sábado, 4 de janeiro de 2025

Escrito por em 4.1.25 com 0 comentários

Contos de Fadas BLOGuil (I)

Talvez vocês não reparassem se eu não dissesse nada, mas já faz algum tempo que eu venho tendo dificuldade para escrever para o átomo, tanto em relação a encontrar novos assuntos quanto em relação a gerenciar meu tempo livre para escrever os posts de forma que sempre tenha uns quatro ou cinco já escritos quando coloco um novo no ar. Foi por causa disso, aliás, que eu decidi, nos cinco últimos meses, postar aqui mais alguns dos contos que escrevi para o Crônicas de Categoria. Além disso, desde que eu revisei e expandi os posts do Almanaque BLOGuil para postar aqui no átomo que eu tenho vontade de fazer o mesmo com os Contos de Fadas BLOGuil, versões que eu escrevi de famosos contos de fadas, que eu sempre achei bem criativas e divertidas, e não gostaria que sumissem quando o BLOGuil, o primeiro blog que eu tive, entre 2002 e 2006, saiu do ar, tanto que revisei e alterei alguns deles para postar no Crônicas de Categoria, mas a vontade de postá-los aqui permaneceu.

Assim, peço desculpas se você faz parte do meu contingente de leitores que não gosta quando eu republico contos, mas, para atender a esses dois interesses que citei no parágrafo anterior - me ajudar a encontrar assunto e tempo para mais posts, e repostar os Contos de Fadas BLOGuil aqui no átomo - nesse ano de 2025 teremos uma nova série mensal, que trará 12 Contos de Fadas BLOGuil. Os que foram republicados no Crônicas de Categoria estarão aqui com essa nova versão do texto; os demais eu vou revisar e alterar - porque eu era jovem e inconsequente na época em que os escrevi, e não gosto de alguns detalhes de suas versões originais, além de que uma ou outra coisa era muito específica da época e ficou datada. Para evitar confusão com as histórias originais, todos eles terão como título "Contos de Fadas BLOGuil (número em romanos)", mas sem tabelinha de navegação no final ou uma categoria própria, ficando todos na categoria Contos. E eles não serão apresentados na mesma ordem em que os postei no BLOGuil nem na mesma ordem do Crônicas de Categoria, e sim numa nova ordem que criei agora seguindo critérios que só fazem sentido na minha cabeça. Começando hoje pelo único que já havia sido, de certa forma, repostado aqui no átomo, no post sobre o BLOGuil.





A Pequena Sereia

Era uma vez uma sereiazinha chamada Ariel. Filha de Netuno, Rei das Profundezas, Ariel levava uma vida de princesa, mas não estava feliz. Além de ter de aturar suas coleguinhas de colégio zoando que ela era a Sereia que Lava Mais Branco, Ariel não via graça alguma no fundo do mar, muito escuro e cheio de peixes. Seu sonho era conhecer as praias paradisíacas de Cancún, tomar água de coco e jogar vôlei de praia. Mas um pequeno obstáculo se colocava entre a sereiazinha e seu sonho: Ariel não tinha pernas, mas um grande rabo de baleia, tal qual na música de Gilberto Gil.

Próximo ao Palácio Real, porém, morava um ser grotesco. Seu nome era Úrsula, e ela detestava toda a sociedade sereiense. Graças a uma pulada de cerca de sua mãe, Úrsula não nascera com um rabo de peixe, mas sim com um rabo de urso, daí seu nome. Como ursos comem peixes, isto fez com que Úrsula não ficasse bem-vista na cidade, que a expulsou para uma escura e fria caverna. Sem ter mais o que fazer, Úrsula começou a estudar magia negra, e um dia encontrou um feitiço capaz de transformar rabo de sereia em pernas humanas. Era o que ela precisava para ludibriar Ariel. Atraindo-a à sua caverna, ela fez um pacto com a ingênua sereiazinha adolescente: daria a ela um par de pernas, capazes de andar na praia e jogar vôlei, como ela sempre sonhara. Em troca, tudo o que Úrsula queria era sua voz melodiosa de sereia, pois seu sonho sempre fora se tornar cover de Madonna e fazer carreira internacional. Achando que uma voz não iria lhe servir de nada na superfície mesmo, Ariel aceitou.

Assim, privada de sua voz, mas com um par de pernas novinho em folha, Ariel ascendeu à superfície e nadou até a praia. Lá, ela conheceu um lindo príncipe, mas jamais pôde dizer a ele seu nome, pois estava muda e não sabia escrever. Ainda assim, os dois tiveram um tórrido romance e viveram apaixonados, até o dia em que o príncipe ouviu a voz de Ariel. Ariel a princípio estranhou, pois não havia dito nada, mas, como era a primeira da classe na Escola de Sereias, rapidamente percebeu do que se tratava: Úrsula estava usando sua bela voz para atrair seu príncipe para uma cilada! Ariel tentou gritar por socorro, mas estava muda. Tentou chamar pelo príncipe, mas, conforme já foi dito, estava muda. Tentou chamar a polícia, mas, adivinhem, estava muda. Pobre coitada, nem mesmo xingar um palavrão bem feio ela podia.

Mas nem tudo estava perdido. Como já havia se passado 48 horas de seu desaparecimento, a Polícia do Fundo do Mar começou a procurar Ariel. Graças a um atum informante, descobriram que ela estava na praia, e o Rei Netuno foi em pessoa atrás de sua filha fujona. Ao chegar em Cancún, o Rei viu Úrsula imitando a voz de sua filha e atraindo o príncipe para se afogar no fundo do mar. Como, após vários naufrágios na Idade Antiga que resultaram em vultosas indenizaçõies a serem pagas pela Corte Real Marítima, esta prática deixou de ser permitida entre as sereias, o Rei ordenou que prendessem a vilã, e utilizou os poderes de seu Tridente Encantado Real para devolver a voz a Ariel. Infelizmente, no processo, Ariel perdeu as pernas, e o príncipe viu que na verdade ela era um ser mitológico.

Ao ver que sua filha estava infeliz, entretanto, o Rei Netuno compreendeu que os filhos são criados não para os pais, mas para o mundo, e aceitou que seu lugar era junto ao príncipe. Além do mais, deveria haver alguma vantagem em casar sua filha com um príncipe da superfície, e melhor ele do que aquele tritão que só queria fazer artesanato de conchas por quem Ariel havia se apaixonado no verão passado. Assim, o bom Rei usou seu já famoso Tridente Encantado para devolver-lhe as pernas, para que ela pudesse viver como qualquer garota normal. O príncipe mal acreditou quando viu sua amada retornando. E igualmente mal acreditou quando descobriu que ela era uma tagarela, fofoqueira e reclamona, que não calava a boca nem por um decreto.

E todos viveram felizes para sempre.

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