domingo, 26 de novembro de 2023

Escrito por em 26.11.23 com 0 comentários

Esportes Árticos

Ao longo do ano passado, eu fiz alguns posts falando sobre torneios multiesportivos, como os Jogos Panamericanos e os Jogos da Commonwealth. Quando estava pesquisando sobre eles, descobri alguns outros que achei bem interessantes, como os Jogos Mundiais para Pessoas com Nanismo, os Jogos das Ilhas do Pacífico e os Jogos Árticos de Inverno, sobre os quais optei por não falar por pura falta de assunto, já que as informações sobre eles eram poucas. No caso dos Jogos Árticos de Inverno, porém, havia um diferencial: neles são disputados os esportes árticos, esportes tradicionais dos povos indígenas das regiões árticas, que, embora não sejam lá extremamente elaborados, são bastante interessantes. Eu guardei essa informação para o futuro e, hoje, decidi que vou falar sobre eles. Hoje é dia de esportes árticos no átomo!

Para quem não sabe, o ártico, diferentemente da Antártida, não é um continente - como uma professora minha uma vez disse, embaixo do gelo do polo sul tem terra, mas do polo norte só tem água. O que nós chamamos de ártico é a região dentro do Círculo Polar Ártico, que corta a América do Norte, a Europa e a Ásia, sendo que toda a sua porção asiática pertence à Rússia - outros países cortados pelo Círculo são Noruega, Suécia, Finlândia, Islândia, Estados Unidos, Canadá e Groenlândia. Os esportes árticos, portanto, são aqueles tradicionalmente praticados pelos povos indígenas desses países, principalmente os inuit (que hoje estão espalhados pelo Alasca, Canadá e Groenlândia) e os yamal (habitantes da região de Yamalo-Nenets, na Rússia); esportes praticados por outros povos originários do Canadá também costumam ser classificados como esportes árticos, embora sua denominação correta, por razões culturais, seja jogos dene, enquanto os dos demais povos originários da Groenlândia são chamados de kalaallit pinnguaataat.

A maioria dos esportes árticos tem suas origens em atividades do dia a dia como caça e pesca, tendo sido criados como treinamento para desenvolver a força, resistência e agilidade dos jovens caçadores e pescadores, que, talvez por isso ser da natureza humana, logo começariam a desenvolver regras para que pudessem competir e determinar quem era o melhor. No início, a maior parte dessas competições ocorria durante festivais, e eram feitas apenas para o entretenimento da tribo; apenas sob a influência dos europeus foi que elas se transformariam verdadeiramente em esportes, com o surgimento dos atletas profissionais - indivíduos que não eram caçadores ou pescadores, dedicando suas vidas a treinar para serem os melhores naqueles esportes.

A organização responsável por preservar, regular e difundir os esportes árticos se chama WEIO, da sigla em inglês para Olimpíadas Mundiais Indígenas Esquimós, embora esquimó seja uma palavra hoje considerada pejorativa, que vem caindo em desuso. A WEIO tem o mesmo nome de um torneio anual realizado desde 1961, que, além de competições esportivas, tem também concursos de dança, de contação de histórias, e até mesmo um concurso de beleza, apelidado Miss WEIO. As nove primeiras edições ocorreram como parte do festival Golden Days, e foram organizadas e patrocinadas pela Câmara de Comércio da Cidade de Fairbanks, no Alasca, com o nome de Olimpíadas Esquimós; o nome atual foi criado em 1970, quando o principal patrocinador passou a ser o jornal Tundra Times, e as mulheres passaram a poder também participar das competições esportivas, até então exclusivamente masculinas. Em 1976, seria criada a organização sem fins lucrativos chamada WEIO, que assumiu completamente a responsabilidade pelo torneio, incluindo financiamento, planejamento, escolha e preparação dos locais de competição e regras das competições.

Todas as edições foram realizadas em Fairbanks, exceto a de 2007, realizada em Anchorage, mas considerada cara demais para se manter anualmente, e a de 2020, cancelada por causa da pandemia; o programa esportivo conta apenas com esportes árticos, e somente integrantes ou descendentes dos povos indígenas do ártico podem participar, tanto das competições esportivas quanto das demais. Os Jogos começam sempre na terceira quarta-feira do mês de julho - durante o verão ártico, portanto - e sempre duram um total de quatro dias.

Atualmente, a WEIO reconhece 27 disciplinas dos esportes árticos, embora nem todas sejam disputadas em todas as edições das Olimpíadas Mundiais Indígenas Esquimós. Embora pareçam muitos, as regras de cada um são realmente simples, de forma que vai ser perfeitamente possível falar sobre todos nesse post. Eu imagino que eles devam ter nomes indígenas, mas eu vou usar aqui versões traduzidas para o português dos nomes em inglês que constam do regulamento da WEIO - já que os nomes indígenas, com uma ou outra exceção, eu não achei em lugar nenhum.

No chute alto com um pé, um alvo é pendurado a uma determinada altura, e o objetivo dos atletas é saltar tomando impulso com os dois pés, acertar o alvo com um chute diretamente para cima feito com um dos pés e aterrissar com o pé que chutou, sem perder o equilíbrio. Assim como no salto em altura do atletismo, a cada chute bem sucedido o alvo sobe alguns centímetros, e cada atleta tem três chances para alcançar cada altura, sendo eliminado se não conseguir, e o vencedor sendo o que restar após todos os demais terem sido eliminados. O atual recorde mundial é de 2,92 m.

O chute alto com os dois pés segue a mesma regra, mas o atleta tem que chutar o alvo com os dois pés simultaneamente, e aterrissar tocando os dois pés no chão ao mesmo tempo. O atual recorde é de 2,62 m.

Já no chute alto do Alasca, o atleta começa agachado no chão, equilibrado em um dos pés e segurando o outro. No início do salto, ele joga os pés para cima e toma impulso com a mão que estava livre. O objetivo é atingir o alvo com o pé no qual o atleta estava apoiado no início do movimento e aterrissar nesse mesmo pé sem perder o equilíbrio. É mais fácil de ver do que de explicar, mas absurdamente mais difícil de se fazer que os outros dois. O atual recorde é de 2,39 m.

No alcance com uma das mãos, o atleta começa equilibrado em uma das mãos, com o cotovelo junto ao corpo. O objetivo é tomar impulso e acertar o alvo com essa mão, que deve ser a primeira parte do corpo do atleta a tocar o chão quando ele descer. O atual recorde é de 1,78 m.

O chute de dedão consiste em vir correndo, saltar por cima de um bastão, tocar o bastão com os dedões de ambos os pés e aterrissar do outro lado com os dois pés ao mesmo tempo. Como de costume, a cada sucesso o bastão fica um pouco mais alto, e cada atleta tem três chances em cada altura. O atual recorde é de 1,58 m.

No salto ajoelhado, o atleta começa ajoelhado no chão, com ambas as mãos apoiadas nos joelhos. Ele deve saltar o mais longe possível e aterrissar em ambos os pés, sem perder o equilíbrio e com os pés separados na mesma distância dos ombros. Cada atleta tem três chances, e a maior distância vence. O atual recorde é de 1,72 m.

O salto triplo é parecido com o do atletismo: o atleta vem correndo, dá um salto, toma impulso novamente no meio do caminho, toma um terceiro impulso, e é contada a distância total percorrida do ponto do primeiro salto até o ponto de aterrissagem - a diferença é que, em cada um dos três saltos e na aterrissagem, os pés devem estar separados pela mesma distância dos ombros, com em todos os três saltos o atleta dando impulso com ambos os pés. O atual recorde é de 11,49 m.

O salto em tesoura é parecido, mas são quatro saltos, e em cada um deles o atleta só toma impulso com um dos pés, sendo requerido apenas na aterrissagem que se use ambos os pés na distância dos ombros. O nome do salto vem do fato de que cada um dos impulsos deve ser feito com um pé diferente do anterior - por exemplo, o primeiro e o terceiro com o pé direito, o segundo e o quarto com o esquerdo - o que faz com que o atleta mova as pernas como se fosse uma tesoura. O atual recorde é de 11,40 m.

No salto sobre trenós, dez trenós são arrumados em linha reta, com uma distância de 30 cm entre eles. O atleta vem correndo, salta sobre o primeiro trenó e então deve saltar sobre todos os seguintes em sequência. Após saltar sobre o décimo trenó, ele tem direito a um descanso de no mínimo 5 e no máximo 10 segundos antes de começar uma nova corrida e começar tudo de novo no sentido contrário. O atleta continua saltando até encostar em um dos trenós, quando o total de trenós que ele saltou será computado. Ao fim da competição, ganha quem tiver saltado mais trenós. Acreditem ou não, o atual recorde é de 830 trenós, obtido em 2006.

No avanço apoiado, o atleta começa em posição de flexão, com a barriga virada para baixo, mas apoiado nos dedos dos pés e nos nós dos dedos das mãos. O objetivo é tomar impulso para a frente, aterrissando nessa mesma posição, quantas vezes conseguir. Assim que o atleta toca o chão com qualquer parte do corpo que não seja os os dedos dos pés ou os nós dos dedos das mãos, sua distância total é computada, sendo vencedor o que chegar mais longe. O atual recorde é de 61,2 m.

O avanço da foca é quase igual, mas o atleta fica apoiado nas palmas das mãos e nos dedos dos pés. Diz a lenda que o nome é esse porque os caçadores, quando estavam caçando focas, avançavam assim na direção dos animais. O atual recorde é de 57,3 m.

No puxão de braço, dois atletas se sentam no chão de frente um para o outro com suas pernas esquerdas esticadas, a perna direita de um dobrada no joelho e passando por cima da perna esquerda do outro, seus braços direitos dobrados e entrelaçados pelos cotovelos e com a mão esquerda de cada um segurando no tornozelo direito do outro. A um sinal do árbitro, os atletas começam a puxar seus braços direitos, tentando derrubar o oponente ou fazer com que a mão do oponente encoste no seu peito - sendo proibido fazer força com as pernas. Um atleta que caia, se desentrelace ou toque no peito do outro com a mão é eliminado, com os vencedores avançando até que só reste o campeão.

No puxão de cabeça, dois atletas se deitam de bruços no chão, um olhando nos olhos do outro, e uma faixa de couro é usada para ligar suas cabeças, passando pela nuca de cada um. A um sinal do árbitro, os atletas se apoiam nas palmas das mãos e nos dedos dos pés, e, fazendo força apenas com o pescoço, sem poder usar as mãos ou pés, tentam puxar o oponente para a frente ou fazer com que a faixa saia de sua cabeça.

No puxão de orelha, dois atletas se sentam no chão de frente um para o outro, e um elástico é passado por trás da orelha direita de um e da orelha esquerda do outro. A um comando do árbitro, os atletas começam a puxar para trás com toda a força, tentando fazer o elástico sair de trás da orelha do oponente ou o oponente desistir devido à dor. Essa disciplina tem ficado de fora do programa da maioria das competições por ser considerada violenta - não é incomum as orelhas dos atletas sangrarem, precisarem de pontos, ou até mesmo um atleta perder a orelha durante uma competição.

No puxão de dedo, dois atletas se sentam no chão de frente um para o outro com os braços bem esticados e fazem um gancho com o dedo médio de cada mão, o dedo da mão esquerda de um atleta prendendo o da mão direita do outro. A um comando do árbitro, os atletas começam a puxar seus braços, tentando puxar o oponente para a frente ou fazer com que ele não consiga mais manter o gancho, soltando sua mão.

No puxão de bastão é usado um bastão de madeira de 1 m de comprimento, com os dois atletas, de pé e de frente um para o outro, segurando cada um em uma das pontas com ambas as mãos. Há uma linha traçada no chão, e, a um comando do árbitro, os dois começam a puxar como se fosse um cabo de guerra, visando fazer com que o oponente pise do seu lado da linha, ou com que o oponente solte o bastão.

Já no puxão de bastão dene, é usado um bastão de madeira de cerca de 30 cm de comprimento, besuntado em graxa - originalmente era usada gordura de urso, mas atualmente é usada graxa sintética. dois atletas ficam de pé de frente um para o outro com os braços bem esticados e seguram o bastão próximo ao meio com uma das mãos. A um sinal do árbitro, eles puxam com toda a força, tentando arrancar o bastão da mão do oponente - vence o embate quem estiver com a mão no bastão por último.

O puxão de bastão inuit é parecido, mas o bastão é mais longo, mais grosso, não é besuntado com graxa, e cada atleta o segura com as duas mãos na horizontal - um dos atletas segurando com suas duas mãos bem no centro, o outro com uma das mãos em cada ponta. O objetivo também é arrancar o bastão das mãos do oponente, sendo vencedor quem estiver com pelo menos uma das mãos em contato com ele por último.

Na disciplina chamada cobra da neve, o atleta tem de arremessar uma lança de madeira de 1 m de comprimento no gelo e fazê-la correr ao longo de um traçado pré-determinado. Outro dos esportes de origem dene, esse supostamente se originou na caçada ao caribu. O atual recorde é de 159,89 m.

Na peso de orelha, o atleta coloca em volta de uma de suas orelhas um anel de madeira que tem um peso de 1 kg pendurado. O objetivo é seguir um caminho pré-determinado pela maior distância possível antes de o peso cair ou um árbitro determinar que o peso não está sendo carregado corretamente. O atual recorde é de 84,64 m.

Na caminhar no pau de sebo, o atleta deve fazer exatamente isso, caminhar por sobre uma tábua de 10 cm de largura besuntada de graxa, ganhando aquele que conseguir percorrer a maior distância antes de cair. Diz a lenda que essa disciplina foi criada para treinar os caçadores a andar sobre o gelo. O atual recorde é de 3,96 m.

A disciplina chamada avião é disputada por equipes de quatro pessoas cada. Uma delas se deita no chão, de barriga para baixo, com as pernas juntas e os braços bem esticados para os lados. As outras três vão levantá-la do chão até a altura de suas cinturas, uma segurando cada braço e a outra segurando as pernas, e carregá-la pelo maior tempo possível sem que o atleta carregado saia da posição correta. O atual recorde é de 46,69 segundos.

Já a carregar pelo punho é disputada por equipes de três integrantes cada. É usado um bastão de madeira de 2 m de comprimento, com um dos integrantes da equipe se segurando firmemente com uma das mãos no centro do bastão, enquanto cada um dos outros segura com ambas as mãos em uma das pontas. Os dois integrantes das pontas devem erguer o bastão na altura dos ombros, e o que está segurando no centro deve dobrar os dois joelhos. O objetivo é carregar o bastão com o atleta pendurado pelo maior tempo possível sem que nenhuma parte do corpo dele toque o chão. O atual recorde é de 150,1 segundos - dois minutos e meio.

Na carregar com quatro homens, que servia para que os caçadores treinassem carregar os animais abatidos, são usadas equipes de quatro integrantes cada. Um deles será o carregador, enquanto os outros três vão se pendurar nele, passando os braços por seus ombros e dobrando os dois joelhos, um na frente, um no lado esquerdo e um no lado direito. O objetivo é carregar os colegas pelo maior tempo possível sem que nenhuma parte do corpo de nenhum deles encoste no chão. O atual recorde é de 187,2 segundos - pouco mais de três minutos.

No alcance de banco, o atleta se ajoelha num banco, e um assistente se senta sobre suas duas panturrilhas. O atleta, então, deve pegar um objeto de madeira que está no chão em frente ao banco, esticar seu corpo e colocá-lo dentro de um círculo traçado no chão. Atletas que deixem o objeto cair, antes ou depois de colocá-lo no chão, ou que toquem o chão com qualquer parte do corpo são eliminados, enquanto os que conseguem vão avançando para as rodadas seguintes até que só reste o vencedor. A cada rodada, o círculo vai ficando mais distante e o objeto vai ficando mais difícil, começando com um bloco e terminando com um cilindro da circunferência de um cabo de vassoura.

No arremesso de cobertor é usado um cobertor feito de couro de morsa, segurado por entre 40 e 50 voluntários. O atleta se posiciona sobre o cobertor, e é impulsionado para cima pelos movimentos dos voluntários. O objetivo é alcançar a maior altura possível e pousar com graça e leveza. O arremesso de cobertor normalmente é realizado como exibição, sem valer medalhas; ele tem origem no festival do Nalukataq, realizado anualmente pelo povo iñupiat, do norte do Alasca.

Finalmente, temos o chamado jogo de mão, disputado por duas equipes de seis integrantes cada, que se alternam entre a que vai esconder e a que vai adivinhar. Os integrantes de cada equipe se posicionam um ao lado do outro, ombro a ombro, e uma equipe fica de frente para a outra. Cada equipe possui dez varetas de madeira, e ambas compartilham um conjunto de "ossos" (atualmente peças de madeira), composto por dois pares, com cada par tendo um osso liso e um listrado. Após escolher qual equipe vai começar escondendo, são escolhidos dois membros da equipe, que devem ficar um ao lado do outro, e têm suas mãos cobertas por um cobertor de tecido. Cada um deles recebe um par de ossos, devendo colocar o liso em uma de suas mãos e o listrado na outra, fechando as mãos para que os oponentes não consigam ver qual osso está em cada mão. Tradicionalmente, enquanto os dois jogadores escolhidos estão escondendo, os demais integrantes da equipe cantam, batucam e fazem sons altos para distrair a outra equipe. Depois que os quatro ossos estiverem escondidos, o cobertor é removido, e um dos jogadores da equipe que está adivinhando deverá acertar onde estão os ossos lisos - devendo escolher entre quatro opções: ambos nas mãos direitas, ambos nas mãos esquerdas, ambos nas mãos de fora (a mão esquerda do jogador à esquerda e a direita do jogador à direita) ou ambos nas mãos de dentro (a mão direita do jogador à esquerda e a esquerda do jogador à direita). Se errar, a equipe que está adivinhando deve dar uma vareta para a equipe que está escondendo; se acertar, a equipe que está escondendo deve dar os ossos lisos para a que está adivinhando e fazer novamente o processo de esconder, agora com a outra equipe tendo de escolher em quais mãos estão os ossos listrados. Mais uma vez, se a equipe que está adivinhando errar, dá uma vareta para a outra, e, se acertar, recebe os ossos listrados. Uma vez que ambos os pares de ossos tenham mudado de equipe, os papéis se alternam, com a equipe que estava adivinhando tendo de esconder e a outra tendo de adivinhar. O jogo prossegue até que uma mesma equipe esteja de posse das vinte varetas de madeira, quando será a vencedora.

Nas primeiras edições das Olimpíadas Mundiais Indígenas Esquimós também eram disputadas competições de eventos que não são considerados esportes árticos, como limpar peixe, pelar foca ou quem consegue comer mais maktaks - cubos de gordura de baleia. Nas duas primeiras edições dos Jogos Árticos de Inverno também foi disputada uma disciplina que a WEIO não reconhece como esporte ártico, o curvar para trás, na qual o atleta se posiciona de pé, com as pernas bem abertas e os pés bem paralelos, segurando um bastão (que era um cabo de vassoura ou taco de hóquei no gelo sem a lâmina), e deve se curvar para trás, tocar a ponta do bastão no chão atrás dele e retornar à posição inicial, mantendo ambas as solas dos pés em contato com o chão em todos os momentos.

Também vale dizer que, desde 2010, é disputado anualmente na Groenlândia um torneio chamado Nunatsinni Unammersuarneq, de grande popularidade, com cobertura extensiva da KNR, o canal de TV público de lá. Aberto à participação apenas de atletas groenlandeses, o torneio conta em seu programa com provas de chute alto com um dos pés, chute alto com os dois pés, chute alto do Alasca, salto ajoelhado, salto triplo, alcance com uma das mãos, e de uma variação do chute alto chamada angakkuusaarneq, na qual o atleta se senta com os joelhos dobrados e passa uma faixa de couro por trás dos joelhos e por seu pescoço; após se apoiar nas duas mãos e tirar o quadril do chão, o atleta deve fazer um movimento parecido com um pêndulo, que faz com que ele tome impulso e acerte o alvo com ambos os pés.

Outros esportes não oficiais incluem o empurrão do boi, no qual dois atletas ficam dentro de um círculo em quatro apoios, com as palmas das mãos e os joelhos tocando o chão, encaixados de forma que a cabeça de um fique embaixo do braço direito do outro, e devem se empurrar, com o objetivo de fazer o oponente sair do círculo; o empurrão de costas, no qual dois atletas se sentam no círculo um de costas para o outro, com as pernas esticadas, a mão direita no meio das pernas e a esquerda ao lado da perna esquerda, as costas se tocando, e devem se empurrar sem dobrar os joelhos, para tirar o oponente do círculo; a luta de pernas, na qual dois atletas deitam no chão com as pernas entrelaçadas e um segurando as mãos do outro, com o objetivo de fazer o oponente tirar as costas do chão; e o salto de bastão, no qual o atleta segura um bastão com ambas as mãos e, sem soltá-lo, deve pular por cima dele, aproximando as mãos 5 cm do centro a cada salto bem sucedido.

Agora vamos falar um pouco sobre os Jogos Árticos de Inverno, que não são organizados pela WEIO, e sim por uma organização chamada AWGIC - da sigla em inglês para Arctic Winter Games International Corporation, a Corporação Internacional dos Jogos Árticos de Inverno. A ideia de criar o torneio partiu de Cal Miller, capitão da delegação da Província de Yukon nos Jogos Canadenses de Inverno de 1967; os Jogos Canadenses são uma espécie de mini-Olimpíada disputada a cada dois anos justamente desde 1967, alternando entre Jogos de Inverno e Jogos de Verão, nos quais as delegações representam as províncias e territórios do Canadá. Achando que os atletas do norte tinham desvantagem em relação aos do sul por causa das condições pouco apropriadas para a prática esportiva nas regiões onde eles moravam, e insatisfeito porque as Olimpíadas Mundiais Indígenas Esquimós contavam em seu programa apenas com esportes árticos, Miller se reuniria com o Comissário dos Territórios do Noroeste, Stuart M. Hodgson, o Comissário de Yukon, James Smith, e o Governador do Alasca, Walter J. Hickel, e proporia a criação de um torneio multiesportivo realizado a cada dois anos, sempre em uma cidade-sede dentro do Círculo Polar Ártico, com as delegações representando os diferentes povos da região.

Com tudo acertado, em 1969 Miller fundaria a AWGIC, uma entidade privada sem fins lucrativos que ficaria responsável pela organização dos Jogos Árticos de Inverno. A primeira edição dos Jogos seria realizada em 1970, na cidade de Yellowknife, Territórios do Noroeste, Canadá, e contaria com a presença de três delegações - Territórios do Noroeste, Yukon e Alasca - que totalizariam cerca de 500 atletas, que competiriam em dez esportes: badminton, basquete, boxe, curling, esqui cross-country, hóquei no gelo, patinação artística, tiro esportivo, tênis de mesa e vôlei, com os esportes árticos sendo esportes de demonstração. Os esportes árticos seriam novamente esportes de demonstração na segunda edição, em 1972, mas entrariam para o programa principal na terceira, em 1974, que foi a última a ter um esporte de demonstração - a natação.

Os Jogos seriam realizados a cada dois anos, sempre nos anos pares, até 2018; a edição de 2020 seria cancelada por causa da pandemia, e a de 2022 acabaria adiada em um ano por problemas logísticos, mas a próxima está mantida para 2024 e a cada dois anos a partir de então. Como o nome diz, os Jogos Árticos de Inverno são sempre realizados durante o inverno, no início do mês de fevereiro - a última edição, de 2023, foi realizada entre 29 de janeiro e 4 de fevereiro. Até o ano 2000, todas as edições seriam sediadas pelo Canadá ou pelos Estados Unidos, mas, desde 2002, duas edições foram sediadas pela Groenlândia. As cidades canadenses que já sediaram os Jogos Árticos de Inverno foram Yellowknife (1970, 1984, 1990, 1998 e 2008), Whitehorse (1972, 1980, 1986, 1992, 2000 e 2012), Schefferville (1976), Hay River (co-sede com Pinepoint em 1978 e com Fort Smith em 2018), Pinepoint (co-sede com Hay River em 1978), Slave Lake (1994), Iqaluit (co-sede com Nuuk em 2002), Wood Buffalo (2004 e 2023), Grande Prairie (2010) e Fort Smith (co-sede com Hay River em 2018). Nos Estados Unidos, as sedes foram Anchorage (1974), Fairbanks (1982, 1988 e 2014), Chugiak e Eagle River (co-sedes em 1996) e Kenai (2006) - todas essas cidades ficam no Alasca, único estado dos Estados Unidos cortado pelo Círculo Polar Ártico. A única cidade-sede da Groenlândia foi Nuuk, co-sede em 2002 com a canadense Iqaluit e sozinha em 2016.

Atualmente, os Jogos Árticos de Inverno são disputados por oito delegações: Territórios do Noroeste (Canadá), Yukon (Canadá), Alasca (EUA, essas três desde 1970), Nunavik (a porção norte da província canadense de Quebec, desde 1974), Norte de Alberta (Canadá, desde 1986), Groenlândia (desde 1990), Nunavut (Canadá, desde 2000, até 1999 fazia parte dos Territórios do Noroeste) e Sápmi (delegação composta por povos indígenas do norte da Finlândia, Noruega e Suécia, desde 2004). Em 1992, participou uma delegação composta por vários povos indígenas do norte da Rússia, que depois se separou nas delegações de Magadan (que participou entre 1994 e 2004) e Tyumen (entre 1994 e 1998). Outras delegações representando províncias russas foram as de Chukotka (que participou em 2000 e 2002) e Yamalo-Nenets (que participa desde 2004, mas foi proibida de participar em 2023 e 2024 por causa da suspensão da Rússia de todas as competições esportivas após a invasão da Ucrânia).

O programa esportivo da edição de 2024, prevista para ocorrer entre 10 e 16 de março do ano que vem na cidade de Matanuska Susitna (carinhosamente apelidada de Mat-Su), no Alasca, Estados Unidos, conta com 20 esportes: badminton (que faz parte do programa desde 1970), basquete (desde 1970, exceto em 1984), biatlo (desde 2004, também disputado em 1974 e de 1986 a 2000), biatlo com sapatos de neve (desde 2004, também disputado entre 1978 e 1996 e em 2000), corrida com sapatos de neve (desde 1974), curling (desde 1970, exceto em 2016), esportes árticos (demonstração em 1970 e 1972, no programa principal desde 1974), esqui alpino (também disputado em 1972, 1994, 1996, de 2000 a 2006 e de 2010 a 2016), esqui cross-country (desde 1970), futsal (desde 2016), ginástica (desde 2018, também disputado em 1974, 1982 e entre 1986 e 2014), hóquei no gelo (desde 1970), jogos dene (desde 1990), luta livre (desde 1990, também disputado entre 1972 e 1980), patinação artística (desde 1970, exceto em 2002 e 2016), patinação no gelo em pista curta (desde 2018, também disputado entre 1984 e 1988 e entre 1994 e 2014), snowboarding (desde 2000), tênis de mesa (desde 2002, também disputado entre 1970 e 1982 e entre 1994 e 1998), tiro com arco (também disputado em 1974 e 2023) e vôlei (desde 1970). Fizeram parte do programa no passado o boxe (1970 e 1974), broomball (1988), corrida de trenó canino (entre 1990 e 2014 e em 2018), esqui estilo livre (2010), futebol indoor (entre 1980 e 2014), judô (entre 1972 e 1982), natação (demonstração em 1974), tiro esportivo (entre 1970 e 1998) e triatlo de inverno (entre 1984 e 1990).

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