domingo, 7 de setembro de 2003

Escrito por em 7.9.03 com 0 comentários

The Smiths



Desde que fiz aquele primeiro post das coisas que eu gosto, sobre a Tori Amos, senti que fiquei devendo um post sobre os Smiths. Vamos fazer um, então.

A primeira vez que eu ouvi Smiths ainda era criança. Não me lembro quantos anos tinha (uns 10 ou 11), mas foi em um programa de clips da Rede Bandeirantes (beeem antes dessa idéia de se chamar "Band"), que passava imediatamente antes do programa infantil que apresentava Google V, Machineman e Metalder, do qual eu não me lembro o nome. O clip dos Smiths que eu vi foi o "How Soon is Now?" e, embora essencialmente não tenha entendido nada da letra, achei o som muito legal. Esse programa de clips, aliás, era muito bom: foi nele também que eu conheci o Marillion, com "Kayleigh", o Mission com "Butterfly on a Wheel" e os Housemartins, com "Build".

Na época, eu não me interessava por comprar discos (só uns de trilha sonora de novela). Quando gostava de alguma música, gravava do rádio, em fitas K7. Como eu só ouvia rádio 98 (é, todo mundo tem um passado negro...), nunca cheguei a ouvir Smiths no rádio. Felizmente, na época, a rádio ainda não havia sido tomada pelo pagode nem pelo axé, e eu até consegui gravar umas músicas da Legião Urbana. Mas na época eu ainda não me interessava por rock, fora uma música ou outra que me chamasse a atenção. Somente após a invenção da Mtv é que eu fiquei conhecendo mais bandas de rock, e comecei a formar meus gostos. Consegui fitas emprestadas de várias bandas com meus colegas de colégio. Entre elas, uma fita do "The Queen is Dead", dos Smiths. Foi meu primeiro contato com eles desde aquele programa de clips, mas não tinha a música que eu tinha ouvido lá (não se assustem, eu vi o clip mais de uma vez - só não me ocorreu de anotar o nome da música - e me lembrava muito bem do "pé-uuééééééúmmmmmm" da guitarra. Quem conhece a música sabe do que eu estou falando). Embora eu tivesse gostado de todas as músicas da fita (algo que, até então, não tinha ocorrido, e só voltaria a ocorrer com a Tori Amos, como eu já disse em meu post sobre ela), por algum motivo não dei muita importância àquela banda. Ainda por cima, tinha uma música chamada "Vicar in a Tutu", vejam só. Copiei a fita pra mim, mas quase nunca ouvi. Gostava mais de Madonna e INXS (pois é, mais passado negro).

Enfim, quando eu já tinha 16 anos, ocorreu o reencontro. Nessa época, graças às amizades, meu leque musical estava se expandindo, e minha preferência por rock (principalmente o dos anos 80) já começava a se tornar evidente. Já tinha redescoberto o David Bowie e o Jesus and Mary Chain. Tori Amos já era minha "ídala" principal. Já ouvia muito mais Depeche Mode e The Cure do que Madonna e INXS. Smiths, porém, ainda não estavam no meu acervo, fora pela velha e empoeirada fita do "The Queen is Dead" (curiosidade: depois que eu comprei o CD, reencontrei essa fita aqui em casa sem querer... e gravei Oasis por cima! Heresia!!!).

Um dia, em uma festa na casa de uma amiga, ouvi novamente a "How Soon is Now?". Reconheci o "pé-uuééééééúmmmmmm", e corri para ver que disco era aquele. Devido a um pequeno erro material, porém, a caixa do CD que estava em cima do aparelho de som não era a do CD que estava tocando, era a do "Louder than Bombs", outro CD dos Smiths. No dia seguinte comprei um igual, crente que ia finalmente reencontrar aquele "pé-uuééééééúmmmmmm". Evidentemente, isto não ocorreu. Acreditem ou não, liguei para essa amiga assim que o CD acabou de tocar, e perguntei qual era o CD dos Smiths que estava tocando no dia anterior, que tinha aquela música com o "pé-uuééééééúmmmmmm". Acreditem ou não, ela identificou a música e me respondeu. Não somente isso, se ofereceu para ir comigo até a Ultralar & Lazer (cruzes, isso nem existe mais!), onde ela sabia que estava vendendo, para eu comprar um igual. Enfim, a realização.

Desnecessário dizer, este CD, o "Hatful of Hollow", abriu um buraco de tanto tocar (é sério, as três últimas faixas estão pulando, e a tinta da parte de cima está toda descascada!). Finalmente alguém rivalizava com Tori Amos no meu aparelho de som. Para minha maior felicidade, naquela mesma época a Warner resolveu relançar toda a discografia dos Smiths a preços módicos (uma coleção que tinha um adesivo redondo amarelo com um ponto de exclamação na capa). Comprei todos, praticamente um por dia (foram muitas idas à Ultralar & Lazer).

Os Smiths foram a trilha sonora da minha adolescência. Eu ouvia o tempo todo. Todas as músicas deles me trazem lembranças. Mas chega de falar de mim e vamos falar um pouquinho da banda.

Os Smiths começaram a tocar em Manchester, Inglaterra, em 1982. Na época, eram apenas o vocalista Morrissey (nascido Stephen Patrick Morrissey, em 22 de maio de 1959) e o guitarrista Johnny Marr (nascido John Maher, em 31 de outubro de 1963), que assinavam seus trabalhos com o nome "Smiths" (ainda sem o "The"). Amobos já haviam participado de várias outras bandas, juntos ou separadamente, sempre sem sucesso. No final de 1982 eles decidiram gravar uma fita demo, com a ajuda do baterista Simon Wolstencroft, que futuramente desistiria de ser um membro dos Smiths e se uniria à banda The Fall. Após a saída de Wolstencroft, se uniu à banda o baterista Mike Joyce (nascido em 1 de junho de 1963), que, antes dos Smiths, havia tocado na banda punk Hoax and the Victim (excelente nome, diga-se de passagem). Em seu show de estréia, também fazia parte da banda o dançarino (!) James Maker, suposto baixista, que depois não continuou. No lugar de Maker entrou Andy Rourke (cuja data de nascimento eu não consegui descobrir), que já tinha tocado com Marr em várias de suas ex-bandas.

Em 1983, o produtor Joe Moss viu potencial na banda, e, após uma série de shows, conseguiu um contrato para eles com a Rough Trade Records, uma gravadora local. O início da carreira não foi nada fácil. Seu primeiro Single, "Hand in Glove", não conseguiu entrar no Top 50 da Inglaterra, e os tablóides locais acusavam a banda de molestar crianças, algo que "ficava muito claro na letra da música", acusações estas evidentemente refutadas pela banda.

Apesar destas pequenas confusões, ainda em 1983 os Smiths começaram a gravar seu primeiro álbum, com o produtor Troy Tate. Nenhuma das partes estava gostando do resultado, então eles mudaram de produtor, e começaram a gravar tudo de novo com John Porter. Em novembro de 1983 foi lançado um novo Single, "This Charming Man", com resultado bem diferente do anterior, conseguindo uma posição no Top 30. No início de 1984, após uma série de shows não-satisfatórios nos EUA, foi lançado mais um Single, "What Difference Does it Make?", que alcançou a décima-segunda posição no Top 30.

Com o potencial da banda finalmente revelado, foi lançado o primeiro álbum, "The Smiths". Os tablóides novamente viram um prato cheio na música "Surfing Little Children", que falava de uma série de assassinatos de crianças ocorridos na década de 60. As insinuações dos tablóides só pararam quando a mãe de uma das vítimas falou publicamente em defesa de Morrissey. Esta polêmica, combinada com uma série de shows em colégios universidades britânicas, ajudou a alavancar a carreira do grupo. "Hand in Glove", antes maldita, se tornou um sucesso entre os adolescentes, a banda virou cult, e Morrissey era uma das pessoas mais entrevistadas da Inglaterra. E tudo isso ainda em seu primeiro álbum!

Enquanto a banda preparava seu segundo álbum, a Rough Trade Press decidiu lançar "Hatful of Hollow" (meu disco que abriu buraco), uma coleção de singles, apresentações na BBC e músicas inéditas, surpreendentemente bem-sucedido em vendas, quase se equiparando a um álbum inédito. Em 1984, após o lançamento do Single "How Soon is Now?" ("pé-uuééééééúmmmmmm"), a banda começou a ser considerada uma das melhores da Inglaterra (feito respeitável, se você se lembrar de quantas bandas boas vieram de lá) por toda a imprensa especializada. A expectativa em torno de seu segundo álbum, "Meat is Murder", crescia a cada dia. Esta expectativa foi recompensada. Além de trazer o som característico da banda, as músicas possuíam função social, falando sobre temas como violência nas escolas, abuso infantil, matança de animais e revolta adolescente.

Apesar do prestígio de Morrissey e Marr (já considerado um dos melhores guitarristas da Inglaterra) crescer a cada dia, os Singles seguintes dos Smiths não produziam o sucesso esperado. Começaram a surgir rumores de que a banda estaria descontente com sua gravadora. Durante uma turnê pela Grã-Bretanha em 1985, surgiram várias desavenças entre os membros da banda e seus produtores. Durante uma turnê pelos EUA, foi lançado um novo single, "The Boy with the Thorn on His Side", que só alcançou a posição 26 no Top 30. Andy Rourke foi afastado por problemas envolvidos com heroína, mas logo retornou. Um segundo guitarrista, Craig Gannon, também se uniu à banda para a gravação de seu terceiro álbum, "The Queen is Dead", em 1986. Apesar do astral da banda não estar lá essas coisas, o álbum foi aclamado pela crítica e pelo público, bem como as performances de Morrissey e Marr. Este álbum é considerado por muitos fãs (inclusive por mim) e pela crítica especializada como o melhor dos Smiths, e um dos melhores discos de rock da década.

Mais problemas surgiram após o lançamento do Single "Panic" (aquele do "hang the dj"), que criticava a disco music. Apesar da música ter sido Top 20, sua letra controversa e alguns comentários indiscretos de Morrissey sobre a black music fizeram os jornais caírem em cima da banda novamente.

Para abafar os problemas, foi anunciado que os Smiths gravariam mais um álbum pela Rough Trade ainda naquele ano, e depois se tranfeririam para a gigante EMI. O astral da banda, no entanto, já não era lá essas coisas. A alegria de seu Single "Ask" contrastava com a turnê melancólica que faziam pela Grã-Bretanha. A banda quase sofreu uma fatalidade quando Marr se envolveu em um acidente de carro durante a turnê. Enquanto ele se recuperava, Craig Gannon foi dispensado, e entrou com uma ação contra a banda (gostaria de saber: alegando o quê?). No final de 1986, os Smiths fizeram um show na Brixton Academy, acompanhados da banda The Fall. Este seria seu último show ao vivo na Grã-Bretanha.

Mesmo com todos os problemas, em 1987, os Smiths lançaram mais um álbum, "Louder than Bombs", e conseguiram mais uma música no Top 10, "Sheila Take a Bow". Para aproveitar o momento, a Rough Trade lançou mais um álbum "coletânea", o "The World Won't Listen", que não conseguiu o mesmo sucesso de "Hatful of Hollow". Marr não estava mais satisfeito com o rumo musical que a banda tomava, e chegou a pedir para sair por uns tempos. A especulação por parte da imprensa se tornou tão grande que o fim da banda foi anunciado em agosto de 1987.

Após o fim da banda, ainda foi lançado mais um álbum "Strangeways, Here we Come", com músicas que haviam sido gravadas e nunca divulgadas. Vários documentários sobre a carreira da banda foram exibidas em diversos canais. Mais um álbum seria lançado em 1988, "Rank", somente com gravações ao vivo, talvez para tentar manetr os fãs comprando.

Como parecia que os Smiths não iam voltar mesmo, Andy Rourke e Mike Joyce foram tocar com Sinéad O'Connor, e depois formaram a banda The Buzzcocks. Johnny Marr tocou com os Pretenders, depois com o The The e com o Electronic. Atualmente, ele é guitarrista freelancer, já tendo tocado em álbuns de vários outros artistas. Morrissey Prosseguiu em uma carreira solo, mas sem o sucesso dos Smiths.

Hoje, os direitos sobre as músicas dos Smiths pertencem à Warner, que os comprou da Rough Trade e relançou todos os discos em CD em 1992. Morrisey continua cantando sozinho, mas não é a mesma coisa.

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