domingo, 3 de setembro de 2023

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Better Call Saul

Em 2019, eu fiz aqui um post sobre Breaking Bad. Na época, eu tinha acabado de terminar de assisti-la, e estava assistindo a seu spin off, Better Call Saul, com planos de escrever também sobre ela quando terminasse. Por motivos vários, apenas recentemente eu consegui terminar de assistir à última temporada, então somente hoje eu vou conseguir cumprir o planejado. Antes tarde do que nunca, hoje é dia de Better Call Saul no átomo!


Vince Gilligan, o criador de Breaking Bad, começaria a conversar com o produtor Peter Gould sobre a criação de um spin off já em 2009, quando a segunda temporada da série estava no ar. Eles não conseguiriam chegar a um acordo sobre qual aspecto da história poderia ser explorado, porém, até o final da terceira temporada, quando decidiriam chamar o ator Bob Odenkirk e perguntar o que ele acharia se o spin off fosse centrado em seu personagem, o advogado Saul Goodman, que havia entrado na série no final da segunda temporada. Saul havia entrado na série como um "personagem necessário": conforme Walter White (Bryan Cranston) e Jesse Pinkman (Aaron Paul) se envolviam mais profundamente com o mundo do tráfico de drogas, ficava claro que os dois, sozinhos, não conseguiriam dar conta de todo o trabalho envolvido além da fabricação e venda da metanfetamina, como despistar a polícia e fazer acordos com os demais traficantes. Gilligan, então, começaria a pensar em a qual tipo de advogado a dupla recorreria quando se visse em apuros, e acabaria criando o personagem de Saul.

A princípio, Saul seria um alívio cômico para a série, papel que, de início, coube ao cunhado de Walt, Hank (Dean Norris), que Gilligan queria levar em outra direção, tornando-o mais sério e dramático. Para cumprir esse papel, Gilligan faria Saul um pouco acima do tom dos demais personagens, criando um advogado histriônico, de maneirismos exagerados, vestimentas chamativas, e que era, ele também, um trambiqueiro. O próprio nome "Saul Goodman" seria um trocadilho com a frase em inglês it's all good, man (algo como "tá tudo bem, cara"), e, embora o "nome verdadeiro" do personagem não tenha sido criado enquanto ele estava em Breaking Bad, Gilligan já deixaria claro que se tratava de um pseudônimo, um jeito para que até mesmo seus clientes mais humildes se lembrassem de seu nome em sua hora de necessidade. A escolha de Odenkirk também seria planejada para isso, já que ele era um ator de comédia, pouco acostumado a atuar em séries dramáticas, tendo, inclusive, de receber "dicas" de Cranston sobre o universo de Breaking Bad e como seu personagem poderia se encaixar nele. Apesar de toda a ideia do personagem ter sido de Gilligan, Gould seria creditado como seu criador, já que o primeiro episódio do advogado em Breaking Bad, também chamado Better Call Saul - que é o slogan e frase de efeito de Saul - teria Gould como roteirista.

O planejamento inicial de Gilligan era de que Saul participasse apenas de três episódios, mas o personagem acabaria fazendo um grande sucesso, retornaria para fazer a terceira temporada completa e se tornaria um dos mais queridos dos fãs, o que o transformava na escolha óbvia para protagonizar o spin off. Em julho de 2012, Gilligan começaria a insinuar em entrevistas que um spin off protagonizado por Saul estava em produção, e Odenkirk diria que Saul se tornou um dos personagens mais amados de Breaking Bad por ser um dos menos hipócritas, e por ser bom no que fazia.

Entre as duas metades da temporada final de Breaking Bad, em 2013, Gilligan e Gould confirmaram o spin off, e disseram estar acertando os últimos detalhes para começar as filmagens assim que Breaking Bad fosse concluída. A Netflix demonstraria interesse em exibir a nova série, mas a AMC, canal a cabo que exibiu Breaking Bad, decidiu exercer sua opção de preferência, de forma que Better Call Saul também acabaria estreando por lá - curiosamente, os episódios, quando exibidos na Netflix, traziam a famosa frase "uma série original Netflix" após a abertura, mas, quando exibidos na AMC, não. Gilligan e Gould atuariam como co-criadores, co-produtores e co-showrunners, e vários roteiristas de Breaking Bad, como Thomas Schnauz e Gennifer Hutchinson, seriam chamados para também escrever episódios da série nova.

Apesar de a pré-produção já estar adiantada, Gilligan e Gould ainda não haviam decidido como a série seria; até então, a ideia que tinha mais força era que Better Call Saul fosse uma sitcom ambientada durante os eventos de Breaking Bad, com os episódios tendo meia hora cada, e, em cada um deles, Saul recebendo em seu escritório um cliente, que seria interpretado por uma celebridade convidada, se virando para mantê-lo longe da cadeia. Os roteiristas não tinham experiência com esse formato, entretanto, e acabariam desistindo e voltando a uma série dramática com episódios de uma hora. Gould achava que a pouca experiência de Odenkirk com séries dramáticas poderia ser um entrave, e Gilligan chegaria a pensar em fazer uma série ao estilo de Breaking Bad, mas mais carregada na comédia; segundo ele, Breaking Bad era "75% drama e 25% humor", e, em Better Call Saul "essas proporções seriam invertidas". Conforme os episódios da primeira temporada eram escritos, contudo, Odenkirk se mostraria extremamente empolgado com a chance de protagonizar uma série dramática, dando, inclusive, algumas ideias sobre como guiar a transformação do personagem, de um advogado comum para um amigo do crime organizado, e Better Call Saul acabaria ficando, em tom e ambientação, bem parecida com Breaking Bad.

Apesar de muitos dos personagens criados para a primeira temporada serem, como Saul, advogados, Gilligan e Gould não queriam fazer uma "série de tribunal", centrada nos casos e julgamentos. Para isso, eles conversariam com vários advogados criminalistas e observariam aspectos dos casos julgados na Superior Corte de Los Angeles, para que as histórias pudessem ser focadas na vida dos advogados fora dos tribunais. Outro ponto que eles observaram durante a criação da primeira temporada foi que, em Breaking Bad, Saul parece estar muito à vontade em seu papel, sem hesitar por um minuto quanto a qual caminho seguir, mesmo que isso envolva atividades ilegais; a dupla acharia que daria uma boa história mostrar como Saul se tornou essa pessoa, ao invés de simplesmente contar como ele entrou para o mundo do crime. Foi somente aí que seria tomada a decisão de fazer de Better Call Saul uma "prequência", ambientando-a antes do ponto em que Saul Goodman conhece Walter White.

Gilligan e Gould, entretanto, se recusariam a fazer qualquer espécie de "linha do tempo", estabelecer prazos para que as duas séries se encontrassem, ou incluir propositadamente cenas que fizessem referência direta a eventos que aconteceriam no futuro (em Breaking Bad), pelo menos nas três primeiras temporadas. Isso faria com que eles tivessem mais liberdade para desenvolver a história e para alterá-la conforme a necessidade - a personagem Kim Wexler, por exemplo, a princípio teria pouco destaque, mas, devido principalmente à atuação de sua intérprete, Rhea Seehorn, ao final da primeira temporada sua relação com Saul já era um dos pontos centrais da história, o que motivaria os roteiristas a aumentar sua importância, mesmo sem saber como fariam para justificar que ela não estava em Breaking Bad. Gilligan e Gould também queriam aproveitar para explorar o passado de personagens de Breaking Bad, como Mike Ehrmantraut (Jonathan Banks) e Gus Fring (Giancarlo Esposito), e incluiriam personagens recorrentes como easter eggs e fan service, mas deixariam claro desde o início que essa era uma série de Saul, sem qualquer participação de Walt ou Jesse.

Apesar, ou talvez por causa, de sua estrutura tão relaxada, era necessário que Better Call Saul mantivesse uma ligação coesa com Breaking Bad, para que não começassem a surgir furos na história ou situações impossíveis conforme o spin off avançasse; para isso, Gilligan criaria uma equipe, liderada por Ariel Levine e Kathleen Williams-Foshee, que tinha como única tarefa, assim que todos os roteiros de uma temporada ficassem prontos, assistir a todos os 62 episódios de Breaking Bad para conferir se tudo estava dentro do possível e esperado, fazendo anotações em partes da história que entrassem em conflito ou parecessem em violação do que já havia sido mostrado. Isso asseguraria que, ao fim de Better Call Saul, não importa quanto tempo tivesse se passado, no mundo real ou no da série, todos os detalhes se encaixariam com o que os espectadores haviam visto em Breaking Bad.

Outra ideia de Gilligan que ajudaria a ligar as duas séries seria a de fazer Better Call Saul tanto uma "prequência" quanto uma sequência de Breaking Bad. Um truque simples seria adotado para estabelecer se os eventos mostrados na tela eram anteriores ou posteriores aos vistos em Breaking Bad: toda vez que alguma cena fosse ambientada depois de Breaking Bad, ela estaria em preto e branco, enquanto as cenas ambientadas antes (ou simultaneamente, no caso da última temporada) de Breaking Bad seriam coloridas. Inicialmente, apenas os primeiros minutos do primeiro episódio de cada temporada eram ambientados depois de Breaking Bad, e, portanto, em preto e branco, mas, na última temporada, para que as duas séries se encaixassem, e para que a história de Saul pudesse ter uma conclusão, episódios inteiros seriam filmados em preto e branco.

A abertura da série também seria criada por Gilligan, e evocaria o trabalho de Saul em Breaking Bad, com imagens de seu escritório e de sua vida pessoal. Ao todo, seriam filmadas dez aberturas diferentes, uma para cada episódio da primeira temporada; como as temporadas seguintes também tiveram dez episódios cada, as aberturas se repetiam sempre na mesma ordem - por exemplo, a abertura do segundo episódio da primeira temporada seria a mesma dos segundos episódios de todas as temporadas subsequentes. Cada abertura durava 15 segundos, o suficiente apenas para o título da série e o crédito dos criadores, com os créditos do elenco e produção sendo exibidos já nos episódios. As aberturas usariam um filtro para parecer que foram filmadas em VHS, uma referência ao comercial que Saul usa para anunciar seus serviços em Breaking Bad, e, a cada temporada, a imagem ficaria menos nítida e mais desfocada, como se a fita estivesse se deteriorando, até que, na última, a abertura é apenas um pequeno trecho seguido de uma tela azul como a de um VHS ligado aguardando para iniciar uma gravação. A música da abertura seria composta por Barrie Cadogan, e terminaria abruptamente; Cadogan confirmaria que esse havia sido um pedido de Gilligan e Gould, que ele fizesse uma música mais longa que a abertura, para que ela fosse cortada de repente.

A primeira temporada estrearia em 8 de fevereiro de 2015, e seu piloto, escrito e dirigido por Gilligan, seria o programa de maior audiência da história da TV a cabo até então, com audiência estimada de quase 7 milhões de espectadores. Nela, descobrimos que Saul, na verdade, se chama James Morgan McGill, apelido Jimmy, e que, desde jovem, sempre teve problemas com autoridade e tentou ganhar a vida aplicando golpes e trambiques. Anos antes do início da série, depois de ser preso em sua cidade natal, no estado do Illinois, por um golpe que não deu certo, Jimmy seria levado por seu irmão, Charles McGill, apelido Chuck, um brilhante advogado de sucesso, para trabalhar em sua firma, a Hamlin-Hamlin-McGill, ou HHM, na cidade de Albuquerque, Novo México - mesmo local onde é ambientada Breaking Bad. Inicialmente, ele faz pequenos trabalhos, como tirar fotocópias e entregar correspondências, mas, decidido a seguir os passos do irmão, ele faz um curso de direito por correspondência da Universidade de Samoa Americana, e se torna, também, advogado. Como Chuck não o leva a sério, ele deixa a HHM e abre seu próprio escritório, nos fundos de um salão de beleza.

A série começa em 2002, seis anos antes dos eventos de Breaking Bad, sete antes de Saul/Jimmy conhecer Walt, e cerca de um ano após Jimmy sair da HHM. No começo, apesar de seu passado trambiqueiro, Jimmy é um advogado honesto e extremamente competente, apesar de um pouco azarado, já que todos os casos que consegue são pequenos e de pouca repercussão. Sua sorte começa a mudar quando, puramente por sua inteligência e poder de observação, ele encontra uma oportunidade para defender os idosos internados na Casa de Repouso Sandpiper, que não está cumprindo o que foi contratado por seus parentes. Através desse caso, ele chama a atenção de outra grande firma de advocacia, a Davis & Main, que se interessa em contratá-lo, mas também se envolve com o traficante Tuco Salamanca, o que acabará sendo sua porta de entrada para o mundo do crime, e se afasta ainda mais de seu irmão Chuck, o que será determinante para sua vida.

Além de Jimmy (Bob Odenkirk) e Chuck (Michael McKean), que está parcialmente aposentado após desenvolver uma doença que impede que ele fique próximo a qualquer aparelho que use eletricidade, mesmo os movidos a pilhas e baterias, o elenco principal conta com Mike Ehrmantraut (Jonathan Banks), policial aposentado que trabalha no estacionamento do tribunal, acaba desenvolvendo uma espécie de amizade com Jimmy, e, no decorrer da série, também se envolverá com o crime organizado; Kim Wexler (Rhea Seehorn), advogada que veio de uma família pobre, fez amizade com Jimmy quando ele trabalhava na HHM, e passou a ser uma namorada com idas e vindas, sendo apaixonada por ele mas tendo ressalvas quanto a seu comportamento; Howard Hamlin (Patrick Fabian), advogado bonitão e bon vivant que é um dos H da HHM (o outro tendo sido seu pai, já falecido), que não vai com a cara de Jimmy e acha que ele jamais deixou de ser um trambiqueiro; e Ignacio Varga, apelido Nacho (Michael Mando), amigo de Tuco e um dos "tenentes" da família Salamanca, que se torna o primeiro contato de Jimmy no mundo do crime - Nacho seria citado por Saul, mas não apareceria, em um dos episódios de Breaking Bad.

Personagens recorrentes de destaque incluem Stacey Ehermantraut (Kerry Condon), viúva do filho de Mike, que recorre a ele como se fosse sua filha; a filha de Stacey e neta de Mike, Kaylee (Faith Healey na primeira temporada, Abigail Zoe Lewis nas três seguintes, Juliet Donenfeld nas duas últimas); a Sra. Nguyen (Eileen Fogarty), dona do salão nos fundos do qual fica localizado o escritório de Jimmy; o promotor público Bill Oakley (Peter Diseth), amigo e rival de Jimmy; o veterinário Dr. Caldera (Joe DeRosa), que na verdade serve como médico e cirurgião para criminosos; Rich Schweikart (Dennis Boutsikaris), um dos sócios da firma de advocacia Schweikart & Cokely e advogado da Sandpiper; a médica de Chuck, a Dra. Cruz (Clea DuVall); o casal Craig (Jeremy Shamos) e Betsy Kettleman (Julie Ann Emery), que contrata Jimmy após Craig ser preso por ter desviado dinheiro da empresa em que trabalha; Irene Landry (Jean Effron), idosa que contrata Jimmy para representá-la no caso da Sandpiper; e três estudantes de cinema que ajudam Jimmy em vários projetos, legais e não tão legais, conhecidos apenas como "o cara da câmera" (Josh Fadem), "a moça da maquiagem" (Hayley Holmes) e "o cara do som" (Julian Bonfiglio). Além de Jimmy e Mike, o único personagem de destaque de Breaking Bad a aparecer na primeira temporada foi Tuco Salamanca (Raymond Cruz).

A primeira temporada contaria com 10 episódios, o último exibido em 6 de abril de 2015, e seria um grande sucesso de público e crítica, com muitos dos críticos especializados declarando que ela "superaria as expectativas" e seria "uma sucessora digna para Breaking Bad". Ela seria indicada a sete Emmys - Melhor Série de Drama, Melhor Ator em uma Série de Drama (Odenkirk), Melhor Ator Coadjuvante em uma Série de Drama (Banks), Melhor Roteiro para uma Série de Drama, dois de Melhor Edição para uma Série de Drama de Única Câmera (por dois episódios diferentes) e Melhor Edição de Som para uma Série de Drama - e um Globo de Ouro (Melhor Ator em uma Série de TV de Drama para Odenkirk), mas, infelizmente, não ganharia nenhum desses prêmios.

Enquanto a primeira temporada ainda estava em produção, em 2014, a AMC decidiria já renovar a série para uma segunda, pedindo, porém, que ela tivesse 13 episódios. Após o fim da primeira temporada, Gilligan convenceria os executivos do canal de que 10 episódios funcionariam melhor para a história, e, assim, a segunda temporada teria novamente 10 episódios, exibidos entre 15 de fevereiro e 18 de abril de 2016. Mais uma vez, a temporada seria um grande sucesso de público e crítica, recebendo mais sete indicações ao Emmy - Melhor Série de Drama, Melhor Ator em uma Série de Drama (Odenkirk), Melhor Ator Coadjuvante em uma Série de Drama (Banks), Melhor Edição de Som para uma Série de Drama, Melhores Efeitos Especiais para uma Série, e mais dois de Melhor Edição para uma Série de Drama de Única Câmera (mais uma vez por dois episódios diferentes) - e mais uma para o Globo de Ouro (novamente de Melhor Ator em uma Série de TV de Drama para Odenkirk), infelizmente, mais uma vez, ficando de mãos vazias.

Na segunda temporada, Jimmy começaria a trabalhar para a D&M, mas acabaria decidindo sair, acreditando que seu estilo não combinava com a seriedade da firma; paralelamente a isso, Kim conseguiria um contrato extremamente lucrativo com o banco Mesa Verde, mas Chuck começaria a sabotá-la de propósito devido a seu namoro com Jimmy, e ela decidiria sair da HHM. Jimmy e Kim, então, decidiriam abrir sua própria firma a Wexler-McGill, e Jimmy decidiria fazer um trambique para que o contrato do Mesa Verde passasse para Kim. Novos personagens recorrentes de destaque incluíam Clifford Main (Ed Begley, Jr.), sócio da Davis & Main, amigo de Howard e responsável por contratar Jimmy; Erin Brill (Jessie Ennis), advogada da D&M que acompanha Cliff em seus casos e não vai com a cara de Jimmy; a promotora pública Suzanne Ericsen (Julie Pearl); Kevin Wachtell (Rex Linn), CEO do Mesa Verde, e sua conselheira, Paige Novick (Cara Pifko); a ex-mulher de Chuck, a violinista Rebecca Bois (Ann Cusack); e o pai de Nacho, Manuel Varga (Juan Carlos Cantu), que é dono de uma oficina mecânica especializada em reparos internos, como estofamentos. De Breaking Bad estariam presentes Hector Salamanca (Mark Margolis), um dos principais chefões da família Salamanca, que, diferentemente do que ocorre na outra série, não está confinado (ainda) a uma cadeira de rodas, e logo cria uma inimizade com Mike; os gêmeos Leonel e Marco Salamanca (Daniel e Luis Moncada), tenentes de Hector; e Krazy-8 (Maximino Arciniega), distribuidor das drogas de Tuco. Personagens de pouco destaque em Breaking Bad, como o operador do mercado de ações Ken (Kyle Bornheimer) e a corretora de imóveis Stephanie Doswell (Jennifer Hasty), também fariam participações especiais em alguns episódios, para ajudar a estabelecer a ligação entre ambas as séries.

A terceira temporada seria encomendada pela AMC enquanto a segunda estava no ar, devido às boas críticas e aos bons índices de audiência. Ela teria mais uma vez 10 episódios, exibidos entre 10 de abril e 19 de junho de 2017. A maior novidade da terceira temporada seria, finalmente, a entrada de Gustavo Fring na série, já como um chefão do crime bem estabelecido, dono da franquia de frango frito Los Pollos Hermanos e rival da família Salamanca no controle do tráfico de metanfetamina na cidade. Fring arruma para Mike um emprego como segurança da empresa Madrigal, o que começará a construir a ligação entre os dois - e, mais tarde, com Jimmy. Também é na terceira temporada que ficamos sabendo como Hector foi parar na cadeira de rodas, em consequência de um derrame. Na parte da família McGill, a animosidade entre Chuck e Jimmy chega a um ponto crítico, o que obriga Howard a agir, e faz com que Jimmy tenha sua licença para advogar suspensa. Chuck sairia ao final dessa temporada, mas McKean ainda apareceria em alguns episódios das seguintes, em participações especiais.

O elenco principal seria o mesmo das duas temporadas anteriores, com a adição de Gus Fring (Giancarlo Esposito). Além dele, viriam de Breaking Bad Francesca Liddy (Tina Parker), a secretária de Jimmy (e, mais tarde, de Saul); Victor (Jeremiah Bitsui), principal capanga de Fring; Lydia Rodarte-Quayle (Laura Fraser), executiva da Madrigal; Don Eladio (Steven Bauer), chefe do cartel, que controla, do México, as operações de Fring e dos Salamanca; Juan Bolsa (Javier Grajeda), contato de Don Eladio nos Estados Unidos; e Huell Babineaux (Lavell Crawford), que ajuda Jimmy em pequenos golpes, e mais tarde se tornará o segurança de Saul. Personagens recorrentes novos incluem Lyle (Harrison Thomas), gerente da filial de Los Pollos Hermanos onde fica o escritório de Fring; e a promotora assistente Kyra Hay (Kimberly Hebert Gregory). A terceira temporada receberia nada menos que nove indicações ao Emmy - Melhor Série de Drama, Melhor Ator em uma Série de Drama (Odenkirk), Melhor Ator Coadjuvante em uma Série de Drama (Banks), Melhor Diretor em uma Série de Drama, Melhor Roteiro para uma Série de Drama, Melhor Supervisão Musical para uma Série de Drama, Melhor Mixagem de Som para uma Série de Drama ou Comédia de Uma Hora; e mais dois de Melhor Edição para uma Série de Drama de Única Câmera (de novo por dois episódios diferentes) - além de mais uma indicação ao Globo de Ouro de Melhor Ator em uma Série de TV de Drama para Odenkirk, mas novamente não ganharia nenhum desses prêmios.

Junto com a terceira temporada, a equipe de produção desenvolveria dois projetos para a internet, que seriam exibidos no canal oficial da AMC no YouTube e no site da emissora. O primeiro seria a websérie Los Pollos Hermanos Employee Training, com 10 episódios que imitavam vídeos de treinamento da lanchonete Los Pollos Hermanos, contando com imagens filmadas de Esposito como Fring combinadas com segmentos de animação; o segundo seria o curta No Picnic, estrelado por Craig e Betsy Kettleman durante um jantar de família. Los Pollos Hermanos Employee Training ganharia um Emmy de Melhor Curta de Comédia ou Drama.

Com séries de TV nunca dá para saber ao certo, pois elas podem ser canceladas a qualquer momento por vários motivos, mas, independentemente de quantas temporadas Better Call Saul durasse, desde o início Gilligan combinaria com Gould que só teria envolvimento direto nas três primeiras, saindo assim que a terceira estivesse finalizada, mas antes de ela ir ao ar, para se dedicar a outros projetos; ele cumpriria esse plano, o que resultaria em Gould sendo o único produtor e showrunner das temporadas seguintes. Gilligan diria não ter lido nenhum dos roteiros da quarta e quinta temporadas antes de os episódios irem ao ar, exceto dois, de episódios que ele dirigiria, a convite de Gould. E Gould conseguiria convencer Gilligan a retornar a seu posto para a última temporada, para que eles pudessem terminar juntos o que começaram juntos.

A quarta temporada seria encomendada pouco após o final da terceira, e teria mais 10 episódios, exibidos entre 6 de agosto e 8 de outubro de 2018. Impedido de advogar, Jimmy consegue emprego em uma loja de telefones celulares, e decide vender pré-pagos para criminosos, começando, assim, sua "transformação" em Saul. Enquanto isso, Fring incumbe Mike de construir um laboratório secreto de metanfetamina - o mesmo que será usado por Walt em Breaking Bad - e Eduardo Salamanca, apelido Lalo, decide vir do México para investigar o que de fato aconteceu com Hector - assim como Nacho, Lalo foi citado por Saul em Breaking Bad, mas sem aparecer. Kim segue sendo a advogada do Mesa Verde, e aceita uma proposta para trabalhar na Schweikart & Cokely.

O elenco principal seguiria o mesmo, mas sem Chuck. Além de Lalo (Tony Dalton), outros personagens recorrentes de destaque seriam a Dra. Maureen Bruckner (Poorna Jagannathan), médica que cuida da recuperação de Hector; a assistente de Kim, Viola Goto (Keiko Agena); Werner Ziegler (Rainer Bock), engenheiro alemão contratado por Mike para construir o laboratório secreto; e sua equipe, na qual têm mais destaque o encrenqueiro Kai (Ben Bela Böhm) e o quieto Casper (Stefan Kapicic). De Breaking Bad, participariam de alguns episódios Tyrus (Ray Campbell), um dos capangas de Fring; o criminoso Ira (Franc Ross); o médico de Fring, Dr. Berry Goodman (JB Blanc); e o químico Gale Boetticher (David Costabile). Também merece ser citado Jeff (Don Harvey na quarta e quinta temporadas, Pat Healy na sexta), taxista que reconhece Saul nas cenas ambientadas após Breaking Bad. A quarta temporada receberia mais nove indicações ao Emmy - Melhor Série de Drama, Melhor Ator em uma Série de Drama (Odenkirk), dois de Melhor Ator Coadjuvante em uma Série de Drama (Banks e Esposito), Melhor Ator Convidado em uma Série de Drama (McKean), Melhor Roteiro para uma Série de Drama, Melhor Supervisão Musical, Melhor Edição de Som para uma Série de Drama ou Comédia de Uma Hora, e Melhor Mixagem de Som para uma Série de Drama ou Comédia de Uma Hora - mas seguiria sem ganhar nenhum.

A quarta temporada também teria uma websérie, disponibilizada no YouTube e no site da AMC, chamada Madrigal Electromotive Security Training, também de 10 episódios. Assim como a anterior, essa combinava filmagens, agora de Banks interpretando Mike, com trechos de animação, dessa vez imitando vídeos de treinamento de segurança para funcionários da Madrigal. A websérie seria indicada ao Emmy de Melhor Curta de Comédia ou Drama, mas a indicação seria invalidada porque os episódios tinham duração menor que o mínimo exigido pelas regras da premiação.

Pouco antes da estreia da quarta temporada, a AMC renovaria a série para uma quinta, mas a equipe de produção pediria para que ela não estreasse em 2019, apenas em 2020; executivos do próprio canal confirmariam o atraso e declarariam que a nova data atenderia a pedidos do elenco. Com mais dez episódios, a quinta temporada seria exibida entre 23 de fevereiro e 10 de abril de 2020; aclamada pela crítica, principalmente pela tensão em seus episódios, ela receberia mais sete indicações ao Emmy - Melhor Série de Drama, Melhor Ator Coadjuvante em uma Série de Drama (Esposito), dois de Melhor Roteiro para uma Série de Drama (por dois episódios diferentes), Melhor Supervisão Musical, Melhor Edição de Som para uma Série de Drama ou Comédia de Uma Hora, e Melhor Mixagem de Som para uma Série de Drama ou Comédia de Uma Hora - além de uma quarta indicação para Odenkirk para o Globo de Ouro de Melhor Ator em uma Série de TV de Drama, mas seguiria sem ganhar nada.

Na quinta temporada, Jimmy já está usando o nome de Saul Goodman, atendendo no mesmo shopping onde ficava seu escritório em Breaking Bad, e tendo criminosos como maior parte de seus clientes. Kim passa a ter sentimentos conflitantes por Jimmy devido a seu comportamento, e decide pegar cada vez mais casos da Defensoria Pública, trabalhando de graça como uma espécie de autoflagelação. Após um rolo com a justiça, por sugestão de Nacho, Lalo contrata Jimmy, que passa a ser conhecido como um advogado "amigo do cartel"; conforme Lalo chega perto de descobrir os planos de Fring, um conflito entre "o homem do frango" e a família Salamanca parece inevitável. Lalo entraria para o elenco principal, e novos personagens coadjuvantes incluíam Everett Acker (Barry Corbin), homem contra o qual o Mesa Verde move uma ação de despejo, a quem Kim tenta convencer a deixar sua casa, e Jimmy decide defender; e Buddy (Michael Bickelhaup), o melhor amigo de Jeff. De Breaking Bad, estariam nessa temporada Ed Gailbraith (Robert Forster), o vendedor de aspiradores de pó que fornece serviços ao crime organizado; e Peter Schuler (Norbert Weisser), CEO da Madrigal; além de Hank Schrader (Dean Norris) e Steven Gomez (Steven Michael Quesada), em participações especiais.

A quinta temporada também teria uma websérie de 10 episódios disponibilizados no YouTube e no site da AMC. Creditada a "Saul Goodman Productions" e feita no mesmo estilo dos comerciais de Saul em Breaking Bad, essa combinava filmagens de Seehorn como Kim e Odenkirk como Saul com trechos de animação para falar sobre vários aspectos da ética profissional no direito, e recebeu o nome de Ethics Training with Kim Wexler, ganhando um Emmy de Melhor Curta de Comédia ou Drama.

Antes da estreia da quinta temporada, a AMC procuraria Gould para renovar a série para uma sexta. Gould decidiria que, por melhor que estivesse a série, já estava na hora de Saul finalmente conhecer Walt, então a sexta temporada seria a última. Após conversar com Gilligan e convencê-lo a voltar, ele também decidiria que, para poder fechar a história de Jimmy/Saul satisfatoriamente, a sexta temporada deveria ter 13 episódios, ao invés dos habituais 10, e ser dividida em duas metades: a primeira seria ambientada antes dos eventos de Breaking Bad, e fecharia as pontas que ainda estavam soltas ao final da quinta temporada, enquanto a segunda, ambientada após os eventos de Breaking Bad, seria o capítulo final da carreira de Saul Goodman.

A produção da sexta temporada passaria por dois grandes atrasos, o primeiro causado pela pandemia, já que a quarentena começaria enquanto a quinta temporada estava no ar, em março de 2020, o segundo porque, quando as gravações finalmente começaram, Odenkirk teria um infarto leve enquanto estava gravando, precisando se ausentar por várias semanas para se recuperar, e pegar leve ao retornar. No fim, diferentemente do que costuma acontecer com séries cuja última temporada é dividida, as duas metades da sexta temporada de Better Call Saul iriam ao ar no mesmo ano: a primeira, com sete episódios, seria exibida entre 18 de abril e 23 de maio de 2022, enquanto a segunda, com os últimos seis, entre 11 de julho e 15 de agosto do mesmo ano.

É importante dizer que a primeira metade não se estende até o episódio de Breaking Bad no qual Saul conhece Walt, terminando bem antes; além disso, após encerrar os arcos de história envolvendo Nacho, Lalo, Howard e Kim, os personagens do elenco principal que não apareciam em Breaking Bad, há uma passagem, no sétimo episódio, de cerca de quatro anos, que mostra Jimmy já completamente transformado no Saul que nos foi apresentado em sua série de origem. Já a segunda metade é uma continuação direta das cenas em preto e branco apresentadas no início de cada um das outras temporadas; nela, como foi dito, os episódios são quase inteiramente em preto e branco, exceto por flashbacks que mostram Saul junto a Walt e Jesse, ocorridos durante os eventos de Breaking Bad, mas, até então, jamais mostrados. Novos personagens recorrentes da sexta temporada incluem Cheryl Hamlin (Sandrine Holt), a esposa de Howard; Rand Casimiro (John Posey), juiz aposentado que atuará como conciliador no caso da Sandpiper; Margareth Ziegler (Andrea Sooch), esposa de Werner; e Marion (Carol Burnett), a mãe de Jeff. De Breaking Bad, além das participações especiais de Walt (Bryan Cranston) e Jesse (Aaron Paul) em flashbacks e de Marie Schrader (Betsy Brandt), na segunda metade da temporada, apareceriam, na primeira, a prostituta Wendy (Julia Minesci), que ajuda Saul em alguns golpes; e o criminoso Spooge (David Ury), que contrata Saul como seu advogado.

A sexta temporada também contaria com várias produções relacionadas exibidas no YouTube e no site da AMC. A primeira, American Greed: James McGill exibida no canal oficial no Youtube da emissora NBC, era um "episódio falso" da série American Greed (também da NBC), um mockumentary (documentário fictício) sobre a vida e a carreira de Jimmy/Saul. A segunda, Slippin' Jimmy, seria uma série animada em seis episódios, produzida pela mesma equipe de Rick and Morty, exibida na AMC+, serviço de streaming da AMC, e que mostrava as desventuras de Jimmy em sua juventude, em sua cidade natal no Illinois. Cada um dos episódios tinha um tema principal relacionado a gêneros de filmes - faroeste, terror, ficção científica etc. - e contaria com dubladores profissionais, sem a presença de Odenkirk. A série acabaria sendo tremendamente criticada, principalmente pela animação, considerada pobre, e pelos roteiros, pouco criativos, o que cancelaria os planos da AMC de transformá-la em uma série regular. Finalmente, Filmmaker Training, também de seis episódios, exibida no canal oficial da AMC no YouTube e no site da emissora, era uma websérie no mesmo estilo das três anteriores, mas com Fadem, Holmes e Bonfiglio repetindo os papéis dos estudantes de cinema amigos de Jimmy, combinados a sequências de animação em vídeos "educativos" sobre filmagens de diferentes obras, como curtas e comerciais.

A sexta temporada seria indicada a mais sete Emmys - Melhor Série de Drama, Melhor Ator em uma Série de Drama (Odenkirk), Melhor Atriz Coadjuvante em uma Série de Drama (Seehorn), Melhor Roteiro para uma Série de Drama, Melhor Supervisão Musical, Melhor Edição de Som para uma Série de Drama ou Comédia de Uma Hora, e Melhor Mixagem de Som para uma Série de Drama ou Comédia de Uma Hora - além de duas indicações ao Globo de Ouro, de Melhor Série de TV de Drama e uma quinta indicação para Odenkirk no de Melhor Ator em uma Série de TV de Drama. Como, por causa da greve dos roteiristas e atores que começou esse ano, a premiação do Emmy só ocorrerá em janeiro de 2024, essa será a última chance de corrigir o que tanto os fãs quanto os críticos consideram uma das maiores considerariam uma das maiores injustiças da história do Emmy - o fato de uma das séries mais aclamadas de todos os tempos não ter ganhado ainda nenhuma estatueta.

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