e Jim Corr (guitarra e teclado) nasceram na pequena cidade de Dundalk, na Costa Leste da Irlanda, no meio do caminho entre Dublin e Belfast. Os quatro irmãos sempre viveram imersos em música, pois naquela cidade (provavelmente em toda a Irlanda) existem muitos pubs onde pequenas bandas de rock, folk e música tradicional irlandesa fazem apresentações ao vivo enquanto seus clientes degustam Guiness (a cerveja, não o Livro dos Recordes, embora ambos tenham sido inventados pela mesma família).
Seus pais, Gerald e Jean Corr, tinham uma banda de folk, a "Sound Affair", que se apresentava nestes pubs. Aos 15 anos, Jim começou a tocar guitarra na banda de seus pais. Mais tarde, se tornou "músico de aluguel" (um músico que não faz parte de banda nenhuma, mas toca com várias mediante pagamento - os próprios Corrs usam baixistas de aluguel, já que nenhum dos quatro toca baixo), chegando a tocar com a lendária cantora tradicional irlandesa Dolores Keane. Jim chegou a formar uma banda própria, The Fountainheads, que, apesar de ter gravado um disco vendido internacionalmente, não fez sucesso, e foi desfeita alguns anos depois.
Após o fim da banda, Jim voltou a tocar em pubs. Sharon tocava violino com a Redeemer Youth Orchestra, e, nas horas vagas, começou a tocar piano com Jim no pub de sua tia, o McManus's. Nesta época, Jim começou a considerar a idéia de formar uma banda com suas irmãs, idéia que foi fortemente encorajada por seus pais. Assim, os quatro irmãos começaram a ensaiar em um pequeno estúdio alugado por Jim. Na época, Caroline ainda não tocava bateria, mas piano (sim, como vocês já devem ter percebido, os quatro tocam piano).
Jim queria que o sucesso de sua "banda familiar" chegasse logo, mas não tinha oportunidades de lançá-la. Enquanto ensaiava com suas irmãs, continuou a tocar em bandas que se apresentavam em pubs. A oportunidade que ele esperava surgiu em 1990, quando se apresentou com a banda "Hughes Version", liderada pelo produtor John Hughes. Hughes estava selecionando músicos para uma participação no filme "The Commitments", a ser lançado no ano seguinte. Os Corrs fizeram o teste, e passaram. Alan Parker, o diretor, inclusive, ficou tão impressionado com Andrea que deu a ela um dos papéis principais do filme (irmã do protagonista) enquanto os outros três fizeram apenas pequenas participações (Caroline e Sharon nem aparecem nos créditos, e Jim é creditado como "membro da banda Avant-Garde-a-Clue"). Jim costuma brincar que até hoje está procurando por eles três no filme.
Apesar da pequeniníssima participação, Ros Hubbard, responsável pelo elenco, ficou impressionado com a performance dos Corrs no teste, e tentou convencer Hughes a produzi-los. Hughes, porém, não tinha certeza se devia fazê-lo, pois achava que a banda não tinha nada de especial, e, além disso, Andrea e Caroline eram muito jovens (16 e 17 anos, respectivamente). Mesmo assim, após pensar muito no que Hubbard lhe dizia, e conversar com os pais dos Corrs, Hughes decidiu investir na banda. Muito entusiasmados, os irmãos praticamente não fizeram mais nada a não ser ensaiar e escrever canções. Dois anos após o início do "projeto", em fevereiro de 1993, os Corrs fizeram seu primeiro "show", reservado apenas para amigos e alguns contatos das gravadoras. A banda se saiu relativamente bem, mas nenhuma gravadora se interessou por eles.
Nesta época, os Corrs estavam convencidos de que precisavam de um baterista próprio, para ajudar em seus ensaios. Caroline decidiu largar o piano e aprender bateria, incentivada por um ex-namorado baterista. Em maio de 1994, os Corrs fizeram um novo show, desta vez aberto ao público, e conquistaram dois fãs de peso: o embaixador norte-americano na Irlanda, Jean Kennedy Smith, e seu irmão, o Senador Ted Kennedy. O Senador Kennedy fez um convite para que os Corrs se apresentassem nos EUA durante a Copa do Mundo, e assim eles fizeramum pequeno show em Boston, em junho de 1994. Hughes aproveitou a viagem para visitar algumas gravadoras de Nova York e Los Angeles, mas nenhuma se interessou pelo material.
Hughes já estava praticamente desistindo de encontrar uma gravadora a esta altura. Não havia conseguido nem a Irlanda, nem no Reino Unido, nem nos EUA. Antes de voltar para casa, porém, a banda tentou uma última vez, com a Atlantic Records. Desta vez eles deram a incrível sorte de falar com um dos donos da Atlantic em pessoa, Jason Flom. Flom gostou muito da música, e disse que iria agendar um encontro deles com o produtor David Foster. Foster, porém, estava muito ocupado produzindo o disco "History" de Michael Jackson, e nunca tinha tempo para atendê-los. Somente após muita pressão é que, no dia anterior ao marcado para a viagem de volta à Irlanda, os Corrs conseguiram se encontrar com o produtor.
Quer dizer, mais ou menos, pois a única maneira que eles encontraram para serem recebidos foi "invadir" o estúdio onde Michael Jackson gravava, e esperar o produtor sair. Ao terminar a gravação, Foster ficou sabendo que uma banda que iria voltar para a Irlanda no dia seguinte queria tocar para ele. Meio descrente, ele pediu que eles se apresentassem ali mesmo, na frente dele, naquela hora. Foster ficou tão impressionado com o desmpenho "de improviso" dos irmãos, que recomendou a contratação à Atlantic. Finalmente os Corrs tinham um contrato.
O primeiro disco dos Corrs, "Forgiven not Forgotten", foi lançado em setembro de 1995, apenas na Irlanda e EUA. David Foster produziu o álbum, e convidou Jim para ser seu co-produtor, para garantir que o som tradicional irlandês dos Corrs não fosse modificado. O álbum ganhou 10 Discos de Platina (!), o que motivou a Atlantic a lançá-lo também no resto da Europa, Austrália, Canadá e Japão. Em todos os lugares o disco teve bom desempenho, o que garantiu aos Corrs um longo contrato e a garantia de um novo disco em breve.
Antes de gravar seu segundo álbum, porém, os Corrs se dedicaram a muitos shows e muita experimentação para as novas canções, o que levou à mistura de rock, folk e música irlandesa que caracterizaria a banda. "Talk on Corners" foi lançado em outubro de 1997, desta vez internacionalmente (uma curiosidade: a versão brasileira possui quatro faixas do "Forgiven not Forgotten", não presentes nas demais versões do álbum). A banda ficou preocupada com o longo intervalo entre um disco e outro, mas este vendeu até mais do que o primeiro, o que motivou a gravadora a lançar, em 1998, "Talk on Corners Special Edition", com versões remixadas das principais músicas da banda. Além disso, regularmente eram lançados singles das principais canções, contendo como bônus várias músicas inéditas.
Em novembro de 1999, os Corrs foram convidados pela Mtv a gravar o programa Unplugged (que por aqui é conhecido como Acústico) Este programa se transformou no quarto álbum da banda, The Corrs Unplugged, com versões acústicas das principais canções de "Forgiven not Forgotten" e "Talk on Corners", além de duas faixas inéditas.
Em julho de 2000 foi lançado seu quinto álbum, "In Blue". A esta altura, os Corrs já eram popstars, tendo uma das músicas deste álbum ("All the Love in the Wolrd") sido incluída na trilha sonora do filme "Os Queridinhos da América". Talvez por isso este seja considerado o disco mais "comercial" da banda, embora ainda tenha algumas canções com o toque irlandês que faz a diferença da banda. "In Blue" também teve uma versão especial, lançada em setembro de 2000, com três faixas a mais. Esta versão especial possui também uma versão dupla, sendo que o segundo CD foi gravado durante uma apresentação ao vivo da banda numa rádio irlandesa em junho.
O último disco de estúdio da banda lançado até agora é a coletânea "Best of The Corrs", lançado em 2001. São 16 faixas dos outros três álbuns (FnF, ToC e In Blue), e mais algumas faixas "personalizadas": em cada país que foi lançado, as faixas-bônus eram diferentes (incluindo uma canção em espanhol, "Una Noche", para a América Latina, Portugal e Espanha).
Em março de 2002 os Corrs ainda lançaram o álbum "Live in Dublin", gravado durante um show realizado em janeiro, e que conta com a participação de Bono, vocalista do U2. No momento, eles estão descansando um pouco da correria de sete álbuns e centenas de shows em um espaço de sete anos, e trabalhando em novas canções. Os quatro também se dedicam a projetos paralelos, como produção (Jim) e cinema (Andrea), o que levou a rumores de que a banda poderia ter acabado. Mas os Corrs ainda não se pronunciaram oficialmente sobre o assunto.
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